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A VINHETA COMO ESTRATÉGIA DE COLETA DE DADOS DE
PESQUISA EM ENFERMAGEM1
Anderson Cleyton Galante2 Joslene Andrade Aranha2 Lúcia Beraldo2 Nilza Teresa Rotte Pelá3 Galante AC, Aranha JA, Beraldo L, Pelá NTR. A vinheta como estratégia de coleta de dados de pesquisa em enfermagem. Rev Latino-am Enfermagem 2003 maio-junho; 11(3):357-63.
Com o objetivo de detectar, quantificar e analisar o uso da vinheta como estratégia de coleta de dados, investigou-se, nos sistemas MEDLINE e LILACS, no período de 1966 a 2000, como tem sido utilizada essa estratégia para coletar dados de pesquisa. Foram localizados 582 trabalhos de pesquisa e, desses, 57 (9,8%) foram publicados em periódicos de enfermagem ou continham estudos sobre os profissionais e/ou alunos de enfermagem; sendo que 4 (7%) foram publicados na década de 80; 49 (86%) na de 90 e 4 (7%) em 2000. As propostas identificadas nos estudos foram: explorar atitude/comportamento 20 (35,1%); explorar conhecimento/atitude/ comportamento 14 (24,6%); avaliação 12 (21,1%); explorar nível de conhecimento 6 (10,5%); estudo metodológico 3 (5,3%) e atribuição de responsabilidade 2 (3,5%). O tema prevalente foi assistência de enfermagem. Os EUA apresentaram 34 (59,6%) publicações e o Reino Unido 16 (28,1%). Foi encontrado um trabalho realizado na América Latina.
DESCRITORES: pesquisa, enfermagem, metodologia
THE VIGNETTE AS A STRATEGY FOR DATA COLLECTION IN NURSING RESEARCH
With a view to verifying, quantifying and analyzing the use of vignettes as a strategy for data collection, the authors investigated how this strategy has been used for research data collection, in the MEDLINE and LILACS systems, in the period from 1966 to 2000. Five hundred eighty-two research works were found, 57 (9.8%) of which were published in nursing journals or contained studies about nursing professionals and/or students. Among these, 4 (7.0%) were published in the 1980s; 49 (86%) in the 1990s and 4 (7.0%) in 2000. The study proposals were: to explore attitude/behavior 20 (35.1%); to explore knowledge/ attitude/behavior 14 (24.6%); to evaluate 12 (21.1%); to explore knowledge level 6 (10.5%); to conduct methodological studies 3 (5.3%) and to attribute responsibility 2 (3.5%). The prevailing theme was nursing care. The United States of America presented 34 (59.6%) publications, while the United Kingdom presented 16 (28.1%). One work was found which originated from Latin America.
DESCRIPTORS: research, nursing, methodology
LA VIÑETA COMO ESTRATEGIA DE RECOLECCIÓN DE DATOS DE INVESTIGACIÓN EN ENFERMERÍA
Con el objetivo de detectar, cuantificar y analizar el uso de la viñeta como una estrategia en la recolección de datos, se buscó en los sistemas MEDLINE y LILACS, en el periodo comprendido entre 1996 y 2000, como ha sido utilizada esta estrategia para recolectar datos de investigación. Se encontraron 582 trabajos de investigación y de estos, 57 (9.8%) fueron publicados en periódicos de enfermería o estudiaban los profesionales y/o alumnos de enfermería; siendo que 4 (7%) fueron publicados en la década de 80; 49 (86%) en la de 90 y 4 (7%) en 2000. Las propuestas indicadas en los estudios fueron: explorar actitud/comportamiento 20 (35,1%); explorar conocimiento/actitud/comportamiento 14 (24.6%); evaluación 12 (21.1%); explorar nivel de conocimiento 6 (10.5%); estudio metodológico 3 (5.3%) y atribución de responsabilidad 2 (3.5%). El tema prevalente fue atención de enfermería. Los EE.UU presentaron 34 (59.6%) publicaciones y el Reino Unido 16 (28.1%). Solo se encontró un trabajo en América Latina.
DESCRIPTORES: investigación, enfermería, metodología
1
Trabalho apresentado no 9º Simpósio Internacional de Iniciação Científica da Universidade de São Paulo (SIICUSP); 2 Acadêmicos do 4º ano de enfermagem do Centro Universitário Barão de Mauá 2001; 3 Orientador, Professor Titular aposentado pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Centro Colaborador da OMS para o desenvolvimento da pesquisa em enfermagem, e-mail: ropela@eerp.usp.br
Artigo de Revisão
INTRODUÇÃO
A
inserção da vinheta na pesquisa deu-se em virtude do descontentamento com questionários, entrevistas e observação como instrumentos efetivos para tratar de medida de atitudes, crenças, valores e conceitos abstratos de saúde e doença, sendo que o seu uso permite coletar grandes quantidades de dados, a partir de grandes amostras, e a possibilidade de manipular variáveis, resultando em estudos metodologicamente sofisticados(1). Contesta-se o uso do questionário e da entrevista como instrumentos adequados para estudos sobre atitudes humanas, porque não são confiáveis e apresentambias. Tais técnicas exigem que o respondente faça
abstração. Como resultado às questões imprecisas, o quadro mental do respondente interfere nas suas respostas(2).
A vinheta aparece como forma alternativa da observação que, embora tradicionalmente usada, apresenta alguns problemas metodológicos, tais como: efeito Hawthorne, dilemas éticos, quebra da uniformidade dos dados e dificuldade de interpretação dos dados.
O efeito Hawthorne é fenômeno relativo à observação, estudado por pesquisadores na Western Pacific Corporation, em Hawthorne, segundo o qual os sujeitos sob observação podem agir de maneira particular. Os dilemas éticos são aqueles relativos aos sujeitos estudados, pois, podem implicar em invasão da privacidade, bem como na sua concordância ou não em participar da pesquisa.
A quebra da uniformidade dos dados refere-se a amostras abrangentes que não podem ser uniformizadas, sendo possível na vinheta, logo, todos os sujeitos respondem ao mesmo estímulo.
A dificuldade de interpretar os dados oriundos da observação dificulta a identificação do raciocínio usado na ação e o evento pode ocorrer longe do campo visual do observador(1,3).
A partir da década de 50, pesquisadores da área social iniciaram o uso da vinheta. Entre os trabalhos pioneiros encontra-se o artigo de Herskovits, de 1950 “A situação hipotética: uma técnica de pesquisa de campo”, publicado no Journal of Antrophology(1).
Segundo alguns autores, vinheta é uma descrição curta e compacta de uma situação, real ou fictícia, usada para chamar atenção, passar uma mensagem, produzir sensações e detectar comportamento, atitude e
conhecimento(1-4).
A vinheta também é conceituada como: “descrições breves de eventos, ou situações às quais os respondentes são solicitados a reagir. As descrições podem ser fictícias ou reais, mas são sempre estruturadas de modo a eliciar informações sobre as percepções, opiniões ou conhecimentos dos respondentes sobre algum fenômeno estudado”(3).
Tem-se que considerar, ainda, que vinhetas são geralmente descrições narrativas, por escrito, mas pesquisadores as têm utilizado em videoteipe para retratar situações específicas. Após a apresentação da vinheta, solicita-se aos respondentes para se posicionarem frente à situação que lhes foi apresentada.
Um exemplo disso(5) seria uma pesquisa com o objetivo de explorar atitudes e estereótipos frente a enfermeiros (homens). Assim, em algumas vinhetas, o procedimento de enfermagem seria executado por enfermeiros e, em outras vinhetas, por enfermeiras, variando ainda algumas características do profissional como a idade e experiência profissional. Os respondentes manifestar-se-iam quanto à simpatia, afabilidade, alegria e eficiência ou aos quatro elementos em relação aos profissionais fictícios da vinheta.
Quanto à pesquisa em enfermagem, a vinheta tem sido usada principalmente para detectar atitudes ou crenças das enfermeiras frente a grupos particulares de clientes ou como se comportariam em situações difíceis, sobretudo aquelas relativas a “pacientes difíceis” ou com estereótipos(1). Após entender o conceito de vinheta, sua utilização na pesquisa, em particular na pesquisa em enfermagem, surgiu o interesse no aprofundamento dessa temática; então, propusemo-nos a investigar: como a vinheta tem sido utilizada como estratégia de coleta de dados de pesquisa em enfermagem?
OBJETIVO GERAL
Analisar a produção científica sobre profissionais e/ou alunos de enfermagem que utilizaram a vinheta como estratégia de coleta de dados.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
359 de investigações nas quais a técnica de vinheta foi
utilizada;
- identificar, dentre os artigos localizados, quais são publicados em periódicos de enfermagem, e/ou em quais os profissionais e/ou alunos de enfermagem são estudados, bem como o país de origem do periódico; - detectar com qual proposta a investigação é condizente: explorar nível de conhecimento, detectar atitude/ comportamento, explorar nível de conhecimento e detectar atitude/comportamento, avaliação, atribuição de responsabilidade, estudo metodológico;
- identificar os temas explorados e a década de publicação; - relacionar a década de publicação à temática estudada.
MATERIAL E MÉTODO
Este trabalho constituiu-se de pesquisa tipo
survey(5).
Para que o objetivo fosse alcançado, foi realizada pesquisa bibliográfica, utilizando os sistemas MEDLINE e LILACS para localizar e identificar os artigos científicos que constituíam a população em estudo.
População e amostra
O universo deste estudo constituiu-se dos artigos inseridos nos sistemas MEDLINE e LILACS, no período de 1966 a 2000.
Foram incluídos os artigos que apresentaram
abstract e que eram redigidos em português, ou espanhol,
ou inglês.
Instrumento de coleta de dados
Para facilitar e dinamizar a coleta de dados foram utilizados dois formulários: com o primeiro, o objetivo era trabalhar com todos os artigos levantados e compreendia os seguintes itens: título do trabalho, população estudada, periódico publicado, apresentação de abstract, idioma e sistema MEDLINE/LILACS; o segundo, atinava aos itens: nome do artigo, identificação do periódico (de enfermagem ou outro), década de publicação, país de origem, proposta
de investigação e tema explorado.
Para assegurar a qualidade e a confiabilidade dos formulários, adotou-se o método teste-reteste(6), que consiste em aplicação simultânea a um grupo de sujeitos em duas ocasiões diferentes, seguindo-se a comparação dos escores obtidos.
Para a validação dos instrumentos, cinco artigos foram submetidos à avaliação de cada investigador, simultaneamente, e revistos com intervalo de três semanas, para avaliar a porcentagem de concordância entre as duas execuções para o mesmo investigador e para a análise da intersubjetividade entre os pesquisadores.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No período determinado para o estudo (1966-2000), foram localizados, no sistema MEDLINE, 582 publicações que continham referência de vinheta ou em que a técnica de vinheta foi utilizada como estratégia de coleta de dados. No mesmo período, apenas um artigo foi encontrado no sistema LILACS, sendo que o mesmo estava também indexado no MEDLINE.
Para preenchimento do formulário 1, os títulos dos 582 artigos foram traduzidos para o português, independente de estarem ou não publicados em periódicos de enfermagem. Quando esse procedimento não possibilitava a identificação dos sujeitos estudados, procurava-se, então, no abstract, as palavras nurse, nurse
student e nursing.
Nessa etapa, foram localizados 62 artigos publicados em periódicos de enfermagem ou em outros periódicos que continham estudos acerca dos profissionais e/ou alunos de enfermagem. Contudo, 5 trabalhos foram excluídos por não apresentarem abstract, ficando a amostra constituída de 57 artigos, sendo que, desses, 42 estavam publicados em periódicos de enfermagem e 15 em outros periódicos.
Dos 42 artigos publicados em periódicos de enfermagem, em 37 os profissionais e/ou alunos de enfermagem foram estudados, sendo que não o foram nos 5 restantes.
582
Foram traduzidos todos os títulos
Detectar se foram estudados os profissionais e/ou alunos de enfermagem
Se o título não foi suficiente para a identificação Procurou-se no abstract as palavras: nurse, nurse student e
nursing
Foram localizados 62 artigos 57 com abstract 5 sem abstract
Foram traduzidos os 57 abstracts para detectar a proposta do estudo e o tema
57
42 publicados em periódicos de 15 publicados em outros enfermagem periódicos Em 37, os profissionais e/ou Em 5, os profissionais alunos de enfermagem e/ou alunos de enfermagem não foram estudados foram estudados
⇓ ⇓ ⇓ ⇓ ⇓ ⇓ ⇓ ↓ ↓ ↓ ↓ ↓ ↓
Nas décadas de 60 e 70, nenhum artigo foi encontrado em ambos os sistemas, sendo localizados 4 (7%) na década de 80, 49 (86%) na de 90 e 4 (7%) no decênio em curso, com apenas um ano indexado, o que parece mostrar o aumento na tendência do uso dessa técnica.
A Figura 1 apresenta essa etapa da análise dos dados.
Figura 1 – Fluxograma do processo de análise dos dados
Quanto à procedência dos artigos localizados constata-se que Estados Unidos (34-59,6%) e Reino Unido (16-28,1%) aparecem com significativa produção. Austrália com 2 (3,5%) artigos publicados, Canadá, Holanda, República Dominicana e Suíça com 1 (1,8%) artigo publicado; foi localizado 1 artigo (1,8%) sem indicação de país de publicação.
Estão ausentes, com exceção da República Dominicana, os demais países da América Latina e o México.
Considerando que há periódicos brasileiros indexados no sistema MEDLINE, duas possibilidades devem ser consideradas: ou realmente não se utiliza a técnica de vinheta ou os autores desses trabalhos não evidenciam o termo vinheta como unitermos, pois é usual
que a temática em estudo seja privilegiada pelos autores como unitermos. Quanto ao sistema LILACS, o termo vinheta não se constitui em descritor das ciências da saúde.
Para melhor compreensão do processo classificatório utilizado, apresentaremos a seguir títulos de trabalhos com as suas respectivas classificações, quanto à proposta de estudo:
- “Atitude de enfermeiros acerca de pacientes com aids e
fatores de risco relatados”, detectar atitude/
comportamento;
- “Intervenção da enfermeira chefe em casos de violência
doméstica”, explorar nível de conhecimento;
- “Diferenças na avaliação da dor e decisão acerca da
administração de analgésicos entre iniciantes, intermediários e peritos em enfermagem pediátrica”,
explorar nível de conhecimento e detectar atitude/ comportamento;
- “A negligenciada história médica e a escolha terapêutica
para dor abdominal. Um estudo em âmbito nacional de 799 médicos e enfermeiros”, avaliação;
- “Responsabilizando a vítima: complexo (não-linear),
padrão de atribuição causal por enfermeiras em resposta a vinhetas de ataque do paciente à enfermeira”, atribuição
de responsabilidade;
- “Uma abordagem metodológica para aumentar a validade
externa em simulação baseada em pesquisa”, estudo
metodológico.
Conforme constatado na literatura(1,3-4), a vinheta presta-se a detectar fenômenos que poderiam sofrer modificações pela presença dos observadores, como são aqueles relativos a comportamentos e atitudes que, neste trabalho, aparecem como as propostas mais freqüentes, quer de forma isolada, quer associados à exploração do nível de conhecimento.
A proposta de estudo de maior freqüência foi detectar atitude/comportamento (20-35,1%). Com menores incidências foram detectadas: explorar nível de conhecimento e detectar atitude/comportamento (14-24,6%), avaliação (12-21,1%), explorar nível de
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conhecimento (6-10,5%), estudo metodológico (3-5,3%) e atribuição de responsabilidade (2-3,5%).
Tabela 1 - Distribuição dos 57 artigos quanto aos temas estudados
Tema Freqüência
Assistência de enfermagem x gênero 1
Assistência de enfermagem x oração e visualização 1
Assistência de enfermagem x medida de comportamento sexual
1
Assistência de enfermagem x cultura da enfermeira 1
Assistência de enfermagem x greve 1
Assistência de enfermagem x abuso da mulher 1
Assistência de enfermagem x hierarquia de valores 1
Assistência de enfermagem x violência doméstica 1
Assistência de enfermagem x paciente com demência 1
Assistência de enfermagem x paciente confuso 1
Assistência de enfermagem x aids 1
Assistência de enfermagem x doença mental 1 Agressão do paciente x culpa da enfermeira 2
Dor x analgesia 3
Dor do paciente x estereótipo 1
Dor x administração de morfina 1
Vinheta controle 1
Vinheta x vantagens e desvantagens 1
Vídeoteipe x direção de enfermagem 1
Doença mental x conduta de enfermeiro 1
Papel profissional x médico e enfermeiro 1
Profissionais médicos e enfermeiros x divergência de cuidados
1
Profissionais de saúde x custo de assistência 1
Profissionais de saúde x dizer ou não a verdade 1
Profissionais de saúde x percepção de doença mental 1
Profissional de saúde x capacidade para diagnóstico 1
Profissional enfermeiro x uso de biblioteca 1
Profissional enfermeiro x competência para terapia trombolítica
1
Responsabilidade profissional x assistência espiritual 1 Conhecimento e habilidade x tratamento/cuidado 1
Habilidade x pensamento crítico 1
Avaliar competência para o autocuidado 1
Avaliação de programa 1
Avaliação do tratamento x idosos com distúrbio de comportamento
1
Avaliação da enfermeira x paciente cardíaco 1
Avaliação de enfermagem x maus tratos 1
Atitude de cuidadores x criança com câncer 1
Atitude de estudante de enfermagem x visita domiciliar
1
Atitude de estudante de enfermagem x sexualidade do paciente idoso
1
Atitude de enfermeiro x paciente portador de aids 1
Atitude de estudante de enfermagem x descuido da vítima de estupro
1
Atitude de profissionais x aids 2
Diagnóstico de enfermagem 1
Diagnóstico de enfermagem x débito cardíaco diminuído 1
Tomada de decisão x desejo do paciente 1
Tomada de decisão do enfermeiro x administração de analgésico
1
Ansiedade x desempenho 1
Medida de comportamento sexual 1
Risco de suicídio x paciente oncológico 1 Identificação de distúrbio mental x escolares 1
Terapia de pós-exposição ao HIV 1
Insônia x tratamento 1
Colocando o paciente em pé x procedimento técnico 1
TOTAL 57 Década Tema 80 90 2000* TOTAL Assistência de enfermagem 12 12 Dor 5 5 Profissional 2 4 3 9 Avaliação 5 5 Atitude 2 5 7 Outros - 18 1 19 TOTAL 4 49 4 57
* Década em curso com apenas um ano estudado
As temáticas mais incidentes (destacadas na Tabela 1, em itálico) foram assistência de enfermagem (12-21%), profissional (9-15,7%), dor (5-8,7%), avaliação (5-8,7%) e atitude (7-12,2%).
Considerando esses resultados, salientamos que a adoção dessa estratégia de coleta de dados em muito contribuiria para o estudo, não só da assistência de enfermagem no Brasil, como também na América Latina, onde parece que essa estratégia não tem sido adotada, com exceção à República Dominicana.
Tabela 2 - Distribuição dos 57 artigos investigados quanto à temática e à década de publicação
Considerando a Tabela 2, onde se apresentam a década de publicação e a temática estudada, é notável que o estudo da assistência de enfermagem, usando a técnica de vinheta, teve seu auge na década de 90, enquanto o estudo do profissional vem aumentando progressivamente, evidenciado pelo número de publicações na década em curso, com apenas um ano estudado.
Destacando esses dois temas (assistência de enfermagem e profissional), mais freqüentes, temos a considerar que o uso da técnica de vinheta busca sanar a dificuldade encontrada pelo pesquisador quando os sujeitos da pesquisa não autorizam o processo de observação, bem como o fato da presença do observador poder modificar a maneira particular de agir do observado (efeito Hawthorne), assim, torna-se compreensível que os pesquisadores tenham buscado estratégia de coleta que não a observação e a vinheta, dentro desse contexto, por apresentar-se como estratégia adequada(1,3).
Proposta do estudo T e m a Explorar nível de conhecimento Detectar atitude/ comportamento Explora nível de conhecimento e detectar atitude/ comportamento Avaliação Atribuição de responsabilidade Estudo métodológico TOTAL Assistência de Enfermagem 1 8 3 - - - 12 Dor - - 2 3 - - 5 Profissional 2 1 4 1 1 - 9 Avaliação - - - 5 - - 5 Atitude - 6 1 - - - 7 Outros 3 5 4 3 1 3 19 TOTAL 6 20 14 12 2 3 57
Tabela 3 - Distribuição dos 57 artigos investigados quanto à temática e à proposta de estudo
O tema assistência de enfermagem centrou-se nas propostas de estudo de explorar nível de conhecimento, detectar atitude/comportamento, e ambos, o que evidencia amplo campo de pesquisa usando a técnica de vinheta para estudos de avaliação e atribuição de responsabilidade. A vinheta favorece o estudo desses temas por propiciar a obtenção de dados mais confiáveis que o uso de questionário. Tem sido enfatizado(2) que o uso de questionários e entrevistas exigem que os sujeitos da pesquisa façam abstrações, enquanto que, usando a vinheta, pode-se eliciar respostas frente a situações concretas que lhes são apresentadas.
Tabela 4 - Distribuição dos trabalhos quanto à proposta de estudo e década de publicação (nº 57)
Década Proposta do estudo 80 90 2000* Total Explorar nível de conhecimento 1 5 0 6 (10,5%) Detectar atitude/ comportamento 2 17 1 20 (35,1%) Explorar nível de conhecimento e detectar atitude/ comportamento 1 12 1 14 (24,6%) Avaliação 0 10 2 12 (21,1%) Atribuição de responsabilidade 0 2 0 2 (3,5%) Estudo metodológico 0 3 0 3 (5,3%) Total 4 (7%) 49 (86%) 4 (7%) 57 (100%)
* Década em curso com apenas um ano estudado
Pela concentração do número de trabalhos usando a técnica de vinheta como estratégia de coleta de dados na década de 90, acreditamos não ser possível analisar, no momento, se a tendência de concentrar os estudos nas propostas em explorar nível de conhecimento e detectar atitude/comportamento será mantida na década
de 2000, do qual apenas um ano foi estudado.
CONCLUSÃO
Tendo aparecido no campo da antropologia na década de 50, sendo incorporada na psicologia social a partir da década de 70(4), no presente trabalho detectamos que o implemento do uso da técnica de vinheta na área da saúde, especificamente no campo da enfermagem, só vai ocorrer nos anos 80. De acordo com os dados, notamos o aumento do uso de vinheta na década de 90 e parece que essa proporção deve se manter ou aumentar na década em curso.
Na área de enfermagem foi localizado apenas um trabalho na América Latina, na República Dominicana, o que nos remete à sugestão de que os pesquisadores em enfermagem devam estar atentos para o uso dessa técnica, quando se pretende eliciar respostas em situações que necessitam ser medidas, mas que poderiam sofrer a influência da presença do observador.
As propostas de estudo mais incidentes foram detectar atitude/comportamento, explorar nível de conhecimento e detectar atitude/comportamento, o que se mostrou coerente com o objetivo do uso da técnica de vinheta.
Os temas mais explorados foram assistência de enfermagem, dor, profissional, atitude e avaliação, mostrando que essa estratégia de coleta de dados se adequa ao campo da pesquisa em enfermagem.
Esperamos, com a presente análise, divulgar a técnica em estudo e estimular os pesquisadores a utilizá-la.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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6. Cassiani SHB. A coleta de dados nas pesquisas em enfermagem. Estratégias, validade e confiabilidade. [dissertação]. Ribeirão Preto (SP): Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto/USP; 1987.
Recebido em: 13.12.2001 Aprovado em: 13.11.2002