ISSN 2176-1396
APRENDIZAGEM MULTIMÍDIA: COMO UTILIZAR FERRAMENTAS
WEB NA PRODUÇÃO DE MATERIAIS DIDÁTICOS?
Cristiane Ambrós Guerch1 - UFSM Eixo – Educação, Tecnologia e Comunicação Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo
Este trabalho é fruto das discussões ocorridas na disciplina de Tecnologias para Educação Profissional e Tecnológica do Curso de Mestrado em Educação Profissional e Tecnológica da Universidade Federal de Santa Maria/RS, no segundo semestre de 2016, quando se objetiva analisar a Teoria da Carga Cognitiva, de John Sweller, e a Teoria Cognitiva da Aprendizagem Multimídia, de Richard Mayer, e perceber quais as contribuições que estas trazem quando se pensa em produzir material didático utilizando recursos hipermídia. Em suma, busca-se verificar de que forma os docentes podem realizar um ensino-aprendizagem eficiente e atrativo a partir do uso de materiais próprios e com recursos multimídia, utilizando-se também de ferramentas disponíveis na web para elaboração desses materiais. Para nortear esta pesquisa, utilizou-se como embasamento teórico Mayer (2001), Santos et al (2007) e Perez (2002), sendo que esta desenvolveu-se a partir de uma pesquisa de procedimento documental (FONSECA, 2002) e abordagem qualitativa (MINAYO, 2001). Ainda, analisando-se o atual contexto tecnológico que estamos inseridos, não há como refutarmos que as Tecnologias da Informação e Comunicação já estão inseridas no cotidiano escolar, sendo essencial que os docentes consigam mediar a tecnologia para uso no ensino-aprendizagem, a partir de seu uso como meio metodológico. Desta forma, com essa pesquisa foi possível verificar que as tecnologias estão inerentes ao processo de ensino e há necessidade de se ter um docente criativo e reflexivo de sua prática, o qual buscará novos meios de ensinar e cativar seus alunos, inserindo o uso das ferramentas web na produção de seus materiais didáticos, fomentando o desenvolvimento global dos educandos e uma aprendizagem mais significativa. Palavras-chave: Ferramentas web; Hipermídia; Tecnologias da informação e comunicação.
1 Mestranda em Educação Profissional e Tecnológica: Universidade Federal de Santa Maria. Servidora do
Introdução
Nos últimos anos é notório o quanto o desenvolvimento da ciência e tecnologia avançaram, sobretudo influenciando na sociedade e gerando uma evolução desenfreada e complexa, ocasionando novos desafios e possibilidades quando se fala no uso das tecnologias, sendo que tais desafios também apareceram no ambiente escolar, apresentando-se então a necessidade desta de oferecer oportunidade de formação para instrumentalizar os docentes a prepararem os educandos para a realidade da sociedade do conhecimento e do imediatismo.
Desta forma, ao percebermos que o ambiente escolar sempre foi espaço de mediação entre docente e discente, fundamental que esta relação aconteça de forma a proporcionar trocar de saberes, sendo que quando se fala em metodologia de ensino tem-se desde o quadro negro até o uso de tablets. Ou seja, a inserção tecnológica é hoje inerente ao espaço escolar e é necessário que se busque meios de aperfeiçoar essa relação.
Nesse sentido, dentro da perspectiva de que na educação desenvolver estratégias para melhorar o ensino-aprendizagem e a qualidade do mesmo é latente e imediata é que o presente trabalho vai trazer os conceitos da Teoria da Carga Cognitiva e Teoria Cognitiva da Aprendizagem Multimídia para entender de que forma é possível se pensar em elaborar materiais didáticos mais atrativos e adaptados a nova geração de estudantes, tão conectados e que desafiam o docente a buscar novas ferramentas.
Assim, para qualificar os espaços escolares, essencial a inclusão das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) com o foco de potencializar a aprendizagem e instigar alunos criativos, perceptivos, dinâmicos e reflexivos, já que a expansão tecnológica torna a aprendizagem mais rica, motivadora e significativa.
Teoria da Carga Cognitiva (TCA) e sua relação na produção de Materiais Didáticos
Estudos de George Miller (1956) revelaram que a capacidade de memória de trabalho humano é limitada, sendo que após anos de pesquisas expandiu-se a regra do 7 ± 2, a qual o cognitivo humano teria capacidade de processar um número limitado de informações que variam entre 5 a 9 elementos por vezes, sendo que tais constatações embasam a Teoria da Carga Cognitiva (TCA) (SANTOS et al, 2007).
Tal teoria advem de John Sweller (2003) psicólogo australiano, que estudava a forma como estudantes resolviam problemas, sendo que segundo ele, a aprendizagem se efetiva de
forma mais eficiente quando a informação está alinhada com o processo cognitivo humano, ou seja, quando a carga de informações disponibilizadas ao estudante é compatível com sua capacidade de compreensão humana (SANTOS et al, 2007).
Santos et al (2007) afirmam que “um ambiente de aprendizagem apropriado, de acordo com princípios da Teoria da Carga Cognitiva, minimiza recursos mentais desnecessários, e em troca disso, coloca-os para trabalhar de modo a maximizarem a aprendizagem”. Desta forma, a partir dos princípios da TCA há ambientes mais eficientes e que contribuem para uma melhor compreensão e aprendizagem.
A TCA refere que é impossível o ser humano assimilar mais informações do que a capacidade mental que possui, sendo que tal constatação aplica-se neste estudo quando percebe-se que a utilização das metodologias ativas precisa ser condizente e acessível dentro das possibilidades de assimilação humana.
Conforme esta teoria, a carga cognitiva pode ser classificada em Mayer (2001): Carga Intrínseca: inerente a complexidade do conteúdo do material de ensino;
Carga Extrínseca ou irrelevante: não interfere na construção de esquemas e desperdiça recursos mentais limitados que poderiam ser usados para a auxiliar a carga natural;
Carga Natural ou relevante: é a carga necessária para promover a aprendizagem. Eichler et al (2010) reconhecem a produção de material didático como um espaço para a pratica docente reflexiva, numa perspectiva de professor–investigador e professor-autor, fato este que revela que quando se pensa em elaborar materiais didáticos, essencial que se pense esses três aspectos cognitivos e se consiga gerenciar, reduzindo a carga irrelevante, que apenas ocupará a memória e não trará resultados, aumentar a carga relevante e saber gerenciar a intrínseca de modo a harmonizar os processos de aprendizagem.
Trata-se de conseguir verificar que o uso das metodologias ativas, na produção de materiais hipermídia, por exemplo, devem dar conta de não atribuir informações demasiadamente desnecessárias e que acabam desvirtuando o foco da atividade. Nesse sentido, Mallmann et. al (2012) destacam a importância de transpor os saberes lançando mão das potencialidades hipermidiáticas, para propiciar ações indutoras da interatividade, da interação e da autonomia.
Essa teoria aplica-se a todos os tipos de conteúdos, todos os tipos de mídias, e à todos os estudantes, visto que, ela tem como fim saber como elabora-se as ferramentas de ensino – texto, imagens e áudio – e aplicá-las à todo o conteúdo de ensino, bem como, as plataformas de aprendizagem a distância, no intuito de potencializar a aprendizagem e desenvolver habilidades flexíveis através da criação e uso de recursos e ambientes de aprendizagem que estejam em sintonia com processo cognitivo humano.
Assim, articulando-se os princípios da TCA ao uso de materiais hipermídia é possível que se produzam materiais mais direcionados e adequados, dando real atenção para diferentes aspectos, como: uso das cores, imagens, palavras, etc, contribuindo para uma produção autônoma e que possibilite aprendizagens significativas.
Aprendizagem Multimídia e Teoria Cognitiva da Aprendizagem Multimídia (TCAM)
A partir da Teoria da Carga Cognitiva, percebe-se o quanto suas concepções podem ser aplicadas no ensino-aprendizagem como estratégia que vai contribuir para que os educandos tenham melhor compreensão e de fato assimilem as informações relevantes.
Elaborada por Richard Mayer, a Teoria Cognitiva da Aprendizagem Multimídia (TCAM), fundamentada na TCA, defende que o princípio multimídia pode contribuir para uma aprendizagem mais profunda, desde que tenha sido planejado considerando além da conjugação de texto e imagens.
Mayer (2001), por meio de pesquisas experimentais, desenvolveu doze princípios que podem auxiliar na criação de materiais multimídias, proporcionando ao aluno uma melhor aprendizagem. As animações construídas em ambientes online, como vídeos, jogos, aplicativos dinâmicos, podem promover melhor aprendizagem, pois segundo as investigações de Mayer (2001), este recurso promove ao aluno o conhecimento.
De acordo com Mayer, para que o processo de ensino-aprendizagem mediado por materiais multimídia seja eficiente, as informações obtidas a partir de palavras e imagens, requerem do aprendiz cinco processos cognitivos (ALMEIDA et al., 2014):
1. Selecionar as palavras relevantes para o processamento na memória operacional verbal;
2. Selecionar imagens significativas para o processamento na memória operacional visual;
3. Organizar as palavras selecionadas em um modelo verbal; 4. Organizar as imagens selecionadas em um modelo visual;
Segundo Mayer (2001), a aprendizagem multimídia se dá por meio de animação e narração, processada em três memórias: sensorial, de trabalho e de longo tempo:
Fonte: Adaptado de Mayer (2001, p. 44, tradução da autora)
Conforme o esquema acima, Mayer (2001) referiu que as informações são captadas pela memória sensorial por meio dos olhos (palavras e imagens) e ouvidos (palavras), depois são processadas e selecionadas no canal auditivo. Na memória de curto prazo há uma organização entre as imagens e palavras formando os modelos pictorial e verbal. Por fim, ocorre a integração das informações, que juntamente com o conhecimento prévio, se constrói a memória de longo tempo. As informações armazenadas na memória de longo prazo afetam nossas percepções do mundo e nos influencia na tomada de decisões (ARAÚJO et al 2015).
Então, a partir disso, Mayer (2001) propõe 07 princípios da aprendizagem multimídia: Princípio multimídia: diz respeito ao fato de que os alunos aprendem melhor quando há combinação de palavras e imagens, do que somente palavras, devendo a informação gráfica ser relevante à informação verbal;
Princípio de Proximidade Espacial: refere-se quando há proximidade de palavras e imagens, ou seja, é quando palavras e imagens correspondentes estão próximas em vez de afastadas. Quando texto e imagem estão integrados, o leitor não precisa usar seus recursos cognitivos para uma busca visual na página ou em páginas distantes, facilitando o armazenamento de informações na memória operacional e a conexão mental;
Princípio da Proximidade Temporal: quando a apresentação de palavras e imagens ocorrem simultaneamente em vez de sucessivamente;
Princípio das Diferenças individuais: sabe-se que estudantes com maior nível de conhecimento sobre um determinado assunto e com grau maior de orientação espacial
possuem maiores condições de organizar e processar seu próprio conhecimento ao interagir com o assunto;
Princípio da Coerência: quando imagens ou sons não relevantes para o assunto são excluídos. Quanto mais simples e objetiva for à apresentação do conteúdo, mais livre ficará a memória de trabalho para processar um número maior de conhecimentos;
Princípio da Redundância: corresponde a um princípio negativo. Diz que a ocorrência de repetições excessivas de informações em apresentações multimídia provoca uma sobrecarga cognitiva. Quando se utiliza animação e narração em vez de animação, narração e texto;
Princípios da modalidade: Quando se utiliza animação e narração em vez de animação e texto escrito.
Desta forma, a partir da TCAM, Mayer (2001) propôs a ideia de que as pessoais aprendem mais quando relacionam o conhecimento por meio de imagens e palavras, estas não isoladas, contribuindo com o universo metodológico. Isso porque, a relação imagem X palavra serve de subsídio para que os materiais didáticos tragam esse viés, aumentando o uso de imagens e palavras-chave que relacionam-se entre si, ao invés de diversos parágrafos de texto que não contribuirão para que os alunos façam relações.
Evidentemente que tal aplicabilidade pode variar conforme os sujeitos, uma vez que o material desse ser pensando conforme o público que irá atingir. Outrossim, quanto mais ferramentas metodológicos o docente se apropriar, mais enriquecedor será suas aulas e a dinâmica de trabalho.
Assim, estando inserido em um mundo extremamente tecnológico e competitivo, conseguir valorizar as aprendizagens adquiridas e conseguir armazená-las apresenta-se como necessidade, estando a aplicabilidade da TCAM como instrumento que potencialize o processo de aprendizagem e de interação com a tecnologia.
Ferramentas web na elaboração de material hipermídia
A partir da compreensão da Teoria da Carga Cognitiva e da Teoria Cognitiva da Aprendizagem Multimídia fica mais acessível se pensar em introduzir as Tecnologias da Informação e Comunicação para produção de materiais didáticos que de fato sejam atrativos, estimulantes e que desenvolvam a aprendizagem.
Conforme Barros (2009, p. 105 e 106) as aulas dadas tradicionalmente estão gerando desinteresse, sendo assim, “o grande desafio consiste em integrar os professores com a cultura tecnológica para o processo de ensino e aprendizagem”.
Nesse sentido, cada material didático tem suas especificidades e deve ser planejado de acordo com público-alvo, período de duração da aula, conteúdo da aula, os recursos tecnológicos a serem utilizados, etc, aparecendo aqui a hipermídia como uma ferramenta significativa neste processo de inserção tecnológica, a qual pode ser definida:
A hipermídia é um conjunto de nós ligados por conexões, em que palavras, páginas, imagens, gráficos, vídeos, filmes, músicas, sons, ruídos ou conjuntos mutantes destes, agem sem começo e sem fim e, com certeza, sem meio. Cada palavra, cada página etc. deverá remeter a uma cadeia de outras associações. Essas manifestações reticulares permitem, por isso mesmo, uma navegação ‘sem rumo’. (PEREZ, 2002, p.150)
Tem-se, então, um sistema de leitura não-linear, produzindo uma mudança na forma como os meios de comunicam e que, conforme Gosciola (2003), produzem “uma nova linguagem para um novo meio”.
Nesse aspecto, utilizar a hipermídia para elaborar materiais didáticos traz uma gama de possibilidades de gerenciamento dos materiais didáticos e produção de maior diálogo com os educandos, estimulando autonomia destes e melhor aprendizagem, contribuindo também para despertar um ambiente educacional mais motivador e incentivar (GUIMARAES, 2009, p.74).
Desta forma, pensando-se nas metodologias ativas que temos a nosso dispor na rede mundial de computadores, aliada a ideia de que a aprendizagem está intimamente ligada a forma de metodologia que utilizamos, bem como o quanto exigimos da capacidade cognitiva dos educandos é que temos uma gama de possibilidades para essa produção, tais como:
Tabela 1 – Ferramenta web FERRAMENTA
WEB
CONCEITO TIPO DE MATERIAL
HIPERMIDIA Podcast O termo podcasting deriva da união das
palavras ipod e carting (referente a broadcasting, ou seja, a transmissão de informação de radio e tv)
Utiliza o som como instrumento de transmissão de conhecimento
Edirishingha; Salmon; Fothergill (2007) apostam que os podcasts auxiliam em aspectos organizacionais de
aprendizagem uma vez que propiciam divertimento e informalidade,
desenvolvendo aprendizagem autônoma e competências de estudos
independente
e acessórios para complementar a histórica Vergueiro (2010) elenca motivos para o uso pedagógico deste material: a) Os estudantes querem ler os quadrinhos; b) Palavras e imagens, juntos, ensinam de forma mais eficiente; c) Existe um alto nível de informação nos quadrinhos; d) As possibilidades de comunicação são enriquecidas pela familiaridade com as histórias em quadrinhos; e) Os
quadrinhos auxiliam no
desenvolvimento do hábito de leitura; f) Os quadrinhos enriquecem o
vocabulário dos estudantes; g) O caráter elíptico da linguagem quadrinística obriga o leitor a pensar e imaginar; h) Os quadrinhos têm um caráter globalizador; i) Os quadrinhos podem ser utilizados em qualquer nível escolar e com qualquer tema
Fonte: Dados organizados pela autora, com base em pesquisas web
A partir do quadro exemplificativo acima, fica delineado que inúmeras são as ferramentas on line, de acesso gratuito, que disponibilizam uma gama de opções na produção de materiais hipermídia, proporcionando que o educador busque sua imaginação e criatividade para fazer um material autoral e que reproduza os conhecimentos necessários e usando um meio tecnológico e próximo da realidade dos educandos deste atual contexto histórico que se vive.
Moran (2000, p. 137) já refere que “na sociedade da informação todos estamos reaprendendo a conhecer, a comunicarmos, a ensinar e a aprender; a integrar o humano e o tecnológico; a integrar o individual, o grupal e o social”, sendo fundamental que nos apropriemos das ferramentas disponíveis para qualificar os trabalhos e desenvolver uma aprendizagem eficaz e atrativa, colaborando para um ensino-aprendizagem colaborativo e participativo.
Considerações Finais
A partir da pesquisa feita, foi possível verificar o quanto nossa metodologia de ensino pode ser diversificada e melhorada a partir do uso das hipermidias, uma vez que contribuem não apenas para que se tenha uma aula mais atrativa e dinâmica mas, sobretudo, nos desafia a produzir os próprios materiais didáticos e instigar os alunos na elaboração das próprias atividades, aliando ensino e tecnologia.
Conforme visto, é impossível que o ser humano processe muitas informações em simultâneo, sendo que este excesso de informação gera um esforço demasiado para todo o processo cognitivo, dificultando a compreensão do conteúdo que se deseja apreendido.
Desta forma, no momento em que buscarmos diversificar nossas aulas, certamente a aprendizagem dos educando será melhor e mais produtiva, uma vez que as associações de conteúdo fica mais simples quando aliamos, por exemplo, imagens e sons aos nossos materiais.
O material didático, em qualquer mídia, deve estar em consonância com o público alvo, sendo que a hipermídia contribui para instrumentalizar o profissional para a elaboração de diferentes recursos a partir de uma construção criativa e contextualizada de materiais didáticos, estabelecido a partir da relação e adequação ao conteúdo a ser transmitido.
Assim, relacionando a importância da Tecnologia da Informação e Comunicação na educação, tem-se que já é situação consolidada no contexto atual, sendo usada em grande escala para o ensino de qualquer assunto, mostrando a importância dessa ferramenta para a construção da aprendizagem, contribuindo para o desenvolvimento de uma educação mais engajada e relacionada com os avanços da atualidade.
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