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RELIGIÃO E INCLUSÃO SOCIAL: UMA ANÁLISE SOBRE O TRABALHO DE INCLUSÃO DE SURDOS EM IGREJAS CRISTÃS DE BELO HORIZONTE.

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Anais do Congresso ANPTECRE, v. 05, 2015, p. GT0121

RELIGIÃO E INCLUSÃO SOCIAL: UMA ANÁLISE SOBRE O

TRABALHO DE INCLUSÃO DE SURDOS EM IGREJAS CRISTÃS

DE BELO HORIZONTE.

Marissandra Silva do Rosário Freitas Graduada em Pedagogia UFMG Mestranda em Ciências da Religião PUC Minas

marissandra.freitas@gmail.com GT 01- RELIGIÃO E EDUCAÇÃO

Resumo: Este artigo pretende analisar a construção da cidadania do indivíduo surdo através da

afirmação da existência de uma identidade e cultura própria partindo de uma pesquisa feita no âmbito de igrejas cristãs de Belo Horizonte. O convívio social com outros surdos, as atividades ministeriais e sociais planejadas das referidas instituições promovem no meio cristão tanto católico quanto batista a inclusão social. As referidas instituições desenvolvem um trabalho que perpassa o acompanhamento espiritual, promovendo a divulgação da cultura surda e favorecendo a construção de uma identidade própria entre seus fiéis. Os termos cultura surda e identidade surda são amplamente debatidos hoje entre intelectuais, profissionais e religiosos que atuam nesse segmento. Analisaremos de que maneira a inclusão acontece nessas instituições bem como a construção da cidadania do sujeito surdo na medida em que se apropria de uma cultura e identidade própria.

Palavras chave: Surdos, Igrejas, Cidadania, Inclusão. Anais do V Congresso da ANPTECRE

“Religião, Direitos Humanos e Laicidade”

ISSN:2175-9685

Licenciado sob uma Licença Creative Commons

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Anais do Congresso ANPTECRE, v. 05, 2015, p. GT0121

A inclusão é um movimento que pretende modificar a maneira de pensar sobre a pessoa com deficiência e de mudança em relação à oferta de serviços em todos os espaços sociais de maneira que suas demandas sejam atendidas.

SASAKI (1997) apresenta o seguinte conceito de inclusão:

A inclusão social, portanto, é um processo que contribui para a construção de um novo tipo de sociedade através de transformações pequenas e grandes, nos ambientes físicos (espaços internos e externos, equipamentos, aparelhos e utensílios, mobiliário e meios de transporte) e na mentalidade de todas as pessoas, portanto também do próprio portador de necessidades especiais. (SASAKI, 1997, pg. 42)

A ideia de inclusão passa pela condição de autonomia, que é muito importante para o indivíduo. A autonomia é quando há um domínio por parte da pessoa nos ambientes físicos e sociais que ela queira frequentar.

A inclusão deve atingir todas as áreas sociais: educação, espaços de lazer, trabalho e emprego, acessibilidade, saúde, dentre outros. Assim, a pessoa com deficiência tem o direito de pertencer a uma sociedade igualitária onde possa ter qualidade de vida e garantia de suas necessidades atendidas pelos diversos setores sociais. Alguns destes se destacam na promoção da inclusão: igrejas e instituições religiosas são exemplos disso.

A religião entra nesse contexto, não apenas como um lugar de busca de espiritualidade, mas também como ponto de encontro para convivência com outros surdos, pessoas que se comunicam em Libras e atividades direcionadas para esse público específico. Neste sentido, DUTRA (2005) sugere formas de inclusão de deficientes na comunidade cristã:

Não nos satisfazemos somente com a presença física das pessoas com deficiência durante a missa e sacramentos. Mas levando-as à participação ativa, confiamos a elas alguma função litúrgica. Por exemplo, para as pessoas com deficiência intelectual, a adaptação de textos para liturgias especiais ocasionais, a escolha de músicas ao alcance de todos, a dramatização das parábolas, os sermões simplificados e a criação de atividades com simbolismo religioso podem encher um volume dedicado

à inclusão dessas pessoas em liturgias especiais.

(

DUTRA, 2005, pg. 31)

Nos últimos anos temos visto uma mudança no cenário religioso brasileiro no tocante a se preocupar com a inclusão, com as pessoas que têm deficiência e que desejam participar de missas, cultos e reuniões diversas. A vida religiosa também é muito importante para o bem estar das pessoas, faz parte do convívio social e humano sendo que este direito de frequentar e se associar religiosamente não pode ser negado

àqueles que possuem alguma deficiência. Para se criar um ambiente de inclusão

na prática, requer – se que o amor e a dedicação estejam presentes na vida daquele

que se propõe a fazê-lo, pois não é uma tarefa fácil. A inclusão passa pela quebra de barreiras arquitetônicas até a tradução de reuniões para Libras dentre outras atividades, o que exige pessoal capacitado, recursos financeiros e materiais.

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Muitas igrejas cristãs vêm interagindo socialmente com a comunidade surda no sentido de estarem oferecendo espaços de divulgação da libras e apoio assistencial de maneira a se tornarem referência de como deve ser feita a promoção dos direitos dos surdos.

Diante disso, é estabelecida uma reflexão sobre quais são as relações entre ação religiosa e cidadania, investigando a promoção da inclusão através da religião tendo como base o trabalho de duas instituições religiosas a qual chamaremos de igreja batista “Y” e instituição católica “X”, ambas da cidade de Belo Horizonte.

Para o desenvolvimento da pesquisa é utilizada a metodologia de Pesquisa Bibliográfica em dois tipos de obras: estudos sobre a inclusão dos surdos e discussões acerca da dimensão religiosa da inclusão e Pesquisa de campo. A pesquisa de campo tem o objetivo de observar e coletar dados junto às instituições.

A pesquisa tem como objetivo discutir as relações entre o fato religioso (igreja) e as demandas sociais dos surdos enfatizando as correlações entre religião e cidadania. Pesquisar o trabalho de igrejas cristãs da cidade de Belo Horizonte em relação à inclusão de surdos e sua integração em determinados espaços religiosos, tendo como base o trabalho desenvolvido nas igrejas. Pretende ainda demonstrar de que forma as instituições religiosas contribuem para a construção da cidadania do surdo.

Assis Silva (2012) apresenta a evolução do conceito de comunidade surda entre as esferas religiosas:

Em primeiro lugar, agentes católicos utilizaram o termo

comunidade de surdos para paróquias em que há surdos.

Posteriormente, luteranos ampliam a utilização dessa categoria, considerando ser a comunidade de surdos formada por escolas especiais, paróquias e associações de surdos, territórios vinculados à Igreja Católica.Por fim, batistas dão em grande medida o significado atualmente utilizado por muitos agentes, pois ampliam ainda mais o escopo dessa categoria; além de escolas especiais, igrejas e associações de surdos, a categoria se refere a territórios como bares, shoppings, rodoviárias e praias que constituem ponto de encontro de surdos. É preciso ainda considerar que, além de ser utilizada para nomear uma rede de sociabilidade e instituições, a categoria comunidade surda também é uma categoria política. Ativistas, não raro em posições de poder na Feneis, falam de maneira legítima em nome da

comunidade surda brasileira. (ASSIS SILVA, 2012, pg. 29)

A comunidade surda hoje é articulada e luta para que os direitos dos surdos sejam conquistados em todos os segmentos sociais.

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Quando os agente religiosos defendem a comunidade surda, falam sobre a valorização de uma cultura própria e identidade particular que essas pessoas carregam e que devem ser propagada entre eles, em detrimento da cultura ouvinte que segrega e oprime o deficiente auditivo. A cultura envolve valores, motivações, manifestações culturais, linguísticas e comportamentais específicas de um grupo que são inerentes e caracterizam hábitos e especificidades.

As ações de igrejas cristãs de Belo Horizonte demonstram uma tentativa de responder às recomendações de textos sagrados que falam sobre o amor, aceitação e cuidado com o outro. Em ambos os relatos sobre o princípio do trabalho com surdos nas igrejas há descrição de iniciativas de pequenos grupos para aprendizado de libras, abertura de celebrações com tradução na língua de sinais e interesse em buscar pessoas na comunidade que tenham perfil para trabalho neste segmento.

Os tipos de serviços ofertados são diversos, podemos destacar: o

acompanhamento dos surdos em locais públicos para a resolução de “problemas

cotidianos” como: abrir uma conta em um banco, solicitar um serviço junto a um órgão público, traduzir uma consulta médica (serviços que podem ser feitos por qualquer um desde que saiba libras). São atividades cotidianas, mas que para o surdo se torna um desafio devido às barreiras de comunicação e ausência de conhecimento da cultura ouvinte que dificulta muitas vezes o entendimento de como resolver um problema ou ter acesso a algum benefício ao qual o indivíduo tem direito.

Neste sentido, as instituições trabalham promovendo o acompanhamento que é muito mais do que um tradutor destacado para ajudar de forma assistencial: é alguém imbuído de amor e compreensão que doa parte de seu tempo para ajudar.

A grande maioria dos participantes deste tipo de trabalho são voluntários, têm acesso ao curso de libras dentro da própria instituição religiosa e ali aprendem sobre a cultura dos surdos e suas necessidades.

Ao frequentar as instituições religiosas pesquisadas percebe-se que o surdo se apropria do conhecimento sobre seus direitos e recebe apoio espiritual e social. A cidadania é construída na medida em que o sujeito se apropria de seus direitos e passa a exercê-los. Dentre esses direitos que são apresentados ao surdo nas igrejas são de se comunicar exclusivamente pela Libras sem necessidade de utilizar a cultura ouvinte.

As instituições religiosas oferecem serviços que vão além do acompanhamento espiritual e social, influenciando o indivíduo na construção de uma identidade surda, valorização da Libras como língua própria de sua comunidade e difusão de uma cultura específica que fortalece a auto estima e promove a educação para a construção da cidadania surda.

Desta forma a cidadania é garantida na medida em que o surdo pode conviver com sua deficiência sem ter que se encaixar no padrão ouvinte, respeitando suas limitações próprias da surdez. Utiliza a língua de sinais para se comunicar com os

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demais e têm acesso à convivência com outros surdos, bem como diversos serviços que ajudam a encontrar seu caminho em uma sociedade ouvinte e segregadora.

Referenciais

ASSIS SILVA, César Augusto. Cultura surda: agentes religiosos e a construção de

uma identidade. São Paulo, Terceiro Nome, 2012.

DUTRA, Luiz Carlos. Pastoral da Inclusão: Pessoas com deficiência na comunidade cristã. São Paulo: Edições Loyola, 2005.

SASSAKI, R.K. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro: WVA, 1997.

Referências

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