ESPECIAL
DIÁLOGOS
DA
INTERNACIONALIZAÇÃO
A
marca
como
factor
de
sucesso
na economia
global
Elevar
a
marca
de
uma empresa
à
categoria
de
activo
intangível
é o
desafio
do
momento.
Há
regras
para
isso.
António Freitas de Sousa antonio.sousa@economico.pt
Não éabsolutamente necessária nem tão pouco definitivamente
suficiente,
mas está provadoque o racional de um negócio é
tanto
maisperceptível
pelomercado a que se dirige quanto mais consistente for a imagem
da marca que tiver sido criada para o consubstanciar. É esta
-se -se quiser
cair
na tentaçãosempre redutora do sumário
-
aconclusão da conferência
'Mar-ca e Propriedade Intelectual
-Desafios à Internacionalização
das Empresas
Portuguesas',
realizada
na passadaquinta-feira
na Escola de Gestão do Porto (EGP), uma parceria entrea AICEP e o Diário Económico no âmbito da iniciativa
'Diálo-gos da Internacionalização'.
E se aconclusão éverdadeira para o mercado interno, muito
mais importante se torna
quan-do a internacionalização deixa
de seruma alternativa para
pas-sar a ser
-
como éo caso doac-tual contexto português
-
aúni-ca via desimpedida para o cres-cimento económico.
Mas se
ficou
claro
que amarca é
fundamental
para
asustentabilidade ou até para a
própria viabilidade da
interna-cionalização de um
determina-do negócio, a
partir
daí tudo secomplica. Luís Cárdia, acadé-mico da 'casa' (EGP) lançou a
dúvida: "o que éque vale mais:
internacionalizar
uma marca nacional oucriar
uma marca internacional?"Como criar uma marca
A resposta épara ser dada caso a
caso
-
mesmo que tenha ficado claro durante a conferência queamarca 'Portugal' é bastas
ve-zes muito mais um empecilho
que uma mais
-valia
-
mas Luís Cárdia apresentou uma fórmulaque pode desbloquear osucesso
empresarial.
Para aquele
académico,
amarca tem de responder a três pilares fundamentais: sinal,
ob-jecto e interpretantes. O sinal, que assegura um primeiro
im-pacto, tem aver com onome, o
logotipo, eventualmente com um slogan, uma mascote e até mesmo com um 'jingle' (como
são, por exemplo, as canções do Pingo Doce, recordou). Mas é o
objecto que solidifica a marca: missão, benefício, processos, produção, preço, distribuição e
comunicação fazem parte deste
item. Que vai, por outro lado, moldar ointerpretante: otarget
a que determinado produto se
dirige eoposicionamento e
no-toriedade que são alcançados.
Mas háum trabalho que tem de ser feito amontante de tudo
isto: o registo da marca e, se for
caso disso, a protecção de
pa-tentes. Isso mesmo recordou
Teimo Vilela, administrador do
Instituto Nacional da
Proprie-dade
Industrial
(INPI),
paraquem oprocesso administrativo assegurado pela estrutura que dirige éuma garantia não
negli-genciável para qualquer
empre-sário que queira arriscar a
Há vários tipos de protecção de marcas ede registo de
paten-tes
-
conforme se destinem aomercado
interno,
ao universoda União Europeia ou ao globo terrestre
-
todos eles razoavel-mente complexos e potencial-mente caros. Mas Teimo Vilela recordou que está nestemo-mento em debate a criação de normativos comuns aos 27
paí-ses da União, que permitirão re-duzir custos administrativos em mais de 60%
-
aproximando -osdos preços 'de saldo' praticados nos Estados Unidos daAmérica.
Tudo isto
-
práticas admi-nistrativas, teoria ecapacidadede atransferir para aeconomia real
-
équepermitirá
acriação desse"activo
intangível',
como lhe chamou Angelo Cos-ta (da McCann Erickson) que é
marca. Eque, em casos tão
ób-vios com a Coca-Cola e a
Dis-neylândia,
fazem
com que amarca seja, por si, muito mais valiosa que a própria empresa. Angelo Costa adiantou
núme-ros: em 1975, estes activos
in-tangíveis
valiam
17 dovalor
das empresas;
actualmente,
passaram avaler 81%.
O que prova bem
-
eessa era uma das intenções daconferên-cia
-
o quanto uma marca bem posicionada no mercado a quese dirige pode estabelecer a
di-ferença entre a
internacionali-zação de sucesso e a drenagem de mercadorias para olado de lá
das fronteiras.
¦
PONTOS DE VISTA
Teimo Vilela,
administrador do INPI
A protecção de marcas ede
patentes nacionais éuma opção
que deve fazer parte de qualquer
gestão estratégica responsável, disse Teimo Vilela.
Angelo Costa,
COO da McCann Erickson
Aaposta nos produtos nacionais
easua transformação em marca internacional éo caminho certo.
Angelo Costa não esqueceu as
potencialidades do pastel de nata.
Luís Cárdia,
professor da Esc. Gestão Porto
Amarca é uma espécie de bilhete
de identidade de um produto.
Mas a base do negócio tem
de ser sólida eo produto inquestionavelmente bom, recordou.
Ligação
entre
AICEP
e
embaixadas
é
fundamental
Rede informal da Escola deGestão
do Porto chega a
40
países.A colaboração entre arede de
em-baixadas portuguesas espalhadas
pelo mundo e aAgência para o
In-vestimento eoComércio Externo de Portugal (AICEP) constitui uma poderosa alavanca, por um lado, aoaumento das exportações
e, por outro, à
internacionaliza-ção da economia e das empresas portuguesas. O ex-embaixador
João Salgueiro, convidado a
in-tervir no ciclo 'Diálogos da
Inter-nacionalização', não tem quais-quer dúvidas sobre ajusteza da decisão e sobre aspotencialidades que ela encerra.
Aliás, recordou, a agora
cha-mada "diplomacia económica" está inscrita naquilo que éo
có-digo genético da função de
em-baixador: "informação,
repre-sentação, negociação,
promo-ção eprotecção", sendo
preci-samente o indicador
'promo-ção' achamar a si acapacidade depromover aeconomia no
cx-João Salgueiro, embaixador
"Melhor unidade de acção" éo que pretendem o Ministério dos Negócios Estrangeiros e aAICEP.
Manuei Brandão,
administrador da Aicep
Aadministrador da agência
lançou o debate, dando apalavra
às empresas.
terior do território nacional. "O interesse pelos negócios
esteve sempre presente" aolongo da sua passagem pelo Ministério
dos Negócios Estrangeiros como embaixador de carreira, recordou
João Salgueiro, para quem essa
função tem uma
importância
crescente num mundo em que a
concorrência éum dado
adquiri-do: "oênfase dado agora [à diplo-macia económica] émuito
positi-vo". Nesse âmbito, não quis
dei-xar de referir, "acesso e
contac-tos" são as duas ferramentas es-senciais para um embaixador
cumprir cabalmente esse novo desígnio diplomático.
Mas, para além do
forneci-mento desta acessibilidade e da
sua rede de contactos locais, as
embaixadas têmum vasto papel a
montante dos negócios: "rigor da informação", "conhecimento es-pecífico" de cada geografia e de
cada região eflexibilidade no que
diz respeito às necessidades da economia, são, para João
deve colocar àdisposição dos
em-presários portugueses que apos-tam na internacionalização.
Mas as redes pessoais
conti-nuam aser igualmente um
pode-roso instrumento de obtenção de
contactos privilegiados para o es-tabelecimento de parcerias que podem abrir caminhos
importan-tes no mundo dos negócios. Isso
mesmo foi afirmado por Jorge
Fa-rinha, vice -presidente da EGP,
que recordou aexistência, na pró-pria escola de negócios, de uma rede de antigos alunos
-
composta porresidentes em cerca de40paí-sesumpouco por todo oplaneta. Mas não só: onúmero de
alu-nos estrangeiros inscritos nos numerosos MBA's da escola de gestão
-
que, em alguns casos,chega aos 60%
-
e de docentesprovenientes de universidades
estrangeiras, constituem, segun-do Jorge Farinha, um poderoso "instrumento para o desenvolvi-mento deprojectos de internacio-nalização" de empresas,
empre-sários egestores portugueses.
¦
O
MOMENTO
Um exemplo
do
que
é capaz
adiferenciação
de produtos
por via
da
marca vem do sector
pecuário
dos
EUA.
Angelo Costa,
da
McCann, recordou
como,
Frank
Perdue,
CEO
da
Perdue
Frams,
conseguiu
colocar
o
mercado
apedir
"perdue"
em vez
de galinha.
0
segredo
é
amarca
(o seu
conceito
e
asua
envolvência
com
o
mercado alvo), porque
as
galinhas
são iguais
às
outras.
OO
INPI vai assinar um acordo de Patent ProssecutionHighway com o Japão em Abril.
Um pedido de patente no Japão deixará de demorar 27 meses e
passará para um mês e meio.
O
Portugal regista, por ano,57 patentes por milhão de
habitantes. NaAlemanha, esse
número chega aos 928. Mas nas
marcas éao contrário: 1916 registos, contra 834.
O
Segundo dados avançados pela McCann Erickson,a marca Coca-Cola vale 72%
da empresa. No caso da Disney
este valor éainda maior,
chegando aos 82%.
PONTOS-CHAVE
A Unicer tem tradicionalmente
uma posição importante no
mercado angolano das cervejas,
Mas, em determinada altura, as
vendas de Super Bock
começaram acair e aempresa teve que lidar com o assunto.
João Esteves, director de
marketing do grupo, explicou que vários 'focus group' organizados em Angola permitiram inferir que
otipo de publicidade mantido
para aquele mercado era desadequado. A Unicer alterou o
foco para as garrafas mini de
abertura fácil, em detrimento das
garrafas tradicionais. E introduziu
o slogan 'Saca fácil' -misturando
o conceito de abertura fácil com o
que, no mercado interno, teria
como sinónimo qualquer coisa próxima de 'engate'. A alteração,
conta João Esteves, foi radical:
omercado respondeu com um
crescimento da ordem dos 100%
em apenas um ano. Aquele
responsável chamou ainda a
atenção para acapacidade sistémica das redes sociais:
o entrosamento entre o mercado
angolano e a disseminação de mensagens positivas no Facebock sobre o 'saca fácil1
foi outra ocorrência muito positiva para a
Unicer. Neste momento, ogrupo está presente em 50mercados
fora das fronteiras portuguesas
e mais de 30% do volume de negócios da empresa éjáoriundo
do exterior.
Como
a
Unicer 'sacou'
o
mercado
de Angola
"Queremos ser os melhores".
Foi este o posicionamento que
amarca de bijutaria Parfois, segundo o seu director-geral, Sérgio Marques, perseguiu desde
o início. Neste quadro, o conceito de marca que quiseram
desenvolver abrangeu não apenas
o 'design' próprio que aParfois escolheu, mas também o aspecto das lojas, asua localização, otipo de serviço prestado aos clientes
etodos os pormenores, até aos mais ínfimos, que enformam o
negócio. Num sector altamente concorrente, aaposta da Parfois mostrou-se ganhadora: amarca assume uma elevada notoriedade
no mercado interno e
-
salvo umou outro casos pontuais -assegura um assinalável sucesso
na internacionalização. Mais de
260 lojas instaladas em 34países
diferentes -com o recurso a
franchisados, para além do
Marca Parfois
registada
em
51
países
investimento directo - mostram
cabalmente ajusteza das decisões estratégicas daquela marca nacional. A Parfois tem
como sistema "registar a marca
nos mercados em que quer
investir dois atrês anos antes
de avançar", tendo actualmente
registo próprio em 51 países. Mas também sucedem problemas inesperados: tanto no Brasil
-situação entretanto já resolvida -como na China, alguém decidiuregistar a marca antes dea
Oexemplo dado por Eduardo
Carqueja, accionista fundador da
NDrive, na conferência serve para
demonstrar que todas as regras
têm asua excepção: "Quisemos ser uma marca global, mas vimos que isso foi um erro monumental",
disse. Aempresa
-
especializada no fabrico de software de serviços de navegação para as mais diversas plataformas-
teve de desistir da criação de uma marca própria global, passando avenderos seus produtos para outras marcas que ascenderam aesse
patamar. Dez anos depois da sua
criação, a NDrive está, segundo Eduardo Carqueja, no lugar certo: assegura uma facturação acima
dos 10milhões de euros
-
tendo nomercado doméstico uma posição apenas residual -eestá bem colocado em mercados como oda
Coreia do Sul, onde, na sua área, tudo acontece. Aimagem de
Ndrive
também
quis
ser marca global
Portugal no mundo parece ter sido
oprincipal problema aultrapassar. Conta Eduardo Carqueja: se a
NDrive estiver aconcorrer com uma empresa alemã, pode ter
melhor preço, melhor produto, mais flexibilidade ou tudo isso em conjunto, que odecisor do negócio acabará sempre por dizer: "muito bem, mas os outros são alemães". Mesmo assim, osucesso da internacionalização da empresa -estratégia que se mantém desde
2006 -éum factor que já não merece contestação.