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Anais V CIPSI - Congresso Internacional de Psicologia Psicologia: de onde viemos, para onde vamos? Universidade Estadual de Maringá ISSN X

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Academic year: 2021

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INTERAÇÕES NO ESTUDO DA PINTURA NA UNATI – UEM

Eloiza Amália B. Sestito* Regina Lúcia Mesti O presente texto tem por objetivo analisar a experiência pedagógica de estudo de pinturas impressionistas com os alunos da Universidade Aberta à Terceira Idade (UNATI). Buscamos analisar o percurso de apreciação do objeto artístico, promovido pelas intervenções pedagógicas criadas no curso Conhecendo Arte na UNATI, com a finalidade de promover as interações dos alunos com obras pictóricas e o conhecimento da história da arte.

A metodologia de análise da pintura fundamenta-se nas etapas de estudos (descrever, analisar, interpretar, fundamentar e criar) propostas pelo professor norte americano Robert Ott (2008) e nos conteúdos estruturantes estabelecidos para disciplina de Arte, nas Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná (2008).

A criação das intervenções pedagógicas, estruturada em etapas sucessivas de estudo da pintura, tem como pressuposto que o conhecimento de arte não resulta das primeiras impressões espontâneas, ainda que as mesmas sejam consideradas importantes no percurso de conhecer, a compreensão estética é uma conquista que poderá resultar de ações investigativas. A valorização, em âmbito educacional, dessa metodologia de estudo faz parte do universo de nossa pesquisa institucional: Arte na Escola e Compreensão Estética.

A Universidade Aberta à Terceira Idade foi criada na Universidade Estadual de Maringá em dezembro de 2009, com o objetivo de oferecer às pessoas acima de 55 anos de idade a possibilidade de desenvolver competências que gostariam de ter desenvolvido no curso de suas vidas, e, até então por alguma razão foram impossibilitadas. Na UEM foi constituída como um órgão suplementar e oferece cursos concernentes a seis eixos temáticos: arte e cultura, processos e procedimentos comunicativos, saúde física e mental, direito e cidadania, meio físico e social e humanidades. Com base nestes eixos temáticos foi elaborada a proposta do curso Conhecendo Arte.

Nossa análise refere-se ao percurso de aprendizagem da apreciação do objeto artístico, possibilitado pelo curso Conhecendo Arte na UNATI. É preciso ressaltar que a seleção dos

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alunos da UNATI foi meramente por ordem de chegada para efetuar a inscrição, uma vez que não foram utilizados os critérios de escolarização. Assim, constituíram-se grupos de alunos bem heterogêneos, com a prevalência do sexo feminino, e com os mais variados níveis de escolaridade. Pessoas com curso de pós-graduação, que e aturaram nas áreas da educação e do comércio, senhoras donas de casa com o ensino fundamental incompleto.

A intervenção pedagógica, desenvolvida em 2010, com os alunos da UNATI, foi estruturada em etapas de estudo da pintura impressionista1 e constituída como um processo de investigação, a partir de várias obras de artistas do movimento impressionista como de: Claude Monet (1875), Pissarro (1897), Edgard Degas (1834-1917). De maneira entusiasmada, principalmente nas etapas de análise, contamos com a presença de todos em busca de aprender a ver, entender as significações da pintura e os conhecimentos sistematizados pela história da arte. A cada aula, podíamos ouvir as manifestações dos alunos em busca de entender e aprender a ver cada vez mais. Aprender proporcionava uma nova forma de ver a pintura, o mundo e a vida. Escutávamos expressões: “_onde eu estava que nunca havia visto isso antes?” “_Eu não consigo parar de ver, parece que antes não existia tantas imagens e obras de arte”.

Cada etapa dessa metodologia de estudo tornou-se oportunidade de manifestações da percepção de elementos e composição da obra pictórica. Por exemplo, na etapa de análise da pintura foi necessário explicações a respeito da participação dos elementos formais, como linhas, formas, cores, pontos, espacialidades, em cada pintura. Ao mesmo tempo, todos manifestavam suas observações a partir da percepção que conquistavam.

Na etapa da interpretação, também participativa, a emoção e as experiências particulares auxiliavam no exercício de conhecer. Na etapa de fundamentação, a intervenção pedagógica se realizou com a busca de conhecimentos sistematizados sobre a obra, o contexto social e histórico de sua produção e o movimento artístico indicados na história da arte.

O estudo das características do estilo impressionista foi iniciado pelas obras de Monet, considerado o precursor do movimento. Segundo a pesquisa em história da arte, desenvolvida 1Pintura impressionista é desenvolvida no final do século XIX por artistas franceses que a partir da observação da incidência

da luz solar sobre paisagens e objetos buscaram representar as variações cromáticas e as formas que se configuravam nessa projeção e para isso pinta rapidamente sem trabalhar detalhadamente as cores e as formas, os contornos se diluem e se confundem, de forma que a imagem é mais bem compreendida quando vista de certa distância (Gombrich, 1999).

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por Gombrich (1999), foi de Claude Monet (1840-1926) a proposta que os artistas deixassem os ateliês e observassem a natureza ao ar livre, buscando as transformações cromáticas ocorridas com a incidência de luz solar sobre os objetos “o pintor que espera captar um aspecto característico não dispõe de tempo para misturar e combinar suas cores [...], como haviam feito os velhos mestres” (Gombrich, 1999, p.518-519).

No estudo da pintura a etapa denominada fundamentação, pode ser constituída pela investigação a respeito do contexto histórico de criação da obra, além das condições sociais e políticas do período é considerado importante observar onde foram expostas e como foram as pinturas recebidas pela crítica.

Essa é uma área na qual a ação dos alunos de interpretar obras de arte é baseada em um conhecimento adicional disponível no campo da História da Arte ou em alguma crítica que tenha sido escrita ou dita a respeito da obra. O tesouro do conhecimento artístico que está sendo armazenado pelo aluno é posteriormente fundamentado pelo arte-educador que lhe apresenta pesquisas as respeito da obra de arte. A informação adicional proporcionada nesse ponto no sistema tem a intenção de ampliar a compreensão do aluno e não de convencê-lo a respeito do valor da obra de arte (Ott, 2008, p. 133).

A pintura impressionista, composta por pinceladas rápidas produzia um contorno diluindo a nitidez da forma o que causou críticas em suas primeiras exposições. Só após entender que seria necessário observar as obras, com alguns metros de distância, para que a definição das formas pudesse ser apreciada é que essas pinturas passaram a ser admiradas. “Realizar esse milagre e transferir a experiência visual do pintor para o espectador constitui a verdadeira finalidade dos impressionistas” (Gombrich, 1999, p.522).

Nessa etapa da fundamentação, nos movimentamos em busca de situações na história da arte de tratamento da luz na pintura, demos um salto para trás, nas raízes academicistas, para que, de forma comparativa identificássemos algumas transformações ocorridas na pintura. Aprendemos a ver características de formas de constituição da luz nas obras do renascimento, do barroco e do neoclassicismo, como inspiração e objeto de estudo.

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O desenvolvimento do curso Conhecendo Arte com os alunos da UNATI foi estruturado com intervenções pedagógicas que proporcionaram a inter-relação de diferentes dimensões do conhecimento. A metodologia exigia, ainda, a relação entre os conceitos do estudo da pintura com situações do cotidiano. O início da primavera nos continentes europeu e asiático proporcionou notícias veiculadas na imprensa sobre práticas sociais do piquenique nos parques. Durante essa semana os alunos trouxeram muitas cópias de reportagens e comentários, buscava-se identificar a relação dessas situações cotidianas com o estudo dos elementos e composições das pinturas impressionistas.

A discussão sobre algumas reportagens veiculadas no jornal televisivo e impresso, sobre a tradição japonesa dos Sakurás ganhou sessões especiais de estudos, com projeções de imagens desses piqueniques realizados em baixo das cerejeiras em flor. A admiração foi unânime: é incrível a semelhança das imagens das reportagens e as cenas das pinturas impressionistas. A leitura da história da arte contribuiu para compreender tais semelhanças: “[...] foi somente com o impressionismo, de fato, que a conquista da natureza se tornou completa, que tudo o que se apresentava aos olhos do pintor pôde converter-se em motivo de um quadro e que o mundo real, em todos os seus aspectos, passou a ser um objeto digno do estudo do artista” (Gombrich, 1999, p. 516). Conclusão que todos chegamos ao comparar e analisar as imagens trazidas das reportagens com as pinturas observadas é que agora os temas abordados estão na natureza e na vida social.

Essa metodologia que estrutura a análise das pinturas conferiu sentido às explicações de pesquisas que afirmam que o exercício de ver possibilita a aprendizagem da compreensão estética. A respeito desse percurso de aprender a ver, as professoras e pesquisadoras Ana Amélia Buoro e Bia Costa (2007, p. 261-262) explicam

A leitura de imagem acontece numa relação de redes de significados que são construídas por meio de patamares de sentido, que, por sua vez, se estruturam para perceber o que está sendo dito por essa imagem e como ela diz o que diz. [...] O discurso do objeto da arte também pode ser entendido como uma equação poética montada pelo artista. No momento da leitura ela precisa ser resolvida pelo leitor, a partir de dados que nela estão. Ao realizar a leitura da imagem, o leitor inicia o seu percurso percebendo as partes que

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compõem a esse texto, descrevendo a imagem. Num segundo momento estabelece relações entre as partes e das partes com o todo, construindo seus sentidos, ou seja, analisando-a. Para se chegar à interpretação devem ser relacionados os dados obtidos no passo da descrição, no passo da analise e somados a eles outras informações históricas diacrônicas e sincrônicas referentes ao texto lido. Assim, por meio dessa equação de interpretação, pode-se afirmar que a significação é maior do que a simples somas das partes.

Outra etapa foi a de transformar o conhecimento da arte e representou uma oportunidade para os alunos articular os diversos elementos estudados em uma experiência estética de elaboração de um trabalho criativo. Sobre o ato de transformar ou interpretar criativamente o conhecimento da arte, adquirido por meio da experiência do estudo da obra, Roberto Ott (2008, p. 126) esclarece

A transformação estimula a integração dos conceitos inerentes à estética, História da Arte e crítica de arte. Quando o aluno está envolvido no ato de transformar, ele não copia ou simplesmente descreve a partir de uma obra, mas cria outra que é baseada nas percepções e compreensões que derivam do observar as obras. O resultado dessa produção adquire um novo significado por meio da integração. O crescimento estético do indivíduo é fundamental para essa aprendizagem. O processo de estudo da imagem da arte faz compreender que a intervenção pedagógica consiste em sistematizar o percurso no sentido de orientar o olhar, e criar possibilidades de interpretação e compreensão.

Percebemos que cada um dos alunos da UNATI tinha interesse pela arte, mas ao final, mais do que gostar de arte, agora compreendem que em suas várias, a arte pode refletir e mediar os significados dos contextos vividos. Com as interações e discussões foi possível observar ganho cultural, estético, além do próprio conhecimento por parte dos alunos.

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Referências

Gasparin, J. L. ( 2007). Uma didática para a Pedagogia Histórico Crítica. 4ª ed. ver. e ampl. Campinas/SP. Editores associados.

Gombrich, E. H. (1999). A História da Arte. 16º ed. Rio de Janeiro, LTC.

Hauser, A. (1982). História Social da Literatura e da Arte. Tomo II. 4ª ed. (Walter H. Geenen, trad.). São Paulo: Mestre Jou.

Paraná. (2008). Secretaria de Estado da Educação. Departamento de Ensino de Primeiro Grau. Diretrizes Curriculares de Arte para os anos finais do Ensino Fundamental para o Ensino Médio. Curitiba: SEED/DEPG.

Parsons, M. J. (1992). Compreender a Arte. Lisboa.

Ott, R. W. (2008). Ensinando crítica nos museus. In: Barbosa, A. M. (Org.), Arte-Educação: leituras no subsolo. 7 ed. (pp. 113-141). São Paulo: Cortez.

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