ASSOCIAÇÃO DOS PROFISSIONAIS UNIVERSITÁRIOS DA SABESP
PROPOSTA PARA
O AVANÇO
DO MODELO DE
GESTÃO DA SABESP
OUTUBRO, 2002
INTRODUÇÃO
A Associação dos Profissionais Universitários da Sabesp APU traz aos candidatos ao Governo do Estado de São Paulo, através deste documento uma “PROPOSTA PARA O AVANÇO DO MODELO DE GESTÃO DA COMPANHIA DE SANEAMENTO BÁSICO DO ESTADO DE SÃO PAULO SABESP”.
A APU que conta com mais de 1.300 associados, congregando o quadro universitário e o corpo gerencial da Empresa, tem pautado sua atuação de forma propositiva, promovendo o debate, buscando articulação para construção de um modelo e aperfeiçoamento da forma de gestão do saneamento. Exemplo disso foi nossa proposta: “Bases para o Novo Modelo de Gestão do
Saneamento no Estado de São Paulo” formulada em 1994 e incorporada em grande parte pela
gestão que se iniciou em 1995, contribuindo para a recuperação e o desenvolvimento da SABESP, transformando-a em uma grande empresa pública nacional.
Para a construção deste documento, promovemos um amplo debate interno, envolvendo os profissionais universitários da SABESP em todo o Estado de São Paulo, culminando com a realização de um Seminário onde consolidamos a proposta que ora apresentamos. Procuramos sempre, ao longo de todo o processo, alternativas que levem a um contínuo avanço na prestação dos serviços de saneamento pela SABESP, tendo sempre como foco essencial a população como um todo, o cliente e o cidadão, num olhar de fora para dentro que supera visões corporativas.
No quadro atual, a dimensão, o desempenho, os resultados e o potencial da SABESP, apontam para um papel de destaque da Empresa, não só no Estado de São Paulo como em todo o País. A capacidade de atuação e de mobilização da SABESP, aliada ao impacto positivo de suas ações na melhoria da qualidade de vida e no desenvolvimento das comunidades onde ela atua, a credencia como uma grande empresa pública nacional de saneamento, crescendo e fazendo crescer todo um amplo mercado nacional que gira em torno do saneamento, gerando renda e empregos, com inegáveis benefícios ao País e ao nosso Estado.
1. PRINCÍPIOS GERAIS DO MODELO DE GESTÃO
·
Saneamento é uma ação preventiva de saúde pública, cuja universalização quantitativa e qualitativa é um direito básico de cidadania;·
O Saneamento é um serviço público de caráter coletivo que impacta positivamente o meio ambiente, contribuindo para redução da mortalidade e da incidência de doenças, consequentemente, elevando a qualidade de vida de toda população;·
O Saneamento possui grande efeito multiplicador na economia, criando condições para maior produtividade da força de trabalho, redução de despesas com a previdência social e serviços médicos e gerando oportunidades de pequenos, médios e grandes investimentos, bem como, empregos para ampla gama de qualificações.·
Os serviços de infra-estrutura de saneamento caracterizam-se como monopólio natural, onde, portanto, a competição não se faz no mercado, mas se faz essencialmente pelo mercado.·
Os serviços públicos de saneamento, conforme a Constituição Federal, são de competência comum às três esferas de governo União Estados e Municípios;·
A prestação destes serviços é de responsabilidade do poder público, que detém a sua titularidade;·
O prestador dos serviços de saneamento pode ser o poder titular ou dado por este em concessão.-
Política tarifária e fontes de recursos não onerosos para investimentos sociais.4.
Adotar postura pró-ativa de participação nos processos de modelagem institucional e de formulação das legislações e regulamentos federais, estaduais e municipais do setor de saneamento.5.
Implementar políticas e instrumentos institucionais que neutralizem as influências políticas indevidas.6.
Buscar a flexibilização da legislação de contorno jurídico da organização, compatibilizando-a com os desafios atuais da empresa.7.
Garantir a gestão participativa adotando instrumentos e mecanismos que assegurem a participação da comunidade interna nas decisões empresariais.8.
Elaborar, disseminar e praticar Código de Ética na Sabesp, considerando:-
Estatuto Social da Empresa;-
compromisso de gestão firmado com o Estado;-
legislação ligada à proteção dos acionistas; e-
demandas internas da organização.9.
Formalizar as Assembléias Regionais de Municípios concedentes e suas respectivas Comissões de Gestão Regionais, através da alteração do estatuto da Empresa e da adequação dos contratos de concessão, definindo atribuições e diretrizes básicas para seu funcionamento, inclusive quanto a determinação de uma agenda de convocação ordinária.10.
Articular a construção do modelo de Sistema de Gestão Compartilhada Empresa / Municípios nas Regiões Metropolitanas, capaz de garantir a preservação dos interesses do Estado, dos Municípios e da Sabesp.11.
Iniciar, de imediato, as negociações para a renovação dos contratos de concessão em todos os municípios onde a Sabesp atua e formalizar instrumentos contratuais onde ainda não há contrato.12.
Buscar o equilíbrio econômico financeiro das concessões, construindo cenário regional, para dar suporte às negociações da Sabesp com cada município, dentro de uma política estadual para o setor.13.
Definir alternativas de negociação que aumentem a competitividade da Sabesp no processo de renovação de contratos e assunção de novos municípios no Estado de São Paulo.14.
Ampliar o escopo de atuação da Sabesp no setor saneamento ambiental, passando a atuar, por exemplo, na área de resíduos sólidos.15.
Transformar a Sabesp em uma grande empresa nacional de saneamento, buscando novas concessões e negócios, estabelecendo sociedades e parcerias para a expansão fora do Estado e do País.16.
Implementar uma política agressiva de marketing orientada pelo cliente e foco no mercado.17.
Desenvolver e implementar uma reestruturação tarifária visando a universalização do acesso ao saneamento, pautada por componentes técnico / mercadológicos regionais e equilíbrio econômico-financeiro da Sabesp. O subsídio do sistema tarifário deve ter como referência os custos e explicitados seus critérios de forma transparentes;18.
Realizar com total transparência investimentos em projetos necessários por razões de saúde pública e de recuperação ambiental, explicitando custos e subsídios envolvidos. Para implementação destes projetos também empenhar-se politicamente pela criação de linhas de investimento (federal, estadual e municipal) a fundo perdido.19.
Buscar novas formas de financiamento que estabeleçam parcerias, como por exemplo Sociedade de Propósitos Específicos, BOT e outros.·
O saneamento deve ser entendido e organizado dentro da visão ampla de salubridade ambiental, compreendendo abastecimento de água, coleta e disposição sanitária de resíduos sólidos, líquidos e gasosos, promoção de disciplina sanitária de uso e ocupação do solo, drenagem urbana e controle de vetores de doenças transmissíveis, conforme a Lei 7.750, que dispõe sobre a Política Estadual de Saneamento.·
Para sua maior efetividade. as ações de saneamento devem ser organizadas estabelecendo-se maior proximidade com a realidade local e sob maior controle da sociedade.·
O “interesse local” deve ser entendido em função da natureza dos serviços de saneamento e do impacto das suas ações.·
A bacia hidrográfica é a unidade geográfica que permite articular e integrar as ações em saneamento, desde o planejamento à gestão, conforme legislação estadual.2. MODELO DE GESTÃO DA SABESP
"O MODELO DE GESTÃO É O DE
COMPANHIA ESTADUAL, SOB
CONTROLE ACIONÁRIO DO GOVERNO
DO ESTADO, ORGANIZADA EM
UNIDADES DE NEGÓCIO COM
ATUAÇÃO POR BACIAS HIDROGRÁFICAS,
FORTE PARTICIPAÇÃO DOS MUNICÍPIOS
NA GESTÃO E COM ALTO GRAU
DE DESCENTRALIZAÇÃO E AUTONOMIA".
3. DIRETRIZES PROPOSTAS PARA A GESTÃO DA EMPRESA
1.
Adotar critérios de competência, com estabelecimento de pré-requisitos, para a composição do Conselho de Administração e Conselho Fiscal, e, como previsto no atual Estatuto da Empresa, dar assento a representante dos empregados no Conselho de Administração.2.
Adotar critérios de competência para composição da Diretoria, com o estabelecimento de pré-requisitos e remuneração adequada.3.
Firmar com o Governo do Estado um Compromisso de Gestão de 4 anos, contendo:-
Metas Empresariais;-
Estratégia para garantia da manutenção da atual base de atuação além de política de expansão da base e novos negócios, dentro e fora do âmbito do Estado de São Paulo;-
Política de parceria com os Municípios;20.
Articular com o Estado a redução dos níveis de endividamento da empresa, buscando novas alternativas de equacionamento da dívida.21.
Distribuir dividendos nas taxas mínimas legais, compensando dívidas do acionista majoritário e destinando parte desses dividendos para fundos de universalização e correção de passivo ambiental.22.
Buscar a Viabilidade Regional (por UN) otimizando a estrutura de custos e despesas, programa de investimentos e tarifas considerando-se as condições sócio-econômicas da região.23.
Estabelecer critérios e mecanismos para a transferência de recursos entre regiões, de forma transparente.24.
Buscar parceria com a iniciativa privada para o desenvolvimento e a transferência de novas tecnologias, ferramentas de gestão, investimentos de risco, expansão da base fora do estado e em novos negócios, agregando novas competências estratégicas à organização.25.
Promover o realinhamento estratégico da Sabesp e definir ferramenta de gestão homogênea e descentralizada, dentro do processo participativo de planejamento empresarial.26.
Aprimorar a Política de Gestão de Pessoas de modo que propicie, continuamente, o desenvolvimento e valorização dos profissionais, a capacitação dos gerentes para a nova gestão, a melhoria do clima organizacional e o aumento da satisfação dos colaboradores.27.
Dar continuidade à elaboração de Políticas e Redesenho de Processos e implantar de imediato, o Projeto de Direcionamento Estratégico de Informatização PDEI.28.
Intensificar o aprimoramento dos sistemas de gestão com base nos fundamentos da excelência e a certificação dos processos estratégicos para o negócio da empresa.29.
Buscar junto ao mercado e a Universidade novas tecnologias, visando redução de custos, aproveitamento dos recursos e conseqüente melhoria da performance empresarial.30.
Adotar compromissos públicos de negociação e articulação inter-institucional para a recuperação do passivo ambiental e praticar, de forma sistêmica e integrada, atitudes prevencionistas e de recuperação dos recursos hídricos.31.
Intensificar ações de forma pró-ativa na conscientização da sociedade para o uso racional da água e a recuperação e preservação dos recursos hídricos e educação ambiental.32.
Articular a representação e intensificar a participação da empresa em Conselhos, Comitês e demais fóruns referentes a saneamento e meio ambiente.33.
Promover e institucionalizar a participação da sociedade na gestão empresa através de programas permanentes de participação comunitária e criação de fóruns como o Conselhos de Cidadãos.34.
Organizar a atuação da empresa no terceiro setor, através de uma política de responsabilidade social, que defina foco, diretrizes e disponibilização de recursos e competências.CONCLUSÃO
Conforme coloca a Constituição do Estado de São Paulo, cabe ao Estado “a criação e
desenvolvimento de mecanismos institucionais e financeiros destinados a assegurar o benefício do saneamento à totalidade da população” e que “o Estado assegurará condições para a correta operação, necessária ampliação e eficiente administração dos serviços de saneamento básico prestados por concessionária sob seu controle acionário”.
Assim, para a APU estas linhas básicas devem nortear a organização do saneamento em nosso Estado, onde hoje os serviços de água e esgoto em 366 municípios são prestados integralmente pela SABESP, em 7 municípios conjuntamente pela SABESP e serviços municipais e em 272 municípios integralmente por serviços municipais.
Assim, deve-se reafirmar o papel do Estado como formulador de Política Pública para o setor como um todo em nosso Estado, e o da SABESP como empresa prestadora de serviços de saneamento nas áreas onde tem responsabilidade total ou parcial por esses serviços.
Pela sua essencialidade e importância econômica, o saneamento deve ser prioridade de governo e não pode ser tratado de forma fracionada e desigual, sendo portanto fundamental a retomada efetiva da implementação da Política Estadual de Saneamento, com seus instrumentos e mecanismos, entre os quais se destaca o Conselho Estadual de Saneamento CONESAN, conforme disposto na Lei 7750.
Para isso, consideramos fundamental o resgate da estrutura da Secretaria de Estado de Recursos Hídricos e Saneamento, estruturando-a para atuar no setor saneamento ambiental. Também será muito positiva para o setor como um todo em nosso Estado a implementação da Agência Estadual de Regulação dos Serviços de Saneamento ARSAN, que já conta com projeto de lei amplamente debatido.
Torna-se imprescindível a atuação política conjunta de todos os atores do Sistema de Saneamento do Estado de São Paulo na definição da legislação nacional de saneamento e em outras com forte impacto no setor e na empresa, como a lei e regulamentação da cobrança pelo uso da água.
Finalizando, reafirmando a nossa proposta de Modelo de Gestão para a SABESP, contemplando diretrizes para o seu avanço e idéias para a organização do setor saneamento em todo o Estado, a APU espera contribuir para que os benefícios do saneamento cheguem a toda a população, participando do processo de inclusão social e de desenvolvimento sustentado do nosso Estado.