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A CONSTITUIÇÃO DA EXCELÊNCIA TRAJETÓRIAS DE ALUNAS E ALUNOS DE SUCESSO E ATUAÇÕES DE UMA ESCOLA PÚBLICA DE PRESTÍGIO Lisandra Ogg Gomes

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A CONSTITUIÇÃO DA EXCELÊNCIA – TRAJETÓRIAS DE ALUNAS E ALUNOS DE SUCESSO E ATUAÇÕES DE UMA ESCOLA PÚBLICA DE

PRESTÍGIO

Lisandra Ogg Gomes

Resumo:

Neste estudo teórico-sociológico temos como principal propósito compreender as trajetórias e os itinerários de alunos e alunas com desempenho de sucesso do último período do ensino médio de um específico estabelecimento público de excelência. Sendo assim, iremos tratar das trajetórias, das disposições e dos itinerários de alunas e alunos excelentes do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Viçosa (CAp/Coluni/UFV). Respectivamente, serão analisadas as ações e características de eficiência e excelência empregadas por essa instituição. Portanto, nossa investigação abrange a tríade os alunos e as alunas de sucesso, a escola pública de excelência e as famílias. Escolhemos essa instituição, pois, desde 2006, desponta entre as mais bem colocadas no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e, nesse mesmo exame, primeira colocada dentre as escolas públicas. Selecionamos os alunos e as alunas com alto desempenho deste estabelecimento, pois, comumente, são aprovados em processos seletivos de instituições superiores de prestígio e em cursos que formam para as carreiras mais valorizadas. Com razão, entendemos que diferentes fatores têm grandes efeitos na constituição de um processo de excelência. Para compreender esse processo, iremos nos valer de métodos quantitativos e qualitativos, a partir de análise dos dados socioculturais, realização de entrevistas e grupo de discussão, portanto abrangendo alunos, alunas, docentes, gestores e pais. Entendemos que partindo de um enfoque holístico contextualizado, acerca desse processo, poderemos apreender os sentidos do sucesso escolar desenvolvidos pelos alunos e pelas alunas de uma escola de excelência. Trata-se de uma investigação que articulará trajetórias escolares de sucesso e ações de excelência de uma escola pública.

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1. INTRODUÇÃO

Como obter o sucesso escolar? Que concepções de excelência partilham alunas, alunos, pais, professores e gestores e que esperanças depositam nas trajetórias de excelência? Que fatores são preditores da excelência e que estratégias são acionadas pelos indivíduos para promovê-la? Como atuam as instituições socializadoras – escola e família – na promoção da excelência? Essas são algumas das questões que irão nos auxiliar a compreender os itinerários, as trajetórias e disposições de alunos e alunas com alto desempenho, do último período do ensino médio do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Viçosa (CAp/Coluni/UFV), e, também, a entender a organização e as práticas de um ensino de excelência na rede estatal.

Escolhemos essa instituição, pois nos últimos sete anos desponta entre as dez mais bem colocadas no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e primeira colocada dentre as escolas públicas. Em razão dessa trajetória de fidelidade à excelência acadêmica, iremos analisar e compreender o universo social e educativo de alunos e alunas de sucesso do CAp/Coluni.

Sendo assim, este texto apresenta uma estruturação clássica; iremos, primeiramente, justificar a importância desta investigação para, em seguida, apresentar nossos objetivos e estratégias metodológicas.

2. JUSTIFICATIVA

No cenário educacional brasileiro, o CAp/Coluni conquistou um alto conceito na formação de nível médio, o qual é continuamente confirmado pela aprovação dos egressos em processos seletivos de instituições superiores de prestígio e em cursos que formam para as carreiras mais valorizadas, e isso tem repercutido nacionalmente (NOGUEIRA, LACERDA, 2014).

Porém, esse não tem sido um fato habitual para as escolas brasileiras, que, em geral, tendem a estar em desvantagens principalmente se comparadas às escolas privadas. Em vista disso, é ainda corrente no senso comum o discurso de que a escola pública não tem qualidade e é precária em sua totalidade, enquanto o ensino particular seria o exemplo de boa educação ao aprovar os alunos nos vestibulares (ARCO NETTO, 2011).

Reconhecemos a complexidade do sistema educacional brasileiro e as especificidades dos estabelecimentos escolares. Cada escola é uma configuração – entre muitas possíveis – de tradição e mudanças, resultado das decisões vinculadas a fatores

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externos e internos, e condicionantes tecnológicos, políticos e culturais, que abrangem crenças e valores, critérios e normas, hábitos e métodos, saberes e práticas.

A problemática da excelência escolar está no centro das atenções da comunidade científica, pois é uma realidade que compreende diversos aspectos e é construída pelo sistema educacional. Os processos de construção da excelência, as formas de avaliação, classificação e seleção são elementos que classificam os estabelecimentos e podem indicar que a escola de qualidade não é acessível a todos os indivíduos. Em outras palavras, muitas escolas públicas de excelência não conseguem democratizar o acesso ao ensino médio ao promoverem os “vestibulinhos” para o ingresso na instituição. Esse é um paradoxo institucional público, pois as escolas ao realizarem os testes de seleção acabam por privilegiar os indivíduos que já têm relativo privilégio cultural e econômico herdado (ARCO NETTO, 2011).

De todo modo, a excelência escolar não pode ser compreendida apenas por meio de dados e categorias produzidas pelas instituições, por uma relação clássica com o capital cultural ou a partir de conceitos e sentidos difundidos pelos seus participantes. Em nossa perspectiva, consideramos que os indivíduos – atores sociais – estão situados em um tempo e espaço sociocultural, e são protagonistas das suas histórias, portanto eles articulam e são levados a articular a eleição racional, as emoções, as obrigações sociais e as estratégias para o futuro (CASAL et al., 2006). Em sentido eliasiano, existe, portanto, a combinação entre diferentes fatores, isto é, uma rede de interdependência que coloca em ação e interação todos aqueles que participam desse contexto institucional (ELIAS, 2008; MARTÍN CRIADO et al., 2000).

De acordo com algumas definições correntes, os alunos e as alunas obtêm o sucesso escolar, pois se mobilizam em relação ao saber, apreendem o ofício de aluno e demonstram ter certas capacidades intelectuais – competências cognitivas e desenvolvimento de habilidades linguísticas e matemáticas, por exemplo. São, sobretudo, hábitos socioculturais adquiridos e os quais estão em correlação com as instituições educativas onde se socializam (COULANGEON, 2011, CHARLOT, 2005).

Tanto o ofício de aluno quanto a mobilização em relação ao saber são processos sociais vividos e aprendidos, principalmente, nas instâncias familiar e escolar. Esses alunos e essas alunas se envolvem com as rotinas, as atividades, as regras, os instrumentos e as práticas do mundo da escola. A configuração desse jogo conta com ações propícias que partem tanto dos alunos e das alunas como da escola, com atuações positivas de ambos os lados. Inseridos nesse enquadramento microssocial, a relação

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pedagógica se dá a partir de um triplo jogo entre alunos/alunas, professor e instituições, no qual se formam e se transmitem normas, esquemas e atitudes (COULANGEON, 2011). Ademais, partindo de um enfoque holístico, julgamos que o alto desempenho de alunas e alunos envolve a triangulação entre a sociedade – como estrutura –, os indivíduos – como atores sociais – e as gerações como resultantes dos processos históricos de mudanças. Em suma, é uma análise relacional entre estrutura, ação e história dos indivíduos que participam do espaço escolar (CASAL et al., 2006).

Além da relação escola e alunos, é inegável a atuação das famílias na formação dos seus filhos e das suas filhas, pois elaboram projetos educativos e empregam recursos materiais e simbólicos para efetivar suas escolhas. Todavia, as disposições e as condições da família para acompanhar a vida escolar dos filhos não se encontram igualmente repartidas, pois as famílias são de diferentes meios sociais. Sendo assim, as famílias são desigualmente equipadas para colaborar com a escola (NOGUEIRA, 2011). Deste modo, as famílias culturalmente mais favorecidas têm maior capacidade estratégica na busca da ascensão social dos filhos, pois obtêm e decodificam informações sobre a qualidade dos estabelecimentos. No caso aqui estudado, o CAp/Coluni é um estabelecimento de ensino cobiçado por essas famílias em razão de questões que aqui já foram apontadas, como, por exemplo, os rankings, a gratuidade, a qualidade e o perfil social do público escolar (NOGUEIRA, LACERDA, 2014).

Desse modo, indicamos aqui os múltiplos fatores – subjetivos e objetivos – que atuam de formas variadas na vida das alunas e dos alunos e que interferem na promoção de um desempenho de excelência. O que já temos por certo é uma ampla configuração que envolve diferentes elementos e vários contextos socializadores, sendo que cada um deles é essencial para a compreensão das trajetórias e atuações dos alunos e das alunas de sucesso e das ações e práticas da escola na construção da excelência.

3. OBJETIVOS

Como já afirmamos, nosso principal objetivo é conhecer, analisar e compreender como são os itinerários, as trajetórias e as disposições dos alunos e das alunas de sucesso do CAp/Coluni/UFV. Respectivamente, serão analisadas as ações e características de eficiência e excelência empregadas por essa instituição. Por um lado, consideramos fundamental compreender os sentidos e representações sociais que os “atores principais” – alunos e alunas – constroem acerca da excelência escolar, permitindo desvelar dilemas e conflitos escamoteados nas estatísticas oficiais, dar

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espaço à (auto)reflexão sobre as tensões entre ser aluno/aluna e ser jovem, e compreender as articulações entre os processos de democratização, meritocracia, individualização e seletividade. Por outro lado, ao traçar o perfil social, econômico, cultural e escolar dos alunos e das alunas de alto desempenho, iremos revelar o papel da escola pública na promoção dessa excelência e o “processo” de fabricação da excelência.

4. ESTRATÉGIAS METODOLÓGICAS

Para que os propósitos dessa investigação sejam alcançados, serão utilizadas técnicas metodológicas qualitativas e quantitativas de acordo com os objetivos. Portanto, priorizamos a análise das fontes secundárias da instituição, como, por exemplo, projeto educativo, regulamento interno, planos de atividades, página da internet da escola, dados socioculturais e regulamentos de concursos na seleção escolar.

As técnicas qualitativas são imprescindível nesta investigação, pois a partir da observação do cotidiano escolar e da realização das entrevistas e grupos de discussão conseguiremos apreender a rede de configurações, as interações, as dinâmicas e as estratégias de negociação, sanção e incentivos articulados pelos indivíduos – alunos, alunas, professores, pais e gestores. Serão entrevistas semi-estruturadas, contudo claras e pontuais para garantir comodidade e conhecimento aos entrevistados a respeito do nosso objetivo. As entrevistas realizadas com gestores e professores têm o propósito de apreender às questões que tratam das relações e interações entre alunos, professores e instituição; estímulos e censuras na escola; qualidade e tradição na educação; trajetórias e êxito acadêmicos. As entrevistas com os alunos e as alunas nos permitirá conhecer suas trajetórias e representações de excelência. Será uma construção de narrativas biográficas, a qual enriquecerá inegavelmente a pesquisa qualitativa, pois permitirá que esses indivíduos opinem e contem suas histórias de vida. Essas entrevistas irão abranger perguntas que tratem de questões acerca da vida familiar, aspectos socioeconômicos, culturais e religiosos, itinerário escolar e interações com o grupo de pares. Nosso objetivo é uma escuta atenta e sensível acerca das experiências e realidades, e dos itinerários futuros das alunas e dos alunos de sucesso.

As famílias serão convidadas a participar da entrevista para falar a respeito da configuração familiar e da trajetória de excelência de seus filhos e suas filhas. Pretendemos, nestas entrevistas, trabalhar com três grandes temas: a) a história social dos cônjuges (suas infâncias e a configuração familiar geracional); b) a trajetória e o

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itinerário escolares dos pais; c) a configuração familiar atual e as trajetórias e itinerários dos filhos.

Sabemos que a compreensão da questão aqui exposta exige o cruzamento de distintas categorias de análise. Sendo assim, este estudo permitirá ampliar a compreensão de que como esses atores sociais – alunos e alunas – se constroem e atuam na instituição escolar. Além disso, permitirá ampliar a discussão a respeito da excelência no sistema público brasileiro.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARCO NETTO, N. D. B. Esforço e “vocação”: a produção das disposições para o sucesso escolar entre alunos da Escola Técnica Federal de São Paulo. Dissertação (Mestrado). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Programa de Pós- Graduação em Sociologia. Universidade de São Paulo, 2011.

CASAL, J.; GARCÍA, M.; MERINO, R.; QUESADA, M. Itinerarios y trayectorias. Una perspectiva de la transición de la escuela al trabajo. Trayectorias, año VIII, nº. 22, septiembre/diciembre, 2006, p. 09-20.

CHARLOT, B. O sujeito e a relação com o saber. In: . Relação com o saber, formação de professores e globalização. Porto Alegre: ARTMED, 2005.

COULANGEON, P. Efeitos culturais da educação. In: VAN ZANTEN, Agnés (org.). Dicionário de Educação. Petrópolis: Vozes, 2011.

ELIAS, N. Introdução à sociologia. Lisboa: Edições 70, 2008.

MARTÍN CRIADO, E.; GÓMEZ BUENO, C.; FERNÁNDEZ PALOMARES, F.; RODRÍGUEZ MONGE, Á. Familias de clase obrera y escuela. Edición Iralka: Bilbao, 2000.

NOGUEIRA, M. A. A categoria “Família” na pesquisa em Sociologia da Educação: notas preliminares sobre um processo de desenvolvimento. Inter-legere, UFRN, vol. 09, 2011, p. 156-166.

NOGUEIRA, M. A., LACERDA, W. G. Os rankings de estabelecimentos de ensino médio e as lógicas de ação das escolas: o caso do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Viçosa. KRAWZCYK, N. (org.). Sociologia do Ensino Médio. Crítica ao economicismo na política educacional. Cortez Editora: São Paulo, 2014.

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