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“Julgados de Paz devem poder resolver crimes”

Jornal de Negócios, por Filomena Lança 26-09-2011

CARDONA FERREIRA, PRESIDENTE DO CONSELHO DE

ACOMPANHAMENTO DOS JULGADOS DE PAZ “Julgados de Paz devem poder resolver crimes”

A Lei dos Julgados de Paz vai ser revista, por imposição da troika, e deverá alargar a competência destes

Mais tribunais de pequenas causas, com mais competências e capacidade de aplicar, por exemplo, penas a favor da comunidade. O presidente do Conselho de Acompanhamento dos Julgados de Paz acredita que podem tirar muito trabalho aos tribunais judiciais

- Porque é que há apenas 25 julgados de paz em todo o País?

Um dos nossos grandes desafios é que todo o Pais fique coberto. Temos mais quatro criados e à espera de instalação e 61 concelhos abrangidos. A divulgação compete ao Ministério

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próprios e da acção que desenvolvem. Conviria uma maior divulgação.

- Isso exigiria investimento avultado?

Não. No Brasil há tribunais a funcionar em barcos. Há muitas maneiras de resolver o assunto. Se se quiser resolver, resolve-se. Falta conjugar vontades. Depende de haver juizes, funcionários, local, uma autarquia que acredite que é importante.

- A troika reconhece essa importância.

Sim e fala em optimizar o regime dos julgados de paz para aumentar a sua capacidade para enfrentar pequenas causas. E o reconhecimento da importância destes tribunais. Porque isto [o memorando da troika] é feito por gente de países cheios de instituições desta natureza e que sabem a utilidade que elas têm.

- A lei dos Julgados de Paz está a ser alterada. Como se poderá

pôr em prática o que a troika quer?

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Ampliando as competências e a rede. Temos em geral uma tramitação processual que precisa de uma revolução e os Julgados de Paz aparecem para se conseguir concretizar uma norma de ouro da Constituição da República Portuguesa (CRP) e segundo a qual a resolução das causas deve ser em prazo razoável.

- Qual é a média de tempo de resolução nos julgados de paz?

Temos conseguido em média 65,2 dias. Costumo dizer que 90 dias já é excepcional. Porque resolver as causas em prazo razoável também não significa só carregar num botão.

- Há a hipótese de irem processos dos tribunais judiciais para os

Julgados de Paz?

Esse é um dos grandes problemas do momento. O Supremo Tribunal de Justiça proferiu um acórdão de uniformização de jurisprudência em 2007 dizendo que a competência dos Julgados de Paz era optativa. Penso que não é assim.

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Que o Julgado de Paz não teria competências exclusivas, pelo que as questões que são sua competência continuariam também a ser da competência dos tribunais judiciais. A meu ver não é a solução adequada nem devidamente enquadrada, mas viabiliza que um juiz de direito apanha um processo desses e, embora tenha ali o Julgado de Paz ao lado, fica com ele.

- Essa questão poderá ser resolvida com esta revisão da Lei?

Sim, pode e penso que deverá estar em cima da mesa

- Diria que os Julgados de Paz são uma “ajuda” aos tribunais

judiciais?

- Até hoje pouco ajudaram, porque as suas competências são poucas e porque â rede é pequena Resolvidos que estejam estes problemas, vão ganhar e ter tempo para se dedicar às questões complicadas que sempre terão de continuar a ter.

- Que novas competências defende?

Por agora estão limitados na sua competência porque não podem resolver causas cujo valor ultrapasse cinco mil euros.

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Isso num acidente de viação é ridículo. É raro aquele que não ultrapasse esse valor.

- Qual deveria ser o valor da alçada?

No mínimo, o dobro. Como acontece no Brasil, por exemplo, que tem “juizados especiais”, quer para o cível, quer para o crime.

- Defende competências criminais?

- Os nossos julgados só têm competência em matéria cível, não a têm em matéria penal. A questão é tão simples de resolver, que já temos hoje na lei, elencado, os tipos de crimes a que os brasileiros chamariam de menor potencial ofensivo – ofensas corporais simples, ofensa à integridade física por negligência, difamação, injurias, furto simples, dano simples, burla para a obtenção de alimentos… Porém, o juiz de paz só pode resolver a parte indemnizatória, aparte consequente. Aparte básica, da sanção penal e sem a qual não há indemnização, não pode. A pessoa só pode ir para o Julgado de paz se renunciar à queixa crime. Temos vários casos curiosíssimos, designadamente de injurias, em que as pessoas conseguem entender-se e muitas vezes nem é com indemnização, é com um pedido de desculpas.

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- O que deveria então mudar?

Que o juiz de paz tivesse competência para analisar quer a questão indemnizatória quer a questão penal em crimes de “pouco potencial ofensivo” e designadamente aqueles que já estão na nossa Lei.

- E poderia aplicar também uma pena de prisão?

Não isso já não concebo que possa ser possível num Julgado de Paz. Mas coimas sim, com certeza. E aplicaria uma coisa muito mais importante, que está na nossa lei e é pouco aplicado: o trabalho a favor da comunidade. Isso pode e deve ser feito. Os julgados poderiam fazê-lo.

- E devem ter competência executiva, por exemplo para cobrar

dívidas?

Sem dúvida, porque não? Os Julgados de Paz só têm competência na matéria cível e mesmo aí só para a acção declarativa, isto é, para o juiz proferir uma sentença: “condeno fulano a pagar isto ou aquilo”. Não têm competência para executar se o indivíduo não cumprir a bem. Gostaríamos que

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isto fosse alterado e que passasse a ter competência executiva pelo menos para as suas próprias sentenças.

- Ou seja, vindo para aqui é menos um processo no tribunal

judicial, mas depois vai engrossar as estatísticas nas

execuções cíveis

O maior problema dos tribunais portugueses é exactamente a parte executiva Embora aí, também, o processo executivo que temos hoje não sirva para os Julgados de Paz. Teria de ser muito mais simplificado. Mas isso é fácil de resolver, porque aqui o processo não tem nada a ver com o dos judiciais. É um processo próprio em que a pessoa se dirige directamente à secretaria para dar início. E se as pessoas chegarem a acordo, vão logo ao juiz, para ele o homologar e o processo acabou. Não havendo acordo, o que se segue é a marcação do julgamento onde a audiência também deve começar por uma tentativa de acordo.

- Porque é que, então, nem todas as causas se resolvem rapidamente?

- O problema é a citação, isto é, a comunicação com o demandado. É esse acto que dificulta e emperra. Tem de haver

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carta assinada com aviso de recepção ou vai o funcionário, mas só pode ir na área do Julgado de Paz…

- E quanto aos recursos?

Outra coisa que tem de ser revista passa pelo Julgado de Paz de segundo grau para o qual se recorreria das decisões iniciais.

- Isso está a ser estudado?

Mas necessariamente. Não sei se para já, talvez numa segunda fase, mas é muito importante.

- Por agora o recurso é para os tribunais judiciais?

Exactamente. Mas o que está perspectivado, se não puder haver já um Julgado de Paz de segundo grau, será o recurso passar a ser directo para a Relação. Isso tem uma coerência porque do tribunal arbitral recorre-se para a relação e não faz sentido do Julgado de Paz recorrer-se para a 1ª instância. É até desarmónico e presta-se a ser mal interpretado e a pensar-se que é um sub-degrau. E não é.

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“O tribunal arbitral está também na Constituição”

Cardona Ferreira, juiz jubilado do Supremo Tribunal de Justiça, é um defensor dos meios alternativos de resolução de litígios, nomeadamente da arbitragem. Poderá esta resolver, por exemplo, acções de despejo ou de cobranças de dívidas? “E porque não?”, responde, “o tribunal arbitral está também nas Constituição da República, não vejo nenhum inconveniente, tudo depende do tipo de pedido”.

Dos julgados de paz, a cujo Conselho de Acompanhamento preside, Cardona Ferreira salienta a sua qualidade de “tribunais incomuns”. “Não fazem parte do conjunto de tribunais a que estamos mais habituados, e são organizados, perspectivados, integrados, e funcionam de uma maneira diferente dos outros, dos tribunais judiciais”, explica Além disso, “estão organizados de uma maneira muito própria e têm o objectivo fundamental de servir as pessoas nas questões mais simples, mas que são muitas vezes as que lhes infernizam a vida, como o condomínio, o frigorífico com defeito, a pequena batida no carro…” E, conclui, “quantas mais causas o Julgado de Paz puder resolver, mais alivia os tribunais judiciais.

Referências

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