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COMPORTAMENTO DE AUTORREGULAÇÃO E SINTOMAS VOCAIS

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Academic year: 2021

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COMPORTAMENTO DE AUTORREGULAÇÃO E SINTOMAS VOCAIS

Autores: ANNA ALICE FIGUEIREDO DE ALMEIDA, MARA BEHLAU, Palavras-chave: Comportamento, Voz, Questionários

INTRODUÇÃO

A voz é fenômeno multidimensional que sofre influência de aspectos anatomofisiológicos, emocionais, comportamentais, orgânicos e ambientais. Assim, a avaliação vocal precisa mapear todos esses aspectos e correlacioná-los, possibilitando uma visão global, a identificação dos fatores etiológicos, a definição da intensidade do desvio vocal e o impacto da disfonia na vida do indivíduo(1,2).

O comportamento vocal é fundamental na gênese e/ou manutenção da maioria dos distúrbios de voz, principalmente nas disfonias comportamentais que apresentam comportamentos abusivos e ajustes inadequados(3). O sintoma vocal é a forma que a disfonia se manifesta, uma queixa em que o indivíduo relata o que sente de diversos modos, abordando sensações relacionadas à produção de voz, como rouquidão, dor de pescoço ou de garganta após o uso prolongado da voz. Geralmente a presença de sintomas vocais pode ser indicativo de uma alteração vocal. Existem instrumentos atualmente com alta especificidade e sensibilidade para uma acurácia entre a avaliação do clínico e autoavaliação do paciente(4), como por exemplo a Escala de Sintomas Vocais(5,6).

O comportamento humano é um tema bastante estudado pela Neurociência. Muito se deve aos dados alarmantes da sociedade moderna, onde aproximadamente 40% da mortalidade nos Estados Unidos estão relacionadas a fatores sociais e comportamentais, como dieta alimentar, estilo de vida e consumo de cigarro. A literatura relata que o cessar desses comportamentos está vinculado aos fatores de autocontrole(7) e de autorregulação(8,9).

A autorregulação é um processo em que o indivíduo assume um papel ativo para gerir-se a fim de alcançar os seus objetivos. É um fenômeno complexo que envolve o comportamento (ativação, monitorização, inibição, preservação e adaptação), emoções e estratégias cognitivas para alcançar objetivos desejados(10,11).

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A literatura coloca que a teoria da autorregulação pode ser articulada em três fases: 1ª. Automonitorização que envolve a capacidade de observar ou tornar-se ciente do seu comportamento de mudança; 2a. autoavaliação, que é comparar esse comportamento a um padrão interno ou externo e notar quaisquer discrepâncias; e a 3ª. auto-reforço, que se relaciona a percepção da discrepância para desencadear esforços para mudar o comportamento. Vira assim um ciclo de realimentação articulado. De forma prática, a autorregulação exige ideais ou objetivos para a mudança de

comportamento (normas), autoavaliação dos padrões (acompanhamento), e possibilidade/escape para retornar às normas (operar)(12).

A autorregulação é considerada fundamental para entender a cognição e o comportamento relacionado a questões abusivas como o consumo de cigarro, substâncias, álcool, obesidade, prática de exercício físico e comportamentos sexuais (7-9).

Como mencionado, a maior parte dos distúrbios de voz estão relacionados ao comportamento. A terapia de voz é uma das modalidades de tratamento para a disfonia, sobretudo para as disfonias comportamentais, com efetividade comprovada cientificamente(3,13). Tradicionalmente tende a envolver uma abordagem comportamental e depende do envolvimento ativo do paciente(14). Para tanto, exige esforço e atenção dos pacientes, a fim de colocar em prática os novos comportamentos aprendidos de forma consciente. Conhecer os fatores de autorregulação do paciente com disfonia ou sintomas vocais durante a avaliação pode ser importante para beneficiar o planejamento da terapia, direcionamentos práticos no cotidiano do paciente, além de generalização e manutenção de ganhos nas tarefas/técnicas da terapia de voz(15).

OBJETIVOS

Assim, o objetivo deste estudo foi verificar se pessoas com sintomas vocais têm um comportamento de autorregulação diferente da sem sintomas vocais, bem como avaliar a existência de relação entre os sintomas vocais e autorregulação.

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MÉTODOS

Este é um estudo multicêntrico, desenvolvido por duas instituições de ensino superior (IES), transversal e quantitativo.

Tal pesquisa pertence a um projeto maior e tem o respaldo ético, desenvolvida de acordo com os preceitos da resolução 466/12 da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa de duas IES (pareceres nº 811.219/14 e nº 906.676/14).

Participaram 298 pessoas da população em geral, de ambos os sexos, sendo 79,5% (n=237) do sexo feminino, a maioria (36,9%; n=110) na faixa etária de 31-40 anos, sem uso profissional da voz (72,1%; n=215); com (45,0%; n=134) e sem (55,0%; n=164) sintomas vocais, de diversas regiões do Brasil. A amostra foi de conveniência, captada a partir de divulgação em lista de contatos e redes sociais das pesquisadoras. Os voluntários não foram informados dos objetivos da pesquisa e, caso não concordassem, poderiam interromper sua participação. Ao aceitarem participar, responderam dois instrumentos: o Questionário Reduzido de Auto-Regulação (QRAR) e a Escala de Sintomas Vocais (ESV), por meio de um site “Survey Monkey”.

O Questionário Reduzido de Auto-Regulação (QRAR) é uma versão traduzida e adaptada linguística e culturalmente para o português brasileiro do Short SelfRegulation

Questionnaire (SSRQ)(16). É um instrumento com 31 itens, com a finalidade de obter um

índice total da capacidade de autorregulação individual, ou seja, da capacidade de planejar, orientar e monitorar o comportamento de forma flexível frente a circunstâncias de mudança. Cada item tem uma gradação que varia de 1 a 5 (1= “discordo totalmente”, 2=“discordo”, 3=“incerto(a)”, 4=”concordo” e 5=“concordo totalmente”). O protocolo oferece ume score total e de dois domínios: estabelecimento de objetivos e controle de impulsos.

A ESV é uma escala validada para o português brasileiro(5,6), com o objetivo avaliar a autopercepção de sintomas vocais e seu impacto. Possui 30 itens e 4 escores: limitação, emocional, físico e total. A pontuação varia de 0 a 120 pontos e quanto maior o escore, mais relação com um problema de voz(5,6). Estudo recente traz os valores de corte deste instrumento, onde indivíduos com disfonia apresentam escores totais superiores a 16 pontos(4).

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Os resultados foram estudados por análise estatística descritiva e inferencial. A primeira para a descrição das variáveis a partir de frequência absoluta e percentual, média e desvio-padrão. Utilizou-se os testes estatísticos paramétricos: Teste t de Student para amostras independentes, para comparar as médias de escores da ESV e do QRAR a partir de dois grupos: com e sem sintomas vocais, além do teste de Correlação de Pearson, a fim de observar a correlação existente ente os escores da ESV e do QRAR.

RESULTADOS

A Tabela 1 apresenta a caracterização da amostra a partir da divisão de dois grupos: com e sem sintomas vocais. Os grupos são homogêneos quanto ao sexo, com predomínio do feminino; faixa etária predominante entre 18 e 40 anos; a maioria não faz uso profissional da voz e houve um predomínio de participantes da região Sudeste do Brasil.

A Tabela 2 mostra a comparação entre as médias da ESV e do QRAR, com significância na comparação de todos os domínios da ESV e do QRAR. Todos os escores do ESV foram maiores no grupo com sintoma vocal e todos acima do valor de corte. Já o grupo sem sintoma vocal obteve médias abaixo do valor de corte em todos os domínios.

Em relação ao QRAR, nossos valores foram semelhantes aos estudos que avaliaram a autorregulação de pessoas com comportamentos aditivos. Jovens que consumiam tabaco e álcool apresentaram média de 46,4 e 47,6 no domínio controle de impulsos, respectivamente; e médias 55,7 e 55,5 no estabelecimento de objetivos(8). Em relação ao escore total, no estudo de validação, as pessoas possuíram uma média de 116,6 pontos(16).

A Tabela 3 revela que houve correlação negativa significante entre todos os escores do QRAR com todos da ESV, indicando uma forte relação entre o comportamento de autorregulação e a existência de sintomas vocais. Quanto maior o número de sintomas vocais, menor o controle de impulsos e estabelecimento de objetivos. É compreensível perceber a existência de relação entre a impulsividade, falta

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de controle e dificuldade em estabelecer objetivos sobre comportamentos específicos, neste caso, comportamentos vocais abusivos e deletérios.

Faz-se importante criar um programa de tratamento que estabeleça metas e controle a impulsividade cotidiana, estabelecendo modelos que distingue a autorregulação a curto e longo prazo. A curto prazo deve-se trabalhar estratégias de repetição, repressão de um comportamento inadequado ou emoção. Já a longo prazo, deve-se estabelecer o controle de impulsos ou esforço em um período maior, sempre com a integração da monitorização, ativação, adaptação, perseverança e inibição, além dos domínios autorregulatórios, emocional, comportamental, cognitivo e da atenção(17).

CONCLUSÕES

Indivíduos com sintomas vocais têm um comportamento de autorregulação mais reduzido do que os que não têm sintomas vocais. Quanto maior o número de sintomas vocais, menor o controle de impulsos e o estabelecimento de objetivos.

REFERÊNCIAS

1. Dejonckere PH, Bradley P, Clemente P, Cornut G, Crevier-Buchman L, Friedrich G, Van De Heyning P, Remacle M, Woisard V. A basic protocol for funcional assessment of voice pathology, especially for investigating the efficacy of (phonosurgical treatments and evaluating new assessment techniques: Guideline elaborated by the Committee on Phoniatrics of the European Laryngological Society (ELS). Eur Arch Otorhinolaryngol. 2001; 258: 77-82.

2. Ma EPM, Yu EML. Multiparametric evaluation of dysphonic severity. J Voice. 2006;20(3):380-90.

3. Ruotsalainen J, Sellman J, Lic P, Lehto L, Verbeek J. Systematic review of the treatment of functional dysphonia and prevention of voice disorders. Otolaryngol Head Neck Surg, 2008; 138: 557-565.

4. Behlau M, Madazio G, Moreti F, Oliveira G, Santos LMA, Paulinelli BR, Couto Junior EB. Efficiency and Cutoff Values of Self-Assessment Instruments on the Impact of a Voice Problem. J Voice. 2015 [article in press].

(6)

5. Moreti F, Zambon F, Behlau M, Oliveira, G. Equivalência cultural da versão Brasileira da Voice Symptom Scale – VoiSS. J. Soc. Bras. Fonoaudiol. 2011;23(4): 398-400.

6. Moreti F, Zambon F, Oliveira G, Behlau M. Cross-Cultural Adaptation, validation, and cutoff values of the Brazilian Version of the Voice Symptom Scale VoiSS. Journal of Voice. 2014; 28: 458-468.

7. Brook JS, Zhang C, Brook DW, Finch SJ. Voluntary smoking bans at home and in the car and smoking cessation, obesity, and self-control. Psychol Rep. 2014;114(1):20-

31.

8. Castillo JAG, Dias PC. Auto-regulação, resiliência e consumo de substâncias na adolescência: contributos da adaptação do questionário reduzido de auto-regulação.

Psicologia, Saúde & Doenças 2009;10(2):205-16.

9. Castillo JAG, Dias PC, Castelar-Perim P. Autorregulação e Consumo de Substâncias na Adolescência. Psicologia: Reflexão e Crítica 2012;25(2):238-47. 10. Freund A M, Baltes PB. Life-management strategies of selection, optimization, and

compensation: Measurement by self-report and construct validity. Journal of Personality and Social Psychology 2002;82:642-662.

11. Karoly P, Boekaerts M, Maes S. Toward consensus in the Psychology of Selfregulation: How far have we come? How far do we have yet to travel? Applied Psychology: An International Review 2005;54(2),300-11.

12. Neal DJ, Carey KB. A Follow-Up Psychometric Analysis of the Self-Regulation Questionnaire. Psychology of Addictive Behaviors, 2005;19(4):414–22.

13. Speyer R. Effects of Voice Therapy: A Systematic Review. Journal of Voice 2008;22(5):565-80.

14. Law T, Lee KYS, Ho NY, Vlantis, Van Hasselt AC, Tong MCF. The effectiveness of Group Voice Therapy: A Group Climate Perspective. J Voice 2012; 26:e41-e48. 15. Vinney LA, Turkstra LS. The Role of Self-Regulation in Voice Therapy. J Voice. 2013;27(3):390.e1-e11.

(7)

16. Carey KB, Neal DJ, Collins SE. A psychometric analysis of the self-regulation questionnaire. Addict Behav 2004;29(2):253-60.

17. Moilanen KL. The Adolescent Self-Regulatory Inventory: The development and validation of a questionnaire of short-term and long-term self-regulation. Journal of Youth and Adolescence. 207;36(6):835-848.

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Tabela1. Frequência das variáveis sexo, faixa etária, uso profissional da voz e região do país da população com e sem sintoma vocal

Variável População com SV População sem SV

n % n % Sexo Feminino 109 81,3 128 78,0 Masculino 25 18,7 36 22,0 Faixa etária 18-30 anos 49 36,6 59 36,0 31-40 anos 52 38,8 58 35,3 41-50 anos 17 12,7 20 12,2 51-60 anos 13 9,7 19 11,6 61-70 anos 03 2,2 08 4,9

Uso profissional da voz Não 98 73,1 117 71,3 Sim 36 26,9 47 28,7 Região do País Sudeste 68 50,7 86 52,4 Nordeste 55 41,0 57 34,9 Sul 08 6,0 08 4,9 Centro-oeste 02 1,5 07 4,3 Norte 01 0,8 03 1,8

Legenda: SV= sintoma vocal.

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Tabela 2. Comparação das médias da ESV e QRAR dos grupos com e sem disfonia

Variável População com SV População sem SV p-valor Média Desviopadrão Média Desviopadrão

ESV Total 27,5 11,2 9,8 4,4 >0,0000*

ESV Limitação 16,7 7,8 5,6 3,4 >0,0000*

ESV Físico 8,1 3,3 4,0 2,5 >0,0000*

ESV Emocional 2,7 4,0 0,2 0,6 0,008*

QRAR Estabelecimento de objetivos 55,1 5,0 57,3 4,1 >0,0000*

QRAR Controle de impulsos 44,2 5,0 46,3 4,7 0,043

QRAR Total 105,3 8,2 109,5 6,9 0,018**

Legenda: SV= sintoma vocal. ESV= Escala de Sintomas Vocais. QRAR= Questionário Reduzido de Auto-Regulação. Teste t de Student para amostras independentes. *p-valor < 0,05.

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Tabela 3. Correlação entre os escores do QRAR e da ESV dos participantes da pesquisa

QRAR ESV Correlação P-valor

Estabelecimento de objetivos Total -0,271 >0,0000*

Limitação -0,245 >0,0000*

Físico -0,210 >0,0000*

Emocional -0,180 0,002*

Controle de impulsos Total -0,282 >0,0000*

Limitação -0,243 >0,0000* Físico -0,215 >0,0000* Emocional -0,225 >0,0000* Total Total -0,329 >0,0000* Limitação -0,289 >0,0000* Físico -0,250 >0,0000* Emocional -0,247 >0,0000*

Legenda: ESV= Escala de Sintomas Vocais. QRAR= Questionário Reduzido de AutoRegulação. Teste Correlação de Pearson. *p-valor < 0,05.

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