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Avaliação da Qualidade e Perfil de Dissolução de Cápsulas Manipuladas de Piroxicam

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PALAVRAS-CHAVE: Controle de qualidade, Perfil de dissolução, Cápsulas manipuladas, Piroxicam. KEY WORDS: Quality control, Dissolution profile, Manipulated capsules, Piroxicam.

* Autor a quem a correspondência deverá ser enviada. E-mail: hellen.stulzer@gmail.com Lat. Am. J. Pharm. 26 (5): 645-51 (2007)

Recibido el 14 de abril de 2007 Aceptado el 13 de mayo de 2007

Avaliação da Qualidade e Perfil de Dissolução

de Cápsulas Manipuladas de Piroxicam

Karin SCHESHOWITSCH, Aline PEREIRA, Ariane CRUZ, Marcos Antonio Segatto SILVA & Hellen Karine STULZER*

Laboratório de Controle de Qualidade, Departamento de Ciências Farmacêuticas, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal de Santa Catarina,

Campus Trindade, 88040-900, Florianópolis, SC, Brasil.

RESUMO. Diferentes ensaios de controle de qualidade foram realizados com cápsulas manipuladas de pi-roxicam, denominadas formulações A, B e C, as quais foram adquiridas no município de Florianópolis, SC, Brasil. As três formulações foram aprovadas nos ensaios de peso-médio e desintegração, entretanto, apresentaram algumas irregularidades nos outros ensaios de controle de qualidade. Modelos comparativos matemáticos e estatísticos foram utilizados para caracterizar os perfis de dissolução das cápsulas manipu-ladas e dos medicamentos de referência e genérico desse fármaco. As formulações A, B, C, de referência e genérico apresentaram diferentes eficiências de dissolução (25,02; 89,79; 84,07; 105,94; 95,95%, respecti-vamente). Os fatores de diferença (f1) e semelhança (f2), demonstraram que as formulações não podem ser consideradas intercambiáveis com os medicamentos de referência e genérico. Portanto, não é possível ga-rantir equivalência terapêutica entre as cápsulas manipuladas e industrializadas deste fármaco.

SUMMARY. “Quality Evaluation and Dissolution Profile of Piroxicam Manipulated Capsules”. Different assays

of quality control had been carried with manipulated capsules of piroxicam, designed formulations A, B and C, which had been acquired in Florianópolis, SC, Brazil. All formulations had been approved in the assays of medi-um weight and desintegration, however in the other control assays the same ones had presented irregularly. Mathematical and statistical comparative models had been used to characterize dissolution profiles of the manip-ulated capsules, reference and generic medicines of this drug. The formulations A, B, C, reference and generic had presented different efficiency of dissolution (25.02, 89.79, 84.07, 105.94, and 95.95%, respectively). The difference (f1) and similarity (f2) factors, had demonstrated that the manipulated capsules of piroxicam can not be considered equals to the reference and generic medicines. Because these results it is not possible guarantee therapeutical equivalence between manipulated and industrialized capsules of this drug.

INTRODUÇÃO

As farmácias de manipulação têm representa-do uma alternativa ao cumprimento de esque-mas terapêuticos, pois, além de proporcionarem à população o acesso a fórmulas oficinais e a fórmulas personalizadas, manipulam fármacos de praticamente todas as categorias terapêuticas, por preços muito mais acessíveis 1.

Os medicamentos manipulados oferecem muitas vantagens em relação aos medicamentos industrializados, tais como facilidade posológica e menores custos. Entretanto, apenas uma par-cela da população procura os serviços desse se-tor, enquanto a outra parcela não dá credibilida-de aos produtos manipulados, em função da su-posta ausência de um controle de qualidade

ri-goroso das matérias-primas e produtos acaba-dos, e também da ausência de um controle do processo de produção e sua reprodutibilidade 2. Uma das formas de avaliar a intercambialida-de entre um medicamento manipulado com sua referência é a realização de estudos de disso-lução, aliados a outros testes comparativos des-critos nas farmacopéias para a forma farmacêuti-ca em questão, além dos testes descritos na mo-nografia de cada fármaco 3.

As características inerentes ao próprio fárma-co (tamanho da partícula e solubilidade no meio de dissolução), bem como a natureza dos excipientes que compõem a formulação e as técnicas de fabricação empregadas na produção das formas farmacêuticas afetam a dissolução do

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fármaco e, conseqüentemente, sua biodisponibi-lidade e bioequivalência 3,4. Por isso, testes in vitro que permitem visualizar a capacidade de liberação do fármaco veiculado em função do tempo são de grande utilidade na comparação de medicamentos manipulados com sua referên-cia 4-6.

O piroxicam (4-hidroxi-2-metil-N-2-piridinil-2H-1,2-benzotiazina-3-carboxamida-1,1-dioxida, Fig. a 1), fármaco analisado neste estudo, per-tence á classe dos antiinflamatórios não-esteroi-dais (AINES). Este é amplamente utilizado no tratamento de artrite reumatóide, osteoartrite, ar-trite gotosa aguda, condrocalcinose, espondilite anquilosante e inflamação não-reumática 7-14.

Excipientes Formulação A Formulação B Formulação C

Piroxicam 20 mg 20 mg 20 mg

Estearato de magnésio 1% – 0,5%

Aerosil 1% – 1%

Lauril sulfato de sódio – 1% 1,5%

Celulose microcristalina 10% – –

Talco farmacêutico – – 30%

Amido de milho 88% 99% 67%

Tabela 1. Composição das formulações A, B e C.

Figura 1. Fórmula estrutural do Piroxicam 15.

Os AINES estão entre os agentes terapêuticos mais amplamente utilizados no mundo. São uti-lizados para o alívio sintomático da dor e da in-flamação associadas com doenças artríticas. Pos-suem a capacidade de reduzir a inflamação, mas não são capazes de eliminar as causas subjacen-tes do processo patogênico 16. Atuam inibindo a atividade da enzima ciclooxigenase (COX), a qual catalisa a biossíntese das prostaglandinas e tromboxanos a partir do ácido araquidônico 13,16.

Diante disso, o presente estudo propõe ava-liar a qualidade de cápsulas manipuladas de pi-roxicam, obtidas de três farmácias magistrais lo-calizadas no município de Florianópolis (Santa Catarina, Brasil), e realizar a comparação de di-versos aspectos com os medicamentos de re-ferência (Feldene®) e genérico deste fármaco. MATERIAIS E MÉTODOS

Materiais

Foi utilizado como substância química de re-ferência (SQR) piroxicam com teor declarado de

99,9% (lote PRX2004026, China). As cápsulas de piroxicam 20 mg foram adquiridas em três dife-rentes farmácias de manipulação localizadas no município de Florianópolis (Santa Catarina, Bra-sil) e foram denominadas como formulação A, B e C, sendo que suas composições estão descri-tas na Tabela 1. Além das cápsulas manipuladas, foram avaliadas cápsulas de 20 mg do mento de referência (Feldene®) e do medica-mento genérico do fármaco em questão. Os rea-gentes utilizados, álcool etílico, ácido clorídrico e cloreto de sódio apresentavam grau analítico. Determinação do peso médio

Pesaram-se, individual e aleatoriamente, vin-te cápsulas em balança analítica (modelo AW 220) e determinou-se o peso médio das mes-mas, conforme metodologia descrita na Farma-copéia Brasileira 17.

Determinação do teor de substância ativa A determinação do teor de substância ativa foi efetuada por espectrofotometria na região do ultravioleta (UV) (espectrofotômetro modelo Cary 50 BIO - Varian) em comprimento de onda de 333 nm através da comparação com uma curva de calibração previamente construída, ga-rantindo linearidade no intervalo de 2 a 8 µg/mL (R2= 0,99907). Primeiramente pesou-se o conteúdo de dez cápsulas, valor a partir do qual se calculou a quantidade correspondente ao conteúdo de uma única cápsula. Essa quantida-de foi pesada e transferida para um balão volu-métrico de 100 mL, no qual foi solubilizada em 20 mL de álcool etílico e volume completado com ácido clorídrico 0,5 M. A partir dessa so-lução foram efetuadas diluições para obter as concentrações de 4 e 8 µg/mL, as quais tiveram suas absorbâncias lidas por espectrofotometria UV.

Desintegração

Este ensaio foi realizado em aparelho de de-sintegração modelo 301 - AC - Nova Ética. Utili-zou-se seis cápsulas de cada formulação, de

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acordo com a metodologia descrita na Farmaco-péia Brasileira 17.

Uniformidade de conteúdo

De acordo com as especificações da Farma-copéia Brasileira 17, utilizou-se 10 cápsulas de cada formulação para realização deste ensaio. O conteúdo de cada cápsula foi retirado do invó-lucro de gelatina e pesado individualmente, lo-go após foi solubilizado, seguindo-se o mesmo protocolo realizado para a determinação do teor de substância ativa.

Dissolução in vitro

O ensaio de dissolução para cápsulas de pi-roxicam foi realizado conforme a monografia do fármaco descrita na Farmacopéia Americana 18. Utilizou-se um dissolutor (modelo VK 7000 - Va-rian) e o aparato I (cesta), temperatura de 37 ± 0,5 °C e velocidade de agitação de 50 rpm. O meio de dissolução simulou o fluido gástrico TS, sem pepsina, o qual foi preparado com 2 g de cloreto de sódio, 7 mL de ácido clorídrico PA e o volume completado com água destilada até 1000 mL. O pH do meio foi mantido próximo a 1,2 e o volume utilizado por cuba foi de 900 mL. Alíquotas de 5 mL foram retiradas nos inter-valos de 5, 10, 15, 30, 45, 60, 90 e 120 min para cada amostra em análise. O volume retirado das cubas para leitura das absorbâncias foi reposto. A quantidade de piroxicam dissolvida foi deter-minada através da leitura das absorbâncias em espectrofotômetro na região do UV em 333 nm. Eficiência de dissolução (ED)

A eficiência de dissolução foi calculada a partir da área sob a curva obtida a partir da por-centagem dissolvida do fármaco em um deter-minado tempo t, em relação à área total do grá-fico.

Fator de diferença (f1) e similaridade (f2) Os fatores (f1) e (f2) foram calculados de

Cinética de zero ordem Tempo versus quantidade total (Q∞)

menos quantidade dissolvida do fármaco (Q), (t x Q∞ - Q). Cinética de primeira ordem Tempo versus log neperiano da porcentagem não dissolvida

(t x ln %ND).

Modelo de Higuchi Raiz quadrada do tempo versus porcentagem dissolvida (√t x %D).

Modelo de Hixson-Crowell Raiz cúbica do tempo menos raiz cúbica da porcentagem

versus tempo (√t - √%ND x t)

Tabela 2. Modelos matemáticos aplicados.

acordo com as equações [1] e [2], respectiva-mente 6.

f1= { [ Σnt – 1|Rt – Tt|] + [ Σnt – 1. Rt] }.100 [1]

f2= 50. log { [ 1 +(1/n) .Σnt–1(Rt- Tt)2]–0,5.100 } [2]

onde T é o número de amostras, n é o número de tempos de coleta, Rt e Tt são a porcentagem dissolvida do medicamento de referência (Fel-dene®) e da amostra teste a cada tempo (t), respectivamente.

Aplicação dos modelos cinéticos

A escolha do modelo cinético pode ser reali-zada pela avaliação do coeficiente de correlação de Pearson. O modelo mais adequado é aquele próximo da perfeita linearidade, tomando-se apenas os pontos que correspondem à fase as-cendente das curvas. Os modelos matemáticos aplicados neste estudo estão descritos na Tabela 2.

Análise Estatística

Os testes estatísticos aplicados na interpre-tação dos resultados foram análise de variância (ANOVA), Tukey, Dunnett e teste t Student. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Determinação do peso médio, do teor de substância ativa e desintegração

A determinação do peso médio possibilita a análise da uniformidade de peso entre as cápsu-las, revelando a eficiência do processo de pesa-gem e de encapsulação. Este parâmetro está di-retamente relacionado com o teor de substância ativa contida nas cápsulas, uma vez que obser-vada a diferença de peso entre as mesmas, não se pode garantir que todas contenham o mesmo teor de princípio ativo 17.

A desintegração é definida como o estado no qual nenhum resíduo da unidade (cápsula), sal-vo o invólucro de gelatina, permanece na tela

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metálica do aparelho de desintegração. Conside-ram-se também como desintegradas as unidades que durante o teste se transformam em massa pastosa 17.

De acordo com a Farmacopéia Brasileira 17, as três formulações apresentaram resultados sa-tisfatórios para os ensaios de peso médio e de-sintegração (Tabela 3).

Comparando-se os teores encontrados com o teor especificado na Farmacopéia Americana (no mínimo 92,5% e no máximo 107,5%) 18, ve-rificou-se que somente as cápsulas da farmácia A apresentaram teor dentro dos limites especifi-cados (Tabela 3). Dessa forma, o baixo teor de piroxicam determinado nas formulações B e C provavelmente está relacionado com problemas no momento da pesagem ou da própria técnica de encapsulação.

Determinação da uniformidade de conteúdo

A uniformidade da dose do fármaco contida em cada cápsula, avaliada individualmente, e a eficiência dos métodos de mistura e encapsu-lação, durante a produção de cápsulas manipu-ladas foram avaliadas através do ensaio de uni-formidade de conteúdo 18. Nesse ensaio, as for-mulações B e C (Tabela 4) continham algumas cápsulas com teor inferior ao mínimo preconiza-do, o que condiz com o resultado do ensaio de determinação do teor de substância ativa, no qual estas duas formulações não apresentaram resultados satisfatórios. No caso da formulação B, os teores de substância ativa podem ser con-siderados precisos, porém não apresentaram exatidão em relação ao preconizado na literatu-ra (92,5-107,5%) 18. Em relação à formulação C, apenas duas cápsulas apresentaram irregularida-de quanto ao teor. Portanto, poirregularida-de-se sugerir que tanto a pesagem quanto a mistura de pós (fármaco e excipientes) e o processo de encap-sulação não foram eficientes em relação à distri-buição uniforme das matérias-primas.

Dissolução in vitro

A absorção de fármacos a partir de formas farmacêuticas sólidas administradas por via oral

Ensaio Formulação A Formulação B Formulação C

Peso médio (mg ± DP) 131,8 ± 2,97 217,8 ± 5,74 134,9 ± 4,32

Desintegração (min) 17’ 38” 19’ 10” 16’ 49”

Teor de SA (%) 102,8 88,5 89,9

Tabela 3. Resultados obtidos dos partir das formulações em estudo. Nota: DP - desvio padrão, SA - substância ativa.

Teor (%) Teor (%) Teor (%) Cápsulas Formulação Formulação Formulação

A B C 1 100,05 89,75 92,95 2 94,70 88,00 92,75 3 100,25 94,15 96,65 4 95,45 89,80 95,55 5 95,10 94,20 100,30 6 96,85 94,45 90,30 7 94,85 86,00 97,90 8 98,65 96,50 92,20 9 102,15 94,85 100,7 10 98,55 91,05 100,4

Tabela 4. Uniformidade de conteúdo das formulações A, B e C. Os resultados foram expressos como o teor de piroxicam (%).

depende da sua liberação, da dissolução ou so-lubilização do fármaco em condições fisiológi-cas e de sua permeabilidade através das mem-branas do trato gastrintestinal. Devido à nature-za crítica dos dois primeiros, a dissolução in vi-tro pode ser relevante para prever o desempe-nho de um fármaco in vivo. A dissolução é um ensaio físico utilizado para prever a liberação de partículas sólidas para uma determinada área, numa determinada quantidade e num tempo correto, sendo o esse processo controlado pela afinidade entre a substância sólida e o solvente e pelo modo como o sistema farmacêutico libe-ra 19. Com base nestas considerações gerais, os ensaios de dissolução in vitro para comprimidos e cápsulas são utilizados para garantir a qualida-de lote a lote, orientar o qualida-desenvolvimento qualida-de novas formulações e assegurar a uniformidade da qualidade e do desempenho do medicamen-to depois de determinadas alterações 4.

O perfil de dissolução relaciona a porcenta-gem de fármaco dissolvido em função do tem-po. Permite a obtenção de parâmetros cinéticos, que são importantes para determinar a velocida-de e eficiência do processo, além do tempo ne-cessário para que determinadas porcentagens do fármaco se dissolvam 6,20.

Os perfis de dissolução das formulações de piroxicam estudadas estão demonstrados na Fig. 2. As formulações apresentaram perfis de

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disso-lução distintos entre si, diferindo principalmente na velocidade de dissolução e na quantidade máxima liberada.

Os medicamentos de referência (Feldene®) e genérico liberaram 80% do princípio ativo em aproximadamente 5 e 7 min, respectivamente. As formulações B e C liberaram mais de 80% do fármaco ao final de 45 min, conforme preconi-zado pela Farmacopéia Americana 18. Porém, a formulação A, em 45 min de dissolução havia li-berado apenas 8% do princípio ativo.

Quando os medicamentos são administrados por via oral na forma sólida, o processo de libe-ração do fármaco pode ser o fator que limita a velocidade de absorção, e esta pode ser incom-pleta se a velocidade de liberação do fármaco for baixa. A velocidade com que esses proces-sos ocorrem é influenciada por certas caracterís-ticas da formulação e/ou da forma farmacêutica, entre elas: tamanho e forma das partículas, quantidade e características dos agentes agre-gantes, desintegrantes e lubrificantes, tempos de mistura entre outros 6,7. Portanto, os excipientes de uma formulação podem acarretar em alte-rações na dissolução dos fármacos. Esse fato foi observado durante os estudos do ensaio de dis-solução das cápsulas analisadas 3,20.

Na composição dos medicamentos de re-ferência e genérico constam como excipientes o amido de milho, a lactose, o estearato de mag-nésio e o lauril sulfato de sódio, sendo que na composição do medicamento genérico encon-tra-se também a croscamelose sódica, um super-desintegrante. Todas as formulações analisadas, exceto a formulação A, continham um tensoati-vo em sua composição, o lauril sulfato de sódio. A presença de um tensoativo em uma formu-lação facilita a dissolução de fármacos pouco solúveis em água, como o piroxicam. A formu-lação A, além de não possuir nenhum tensoati-vo em sua composição continha outros

exci-Figura 2. Gráfico do perfil de liberação das formu-lações/farmácias A, B e C, do medicamento de re-ferência (Feldene®) e do medicamento genérico.

pientes com características hidrofóbicas e/ou pouco hidrossolúveis, tais como o estearato de magnésio, o aerosil, a celulose microcristalina e o amido. O estearato de magnésio age como lu-brificante e antiaderente nas formulações, apre-sentando natureza hidrofóbica e incompatível com substâncias ácidas, alcalinas e sais de ferro. Os lubrificantes são adicionados para assegurar a fluidez dos pós ou granulados e facilitar, as-sim, o preenchimento das matrizes. Estas substâncias hidrofóbicas dificultam a umectação e conseqüentemente, a dissolução da formu-lação 21. Para evitar esse problema, é necessá-rio que a composição e a escolha dos excipien-tes seja devidamente fundamentadas em estudos de pré-formulação.

Eficiência de dissolução (ED)

A ED nos últimos anos vem sendo utilizada como um parâmetro de confiança na avaliação da equivalência farmacêutica entre formulações. Possui a vantagem de poder ser relacionada com os dados in vivo, uma vez que se aproxima mais da situação clínica, considerando-se que o grau de absorção é proporcional à concentração de fármaco em solução e ao tempo de per-manência no local do trato gastrintestinal 6,20.

A ED foi expressa através da razão entre a porcentagem dissolvida do fármaco versus o tempo (Tabela 5). A análise de variância (ANO-VA) demonstrou que existe diferença estatistica-mente significante entre as formulações (F = 41,31; p< 0,05). De acordo com os valores obti-dos para o teste de Tukey, comparação múltipla de médias e p < 0,05, verificou-se que somente a formulação A é estatisticamente diferente das outras formulações avaliadas. O teste de Dun-nett expressa os valores da ED das formulações quando comparados à ED do medicamento de referência (Feldene®). Somente a formulação A apresentou diferença significativa (p < 0,01) pa-ra este teste, refletindo, portanto, diferenças nos perfis de dissolução dos mesmos.

Formulação ED(%) ± DP Farmácia A 25,02 ± 1,71 Farmácia B 89,79 ± 6,10 Farmácia C 84,07 ± 6,62 Feldene® 105,94 ± 6,26 Genérico 95,95 ± 6,17

Tabela 5. Resultados da eficiência de dissolução (ED) obtidos a partir dos dados das curvas de dissolução das formulações A, B e C, Feldene(r) e do medica-mento genérico.

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Fatores de diferença (f1) e semelhança (f2) A comparação das eficiências de dissolução demonstra, principalmente, diferenças estatísti-cas, o que pode não ter uma significância far-macêutica. Desta forma, a comparação foi com-plementada com cálculos dos fatores de dife-rença e semelhança 6,20.

Os perfis em estudo são considerados dife-rentes quando o fator f1se apresenta superior a 15 e semelhantes quando a comparação entre eles resultar em valores de f2 entre 50 e 100 (Tabela 6) 6,20.

Formulação Higuchi Primeira Ordem Ordem Zero Hixson- Crowell

A 0,9999 0,9973 0,9941 0,9982

B 0,9514 0,9751 0,9758 0,9747

C 0,8985 0,9737 0,9762 0,9749

Feldene® 0,9583 0,9953 0,8456 0,9839

Genérico 0,9678 0,9730 0,9683 0,9449

Tabela 7. Linearização dos perfis de dissolução ajustados de acordo com o coeficiente de correlação de Pear-son. Grupos f1 f2 Feldene® x Genérico 10,73 49,13 Feldene® x Formulação A 79,16 6,18 Feldene® x Formulação B 23,90 28,56 Feldene® x Formulação C 31,06 21,40

Tabela 6. Análise dos fatores de diferença (f1) e se-melhança (f2) entre as formulações estudadas em re-lação a sua referência.

As formulações A, B e C mostraram-se distin-tas quando comparadas com a formulação de referência. No entanto, o medicamento genérico apresentou valor de f1 (10,73) abaixo do limite de diferença e valor de f2 (49,13) muito próxi-mo do intervalo de semelhança. Considerando-se que a robustez dos fatores f1 e f2 é falível quando os valores encontrados estão próximos de 15 e 50, respectivamente, o fator f2 aceita uma diferença de 10% 6. Dessa maneira, o medi-camento genérico foi o único passível de inter-cambialidade com o de referência.

Cinética de dissolução e modelos matemáticos

A interpretação quantitativa dos valores obti-dos nos ensaios de dissolução é facilitada pela utilização de modelos matemáticos que têm co-mo objetivo descrever a liberação do fármaco a partir da forma farmacêutica que o contém. Os modelos matemáticos aplicados para

interpre-tação da cinética de dissolução do piroxicam das cápsulas avaliadas foram Higuchi, Hixson-Crowell e as cinéticas de primeira ordem e or-dem zero, visando elucidar o mecanismo de li-beração do fármaco em questão 6,20. Os valores estão descritos na (Tabela 7).

O ajuste dos valores indicou que as formu-lações possuem modelos de liberação distintos. As formulações B e C apresentaram perfil cinéti-co de liberação de zero ordem, indicando que a liberação é independente da quantidade de fár-maco remanescente. Para o medicamento de re-ferência (Feldene®) e genérico ficou evidencia-da uma liberação de primeira ordem, onde a quantidade liberada em função do tempo é de-pendente da quantidade de fármaco remanes-cente na formulação, sendo este o modelo que melhor se aplica á formulações de liberação imediata. Por outro lado a formulação A apre-sentou uma liberação de acordo com o modelo matemático de Higuchi onde a porcentagem dissolvida é dependente da raiz quadrada do tempo, sendo este aplicado a formulações de li-beração prolongada. Este resultado já era espe-rado uma vez que a formulação apesar de ser de liberação imediata apresentou uma lenta li-beração do fármaco. Porém, se faz necessário ressaltar que os modelos matemáticos aplicados são voltados principalmente para comprimidos, ocorrendo limitações quando aplicados á cápsu-las 22.

CONCLUSÕES

Os resultados dos ensaios de controle de qualidade demonstraram que as cápsulas mani-puladas de piroxicam analisadas foram aprova-das nos ensaios de peso médio e desintegração, porém não foram aprovados nos ensaios de do-seamento e uniformidade de conteúdo, indican-do a ocorrência de problemas durante o proces-so de pesagem e mistura dos pós constituintes da formulação. O ensaio de dissolução in vitro, apontou que as formulações analisadas não po-dem ser consideradas intercambiáveis com os medicamentos de referência e genérico deste fármaco. Outro fato observado em relação às

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cápsulas manipuladas, é que a composição dos excipientes utilizados nas mesmas não está ade-quada. A escolha dos excipientes e de seus teo-res é de fundamental importância, pois é sabido que os excipientes podem alterar a dissolução dos fármacos, comprometendo a sua absorção e, conseqüentemente, sua equivalência terapêu-tica. Portanto, é recomendado que sejam reali-zados estudos de pré-formulação dos medica-mentos manipulados, juntamente com um con-trole de qualidade mais rigoroso no âmbito das farmácias magistrais, para que as mesmas não percam credibilidade e possam garantir aos pa-cientes a equivalência terapêutica de seus medi-camentos.

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Referências

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