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Contribuição do melhoramento genético à produção e qualidade da carne ovina no Brasil 1

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Contribuição do melhoramento genético à produção e qualidade da carne

ovina no Brasil

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Daniel Benitez2, Ricardo A. Cardellino3,Wandrick Hauss de Sousa2

1 VII Simpósio Brasileiro de Melhoramento Animal, Universidade Federal de São Carlos SP, 10-11/07/2008. 2Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba (EMEPA), João Pessoa PA.

3Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), Pelotas RS.

Introdução

O Brasil tem sem dúvida o potencial para ser um grande produtor de carne ovina de excelente qualidade, competitiva a nível internacional, e com a capacidade de concorrer no mercado nacional com as carnes das outras espécies. Por sua vez, o melhoramento genético tem o potencial para contribuir de forma substancial ao desenvolvimento da ovinocultura de corte. O presente trabalho considera alguns fatores conjunturais, históricos e técnicos que condicionam a contribuição atual do melhoramento genético à produção de carne ovina, e examina os principais fatores que podem tornar realidade esse potencial produtivo do país.

Pela limitante de espaço e tempo, e do próprio enfoque do presente trabalho, não foi possível apresentar uma revisão bibliográfica completa dos trabalhos de pesquisa relevantes realizados no Brasil na área de ovinos de carne, que seguramente ultrapassam o meio milhar. Assim sendo, e para não fazer citações somente de alguns destes trabalhos, o que implicaria em justiça parcial no reconhecimento dos pesquisadores brasileiros, optou-se por não citar trabalhos específicos, especialmente na primeira parte do trabalho onde optou-se faz uma retrospectiva histórica do melhoramento genético no contexto da produção de carne ovina. Na parte final do trabalho são apresentados parâmetros genéticos e algumas tecnologias propostas para o futuro e nesse contexto algumas citações referentes a pesquisas internacionais fazem-se necessárias para fundamentar o apresentado.

A fim de avaliar a contribuição que o melhoramento genético tem realizado e a que, se determinadas estruturas sofrerem mudanças, poderá aportar ao setor da ovinocultura de carne, é imprescindível conhecer as etapas que tem atravessado o setor, as sua particularidades e as conseqüências que cada uma delas teria sobre o setor.

Os benefícios do melhoramento genético, independente de espécie e raça, podem ser substanciais. Para isso é necessário o atendimento de certas condições, entre as quais se destacam como imprescindíveis e necessárias:

o Conhecer os genótipos de maior distribuição no país

o Conhecer o que esses genótipos estão produzindo e podem chegar a produzir o Escolher claramente o que se almeja e se pode obter, os objetivos

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o Estabelecer que recursos estão disponíveis

o Verificar possibilidade, necessidade e interesse dos criadores em aumentar os atuais

níveis de produção e melhorar as características dos produtos

o Determinar que tipo de produto final o mercado está realmente demandando

o Estabelecer as possibilidades de melhorar o manejo para atender as necessidades

crescentes que muito provavelmente terão os animais melhorados.

Para analisar melhor os pontos citados anteriormente, apresenta-se uma síntese sobre as diferentes fases que a ovinocultura nacional tem atravessado desde que começou o ingresso mais significativo, ao país, dos genótipos ovinos especializados em produzir mais e melhor carne. Conhecendo essa realidade, se tentará avaliar se o melhoramento genético tem encontrado as condições mínimas necessárias para contribuir ao incremento quantitativo e qualitativo da produção de carne de ovinos, de acordo com seu potencial.

Etapas da criação ovina e suas relações com a produção de carne Região Sul

Historicamente a criação de ovinos no Brasil esteve concentrada no Rio Grande do Sul. Chegou-se a uma população de 12,5 milhões de animais em 1985 e a produzir 30.000 toneladas de lã em 1971. Outro pólo de criação tem sido a região Nordeste onde majoritariamente se concentram os genótipos nativos adaptados às peculiaridades do ambiente semi-árido.

Dos ovinos que povoavam os campos do Rio Grande do Sul quase 65% eram da raça Corriedale (lãs medias com diâmetros entre 26,5 - 30,2 microns), 20% da raça Ideal (22-26 microns), 10% Merino Australiano (lãs finas entre 20-22 microns) e 5% da raça Romney Marsh produtora de lãs grossas (> 31 microns). Esta última raça apresentava maior vocação para produzir carne, caracterizada por altos níveis de gordura que eram aceitos e até procurados. Essa carne era basicamente consumida nas fazendas e, durante as guerras mundiais, exportada aos frentes de batalha.

Até o final dos anos 80 a comercialização da lã era comandada pela demanda sempre significativamente superior à oferta, estabelecendo-se assim a comercialização com base na quantidade e não na qualidade da lã. Pouca valorização foi dada às características mais importantes para a indústria: peso de velo limpo e diâmetro médio das fibras. Como não se remunerava a qualidade, os animais eram muitas vezes colocados nos centros de manejo e movimentados freqüentemente para levantar poeira e assim o pó acumular-se nos velos e aumentar o peso dos mesmos. Portanto, não foi um período exigente em relação à qualidade da lã, e durante o qual a carne era um subproduto com pouco interesse comercial, utilizado para o consumo direto pelos empregados das fazendas e para vendas informais aos açougues.

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Na produção de lã interessava o volume de produção (peso de velo sujo por cabeça) e conseqüentemente os rebanhos tinham um alto percentual de animais adultos. Assim, a carne consumida nas fazendas e as vezes comercializada informalmente, era de fêmeas de descarte (> 5 anos) e de borregos e capões (machos > 2 anos).

Mesmo com esse panorama de pouca valorização pela qualidade do produto lã, surge em 1977 a primeira proposta organizada e com bases científicas para realizar avaliações genéticas de ovinos. Os docentes do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Pelotas – UFPEL, tomando como base os princípios dos programas Woolplan da Austrália e Flock-Testing do Uruguai, apresentaram o Programa de Melhoramento Genético dos Ovinos Lanados – PROMOVI. Nessa proposta, além da UFPEL participaram até 1995, o Ministério da Agricultura, a Associação Brasileira de Criadores de Ovinos - ARCO, a Embrapa Pecuária Sul, Bagé e as Cooperativas de Uruguaiana e Jaguarão no Rio Grande do Sul. A única característica vinculada à produção de carne contemplada no PROMOVI era o peso corporal, que tem uma alta correlação com maior diâmetro da fibra e maior peso do velo. Procuravam-se animais mais pesados, com maior área corporal para produzir lã, e paralelamente pensava-se na produção de carcaças mais pesadas.

O mercado mundial de lãs era dominado pelas instituições australianas com o respaldo do governo que estabelecia um “preço base” para a lã. Em 1990 esse preço base foi retirado e o mercado laneiro mundial entrou em colapso. A conseqüência imediata foi que as populações ovinas dos quatro países mais importantes na produção mundial de lãs (Austrália, Nova Zelândia, Uruguai e África do Sul) em dez anos diminuíram em conjunto suas existências quase que 45% como forma de reduzir a oferta e assim segurar a queda sistemática do preço da fibra.

No final dos anos 70 e durante a década dos 80 foram importados ao Brasil alguns exemplares das raças de carne (Suffolk, Hampshire Down, Ile de France e Texel). Foi a partir do colapso dos preços da lã que alguns criadores, basicamente do Rio Grande do Sul, São Paulo, Paraná e Santa Catarina, intensificaram as importações e a multiplicação desses genótipos seja em forma pura ou através de cruzamentos absorventes tendo como base fêmeas predominantemente da raça Corriedale. No Rio Grande do Sul esses cruzamentos foram aceitos muito vagarosamente, já que os criadores aguardavam esperançosos uma retomada dos preços da lã. Isso terminou não acontecendo até o presente momento, a não ser os preços das fibras de lã de altíssima qualidade, por exemplo, Merino superfino, menos de 19 microns, que não são produzidas no Brasil.

A explosão comercial que durante os anos 90 tiveram as raças especializadas na produção de carne, fez com que se importassem por volta de 3.000 reprodutores Texel, Hampshire Down, Suffolk, Ile de France e Poll Dorset. A utilização e multiplicação desses reprodutores foi realizada quase na sua totalidade nos rebanhos de elite, sem chegar aos criadores comerciais. A concentração dos novos genótipos tipo carne nesse estrato, que não é o principal responsável pela oferta de carne ao mercado consumidor, impossibilitou quantificar se houve ganhos na quantidade de qualidade do produto carne ovina. Pelo menos não foram evidentes.

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Algumas propostas de melhoramento genético das raças tipo carne no Sul Com o objetivo de conhecer alguns dos indicadores produtivos dessas raças, nos ambientes e sistemas de produção nacionais e promover o melhoramento genético, a ARCO, a Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Sul -FEPAGRO, a Embrapa Pecuária Sul, a UFPEL, a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUC-RS e as associações de raças, formularam em 1995, e coordenaram em conjunto até o ano 2000, o Teste Centralizado de Desempenho de Cordeiros Tipo Carne - TCDCTC.

Esse teste foi a primeira proposta implementada oficialmente, de avaliar comparativamente exemplares das raças Texel, Hampshire Down, Suffolk e Ile de France. Durante 90 dias na Central de Avaliação, cordeiros de 4-5 meses de idade eram avaliados pelo ganho de peso médio diário e total, e pelas características de composição corporal in-vivo através da técnica de ultra-sonografia. Técnicos da ARCO avaliavam os aspectos de conformação e padrão racial atribuindo escores.

Paralelamente, as mesmas instituições, com o objetivo de avaliar animais em nível de fazenda, dentro de cada raça e grupo contemporâneo, elaboraram o Teste de Velocidade de Crescimento - TVC. Esse teste avaliou, a partir de 1995, em estabelecimentos localizados nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, cordeiros machos e fêmeas, em duas etapas do seu crescimento: do nascimento até a desmama e durante 90 dias após a desmama. O objetivo era auxiliar aos criadores na escolha dos animais candidatos a progenitores com base no desempenho desde o nascimento. Paralelamente, com base nos pesos à desmama, tinha-se um indicador para a seleção por habilidade materna das fêmeas de cria.

A proposta teve muito boa aceitação durante os dois primeiros anos de trabalho, e posteriormente foi abandonada, principalmente por falta de estímulo comercial a curto prazo. A alta demanda comercial por reprodutores, independentemente do desempenho dos mesmos, não fazia necessário qualificar geneticamente os animais levados à comercialização, e o TVC deixou de ser utilizado. Neste caso, por falta de interesse, abrangência e continuidade, não foi possível incorporar efetivamente ações de melhoramento genético ao processo de produção de carne ovina.

O fato de que as propostas surgiram em momentos nos quais o mercado de reprodutores eram extremamente ávido de animais, não estimulava aos criadores a ingressarem em processos que, mesmo com benefícios certos a médio e longo prazo, eram considerados trabalhosos e sem aumentos imediatos da rentabilidade. Independentemente dos dados que as avaliações apresentassem, não haveria benefícios comerciais e existiam sim, riscos para os animais que dentro de cada grupo e dentro de cada raça, ficassem classificados com valores relativos inferiores. Temia-se que essa classificação relativa inferior nos testes terminasse prejudicando comercialmente o animal e, como conseqüência mais preocupante, todo o estabelecimento.

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Para as raças tipo carne, puras e em cruzamentos basicamente com Corriedale, bem como para as raças produtoras de lã (Corriedale e Ideal) têm sido realizados numerosos experimentos avaliando o desempenho desses genótipos tanto em animais vivos como das carcaças. Esses trabalhos têm gerando informações comparativas valiosíssimas sobre sistemas de produção, idade e peso de abate para cada sistema, etc. Lamentavelmente o grau de transferência dessas tecnologias aos criadores comerciais é muito baixo, sem as condições necessárias para o melhoramento genético entrar em ação através de uma das suas alternativas, como são os cruzamentos.

Mesmo reconhecendo o real potencial que essas raças especializadas têm para produzir carne em rebanhos puros, devemos ter presente que em quase todas as espécies os volumes comerciais de carne são produzidos por genótipos oriundos de cruzamentos. No Brasil, os produtos diferenciados gerados por esses genótipos puros têm ficado restritos a pontos de comercialização especializados que não são significativos nos volumes de produção e comercialização. Para os potenciais consumidores, principalmente aqueles que não têm tradição de consumir carne ovina e que devem ser cativados por produtos que além da qualidade tenham preços competitivos, continuidade e padronização na oferta, para esses não têm sido visíveis os benefícios da introdução no mercado produtivo desses genótipos especializados. A pesar de que as estratégias que os criadores de rebanhos puros têm utilizado foram, e são, altamente rentáveis para os mesmos, esses benefícios não têm se estendido ao setor produtivo como um todo, nem aos consumidores.

Não tem sido dada a necessária importância à introdução de genótipos que tenham na prolificidade a principal característica. Um dos benefícios que o melhoramento genético pode aportar à produção de carne é maior quantidade de produto, pela seleção de linhagens que tenham características reprodutivas diferenciadas, principalmente maiores taxas de desmama. As raças especializadas na produção de carne introduzidas ao país, apresentam nos seus ambientes originais elevados índices de desmama, porém devem ser criadas no ambiente que lhes possibilite alcançar esses valores. Poucos criadores priorizam a seleção das fêmeas que provenham de, ou apresentem partos múltiplos, e preferem “criar bem um a que morram dois” ou diretamente relegam a segundo plano às fêmeas que têm esse desempenho reprodutivo.

Para os criadores que têm seu mercado, não no volume de carne e sim na comercialização de animais vivos em exposições ou leilões particulares, que geralmente têm pouca área para a criação e que se focalizam no “animal ideal” e não no melhoramento do rebanho em nível populacional; um cordeiro “bem criado” é o principal objetivo.

A maioria dos criadores de rebanhos comerciais, principalmente nas regiões tradicionalmente criadoras de raças produtoras de lãs, ingressou no mercado de produção de carnes sem a infra-estrutura e o acompanhamento técnico necessários para obter boa rentabilidade. Não levaram em consideração que esses genótipos são também mais exigentes em relação a manejo nutricional e em vez de aumentar os índices reprodutivos, incrementaram-se significativamente os índices de mortalidade neonatal e mortalidade até a desmama. Paralelamente, o desenvolvimento corporal dos cordeiros não correspondeu às expectativas, gerando frustrações, mais produto de falhas no manejo que devido aos genótipos.

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Outra deficiência de gerenciamento está relacionada com o correto uso da escrituração zootécnica. Poucas vezes na seleção dentro de rebanhos se realizam correções para fatores como idade da mãe, tipo de nascimento e tipo de criação. Assim, na seleção “a campo” os cordeiros de maior tamanho são preferidos sem levar em conta a sua idade, a idade das mães e se foram nascidos e criados como simples ou múltiplos. O correto uso de fatores de correção para efeitos não genéticos é mais uma grande contribuição que o melhoramento genético pode fazer ao setor dos ovinos tipo carne através de um programa de seleção dentro de raça, tanto para escolher progenitores como para realizar o descarte.

Região Nordeste

Analisando a região Nordeste, que é para onde têm se deslocado o pólo da ovinocultura nacional, a principal diferença com o que têm acontecido nas regiões Sul e Sudeste antes comentado, são os genótipos utilizados; os outros componentes do setor são praticamente os mesmos.

O espetacular crescimento que têm apresentado a ovinocultura no Nordeste tem uma “responsável” conhecida que é a raça Santa Inês. As peculiaridades ambientais dessa região, ocupada majoritariamente pelo semi-árido, exige um manejo ainda mais integrado entre todas as áreas temáticas da produção animal para que efetivamente o melhoramento genético possa atuar com sucesso.

As populações de genótipos nativos, a maioria deles em mãos de pequenos criadores, de escassos recursos financeiros e infra-estrutura, e sem a imprescindível assistência técnica, têm gradativa e de forma preocupante, perdido espaço para acasalamentos muito diversos, produto da falta de manejo e, portanto, sem o mínimo planejamento técnico.

Há mais de uma década que a raça Santa Inês atravessa um momento comercial excepcional. Esta raça ocupa um lugar preponderante na pecuária nacional, com expansão rápida em grande parte do território nacional, criando desta forma uma demanda crescente e insatisfeita, levando a que alguns dos mais renomados criatórios de reprodutores tenha suas produções vendidas a futuro, tendo as mesmas já compromissadas até a metade do ano seguinte, só com base na genealogia dos animais, sem a mínima preocupação pelo desempenho dos mesmos.

Essa situação, a semelhança do comentado para as regiões Sul e Sudeste nas décadas dos 80 e 90, mais uma vez provoca que seja muito difícil conscientizar os criadores dos princípios, exigências e principalmente dos benefícios de participar inicialmente de processos de avaliações genéticas e, numa etapa mais avançada, dos programas de melhoramento genético quando esses estejam disponíveis para o setor.

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Algumas propostas de melhoramento genético no Nordeste

Independente deste panorama pouco propício, a propostas de melhoramento genético, diversas instituições de pesquisa e ensino da região, como a Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba - EMEPA, a Embrapa Caprinos, Sobral, as Universidades Federais de Pernambuco, Paraíba, Ceará, a Associação Sergipana de Criadores de Ovinos - ASCO, em colaboração com a Universidade de São Paulo, Pirassununga e a Associação de Criadores de Ovinos e Caprinos da Bahia, há vários anos vêm desenvolvendo competentes e insistentes projetos de pesquisa e difusão das atividades de seleção dentro de raças e cruzamentos.

Ao longo dos últimos oito anos, em colaboração entre EMEPA e Embrapa Caprinos, têm sido realizadas várias Provas de Desempenho em Confinamento de machos Santa Inês, com idades entre 4 e 6 meses. As avaliações têm duração variável entre 56 e 84 dias, período durante o qual são coletados dados de morfometria, desenvolvimento ponderal, avaliação da composição corporal pela técnica da ultra-sonografia, e avaliação subjetiva. Destaque também merecem os testes que vem sendo conduzidos pela ASCO, inclusive com a apresentação de Sumários de Carneiros.

Em abril do ano 2008, sob a coordenação da Embrapa e com a colaboração de várias instituições de ensino e pesquisa e de classe, foi dado início ao processo de elaboração das bases do Programa Nacional de Melhoramento Genético de Ovinos. É um processo longo e trabalhoso, porém imprescindível para estabelecer novas bases sobre as quais realmente o melhoramento genético possa contribuir à altura do seu potencial.

Etapas a superar para que o melhoramento genético possa contribuir substancialmente ao aumento da quantidade e qualidade da carne ovina no Brasil

Pelo anteriormente exposto fica evidenciado que as condições nas quais as atividades do melhoramento genético podem ser úteis no incremento da produção de carne ovina de qualidade, distam de ser as mínimas necessárias para realmente poder potencializar seus benefícios.

Com base nesse marco do setor, embora na atualidade bastante negativo, passamos a comentar e responder aos questionamentos apresentados no início do presente trabalho.

1. Conhecer os genótipos que se têm

O Brasil é extremamente rico em variabilidade genética da espécie ovina. Entre genótipos nativos e exóticos conta-se com uma base genética ampla para a produção de carne ovina de qualidade. Na Tabela 1 listam-se as raças ovinas com populações comerciais significativas, disponibilidade de reprodutores, sêmen e/ou embriões.

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Tabela 1. Recursos genéticos ovinos disponíveis no Brasil. Principais raças (+ = importância relativa)

Raças lanadas Lã Carne Raças deslanadas Carne Pele

Merino Australiano Ideal Corriedale Romney Marsh Hampshire Down Suffolk Texel1 Ile de France Poll Dorset Border Leicester3 Bergamácia Brasileira4 Crioula2 +++++ ++++ +++ ++ + + + ++ + + + +++1 + ++ +++ ++++ +++++ +++++ +++++ +++++ +++++ +++++ ++++ + Santa Inês Morada Nova Rabo Largo Somalis Brasiliera Cariri Dorper3 White Dorper3 ++++ +++ +++ +++ +++ +++++ +++++ ++ ++++ ++ ++ ++ ++ ++

1 Origens: Francês, Holandês, Alemão; 2Lã para artesanato; 3 Rebanhos puros limitados; 4 Leiteira.

2. O que esses genótipos estão produzindo e o que podem chegar a produzir Como foi detalhadamente comentado anteriormente, as condições de mercado e a falta de incentivo comercial para melhorar a quantidade e qualidade de produto final, fez e faz com que, o que se conheça desses genótipos, seja produto de pesquisas com grupos de animais de tamanho limitado, e não do acúmulo de informações de populações realmente representativas dos genótipos oriundos. Desta forma geralmente as conclusões das pesquisas têm ficado de conhecimento restrito das comunidades científicas, mais a título informativo, aumentando o acervo científico, mas não chegando aos criadores comerciais para que possam fazer uso rentável das mesmas.

3. O que se quer obter

Obviamente, o que se quer obter é maior quantidade de carne, da melhor qualidade possível. Porém, para que essa meta seja atingida, o melhoramento genético deve ter uma atuação preponderante, sendo para isso necessário que estejam clara e conscientemente definidos, e com projeção de meio e longo prazo, os objetivos de seleção. Para isso é necessário conhecer informação básica do setor produtivo: que, quanto e como estamos produzindo, informações que atualmente se possuem em forma limitada e com pouca representatividade.

Paralelamente, do setor de transformação e comercialização, necessitamos saber muito claramente e com base em pesquisas de mercado e de consumo, que tipo de produto final (cortes, peso, teor de gordura, etc.) está sendo demandado. Sem conhecer os indicadores atuais das principais características produtivas e sem saber que necessitamos produzir, é pouco provável que o melhoramento genético possa realmente contribuir ao processo de produção de carne ovina.

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4. O que se pode obter

O que se pode obter com a contribuição do melhoramento genético, através da qualificação dos animais e dos produtos, depende de considerações puramente técnicas como os recursos genéticos ovinos a serem utilizados, da elaboração de programas sérios de seleção e acasalamentos, das capacidades gerenciais e de manejo, dos investimentos necessários e possíveisde serem realizados, e dos recursos naturais.

A seguinte citação é de um conhecido produtor de genética de bovinos de corte e produtor comercial de carne: Nunca é demais destacar que sem uma quantidade suficiente

de consumidores satisfeitos não há negócio sustentável nem ganhos satisfatórios. E, sendo os consumidores a razão de qualquer empreendimento, toda e qualquer estratégia de produção pecuária, seja a nível de nutrição, manejo ou genética, deve ser direcionada pelas exigências básicas de mercado: qualidade, custo baixo e oferta permanente e ágil do produto final – carne (Pötter, 1996).

5. Como serão alcançados os objetivos da produção

Uma vez corretamente avaliados em nível populacional os genótipos mais numerosos, que sejam conhecidas as exigências do mercado e claramente definidos os diferentes sistemas de produção para atender o principio básico da interação genótipo-ambiente, será a vez de utilizar as opções que oferece o melhoramento genético, ou seja:

• Seleção dentro de raças • Seleção entre raças • Cruzamentos

Dessas opções, uma necessariamente não exclui a outra. Por exemplo, o sucesso dos cruzamentos depende, entre outros fatores, do sucesso da seleção entre raças, mas também do sucesso da seleção dentro das raças originarias do cruzamento, e, se for o caso, dentro da nova raça formada a partir dos cruzamentos.

6. Que recursos se têm

Essa etapa requer quantificar os recursos naturais, ambientais, financeiros, de infra-estrutura e humanos, tanto de trabalho como técnicos, para assim escolher corretamente os genótipos e sistemas de produção mais adequados.

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7. Que possibilidades, interesse e necessidade os criadores têm de aumentar os atuais níveis de produção e melhorar as características dos produtos. Devem-se diferenciar os criadores de ovinos cujo objetivo é a venda de reprodutores, e os criadores de rebanhos comerciais cujo objetivo é venda de animais para a produção de carne. A disparidade de objetivos de produção entre os estratos de pirâmide produtiva, principalmente entre rebanhos elite e comerciais, é um fator decisivo para uma limitada contribuição do melhoramento genético ao processo produtivo. Tanto para os genótipos exóticos das raças tipo carne nas regiões Sul e Sudeste, como para a raça Santa Inês, o material genético melhorado circula quase que exclusivamente entre os criadores de reprodutores, uma parte muito reduzida chega a alguns criadores de rebanhos multiplicadores e quase nada, e em geral de duvidosa qualidade, chega aos rebanhos comerciais.

A forma da pirâmide do fluxo genético esta mudando. Aumentam preocupantemente os componentes do ápice, rebanhos elite, ficando evidente a carência do segmento multiplicador, o que por sua vez significa a quase total ausência do fluxo genético descendente que alimenta os rebanhos gerais ou comerciais, que são a base e o sustento da produção do setor ovino e da cadeia da carne ovina.

Com a realidade comercial já mencionada, o interesse dos criadores de reprodutores não está prioritariamente centrado em trabalhos de melhoramento genético populacional e sim individual e cada vez mais criando condições ambientais para favorecer um rápido e as vezes desproporcional crescimento corporal.

Já para os criadores comerciais, mais que um interesse, a incorporação a seus rebanhos de animais geneticamente melhoradores é uma necessidade, porém encontram-se sem condições financeiras, de infra-estrutura e de assistência técnica, e sem uma remuneração condizente para um eventual produto diferenciado. São sem sombras de dúvidas a parte do setor que poderá mudar o panorama da produção de carne ovina, porém ao mesmo tempo é o segmento do setor menos assistido e estruturado.

8. Que tipo de produto final o mercado está realmente demandando

Dos fatores negativos de para fora da porteira, ou seja, das ameaças, a indefinição do que o mercado demanda é o principal ponto de estrangulamento para as ações do melhoramento genético. Foi mencionado que para dentro da porteira é necessário conhecer e muito bem que material genético se tem e em que ambiente os animais estão produzindo. Mas para melhorar esse material existente temos antes que ter definido quais produtos e com que características o mercado demanda. Como melhorar o que se tem se não se sabe onde se deseja chegar?

A inexistência de uma cadeia produtiva da carne ovina medianamente estruturada não tem permitido a maior integração entre os elos produtivos e as etapas industriais e comerciais. O setor industrial alega que, devido ao fato de que em nível nacional não se tem uma oferta constante e padronizada de quantidade e qualidade de carne, se vê forçado

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a importar. Para exemplificar esta situação temos o caso do Uruguai que têm no Brasil seu principal comprador e que, comparando o período janeiro-abril de 2008 com o mesmo período de 2007, exportou ao Brasil 2.047 toneladas (+12%) com um preço médio de 2.542 dólares por tonelada peso carcaça o que significou um acréscimo de 38% dos valores unitários de exportação. Deve-se lembrar que praticamente 100% das carcaças que chegam do Uruguai são de animais das raças laneiras (85-90% base Corriedale e 10-15% base Ideal). Ante essa realidade pergunta-se:

o Onde está a carne produzida pelo “boom” das raças de carne?

o Que impacto sobre o setor produtivo e sobre as opções dos consumidores teve o

aumento fantástico da ovinocultura de corte?

Essa falta de oferta em quantidade e qualidade leva a que, para atender a demanda menos exigente, a indústria fique sem opções e tenha que comprar todo que lhe oferecem. Como a heterogeneidade em peso corporal, condição corporal, acabamento e idade dos animais é extremamente grande, a indústria paga por quilo de peso vivo desconsiderando características da carcaça e da qualidade da carne.

Sem boas informações dos elos entre o comércio varejista e a indústria, e sem que se estabeleçam parâmetros médios das carcaças e das qualidades da carne, sem que se conheça quanto vai se receber a mais por produzir um animal em condições de abate com x% de rendimento, com y% de cortes comerciais, com z% de peso de carcaça fria, com k% de espessura de gordura subcutânea, com w% de área de olho de lombo; sem saber quanto vai se receber a mais por cada n% em ultrapassar esses valores médios estabelecidos e, finalmente, sem saber quanto custa produzir um animal em condições de abate, sem tudo isso, o melhoramento genético está de mãos atadas, limitado a trabalhos experimentais sem quase nenhúm impacto populacional.

9. Estabelecer que possibilidades existem de aprimorar o manejo para atender as necessidades crescentes dos animais melhorados

Freqüentemente a fórmula básica do melhoramento genético animal, que destaca a influencia do ambiente sobre os valores fenotípicos de produção, tem sido esquecida, especialmente o componente de interação genótipo ambiente. As raças exóticas especializadas na produção de carne, que têm apresentado valores de produção altamente interessantes nos estabelecimentos que trabalham com pequenos grupos em ambientes bem controlados, quando levadas às condições de produção comercial, principalmente em cruzamentos, nem sempre têm correspondido às expectativas dos criadores.

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As causas são várias, entre elas:

o Que geralmente o material genético que chega aos criadores comerciais por

razões de poder aquisitivo é de qualidade inferior

o Que nas regiões tradicionalmente produtoras de lãs, para os cruzamentos têm

sido utilizados geralmente ventres com mais de 4 e 5 anos, muitas vezes chegando ao parto em condição corporal insatisfatória, levando a problemas de distocia ou falta de leite para amamentar suas crias

o O descaso que se faz do fator ambiente pretendendo-se que esses genótipos

externem seus potenciais em ambientes que não atendem suas exigências nutricionais sabidamente maiores, fazendo com que se perca grande parte das vantagens comparativas por deficiências no manejo nutricional.

Conclusões do histórico do melhoramento genético dos ovinos no Brasil

Os trabalhos de melhoramento genético em relação à produção de carne ovina têm se caracterizado por:

o As propostas de avaliações genéticas têm sido sistematicamente desconsideradas

pelos criadores e a maioria dos técnicos, devido a não terem o fator rentabilidade claramente evidenciado nas mesmas.

o Falta de esclarecimento sobre as bases, exigências e benefícios dos trabalhos de

melhoramento genético

o As propostas têm encontrado ambientes “desfavoráveis” já que sempre os

momentos comerciais em relação às vendas de reprodutores têm sido (e são) altamente favoráveis com uma demanda insatisfeita

o O objetivo principal dos criadores de reprodutores é identificar o animal

geneticamente superior, não o rebanho e muito menos a melhoria da raça ou a

qualificação do produto final

o Falta de diretrizes produtivas dos setores industriais e comerciais

o Ausência de bases econômicas que permitam identificar os genótipos mais

rentáveis para cada opção de sistemas de produção

o Escriturações zootécnicas pouco confiáveis muitas vezes corrigidas para as

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Fácil é concluir que implementar avaliações genéticas abrangentes com o marco descrito anteriormente, e pensar em chegar a um Programa de Melhoramento Genético dos Ovinos de Carne integrado e eficiente, é uma tarefa bastante dificultosa e um permanente desafio. Na seguinte parte desta apresentação consideraremos o que se pode fazer, dadas as condições mínimas, e que oportunidades oferece o melhoramento genético como um dos componentes básicos que contribui ao aumento da produção e da qualidade da carne ovina. O que o melhoramento genético tem para contribuir à produção e qualidade da carne

ovina no Brasil

Das considerações anteriormente apresentadas conclui-se que a contribuição do melhoramento genético ao aumento da quantidade e qualidade da carne ovina no território nacional, somente poderá atingir seu potencial se cumpridas certas condições mínimas. O melhoramento genético não pode atuar em um vácuo. Precisa, para seu bom aproveitamento como uma das ferramentas importantes do processo produtivo, ficar inserido no lugar correto na cadeia produtiva da carne ovina, junto aos outros componentes como nutrição, manejo, gerenciamento comercial e de mercado, fatores esses que, na equação básica da genética animal, representam o componente não-genético chamado de forma geral ambiental. Existem alguns aspectos importantes que controlam o progresso genético e que necessariamente devem ser respeitados e até otimizados, se se pretende que o melhoramento genético faça uma contribuição substancial ao progresso do setor ovino como um todo e neste caso mais especificamente à produção de carne.

Da combinação das estratégias do melhoramento genético, seleção dentro de raças, seleção entre raças, cruzamentos, surge a estratégia de melhoramento escolhida, que necessariamente objetiva obter o máximo progresso ou ganho genético em um determinado lapso de tempo, a partir do processo de seleção. O outro componente da estratégia de melhoramento é o plano de acasalamentos que pode incluir animais da mesma raça ou cruzamentos.

Os cruzamentos entre raças tem vários objetivos. Um deles é combinar características de destaque em duas raças. Por exemplo, musculosidade e prolificidade. Outra é fazer aproveitamento da heterose ou vigor híbrido. Hoje em dia nos paises que têm uma cadeia produtiva organizada e eficiente, a produção de carne de todas as espécies com volume comercial, é majoritariamente baseada nos cruzamentos. Passo prévio à escolha do tipo de cruzamento e das raças componentes do cruzamento, é a seleção entre raças que implica uma escolha a partir dos recursos genéticos ovinos disponíveis (Tabela 1). Obviamente que nessa escolha fatores como o sistema de produção a ser utilizado, ambiente, custos, oferta de material genético, viabilidade econômica, expectativas de mercado, resultados da pesquisa internacional e nacional, etc. devem ser considerados.

O conceito que exprime o sucesso que o criador pode esperar a partir da seleção dentro de raças, resume-se na equação do progresso (ou ganho) genético anual, que deve orientar a estratégia adotada. Como fatores positivos, que aumentam o ganho genético, temos a intensidade de seleção e a herdabilidade dos caracteres de interesse econômico. Como fator negativo, que diminui o progresso genético, temos o intervalo entre gerações, ou seja, a idade média do rebanho de cria. A eficiência reprodutiva do rebanho é um dos

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alicerces do melhoramento genético, por um lado permitindo uma alta intensidade de seleção, e por outro lado reduzindo o intervalo entre gerações. Por isso a busca de alta fertilidade, prolificidade, baixa idade ao primeiro parto, são importantes para o sistema de criação. Além disso, a eficiência reprodutiva é um dos maiores, se não o maior, índices que influem no desempenho biológico e econômico de um rebanho.

Caracteres a serem incluídos no melhoramento genético ovino

Devem de ser poucos e importantes, e relacionados diretamente com o retorno econômico, ou seja, devem de responder aos objetivos do melhoramento, marcados fundamentalmente por três indicadores: a eficiência biológica do rebanho, os custos de produção, e o mercado. A inclusão de caracteres pouco o nada correlacionados com esses três componentes não vai oferecer nenhuma vantagem, pelo contrario, perderemos eficiência na seleção e reduziremos o ganho genético e o lucro esperado do programa de melhoramento.

Basicamente os caracteres a serem considerados na seleção pertencem a três grandes categorias: reprodutivos, produtivos e de qualidade do produto. Na Tabela 2 apresentam-se os principais caracteres de interesse no melhoramento genético ovino e suas herdabilidades. Na Tabela 3, correlações genéticas entre os principais caracteres de interesse no melhoramento genético ovino.

Caracteres reprodutivos

A eficiência reprodutiva do rebanho, representada basicamente pelo número médio de cordeiros desmamados por ovelha encarneirada, é sem dúvida o índice de maior relevância no desempenho biológico e econômico de um rebanho ovino produtor de carne. Na Tabela 2 pode-se observar que, a pesar da importância econômica dos vários caracteres ligados à reprodução, todos eles apresentam herdabilidades relativamente baixas, o que implica que o ganho genético esperado da seleção será lento. A pesar disso, dada a importância desses caracteres, deve-se selecionar o rebanho de cria por caracteres como fertilidade e prolificidade.

Existem diferenças entre raças, especialmente na sua prolificidade, podendo-se incorporar maior eficiência reprodutiva a um rebanho, de modo mais rápido, através dos cruzamentos. Obviamente que a nutrição, a sanidade e o manejo reprodutivo tem um papel preponderante na manutenção da eficiência reprodutiva do rebanho, e essa contribuição dos fatores não-genéticos deve considerar-se necessária e sinergística com a procura de genótipos mais eficientes do ponto de vista reprodutivo, tanto pela seleção dentro de raças como pelo aproveitamento das diferenças genéticas entre raças.

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Tabela 2. Principais caracteres de interesse nas primeiras etapas de um programa de melhoramento. h2=herdabilidade; IR=indicativo da importância relativa

Caracteres de reprodução h2 IR

Cordeiros nascidos por ovelha encarneirada 0,10 +++

Cordeiros desmamados por ovelha encarneirada 0,07 ++++++

Peso de cordeiro desmamado por ovelha encarneirada 0,13 +++++++

Cordeiros nascidos por ovelha parida (prolificidade) 0,13 ++++

Cordeiros nascidos vivos por ovelha parida 0,10 ++

Cordeiros desmamados por ovelha parida 0,05 ++

Peso de cordeiro desmamado por ovelha parida 0,11 ++

Ovelhas paridas sobre ovelhas encarneiradas (fertilidade) 0,08 +++

Habilidade materna da ovelha 0,06 ++++

Sobrevivência do cordeiro 0,03 ++++ Taxa ovulatória 0,15 ++++ Perímetro escrotal 0,21 ++++ Caracteres de produção h2 IR Peso ao nascer 0,20 ++ Peso à desmama 0,20 ++++ Peso pós-desmama 0,30 +++ Peso adulto 0,35 ++++

Ganho médio diário 0,17 +++

Caracteres de qualidade do produto h2 IR

Peso da carcaça 0,20 +++++

Rendimento 0,40 +++

Conformação 0,30 +++

Gordura de cobertura in vivo 0,25 ++++

Gordura de cobertura na carcaça 0,30 ++

Área do olho do lombo in vivo 0,12 ++++

Área do olho do lombo in vivo ajustada pelo peso corporal 0,14 ++

Área do olho do lombo na carcaça 0,40 ++

Rendimento de carne magra 0,35 +++++

pH da carne 0,20 +++

Cor da carne 0,10 +++

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Tabela 3. Principais caracteres de interesse nas primeiras etapas de um programa de melhoramento. RA=correlação genética

Caráter 1 Caráter 2 RA

Peso ao nascer Peso à desmama 0,47

Peso ao nascer Ganho de peso pós-desmama 0,29

Peso ao nascer Peso adulto 0,22

Peso ao nascer Ganho médio diário 0,27

Peso à desmama Ganho de peso pós-desmama 0,85

Peso à desmama Peso adulto 0,75

Peso à desmama Ganho médio diário 0,79

Peso pós-desmama Peso adulto 0,93

Peso pós-desmama Ganho médio diário 0,19

Peso adulto Ganho médio diário 0,78

Peso da carcaça Gordura de cobertura na carcaça 0,39

Peso da carcaça Área do olho do lombo na carcaça 0,27

Gordura de cobertura in vivo Área do olho do lombo in vivo 0,40

Gordura de cobertura in vivo Gordura de cobertura na carcaça 0,77

Rendimento Gordura de cobertura na carcaça 0,14

Rendimento Área do olho do lombo in vivo 0,35

Conformação Rendimento 0,45

Conformação Gordura de cobertura na carcaça 0,13

Conformação Área do olho do lombo in vivo 0,27

Cordeiros desmamados por ovelha

encarneirada Cordeiros encarneirada nascidos por ovelha 0.84

Cordeiros desmamados por ovelha

encarneirada Peso de cordeiro desmamado porovelha encarneirada 0.80 Habilidade materna da ovelha Ovelhas paridas sobre ovelhas

encarneiradas (fertilidade) 0,63

(Fonte: Safari et al., 2005).

Caracteres de produção

São fundamentalmente pesos e ganhos de peso e possuem herdabilidades médias (Tabela 2) pelo que se espera uma resposta à seleção moderada. Em programas de melhoramento genético baseados na seleção fenotípica ou testes de desempenho, com intensidades anuais de seleção de 1% em machos e 20% em fêmeas, e intervalo entre gerações de 3,5 anos, pode-se esperar ganhos genéticos anuais nos caracteres de produção de ½ a 1%. Considerando que o ganho genético é permanente e acumulativo, trata-se de valores importantes economicamente, e que terão um efeito importante no setor de produção de carne ovina.

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Caracteres de qualidade do produto

Começa com o peso de carcaça, que a pesar de ser um caráter de produção, define uma qualidade importantíssima na qualificação do produto em nível de frigorífico. Seguem (Tabela 2) o rendimento de carcaça dado pelo peso da carcaça/peso vivo ao abate, a conformação ou dimensões relativas das partes da carcaça, ligada à musculosidade, gordura, área do olho do lombo e pH e cor da carne. As herdabilidades são médias, pelo que se espera uma resposta à seleção moderada. Obviamente existem fatores não genéticos que tem grande importância na qualidade da carne, ligados à nutrição, manejo, idade de abate e, especialmente, condições nas que se realiza o abate, em particular maciez da carne, pH e cor da carne. Existem obviamente também diferenças genéticas entre raças e dentro de raças, que podem ser exploradas.

Seleção multi-caráter

A estratégia de seleção implica na escolha daqueles caracteres mais importantes economicamente, que devem ser melhorados simultaneamente. A Tabela 3 mostra que não há incompatibilidades genéticas entre os caracteres de interesse, nem dentro de classificação, reprodutivos, de produção e de qualidade do produto, nem entre os caracteres em diferentes classificações. A seleção multi-caráter deve de ser realizada através de índices de seleção, que combinam herdabilidades, correlações genéticas e valores econômicos relativos dos caracteres, em uma única fórmula, obtendo-se um valor do índice para cada animal, valor pelo qual se realiza a seleção. Um exemplo de índice de seleção para rendimento de carne magra para raças paternas terminais é dado por Simm & Dingwall (1989).

Ultra-sonografia

A ultra-sonografia em tempo real (Silva et al., 2005) é uma técnica utilizada no Brasil desde 1993. Nsoso et al. (2004) estimaram herdabilidades de 0,36 para medidas de gordura e de 0,26 para medidas de musculatura por ultra-sonografia. Jones et al. (2004) utilizaram tomografia e ultra-som para predizer composição tecidual e estimaram herdabilidades acima de 0.4.

Maciez da carne

A maciez da carne é o caráter organoléptico de maior impacto no consumidor. Do ponto de vista do produtor de carne é um assunto complexo (Luciano et al., 2007) pois depende de uma cadeia de reações bioquímicas no período post-mortem, tem alguma influência do genótipo ou raça do animal, maior ainda da idade de abate e menos do conteúdo de gordura intramuscular ou marmoreio.

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Possíveis caracteres e técnicas de futuro

Além do básico, veremos agora algumas idéias para o futuro. Um aspecto que toma maior importância na qualidade do produto carne ovina é o efeito dos ácidos graxos sobre a qualidade da carne (Wood et al., 2003). O interesse em relação à composição dos ácidos graxos da carne provém da necessidade de achar meios para produzir carne mais “saudável”, entendendo-se por isso uma carne com uma alta relação de ácidos graxos poli-insaturados (AGPI) / ácidos graxos saturados, e um equilíbrio mais favorável entre 6 e n-3 AGPIs. Pesquisam-se maneiras de manipular a composição dos ácidos graxos da carne. Existem diferenças genéticas em relação aos AGPI na carne (Woods et al., 2008). Raças ou genótipos com uma menor concentração de lipídeos totais no músculo tem uma maior concentração de AGPI. É um área que precisa ser pesquisada nas raças ovinas no Brasil.

Outra área importante para o futuro é a dos marcadores genéticos. Procura-se genes que segreguem na população, e que estejam relacionados com caracteres produtivos. Um exemplo é o gene callipyge que está associado a um desenvolvimento muscular muito grande nas extremidades posteriores, uma carcaça mais magra e de maior rendimento e um menor conteúdo de gordura intramuscular, mas também a carne menos macia. Outro gene marcador é o REM (rib eye muscle) que aumenta a área do olho do lombo em 11% mas não tem efeito sobre a gordura intramuscular nem a maciez. Uma revisão sobre seleção auxiliada por marcadores (MAS = marker assisted selection) em ovinos foi realizada por Van der Werf (2007), concluindo que em programas de melhoramento em etapas iniciais ou com pouco desenvolvimento terão maior impacto econômico os investimentos feitos para registrar pedigree e desempenho dos animais do que os investimentos em tecnologia de genes.

Perspectivas para o melhoramento genético ovino

A conjuntura é favorável para o desenvolvimento de programas de melhoramento genético ovino visando a produção de carne, tanto do ponto de vista biológico, como econômico e de viabilidade.

As principais razões que permitem ser otimista em relação ao que o melhoramento genético tem para contribuir à produção e qualidade da carne ovina no Brasil são:

o O amplo “cardápio” que se tem no Brasil em relação à raças e diversidade

genética ovina, já adaptada a uma diversidade de ambientes, climas e sistemas de produção;

o A possibilidade de aumentar a eficiência reprodutiva dos rebanhos onde se

implantem programas de melhoramento, acelerando o ganho genético;

o Caracteres de importância econômica bem definidos, medíveis diretamente no

animal vivo ou estimáveis através de técnicas padronizadas;

o Herdabilidades médias dos caracteres de produção e de qualidade do produto,

que garantem ganhos genéticos que justifiquem a implantação de programas de melhoramento;

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o Correlações genéticas positivas e nas direções favoráveis;

o Uma série de técnicas avançadas em desenvolvimento, que seguramente farão a

seleção mais eficiente, com perspectivas de futuro.

Análise FFOA (ou SWOT) do Setor de Ovinos tipo carne e as possibilidades de implementação de um Programa de Melhoramento Genético

A análise FFOA (ou SWOT) é uma ferramenta utilizada para fazer análise de cenário ou análise de ambiente, sendo usado como base para gestão e planejamento estratégico, podendo devido a sua simplicidade, ser utilizada para qualquer tipo de análise de cenário. Neste caso a utilizaremos para analisar o setor ovino de carne em relação às perspectivas da contribuição melhoramento genético ao seu desenvolvimento.

A sigla SWOT é um acrônimo de Forças (Strengths), Fraquezas (Weaknesses), Oportunidades (Opportunities) e Ameaças (Threats). Adota-se no Brasil a abreviatura FFOA. Esta análise de cenário se divide em ambiente interno (Forças e Fraquezas) e

ambiente externo (Oportunidades e Ameaças).

Para atingir seus objetivos, a Matriz FFOA (Tabela 4) deve ser utilizada no momento certo: após o diagnóstico e antes da formulação estratégica propriamente dita.

O ambiente interno pode ser controlado pelos diversos atores do setor, uma vez que é o resultado das estratégias de atuação definidas por cada um. Já o ambiente externo está totalmente fora do controle do setor, porém, apesar de não poder controlá-lo, deve conhecê-lo e monitorá-lo com freqüência, de forma a aproveitar as oportunidades e evitar as ameaças. Evitar ameaças nem sempre é possível, no entanto pode-se fazer um planejamento para enfrentá-las, minimizando seus efeitos.

A Tabela 4 é apresentada como uma base de discussão que permita aos responsáveis das áreas públicas e privadas ponderar os fatores que devem ser considerados no desenho de programas de melhoramento genético dos ovinos produtores de carne. Repete-se a conclusão apontada anteriormente: A conjuntura é favorável para o desenvolvimento de programas de melhoramento genético ovino visando a produção de carne, tanto do ponto de vista biológico e econômico, como da viabilidade, desde que se consigam superar as condições mínimas que permitam aproveitar seu potencial.

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Tabela 4. Análise FFOA (ou SWOT) do Setor de Ovinos tipo carne e as possibilidades de implementação de um Programa de Melhoramento Genético.

FATORES INTERNOS

FORTALEZAS FRAQUEZAS

Populações bem distribuídas geograficamente Inexistência de uma cadeia produtiva estruturada Variabilidade genética e variabilidade ambiental Falta de definições de sistemas de produção sustentáveis:

produtivo-economico-social Tradição de produção: a espécie ovina é base alimentar e

componente social em muitas regiões Instabilidade e falta de homogeneidade dos animaisofertados para o abate Instituições de pesquisa e ensino de qualidade com

infra-estrutura e capacidade instalada Falta de analise econômica sobre custos de produção ealternativas comerciais Equipes científicas e técnicas altamente qualificadas e

abrangendo muitas áreas temáticas e regiões Pouca assistência técnica para o estrato comercial Entidades de classe com tradição e credibilidade que

mostram um grau de comprometimento importante Fluxo genético falho ou de germoplasma de duvidosaqualidade genética Esta sendo elaborado de forma coordenada e

participativa uma proposta de programa nacional de melhoramento genético

Desconhecimento de indicadores reais quantitativos e qualitativos da demanda dos produtos

Apoio do Ministério da Agricultura a essas propostas Falhas nos processos de apropriação pelo setor produtivo dos conhecimentos gerados pela pesquisa

Capacidade industrial instalada e qualificada Falta de remuneração por qualidade dos produtos diferenciados

Possibilidade de incorporar as informações das avaliações aos documentos do registro genealógico, valorizando o produto

Falhas nas estratégias de divulgação, junto aos setores de produção e técnicos, da contribuição potencial do melhoramento genético.

Falta de um protocolo oficial de avaliação e classificação de carcaças

As avaliações genéticas ainda não estão sendo utilizadas nos eventos comerciais (exposições) a semelhança do que ocorre em outras espécies

FATORES EXTERNOS

OPORTUNIDADES AMEAÇAS

Mercado consumidor com demanda insatisfeita e

crescente Que o momento de auge comercial mais uma vez crieexpectativas entre criadores não tradicionais, que não se confirmem e transmitam uma imagem negativa do setor Suinocultura e avicultura enfrentam maiores custos dos

grãos que constituem sua base alimentaria Permanente inovação e desenvolvimento de novosprodutos, apresentação das outras carnes como versáteis e adaptadas aos modos de vida dos consumidores Maiores ingressos dos setores menos favorecidos com

hábito de consumo de carne ovina como principal fonte protéica

Que continuemos acreditando que avaliações raciais e fenotipicas de características não herdáveis, e melhoramento ambiental, sejam melhoramento genético Desenvolvimento de produtos diferenciados com

indicação geográfica ou de origem

Mercado comercial para reprodutores deslanados altamente demandante

Ampliação das fronteiras de produção ovina em regiões até pouco não tradicionais (norte e centro/oeste)

O presente trabalho conclui com uma frase do cientista norte americano Professor Sewall Wright, um dos fundadores do melhoramento animal moderno.

Freqüentemente acredita-se hoje, que os criadores de sucesso possuem algum método misterioso ignorado pelos outros criadores. Porém, os princípios do criador de sucesso tem sido sumamente simples ... a dificuldade não é tanto conhecer os princípios, senão aplicá-los. Sewall Wright (1920) Principles of Livestock Breeding, USDA Bulletin 905.

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Agradecimentos

Os autores desejam agradecer aos criadores de ovinos, por continuarem a acreditar no melhoramento genético como uma ferramenta fundamental na produção de carne ovina, e pelos ensinamentos práticos deles recebidos.

Bibliografia citada

Jones, H. E., Lewis. R. M., Young, M. J., Simm, G. 2004. Genetic parameters for carcass composition and muscularity in sheep measured by X-ray computer tomography, ultrasound and dissection. Livestock Production Science 90:167–179.

Luciano, F. B., Anton, A. A., Rosa, C. F. 2007. Biochemical Aspects of meat tenderness: a brief review. Archivos de Zootecnia 56:1-8.

Nsoso, S. J., Young, M. J., Beatson, P. R. 2004. Genetic and phenotypic parameters and responses in index component traits for breeds of sheep selected for lean tissue growth.

Small Ruminant Research 51:201–208

Pötter, V. J. 1996. O papel das novas raças na produção de carne. III Simpósio Nacional de

Melhoramento Animal. Sociedade Brasileira de Melhoramento Animal.

Safari, E., Fogarty, N. M, Gilmour, A. R. 2005. A review of genetic parameter estimates for wool, growth, meat and reproduction traits in sheep. Livestock Production Science 92:271–289.

Silva, S. R., Gomes, M. J., Dias-da-Silva, A., Gil, L. F., Azevedo, J. M. T. 2005. Estimation in vivo of the body and carcass chemical composition of growing lambs by real-time ultrasonography. Journal of Animal Science 83:350-357.

Simm, G., Dingwall, W. S. 1989. Selection indices for lean meat production in sheep.

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van der Werf, J. H. J. 2007. assisted selection in sheep and goats. In: Marker-Assisted Selection. Current status and future perspectives in crops, livestock, forestry and fish. Edited by Guimarães, E., Ruane, J., Scherf, B., Sonnino, A., Dargie, J. Food and

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Wood, J. D., Richardson, R. I., Nute, G. R., Fisher, A. V., Campo, M. M., Kasapidou, E., Sheard, P. R, Enser, M. 2003. Effects of fatty acids on meat quality: a review. Meat

Science 66:21–32.

Wood, J. D., Enser, M., Fisher, A. V., Nute, G. R., Sheard, P. R., Richardson, R. I., Hughes, S. I., Whittington, F. M. 2008. Fat deposition, fatty acid composition and meat quality: A review. Meat Science 78:343–358.

Referências

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