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Estado de Mato Grosso do Sul Poder Judiciário Campo Grande 2ª Vara Cível

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Autos 0836071-62.2017.8.12.0001

Requerente (s): Jurivaldo Gonçalves do Prado Requerido (s): Banco do Brasil S/A

SENTENÇA

I. Relatório

Trata-se de ação de reparação de danos ajuizada por Jurisvaldo Gonçalves do Prado em face de Banco do Brasil S/A, todos devidamente qualificados nos autos.

Narrou o autor que ingressou no serviço militar no ano de 1983 e permaneceu até junho de 2016, quando passou à reserva remunerada. Em razão disso, compareceu até uma agência do banco réu e solicitou o saque de suas cotas do PASEP, sendo surpreendido com a existência de apenas R$ 437,95 (quatrocentos e trinta e sete reais e noventa e cinco centavos).

Solicitado o extrato de sua conta, o réu, inicialmente, apresentou apenas aqueles posteriores ao ano de 1999. Após nova solicitação, o requerente recebeu a microfilmagem de sua conta do período entre 30/06/1988 a 14/08/1999, porém não forneceu os extratos relativos ao período entre 1983 e 1987.

Asseverou que, ao analisar os extratos fornecidos, verificou diversos saques indevidos, sem qualquer anuência, o que justificaria o valor irrisório.

Disse que, utilizando outro militar como parâmetro, com o mesmo tempo de serviço, atualmente lhe é devida a importância de R$

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45.529,99 (quarenta e cinco mil, quinhentos e vinte e nove reais e noventa e nove centavos).

Pleiteou a condenação do requerido ao pagamento da importância informada na exordial, bem como de indenização pelos danos morais suportados.

Citada, a requerida apresentou contestação às f. 61-86, suscitando, preliminarmente, sua ilegitimidade passiva. No mérito, alegou a prescrição da pretensão do autor, e, ainda, que apenas lhe incumbe repassar os valores apontados pelo gestor aos beneficiários. Afirmou que, com o advento da Constituição Federal de 1988, os recursos provenientes da arrecadação de contribuições foram direcionadas para o Programa do Seguro-Desemprego e o Abono de um salário mínimo, restando nas contas apenas o valores depositados até 05/10/1988. Por fim, afirmou que foram pagos ao autor diversos rendimentos, mediante crédito em folha de pagamento ou depósito em conta corrente/poupança.

Pleiteou a improcedência dos pedidos do autor. Impugnação à contestação às f. 116-124.

Em produção de provas, as partes pleitearam o julgamento antecipado do feito.

É o breve relatório. Decido.

II. Fundamentação

O feito comporta julgamento antecipado, eis que desnecessária a produção de outras provas além das já constantes nos autos, conforme dispõe o art. 355, I, do CPC/2015.

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1. Da ilegitimidade passiva

O banco-réu, na qualidade de gestor do programa PASEP, os depósitos são feitos na instituição requerida, em conta individual do autor referente ao programa, cabendo, pois, ao réu a guarda do numerários e remuneração da conta, nos termos legais.

Afasta-se, portanto, a preliminar suscitada.

Vale pontuar, ademais, que, o caso em apreço configura nítida relação de consumo, e, por isso, resta evidente a responsabilidade objetiva do banco-réu pelos danos causados ao consumidor em havendo falha na prestação do serviço.

2. Da prescrição

A prescrição, no caso, é quinquenal, (aqui, quem as recolhe é a União, já que se trata de militar do Exército Brasileiro reformado) e atinge o fundo do direito.

Decidiu o Superior Tribunal de Justiça sobre o tema:

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. FUNDO PIS/PASEP. DIFERENÇA DE CORREÇÃO MONETÁRIA. DEMANDA. PRAZO PRESCRICIONAL QUINQUENAL(ART. 1º DO DECRETO 20.910/32). 1. É de cinco anos o prazo prescricional da ação promovida contra a União Federal por titulares de contas vinculadas ao PIS/PASEP visando à cobrança de diferenças de correção monetária incidente sobre o saldo das referidas contas,nos termos do art. 1º do Decreto-Lei 20.910/32. Precedentes. 2. Recurso Especial a que se dá provimento. Acórdão sujeito ao regime do art.

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543-C do CPC e da Resolução STJ 08/08.(STJ, REsp 1.205.277/PB, Rel. Min. TEORI ALBINO ZAVASCKI, 1ª Seção, J. 27/06/2012,DJe 01/08/2012).

Aplica-se ao caso a Teoria da Actio Nata, que prescreve que o prazo prescricional somente se inicia a partir do momento em que a parte toma conhecimento do dano, ou seja, in casu, do saldo incompatível com o tempo de serviço.

Considerando não haver o saque do saldo em momento anterior à aposentaria do autor, fato ocorrido em 07 de junho de 2016, é a partir deste momento que passou a fluir o prazo extintivo da pretensão.

Por conseguinte, considerando que entre o ato de aposentação do autor e a propositura desta ação não transcorreram cinco anos, a rejeição da prejudicial de mérito da prescrição é medida que se impõe.

3. Do mérito

A. Do dano material

O PASEP (Programa de Formação de Patrimônio do Servidor Público) foi instituído em 1970 pela Lei Complementar nº 8/70, com o objetivo de entregar aos servidores públicos benefícios semelhantes aos que eram concedidos aos trabalhadores da iniciativa privada pelo Programa de Integração Social – PIS.

Posteriormente, com a edição da Lei Complementar nº 26, em 1975, o PIS e o PASEP foram unificados sob o ponto de vista contábil

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e deram origem ao Fundo de Participação PIS-PASEP.

Mais adiante, com a promulgação da Constituição Federal em 05 de outubro de 1988, passou a vigorar o art. 239, o qual determinou que a arrecadação decorrente de contribuições para o PIS e para o PASEP passariam a financiar, nos termos que a lei dispusesse, o programa do seguro-desemprego e o abono de que trata o §3º daquele artigo.

Em 1989, o aludido dispositivo constitucional foi regulamentado de modo que, respeitando a propriedade dos patrimônios individuais individuais constituídos pelas distribuições das cotas, realizadas entre os anos de 1972 e 1989, os valores das contribuições passaram a ser destinados ao Fundo de Amparo ao Trabalhador - FAT, a fim de patrocinar os programas do Abono Salarial e do Seguro Desemprego.

Com isso, as contas de PASEP deixaram de ser individuais, o que implica dizer que somente os participantes cadastrados aquela data é que podem possuir cotas individuais do PASEP.

Fixadas essas premissas, é necessário ponderar que a solução da questão controvertida passa pela adequada compreensão do ônus probatório que recai sobre cada uma das partes.

Consoante o disposto no art. 373, inciso I, do CPC, à parte demandante incumbia provar os fatos constitutivos de seu direito; e à requerida, os fatos modificativos, extintivos e impeditivos do direito do autor.

Nessa linha, o autor demonstrou que passou para a reserva remunerada em 2016, após 33 anos no Exército Brasileiro, de modo que laborou em período no qual os recursos do PASEP eram diretamente depositados em contas vinculados aos servidores públicos.

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O requerente comprovou ainda que, no momento do saque por força de sua reserva, o saldo de sua conta corrente era incompatível com o seu tempo de serviço, sobretudo quando comparado com servidores em patamar análogo (f. 35-46).

Por outro lado, o demandado não se desincumbiu de provar a existência de fato impeditivo, extintivo ou modificativo do direito do autor.

Com efeito, o réu não demonstrou a realização de saques pelo requerente em virtude da ocorrência de evento descrito no art. 4º, § 1º, da Lei Complementar nº 26/1975, fato que elidiria a responsabilidade da instituição financeira.

A sociedade de economia mista, na função de prestadora de serviço público, sequer apresentou por completo ao cidadão os documentos que revelariam com transparência os termos da relação jurídica entre as partes em virtude de lei, tanto que não anexou o extrato do período compreendido entre 1986 a 1988.

Cabia ao réu, para elidir sua responsabilidade, enquanto administrador das contas vinculadas ao PASEP e detentor da documentação atinente aos respectivos recursos, demonstrar que os valores devidos ao autor foram devidamente depositados na conta individual; corretamente atualizados pela instituição financeira; e sacados apenas nas hipóteses previstas no art. 4º, § 1º, da Lei Complementar nº 26/1975.

Portanto, não apresentou a requerida qualquer prova que pudesse infirmar os fatos narrados pelo autor.

Assim, os elementos probatórios coligidos não afastam o nexo causal entre a conduta do réu, enquanto administrador das contas

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individuais do PASEP, e o dano sofrido pelo autor, cujo saldo disponível a esse título é incompatível com a sua remuneração e o tempo de serviço prestado.

B. Do dano moral

Em relação aos danos morais, é importante salientar que não é qualquer contrariedade a direitos e interesses da pessoa que enseja a reparação.

Apenas as efetivamente graves, que, fugindo à normalidade, causem sofrimento, vexame, dor ou humilhação, alterando o equilíbrio psicológico do ofendido, são passíveis de indenização.

Não se vislumbra, nesse sentido, ofensa direta à personalidade do autor, porquanto não logrou comprovar que o ato praticado pela requerida lhe causou danos psicológicos, além da normalidade.

Sendo assim, o pedido de condenação por danos morais é improcedente.

III. DISPOSITIVO

Ante o exposto, julgo procedente em parte o pedido autoral, para condenar a ré ao pagamento de R$ 45.529,99 (quarenta e cinco mil, quinhentos e vinte e nove reais e noventa e nove centavos), com correção monetária e juros de mora de 1% ao mês desde a data em deveria ter sido realizado o saque, ou seja, desde que passou o autor para a reserva (07/06/2016).

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proporção de 70% para a requerida e 30% para o autor, ao pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios, os quais fixo 15% sobre o valor da condenação, vedada a compensação, nos termos do artigo 85, §§ 2º, 8º e 14, do Código de Processo Civil,

Prolato sentença com resolução de mérito, nos termos do art. 487, I, do CPC.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Cumpra-se.

Oportunamente, arquivem-se, com as cautelas de praxe.

Campo Grande, 15 de outubro de 2018.

(assinado digitalmente)

Paulo Afonso de Oliveira Juiz de Direito

Referências

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