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Por. Eduardo Valladares (Caroline Tostes)

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Por.

Semana 14

Eduardo Valladares

(Caroline Tostes)

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(2)

Semântica

dos pronomes

2

(demonstrati-vos, relativos e

indefinidos)

01. Resumo 02. Exercício de Aula 03. Exercício de Casa 04. Questão Contexto

15

mai

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RESUMO

Definição

São pronomes utilizados para indicar posição de algo (no espaço, no tempo ou no discurso) em rela-ção às pessoas do discurso.

Funções

→ No tempo

Este ano está perfeito. (presente)

Esse ano foi/será perfeito. (passado ou futuro próximo) Aquele ano foi perfeito. (passado remoto)

→ No espaço

Este é meu carro. (próximo de quem fala) Esse é meu carro. (próximo do interlocutor)

Aquele carro é meu. (distante do emissor e do

in-terlocutor)

→ No texto

Referência a termos precedentes

O pronome “esse” e suas variações, assim como o “isso”, podem atuar anaforicamente, retomando algo que já foi dito. O pronome “este” e suas varia-ções e o “isto” atuam cataforicamente, fazendo refe-rência a algo que ainda será mencionado.

Exemplo: A violência é o principal problema do

Rio de Janeiro. Isso deve ser combatido.

Este é principal problema do Rio de Janeiro: a

violência.

Quando queremos fazer alusão a dois termos já cita-dos, utilizamos “aquele” e suas variações para o

pri-meiro termo e “este” e suas variações para o último. Exemplo: João e Roberto trabalham na empresa.

Aquele (João) é gerente, este (Roberto),

secre-tário.

Indefinidos

→ Definição: São os pronomes utilizados para

re-presentar a 3ª pessoa do discurso de maneira inde-terminada ou imprecisa.

Existem pronomes indefinidos que são utilizados na formulação de perguntas. Eles são chamados de in-terrogativos

→ Classificação

✓ Pronome indefinido substantivo: assumem o

lu-gar do ser ou da quantidade aproximada de seres na frase.

São eles: algo, alguém, nada, ninguém, outrem,

quem, tudo.

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2.

EXERCÍCIO DE AULA

1.

✓ Pronome indefinido adjetivo: qualificam um ser

expresso na frase, conferindo-lhe a noção de quan-tidade aproximada.

✓ São eles: cada, certo(s), certa(s).

Exemplo: Certas pessoas têm enxaqueca crônica.

→ Emprego

✓ Ninguém: admite dupla negação, quando estiver

atuando como sujeito. Exemplo: Não foi ninguém.

✓ Algum: Possui valor positivo, se vier anteposto ao

substantivo; posposto, negativo.

Exemplo: Alguma pessoa virá à festa. / Pessoa algu-ma virá à festa.

✓ Qualquer: não devemos utilizá-lo como sinônimo

de “nenhum”.

Exemplo: Ele não tem qualquer chance de conse-guir o emprego. (errado)

Obs.: Pronome indefinido X Adjetivos

Algumas palavras podem ser pronomes indefinidos ou adjetivos.

Exemplo: Certa pessoa passou por aqui. (prono-me indefinido)

A pessoa certa passou por aqui. (adjetivo) Exemplo 2: Toda semana eu estudava. (pronome indefinido)

Toda a semana eu estudava. (adjetivo)

Pronome indefinido X

advér-bio

Tenho bastantes cabelos. (pronome indefinido) Gosto bastante dela. (advérbio de intensidade)

Reflexivo

O que não escrevi, calou-me. O que não fiz, partiu-me. O que não senti, doeu-se. O que não vivi, morreu-se. O que adiei, adeus-se.

Affonso Romano de Sant'Anna Assinale a classificação gramatical correta para os vocábulos 'O' e 'se': "O que adiei, adeus-se" (2o parágrafo)

a) artigo - pronome reflexivo.

b) pronome pessoal oblíquo - pronome apassivador. c) pronome pessoal oblíquo - pronome reflexivo. d) pronome demonstrativo - palavra de realce. e) pronome demonstrativo - pronome apassivador.

Temos todos duas vidas:

A verdadeira, que é a que sonhamos na infância,

E que continuamos sonhando, adultos num substrato de névoa; A falsa, que é a que vivemos em convivência com outros, Que é a prática, a útil,

Aquela em que acabam por nos meter num caixão. Na outra não há caixões, nem mortes,

Há só ilustrações de infância:

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4.

3.

Grandes pátinas de cores para recordar mais tarde. Na outra somos nós,

Na outra vivemos;

Nesta morremos, que é o que viver quer dizer;

Fernando Pessoa, Poesias de Álvaro de Campos O poeta fala em duas vidas, em seu poema.

a) Como aplica a elas o conceito de verdadeiro e falso?

b) Qual a referência do pronome ‘aquela’ e dos pronomes ‘outra’ e ‘esta’, na 2.ª estrofe?

No trecho: “Eu não creio, não posso mais acreditar na bondade ou na virtude de

homem algum; todos são mais ou menos ruins, falsos, e indignos; há porém alguns que sem dúvida com o fim de ser mais nocivos aos outros, e para produzir maior dano, têm o merecimento de dizer a verdade nua e crua, (...)”:

I. algum e alguns são pronomes indefinidos. II. alguns é sujeito do verbo haver.

III. algum equivale a nenhum.

Assinale a alternativa correta sobre as assertivas acima: a) apenas I é verdadeira.

b) apenas II é verdadeira. c) apenas I e II são verdadeiras. d) apenas I e III são verdadeiras. e) I, II e III são verdadeiras.

Leia os sete versos abaixo e responda às questões a eles pertinentes.

Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores? A de serem verdes e copadas e de terem ramos E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar, A nós, que não sabemos dar por elas.

Mas que melhor metafísica que a delas. Que é a de não saber por que vivem Nem que o não sabem?

Alberto Caeiro Nos quatro últimos versos, há várias ocorrências da palavra que. Sobre essa pa-lavra, pode-se dizer:

a) No quinto verso, tem-se um pronome definido e uma conjunção comparativa. b) No sétimo verso, tem-se um pronome relativo.

c) No quarto verso, tem-se um pronome relativo.

d) No sexto verso, tem-se uma conjunção comparativa e um pronome interro-gativo.

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EXERCÍCIO DE CASA

1.

2.

Ver é muito complicado. Isso é estranho porque os olhos, de todos os órgãos dos sentidos, são os de mais fácil compreensão científica.

A sua física é idêntica à física óptica de uma máquina fotográfica: o objeto do lado de fora aparece refletido do lado de dentro. Mas existe algo na visão que não pertence à física. William Blake* sabia disso e afirmou: "A árvore que o sábio vê não é a mesma árvore que o tolo vê". Sei disso por experiên-cia própria. Quando vejo os ipês floridos, sinto-me como Moisés diante da sarça ardente: ali está uma epifania do sagrado. Mas uma mulher que vivia perto da minha casa decretou a morte de um ipê que florescia à frente de sua casa porque ele sujava o chão, dava muito trabalho para a sua vassou-ra. Seus olhos não viam a beleza. Só viam o lixo. Adélia Prado disse: "Deus de vez em quando me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra". Drummond viu uma pedra e não viu uma pedra.

A pedra que ele viu virou poema. 16 | Projeto Medicina – www.projetome-dicina.com.br

Rubem Alves. A complicada arte de ver. Folha de S.Paulo, 26.10.2004 * William Blake (1757-1827) foi poeta romântico, pintor e gravador inglês. Autor dos livros de poemas Song of Innocence e Gates of Paradise.

A respeito do pronome ‘disso’, na primeira linha do segundo parágrafo, pode-se dizer que é um

a) possessivo de segunda pessoa e se refere ao conteúdo do parágrafo anterior. b) demonstrativo combinado com prefixo e se refere aos ipês floridos citados a seguir.

c) demonstrativo masculino de segunda pessoa e se refere ao poeta William Blake.

d) demonstrativo neutro que tem como referência a última frase do parágrafo anterior.

e) possessivo neutro e se refere a Moisés diante da sarça ardente.

O amor e o tempo

Tudo cura o tempo, tudo faz esquecer, tudo gasta, tudo digere, tudo acaba. Atreve-se o tempo a colunas de mármore, quanto mais a corações de cera! São as afeições como as vidas, que não há mais certo sinal de haverem de durar pouco, que terem durado muito. São como as linhas, que partem do centro para a circunferência, que quanto mais continuadas, tanto menos uni-das. Por isso os antigos sabiamente pintaram o amor menino; porque não há amor tão robusto que chegue a ser velho. De todos os instrumentos com que o armou a natureza, o desarma o tempo. Afrouxa-lhe o arco, com que já não ati-ra; embota-lhe as setas, com que já não fere; abre-lhe os olhos, com que vê o que não via; e faz-lhe crescer as asas, com que voa e foge. A razão natural de toda esta diferença é porque o tempo tira a novidade às coisas, descobre-lhe os defeitos, enfastia-lhe o gosto, e basta que sejam usadas para não serem as

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3.

mesmas. Gasta-se o ferro com o uso, quanto mais o amor?! O mesmo amar é causa de não amar e o ter amado muito, de amar menos.

VIEIRA, Antônio. Apud: PROENÇA FILHO, Domício. Português. Rio de Janeiro: Liceu, 1972. V5. p.43 Os pronomes relativos, sublinhados abaixo, estabelecem a coesão textual, reto-mando substantivos anteriormente expressos. Em “Afrouxa-lhe o arco, com que já não atira; embota-lhe as setas, com que já não fere; abre-lhe os olhos, com que vê o que não va”, os pronomes fazem referência aos seguintes substantivos: a)arco, olhos, tempo

b)instrumentos, setas, olhos c)arco, asas, setas

d)tempo, arco, olhos e)arco, setas, olhos

... para quem quer tornar-se orador consumado não é indispensável conhe-cer o que de fato é justo, mas sim o que parece justo para a maioria dos ou-vintes, que são os que decidem; nem precisa saber tampouco o que é bom ou belo, mas apenas o que parece tal ...

Neste trecho da tradução da segunda fala de Fedro, observa-se uma frase com estruturas oracionais recorrentes, e por isso plena de termos repetidos, sendo notável, a este respeito, a retomada do demonstrativo o e do pronome relativo que em o que de fato é justo, o que parece justo, os que decidem, o que é bom ou belo, o que parece tal. Em todos esses contextos, o relativo que exerce a mesma função sintática nas orações de que faz parte. Indique-a.

a) Sujeito.

b) Predicativo do sujeito. c) Adjunto adnominal. d) Objeto direto. e) Objeto indireto.

4.

Colisão entre caminhão e carro deixa 4 mortos em Pernambuco Ana Lima Freitas - Texto adaptado

Uma colisão, na qual um caminhão foi de encontro a um carro, deixou 4 pes-soas mortas e 2 feridas na noite desta terça-feira na cidade de Salgueiro, a 530km do Recife, no sertão de Pernambuco. Entre as vítimas fatais, esta-vam engenheiros responsáveis pela construção da Ferrovia Transnordesti-na. Segundo informações da Polícia Rodoviária Federal, o caminhão com placa do Rio Grande do Norte, o qual a Polícia recolheu ao depósito, colidiu com o carro, um veículo Gol, com placa do Ceará. Dos 4 ocupantes do Gol, 3 morreram. Entre eles estavam engenheiros responsáveis pela construção da Ferrovia Transnordestina. O motorista do caminhão também morreu no local do acidente. Ao Hospital Regional de Salgueiro as vítimas do referido acidente foram levadas.

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Do texto , considere apenas o trecho: "...o caminhão com placa do Rio Grande do Norte, o qual a Polícia recolheu ao depósito, colidiu com o carro". Em relação ao termo "o qual", é correto afirmar que

a) promove a coerência textual apontando o termo que o precede, sendo por-tanto catafórico.

b) é tido como sujeito da frase, uma vez que substitui tal termo. c) pode ser substituído por "cuja" sem comprometer a coesão textual. d) é pronome relativo e pertence à segunda oração do período destacado. e) é pronome relativo, portanto, não poderia referir-se a um substantivo.

5.

Convivas de boa memória

Há dessas reminiscências que não descansam antes que a pena ou a língua as publique. Um antigo dizia arrenegar de conviva que tem boa memória. A vida é cheia de tais convivas, e eu sou acaso um deles, conquanto a prova de ter a memória fraca seja exatamente não me acudir agora o nome de tal antigo; mas era um antigo, e basta.

Não, não, a minha memória não é boa. Ao contrário, é comparável a alguém que tivesse vivido por hospedarias, sem guardar delas nem caras nem no-mes, e somente raras circunstâncias. A quem passe a vida na mesma casa de família, com os seus eternos móveis e costumes, pessoas e afeições, é que se lhe grava tudo pela continuidade e repetição. Como eu invejo os que não esqueceram a cor das primeiras calças que vestiram! Eu não atino com a das que enfiei ontem. Juro só que não eram amarelas porque execro essa cor; mas isso mesmo pode ser olvido e confusão.

E antes seja olvido que confusão; explico-me. Nada se emenda bem nos li-vros confusos, mas tudo se pode meter nos lili-vros omissos. Eu, quando leio algum desta outra casta, não me aflijo nunca. O que faço, em chegando ao fim, é cerrar os olhos e evocar todas as cousas que não achei nele. Quan-tas ideias finas me acodem então! Que de reflexões profundas! Os rios, as montanhas, as igrejas que não vi nas folhas lidas, todos me aparecem agora com as suas águas, as suas árvores, os seus altares, e os generais sacam das espadas que tinham ficado na bainha, e os clarins soltam as notas que dormiam no metal, e tudo marcha com uma alma imprevista.

É que tudo se acha fora de um livro falho, leitor amigo. Assim preencho as lacunas alheias; assim podes também preencher as minhas.

ASSIS, de Machado. Dom Casmurro - Editora Scipione - 1994 - pág 65 A palavra sublinhada em “...mas isso mesmo pode ser olvido e confusão” se re-fere:

a) À precária memória do narrador.

b) Às pessoas que viveram em hospedarias. c) À vida dos convivas.

d) Às pessoas que passam a vida na mesma casa de família. e) Ao narrador não se lembrar da cor das calças.

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6.

A literatura em perigo

A análise das obras feita na escola não deveria mais ter por objetivo ilustrar os conceitos recém-introduzidos por este ou aquele linguista, este ou aquele teórico da literatura, quando, então, os textos são apresentados como uma aplicação da língua e do discurso; sua tarefa deveria ser a de nos fazer ter acesso ao sentido dessas obras — pois postulamos que esse sentido, por sua vez, nos conduz a um conhecimento do humano, o qual importa a to-dos. Como já o disse, essa ideia não é estranha a uma boa parte do próprio mundo do ensino; mas é necessário passar das ideias à ação. Num relatório estabelecido pela Associação dos Professores de Letras, podemos ler: “O estudo de Letras implica o estudo do homem, sua relação consigo mesmo e com o mundo, e sua relação com os outros.” Mais exatamente, o estudo da obra remete a círculos concêntricos cada vez mais amplos: o dos outros es-critos do mesmo autor, o da literatura nacional, o da literatura mundial; mas seu contexto final, o mais importante de todos, nos é efetivamente dado pela própria existência humana. Todas as grandes obras, qualquer que seja sua origem, demandam uma reflexão dessa dimensão.

O que devemos fazer para desdobrar o sentido de uma obra e revelar o pen-samento do artista? Todos os “métodos” são bons, desde que continuem a ser meios, em vez de se tornarem fins em si mesmos. (...)

(...)

(...) Sendo o objeto da literatura a própria condição humana, aquele que a lê e a compreende se tornará não um especialista em análise literária, mas um conhecedor do ser humano. Que melhor introdução à compreensão das paixões e dos comportamentos humanos do que uma imersão na obra dos grandes escritores que se dedicam a essa tarefa há milênios? E, de imediato: que melhor preparação pode haver para todas as profissões baseadas nas relações humanas? Se entendermos assim a literatura e orientarmos dessa maneira o seu ensino, que ajuda mais preciosa poderia encontrar o futuro estudante de direito ou de ciências políticas, o futuro assistente social ou psi-coterapeuta, o historiador ou o sociólogo? Ter como professores Shakespea-re e Sófocles, Dostoievski e Proust não é tirar proveito de um ensino excep-cional? E não se vê que mesmo um futuro médico, para exercer o seu ofício, teria mais a aprender com esses mesmos professores do que com os manu-ais preparatórios para concurso que hoje determinam o seu destino? Assim, os estudos literários encontrariam o seu lugar no coração das humanidades, ao lado da história dos eventos e das ideias, todas essas disciplinas fazendo progredir o pensamento e se alimentando tanto de obras quanto de doutri-nas, tanto de ações políticas quanto de mutações sociais, tanto da vida dos povos quanto da de seus indivíduos.

Se aceitarmos essa finalidade para o ensino literário, o qual não serviria mais unicamente à reprodução dos professores de Letras, podemos facil-mente chegar a um acordo sobre o espírito que o deve conduzir: é necessário incluir as obras no grande diálogo entre os homens, iniciado desde a noite dos tempos e do qual cada um de nós, por mais ínfimo que seja, ainda par-ticipa. “É nessa comunicação inesgotável, vitoriosa do espaço e do tempo, que se afirma o alcance universal da literatura”, escrevia Paul Bénichou. A nós, adultos, nos cabe transmitir às novas gerações essa herança frágil, es-sas palavras que ajudam a viver melhor.

Tzvetan Todorov. A literatura em perigo. 2 ed. Trad. Caio Meira. Rio de Ja-neiro: DIFEL, 2009, p. 89-94

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7.

Considerando que o pronome o, usado na sequência que o deve conduzir, tem valor anafórico, isto é, faz referência a um termo já enunciado no último parágra-fo, identifique esse termo.

a) Ensino literário. b) Professores de Letras. c) Acordo. d) Espírito. e) Grande diálogo. Felicidade Clandestina

Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme, enquanto nós todas ainda éramos acha-tadas. Como se não bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histó-rias gostaria de ter: um pai dono de livraria.

Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo, onde morá-vamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrás escrevia com letra borda-díssima palavras como “data natalícia” e “saudade”. Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com baru-lho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilha-ções a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia. Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer so-bre mim um tortura chinesa. Como casualmente, informou-me que possuía As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato. Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E, completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria. Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança de alegria: eu não vivia, nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam. No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, dis-se-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperan-ça de novo me tomava toda e eu recomeesperan-çava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pu-lando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez. Mas não ficou sim-plesmente nisso. O plano secreto da filha do dono da livraria era tranqüilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tar-de, no decorrer da vida, o drama do “dia seguinte” com ela ia se repetir com meu coração batendo. E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo

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grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às ve-zes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às veve-zes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra. Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ela dizia: pois o li-vro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados. Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silencio-sa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa enten-deu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler! E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a potência de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim: “E você fica com o livro por quanto tempo quiser.” Entendem? Valia mais do que me dar o livro: “pelo tempo que eu quisesse” é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer. Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e as-sim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu co-ração pensativo. Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravi-lhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandesti-na que era a felicidade. A felicidade sempre ia ser clandesticlandesti-na para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada. Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo. Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.

Clarice Lispector Considere o que é dito sobre a partícula “que” empregada várias vezes no texto. I - É morfologicamente igual nas duas ocorrências seguintes: “Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria.” (linhas 30-32). II - Tem função anafórica e catafórica ao mesmo tempo e serve de complemento verbal na frase a seguir: “Mas possuía o que qualquer criança devoradora de his-tórias gostaria de ter: um pai dono de livraria.” (linhas 6-9).

III - É diferente nos dois enunciados que seguem: “Mas que talento tinha para a crueldade.” (linha 11); “o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte.” (linhas 44-46).

Está correto o que se afirma em s) I, II e III.

b) I e II somente. c) II e III somente. d) I e III somente.

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8.

AOS RICOS, O PRIVILÉGIO

Toda nação civilizada ergueu-se da barbárie, tornando-se antes uma socie-dade hierarquizada. Pelas mais diversas razões, alguns indivíduos ascen-deram sobre outros e passaram a usar seu poder para organizar o modo de vida dos demais. Os privilégios surgiram justamente dessa especialização social. As nações mais desenvolvidas criaram salvaguardas legais e redes de amparo social privadas e estatais para amenizar o choque entre as elites e a maioria da população. Entre elas, a mais sagrada é a igualdade dos ci-dadãos perante a lei. A forma como funcionam as prisões especiais, no Bra-sil, fere profundamente esse princípio. É bem verdade que todos os países civilizados possuem esse tipo de prisão; isso é bom e justo. Mas não é bom que seu ocupante lá esteja simplesmente porque tem curso superior. O pobre, no Brasil, não vai para a cadeia. Vai para o inferno. Por um simples roubo, conviverá de forma selvagem e promíscua com assassinos e estupra-dores, chefes de quadrilha, assaltantes. O país deveria ter cadeia limpa e segura para todos os que a justiça mandar prender. Resolvida essa primeira questão, vem a da prisão especial. A única hierarquia aceitável na separa-ção dos presos é aquela ditada pela natureza do delito. Autores de peque-nos furtos ou de crimes produzidos pela emoção, réus primários - esses não devem conviver no mesmo ambiente com quadrilheiros e homicidas profis-sionais. Rico e pobre devem ter direito a uma prisão diferente das que exis-tem para ambos no Brasil atualmente.

Carta ao leitor. Veja: 17/1/2001. Adaptação O pronome demonstrativo esses (esses não devem conviver no mesmo ambiente com quadrilheiros e homicidas profissionais ) tem a função textual de

I. retomar, resumindo, os elementos da enumeração imediatamente anterior II. enfatizar o sentido da enumeração, para reforçar a tese defendida a seguir III. estabelecer uma relação de conclusão entre os elementos das duas enume-rações da frase

É correto o que se afirma a) apenas em I

b) apenas em II c) em I e II d) em II e III e) em III

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QUESTÃO CONTEXTO

Os Pronomes demonstrativos são aqueles que situam pessoas ou coisas em re-lação às três pessoas do discurso. Essa localização pode se dar no tempo, no es-paço ou no próprio texto.

Considerando a tirinha apresentada acima, identifique o pronome demonstrativo e a quem ele se refere no discurso.

01.

Exercício de aula

1. d

2- a) Para o eu-lírico, a vida verdadeira é aque-la que é sonhada, almejada. Já a vida falsa é aqueaque-la que vivemos, experimentamos, a que estamos sujei-tos à morte.

b) “Aquela” e “esta” referem-se à vida falsa e o pronome “outra” refere-se à vida verdadeira. 3. d 4. c

02.

Exercício de casa

1. d 2. e 3. a 4. d 5. e 6. a 7. b 8. c

03.

Questão Contexto

Pronome demonstrativo: aquela Se refere à estrela.

Referências

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