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QUESTÕES CONTROVERTIDAS SOBRE O CUMPRIMENTO DE SENTENÇA POR EXECUÇÃO

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Academic year: 2021

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Leandro J. Silva Advogado da União em Curitiba; Professor de Direito Processual Civil.

RESUMO: O presente trabalho tem por objetivo trazer à discussão algumas questões controvertidas sobre a interpretação das novas regras referentes ao cumprimento de sentença por execução.

PALAVRAS-CHAVE: Cumprimento de Sentença por Execução. Contagem do Prazo. Intimação do Devedor. Cabimento de Honorários.

SUMÁRIO: 1 Introdução; 2 O objetivo da Lei nº 11.232/05; 3 Termo inicial da contagem do prazo de 15 dias;4 Forma de intimação do devedor; 5 Cabimento ou não de honorários advocatícios; 6 Conclusões; 7 Referências.

1 INTRODUÇÃO

O processo civil brasileiro tem sido objeto de uma série de alterações, notadamente com o objetivo de garantir o direito à tutela jurisdicional efetiva, previsto no art. 5º, inc. XXXV da Constituição da República.

Uma das recentes modificações, ocorrida em 22 de dezembro de 2005 pela Lei nº 11.232, acabou com o processo de execução autônomo para a execução de título judicial referente à obrigação de pagamento de quantia em dinheiro, ao acrescentar o artigo 475-J ao CPC, segundo o qual o devedor, condenado ao pagamento de quantia certa ou já fixada em liquidação, deve efetuar o pagamento no prazo de quinze dias, sob pena de incidência de multa no percentual de dez por cento, bem como ser expedido mandado de penhora e avaliação.

Todavia, a lei não estabeleceu a partir de quando terá início o prazo de 15 dias para o pagamento com a isenção da multa de 10% (dez por cento), o que tem gerado interpretações divergentes na doutrina e na jurisprudência.

Outra questão que tem suscitado controvérsia na doutrina e na jurisprudência é quanto ao cabimento ou não de honorários advocatícios no incidente de impugnação ao cumprimento de sentença, cuja compreensão depende de uma interpretação sistemática do ordenamento jurídico processual.

A fim de contribuir com o debate, cumpre analisar as novas regras processuais, sem esquecer os objetivos que levaram o legislador a alterar o arcaico sistema até então vigente.

2 O OBJETIVO DA LEI Nº 11.232/05

O objetivo da Lei nº 11.232/05, conforme consta na sua exposição de motivos, foi adotar uma sistemática mais célere, menos onerosa e mais eficiente às execuções de sentença que condena ao pagamento de quantia certa, procurando romper com a velha sistemática até então vigente, segundo a qual a parte vitoriosa, se o vencido não se dispõe a cumprir a sentença, haverá iniciar o processo de execução, efetuar nova citação, sujeitar-se à contrariedade do executado mediante 'embargos', com sentença e a possibilidade de novos e sucessivos recursos.

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De fato, consoante prossegue a exposição de motivos, é tempo, já agora, de passarmos do pensamento à ação em tema de melhoria dos procedimentos executivos. A execução permanece o 'calcanhar de Aquiles' do processo. Nada mais difícil, com freqüência, do que impor no mundo dos fatos os preceitos abstratamente formulados no mundo do direito. (grifo original)

Assim, as novas regras devem ser vistas sob essa perspectiva, mas sem se esquecer das demais regras previstas no sistema, o qual infelizmente se tornou uma “colcha de retalhos”, na expressão de Cândido Rangel Dinamarco.1

Assim é que devemos analisar as mudanças, especialmente aquela que prevê um prazo para o devedor cumprir a obrigação de pagar quantia certa.

3 TERMO INICIAL DA CONTAGEM DO PRAZO DE 15 DIAS

Assim reza o novel art. 475-J do Código de Processo Civil:

Caso o devedor, condenado ao pagamento de quantia certa ou já fixada em liquidação, não o efetue no prazo de quinze dias, o montante da condenação será acrescido de multa no percentual de dez por cento e, a requerimento do credor e observado o disposto no art. 614, inciso II, desta Lei, expedir-se-á mandado de penhora e avaliação.

É verdade que o legislador, de regra, não é tecnicamente preciso, mas não custava nada a ele ter sido mais claro e fixado expressamente o termo a quo para o início do prazo, o que evitaria uma série de discussões e interpretações divergentes sobre a matéria.

Como o legislador não foi suficientemente claro, cabe ao intérprete a difícil tarefa de fixar o termo inicial do prazo de 15 dias, se possível sem desprezar as demais regras constantes no CPC, desde que compatíveis.

Sobre a matéria, é possível detectar cinco diferentes entendimentos doutrinários, a saber:

a) o início do prazo seria automaticamente a partir do momento em que a sentença/acórdão se tornasse exeqüível, quando então cabível execução provisória2;

b) o início do prazo seria automaticamente a partir do trânsito em julgado da sentença/acórdão3;

c) o início do prazo seria a partir da intimação do advogado da baixa dos autos4; d) o início do prazo seria a partir da intimação do advogado para pagar o valor

da condenação5;

e) o início do prazo seria a partir da intimação pessoal do devedor para pagar o valor da condenação6.

1 O Professor Barbosa Moreira também questiona a estrutura e nova terminologia do CPC após as recentes reformas, sugerindo “passar a limpo” o Código todo, cuja sistemática, se tinha rachaduras de início, agora se acha decididamente reduzida a cacos. BARBOSA

MOREIRA, José Carlos. Observações sobre a estrutura e a terminologia do CPC após as reformas das Leis nºs. 11.232 e 11.382. Revista da Ajuris. Porto Alegre, v. 35, n. 109, p. 185-195, março/2008.

2 CARNEIRO, Athos Gusmão. Cumprimento da sentença civil. Rio de Janeiro: Forense, 2007. p. 53.

3 AMARAL, Guilherme Rizzo. Comentários aos artigos 475-I e 475-J do CPC. In: ALVARO DE OLIVEIRA, Carlos Alberto (Coord.).

A

Nova Execução: comentários à Lei 11.232, de 22 de dezembro de 2005. Rio de Janeiro: Forense, 2006. p. 112.

4 BUENO, Cássio Scarpinella. A Nova etapa da reforma do código de processo civil. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 78. 5

NEVES, Daniel Amorim Assumpção; RAMOS, Glauco Gumerato; FREIRE, Rodrigo da Cunha Lima; MAZZEI, Rodrigo Reis. Reforma

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Como pretendemos fazer uma interpretação sistemática do novel dispositivo7, cumpre desde logo trazer à baila a regra constante no artigo 475-B do CPC, in verbis:

Art. 475-B. Quando a determinação do valor da condenação depender apenas de cálculo aritmético, o credor requererá o cumprimento da sentença, na forma do art. 475-J desta Lei, instruindo o pedido com a memória discriminada e atualizada do cálculo.

Temos, então, duas regras, que devem ser compatibilizadas para o deslinde da controvérsia: a que obriga o devedor a efetuar o pagamento no prazo de 15 dias e a que estabelece ao credor a obrigação de apresentar a memória discriminada e atualizada do cálculo de liquidação.

Conforme ensina Vicente GRECO FILHO, faz-se a:

liquidação por cálculo do credor quando a determinação do valor da condenação depender apenas de cálculo aritmético, caso em que o credor procederá à execução por quantia (arts. 652 e s.), instruindo o pedido com a memória discriminada e atualizada do cálculo.8

Assim, temos que a obrigação de apresentar a memória discriminada e atualizada do cálculo e iniciar a execução é do credor sempre que o valor da condenação depender de cálculo aritmético, o que geralmente ocorre nas obrigações de pagar quantia, pois quase sempre haverá a necessidade de o credor calcular a correção monetária e os juros de mora.

Consoante o magistério de José Maria Rosa TESHEINER, também a hipótese de condenação em quantia certa depende de cálculo, “mesmo porque condenação em quantia certa, no sentido rigoroso da expressão, raramente ocorre. No mínimo, há que se calcular os juros de mora vencidos”.9

De fato, embora o princípio da celeridade pudesse justificar a não intimação do devedor no caso em tela, especialmente porque a lei não o exige expressamente, não é razoável desprezar a regra que impõe ao credor o pontapé inicial para o início da execução quando o valor da condenação depender apenas de cálculo aritmético, em homenagem ao devido processo legal.

José Roberto dos Santos BEDAQUE faz uma correlação bastante pertinente entre efetividade, celeridade e segurança, in verbis:

Processo efetivo é aquele que, observado o equilíbrio entre os valores segurança e celeridade, proporciona às partes o resultado desejado pelo direito material. Pretende-se aprimorar o instrumento estatal destinado a fornecer a tutela jurisdicional. Mas constitui perigosa ilusão pensar que simplesmente conferir-lhe celeridade é suficiente para alcançar a tão almejada efetividade. Não se nega a necessidade de reduzir a demora, mas não se pode fazê-lo em detrimento do mínimo de segurança, valor também essencial ao processo justo.10

Ademais, como a lei não contém palavras inúteis, parece vedada até mesmo a possibilidade de início da execução de ofício, ou seja, sem a provocação do credor, em 6 WAMBIER, Luiz Rodrigues. WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; MEDINA, José Miguel Garcia. Sobre a necessidade de intimação

pessoal do réu para o cumprimento da sentença, no caso do art. 475-J do CPC (Inserido pela Lei 11.232/2005). Disponível em:

<http://www.tex.pro.br>. Acesso em; 07 maio 2008.

7 “Consiste o Processo Sistemático em comparar o dispositivo sujeito a exegese, com outros do mesmo repositório ou de leis diversas, mas

referentes ao mesmo objeto”. MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e aplicação do direito. Rio de Janeiro: Forense, 2001. p. 104.

8 GRECO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2002. v. 3. p. 44.

9 TESHEINER, José Maria Rosa. Execução de sentença. Revista dos Tribunais. São Paulo, v. 850, p. 40-56, ago/2006, p. 43. 10 BEDAQUE. José Roberto dos Santos. Efetividade do processo e técnica processual. São Paulo: Malheiros, 2006. p. 49.

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face do princípio da inércia e da regra constante no § 5o do art. 475-J do CPC, segundo a qual não sendo requerida a execução no prazo de seis meses, o juiz mandará arquivar os autos, sem prejuízo de seu desarquivamento a pedido da parte.

Ora, a fim de emprestar alguma utilidade ao dispositivo, se a lei diz que o credor deve requerer a execução no prazo de seis meses, sob pena de arquivamento dos autos, não me parece que ela possa ser iniciada de ofício, o que ocorreria se o prazo fluísse automaticamente, sem a necessidade de requerimento do credor e intimação do devedor.

Ademais, segundo o artigo 240 do CPC, salvo disposição em contrário, os prazos para as partes, para a Fazenda Pública e para o Ministério Público contar-se-ão da intimação. Como na hipótese não há disposição em contrário, deve-se aplicar referida regra, razão pela qual a intimação se faz necessária.

Outro óbice ao entendimento da desnecessidade de intimação do devedor é o princípio da segurança jurídica, que significa a existência de um ordenamento jurídico estruturado e em perfeito funcionamento, que permita a todos o pleno conhecimento dos direitos e obrigações, bem como garanta a segurança objetiva nas situações pessoais.11

É que o entendimento segundo o qual o prazo de 15 dias começa a fluir automaticamente do trânsito em julgado da sentença causa insegurança jurídica, uma vez que em várias hipóteses não se tem certeza de quando o acórdão transita em julgado.

Com efeito, quando houver a interposição de recurso especial ou extraordinário, não admitidos depois de muito tempo, por intempestividade ou por não cabimento, o prazo de 15 dias seria contado a partir da intimação da decisão que não admitiu os recursos ou do verdadeiro momento do trânsito em julgado da sentença, que seria após o escoamento do prazo do recurso cabível/tempestivo?

Outra hipótese de insegurança jurídica haverá quando existir sucumbência recíproca, onde ambas as partes forem vencedor e vencido. Na hipótese, o devedor que pretendesse cumprir a obrigação teria que esperar o escoamento do prazo para a parte contrária eventualmente interpor recurso, para só então poder cumprir o julgado, oportunidade em que talvez o prazo de 15 dias já tivesse decorrido integralmente12.

Em caso de execução provisória, então, não haveria como o devedor cumprir antecipadamente o julgado, sem a incidência da multa, uma vez que ele não teria como saber se o credor usaria ou não da faculdade de iniciar a fase executiva antes do trânsito em julgado da sentença/acórdão, quando cabível.

Mais um empecilho, desta vez de ordem prática, existe para afastar o entendimento de que não é necessária a intimação do devedor para a fluência do prazo de 15 dias, previsto para o pagamento com isenção da multa.

É que geralmente o processo não termina em primeiro grau de jurisdição, sendo bastante comum a existência de recurso e a necessidade de remessa dos autos para os Tribunais de apelação ou até mesmo para os Tribunais Superiores.

Nessas hipóteses, que são a maioria, o trânsito em julgado ocorre na cidade onde está sediado o Tribunal, que normalmente não é a mesma onde tramitou o processo em primeiro grau de jurisdição, o que exigiria do devedor um acompanhamento constante do processo, a fim de evitar que ele seja remetido ao juízo de origem durante o prazo de 15 dias, previsto para o cumprimento voluntário da obrigação, o que o impediria de consultá-lo e cumprir o julgado no prazo previsto em lei, se contado do trânsito em julgado do acórdão.

11 SILVA, Bruno Boquimpani. O Princípio da segurança jurídica e a coisa julgada inconstitucional. Disponível em:

<http://www.mundojuridico.adv.br> Acesso em: 30 dezembro 2004.

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Assim, ou o devedor teria que pegar o processo depois do trânsito em julgado da sentença, mas antes da remessa ao juízo de origem, ou esperar a chegada dele no juízo de origem, o que poderia acontecer somente depois do prazo de 15 dias, ocasião em que a multa de 10% já teria incidido.

Infelizmente, o Superior Tribunal de Justiça, como Corte de interpretação de lei federal, já teve a oportunidade de dirimir a controvérsia, ocasião em que aparentemente deixou a desejar ao entender pela desnecessidade de intimação do advogado, consoante os termos do acórdão da lavra da Egrégia 3ª Turma.13

Mais feliz foi o Tribunal Regional Federal da 4ª Região, com sede em Porto Alegre, que por mais de uma ocasião analisou a matéria e parece ter captado melhor o espírito da lei em comento14.

O Tribunal de Justiça de São Paulo, em voto proferido pelo ilustre Des. Neves Amorim, enfrentou o tema de forma exaustiva, entendendo também pela necessidade de intimação do patrono do devedor para o início da contagem do prazo de 15 dias15.

4 FORMA DE INTIMAÇÃO DO DEVEDOR

Entendendo pela necessidade de intimação do devedor para a fluência do prazo de 15 dias, resta agora saber como deverá ser feita a intimação, se na pessoa do próprio devedor ou do respectivo advogado.

Aqui não há dificuldade em se entender que a intimação do devedor deve ser feita na pessoa de seu advogado, uma vez que, salvo disposição em contrário, o que não é o caso, as intimações dos atos processuais se darão na pessoa do advogado (CPC, art. 236). Ademais, o § 1o do art. 475-A, bem como o § 1o do art. 475-J, já prevêem tal forma de intimação. Todavia, cumpre deixar claro que também é razoável o entendimento segundo o qual a intimação deve ser feita pessoalmente ao devedor.

Assim, após a apresentação da memória discriminada e atualizada do cálculo pelo credor, o devedor será intimado, por meio de seu patrono, mediante publicação no órgão oficial (CPC, art. 236), para cumprir a obrigação, no prazo de 15 dias, sob pena de incidência da multa de 10%.

13

EMENTA: LEI 11.232/2005. ARTIGO 475-J, CPC. CUMPRIMENTO DA SENTENÇA. MULTA. TERMO INICIAL. INTIMAÇÃO DA PARTE VENCIDA. DESNECESSIDADE.

1. A intimação da sentença que condena ao pagamento de quantia certa consuma-se mediante publicação, pelos meios ordinários, a fim de que tenha início o prazo recursal. Desnecessária a intimação pessoal do devedor.

2. Transitada em julgado a sentença condenatória, não é necessário que a parte vencida, pessoalmente ou por seu advogado, seja intimada para cumpri-la.

3. Cabe ao vencido cumprir espontaneamente a obrigação, em quinze dias, sob pena de ver sua dívida automaticamente acrescida de 10%. (REsp nº 954859/RS, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, DJ de 27.08.07, p. 252)

14 EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. CUMPRIMENTO DA SENTENÇA. ADIMPLEMENTO PELO DEVEDOR EM 15 DIAS.

INCIDÊNCIA DE MULTA. NECESSIDADE DE CÁLCULOS ARITMÉTICOS. TERMO INICIAL DO PRAZO PARA ADIMPLEMENTO.

1. Consoante se verifica do artigo 475-J do CPC, quando a condenação ao pagamento for certa ou já fixada em liquidação, deve haver o adimplemento por parte do devedor, em 15 dias, sob pena de multa no percentual de dez por cento.

2. Contudo, não se pode considerar "10% sobre o valor da causa atualizado" quantia certa, como exige o disposto no artigo 475-J do CPC, uma vez que existe a necessidade de cálculos aritméticos, sendo que, para esta hipótese, não dispensou o legislador o requerimento do credor, com a apresentação de memória atualizada e discriminada de cálculo (art. 475-B). Veja-se que a própria recorrente, quando do pedido de pagamento com a incidência da multa, trouxe aos autos cálculo por ela elaborado, o que demonstra que o valor dos honorários não era certo e necessitava da elaboração de conta.

3. Destarte, correta a decisão monocrática ao determinar a intimação da agravada para, em 15 dias, efetuar o pagamento, alertando para a possibilidade da aplicação da multa, no caso de inadimplemento.

4. Agravo de instrumento improvido. (Agravo de Instrumento nº 200704000135799/SC, 1ª Turma, Rel. Des. Fed. Joel Ilan Paciornik, Diário Eletrônico de 28.08.07). No mesmo sentido: Agravo de Instrumento nº 200704000202508/RS, 3ª Turma, Rel. Juíza Vânia Hack de Almeida, Diário Eletrônico de 08.08.07.

(6)

Para Ada Pellegrini GRINOVER, a lei não prevê intimação da condenação líquida para efeito do depósito do art. 475-J, que isenta o devedor da multa de 10%, cabível no caso de haver impugnação. Mas em homenagem ao princípio da segurança jurídica, é provável que se chegue à conclusão de que a intimação é necessária: na pessoa do patrono, contudo, em observância ao espírito da lei.16

5 CABIMENTO OU NÃO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS

Outra questão bastante discutida em relação à nova lei corresponde ao cabimento ou não de honorários advocatícios em sede de decisão que resolve a impugnação ao cumprimento de sentença.

Segundo o disposto no artigo 475-J, § 1o, do auto de penhora e de avaliação será de imediato intimado o executado, na pessoa de seu advogado (arts. 236 e 237), ou, na falta deste, o seu representante legal, ou pessoalmente, por mandado ou pelo correio, podendo oferecer impugnação, querendo, no prazo de quinze dias.

A nova impugnação nada mais é do que os antigos embargos à execução, contudo sem força automática de paralisar a execução, a fim de dar maior efetividade à prestação jurisdicional.

A questão a resolver é a seguinte: em regra, o ato pelo qual o juiz resolve a impugnação é decisão interlocutória, uma vez que contra ele cabe o recurso de agravo de instrumento, o que afastaria, em princípio, o cabimento de honorários advocatícios, nos termos do art. 20 do CPC:

Art. 20. A sentença condenará o vencido a pagar ao vencedor as despesas que antecipou e os honorários advocatícios. Esta verba honorária será devida, também, nos casos em que o advogado funcionar em causa própria. (sem grifos no original)

De fato, segundo a dicção do art. 20 do CPC, somente na sentença haverá a condenação do vencido ao pagamento das despesas processuais e de honorários advocatícios, o que não ocorrerá nas decisões interlocutórias.

Mas uma interpretação literal das regras em comento não teria o poder de honrar o espírito das reformas verificadas, que notadamente buscam privilegiar os princípios da celeridade e da efetividade da tutela jurisdicional.

Antes da reforma, os embargos tinham o poder de suspender a execução, bem como sujeitavam o vencido ao pagamento de despesas processuais e de honorários advocatícios.

Agora, a fim de desestimular atitudes simplesmente protelatórias, a lei diz que a impugnação não terá efeito suspensivo, o que já é um bom começo para desestimular o uso irresponsável dessa forma de defesa.

Por outro lado, como o não pagamento da dívida no prazo de 15 dias já sujeita o devedor ao pagamento de 10% a título de multa, há quem sustente que a interposição de impugnação, ao final rejeitada pelo juiz, não justificaria a condenação em honorários advocatícios, já que a multa de 10% faria as vezes de verba honorária.

Contudo, não parece que essa seja a melhor interpretação, pois caso contrário a novel lei, em vez de desestimular o ajuizamento de medidas protelatórias, estaria fomentando o uso dessas medidas, até porque a multa é destinada ao credor e não ao advogado.

É que, se antes a apresentação de embargos à execução, desde que rejeitados pelo juízo, sujeitavam o devedor ao pagamento de honorários no percentual de 10 a 20% do

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valor da condenação, nos termos do art. 20, § 4o do CPC, hoje a impugnação – sucessora dos embargos – sujeitaria o devedor simplesmente ao pagamento da multa de 10%, o que seria um contra-senso, notadamente se levarmos em conta o espírito das recentes reformas.

Assim, a melhor interpretação é pelo cabimento de honorários no julgamento das impugnações, na esteira do entendimento do Egrégio Superior Tribunal de Justiça17, bem como do escólio de Dierle José Coelho NUNES18.

6 CONCLUSÕES

Assim, de tudo o que foi exposto, pode-se tirar as seguintes conclusões:

a) o prazo de quinze dias somente começa a correr a partir da intimação do devedor para cumprimento do julgado, após a apresentação da memória discriminada e atualizada do cálculo de liquidação do julgado pelo credor; b) a intimação deve ser feita na pessoa do advogado do devedor, por meio de

publicação na imprensa oficial;

c) é cabível a condenação do devedor ao pagamento de honorários advocatícios quando a sua impugnação ao cumprimento da sentença for rejeitada pelo juízo.

O objetivo das considerações acima foi jogar um pouco de luz sobre as novas regras processuais em vigor, mas sem se esquecer de que a controvérsia do tema exige muita reflexão a respeito, razão pela qual a luz ora jogada pode estar iluminando talvez não o único caminho.

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMARAL, Guilherme Rizzo. Comentários aos artigos 475-I e 475-J do CPC. In: ALVARO DE OLIVEIRA, Carlos Alberto (Coord.). A Nova Execução: comentários à Lei 11.232, de 22 de

dezembro de 2005

.

Rio de Janeiro: Forense, 2006.

BEDAQUE. José Roberto dos Santos. Efetividade do processo e técnica processual. São Paulo: Malheiros, 2006.

17 “A controvérsia pretende determinar se, na nova sistemática de execução estabelecida a partir da edição da Lei n. 11.232/2005, há

incidência de honorários advocatícios na impugnação ao cumprimento da sentença. Para a Min. Relatora, as alterações perpetradas pela mencionada lei tiveram o escopo de unificar os processos de conhecimento e execução, tornando este último um mero desdobramento ou continuação daquele. Note-se ainda, que o art. 475-I do CPC é expresso em afirmar que o cumprimento da sentença, nos casos de obrigação pecuniária, faz-se por execução. Ora, se haverá arbitramento de honorários na execução (art. 20, § 4º, do CPC) e se o cumprimento da sentença se faz por execução, outra conclusão não é possível, senão a de que haverá a fixação de verba honorária na fase de cumprimento da sentença. No mais, o fato de a execução agora ser um mero “incidente” do processo não impede a condenação em honorários, como, aliás, ocorre em sede de exceção de pré-executividade, na qual esta Corte admite a incidência da verba. Outro argumento favorável ao arbitramento de honorários na fase de cumprimento da sentença decorre do fato de que a verba honorária fixada na fase de cognição leva em consideração apenas o trabalho realizado pelo advogado até então. Nem poderia ser diferente, já que, naquele instante, sequer se sabe se o sucumbente irá cumprir espontaneamente a sentença ou se irá opor resistência. Por derradeiro, é aqui que reside o maior motivo para que se fixem honorários também na fase de cumprimento de sentença, há de se considerar o próprio espírito condutor das alterações pretendidas com a Lei n. 11.232/2005, em especial a multa de 10% prevista no art. 475-J do CPC. Considerando que, para o devedor, é indiferente saber a quem paga, a multa do mencionado artigo perderia totalmente sua eficácia coercitiva e a nova sistemática impressa pela Lei n. 11.232/2005 não surtiria os efeitos pretendidos, já que não haveria nenhuma motivação complementar para o cumprimento voluntário da sentença. Ao contrário, as novas regras viriam em benefício do devedor que, se antes ficava sujeito a uma condenação em honorários que poderia alcançar os 20%, com a exclusão dessa verba, estaria agora tão-somente sujeito a uma multa percentual fixa de 10%. Tudo isso somado - embora cada fundamento pareça per se bastante - leva à conclusão de que deve o juiz fixar, na fase de cumprimento da sentença, verba honorária nos termos do art. 20, 4º, do CPC.” (

REsp 978.545-MG

, Rel. Min. Nancy

Andrighi, julgado em 11/3/2008, noticiado no Informativo nº 348 do STJ)

18 NUNES, Dierle José Coelho. Honorários de sucumbência na nova fase de cumprimento de sentença estruturada pela Lei nº 11.232/05. Jus

Navigandi, Teresina, ano 10, n. 1098, 4 jul. 2006. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=8593>. Acesso em: 14 maio 2008.

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BUENO, Cássio Scarpinella. A Nova etapa da reforma do código de processo civil. São Paulo: Saraiva, 2006.

CARNEIRO, Athos Gusmão. Cumprimento da sentença civil. Rio de Janeiro: Forense, 2007. CRUZ E TUCCI, José Rogério. Reforma na jurisprudência. Disponível em:

<http://www.netlegis.com.br> Acesso em: 05 maio 2008.

GRECO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2002. v. 3. GRINOVER, Ada Pellegrini. Cumprimento da sentença. Revista Jurídica, Porto Alegre, v. 359, p. 11-19, set/2007.

MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e aplicação do direito. Rio de Janeiro: Forense, 2001. NEVES, Daniel Amorim Assumpção; RAMOS, Glauco Gumerato; FREIRE, Rodrigo da Cunha Lima; MAZZEI, Rodrigo Reis. Reforma do CPC. São Paulo: RT, 2006.

NUNES, Dierle José Coelho. Honorários de sucumbência na nova fase de cumprimento de sentença estruturada pela Lei nº 11.232/05. Jus Navigandi, Teresina, ano 10, n. 1098, 4 jul. 2006.

Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=8593>. Acesso em: 14 maio 2008. SILVA, Bruno Boquimpani. O Princípio da segurança jurídica e a coisa julgada inconstitucional. Disponível em: <http://www.mundojuridico.adv.br> Acesso em: 30 dez. 2004.

TESHEINER, José Maria Rosa. Execução de sentença. Revista dos Tribunais. São Paulo, v. 850, p. 40-56, ago/2006.

WAMBIER, Luiz Rodrigues. WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; MEDINA, José Miguel Garcia. Sobre a

necessidade de intimação pessoal do réu para o cumprimento da sentença, no caso do art. 475-J do CPC (Inserido pela Lei 11.232/2005). Disponível em: <http://www.tex.pro.br>.

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