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Feições geomorfológicas da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Itaytyba Tibagi Paraná

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Academic year: 2021

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Feições geomorfológicas da Reserva

Particular do Patrimônio Natural

(RPPN) Itaytyba – Tibagi Paraná

Karin Linete Hornes 1 Gilson Burigo Guimarães 2 José Mauro Palhares 3

RESUMO: Esta pesquisa foi desenvolvida na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Itaytyba (palavra que em tupi guarani significa pedra e água em

abundância), localizada no município de Tibagi

(Paraná), ao norte do Parque Estadual do Guartelá. Teve como principal objetivo a caracterização das feições geomorfológicas com vistas à implantação de roteiros turísticos e instrumentos explicativos como painéis, placas e folhetos. O reconhecimento destas feições envolveu o exame de bibliografia pertinente, a análise de mapas geológicos, mapas topográficos e fotografias aéreas, além de trabalhos de campo, esses dados da paisagem recolhidos serviram para delimitação de áreas potenciais para visitação.

PALAVRAS-CHAVE: geologia; geomorfologia; paisa-gem.

ÁREA: Geografia.

1

Doutoranda em Geografia (UFPR); Professora da UEPG. E-mail: khornes@bol.com.br

2

Doutor em Geologia (UFPR); Professor na UEPG. E-mail: gburigo@ig.com.br

3

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INTRODUÇÃO

A degradação ambiental vem crescendo aceleradamente em todo o mundo. Porém, os meios de comunicação tendem a destacar apenas os efeitos sobre os componentes bióticos, desconsiderando a parte abiótica como a geologia e a geomorfologia no controle da paisagem.

O Estado do Paraná possui uma arquitetura geológica bastante variante nos três planaltos existentes, controlando muitas vezes o uso e ocupação por parte da sociedade. No entanto, o aspecto de implementação de práticas turísticas é pouco explorado.

Os Campos Gerais (MAACK, 2002) são um exemplo desta arquitetura, um patrimônio natural de extrema beleza, onde seus campos, capões e formas de relevo destacam-se como monumentos que vêm intrigando a imaginação e a curiosidade de muitos, o mesmo ocorrendo também com Itaytyba.

Entretanto, a ausência de informações sobre a origem das paisagens ali existentes permite aos visitantes apenas uma reflexão lúdica. Não existe uma observação adequada da história geológica e geomorfológica local, o que leva muitas vezes a interpretações errôneas sobre a gênese. Pensando neste problema é que se propôs a elaboração dos roteiros para que os visitantes possam ir além do ludíbrio e reflitam sobre a importância do relevo na construção da paisagem. Neste sentido, consideramos a visão geossistêmica do desenvolvimento da paisagem e, também, a percepção da importância da proteção de todos os fatores necessários para a conservação não apenas da biodiversidade, mas de todos os fatores abióticos.

METODOLOGIA

Para a execução desta pesquisa foram necessários embasamentos teóricos e práticos alicerçados principalmente na

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interdisciplinaridade, considerando a Geografia, a Geologia, a Ecologia, o Turismo e outras disciplinas afins.

O reconhecimento teórico da geomorfologia e da geologia se deu através do estudo dos trabalhos de Assine (1996), Wray (1997) e Melo (2000). Os materiais consultados foram cartas, ortofotos, imagens e fotografias aéreas que permitiram fazer macro interpretações. Posteriormente foram realizadas pesquisa de campo.

Os instrumentos utilizados em campo incluíam o GPS (Garmin, modelo GPS-II plus) para a localização dos pontos de estudo, máquina fotográfica digital e convencional, bússola de geólogo, martelo e fichas para cada ponto de interesse contendo a identificação, localização, dimensões, condições de acesso, litologia e estrutura, altitude, geomorfologia, conteúdo fossilífero, hidrografia, grau de comprometimento, potencial de carga, posição da fotografia e outras observações, além de croquis.

Após a obtenção dos dados em campo, os mesmos foram confrontados com a base teórica ligada aos tópicos de Geologia, Geomorfologia, Ecologia, Turismo e Educação Ambiental, resultando na elaboração do texto final e nas propostas de roteiros.

RPPN ITAYTYBA

A RPPN Itaytyba está localizada no município de Tibagi, ao norte do Parque Estadual do Guartelá e seu acesso pode ser feito através da Rodovia Transbrasiliana (BR-153) no sentido Ventania– Tibagi ou Tibagi-Ventania, ambos com aproximadamente 20km de deslocamento (ver figura 1). Após este percurso os visitantes são recepcionados na Aldeia dos Pioneiros, onde preenchem seus “passaportes” e assistem a um vídeo sobre educação ambiental. Posteriormente tomam um ônibus e percorrem cerca de 21km até a Fazenda Parque Vô Ivo onde se encontra a RPPN.

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FIGURA 1

A RPPN Itaytyba possui cerca de 1.090 hectares distribuídos em quatro áreas que estão sob administração da Fazenda Parque Vô Ivo: área de Pesquisa, Campo Alto, Iapó das Pedras e Pedras do Barreiro.

A área de Pesquisa é direcionada exclusivamente para estudos científicos e educação ambiental, possuindo diversas formas de relevo associadas a distintas vegetações. As áreas Iapó das Pedras, Campo Alto e Pedras do Barreiro contêm um grande número de exposições do Arenito Furnas e diversas formas de relevo combinadas a uma grande variedade de espécies vegetais. Além disso, são destinadas a pesquisa e também à prática de caminhadas com graus diferentes de dificuldade, proporcionando ao visitante o contato com a natureza.

O objetivo principal de uma RPPN, de acordo com Schäffer e Prochnow (2002, p. 78), é o de

preservar áreas de importância ecológica ou paisagística. São criadas por iniciativa do proprietário, que solicita ao

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órgão ambiental o reconhecimento de parte ou total de seu imóvel como RPPN.

Diferenciando-se da reserva legal devido a sua conservação perpétua, garante assim a sobrevivência da biodiversidade e a proteção de locais de grande beleza, além de contribuir para a regulação do clima e para o abastecimento dos mananciais de água, proporcionando uma melhor qualidade de vida para a população. De acordo com a Lei 9.363 de 19/12/1996 a área é isenta de Imposto Territorial Rural, permitindo inclusive ao proprietário solicitar auxílio ao poder público para a elaboração de planos de manejo, proteção e gestão.

Estas áreas naturais particulares, protegidas legalmente, são um grande atrativo para o turismo local ou internacional, reforçando as motivações ambientais, culturais e econômicas para sua conservação (LINDBERG & HAWKINS, 1995).

A RPPN Itaytyba foi criada no ano de 1997 com o objetivo primordial de assegurar, através da preservação dos ecossistemas, cânions, cachoeiras e formações rochosas, para que as gerações futuras possam admirar, estudar e usufruir de uma parcela dos Campos Gerais.

Além de ser uma RPPN, Itaytyba também está incluída dentro de uma área de proteção ambiental da Escarpa Devoniana, sendo que a APA, de acordo com o Roteiro Metodológico Para Gestão de Área de Proteção Ambiental (2001, p. 17), tem o intuito de proteger, conservar, melhorar e assegurar o bem estar do meio ambiente e da população por ser

uma área em geral extensa, com certo grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem estar das populações humanas, e tem como objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais.

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Aproveitando, então, a seguridade e os objetivos a que se propõe a RPPN, torna-se interessante um estudo mais elaborado sobre a geologia e a geomorfologia para que os visitantes possam obter um maior conhecimento sobre as feições ali encontradas, proporcionando assim a disseminação do conhecimento geológico.

GEOLOGIA

As etapas de campo nos domínios da RPPN possibilitaram o reconhecimento de diferentes litologias. No leito do rio Iapó pode-se deparar com rochas do embasamento da Bacia do Paraná pertencentes ao grupo Castro, sendo constituídas por riolitos e iguinimbritos de aproximadamente 550 milhões de anos. De acordo com Guimarães (2001), estas rochas apresentam vestígios de continentes anteriores ao Gondwana, como o supercontinente Rondínia, possuindo grande importância econômica, com destaque para a presença de minas de ouro no grupo Castro.

Acima destes está a Formação Furnas, constituída por arenitos brancos amarelados, caulínicos, médios a grossos, por vezes conglomeráticos, possuindo estratificações cruzadas e icnofósseis. Esta unidade é a que mais aflora na RPPN e é também a que possui maior abundância de monumentos. Assine (1999) propõe a divisão dessa formação em três unidades que podem ser observadas no decorrer das quatro áreas de Itaytyba e na escarpa esquerda pertencentes ao Guartelá, onde as diferenças de cimentação, composição e granulometria dão ao relevo aspectos erosivos distintos.

Há também a presença de um dique de diabásio e arenitos metamorfizados por contato de cerca de 150 milhões de anos. Este dique está disposto no sentindo NW-SE dentro de uma fratura paralela ao Cânion Guartelá e, de acordo com Melo (2003), ele reflete o surgimento de atividades tectônicas do Arco de Ponta Grossa que proporcionou a reativação e a formação de estruturas rúpteis NE-SW também observadas na região dos Campos Gerais.

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Estas estruturas podem ser muito bem visualizadas tanto nos domínios da RPPN como na escarpa esquerda pertencente ao Parque Estadual do Guartelá, e se reflete no relevo como grande lineamento e micro fraturas que acabam controlando as drenagens. Após estudos teóricos e práticos pôde-se chegar à produção do mapa a seguir (ver figura 2) com as distribuições aproximadas das litologias. Notou-se que a Formação Furnas é a que mais aflora na RPPN e que existe um grande controle dessa formação e do dique de diabásio juntamente com a topografia nos domínios fitogeográficos da RPPN, permitindo a existência de uma mata mais densa sobre o dique, e de cerrado e campo sobre o arenito (ver figura 3).

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FIGURA 3

GEOMORFOLOGIA DA RPPN ITAYTYBA

Os monumentos que mais se destacam na paisagem e intrigam os visitantes são os da Formação Furnas, visto que seus formatos antropomórficos e zoomórficos conduzem muitas vezes a interpretações ludíbrias da paisagem.

Aproveitando então esta qualidade dos monumentos, fez-se um estudo sobre como são formadas estas diferentes morfologias de relevo e quais são os principais agentes e a sua interferência na paisagem.

A partir dos estudos de Melo (2000) e Wray (1997), juntamente com as etapas de campo, identificou-se que estas formas “bizarras” são o fruto da combinação de fatores endógenos da rocha como tipo de cimentação, textura, estruturas sedimentares e tectônicas, com fatores intempéricos como clima, influência biótica, insolação e disponibilidade de água.

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Muitas vezes a cimentação do arenito é feita por sílica e existe uma variedade de oito tipos de sílica, estas diferenças tipológicas acabam interferindo diretamente na solubilidade das rochas areníticas, levando a uma maior ou menor tendência à erosão. O grau de dissolução da sílica está intimamente ligado a fatores de PH da solução e a presença de compostos químicos mais reativos e variações da temperatura (WRAY, 1997).

A textura e a porosidade da rocha acabam influindo no padrão diferenciado de erosão, podendo se refletir nos três níveis do Arenito descritos por Assine (1999). As estruturas sedimentares e rúpteis, como fraturas verticais ou suborizontais, podem permitir um maior acúmulo de água, aumentando o potencial de erosão ou até mesmo diminuindo se acaso tiver crescimento de plantas e retenção de material coluvionar. Os fatores climáticos e as variações de temperatura e precipitação, juntamente com as diferenças topográficas, influenciam no intemperismo químico e físico da rocha. A disponibilidade de água e a sua circulação acabam influindo na dissolução das partículas, proporcionado um intemperismo químico cada vez mais visível (TEIXEIRA, 2001).

Os fatores bióticos também interferem no intemperismo através da matéria orgânica decomposta no solo e da produção de ácidos como os segregados por liquens e musgos. Estas combinações em diferentes intensidades promovem a gênese das formas encontradas na RPPN e podem ser encontradas em macro e micro escalas demonstrando a evolução da paisagem durante o tempo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES

As diversas feições e controles das paisagens encontradas possuem um grande potencial para o desenvolvimento de um roteiro geológico dentro da reserva, pois suas macro (escarpas, cânions, cachoeiras, fraturas) e micro-feições (caneluras, calçadas poligonais, alvéolos, relevo ruiniforme e outras) possuem um

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grande destaque, ora pelo controle exercido sobre a vegetação ora pela formas bizarras.

Como a RPPN Itaytyba já dispõe de trilhas elaboradas, essas podem ser utilizadas para disseminar o conhecimento geológico através do guia que, além de conduzir o visitante, poderá auxiliar na interpretação da natureza, fazendo com que o conhecimento aconteça com a realidade, utilizando-se de todos os sentidos na exploração da natureza.

Assim, as diferenças granulométricas de uma rocha podem ser, além de visualizadas, tateadas, até mesmo as pessoas com deficiência poderão fazer o roteiro desde que acompanhadas pelo guia, pois os mesmos fatores envolvidos na formação das macro-estruturas são os formadores das micro.

As placas painéis e folhetos também ajudarão o visitante na compreensão local e global já que se pode dispor de informações mais precisas com desenhos, figuras e croquis sobre ambientes de formação numa escala temporal, para se ter noção do tempo de surgimento das feições e das litologias em contrapartida com a existência da vida. Essas placas painéis e folhetos deverão conter informações didáticas como fotos e desenhos com as próprias formas encontradas na RPPN, salientando as pistas que levarão os pesquisadores às interpretações científicas.

Assim sendo, o visitante poderá ele mesmo procurar estas pistas e ampliar seus conhecimentos promovendo a educação ambiental. O passeio deixará de ser uma caminhada e passará a ser um estudo de interpretação da natureza, onde se perceberá a inter-relação de diversos fatores na construção da paisagem, procurando salientar a importância geossistêmica onde qualquer ação provoca modificações.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSINE, M. L. Aspectos da estratigrafia das seqüências pré-carboníferas da Bacia do Paraná no Brasil. Tese (Doutoramento

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em Geologia Sedimentar)–Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1996.

ASSINE, M. L. Fósseis, icnofósseis, paleocorrentes e sistemas deposicionais da Formação Furnas no flanco sudeste da Bacia do Paraná. Revista Brasileira de Geociências, São Paulo, v. 29 n. 3, p. 357-370, 1999.

GUIMARÃES, G. B. A história geológica dos Campos Gerais e arredores anterior ao siluriano/devoniano. In: DITZEL, C.H.M. e LÖWEN-SAHR, C. L. Espaço e Cultura: Ponta Grossa e os Campos Gerais. Ponta Grossa: UEPG, 2001, p. 429-442.

LINDBERG, K; HAWKINS, D. E. Ecoturismo: um guia para planejamento e gestão. 2. ed. SENAC: São Paulo, 1995, 289 p. MAACK, R. Notas preliminares sobre clima, solos e vegetação do Estado do Paraná. Arquivos de Biologia e Tecnologia, Curitiba, v. 2, p. 102-200, 1948.

_____ . Geografia física do Estado do Paraná. 3. ed. Curitiba: Imprensa Oficial, 2002, 440 p.

MELO, M. S. de (Coord). Caracterização do patrimônio natural dos Campos Gerais do Paraná. Ponta Grossa: UEPG, 2000. 17 p. Originalmente apresentado como anteprojeto à Fundação Araucária. _____. Caracterização do patrimônio natural dos Campos Gerais do Paraná. Ponta Grossa: UEPG, 2003. 168 p. Originalmente apresentado como projeto à Fundação Araucária.. ROTEIRO metodológico para gestão de área de proteção ambiental. Brasília, DF: APA: IBAMA, 2001. 240 p.

SHÄFFER, W. B; PROCHNOW, M. A Mata Atlântica e você. Brasília: IPSIS, 2002. 156 p.

TEIXEIRA W. et al. Decifrando a Terra. São Paulo: Oficina de Textos, 2001. 568 p.

TERRA espetacular. Ohio, EUA: Reader’s Digest Brasil, 1997.

WRAY, R. A. L. A global review of solutional weathering forms on quartz sandstone. Earth-Science Reviews, Amsterdam, 1997, n. 42, p. 137-160.

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Referências

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