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XIX SEMEAD Seminários em Administração

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XIX S

EME

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Seminários em Administração

novembro de 2016 ISSN 2177-3866

O PODER SIMBÓLICO E O GERENCIAMENTO DE IMPRESSÕES NA CRISE: o caso da samarco em minas gerais

ROSALIA BEBER DE SOUZA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS (UFLA) DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO rosaliabeber@ufv.br

MOZAR JOSE DE BRITO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS (UFLA) PPGA

mozarbrito@gmail.com ODEMIR VIEIRA BAÊTA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS (UFLA)

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO odemirbaeta@posgrad.ufla.br

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O PODER SIMBÓLICO E O GERENCIAMENTO DE IMPRESSÕES NA CRISE: o caso da samarco em minas gerais

O caso em si

O presente caso pretende relatar um episódio que abarca os temas do poder simbólico e o gerenciamento de impressões da empresa num período de crise. Trata-se do rompimento de uma barragem de contenção de rejeitos produzida pela mineradora Samarco S.A., gerida por uma joint-venture entre a Vale S.A. e a anglo-australiana BHP Billiton. Nesse caso problema, serão relatados como o poder simbólico de uma organização pode ser abalado mediante uma situação de crise e como seus efeitos podem ser minimizados por meio do gerenciamento das impressões. Além disso, deverão ainda ser observados os conflitos gerados com o público externo, incluindo tanto as comunidades diretamente atingidas, quanto as repercussões acarretadas pela imagem da empresa frente aos diversos grupos. Após o grave ocorrido, oriundo de falhas de controle dos rejeitos, gerou-se um grande conflito com todo o público externo da mineradora. Nesse sentido, temos como objetivo principal auxiliar nas discussões sobre os temas poder simbólico e gerenciamento das impressões num momento de crise.

O caso

O caso pode ser utilizado como material didático de apoio para cursos e disciplinas voltados aos conteúdos de administração, dentre outras propostas interdisciplinares. Os temas levantados se referem, especificamente ao poder simbólico e ao gerenciamento das impressões após uma grande crise envolvendo a organização. O estudo em questão, pretende apresentar o caso problema de uma empresa de grande porte a fim de que sejam apresentadas soluções adequadas no que se refere à melhor maneira de uma empresa solucionar seus conflitos junto aos diversos públicos com os quais ela lida. O gerenciamento de uma crise requer dos representantes das organizações um preparo prévio no sentido de se precaver e evitar, a todo custo, possíveis falhas. Se, mesmo com os planos implementados, a empresa tiver algum incidente grande, denominado de crise, deve-se acionar o plano minimizador dos efeitos acarretados por tal episódio. É importante que a organização se antecipe aos possíveis discursos contrários a sua reputação e imagem frente aos públicos interno e externo e se

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prontifique a exercer medidas e ações antes mesmo que sejam exigidas pelos órgãos fiscalizadores.

Objetivos de ensino-aprendizagem

O caso que será apresentado tem como principal objetivo relatar um fato sobre uma crise ocorrida numa mineradora para que sejam discutidos os impactos relativos à sua imagem e manutenção no mercado perante seus diversos públicos a fim de que, a partir de um exemplo problema os discentes possam compreender a necessidade de um gerenciamento de impressões, especialmente nas situações de crise. Nesse sentido, tem-se ainda como objetivo, que os estudantes possam compreender a importância desse tema bem como propor uma melhor alternativa para a resolução do problema apresentado. Desta forma, o material contribui para facilitar a compreensão dos temas estudados uma vez que propicia um exemplo ilustrativo para que se possa discuti-lo durante a graduação.

Estratégias pedagógicas de análise do caso

Propõe-se que o professor apresente previamente a literatura de apoio às temáticas trabalhadas, quais sejam: gerenciamento de crise nas organizações e poder simbólico. As discussões podem ser feitas através de plataformas virtuais oferecidas pelas instituições de ensino onde a graduação está ocorrendo, formando-se grupos de cerca de quatro estudantes onde cada um expresse, por escrito, suas leituras e percepções sobre a literatura disponibilizada pelo docente. Após a discussão sobre os temas, o caso deve ser apresentado aos alunos a fim de que cada grupo faça suas considerações e apontamentos sobre como o episódio deveria ter sido gerenciado pela organização. Mais uma vez, pode-se utilizar da plataforma virtual formando um fórum de debate acerca das propostas sugeridas pelos grupos e, os próprios alunos deverão escolher (e justificar a escolha), as propostas mais viáveis de serem aplicadas. Orienta-se que os alunos busquem outros exemplos de práticas semelhantes à apresentada e comparem-nas ao caso estudado.

Fontes e métodos de coletas

Para a construção desse caso, foram utilizados dados secundários obtidos por meio de análise documental, especificamente, de jornais e notícias dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, além de informações colhidas no site da Mineradora Samarco. Ressalta-se ainda que as informações utilizadas para a construção da narrativa do caso estavam veiculadas na

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plataforma eletrônica, coletadas no período de 9 a 17 de novembro de 2015. Os jornais eletrônicos utilizados foram:

 G1 Minas Gerais  G1 Espírito Santo  BBC Brasil Narrativa do caso

Quando uma organização vivencia um momento de crise, é comum que ela vire foco da atenção de milhões de pessoas e que sua imagem e reputação fiquem expostas e sejam questionadas pela opinião pública. Isso pode conduzir à instabilidade financeira, política e operacional, desorientar a rotina da organização, afetando suas relações com o meio interno e com os parceiros habituais.

Para administrar a crise, a organização ativa uma série de atividades internas, cuja finalidade é desenvolver um plano estratégico para responder imediatamente à crise que coloca em risco sua imagem ou sua própria sobrevivência. Essas atividades estarão voltadas para reduzir ou minimizar os possíveis prejuízos causados. Nesse contexto, a comunicação organizacional é fundamental para o gerenciamento da crise, porque é dela a responsabilidade de tentar recuperar a imagem e confiabilidade abaladas. Cahen (1990, p.13) aborda a Comunicação Organizacional como:

[...] uma atividade sistêmica, de caráter estratégico, ligada aos mais altos escalões da organização e que tem por objetivos: criar – onde ainda não existir e for neutra – manter – onde já existir – ou, ainda, mudar para favorável – onde for negativa – a imagem da organização junto a seus públicos prioritários.

Faz-se necessário tratar a comunicação organizacional como uma das mais eficientes e poderosas ferramentas estratégicas da administração e, no gerenciamento de uma crise, ela deve ser trabalhada por meio de um discurso sério, coerente, transparente e, mais importante, rápido e preciso. Nesse momento, o silêncio é a pior estratégia. O que se espera nessas situações é o total empenho dos dirigentes e a definição de quando a crise será solucionada, de quem está envolvido nesse processo e do que está sendo feito para que a solução aconteça. No entanto, as organizações ainda não se encontram preparadas para enfrentar uma crise, principalmente no que se refere à comunicação. Nesse sentido, Garcia (2004, p. 32) afirma que:

A comunicação organizacional e a administração de crise, por suas amplitudes, devem levar em conta os interesses, problemas e limitações de todas as partes envolvidas, ou seja, as organizações, alvo das crises, a imprensa, que pode ser o

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estopim detonador dessa crise e, por fim, as ferramentas, recursos humanos e técnicos, utilizadas por ambos os lados na defesa de seus interesses.

Assim, considerando o pequeno número de organizações que se preocupa e investe na prevenção de situações de risco, a comunicação vem conquistando aos poucos o seu espaço como peça fundamental para a harmonia, o bom funcionamento da organização e o relacionamento com seu público.

É por meio da comunicação organizacional, ponte entre a organização e o público de interesse, que se alcançam pessoas, estabelecem contatos e solidificam relacionamentos. Dessa maneira, desenvolver estratégias de comunicação organizacional para o gerenciamento da crise é de suma importância para a sobrevivência da organização durante períodos críticos. No entanto, questiona-se: qual a melhor maneira de se utilizar a comunicação organizacional para sair de uma crise? Quais estratégias discursivas usar para alcançar tal objetivo? Como se utilizar dessas estratégias discursivas para se proteger da mídia e, desse modo, resguardar e proteger a imagem e reputação da organização? Será que a postura da mídia em relação à organização depende do discurso organizacional utilizado durante a crise?

É nesse contexto que se insere a Samarco, mineradora que, recentemente, passa por uma crise ocasionada pelo rompimento de uma de suas barragens de rejeito em Mariana, Minas Gerais, no dia 05 de novembro de 2015.

A Samarco Mineração S.A. é uma mineradora brasileira fundada em 1977 e controlada através de uma joint-venture entre a Vale S.A. e a anglo-australiana BHP Billiton, cada uma com 50% das ações da empresa. A área teve a sua concessão transferida da Sociedade Anônima Mineradora Trindade (Samitri) para a Samarco. Segundo dados da própria empresa publicados em seu portal na internet, obteve um lucro de R$ 13,3 bilhões entre 2010 e 2014, sendo o lucro isolado do ano de 2014 de R$ 2,8 bilhões.

A sede está na capital mineira de Belo Horizonte mas possui unidades industriais no interior do estado de Minas nos municípios de Mariana e Ouro Preto. Possui ainda a unidade de Ponta Ubu, no município de Anchieta, no estado do Espírito Santo. Em Minas Gerais, na divisa dos municípios de Mariana e Ouro Preto, localiza-se a unidade de Germano, que abriga a parte de mineração e beneficiamento inicial do minério de ferro. A produção desta unidade é escoada para o Espírito Santo por meio de um mineroduto. No Espírito Santo ficam a parte da pelotização do minério de ferro e o Porto de Ubu, bem como o escritório na cidade de Vitória para as operações de comércio exterior e câmbio. A presidência da Samarco, em 2015, era ocupada por Ricardo Vescovi, posto ocupado anteriormente por José Tadeu de Moraes.

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Ainda no ano de 2015, a mineradora foi considerada a décima maior exportadora do Brasil, com clientes em mais de 20 países. Em 2014 a empresa obteve lucro de R$ 2,8 bilhões, sendo que os lucros acumulados de 2010 a 2014 somam R$ 13,3 bilhões, segundo dados da própria empresa. A Samarco transferiu ao município de Mariana, em 2015, cerca de R$ 37,4 milhões relativos ao tributo da CFEM (Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais), cuja alíquota é de 2% sobre o valor líquido da venda do minério. Desse valor, o município fica com 65% e o restante é dividido entre o governo de Minas Gerais (23%) e a União (12%).

Toda a lucratividade mencionada acima, entretanto, não foi suficiente para que a empresa evitasse o que está sendo considerado o maior desastre ambiental ocorrido no Brasil. Até porque, o desastre abrangeu proporções maiores do que deveria, afetando, em princípio, os estados de Minas Gerais e Espírito Santo; podendo ainda atingir o Rio de Janeiro e a Bahia.

O desastre que se relata aqui ocorreu no dia 05 de novembro de 2015 e, inicialmente, a mineradora havia afirmado que duas barragens haviam se rompido, de Fundão e Santarém. No dia 16 de novembro, contudo, a Samarco confirmou que apenas a barragem de Fundão se rompeu. Essa barragem estava localizada em Bento Rodrigues, distrito de Mariana.

As toneladas de lama que vazaram no rompimento da barragem da empresa Samarco em Mariana (MG) são protagonistas do maior desastre ambiental provocado pela indústria da mineração brasileira, segundo a mídia pesquisada. Cerca de sessenta bilhões de litros de rejeitos de mineração de ferro – o equivalente a 24 mil piscinas olímpicas– foram despejados ao longo de mais de 500 km, atingindo inclusive a bacia do rio Doce, quinta maior do país.

Segundo ecólogos, geofísicos e gestores ambientais, pode-se levar décadas, ou mesmo séculos, para que os prejuízos ambientais sejam revertidos. Alegam que os distritos de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo (primeiros a serem atingidos) devem se transformar em desertos de lama: "Esse resíduo de mineração é infértil porque não tem matéria orgânica. Nada nasce ali. É como plantar na areia da praia de Copacabana", diz Maurício Ehrlich, professor de geotecnia da Coppe-UFRJ (centro de pesquisa em engenharia da Federal do Rio). "Nada se constrói ali também porque é um material mole, que não oferece resistência. Vai virar um deserto de lama, que demorará dezenas de anos para secar", diz o especialista.

Para o médico patologista Paulo Saldiva, um dos grandes especialistas em poluição ambiental do mundo, a ruptura das barragens da mineradora Samarco, em Mariana (MG), ocorrida no dia 5 de novembro, é a maior tragédia ambiental de toda a história do País. Segundo o pesquisador, os rejeitos da Mina de Germano, no município de Mariana (MG),

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formarão um “tapete mortal” no fundo do Rio Doce e seus afluentes. Além disso, podem penetrar o solo e infiltrar no lençol freático, inviabilizando o plantio e o uso da água de poços. O pesquisador também diz que a divulgação do tipo e do teor dos resíduos tóxicos contidos na mistura de rejeitos e lama não poderia ter demorado tanto. “Isso impede a definição de medidas e agrava os riscos para o ambiente e para a saúde das pessoas.” Saldiva, entre outras atividades, dirige o Laboratório de Poluição Atmosférica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, é membro do Comitê de Qualidade do ar da Organização Mundial de Saúde e pesquisador do Departamento de Saúde Ambiental da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Como também é colunista do canal „Saúde!Brasileiros‟, em sua entrevista a esse canal, inclusive, o médico esclarece que essa lama não é „normal‟, mas sim um rejeito de mineração. Por isso, além de ser rica em ferro, há outros elementos. Dependendo do processo de mineração, por exemplo, os rejeitos contêm substâncias que modificam o pH do solo e da água, que pode ser tornar muito básico ou muito ácido (em função do que se usa para extrair o ferro). Isso afeta as espécies, mas a natureza consegue se reequilibrar. O problema é que o tipo e o teor dos resíduos de metais pesados que podem estar nessa lama ainda não é conhecida com precisão. Isso atrasa a adoção de medidas para lidar com o impacto ambiental, que é imenso. Entre as substâncias tóxicas que podem estar associadas ao ferro nos rejeitos podem estar os metais chumbo, arsênico, cádmio e manganês. Para o pesquisador, essa „lama‟ vai „asfaltar‟ o fundo do rio. Isso significa que o Rio Doce e qualquer afluente onde ela se depositar estarão mortos por muito tempo. E, consequentemente, o ecossistema a ele associado. É um desastre de proporções gigantescas.

Mas, além de reduzir muito a fertilidade do solo da região atingida, os elementos tóxicos podem se acumular e percolar para o lençol freático, lá permanecendo.

O distrito da cidade de Mariana, Bento Rodrigues, provavelmente irá se acabar. Será uma área que morreu, assim como pode acontecer com a cidade. Porque, economicamente, é quase impossível remover toda a camada de lama que ficou e fazer os testes necessários para saber se será possível continuar vivendo ali. Por sua extensão e pela magnitude do impacto sobre a economia e os ecossistemas afetados, o acidente em Minas Gerais têm maiores proporções do que o ocorrido pela contaminação por Césio em Goiânia.

Ainda segundo Saldiva, para limpar essa camada de lama, seria necessário retirar fisicamente o solo, o que é impossível. O que pode ser pensado é um projeto de bioremediação. Dependendo da profundidade em que esses resíduos estão, é escolhido um tipo específico de planta. Algumas espécies vegetais, como a mamona, conseguem retirar do

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solo os metais pesados, sugando-os. Evidentemente, essas plantas não podem ser comidas. Isso nunca foi feito sistematicamente aqui no Brasil, mas talvez seja uma chance.

A exposição prolongada aos metais pesados é perigosa porque eles são facilmente absorvidos pelos organismos vivos. Entre os mais usados pela indústria, estão o mercúrio, arsênio, cádmio, manganês e chumbo. De modo geral, seu acúmulo no organismo prejudica as funções neurológicas, o sistema imune e o funcionamento dos pulmões, rins e fígado.

A Samarco foi multada pelo Ibama em R$ 250 milhões pelos danos ambientais causados pelo desastre. No dia 13 de novembro de 2015, a Justiça de Minas Gerais determinou o bloqueio de R$ 300 milhões na conta da Samarco. A decisão liminar decorre de ação civil pública do Ministério Público Estadual, que listou mais de 500 desabrigados pelo rompimento das barragens. O valor deve ser revertido para reparação dos danos às vítimas.

Ainda assim, segundo estimativa de Alessandra Magrini, professora de planejamento energético e ambiental da Coppe-UFRJ e especialista no cálculo de prejuízos em desastres ambientais, os danos causados pelo desastre de Mariana "serão da ordem de bilhões". "É preciso contabilizar a produção sacrificada, ou seja, pesca, criações, plantações e outras atividades econômicas perdidas, mas também os danos aos recursos naturais, à fauna e à flora e às funções ambientais que eles exercem", afirma.

De acordo com a BBC Brasil, o trágico episódio em Mariana (MG) está longe de ser a primeira grande crise a manchar a imagem da anglo-australiana BHP Billiton – a maior mineradora do mundo em valor de mercado em 2014 e uma das sócias da Samarco junto com a Vale–, mas pode se tornar o episódio mais fatal em um empreendimento da empresa até hoje. De acordo com a BHP, o acidente com maior número de mortes em projetos da empresa havia sido em 1979, quando uma explosão de gás na mina de carvão Appin, na Austrália, matou 14 pessoas. Novas explosões de gás em minas de carvão na cidade australiana de Moura mataram 12 pessoas em 1986, e outras 11 em 1994.

A BHP Billiton é dona de 50% da Samarco ao lado da Vale, que detém a outra metade da mineradora. A gigante de commodities, que teve lucro de $ 13,8 bilhões no ano passado, chegou ao Brasil em 1984, quando adquiriu a Utah International Inc. e assumiu a participação que tinha da Samarco com a Vale.

Em meio a questionamentos sobre as causas do acidente e especulação sobre se houve negligência das empresas responsáveis, o presidente-executivo da empresa, Andrew Mackenzie, e o diretor de negócios de minério de ferro, Jimmy Wilson, vieram ao Brasil para avaliar a extensão da tragédia.

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Os executivos visitaram o complexo de barragens e, nesta quarta-feira, falaram com a imprensa pela primeira vez em uma coletiva na sede da Samarco, em Mariana, ao lado do presidente da Vale, Murilo Ferreira.

Mackenzie anunciou a criação de um fundo de emergência com a Vale para capitanear o esforço de reconstrução na região e ajudar as famílias e comunidades afetadas. Ele disse que a empresa está "100% comprometida" a prestar apoio no longo prazo.

“Lamentamos muito o que aconteceu”, afirmou ele, contando que sobrevoou o local e que o cenário é de “partir o coração”.

Além da pressão para esclarecer as causas do acidente, a Samarco – bem como a Vale a BHP – tem sido questionada sobre a falta de um sistema de alarme sonoro para alertar moradores de Bento Rodrigues sobre o mar de lama que se aproximava.

Há críticas também à falta de ação para reduzir o impacto nos dias posteriores, alertando moradores de outras comunidades atingidas – como Barra Longa, a 60 quilômetros de distância, alagada com a lama no meio da noite após o acidente apesar de moradores terem sido assegurados de que ali o leito do rio cheio de lama não iria subir.

Em Londres, apenas duas semanas antes do desastre, a BHP fazia sua reunião geral anual, onde buscava reafirmar seus compromissos com segurança e responsabilidade ambiental diante do atual cenário de mudanças climáticas.

Samarco teve licença em Mariana suspensa, e especialista diz que Vale tenta estratégia de pouca visibilidade

Como aconteceram em outras reuniões anuais, porém, os executivos da empresa foram recebidos na entrada por protestos de grupos de operários que viajaram da Colômbia até a capital inglesa para pressionar contra o avanço de projetos da empresa sobre suas comunidades, ao lado de ativistas que criticavam os impactos negativos da mineração.

Richard Solly, um dos fundadores da London Mining Network (Rede Londrina de Mineração), estava lá ao lado de outros grupos para pressionar a empresa.

Sua organização monitora o impacto de projetos de mineração no mundo todo e se articula com outros grupos para buscar reduzir seus efeitos negativos sobre comunidades e sobre o meio ambiente.

A BHP gosta de se apresentar como a mais responsável e mais limpa do mundo, mas temos muitos exemplos dos danos que sua atividade causa e do despejo extremamente danoso de resíduos no meio ambiente", afirma Solly.

"A empresa tem uma estratégia de comunicação muito boa, e aqui (no Reino Unido) costuma impressionar seus acionistas com suas apresentações. Ela não finge que suas

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atividades não têm impacto negativo e fala de uma maneira mais transparente sobre as coisas que está fazendo para mitigar esses impactos, então isso costuma contribuir para uma imagem positiva. Isso claramente vai ficar mais difícil após o acidente no Brasil", opina.

Após a tragédia, as ações da BHP chegaram a seu nível mais baixo em sete anos na bolsa australiana na segunda-feira. As da Vale fecharam a sexta-feira com queda superior a 7% e caíram mais 5,6% na segunda-feira, e agora já começam a se recuperar.

A Secretaria estadual de Meio Ambiente de Minas Gerais suspendeu a licença da Samarco para exercer qualquer atividade no município de Mariana, afora ações emergenciais de resposta à tragédia.

No Brasil, a BHP detém direitos de exploração de blocos de petróleo na bacia Foz do Amazonas; atua no setor de alumínio, com participação de 14,8% na mineradora de bauxita Mineração Rio do Norte (MRN), no Pará; e, no Maranhão, tem participações no Consórcio de Alumínio do Maranhão (Alumar).

Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o sociólogo Rodrigo Santos coordena o grupo de pesquisa Política, Economia, Mineração, Ambiente e Sociedade, que monitora impactos negativos de projetos de mineração no país. Ele afirma que, no Brasil, a BHP ainda é pouco conhecida porque explora pouco a divulgação de sua imagem.

Santos diz que a Vale tem inquestionável preponderância no Brasil e uma posição de destaque da BHP a deixaria mais suscetível a riscos institucionais e econômicos no país. Assim, diz, sua estratégia tem sido de se apoiar em posições acionárias minoritárias e na "desresponsabilização" operacional. "É possível compreender a tática de parceria com a mineradora brasileira (Vale) como uma estratégia de visibilidade reduzida", diz Santos.

"Isso deve permanecer central nas ações da BHP junto ao Estado e à opinião pública brasileira após o desastre. Mas é provável que mobilizações da sociedade civil e da imprensa questionem quaisquer pretensões da empresa de se eximir de responsabilidade e de manter uma baixa visibilidade no evento."

Santos diz que a imagem da BHP vem sendo questionada "há bastante tempo" em outras partes do mundo por redes de ONGs, movimentos sociais e populações afetadas pela mineração, a exemplo do que ocorre no Brasil com movimentos que defendem comunidades e territórios de áreas de mineração.

Um deles, o Movimento dos Atingidos pela Vale, protagonizou um protesto na sede da empresa, no Centro do Rio de Janeiro, na segunda-feira, dia 16/11. Um grupo de ativistas e artistas com os corpos cobertos de "lama" se postaram na entrada do prédio na avenida Graça

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Aranha para denunciar o que consideram responsabilidade da empresa no rompimento das barragens.

O desastre em Mariana se soma a outros projetos pela qual a BHP está tendo sua atuação contestada. Na Austrália, seu país de origem, há polêmica em torno do centro minerador Olympic Dam, uma jazida com reservas de cobre, ouro, prata e, segundo Santos, o maior depósito mundial de urânio por área de extensão.

O projeto foi assumido pela BHP em 2005, mas tem sido questionado pela produção de rejeitos radioativos e pelo altíssimo consumo de água.

Outras polêmicas incluem as minas de cobre de Escondida, no Chile, onde ONGs denunciam vazamentos de resíduos de cobre, e os planos de implantar um megaprojeto de extração de carvão em florestas na Indonésia, o IndoMet.

Mas o projeto com consequências ambientais e sociais mais graves na história da BHP é o da mina OK Tedi, em Papua Nova Guiné. Em 1999, a empresa admitiu ter liberado, ao longo de mais de uma década, milhões de toneladas de rejeitos da exploração de cobre nas bacias hidrográficas dos rios OK Tedi e Fly. O impacto comprometeu 120 comunidades camponesas e de pescadores artesanais na região, afetando até 50 mil pessoas.

Na época, o presidente-executivo da empresa Paul Anderson admitiu que, diante das conclusões de um estudo feito por uma comissão científica sobre os danos no local, “a mina não é compatível com nossos valores ambientais e a companhia nunca deveria ter se envolvido”.

Em 2002 a companhia se retirou inteiramente do projeto, transferindo sua posição acionária (52% da mina) para um fundo de desenvolvimento do governo, que deveria reverter em benefícios para a população do país.

Porém, segundo pesquisadores, apenas uma pequena porção dos recursos beneficiou as pessoas impactadas pela poluição do rio e pelo desmatamento na área.

À BBC Brasil, a BHP Billiton afirma que sua “prioridade imediata” é o bem-estar dos funcionários da Samarco e das comunidades locais, bem como o de prestar apoio à Samarco em seus esforços de resposta à tragédia.

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Fonte: Júlia Dias Carneiro Da BBC Brasil no Rio de Janeiro. 11/11/2015

Tida por especialistas em impactos ao meio ambiente e do setor minerário como exemplo na gestão ambiental de suas atividades, a Samarco tem um histórico de infrações por descumprimento de normas de segurança em Mariana que somaram, só nos últimos 19 anos, 23 autos da fiscalização no âmbito estadual. Só pelo rompimento da Barragem do Fundão, que vitimou pelo menos 11 pessoas, deixou 12 desaparecidos e mais de 600 desabrigados, foram cinco autos lavrados pela Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam), Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) e Polícia Militar do Meio Ambiente. Em 2005 e em 2007, duas infrações foram referentes a irregularidades em barragens de contenção de rejeitos e de resíduos no Complexo Alegria, da Mina Germano, a mesma onde o dique cedeu, provocando o maior desastre do tipo na história do país. O valor total dessas multas não foi divulgado ainda, mas há pelo menos R$ 26.243,37 a serem pagos, referentes a três irregularidades encontradas, e outras nove multas quitadas pela empresa ao longo dos anos.

Entre os mais graves problemas apontados pela fiscalização, que renderam autos de infração, se destacam irregularidades nas barragens, dois problemas em minerodutos que escoam ferro e água para o litoral capixaba e oito infrações em operações minerárias diversas, que envolvem extração, transporte do material, separação e disposição dos rejeitos, de acordo

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com autos dos fiscais estaduais. Parte das informações foi fornecida pela Semad e o restante consta no Sistema Integrado de Informações Ambientais do Estado de Minas Gerais (Siam).

Há outros impactos negativos ao meio ambiente relatados, como uma intervenção que resultou em danos aos recursos hídricos da região e que provocou R$ 5 mil em multas, no ano de 2011; danos a florestas e vegetação em área de preservação permanente, com multa de R$1.242,37, apreensão de 100 metros cúbicos de eucalipto e suspensão de atividades extrativistas, em 2013; e trabalhos que tornaram a qualidade das águas inferior aos padrões estabelecidos, no ano passado, com multa de R$ 20.001.

Os cinco autos lavrados pela PM, Feam e Semad referentes ao último desastre começaram a ser produzidos dois dias após o rompimento, no dia 7 do mês de novembro de 2015, resultando na suspensão imediata das atividades da Mina do Germano, devido ao “grave e iminente risco para vidas humanas, meio ambiente, recursos hídricos ou para os recursos econômicos”. Outras infrações foram expedidas nos dias 11, 12 e duas no dia 13. Multa para esse processo, por enquanto, só a expedida pelo Ibama e anunciada pela presidente Dilma Rousseff, em Mariana, no dia 12, no valor de R$ 250 milhões.

Para Mário de Lacerda Werneck Neto, presidente da Comissão de Meio Ambiente da Ordem dos Advogados do Brasil Seção Minas Gerais, as multas mostram que ocorreram descumprimentos da legislação e de procedimentos em Mariana, que não chegaram a se destacar, por ser a mineração uma atividade de risco. “É uma atividade de alto risco. Por isso, a empresa deve produzir relatórios constantes e estar sob o crivo das autoridades. Quando há desvios, estes devem ser imediatamente revisados e as multas só ocorrem porque foram detectados descumprimentos das exigências”, afirma.

Mas, ainda assim, a Samarco tinha reputação de empresa séria e comprometida com a sustentabilidade, segundo Werneck. “Era uma das referências entre as mineradoras. Por zelar por tudo, tinha-se a impressão de que buscava sustentabilidade. Mas um dano como esse mostra, no mínimo, negligência no que diz respeito à segurança de pessoas que poderiam ser atingidas”, disse. O presidente da Comissão de Meio Ambiente da OAB/MG salienta ainda que essa quantidade de multas aparece em uma realidade de pouca fiscalização e de punições leves, como mostrou ontem a reportagem do Estado de Minas, ao revelar que a Feam não tem mais que oito fiscais para 735 barragens, sendo que esses podem ser reforçados por 80 fiscais da Semad. “Só o Ibama tem R$ 2 bilhões de infrações para cobrar, dos quais só cobrou R$ 140 milhões. Em um universo desses, os R$ 9 milhões anunciados pela presidente Dilma (para investimento em fiscalização) são irrisórios. O poder público é preguiçoso e ineficiente. Nem quando tem dinheiro a receber trabalha”, critica.

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Para o professor da Escola de Engenharia de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto, Hernani Mota de Lima, doutor em gerenciamento ambiental, as estruturas de fiscalização, engenharia e operação da Samarco são consideradas exemplares. “As barragens foram construídas dentro das técnicas de engenharia internacionalmente adotadas. O ocorrido serviu para que essas técnicas sejam revistas e passem por mais garantias de segurança com utilização de tecnologia mais avançada”, afirma.

A empresa informa que “está, e sempre esteve, em constante diálogo com os órgãos públicos, cumprindo e arcando com suas obrigações”.

Disciplinas sugeridas para o uso do caso

Comunicação Organizacional e Gestão Ambiental

Questões para reflexão

1. Como podemos avaliar a questão do poder simbólico da(s) empresa(s) envolvida(s) antes e após a crise?

2. Considerando a narrativa, você acredita que a empresa possuía um planejamento efetivo para períodos de crise?

3. Qual seria a melhor estratégia da empresa apresentada para diminuir os efeitos negativos à sua imagem no momento de crise? Ao responder a essa pergunta, deve-se levar em conta os vários públicos envolvidos.

Bibliografia sugerida

CLEMENTE, Fabiane Aparecida Santos; JEUNON, Ester Eliane. A Percepção dos Jovens sobre a Imagem Organizacional da Companhia Vale e o Poder Simbólico Manifesto nos Discursos. TPA-Teoria e Prática em Administração, v. 2, n. 1, p. 56-85, 2013.

JATAHI. Paulo José de Castro. O poder simbólico e o gerenciamento de impressões em organizações públicas: a construção do mito da eficácia do Banco Central na administração da política econômica. EBAPE, vol.2 no.3 Rio de Janeiro Dec. 2004.

LESSA, A.K.M.C.; MENDONÇA, J.R.C.; BASTOS, B.E.N. Gerenciamento de Impressões na Comunicação Organizacional: Consolidação de uma Imagem Socialmente Responsável entre os Stakeholders Internos. XXXIII Encontro da ANPAD, 2009.

OLIVEIRA. Paulo Henrique de. Gerenciamento de impressões da responsabilidade social e ambiental: um estudo de caso numa multinacional automotiva no Brasil. Dissertação apresentada ao Programa de Pós – Graduação em Administração da Universidade Federal de Pernambuco. 2014.

Referências

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