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CARNAP, Rudolf Pseudoproblemas na Filosofia. Lisboa: Cotovia, 2002, 89 p. Tradução de Antônio Zilhão.

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Lisboa: Cotovia, 2002, 89 p. Tradução de Antônio Zilhão.

Quase todas as pessoas com algum preparo filosófico ouviram falar do Círculo de Viena. Sabem que o Wiener Kreis surgiu na primeira década do século XX, decorrência dos diálogos mantidos por Otto Neurath (sociólogo), Hans Hahn (matemático) e Philipp Frank (físico). Algumas concordarão comigo, asseverando que o Círculo foi o mais importante ou, no mínimo, um dos mais importantes núcleos de pensadores reunidos em um só local, num dado momento, em toda a história intelectual do mundo.

O Círculo floresceu quando Moritz Schlick ocupou a cátedra que fora de Ernst Mach e, ao lado de Frank, Hahn, Neurath, chamou para a Universidade de Viena muitos mestres de renome -- Rudolf Carnap, Herbert Feigl, Kurt Gödel, Karl Menger, Friedrich Waismann e, mais tarde, Hans Reichenbach, e seus colegas de Berlim, como Carl Gustav Hempel e Kurt Grelling.

Os integrantes do Círculo defendiam idéias que vieram a ser reunidas sob o título de “positivismo (ou empirismo) lógico” -- corrente filosófica de grande influência no pensamento do século XX. Os membros do Círculo inspiravam-se no grande êxito que, no final do século XIX e no início do século XX, haviam alcançado a matemática e a lógica (Bertrand Russell e

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Gottlob Frege); a física (Albert Einstein); e, em quase similar medida, a filosofia da linguagem (Ludwig Wittgenstein) e, com tal “base”, visavam criar uma filosofia científica, despida das conhecidas e intermináveis controvérsias metafísicas. Com o avanço do nazismo, a maioria dos elementos do Kreis deixou a Europa. Muitos se fixaram nos EUA e, atuando em algumas grandes universidades, influenciariam grandemente a filosofia norte-americana.

Até a metade do século XX, o positivismo lógico foi a escola predominante em filosofia da ciência, especialmente entre pensadores que dominavam o idioma inglês, inclusive os radicados no Canadá, na Escandinávia, na Itália, na Polônia, e mesmo em alguns países latino-americanos. A influência do grupo vienense persiste, ainda, em termos de maneira de “fazer filosofia”, enfatizando a análise do pensamento científico e as conquistas nos campos da lógica e da teoria das probabilidades.

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Rudolf Carnap (1891-1970) foi o porta-voz do positivismo lógico. Deve-se a ele uma espécie de “unificação”, em um “todo coerente”, das múltiplas concepções vigentes no Círculo.

Carnap nasceu em Ronsdorf, Alemanha, em 18 de Maio de 1891. Entre 1910 e 1914, estudou em Jena. Aluno de Bruno Bauch, estudou Kant. Em três ocasiões (1910, 1913, 1914), acompanhou cursos de Gottlob Frege. (Vale ressaltar que o curso de 1913

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teve apenas três alunos.) Carnap foi para o front, onde ficou até 1917. Nesse ano, passou a residir em Berlim. Em 1921, Carnap obteve o título de “Doutor”. Sua tese, Der Raum, sobre a noção de espaço, com fortes traços kantianos, foi elaborada sob a orientação de mestre Bauch.

Em 1925, conheceu Schlick e seus ilustres colegas. Acabou ingressando (1926) no Wiener Kreis. Em 1929, com Hahn e Neurath, escreveu o “Manifesto” do positivismo lógico, Wissenschaftliche Weltauffassung der Wiener Kreis (Wien: A. Wolf, 1929).

No ano anterior, Carnap escreveu dois livros, Der Logische Aufbau der Welt (Leipzig: Felix Meiner Verlag, 1928) e Scheinprobleme in der Philosophie (Berlin: Weltkreis Verlag, 1928). Em versão para o inglês, ambos foram reunidos em um livro que a University of Califórnia Press distribuiu em 1967. O primeiro deles contém versão formal do empirismo e revela o rigor com que Carnap tratava seus temas. O segundo é, justamente, a obra a que ora aludimos e que o público de fala portuguesa -- graças ao ótimo trabalho do professor Antônio Zilhão, da Academia Portuguesa de Filosofia – pode agora consultar.

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Numa primeira parte, p. 9-48, Pseudoproblemas analisa “a tarefa da teoria do conhecimento”; numa segunda parte, p.49-89, fala do “saneamento de pseudoproblemas na teoria do

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conhecimento”. Em “a tarefa”, examina o sentido da análise teórica e cognitiva, assim como a maneira de aplicar tal análise à questão de conhecer psiquismo alheio. No “saneamento”, volta-se para o critério de significado e para a realidade – do mundo exterior e da psique alheia.

Convém lembrar que o livro foi escrito sob forte influência de Ludwig Wittgenstein. Em seu período vienense, Carnap dizia que várias teses tradicionais da metafísica eram “inúteis”, despidas de conteúdo cognitivo. Eram pseudo-sentenças que nada asseveravam, embora parecessem afirmar algo – porque tinham a forma gramatical das sentenças declarativas. Adotando idéias de Wittgenstein, Carnap sustentou que (algumas) teses metafísicas não tinham significado. Essa idéia provocou muitas controvérsias, razão pela qual, mais tarde, receberia versão “moderada”. Distinguindo alguns elementos na significação, afirmou, nessa versão moderada, com mais precisão, que as teses metafísicas não tinham significado cognitivo (ou teorético), podendo, entretanto, possuir outros significados, como, digamos, o emotivo ou o prescritivo – de fortes efeitos psicológicos.

Não custa registrar que Carnap, na obra paralela, do mesmo ano de 1928, “construindo (lógicamente) o mundo”, partia de relações (não definidas) entre experiências. Admitia que o ser humano, com base em tais experiências, chegava aos domínios sensoriais (o campo visual, as posições

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nesse campo visual, as cores e suas similaridades, a ordem temporal, e assim por diante). Em seguida, “construía” coisas, no espaço tridimensional da percepção, colocando “o próprio corpo” e o corpo de outras pessoas como uma dessas coisas. Daí, o ser humano construía “a mente”. Enfim, mentes seriam “atribuíveis” a outras pessoas, tendo em conta o comportamento que exibissem.

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Completando os informes, vale a pena lembrar que Carnap lecionou em Praga (1931-34), deixou a Europa em 1935, e, ajudado por Charles Morris e Willard van Orman Quine, transferiu-se para os EUA. Fixou-se primeiramente na University of Chicago (1936-52), ficou de 1952 a 54 no Institute for Advanced Study (Princeton), e passou o resto de sua vida (1954-1970) no campus de Los Angeles da University of Califórnia. Os últimos anos de trabalho do notável pensador foram dedicados à lógica indutiva – que ele pretendia acomodar em alicerces mais sólidos. Inúmeras obras têm sido escritas a propósito do célebre discípulo de Frege. Uma das mais consultadas, possivelmente, é The Philosophy of Rudolf Carnap organizada por Paul Arthur Schilpp (La Salle, Illinois: Open Court Pub. Co, 1963, 1088 páginas). Contém uma “autobiografia intelectual” de 84 densas páginas; 27 comentários de seus mais distinguidos admiradores e críticos (em 776 páginas); as “Réplicas” do filósofo (p.839-1013); uma bibliografia

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ampla (54 páginas) e 18 páginas com índice de nomes e assuntos.

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