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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 1.447.624 - SP (2014/0081725-6)

RELATOR : MINISTRO MOURA RIBEIRO

R.P/ACÓRDÃO : MINISTRO RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA RECORRENTE : NOVA MOEMA EMPREENDIMENTOS LTDA RECORRENTE : RONALD GUIMARÃES LEVINSOHN - ESPÓLIO

REPR. POR : MARIA HENRIQUETA VIEIRA LEVINSOHN - INVENTARIANTE ADVOGADOS : MARCO ANTÔNIO MUNDIM - DF000941

MARCELO HENRIQUES RIBEIRO DE OLIVEIRA - DF006517 HECILDA MARTINS FADEL - RJ014187

CARLOS AUGUSTO SOBRAL ROLEMBERG - DF008282

ADVOGADOS : ARLETE TORRES - DF009101

LUIZ DE CAMARGO ARANHA NETO - SP044789

LIVIA MARIA GOMES - DF009432

GIAN MARIA TOSETTI - RJ036685

ALMIR DANTAS RABELLO FILHO - RJ068218

ANTÔNIO DE PÁDUA SOUBHIE NOGUEIRA E OUTRO(S) - SP139461 PAULO ROBERTO SARAIVA DA COSTA LEITE - DF003333

MARCIANO JOSÉ FERREIRA DA SILVA - RJ113061 RONEI RIBEIRO DOS SANTOS - DF018118

MARCELO FERNANDES HABIS - SP183153

LUIZ JOSÉ GUIMARÃES FALCÃO - DF012425 WILSON OITICICA MOREIRA - RJ121526

JOSE CARLOS DE OLIVEIRA RODRIGUES - RJ161138 ANTONIO CEZAR PELUSO E OUTRO(S) - SP018146

HUMBERTO NOGUEIRA PENTAGNA - RJ159185

MARCIA MARTINS FADEL DE CAROLIS - RJ088420 MARTA MARTINS SAHIONE FADEL - RJ089940

SOC. de ADV. : SERGIO SAHIONE FADEL - ADVOGADOS ASSOCIADOS RECORRIDO : BUENA EMPREENDIMENTOS E PARTICIPAÇÕES LTDA ADVOGADOS : CANDIDO RANGEL DINAMARCO E OUTRO(S) - SP091537 FERNANDO PEREIRA ZACHARIAS - RJ083153

CÉSAR AKIHIRO NAKACHIMA E OUTRO(S) - SP140917

MARCELLO DE CAMARGO TEIXEIRA PANELLA E OUTRO(S) - SP143671

ADVOGADOS : CRISTIANE DE MEDEIROS BRITO CHAVES FROTA - RJ085056 DANIEL RAICHELIS DEGENSZAJN E OUTRO(S) - SP248678

JACKSON UCHÔA VIANNA - RJ024697

SORAYA RIBAS SAMPAIO BARROS - RJ146178 EMENTA

RECURSO ESPECIAL. DIREITO BANCÁRIO. EMBARGOS À EXECUÇÃO. CONTRATO DE REPASSE DE RECURSOS EXTERNOS. VARIAÇÃO CAMBIAL. INDEXAÇÃO. RESOLUÇÃO CMN Nº 63/1967. LEGALIDADE. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. CARÁTER PROTELATÓRIO. INEXISTÊNCIA. MULTA. AFASTAMENTO.

1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência do Código de Processo Civil de 1973 (Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ).

2. Não é apenas admissível, mas obrigatória a existência de cláusula de paridade cambial nos Contratos de Repasse de Recursos Externos celebrados com fundamento na Resolução CMN nº 63/1967 e em todas as demais resoluções que passaram a disciplinar a matéria.

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3. A atividade normativa empreendida pelo Banco Central do Brasil, após prévia deliberação do Conselho Monetário Nacional, resulta de delegação prevista em lei recepcionada pela Constituição Federal como lei complementar, inserindo-se, portanto, nas exceções do art. 6º da Lei nº 8.880/1994.

4. As dívidas fixadas em moeda estrangeira sofrem os efeitos da variação cambial somente até a data em que se verificar a quitação da captação externa contraída pela instituição financeira nacional.

5. Na hipótese em que os embargos de declaração objetivam prequestionar a tese para fins de interposição de recurso especial, deve ser afastada a multa do art. 538, parágrafo único, do Código de Processo Civil de 1973. Súmula nº 98/STJ.

6. Recurso especial parcialmente provido. ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, prosseguindo no julgamento, após a vista regimental do Sr. Ministro Moura Ribeiro, ratificando seu voto, decide a Terceira Turma, por maioria, dar parcial provimento ao recurso especial, em menor extensão, nos termos do voto do Sr. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, que lavrará o acórdão. Vencidos os Srs. Ministros Moura Ribeiro e Marco Aurélio Bellizze. Votaram com o Sr. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva os Srs. Ministros Nancy Andrighi e Paulo de Tarso Sanseverino (Presidente).

Brasília (DF), 02 de fevereiro de 2021(Data do Julgamento)

Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA Relator

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO TERCEIRA TURMA

Número Registro: 2014/0081725-6 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.447.624 / SP

Números Origem: 00817317820018260100 10817310 20010817310 20130000226100 5830020010817310 817310 817317820018260100

PAUTA: 03/11/2020 JULGADO: 03/11/2020

Relator

Exmo. Sr. Ministro MOURA RIBEIRO Presidente da Sessão

Exmo. Sr. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO Subprocurador-Geral da República

Exmo. Sr. Dr. MÁRIO PIMENTEL ALBUQUERQUE Secretária

Bela. MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA AUTUAÇÃO

RECORRENTE : NOVA MOEMA EMPREENDIMENTOS LTDA RECORRENTE : RONALD GUIMARÃES LEVINSOHN - ESPÓLIO

REPR. POR : MARIA HENRIQUETA VIEIRA LEVINSOHN - INVENTARIANTE ADVOGADOS : MARCO ANTÔNIO MUNDIM - DF000941

MARCELO HENRIQUES RIBEIRO DE OLIVEIRA - DF006517 HECILDA MARTINS FADEL - RJ014187

CARLOS AUGUSTO SOBRAL ROLEMBERG - DF008282 ADVOGADOS : ARLETE TORRES - DF009101

LUIZ DE CAMARGO ARANHA NETO - SP044789 LIVIA MARIA GOMES - DF009432

GIAN MARIA TOSETTI - RJ036685

ALMIR DANTAS RABELLO FILHO - RJ068218

ANTÔNIO DE PÁDUA SOUBHIE NOGUEIRA E OUTRO(S) - SP139461 PAULO ROBERTO SARAIVA DA COSTA LEITE - DF003333

MARCIANO JOSÉ FERREIRA DA SILVA - RJ113061 RONEI RIBEIRO DOS SANTOS - DF018118

MARCELO FERNANDES HABIS - SP183153 LUIZ JOSÉ GUIMARÃES FALCÃO - DF012425 WILSON OITICICA MOREIRA - RJ121526

JOSE CARLOS DE OLIVEIRA RODRIGUES - RJ161138 ANTONIO CEZAR PELUSO E OUTRO(S) - SP018146 HUMBERTO NOGUEIRA PENTAGNA - RJ159185 MARCIA MARTINS FADEL DE CAROLIS - RJ088420 MARTA MARTINS SAHIONE FADEL - RJ089940

SOC. de ADV. : SERGIO SAHIONE FADEL - ADVOGADOS ASSOCIADOS RECORRIDO : BUENA EMPREENDIMENTOS E PARTICIPAÇÕES LTDA ADVOGADOS : CANDIDO RANGEL DINAMARCO E OUTRO(S) - SP091537

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CÉSAR AKIHIRO NAKACHIMA E OUTRO(S) - SP140917

MARCELLO DE CAMARGO TEIXEIRA PANELLA E OUTRO(S) - SP143671 ADVOGADOS : CRISTIANE DE MEDEIROS BRITO CHAVES FROTA - RJ085056

DANIEL RAICHELIS DEGENSZAJN E OUTRO(S) - SP248678 JACKSON UCHÔA VIANNA - RJ024697

SORAYA RIBAS SAMPAIO BARROS - RJ146178 ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Obrigações - Espécies de Contratos - Mútuo

SUSTENTAÇÃO ORAL

Dr(a). MARCELO HENRIQUES RIBEIRO DE OLIVEIRA, pela parte RECORRENTE: NOVA MOEMA EMPREENDIMENTOS LTDA

Dr(a). DANIEL RAICHELIS DEGENSZAJN, pela parte RECORRIDA: BUENA EMPREENDIMENTOS E PARTICIPAÇÕES LTDA

CERTIDÃO

Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 1.447.624 - SP (2014/0081725-6)

RELATOR

: MINISTRO MOURA RIBEIRO

RECORRENTE

: NOVA MOEMA EMPREENDIMENTOS LTDA

RECORRENTE

: RONALD GUIMARÃES LEVINSOHN - ESPÓLIO

REPR. POR

: MARIA HENRIQUETA VIEIRA LEVINSOHN - INVENTARIANTE

ADVOGADOS

: MARCO ANTÔNIO MUNDIM - DF000941

MARCELO HENRIQUES RIBEIRO DE OLIVEIRA - DF006517

HECILDA MARTINS FADEL - RJ014187

CARLOS AUGUSTO SOBRAL ROLEMBERG - DF008282

ADVOGADOS

: ARLETE TORRES - DF009101

LUIZ DE CAMARGO ARANHA NETO - SP044789

LIVIA MARIA GOMES - DF009432

GIAN MARIA TOSETTI - RJ036685

ALMIR DANTAS RABELLO FILHO - RJ068218

ANTÔNIO DE PÁDUA SOUBHIE NOGUEIRA E OUTRO(S) -

SP139461

PAULO ROBERTO SARAIVA DA COSTA LEITE - DF003333

MARCIANO JOSÉ FERREIRA DA SILVA - RJ113061

RONEI RIBEIRO DOS SANTOS - DF018118

MARCELO FERNANDES HABIS - SP183153

LUIZ JOSÉ GUIMARÃES FALCÃO - DF012425

WILSON OITICICA MOREIRA - RJ121526

JOSE CARLOS DE OLIVEIRA RODRIGUES - RJ161138

ANTONIO CEZAR PELUSO E OUTRO(S) - SP018146

HUMBERTO NOGUEIRA PENTAGNA - RJ159185

MARCIA MARTINS FADEL DE CAROLIS - RJ088420

MARTA MARTINS SAHIONE FADEL - RJ089940

SOC. de ADV.

: SERGIO SAHIONE FADEL - ADVOGADOS ASSOCIADOS

RECORRIDO

: BUENA EMPREENDIMENTOS E PARTICIPAÇÕES LTDA

ADVOGADOS

: CANDIDO RANGEL DINAMARCO E OUTRO(S) - SP091537

FERNANDO PEREIRA ZACHARIAS - RJ083153

CÉSAR AKIHIRO NAKACHIMA E OUTRO(S) - SP140917

MARCELLO DE CAMARGO TEIXEIRA PANELLA E OUTRO(S) -

SP143671

ADVOGADOS

: CRISTIANE DE MEDEIROS BRITO CHAVES FROTA - RJ085056

DANIEL RAICHELIS DEGENSZAJN E OUTRO(S) - SP248678

JACKSON UCHÔA VIANNA - RJ024697

SORAYA RIBAS SAMPAIO BARROS - RJ146178

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO MOURA RIBEIRO (Relator):

Os autos noticiam que o BANCO CIDADE (BANCO) cedeu seus direitos

creditórios decorrentes do Contrato de Repasse de Recursos Captados no Exterior, na

forma da Resolução nº 63 do Banco Central do Brasil, firmado com NOVA MOEMA

EMPREENDIMENTOS LTDA (NOVA MOEMA), para BUENA EMPREENDIMENTOS E

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PARTICIPAÇÕES LTDA (BUENA).

Diante do inadimplemento, BUENA promoveu a correspondente execução

por título extrajudicial contra NOVA MOEMA e seus avalistas, Sérgio Luis Vieira (SERGIO),

José Francisco Thompson da Silva Ramos (JOSÉ) e Ronald Guimarães Levinshon

(RONALD).

Nos embargos a execução, NOVA MOEMA e RONALD alegaram a

ilegitimidade da cessionária, assim como deste devedor, a ilegalidade na forma como se

realizou a conversão do dólar e onerosidade excessiva em razão das taxas, juros e multa

aplicados, devendo incidir o Código de Defesa do Consumidor ao caso concreto.

Os aclaratórios opostos não foram acolhidos.

A sentença foi reformada em apelação da BUENA, credora, tão somente

para majorar a verba sucumbencial, nos termos do acórdão relatado pelo Desembargador

Afonso Bráz, assim ementado:

CARÊNCIA DE AÇÃO. Ausência de título com eficácia executiva. Impossibilidade de manejo da execução. Descabimento. O contrato de mútuo, assinado por duas testemunhas. é título executivo por sua própria natureza. Quando o título requer simples cálculo aritmético, não há iliquidez a ser reconhecida. Preliminar rejeitada. NULIDADE DA EXECUÇÃO. Alegação de que não há prova nos autos de que o contrato executado tenha sido originado de uma captação externa. Descabimento. A busca de capitais no exterior são realizadas por grandes somas, que passam a incorporar o acervo do Banco tomador e, depois, repartidas nos contratos de repasse. Impossibilidade de exigir um contrato de captação externa para cada operação de repasse, motivo pelo qual a prova pretendida se mostra inexigível. Preliminar rejeitada.

CERCEAMENTO DE DEFESA. Inocorrência. A valoração dos meios de prova realizados nos autos é atribuição exclusiva do julgador e não representa nenhuma ilegalidade ou mesmo cerceamento de defesa a eleição ou não de um ou algum deles, total ou parcialmente, como prova a fundamentar o seu convencimento. Inteligência dos artigos 131 e 436, do CPC. Preliminar rejeitada. CONTRATAÇÃO EM MOEDA ESTRANGEIRA. Possibilidade. Inteligência do disposto no artigo 2º, V, do Decreto Lei n° 857/69 e Resolução Bacen 63/67. Inexistência de ilegalidade desde que o pagamento se efetive pela conversão dos valores em moeda nacional.

LIMITAÇÃO DA TAXA DE JUROS REMUNERATÓRIOS. Impossibilidade. Inaplicabilidade das limitações da Lei de Usura. Descabimento, ainda, da redução dos juros aos mesmos índices pagos no empréstimo externo.

CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. Inaplicabilidade por não se tratar de relação de consumo. Legalidade da multa moratória de

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10%.

CUMULAÇÃO DOS JUROS REMUNERATÓRIOS COM OS MORATÓRIOS. Possibilidade. Naturezas distintas. O primeiro representa a própria remuneração do capital e o segundo representa o efeito da mora do devedor.

IMPOSTO DE RENDA. Cabimento da cobrança. Encargo inerente à contratação de empréstimo em moeda estrangeira. Inteligência do disposto no Decreto-lei n° 401/68.

CAPITALIZAÇÃO. Impossibilidade de discussão no âmbito deste processo, uma vez que não arguida quando da interposição dos embargos à execução.

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. Majoração do valor fixado. Cabimento. Fixação de valor mais adequado a remunerar condignamente o trabalho desenvolvido pelos patronos da embargada.

LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. Descabimento. Não caracterizadas as hipóteses previstas no artigo 17, do CPC.

RECURSO DOS EMBARGANTES DESPROVIDO E PROVIDO EM PARTE O RECURSO ADESIVO 0A EMBARGADA (e-STJ, fls.

1.691/1.692).

Os embargos de declaração opostos foram rejeitados.

Contra esses julgados NOVA MOEMA e RONALD, devedores, manejaram

recurso especial, fundamentado nas alíneas a e c do permissivo constitucional, alegando

(1) violação dos arts. 130, 131, 165, 437, 438, 439, 485, II, 515, § 4º e 535, I e II, todos do

CPC/73, por não ter o Tribunal bandeirante se pronunciado quanto a (1.1) necessidade de

realização de uma nova perícia, diante da considerável divergência entre os valores

apresentados, em especial no que se refere as amortizações realizadas, (1.2) aplicação

da Lei nº 8.880/94 (Plano Real) e da Circular BACEN nº 180/72 ao contrato sub judice, e

(1.3) a impossibilidade de cumulação dos juros moratórios com os remuneratórios e a

cobrança de imposto de renda sobre a remessa de juros ao exterior e de forma anual; (2)

ofensa aos arts. 128, 460, 462, 505, 515, § 1º, 535, II, 586, 618, I, 620, 743, I, todos do

CPC/73 e 51, I e IV, § 1º, I e III, do CDC e 884 do CC/02, porque a tese da capitalização de

juros deveria ter sido apreciada no julgamento da apelação, em razão do seu efeito

devolutivo e por estar contida na alegação de excesso de execução; (3) divergência

jurisprudencial e contrariedade aos arts. 6º da Lei nº 8.880/94, 28, § 4º, II, da Lei nº

9.069/95, 1º, parágrafo único, I, da Lei nº 10.192/01 e 1º e 2º, V, do Decreto-Lei nº 867/69,

diante da nulidade do contrato firmado com indexação vinculada a variação cambial do

dólar americano; (4) malferimento dos arts. 401, 924, 964, 1.058, 1.092, 1.131, 1.190,

1.250 e 1.500, todos do CC/16, 6º, V, 51, § 1º, III, do CDC, 478, 479 e 480, do CC/02, pois

a maxivalorização do dólar ensejou enriquecimento ilícito e onerosidade excessiva, razão

pela qual se impunha a revisão do Contrato de Repasse de Recursos Captados no

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Exterior; (5) violação dos arts. 4º da Lei de Usura e 253 do Código Comercial, diante da

ilegalidade da prática de anatocismo; (6) contrariedade ao art. 11 do Decreto-Lei nº 401/68,

porquanto o imposto de renda deve ser computado sobre os juros remetidos ao exterior e

apenas quando da sua remessa; (7) ofensa aos arts. 963 do CC/16 e 396 do CC/02, sob o

argumento de que não estariam em mora, sendo, portanto, indevidos os juros e a multa

pago sob esta rubrica; (8) malferimento dos arts. 2º, 3º, § 2º, 4º, I, 29 e 52, todos do CDC,

por serem aplicáveis ao caso concreto; (9) divergência jurisprudencial e violação do art.

20, §§ 3º e 4º do CPC/73, em razão da exorbitância da verba honorária fixada; e (10)

divergência jurisprudencial e ofensa ao art. 538, caput e parágrafo único, do CPC/73,

considerando que os únicos embargos de declaração opostos objetivavam o

prequestionamento das teses jurídicas.

Foram apresentadas contrarrazões.

Admitido pelo juízo prévio de admissibilidade, os autos subiram para esta

Corte Superior.

É o relatório.

VOTO VENCIDO

O EXMO. SR. MINISTRO MOURA RIBEIRO:

De plano, vale pontuar que na espécie deve incidir os ditames do CPC/73

no que se refere aos requisitos de admissibilidade dos recursos, ante os termos do

Enunciado Administrativo nº 2, aprovado pelo Plenário do STJ na sessão de 9/3/2016: Aos

recursos interpostos com fundamento no CPC/1973 (relativos a decisões publicadas até

17 de março de 2016) devem ser exigidos os requisitos de admissibilidade na forma nele

prevista, com as interpretações dadas até então pela jurisprudência do Superior Tribunal

de Justiça.

A pretensão recursal objetiva o reconhecimento (1) de omissão no

acórdão recorrido; (2) de que a tese referente a capitalização de juros foi devolvida na

apelação; (3) da nulidade do contrato firmado com indexação vinculada a variação cambial

do dólar americano; (4) da necessidade de revisão do Contrato de Repasse de Recursos

Captados no Exterior em razão da maxivalorização do dólar; (5) da ilegalidade da prática

de anatocismo; (6) que imposto de renda deve ser computado sobre os juros remetidos ao

exterior e apenas quando da sua remessa; (7) de que não houve mora; (8) da incidência

do Código de Defesa do Consumidor ao caso; (9) a exorbitância dos honorários

sucumbenciais arbitrados; e, (10) de que os embargos de declaração opostos não foram

procrastinatórios, afastando a multa imposta.

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O recurso comporta parcial acolhimento .

(1) Negativa de prestação jurisdicional.

NOVA MOEMA e RONALD alegaram que o acórdão recorrido deixou de

se manifestar sobre três pontos: (1) necessidade de realização de nova perícia contábil;

(2) aplicação da Lei do Plano Real ao contrato sub judice; e (3) impossibilidade de

cumulação dos juros moratórios com remuneratórios e da cobrança de imposto de renda

sobre o capital e de forma anual.

(1.1) Realização de nova perícia.

O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo afastou a necessidade de

realização de nova prova pericial por ter o magistrado baseado a sua decisão, de forma

fundamentada, em um dos laudos apresentados.

Veja-se:

Não há que se falar em cerceamento de defesa, sob a alegação de que "... mesmo após deferida e realizada a prova pericial, foi o

laudo simplesmente desconsiderado pelo Magistrado de 1º Grau... "

(fls. 1302).

A valoração dos meios de prova, realizados nos autos é atribuição exclusiva do julgador e não representa nenhuma ilegalidade ou mesmo cerceamento de defesa a eleição ou não de um ou algum deles, total ou parcialmente, como prova a fundamentar o seu convencimento. É o que assegura o artigo 436, do Código de Processo Civil ao estabelecer que: "o juiz não está adstrito ao laudo

pericial, podendo formar sua convicção com outros elementos ou fatos provados nos autos", ou ainda o artigo 131 do mesmo index,

que consagra o princípio da formação livre do convencimento: "o

juiz apreciará livremente a prova, atendendo aos fatos e circunstâncias constantes dos autos, ainda que não alegados pelas partes".

O julgador de origem, ao discordar parcialmente de um dos laudos técnicos apresentados e rejeitando outros, elencando as razões do porque assim o fez, realizou um juízo de qualidade e adequação dos meios de prova a seu dispor para a formação do seu convencimento (e-STJ, fls. 1.694/1.695).

(1.2) Aplicação da Lei nº 8.880/94 (Plano Real) e da Circular

BACEN nº 180/72 ao contrato sub judice.

NOVA MOEMA e RONALD, devedores, apontaram omissão no acórdão

recorrido por não ter observado que o Plano Real vedou a contratação de reajuste

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Superior Tribunal de Justiça

vinculado a variação cambial.

Todavia, a questão foi apreciada.

Colhe-se dos autos:

No que tange à contratação feita com moeda estrangeira, não há nenhuma ilegalidade a ser reconhecida.

A contratação em moeda estrangeira ao tempo da contratação (15/07/1997) era possível, por força do artigo 2º, V, do Decreto Lei 857/69, bem como expressamente autorizada pela Resolução-Bacen 63/67 (revogada pela Resolução-Bacen 2.770 de 30/08/2000), que em seu item III dispunha:

"...

III - As instituições financeiras de que trata esta Resolução poderão repassar os recursos provenientes da conversão, em moeda nacional, dos empréstimos externos negociados, obrigando-se o mutuário à respectiva liquidação mediante cláusula de paridade cambial".

Ademais disso a cláusula de paridade cambial não pode ser considerada a rigor, correção monetária, mas simples expressão do principal devido.

Destaque-se ainda que é de se ter em mente que o entendimento do Superior Tribunal de Justiça é no sentido da possibilidade de realização de contrato em moeda estrangeira, desde que o pagamento se efetive pela conversão em moeda nacional, sendo que o momento da conversão em moeda nacional é o do pagamento da dívida.

[...] (e-STJ, fls. 1697/ 1698).

(1.3) Da cumulação dos juros moratórios com remuneratórios e

da cobrança de imposto de renda.

Sobre a cumulação dos juros moratórios com os remuneratórios e a

cobrança de imposto de renda sobre a remessa dos juros e de forma anual, assim se

pronunciou o acórdão recorrido:

Ademais, nada há de ilegal também na cumulação dos juros remuneratórios e dos moratórios, posto que o primeiro representa a própria remuneração do capital, enquanto o segundo representa o efeito da mora do devedor e, portanto, como bem destacou a sentença digladiada, perfeitamente cumuláveis.

Quanto ao questionamento referente ao Imposto de Renda sobre a remessa de juros ao exterior, também esse encargo é parte essencial da contratação do mútuo e não pode ser

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alterada unilateralmente. Se o contratante vai ao Banco e

contrata mútuo em moeda estrangeira, aceita explicitamente as condições contratuais inerentes à formação do vínculo obrigacional e precisa arcar com os ônus assumidos. Obviamente que, por se tratar de imposto que onera o capital, o sujeito passivo da obrigação é o devedor. Nesse sentido:

[...] (e-STJ, fl. 1700/1701).

Dos excertos transcritos verifica-se que não há falar em negativa de

prestação jurisdicional, porque o Tribunal bandeirante apreciou as referidas matérias de

forma fundamentada.

Desse modo, é de se afastar a alegada negativa de prestação

jurisdicional.

(2) Efeito devolutivo da apelação.

NOVA MOEMA e RONALD, devedores, defenderam que a tese da

capitalização de juros foi devolvida na apelação, por estar contida na alegação de excesso

de execução.

É cediço que a arguição de excesso de execução deve vir acompanhada

da memória de cálculos e da indicação do valor que entende devido, incontroverso.

Nesse sentido:

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. ALEGAÇÃO DE EXCESSO DE EXECUÇÃO. ALEGAÇÃO GENÉRICA SEM A INDICAÇÃO DO VALOR SUPOSTAMENTE CORRETO. ACÓRDÃO RECORRIDO EM SINTONIA COM A JURISPRUDÊNCIA DO STJ. SÚMULA 83 DO STJ. AGRAVO DESPROVIDO.

[...]

2. "Fundados os embargos em excesso de execução, a parte embargante deve indicar, na petição inicial, o valor que entende correto, apresentando memória de cálculo, sob pena de rejeição liminar dos embargos ou de não conhecimento desse fundamento (art. 739-A, § 5º, do CPC/1973)" (EREsp 1.267.631/RJ, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, CORTE ESPECIAL, julgado em 19/06/2013, DJe de 1º/07/2013).

[..]

4. Agravo interno provido para conhecer do agravo e negar provimento ao recurso especial.

(AgInt no AREsp 1.260.453/MG, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, DJe 19/2/2019)

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PROCESSUAL CIVIL. [...]. EMBARGOS À EXECUÇÃO. EXCESSO DE EXECUÇÃO. APRESENTAÇÃO. INICIAL. VALOR CORRETO E MEMÓRIA DE CÁLCULO. NECESSIDADE.

[...]

3. Nos embargos em excesso de execução, a parte embargante deve indicar, na petição inicial, o valor que entende correto, apresentando memória discriminada de cálculo, sob pena de rejeição liminar dos embargos ou de não conhecimento desse fundamento, sendo-lhe vedada a emenda à inicial.

4. Agravo interno não provido.

(AgInt no AREsp 1.022.195/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, DJe 1º/2/2019)

A exigência de que o embargante demonstre valor que entende devido

pressupõe que ele esmiúce e aponte os encargos indevidos ou fórmulas matemáticas

equivocadamente aplicadas na execução.

É incumbência do embargante apresentar o valor que entende devido,

com memória de cálculo e as razões pelas quais as contas apresentadas pelo exequente

não merecem prosperar.

Nas lições de NELSON NERY JUNIOR e ROSA MARIA DE ANDRADE

NERY, quando o fundamento dos embargos for excesso de execução, cabe ao

embargante, na petição inicial dos embargos, declinar o montante do excesso,

demonstrando-o por intermédio de tabela de memória de cálculo, discriminando a fórmula

que determinou o resultado a que chegou (Código de Processo Civil Comentado, 14ª

ed., São Paulo: RT, 2014, p. 1346).

Por essa razão, não se pode entender que a capitalização dos juros

esteja contida na alegação de excesso de execução, porquanto não ressaltado esse ponto

nas contas apresentadas; tampouco é matéria de ordem pública a ensejar a atuação de

ofício do magistrado.

Escorreito, portanto, o entendimento do Tribunal paulista segundo o qual

não cabe a discussão quanto a alegação de capitalização de juros, pois a mesma

não foi arguida quando da interposição dos embargos (e-STJ, fl. 1.701).

(3) (4) Nulidade do contrato firmado com indexação vinculada a variação

cambial, enriquecimento sem causa e onerosidade excessiva.

O Contrato de Repasse sub judice foi realizado na forma da Resolução nº

63/67 do Banco Central, que autorizava a contratação direta de empréstimos externos

destinados a ser repassados a empresas no país, quer para financiamento de capital fixo,

quer de capital de movimento.

(13)

Superior Tribunal de Justiça

O Decreto-Lei nº 857/69, por sua vez, vedou a contratação de obrigações

exequíveis no Brasil que estipulassem pagamento em moeda estrangeira, ressalvada as

hipóteses previstas no seu art. 2º.

Eis o teor da norma:

Art 2º Não se aplicam as disposições do artigo anterior:

I - aos contratos e títulos referentes a importação ou exportação de mercadorias;

II - aos contratos de financiamento ou de prestação de garantias relativos às operações de exportação de bens de produção nacional, vendidos a crédito para o exterior;

III - aos contratos de compra e venda de câmbio em geral; IV - aos empréstimos e quaisquer outras obrigações cujo credor ou devedor seja pessoa residente e domiciliada no exterior, excetuados os contratos de locação de imóveis situados no território nacional;

V - aos contratos que tenham por objeto a cessão, transferência, delegação, assunção ou modificação das obrigações referidas no item anterior, ainda que ambas as partes contratantes sejam pessoas residentes ou domiciliadas no país.

Parágrafo único. Os contratos de locação de bens móveis que estipulem pagamento em moeda estrangeira ficam sujeitos, para sua validade a registro prévio no Banco Central do Brasil.

Com o advento da Lei nº 8.880/94, que dispõe sobre o Programa de

Estabilização Econômica e o Sistema Monetário Nacional e instituiu a Unidade Real de

Valor (URV), foi proibida a contratação de reajuste vinculado a variação cambial.

Veja-se:

Art. 6º É nula de pleno direito a contratação de reajuste vinculado à variação cambial, exceto quando expressamente autorizado por lei federal e nos contratos de arrendamento mercantil celebrados entre pessoas residentes e domiciliadas no País, com base em captação de recursos provenientes do exterior.

Na espécie, em agosto de 1997, NOVA MOEMA firmou com o BANCO

Contrato de Repasse na forma da Resolução nº 63 do Banco Central do Brasil, no valor de

USD 10.000.000,00 (dez milhões de dólares americanos), para o financiamento de capital

fixo ou de movimento (e-STJ, fl. 70), objetivando a construção de Shopping Center (e-STJ,

fl. 1.698).

Observa-se que a avença contrariou a referida legislação federal, uma vez

que realizou empréstimo em moeda estrangeira não autorizado por lei federal.

(14)

Superior Tribunal de Justiça

realizada seria nula.

Porém, a jurisprudência deste Superior Tribunal está assentada na

legalidade da contratação em moeda estrangeira, desde que previsto o seu pagamento em

moeda nacional.

A propósito:

AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL - AÇÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL - DECISÃO MONOCRÁTICA QUE NEGOU PROVIMENTO AO RECLAMO. IRRESIGNAÇÃO DA PARTE AUTORA.

[...]

2. Nos termos da jurisprudência do STJ, são legítimos os contratos celebrados em moeda estrangeira, desde que o pagamento se efetive pela conversão em moeda nacional. Precedentes.

3. Agravo interno desprovido.

(AgInt nos EDcl no AREsp 1.049.346/GO, Rel. Ministro MARCO BUZZI, Quarta Turma, DJe 27/6/2018)

AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. CONTRATO DE COMPRA E VENDA. PREÇO FIXADO EM DÓLAR AMERICANO. DESVALORIZAÇÃO DO REAL. CONTRATAÇÃO EM MOEDA ESTRANGEIRA. LEGITIMIDADE. JURISPRUDÊNCIA DO STJ. [...].

1. São legítimos os contratos celebrados em moeda estrangeira, desde que o pagamento seja efetuado mediante a conversão em moeda nacional. Incidência da Súmula n. 83 do STJ.

[...]

4. Agravo regimental desprovido.

(AgRg no REsp 1.322.899/SE, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, Terceira Turma, DJe 03/11/2015)

AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. [...]. CONTRATAÇÃO EM MOEDA ESTRANGEIRA. POSSIBILIDADE. PAGAMENTO EM MOEDA NACIONAL. PRECEDENTES. SÚMULA 83/STJ. [...].

[...]

2. Validade da contratação em moeda estrangeira, desde que o pagamento possa ser efetivado em moeda nacional. Precedentes.

[...]

4. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.

(AgRg no AREsp 17.099/PR, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, Terceira Turma, DJe 24/9/2013)

(15)

Superior Tribunal de Justiça

Na espécie, os itens 1.3 e 1.4 do Contrato de Repasse estipulam que o

pagamento se dará em moeda corrente nacional. Portanto, é válido o contrato entabulado.

Porém, a conversão deve observar o câmbio na data da contratação,

acrescido de correção monetária até a data do efetivo pagamento.

Nesse sentido, confiram-se os seguintes precedentes:

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL - AÇÃO DE COBRANÇA COM PEDIDO DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA - DECISÃO MONOCRÁTICA QUE DEU PARCIAL PROVIMENTO AO RECLAMO DA AUTORA PARA DETERMINAR A CONVERSÃO DA DÍVIDA FIXADA EM MOEDA ESTRANGEIRA PARA A MOEDA NACIONAL, NO ATO DE QUITAÇÃO, COM BASE NA COTAÇÃO DA DATA DA CONTRATAÇÃO, E, A PARTIR DAÍ, ATUALIZADOS COM BASE EM ÍNDICE OFICIAL DE CORREÇÃO MONETÁRIA, SEGUNDO PRECEDENTES DESTA CORTE SUPERIOR. IRRESIGNAÇÃO DA DEMANDADA.

[...]

2. Quando não enquadradas nas exceções legais, as dívidas fixadas em moeda estrangeira deverão, no ato de quitação, ser convertidas para a moeda nacional, com base na cotação da data da contratação, e, a partir daí, atualizadas com base em índice oficial de correção monetária. Precedentes.

3. Agravo regimental desprovido.

(AgRg no REsp 1.325.603/SP, Rel. Ministro MARCO BUZZI, Quarta Turma, DJe 31/3/2016)

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COBRANÇA. "GLOBAL NOTES". [...]. TÍTULO EXTRAJUDICIAL. VALIDADE. [...].

[...]

4. O STJ pacificou o entendimento de que, "as dívidas fixadas em moeda estrangeira deverão, no ato de quitação, ser convertidas para a moeda nacional, com base na cotação da data da contratação, e, a partir daí, atualizadas com base em índice oficial de correção monetária" (REsp 1.323.219/RJ, Rel. Ministra Nancy Andrighi, DJe 26/9/2013).

6. Agravo regimental não provido.

(AgRg no REsp 1.342.000/PR, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, Terceira Turma, DJe 17/2/2014)

DIREITO CIVIL. CONTRATO DE EMPRÉSTIMO CELEBRADO EM MOEDA ESTRANGEIRA E INDEXADO AO DÓLAR. [...]. PAGAMENTO MEDIANTE CONVERSÃO EM MOEDA NACIONAL. CÁLCULO COM BASE NA COTAÇÃO DA DATA DA CONTRATAÇÃO.

(16)

Superior Tribunal de Justiça

2. O art. 1º da Lei 10.192/01 proíbe a estipulação de pagamentos em moeda estrangeira para obrigações exequíveis no Brasil, regra essa encampada pelo art. 318 do CC/02 e excepcionada nas hipóteses previstas no art. 2º do DL 857/69. A despeito disso, pacificou-se no STJ o entendimento de que são legítimos os contratos celebrados em moeda estrangeira, desde que o pagamento se efetive pela conversão em moeda nacional.

3. A indexação de dívidas à variação cambial de moeda estrangeira é prática vedada desde a entrada em vigor do Plano Real, excepcionadas as hipóteses previstas no art. 2º do DL 857/69 e os contratos de arrendamento mercantil celebrados entre pessoas residentes e domiciliadas no País, com base em captação de recursos provenientes do exterior (art. 6º da Lei 8.880/94).

5. Quando não enquadradas nas exceções legais, as dívidas fixadas em moeda estrangeira deverão, no ato de quitação, ser convertidas para a moeda nacional, com base na cotação da data da contratação, e, a partir daí, atualizadas com base em índice oficial de correção monetária.

6. Recurso especial conhecido em parte e parcialmente provido.

(REsp 1.323.219/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, Terceira Turma, DJe 26/9/2013)

Portanto, no ponto, o acórdão recorrido merece reforma.

Acrescente-se ainda que, em se definindo a conversão da moeda

estrangeira em nacional pelo câmbio da data da contratação, fica prejudicada a tese da

teoria da imprevisão pela maxivalorização do dólar.

(5) e (7) Anatocismo e mora

As alegações de prática de anatocismo e de inexistência de mora não

podem ser examinadas neste recurso especial.

Isso porque, verifica-se que os conteúdos normativos referentes aos arts.

4º da Lei de Usura, 253 do Código Comercial, 963 do CC/16 e 396 do CC/02 não foram

objeto de debate no v. acórdão recorrido, mesmo após a oposição de embargos

declaratórios, carecendo, portanto, do necessário prequestionamento viabilizador do

recurso especial, requisito indispensável ao acesso às instâncias excepcionais.

Aplicável, assim, a Súmula nº 211 do STJ: Inadmissível recurso especial

quanto à questão que, a despeito da oposição de embargos declaratórios, não foi

apreciada pelo Tribunal a quo.

(17)

Superior Tribunal de Justiça

Sobre o imposto de renda devido em decorrência do Contrato de Repasse

de Recursos Captados no Exterior, o acórdão recorrido consignou que a NOVA MOEMA

expressamente anuiu com a obrigação e forma de pagamento, inexistindo vício de vontade

apto para a anulação da cláusula.

Veja-se:

Quanto ao questionamento referente ao Imposto de Renda sobre a remessa de juros ao exterior, também esse encargo é parte

essencial da contratação do mútuo e não pode ser alterada unilateralmente. Se o contratante vai ao Banco e contrata mútuo

em moeda estrangeira, aceita explicitamente as condições contratuais inerentes à formação do vínculo obrigacional e precisam arcar com os ônus assumidos. Obviamente que, por ser

tratar de imposto que onera o capital, o sujeito passivo da obrigação é o devedor. Nesse sentido:

[...] (e-STJ, fl. 1700).

Todavia, nas razões do apelo nobre os recorrentes sustentaram tão

somente que o imposto de renda deve ser computado sobre os juros remetidos ao exterior

e apenas quando da sua remessa, tal como previsto no art. 11 do Decreto-Lei nº 401/68.

Não houve, portanto, impugnação ao fundamento do acórdão recorrido,

atraindo a incidência da Súmula nº 283 do STF: é inadmissível o recurso extraordinário,

quando a decisão recorrida assenta em mais de um fundamento suficiente e o recurso

não abrange todos êles.

(8) Aplicação do Código de Defesa do Consumidor.

No que se refere a aplicação do Código de Defesa do Consumidor, a

jurisprudência desta Corte Superior tem mitigado os rigores da Teoria Finalista, de modo a

estender a incidência das regras consumeristas para a parte que, embora sem deter a

condição de destinatária final, apresente-se em situação de vulnerabilidade.

Da mesma forma, seguindo essa orientação, os contratos firmados com

vistas ao incremento da atividade empresarial não inauguram uma relação jurídica

consumerista.

Nesse sentido, confiram-se os seguintes precedentes:

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COBRANÇA. 1. TEORIA FINALISTA. MITIGAÇÃO (CDC, ART. 29). EQUIPARAÇÃO A CONSUMIDOR. PRÁTICA ABUSIVA OU SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE. NÃO RECONHECIMENTO

(18)

Superior Tribunal de Justiça

PELA INSTÂNCIA ORDINÁRIA. REVISÃO. INVIABILIDADE. SÚMULA 7 DO STJ. [...]. 4. AGRAVO INTERNO IMPROVIDO.

1. Esta Corte firmou posicionamento no sentido de que a teoria finalista deve ser mitigada nos casos em que a pessoa física ou jurídica, embora não se enquadre nas categorias de fornecedor ou destinatário final do produto, apresenta-se em estado de vulnerabilidade ou hipossuficiência técnica, autorizando a aplicação das normas previstas no CDC. Precedentes.

[...]

4. Agravo interno improvido.

(AgInt no AREsp 1.285.559/MS, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, Terceira Turma, DJe 6/9/2018)

AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. AQUISIÇÃO DE SERVIÇO DE FORNECIMENTO DE JANTARES PARA INTEGRAR A COMERCIALIZAÇÃO DE PACOTES TURÍSTICOS. [...]. RELAÇÃO DE CONSUMO NÃO CONFIGURADA. AGRAVO INTERNO PROVIDO PARA CONHECER DO RECURSO ESPECIAL E NEGAR-LHE PROVIMENTO.

[...]

3. O Código de Defesa do Consumidor não se aplica no caso em que o produto ou serviço é contratado para implementação de atividade econômica, já que não estaria configurado o destinatário final da relação de consumo (teoria finalista ou subjetiva). Precedentes.

[...]

5. Agravo interno provido para conhecer do recurso especial e negar-lhe provimento.

(AgRg no REsp 1557043/SP, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, Quarta Turma, DJe 11/4/2019)

Na espécie, o Contrato de Repasse de Recursos Captados no Exterior foi

realizado para o incremento da atividade empresarial da NOVA MOEMA, não tendo sido

demonstrada a sua vulnerabilidade diante da instituição financeira.

Escorreito, portanto, o entendimento do acórdão recorrido ao afastar a

incidência do Código de Defesa do Consumidor posto não se tratar de mútuo para

consumidor final, mas de financiamento de construção Shopping Center, pelo que não há

relação de consumo a ser reconhecida (e-STJ, fl. 1.698).

(9) Honorários advocatícios

Diante do julgamento deste recurso especial, que ensejará o parcial

acolhimento dos embargos a execução, fica prejudicada a análise da tese quanto a verba

sucumbencial, que será redimensionada ao final.

(19)

Superior Tribunal de Justiça

(10) Multa do art. 538, parágrafo único, do CPC/73

NOVA MOEMA e RONALD asseveraram que os únicos embargos de

declaração opostos objetivaram o prequestionamento das teses jurídicas, razão pela qual

deve ser afastada a multa que lhes foi imposta.

Quanto ao tema, esta Corte firmou o entendimento de que é descabida a

multa prevista no art. 538, parágrafo único, do CPC/73, quando verificado o intuito de

prequestionamento e ausente o interesse de procrastinar o andamento do feito, mesmo

que não configurada nenhuma hipótese de cabimento dos embargos de declaração.

Nesse sentido, é o enunciado da Súmula nº 98 desta Corte: Embargos de

declaração manifestados com notório propósito de prequestionamento não têm caráter

protelatório.

A propósito:

AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC/73. [...]. EXCLUSÃO DA MULTA APLICADA COM BASE NO ART. 538 DO CPC/73. AGRAVO PROVIDO EM PARTE, APENAS PARA EXCLUIR A MULTA DO ART. 538 DO CPC/73.

1. Decisão agravada parcialmente reconsiderada no tocante à alegada ofensa ao art. 538 do CPC/73, com novo exame do feito nessa parte.

2. Na espécie, os segundos embargos de declaração opostos na eg. Instância a quo tinham expressamente fins de prequestionamento, não podendo ser considerados procrastinatórios, devendo ser reformado o acórdão estadual para excluir a multa prevista no art. 538, parágrafo único, do CPC/73. [...]

(AgInt no REsp 1.549.091/ES, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, Quarta Turma, DJe 20/3/2019)

AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL (CPC/73). [...]. EMBARGOS DECLARATÓRIOS. NÃO PROTELATÓRIOS. MULTA. AFASTADA. [...].

1. Os embargos de declaração que objetivam prequestionar as matérias a serem submetidas às instâncias extraordinárias não se revestem de caráter procrastinatório, devendo ser afastada a multa prevista no art. 538, parágrafo único, do Código de Processo Civil (Súmula n.º 98/STJ).

[...]

4. AGRAVO INTERNO DESPROVIDO.

(AgInt no REsp 1.598.961/SP, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, Terceira Turma, DJe 2/8/2017)

(20)

Superior Tribunal de Justiça

Na espécie, contra o acórdão proferido em apelação foram opostos

embargos de declaração por NOVA MOEMA e RONALD, apontando omissões e

contradições no julgado, objetivando o esclarecimento e prequestionamento das teses

suscitadas.

Dessa forma, e tendo em vista que a multa do art. 538, parágrafo único,

do CPC/73, deve ser aplicada com temperamentos, afasto-a.

Nessas condições, DOU PARCIAL PROVIMENTO ao recurso especial,

para afastar a multa do parágrafo único do art. 538 do CPC/73; ACOLHER em parte os

embargos à execução para que na apuração do valor exequendo seja considerada a

cotação da moeda estrangeira na data da contratação, com correção monetária até o seu

efetivo pagamento, com juros de mora de 0,5% ao mês a até a entrada em vigor do CC/02

e de 1% a partir de então.

Nos termos do § 3º do art. 20 do CPC/73, condeno a BUENA ao

pagamento de honorários advocatícios arbitrados em 10% sobre o valor decotado da

execução, com atualização monetária a partir da publicação deste acórdão.

(21)

Superior Tribunal de Justiça

CERTIDÃO DE JULGAMENTO TERCEIRA TURMA

Número Registro: 2014/0081725-6 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.447.624 / SP

Números Origem: 00817317820018260100 10817310 20010817310 20130000226100 5830020010817310 817310 817317820018260100

PAUTA: 03/11/2020 JULGADO: 17/11/2020

Relator

Exmo. Sr. Ministro MOURA RIBEIRO Presidente da Sessão

Exmo. Sr. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO Subprocurador-Geral da República

Exmo. Sr. Dr. ONOFRE DE FARIA MARTINS Secretária

Bela. MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA AUTUAÇÃO

RECORRENTE : NOVA MOEMA EMPREENDIMENTOS LTDA RECORRENTE : RONALD GUIMARÃES LEVINSOHN - ESPÓLIO

REPR. POR : MARIA HENRIQUETA VIEIRA LEVINSOHN - INVENTARIANTE ADVOGADOS : MARCO ANTÔNIO MUNDIM - DF000941

MARCELO HENRIQUES RIBEIRO DE OLIVEIRA - DF006517 HECILDA MARTINS FADEL - RJ014187

CARLOS AUGUSTO SOBRAL ROLEMBERG - DF008282 ADVOGADOS : ARLETE TORRES - DF009101

LUIZ DE CAMARGO ARANHA NETO - SP044789 LIVIA MARIA GOMES - DF009432

GIAN MARIA TOSETTI - RJ036685

ALMIR DANTAS RABELLO FILHO - RJ068218

ANTÔNIO DE PÁDUA SOUBHIE NOGUEIRA E OUTRO(S) - SP139461 PAULO ROBERTO SARAIVA DA COSTA LEITE - DF003333

MARCIANO JOSÉ FERREIRA DA SILVA - RJ113061 RONEI RIBEIRO DOS SANTOS - DF018118

MARCELO FERNANDES HABIS - SP183153 LUIZ JOSÉ GUIMARÃES FALCÃO - DF012425 WILSON OITICICA MOREIRA - RJ121526

JOSE CARLOS DE OLIVEIRA RODRIGUES - RJ161138 ANTONIO CEZAR PELUSO E OUTRO(S) - SP018146 HUMBERTO NOGUEIRA PENTAGNA - RJ159185 MARCIA MARTINS FADEL DE CAROLIS - RJ088420 MARTA MARTINS SAHIONE FADEL - RJ089940

SOC. de ADV. : SERGIO SAHIONE FADEL - ADVOGADOS ASSOCIADOS RECORRIDO : BUENA EMPREENDIMENTOS E PARTICIPAÇÕES LTDA ADVOGADOS : CANDIDO RANGEL DINAMARCO E OUTRO(S) - SP091537

(22)

Superior Tribunal de Justiça

CÉSAR AKIHIRO NAKACHIMA E OUTRO(S) - SP140917

MARCELLO DE CAMARGO TEIXEIRA PANELLA E OUTRO(S) - SP143671 ADVOGADOS : CRISTIANE DE MEDEIROS BRITO CHAVES FROTA - RJ085056

DANIEL RAICHELIS DEGENSZAJN E OUTRO(S) - SP248678 JACKSON UCHÔA VIANNA - RJ024697

SORAYA RIBAS SAMPAIO BARROS - RJ146178 ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Obrigações - Espécies de Contratos - Mútuo

SUSTENTAÇÃO ORAL

Dr. MARCELO HENRIQUES RIBEIRO DE OLIVEIRA, pela parte RECORRENTE: NOVA MOEMA EMPREENDIMENTOS LTDA

Dr. DANIEL RAICHELIS DEGENSZAJN, pela parte RECORRIDA: BUENA EMPREENDIMENTOS E PARTICIPAÇÕES LTDA

CERTIDÃO

Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

Após o voto do Sr. Ministro Moura Ribeiro, dando parcial provimento ao recurso especial, pediu vista antecipada o Sr. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva. Aguardam os Srs. Ministros Nancy Andrighi, Paulo de Tarso Sanseverino (Presidente) e Marco Aurélio Bellizze.

(23)

Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 1.447.624 - SP (2014/0081725-6)

RELATOR : MINISTRO MOURA RIBEIRO

RECORRENTE : NOVA MOEMA EMPREENDIMENTOS LTDA RECORRENTE : RONALD GUIMARÃES LEVINSOHN - ESPÓLIO

REPR. POR : MARIA HENRIQUETA VIEIRA LEVINSOHN - INVENTARIANTE ADVOGADOS : MARCO ANTÔNIO MUNDIM - DF000941

MARCELO HENRIQUES RIBEIRO DE OLIVEIRA - DF006517 HECILDA MARTINS FADEL - RJ014187

CARLOS AUGUSTO SOBRAL ROLEMBERG - DF008282

ADVOGADOS : ARLETE TORRES - DF009101

LUIZ DE CAMARGO ARANHA NETO - SP044789

LIVIA MARIA GOMES - DF009432

GIAN MARIA TOSETTI - RJ036685

ALMIR DANTAS RABELLO FILHO - RJ068218

ANTÔNIO DE PÁDUA SOUBHIE NOGUEIRA E OUTRO(S) - SP139461 PAULO ROBERTO SARAIVA DA COSTA LEITE - DF003333

MARCIANO JOSÉ FERREIRA DA SILVA - RJ113061 RONEI RIBEIRO DOS SANTOS - DF018118

MARCELO FERNANDES HABIS - SP183153

LUIZ JOSÉ GUIMARÃES FALCÃO - DF012425 WILSON OITICICA MOREIRA - RJ121526

JOSE CARLOS DE OLIVEIRA RODRIGUES - RJ161138 ANTONIO CEZAR PELUSO E OUTRO(S) - SP018146

HUMBERTO NOGUEIRA PENTAGNA - RJ159185

MARCIA MARTINS FADEL DE CAROLIS - RJ088420 MARTA MARTINS SAHIONE FADEL - RJ089940

SOC. de ADV. : SERGIO SAHIONE FADEL - ADVOGADOS ASSOCIADOS RECORRIDO : BUENA EMPREENDIMENTOS E PARTICIPAÇÕES LTDA ADVOGADOS : CANDIDO RANGEL DINAMARCO E OUTRO(S) - SP091537 FERNANDO PEREIRA ZACHARIAS - RJ083153

CÉSAR AKIHIRO NAKACHIMA E OUTRO(S) - SP140917

MARCELLO DE CAMARGO TEIXEIRA PANELLA E OUTRO(S) - SP143671

ADVOGADOS : CRISTIANE DE MEDEIROS BRITO CHAVES FROTA - RJ085056 DANIEL RAICHELIS DEGENSZAJN E OUTRO(S) - SP248678

JACKSON UCHÔA VIANNA - RJ024697

SORAYA RIBAS SAMPAIO BARROS - RJ146178

VOTO-VISTA VENCEDOR

O EXMO. SR. MINISTRO RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA:

Trata-se, na origem, de embargos opostos por NOVA MOEMA EMPREENDIMENTOS LTDA. e RONALD GUIMARÃES LEVINSOHN - ESPÓLIO (representado por MARIA HENRIQUETA VIEIRA LEVINSOHN - INVENTARIANTE) à execução que lhes foi movida por BUENA COMPANHIA SECURITIZADORA DE CRÉDITOS FINANCEIROS S.A., fundada em Contrato de Repasse de Recursos Externos – firmado com o Banco Cidade S.A. em

(24)

Superior Tribunal de Justiça

8/7/1997 e posteriormente cedido à embargada – atrelado à variação cambial da moeda norte-americana (dólar).

Nas razões dos referidos embargos, os embargantes afirmaram, em síntese, que, à época da celebração do contrato de financiamento, o Governo Federal, como forma de manter a estabilidade da economia, exercia rígido controle sobre o mercado de câmbio, por meio do sistema de bandas cambiárias, tendo passado a adotar, a partir de 18/1/1999, de maneira abrupta e inesperada, o regime de livre flutuação, fazendo com que sua dívida tivesse um incremento de 62% (sessenta e dois por cento) em pouco mais de 1 (um) mês, enquanto que o INPC, que media a inflação da época, em um período de 12 (doze) meses (de janeiro/1998 a janeiro/1999), apresentou uma variação de apenas 3,15% (três vírgula quinze por cento).

Sustentaram, ainda, que: a) a cessão do crédito exigia a prévia notificação do devedor; b) o aval é instrumento próprio de títulos cambiais; c) o título executivo deveria prever a obrigação do devedor de pagar quantia determinada em moeda corrente nacional; d) é indispensável a prova da captação de recursos externos e de que o ingresso de moeda estrangeira no país ocorreu mediante autorização do Banco Central; e) caso mantida a exigibilidade, a conversão da dívida, expressa em moeda estrangeira, deveria observar a cotação gerada pelo SISBACEN (PTAX 800 - OPÇÃO 5); f) é nula a contração de reajuste vinculado à variação cambial, nos termos do art. 6º da Lei nº 8.880/1994; g) os juros remuneratórios fixados em 26% (vinte e seis por cento) ao ano, além de serem abusivos, só devem incidir até a data do vencimento da dívida (20/3/1999), a partir de quando são devidos somente os juros moratórios à taxa legal de 6% (seis por cento) ao ano, vedada a cumulação de tais consectários; h) houve injusto incremento da dívida em virtude da indevida cobrança de imposto de renda à alíquota de 12,5% (doze vírgula cinco por cento) ao ano; i) se a cobrança é excessiva, é indevida a multa moratória que, caso devida, deve ser limitada a 2% (dois por cento), e j) na planilha apresentada pela parte exequente, não foram deduzidos os valores amortizados pelos embargantes.

O magistrado de primeiro grau de jurisdição julgou improcedentes os embargos à execução (e-STJ fls. 1.287-1.311), com a condenação dos embargantes ao pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios, estes fixados em 10% (dez por cento) sobre o valor atualizado do crédito.

Interposta apelação pelos embargantes, a Décima Sétima Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo negou-lhe provimento e deu provimento

(25)

Superior Tribunal de Justiça

ao recurso adesivo dos embargados, apenas para fins de majoração da verba honorária, ao final estabelecida em 15% (quinze por cento) sobre o valor da execução.

Após a rejeição dos embargos de declaração opostos por ambas as partes da relação processual, vieram os autos a esta Corte Superior para apreciação de recurso especial interposto pelos embargantes.

Na assentada de 17/11/2020, o eminente Relator, Ministro Moura Ribeiro, deu parcial provimento ao recurso especial para afastar a multa do parágrafo único do art. 538 do Código de Processo Civil de 1973 e acolher em parte os embargos à execução a fim que, na apuração do valor exequendo, seja considerada a cotação da moeda estrangeira na data da contratação, incidindo, a partir de então, correção monetária até o efetivo pagamento.

Na oportunidade, entendeu Sua Excelência que: a) o Contrato de Repasse de Recursos Externos foi firmado na forma da Resolução nº 63/1967 do Banco Central do Brasil, que autorizava a contratação direta de empréstimos externos destinados a serem repassados a empresas no país, quer para financiamento de capital fixo, quer de capital de movimento; b) o Decreto-Lei nº 857/1969 vedou a contratação de obrigações exequíveis no Brasil que estipulassem pagamento em moeda estrangeira, ressalvadas as hipóteses previstas no seu art. 2º; c) a avença contrariou a referida legislação federal, visto que realizou empréstimo em moeda estrangeira não autorizado por lei federal; d) a jurisprudência deste Tribunal Superior está assentada na legalidade da contratação em moeda estrangeira, desde que previsto o seu pagamento em moeda nacional; e) na espécie, os itens 1.3 e 1.4 do Contrato de Repasse estipulavam que o pagamento se daria em moeda corrente nacional, sendo, portanto, válido o contrato entabulado, e f) a conversão, no entanto, deve observar o câmbio na data da contratação, acrescido de correção monetária até a data do efetivo pagamento, ficando prejudicada a tese da teoria da imprevisão pela maxivalorização do dólar.

Para melhor compreensão da controvérsia, pedi vista dos autos.

De início, manifesto absoluta concordância com o voto do eminente Relator quanto: i) à não configuração da alegada negativa de prestação jurisdicional; ii) à impossibilidade de conhecimento da alegada capitalização de juros, que não foi aventada na inicial dos embargos à execução; iii) à legalidade da contratação em moeda estrangeira, desde que previsto o pagamento em moeda nacional; iv) à inaplicabilidade, à espécie, das normas de proteção ao direito do consumidor, e v) ao afastamento da multa aplicada no julgamento dos embargos de declaração.

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Superior Tribunal de Justiça

recorrentes, relacionado com a possibilidade de indexação do Contrato de Repasse de Recursos Externos à variação do dólar, verifico que o voto do eminente Relator não destoa de julgados desta Corte Superior nos quais se decidiu que, quando não enquadradas nas exceções legais, as dívidas fixadas em moeda estrangeira deverão, no ato de quitação, ser convertidas para a moeda nacional, com base na cotação da data da contratação, e, a partir daí, atualizadas com base em índice oficial de correção monetária.

De fato, o referido contrato foi firmado com o Banco Cidade S.A. em 8/7/1997, quando já estava em vigor a Lei nº 8.880/1994, que assim dispõe:

"Art. 6º - É nula de pleno direito a contratação de reajuste

vinculado à variação cambial, exceto quando expressamente autorizado por lei federal e nos contratos de arrendamento mercantil celebrados entre pessoas

residentes e domiciliadas no País, com base em captação de recursos provenientes do exterior." (grifou-se)

O caso dos autos, como bem ressaltou o eminente Relator – e aqui deve ser considerada a relação jurídica existente entre o repassador e o repassatário –, não se amolda a nenhuma das hipóteses contempladas no art. 2º do Decreto-Lei nº 857/1969, quais sejam: i) contratos e títulos referentes à importação ou exportação de mercadorias; ii) contratos de financiamento ou de prestação de garantias relativos às operações de exportação de bens e serviços vendidos a crédito para o exterior; iii) contratos de compra e venda de câmbio em geral; iv) empréstimos e quaisquer outras obrigações cujo credor ou devedor seja pessoa residente e domiciliada no exterior, excetuados os contratos de locação de imóveis situados no território nacional, e v) contratos que tenham por objeto a cessão, transferência, delegação, assunção ou modificação das obrigações referidas no item anterior, ainda que ambas as partes contratantes sejam pessoas residentes ou domiciliadas no país.

Em que pese a previsão contida na Resolução CMN nº 63/1967, admitindo que as instituições financeiras procedam ao repasse de recursos provenientes da conversão, em moeda nacional, dos empréstimos externos negociados – hipótese em que o mutuário se obrigava à respectiva liquidação mediante cláusula de paridade cambial –, já decidiu esta Corte que "(...) ao art. 6º da Lei nº 8.880/94 não se deve dar elasticidade, já que o mesmo impõe o princípio da reserva legal" (REsp nº 522.567/MG, Rel. p/ acórdão Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, Terceira Turma, julgado em 8/3/2005, DJ 2/5/2005 - grifou-se).

No referido precedente, o debate se estabeleceu em torno da possibilidade ou não da pactuação de cláusula de variação cambial em cédula de crédito rural.

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Superior Tribunal de Justiça

Naquele julgado, bem ressaltou a eminente Ministra Nancy Andrighi, em voto vencido, que a estipulação de cláusula cambial em cédula de crédito rural era autorizada pelas Resoluções CMN nº 2.148/1995 e 2.483/1998, e que

"(...) tais regulamentos foram editados com base na competência normativa outorgada pela Lei nº 4.595/1964 (art. 4º, incs. VI e XXXI) ao Conselho Monetário Nacional para 'disciplinar o crédito em todas as suas modalidades e as operações creditícias em todas as suas formas', bem como para baixar normas que regulem as operações de câmbio, inclusive swaps, fixando limites, taxas, prazos e outras condições'".

Na ocasião, sagrou-se vencedora a proposição manifestada pelo saudoso Ministro Carlos Alberto Menezes Direito:

"(...)

Senhora Ministra Presidenta, louvo a interpretação apresentada por Vossa Excelência, conjugando a Lei nº 8.880/94 com a Lei nº 4.595/64; todavia, na minha compreensão, não se deve dar elasticidade ao art. 6º da Lei nº 8.880, de 1994, considerando que tal artigo impõe o princípio da reserva legal. Anoto que a cédula é posterior à Lei nº 8.880/94.

Admitir a ruptura desse princípio ao argumento de que o Conselho Monetário Nacional, por via de delegação, poderia autorizar o reajuste de contratos pela variação cambial, significaria romper a disciplina positiva que teve por objetivo impedir o reajuste subordinado à variação do dólar norte-americano (REsp nº 303.258/PR, Relator o Ministro Ruy Rosado de Aguiar, DJ de 17/6/03)."

Ouso discordar de Sua Excelência, sobretudo porque a tese apresentada pela eminente Ministra Nancy Andrighi, conquanto vencida naquela oportunidade, tem ampla aceitação na atual jurisprudência desta Corte, não se podendo olvidar que a própria "disciplina positiva que teve por objetivo impedir o reajuste subordinado à variação do dólar

norte-americano", ou seja, o art. 6º da Lei nº 8.880/1994, contemplou exceções que devem ser

interpretadas de acordo com as especificidades de cada contrato.

Nos inúmeros julgados versando acerca de possíveis ilegalidades na cobrança de tarifas bancárias, por exemplo, esta Corte Superior sempre pautou o seu entendimento nas normas dos arts. 4º e 9º da Lei nº 4.595/1964, recepcionada pela Constituição Federal como lei complementar, que delegam competências, respectivamente, ao Conselho Monetário Nacional e ao Banco Central do Brasil.

Conforme já salientado, os incisos VI e XXXI do art. 4º da Lei nº 4.595/1964 preveem a competência do Conselho Monetário Nacional para "disciplinar o crédito em todas as suas modalidades e as operações creditícias em todas as suas formas, inclusive aceites,

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avais e prestações de quaisquer garantias por parte das instituições financeiras" e "baixar

normas que regulem as operações de câmbio, inclusive swaps, fixando limites, taxas, prazos e outras condições", ao passo que o art. 9º dispõe a respeito da competência do Banco Central do Brasil para "cumprir e fazer cumprir as disposições que lhe são atribuídas pela

legislação em vigor e as normas expedidas pelo Conselho Monetário Nacional".

No exercício desse mister, o Banco Central do Brasil, sempre antecedido de deliberação do Conselho Monetário Nacional, editou diversas resoluções disciplinando a forma do repasse de empréstimos externos.

A Resolução CMN nº 63/1967, vigente à época da contratação, ao facultar aos bancos comerciais autorizados a operar em câmbio a contratação direta de empréstimos externos destinados a serem repassados a empresas no país, quer para financiamento de capital fixo, quer de capital de movimento, dispunha o seguinte:

"III - As instituições financeiras de que trata esta Resolução poderão repassar os recursos provenientes da conversão, em moeda nacional, dos empréstimos externos negociados, obrigando-se o mutuário à respectiva

liquidação mediante cláusula de paridade cambial."

Tal normativo pouco dizia a respeito das demais condições desse tipo de contrato, relacionadas com o repasse de custos e com a remuneração devida à instituição repassadora, senão que os bancos deveriam preencher formulário próprio e apresentá-lo ao Banco Central, "para fins de verificação da compatibilidade da taxa de juros declarada com a

vigorante no mercado financeiro de onde procede o empréstimo" (item IV).

Esses critérios, conforme alegado pelos recorrentes, estavam previstos na Circular/Bacen nº 180/1972, também editada após deliberação do Conselho Monetário Nacional, que assim dispunha:

"VI - Além do montante em moeda nacional correspondente à

cobertura da dívida em moeda estrangeira (principal, juros e acessórios) e do Imposto sobre Operações Financeiras, o Banco repassador não poderá cobrar do beneficiário da operação, pelos seus serviços, qualquer outro ônus, a qualquer título, além de uma comissão de repasse." (grifou-se)

A Resolução CMN nº 63/1967 foi revogada pela Resolução CMN nº 2.770/2000 (também já revogada), que assim passou a disciplinar a matéria:

"Art. 5º Às instituições financeiras e às sociedades de arrendamento mercantil é facultada a captação de recursos no exterior para livre aplicação no mercado doméstico, observados os respectivos campos

Referências

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