FORMAÇÃO CONTINUADA EM LÍNGUA PORTUGUESA
ROTEIRO DE ATIVIDADES
9º ANO
4º BIMESTRE
AUTORIA
IVETE FREITAS SILVA
Rio de Janeiro 2012
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TEXTO GERADOR I
O Texto Gerador I pertence ao gênero textual que será trabalhado ao longo do 4º Bimestre, o romance. Trata-se de um fragmento do livro “O Cortiço” de Aluísio de Azevedo. Essa obra descreve os moradores de um cortiço, construído pelo ambicioso João Romão, português que, após trabalhar muito, viver de forma miserável, roubar e trapacear sempre que possível, conseguiu juntar dinheiro para comprar uma pedreira. Interessado em ganhar mais, construiu uma estalagem com casinhas e tinas de lavar roupa para serem alugadas aos trabalhadores.
O CORTIÇO
“Estalagem de São Romão. Alugam-se casinhas e tinas para lavadeiras”.
As casinhas eram alugadas por mês e as tinas por dia; tudo pago adiantado. O preço de cada tina, metendo a água, quinhentos réis; sabão à parte. As moradoras do cortiço tinham preferência e não pagavam nada para lavar .(...)
E aquilo se foi constituindo numa grande lavanderia, agitada e barulhenta, com as suas cercas de varas, as suas hortaliças verdejantes e os seus jardinzinhos de três e quatro palmos, que apareciam como manchas alegres por entre a negrura das limosas tinas transbordantes e o revérbero das claras barracas de algodão cru, armadas sobre os lustrosos bancos de lavar.E os gotejantes jiraus, cobertos de roupa molhada, cintilavam ao sol, que nem lagos de metal branco.
E naquela terra encharcada e fumegante, naquela umidade quente e lodosa, começou a minhocar, a esfervilhar, a crescer, um mundo, uma coisa viva, uma geração, que parecia brotar espontânea, ali mesmo, daquele lameiro, e multiplicar-se como larvas no esterco.
(...)
A primeira que se opôs a lavar foi a Leandra, por alcunha a “Machona”, portuguesa feroz, berradora, pulsos cabeludos e grossos, anca de animal do campo. Tinha duas filhas, uma casada e separada do marido, Ana das Dores, a quem só chamavam a “das Dores” e outra donzela ainda , a Neném, e mais um filho, O Agostinho, menino levado dos diabos, que
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gritava tanto ou melhor que a mãe.A das Dores morava em sua casinha à parte, mas toda a família habitava no cortiço.
Ninguém ali sabia ao certo se a Machona era viúva ou desquitada; os filhos não se pareciam uns com os outros. A das Dores, sim, afirmavam que fora casada e que largara o marido para meter-se com um homem do comércio; e que este, retirando-se para a terra e não querendo soltá-la ao desamparo, deixara o sócio em seu lugar.Teria vinte e cinco anos.
(...)
Ao lado de Leandra foi colocar-se à sua tina a Augusta Carne-Mole, brasileira, branca, mulher de Alexandre, um mulato de quarenta anos, soldado de polícia, pernóstico, de grande bigode preto, queixo semprte escanhoado adiantado. O preço de cada tina, metendo a água, quinhentos réis;sabão à parte.As moradoras do cortiço tinham preferência e não pagavam nada para lavar
Há anos raiou no céu fluminense uma nova estrela.
Desde o momento de sua ascensão ninguém lhe disputou o cetro; foi proclamada a rainha dos salões.
Tornou-se a deusa dos bailes; a musa dos poetas e o ídolo dos noivos em disponibilidade.
Era rica e formosa.
Duas opulências, que se realçam como a flor em vaso de alabastro; dois esplendores que se refletem , como o raio de sol no prisma do diamante.
Quem não se recorda da Aurélia Camargo, que atravessou o firmamento da corte como brilhante meteoro, e apagou-se de repente no meio do deslumbramento que produzira o seu fulgor?
Tinha ela dezoito anos quando apareceu a primeira vez na sociedade. Não a conheciam; e logo buscaram todos com avidez informações acerca da grande novidade do dia.
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[...]
Aurélia era órfã; e tinha em sua companhia uma velha parenta , viúva, D. Firmina Mascarenhas, que sempre a acompanhava na sociedade.
Mas essa parenta não passava de mãe de encomenda , para condescender com os escrúpulos da sociedade brasileira , que naquele tempo não tinha admitido ainda certa emancipação feminina.
Guardando com a viúva as deferências devidas à idade, a moça não declinava um instante do firme propósito de governar sua casa e dirigir suas ações como entendesse.
ALABASTRO-Rocha pouco dura e muito branca, translúcida , finamente granulada.
TEXTO GERADOR II
No Texto Gerador II, o narrador descreve o fascínio da personagem Jerônimo, um jovem e honesto trabalhador português, ao se deparar com a encantadora e sensual Rita Baiana. (O Cortiço)
E viu a Rita Baiana, que fora trocar o vestido por uma saia, surgir de ombros e braços nus, para dançar .A lua destoldara-se nesse momento, envolvendo-a na sua coma de prata, a cujo refulgir os meneios da mestiça melhor se acentuavam, cheios de graça irresistível, simples , primitiva, feita toda de pecado, toda de paraíso, com muito de serpente e muito de mulher.
Ela saltou em meio da roda, com os braços na cintura, rebolando as ilhargas e bamboleando a cabeça , ora para a esquerda, ora para a direita [...] Depois , como se voltasse à vida, soltava um gemido prolongado, estalando os dedos no ar e vergando as pernas , descendo e subindo , sem nunca parar com os quadris, e em seguida sapateava, miúdo e cerrado freneticamente, erguendo e abaixando os braços, que dobrava, ora um, ora outro, sobre a nuca, enquanto a carne lhe fervia toda, fibra por fibra titilando.
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...Aqueles requebros que não podiam ser sem o cheiro que a mulata soltava de si e sem aquela voz doce, quebrada, harmoniosa, arrogante , meiga e suplicante.
E Jerônimo via e escutava , sentindo ir-se-lhe toda as alma pelos olhos enamorados. Naquela mulata estava o grande mistério, a síntese das impressões que ele recebeu chegando aqui: ela era a luz ardente do meio-dia; ela era o calor vermelho das sestas da fazenda; era o aroma quente dos trevos e das baunilhas, que o atordoara nas matas brasileiras [...] ;ela era a cobra verde e traiçoeira, a lagarta viscosa, a muriçoca doida, que esvoaçava havia muito tempo em torno do corpo dele, assanhando-lhe os desejos [...]
[...]
Passaram-se horas , e ele também não deu pelas horas que fugiram. [...]
Só deu por si, quando, já de madrugada, se calaram de todos instrumentos e cada um dos folgadores se recolheu à casa.
E viu Rita levada para o quarto pelo seu homem, que a arrastava pela cintura.
VOCABULÁRIO
Chão: despretensioso, sincero.
Dar tu: chamar por tu, referir-se a alguém por meio do pronome tu. Em Portugal, só
se chamam de tu as pessoas mais íntimas.
Envergar: trajar, vestir. Fustigar: açoitar.
Indolência: preguiça, inércia. Pernóstico: afetado, pretensioso.
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Proverbial: famoso, sempre citado como modelo de alguma coisa. Teso: áspero, ríspido.
Cortiço: habitação coletiva das classes pobres. Revérbero: luz, ou efeito de luz refletida, reflexo.
Jirau: estrado de varas sobre forquilhas cravadas no chão. Fumegante: que fumega (lança fumaça).
Esfervilhar: Remexer-se muito, revolver-se com rapidez, fervilhar. Destoldar: clarificar, tornar-se límpido.
Coma: luminosidade.
Ilhargas: partes inferiores do ventre.
ATIVIDADES DE LEITURA QUESTÃO 1
No Texto Gerador II, o narrador utiliza uma visão panorâmica para descrever uma dança, onde a narrativa reduz as personagens humanas a sua condição animal. Você poderia encontrar um exemplo dessa animalização, ou seja dizer, com que o narrador nos mostra essa característica?
Habilidade trabalhada
Utilizar pistas do texto para fazer antecipações e inferências a respeito do conteúdo.
Resposta comentada
Espera-se que o aluno, perceba através do Texto Gerador II, que o narrador nos mostra através da dança de Rita comparações com esquemas corporais próprios de animais, assim
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como os gemidos que emite.
A resposta seria: Na dança de Rita Baiana, com seus trejeitos e gemidos e o olhar de Jerônimo pelos dotes sensuais dela, que como um animal, remete a possuí-la fisicamente.
ATIVIDADES DE USO DA LÍNGUA QUESTÃO 2
A partir do trecho: “E Jerônimo via e escutava...” (do Texto Gerador II), podemos perceber que trata-se de um período composto. Identifique a conjunção que dá ideia de adição (soma) e classifique o período em composto por coordenação ou subordinação.
Habilidade trabalhada
Diferenciar o processo de coordenação do processo de subordinação.
Resposta comentada
Espera-se, que esta questão não seja muito complexa para o aluno, pois ele já viu o descritor trabalhado. Ele deverá achar a conjunção presente, bem como, entender que o período é composto por coordenação, por ser tratar de orações independentes e pela conjunção aditiva.
A resposta é: A conjunção é o E e o período é composto por coordenação.
QUESTÃO 3
Observe o trecho do parágrafo abaixo: “Ao lado da Leandra foi colocar-se à sua tina
a Augusta Carne-Mole, brasileira, branca, mulher de Alexandre, um mulato de quarenta anos, soldado de polícia, pernóstico, de grande bigode preto... (...)”.
A vírgula foi usada nesse trecho com o intuito de: ( ) separar orações;
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( ) separar verbos;
( ) separar palavras que caracterizam o homem e a mulher citados; ( ) para substituir o travessão na composição da oração.
Habilidade trabalhada
Reconhecer a importância dos conectivos e da pontuação no encadeamento das orações.
Resposta comentada
Espera-se que o aluno identifique um dos papéis da vírgula, que é muito importante na hora da escrita, bem como todos os sinais de pontuação. Às vezes, numa atividade de ortografia, em que citamos pequenos trechos para que eles os pontuem, torna-se imperceptível a eles um dos seus papéis, que é separar palavras ou orações.
A resposta é: separar palavras, que caracterizam o homem e a mulher citados.
REFERÊNCIAS
Ser Protagonista (Ricardo Gonçalves Barreto) /Ensino Médio /Editora SM
Português Contexto, Interlocução e Sentido (Maria Luísa M. Abaurre/Maria Bernadete
M.Abaurre/ Marcela Pontara)/Ensino Médio/Editora Moderna
Linguagem em Movimento (Izeti Fragata Torralvo/Carlos Cortez Minchillo)/Ensino