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A PRODUÇÃO DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL DA FURB SOBRE OS PROGRAMAS SÓCIO-EDUCATIVOS

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Academic year: 2021

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A PRODUÇÃO DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL DA FURB SOBRE OS PROGRAMAS SÓCIO-EDUCATIVOS

Maria Salete da Silva1

INTRODUÇÃO: Abordar os Programas Sócio-Educativos supõe resgatar a legislação que instituiu os direitos e que deve orientar a organização de programas. É preciso reconhecer que o Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei 8.069/90, é produto do trabalho de profissionais de diversas áreas e movimentos sociais cujos anseios foram negociados com os parlamentares. Como toda legislação social, o Estatuto é resultado de um esforço coletivo e um pacto para contemplar diferentes interesses e, para seu aperfeiçoamento, torna-se necessário o debate permanente. Mas é preciso implementá-lo, pois é a referência para a proteção à infância no Brasil. Embora suscite polêmicas relacionadas à adoção, ao ato infracional e trabalho adolescente, o Estatuto anuncia os direitos fundamentais, estabelece as responsabilidades dos atores sociais e prevê as punições para quem as não cumprem. Entretanto, não está implementado na íntegra, posto que para grande parte da infância brasileira, os direitos fundamentais constituem abstração. Priorizaremos, aqui, os Programas destinados ao cumprimento das Medidas Sócio-Educativas, desenvolvidos nos municípios, com participação de alunos de Serviço Social.

OBJETIVO: apresentar as avaliações produzidas por alunas de Serviço Social sobre os Programas Sócio-Educativos nos quais realizaram estágio curricular obrigatório. Metodologia: Recorremos aos Trabalhos de Conclusão de Curso – TCCs, cujas temáticas abordaram a infância, produzidos após a segunda metade da década de 1990, supondo que neste período haveria maior compreensão do Estatuto e dos Programas nele previstos. Levantamos o número de TCCs nesta área e identificamos a

1 Assistente Social – CRESS 0851 – 12ª Região - Professora do Departamento de Serviço Social da

Universidade Regional de Blumenau – Rua Antônio da Veiga, 140 – Bairro Victor Konder – Blumenau – SC. Cep: 89012-900. Telefone: (47) 321 0238 – E- mail: servicosocial@furb.br

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especificidade de cada Trabalho, elegendo para análise os que trataram do objeto proposto.

RESULTADOS E CONCLUSÕES: Encontramos, entre 1995 e 2004, 53 TCCs, 10 sobre Programas Sócio-Educativos, assim distribuídos: Programa de Liberdade Assistida (06); Programa de Semiliberdade (02); Programa de Prestação de Serviços à Comunidade (01) e Programas de Liberdade Assistida e Prestação de Serviços à Comunidade (01). Em todos há dados de pesquisas realizadas com adolescentes, familiares e/ou profissionais, nos municípios de Blumenau, Itajaí, Rio do Sul e Jaraguá do Sul, em Santa Catarina. Os Programas citados são executados pelas Prefeituras, e visam possibilitar o cumprimento das Medidas Sócio-Educativas definidas pelo Juiz da Infância e Juventude, conforme artigo 112, incisos III, IV e V da Lei 8.069/90. MOREIRA (2002) constatou que os adolescentes vivenciam situações de desproteção no trabalho e de não acesso à formação integral. Mesmo inseridos em programa social, em face da sua vulnerabilidade, o foco da intervenção com os adolescentes é a cobrança para o cumprimento da Medida e a priorização do trabalho (mesmo que desprotegido), como condição para a socialização e prevenção à criminalidade. A dificuldade para a inclusão e o cumprimento do artigo 3º, que afirma os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana como direitos da infância, sendo asseguradas todas as oportunidades e facilidades para o seu desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, se expressa, num primeiro momento, nos critérios de atendimento das instituições da rede, pois são incompatíveis com a realidade dos adolescentes, excluindo-os muito mais do que incluindo. BRAZ (2000) apontou como principal dificuldade para adesão dos adolescentes, ao Programa de Semiliberdade, a vinculação com a rua. GESSELE (2002) identificou as relações de poder presentes no discurso de educadores sociais e técnicos, expressando a reprodução de práticas discriminatórias e autoritárias, contrárias aos princípios do Estatuto. BRITTO (2004), ao pesquisar os adolescentes inseridos nos Programas Liberdade Assistida e Prestação de Serviços à Comunidade, constatou que a maioria não concebe a medida como educativa, não trazendo contribuição para a sua

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vida. Os adolescentes sentem-se marginalizados e discriminados na escola e reafirmaram o desconhecimento sobre a legislação, fator que consideram decisivo para a prevenção dos atos infracionais. ZAPELLINI (2003) observou, por parte dos adolescentes e dos profissionais pesquisados, a existência de posições que transitam entre a defesa e a garantia de acesso aos direitos e a reivindicação de punição via trabalho forçado e agravamento das medidas, ou seja, maior rigor na punição e rebaixamento da idade penal. Além disso, constatou a reafirmação da centralidade do trabalho como mecanismo socializador e o desconhecimento, por parte dos sujeitos, do Estatuto. Neste período de vigência da Lei, que completou 15 anos em 13 de julho, é possível observar: equívocos em relação à compreensão dos direitos da infância; resistências em acatar a Lei, pois implica em romper com práticas conservadoras tradicionalmente presentes nos programas destinados à população de baixa renda; no que tange ao descumprimento da Lei, as famílias têm sido o alvo central das punições. As instituições e o Estado, de um modo geral, pouco são questionados neste sentido; a existência de um movimento de defesa do trabalho precoce e da redução da idade penal como alternativas para frear a crescente violência, baseado nas premissas de que o Estatuto estimula a impunidade e que o trabalho é o único fator de prevenção à marginalização de adolescentes pobres. Com base nos elementos acima, retomamos um dos principais avanços do Estatuto, ponto de partida para a proteção aos direitos sociais de crianças e adolescentes, e que diz respeito à instituição de um sistema de proteção social através do qual a população tenha acesso aos bens e serviços necessários à reprodução da vida social. Esta entendida como a vida biológica e social, a capacidade de produção e criação econômica, cultural, artística, enfim, a vida social em todas as suas dimensões. Por conseguinte, o sistema de proteção social expressa o nível de maturidade de uma sociedade e os patamares mínimos de dignidade. A proteção à infância começa a se definir a partir do artigo 4º do Estatuto, que estabelece como direitos fundamentais: vida, saúde, alimentação, educação, esporte, lazer, profissionalização, cultura, dignidade, respeito, liberdade, convivência familiar e

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comunitária. Portanto, tratar o ato infracional de forma isolada e implantar Programas Sócio-Educativos tendo como foco tão somente o ato infracional, desconsiderando o conjunto de vulnerabilidades vividas pela maior parte dos adolescentes que são seus usuários, é reproduzir a lógica de responsabilizá-los pela própria situação. É preciso compreender que a “proteção à infância” não é um conjunto de ações voltado para aqueles que freqüentam os conselhos tutelares, o juizado da infância, a delegacia e os programas sócio-educativos, enfim, aqueles que vivem as cidadanias invertidas, semelhantes à situação irregular, distanciando-se da proteção integral. Embora os programas sociais expressem como objetivo o acesso à cidadania, para ser incluído é necessário ser “não cidadão”, predominando ainda a idéia de falência e incapacidade das famílias quanto às suas funções. Em relação aos Programas Sócio-Educativos é preciso compreender que a proteção à família significa proteção aos direitos dos adolescentes e urge mudar concepções e práticas com famílias e adolescentes, abandonar o paradigma destes como sujeitos incapazes, lançar um olhar eivado de crença na sua potencialidade, considerar o ato infracional como construção social e os adolescentes como portadores dos direitos dispostos no Estatuto. Por último, nos perguntamos se a produção do Curso de Serviço Social, resultante dos estágios e pesquisas, está contribuindo para a qualificação dos Programas Sócio-Educativos. Debate que pretendemos empreender na continuidade deste estudo.

Palavras-chave: Direitos sociais; Programas Sócio-Educativos; Proteção à Infância. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL, Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990, dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente, e dá outras providências. Blumenau, CMDCA, Set. 1999.

BRAZ, Leonice de Oliveira. Fatores contributivos para o não cumprimento da Medida Sócio-Educativa de Semiliberdade. [Trabalho de Conclusão de Curso] Curso de Serviço Social, Universidade Regional de Blumenau, 2000, 91p.

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BRITTO, Paula Eleutério de. Famílias e adolescentes inclusos no Programa de Medidas Sócio-Educativas: processo pedagógico ou punitivo? [Trabalho de Conclusão de Curso] Curso de Serviço Social, Universidade Regional de Blumenau, 2004, 89p.

CÂNDIDO, Tânia Vieira. A adolescência na visão das famílias inseridas no Programa de Liberdade Assistida. [Trabalho de Conclusão de Curso] Curso de Serviço Social, Universidade Regional de Blumenau, 2000, 91p.

GESSELE, Cleide. Os surpreendentes rumos da relação de poder no cotidiano do Programa Casa de Semiliberdade. [Trabalho de Conclusão de Curso] Curso de Serviço Social, Universidade Regional de Blumenau, 2002, 100p.

MOREIRA, Francilene Laureano. Adolescentes trabalhadores e autores de atos infracionais: a desapropriação do aceso ao desenvolvimento integral. [Trabalho de Conclusão de Curso] Curso de Serviço Social, Universidade Regional de Blumenau, 2002, 154p.

MORATELLI, Marilene. Desafios ao Programa de Liberdade Assistida Comunitária: adesão dos usuários e a rede de atenção à dependência química. [Trabalho de Conclusão de Curso] Curso de Serviço Social, Universidade Regional de Blumenau, 2002, 75p. NASCIMENTO, Ivanete do. O adolescente autor de ato infracional e a intervenção do Serviço Social. [Trabalho de Conclusão de Curso] Curso de Serviço Social, Universidade Regional de Blumenau, 1997, 72p.

NUNES, Brasilmar Ferreira. Sociedade e infância no Brasil. Brasília, UnB, 2003. 174 p.

SCHNEIDER, Cimara Regina. Os adolescentes egressos do Programa de Liberdade Assistida Comunitária: percepções e perspectivas. [Trabalho de Conclusão de Curso] Curso de Serviço Social, Universidade Regional de Blumenau, 2005, 90p.

VOLPI, Mário. Sem Liberdade, Sem direitos. São Paulo, Cortez, 2001. 152 p.

ZAPELLINI, Michele Tatyana. A adolescência e a prática do ato infracional: confrontando concepções. [Trabalho de Conclusão de Curso] Curso de Serviço Social, Universidade Regional de Blumenau, 2003, 94p.

Referências

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