Viçosa-MG, 11 e 12 de agosto de 2011
ANÁLISE DOS RISCOS DA ATIVIDADE DE TOMBAMENTO
MANUAL EM TERRENOS ACIDENTADOS
Regiane Valentim Leite1 ; Amaury Paulo de Souza1; Emília Pio da Silva1; Luciano José Minette1; André Luíz Petean Sanches1; Felipe Leitão da Cunha Marzano1
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Universidade Federal de Viçosa - regiane.leite@ufv.br
Resumo: Este trabalho teve como objetivo realizar uma análise dos riscos da atividade de
tombamento manual em terrenos acidentados. A partir do conceito de risco laboral, foram avaliadas criteriosamente as condições do ambiente de trabalho com o intuito de identificar e conhecer os agentes de risco presentes. Foram realizadas observações sistemáticas in loco, do dia típico de trabalho, que possibilitou a classificação dos riscos em termos de probabilidade e severidade, tomando como referência a pior condição possível. Os resultados evidenciaram os seguintes agentes de riscos: físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e mecânicos ou de acidentes, sendo que foram encontrados riscos intoleráveis em relação aos aspectos ergonômicos da atividade, o que revelou a necessidade de introdução de medidas mitigadoras.
Palavras-chave: riscos ocupacionais; tombamento manual; terrenos acidentados.
1. Introdução
A atividade de tombamento manual apresenta riscos ocupacionais que podem comprometer a saúde e segurança do trabalhador florestal.
De acordo com Porto (2000), o conceito de risco refere-se à possibili-dade de perda ou dano, ou sinônimo de perigo; ele abrange toda e qualquer possibilidade de algum elemento ou circunstância presente num determinado processo e ambiente de trabalho, poder causar dano a saúde, acidentes e doenças. Os riscos podem ser de ordem química, física, biológica, mecânica ou ergonômica.
Na atividade de tombamento manual podemos evidenciar a presença de todos os riscos ocupacionais citados acima. Por isso a investigação e o reconhecimento destes riscos tornam-se relevantes para manutenção da integridade física do trabalhador.
O reconhecimento, avaliação e o controle dos fatores de riscos são ferramentas úteis para promover melhorias no ambiente de trabalho, aumentando a satisfação física e mental dos trabalhadores e,
consequente-Viçosa-MG, 11 e 12 de agosto de 2011
mente a produtividade e a qualidade dos serviços prestados (WEBSTER, 2008). Esse diagnóstico é primordial para que se possa proceder às modificações necessárias ao ambiente e aos postos de trabalho, visando o equilíbrio harmônico entre saúde e segurança dos trabalhadores.
Deste modo, este estudo teve como objetivo analisar os riscos da atividade de tombamento manual em terrenos acidentados.
2. Material e Métodos
2.1. Caracterização do local do estudo
Este estudo foi realizado em uma empresa florestal, que atua na região Leste de Minas Gerais, com as seguintes coordenadas geográficas Latitude 18º29’25” a 20º15’52” S e Longitudes 42º07’50” a 43º 35’58” W.
2.2. Descrição da atividade
O trabalhador florestal iniciava o tombamento sempre na parte superior do terreno. Durante todo o deslocamento pelo talhão, para cumprir seu objetivo que era fazer a madeira chegar à margem da estrada, ele poderia dar tombos nas toras, empurrar com as mãos ou pés, e arrastar com a machadinha.
Quando a madeira chegava à margem da estrada, o trabalhador organizava a mesma para o empilhamento com a grua. Em seguida, o mesmo retornava a parte superior do terreno para iniciar um novo tombamento. Durante toda a jornada de trabalho, a cada 45 minutos os trabalhadores realizavam 15 minutos de pausa para descanso.
2.3. Análise dos riscos da atividade 2.3.1. Observações sistemáticas
Foram realizadas observações sistemáticas in loco, do dia típico de trabalho, com o objetivo de avaliar criteriosamente as condições do ambiente de trabalho com o intuito de identificar e conhecer os agentes de risco
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2.3.2. Classificação dos riscos
Após a identificação dos riscos ocupacionais, foi avaliado o potencial de prejuízos ou danos. Tipicamente, esta avaliação do risco supõe três considera-ções:
a) probabilidade de que o risco desencadeie uma situação ou evento perigoso
b) gravidade das possíveis consequências prejudiciais, ou o resultado de um evento perigoso;
c) índice de exposição aos perigos.
A probabilidade de consequências prejudiciais aumenta com a maior exposição a condições inseguras, por isso a exposição deve ser considerada como outra dimensão de probabilidade. Independentemente dos métodos analíticos empregados, deve-se avaliar a probabilidade de causar prejuízos ou danos.
Apoiando-se nestas considerações, pode-se avaliar a probabilidade de que um evento seja frequente (provável que ocorra diversas vezes), ocasional (provável que ocorra algumas vezes), remoto (pouco provável, porém é possível que ocorra), improvável (muito improvável que ocorra) e extrema-mente improvável (quase inconcebível que o evento aconteça).
Uma vez determinada a probabilidade do evento, deve-se avaliar a gravidade das consequências prejudiciais em caso de que o evento ocorra realmente. As consequências possíveis determinam o grau de urgência das medidas de segurança operacional requerida. Deste modo, pode-se avaliar a severidade de um evento como no Quadro 1 abaixo.
O Quadro 2 apresenta uma matriz de avaliação de riscos, sendo um instrumento útil para ordenar a prioridade dos perigos que requerem mais atenção e ação imediata para sua mitigação.
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Quadro 1 – Severidade do evento
Quadro 2 – Matriz de avaliação de risco
A partir da avaliação de riscos, pode-se dar a estes uma ordem de prioridade para a segurança operacional da atividade, de acordo com a aceitabilidade dos riscos. Isto é crítico quando se devem adotar decisões racionais para atribuir recursos limitados levando em conta os perigos que apresentam os riscos maiores para o trabalhador ou equipe diretamente envolvidos (Figura 1).
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* ALARP – As Low As Reasonable Practical – O menor risco praticável. Figura 1 – Aceitabilidade dos riscos.
Quando o risco é definido como aceitável significa que não é necessário adotar medidas mitigadoras, a menos que se possa reduzir mais o risco com pouco custo ou esforço. Quando o risco é considerado tolerável significa que as organizações afetadas estão preparadas para suportar o risco, fazendo com que seja recomendável adotar ações mitigadoras para reduzir o risco. Porém,se o risco for considerado intolerável significa que as operações nas condições atuais devem cessar até que o risco se reduza pelo menos ao nível tolerável. Os riscos têm que ser mantidos no nível mais baixo possível (ALARP).
3. Resultados e Discussão
A partir do conceito de risco ocupacional e das observações sistemáticas
in loco foi possível identificar e conhecer cinco agentes de riscos da atividade
de tombamento manual, sendo eles físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e mecânicos ou de acidentes.
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Amparados nos estudos de Porto (2000) e Webster (2008), pudemos reconhecer os riscos físicos como aqueles gerados por condições físicas características do local de trabalho, que podem causar danos à saúde do trabalhador, como exposição às intempéries (calor, chuva, vento, umidade e descargas elétricas) e radiação não-ionizante (exposição aos raios solares), justamente por essa atividade ser realizada a céu aberto.
De acordo com IIDA (2005), os riscos químicos são aqueles represen-tados pelas substâncias químicas que se encontram nas formas líquida, sólida e gasosa, e quando absorvidos pelo organismo podem produzir reações tóxicas e danos à saúde. Na atividade analisada, o trânsito de veículo próximo às áreas de trabalho gera poeiras incômodas ao trabalhador.
Os riscos biológicos são aqueles causados por organismos como bactérias, fungos, vírus, animais peçonhentos e outros. Esses organismos são capazes de desencadear doenças, injúrias diversas ou mesmo contaminação por peçonhas ou substâncias urticantes (PORTO, 2000). Na atividade de tombamento manual, pode-se enquadrar no grupo de agentes de riscos biológicos a presença de animais peçonhentos (cobras, escorpiões, aranhas), de vetores (mosquitos e insetos) ou plantas urticantes. A presença desses organismos ocorre devido à área apresentar recursos favoráveis ao estabeleci-mento e desenvolviestabeleci-mento dos mesmos.
Já os riscos ergonômicos são aqueles contrários às técnicas de ergonomia, que exigem que os ambientes de trabalho se adaptem ao homem, proporcionando bem estar físico e psicológico. Os riscos ergonômicos estão ligados também a fatores externos (do ambiente) e internos (do plano emocional), em síntese, quando há disfunção entre o indivíduo e seu posto de trabalho (PORTO, 2000).
Na atividade analisada os riscos ergonômicos estão relacionados ao esforço físico devido à necessidade do trabalhador deslocar-se pelo talhão para realizar o tombamento, levantamento e transporte manual de toras e organi-zação das toras. Além disso, o trabalhador adota posturas inadequadas
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durante a execução da atividade. Outro fator agravante é o controle de produtividade/meta que resulta em uma pressão exercida sobre o trabalhador podendo resultar em acidentes. De acordo com Iida (2005), o controle de meta e produtividade quando excessivo torna o trabalhador susceptível as doenças ocupacionais.
Quanto aos riscos mecânicos ou de acidentes, estes ocorrem em função das características do ambiente de trabalho e tecnológicas impróprias, capazes de colocar em perigo a integridade física do trabalhador. Os riscos mecânicos ou de acidentes referem-se ao uso de ferramentas, como a machadinha que pode provocar cortes e ferimentos; às irregularidades do terreno (buracos, tocos e outros) e a presença de folhas e galhos que pode levar a escorregões e tropeços, que resultam na queda do trabalhador. A presença de farpas das toras ou galhos podem provocar arranhões e perfurações no trabalhador. Já as toras mal traçadas podem gerar quedas, devido o esforço realizado para arrastar mais de uma tora.
O Quadro 3 mostra a classificação dos riscos encontrados na atividade de acordo com a probabilidade de ocorrência e severidade.
Quadro 3 – Classificação dos riscos de acordo com a probabilidade de ocorrência e severidade
Riscos da Atividade Probabilidade de
Ocorrência Severidade Classificação
Físicos
Exposição as intempéries 5 D Tolerável
Exposição a radiação
não-ionizante 4 D Tolerável
Químicos Poeiras 4 D Tolerável
Biológicos
Animais peçonhentos 4 C/D Tolerável
Vetores 3 C/D Tolerável
Plantas urticantes 3 D Tolerável
Ergonô-micos
Esforço físico 5 C Não Tolerável
Levantamento e transporte
manual de toras 5 C Não Tolerável
Posturas inadequadas 4 C Não Tolerável
Controle de produtividade e meta 4 E Tolerável
Mecânicos ou de Acidentes
Uso de ferramentas 5 D Tolerável
Irregularidades do terreno 5 D Tolerável
Presença de folhas e galhos no
terreno 5 D Tolerável
Farpas das toras ou galhos 4 D Tolerável
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4. Conclusões
Este estudo evidenciou a presença de riscos laborais na atividade de
tombamento manual. Estes riscos foram classificados como toleráveis em relação aos aspectos químicos, físicos, biológicos e mecânicos.
Contudo, no que diz respeito aos aspectos ergonômicos foram identificados riscos de nível não-tolerável que ameaçam a saúde e segurança do trabalhador florestal. Esse quadro revela a necessidade de introduzir ações mitigadoras, fazendo com que o risco se reduza pelo menos ao nível tolerável, a fim de diminuir a gravidade das possíveis consequências.
5. Referências Bibliográficas
IIDA, I. Ergonomia: projeto e produção. 2. ed. São Paulo: Edgar Bluncher, 2005. 614 p.
PORTO, Marcelo Firpo de Souza. Análise de riscos nos locais de trabalho: conhecer para transformar. Cadernos de Saúde do Trabalhador. São Paulo: Inst, 2000.
WEBSTER, Marcelo Fontanella. Programa de prevenção de riscos ambientais – PPRA: propostas para elaboração e execução. In.:____; VIEIRA, S. I. (Ed.). Manual de saúde e segurança do trabalho. 2. ed., São Paulo: Ltda., 2008. p. 445 a 459.
Agradecimento
Os autores agradecem o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvi-mento Científico e Tecnológico (CNPq), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), por conceder recursos financeiros destinados a aquisição de equipamentos que viabilizaram a execução de projetos, permitindo a elaboração deste trabalho.