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O MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO PARA TODOS E A CRÍTICA MARXISTA

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RESENHA

O MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO PARA TODOS E A CRÍTICA MARXISTA Por Jackline Rabelo, Susana Jimenez e Maria das Dores Mendes Segundo (Org.).

Fortaleza: Imprensa Universitária, 2017, 260 p. ISBN: 978-85-7485-260-7

Agnes Iara Domingos Moraes1

Cláudio Rodrigues da Silva2

Apresentar, desde o referencial marxista, principais aspectos do Movimento de Educação para Todos, suas consonâncias com as diretrizes de organismos internacionais – Organização das Nações Unidas (ONU), Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Banco Mundial (BM), Fundo Monetário Internacional (FMI), entre outros – e suas relações com o projeto do capital, em contexto de acirramento da sua crise estrutural, é o principal objetivo do livro intitulado O

movimento de educação para todos e a crítica marxista3.

Esse livro, organizado por Jackline Rabelo, Susana Jimenez e Maria das Dores Mendes Segundo, foi lançado em 2015 em formato e-book e classificado no estrato L4 do Qualis Livros da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Em 2017 foi publicado em formato impresso pela Imprensa Universitária.

Totalizando 260 páginas e dividido em duas partes – “O Programa de

Educação para Todos em prol da sustentabilidade do capital na contemporaneidade” e “Práticas educativas e diretrizes para a formação docente no escopo do movimento de educação para todos” –, o livro é composto por 15 capítulos, escritos por 31 pesquisadores, que atuam em diferentes Universidades, Estados ou Regiões do Brasil.

1 Doutoranda pela Faculdade de Filosofia e Ciências – UNESP/Marília. E-mail:

moraes.aid@gmail.com

2 Doutorando pela Faculdade de Filosofia e Ciências – UNESP/Marília. E-mail:

silvanegrao@gmail.com

3 Esse livro está disponível para livre e gratuito acesso na página do Repositório da UFC:

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Nessa obra apresentam-se resultados relativos a três projetos de pesquisa, financiados pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

(CNPq), coordenados pelas organizadoras do livro em tela e desenvolvidos no

âmbito dos Programas de Pós-Graduação da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Universidade Estadual do Ceará (UECE).

Jackline Rabelo, Susana Jimenez e Maria das Dores Mendes Segundo, no

primeiro capítulo, denominado “As diretrizes da política de Educação para Todos (EPT): rastreando princípios e concepções”, têm por objetivo analisar os princípios e as concepções presentes nas Declarações Mundiais relacionadas à de Educação para Todos, que influenciam políticas educacionais dos países periféricos.

No capítulo “Introdução aos antecedentes históricos do Movimento de

Educação para Todos”, de autoria de Jackline Rabelo e Vânia Alexandrino Leitão, são abordados o percurso histórico da Educação para Todos e os impactos desse Movimento nas políticas educacionais dos países periféricos.

Maria das Dores Mendes Segundo e Susana Jimenez, no capítulo “O papel

do Banco Mundial na reestruturação do capital: estratégias e inserção na política educacional brasileira”, investigam as estratégias e as implicações das Diretrizes do Banco Mundial para as políticas educacionais brasileiras.

“Educação, desenvolvimento e empregabilidade: o receituário empresarial para a educação no Brasil” é o capítulo de autoria de Helena Freres e Jackline Rabelo, que abordam o projeto empresarial para a Educação no Brasil, especialmente no que se refere ao desenvolvimento econômico e à empregabilidade, categorias-chave na adequação da Educação às demandas do sistema do capital.

Helena Freres, Valdemarin Coelho Gomes e Fabiano Geraldo Barbosa, em “Teoria do Capital Humano e o reformismo pedagógico pós-1990: fundamentos da educação para o mercado globalizado”, têm por objetivo problematizar as relações entre a teoria do capital humano e as políticas educacionais preconizadas por organismos internacionais para os países periféricos.

Em “O empresariamento da educação: uma análise da reforma educacional

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Maurilene do Carmo e Betânea Moraes, o objetivo é investigar a reforma educacional implementada no Brasil, na década de 1990, e seus desdobramentos para a atual concepção de gestão escolar hegemônica no país.

No capítulo “O ideário (anti)pedagógico da Educação para Todos:

desdobramentos sobre a formação do professor e sua prática”, Maurilene do Carmo, Ruth Maria de Paula Gonçalves e Maria das Dores Mendes Segundo analisam o ideário de pedagogia presente no Relatório Jacques Delors e seus desdobramentos em outros documentos de organismos internacionais relacionados às Conferências de Educação para Todos.

Maria das Dores Mendes Segundo, Nágela Sousa, Helena Holanda e Antônio

José Albuquerque de Araújo Filho, em “A avaliação do Banco Mundial sobre a

educação municipal no Brasil: incursões críticas”, têm por objetivo, por meio de análise do Relatório Educação Municipal no Brasil: recursos, incentivos e resultados, problematizar os critérios de avaliação do Banco Mundial em relação ao financiamento da Educação Básica no Brasil.

No capítulo denominado “O papel do professor no alcance da educação para todos: um estudo preliminar” Jackline Rabelo, Simone Cesar da Silva, Solonildo Almeida da Silva e Jacqueline Barbosa dos Santos investigam o protagonismo, atribuído por organismos internacionais, à formação e à atuação docente para o êxito das reformas na Educação escolar, especialmente no quesito qualidade.

Eveline Ferreira Feitosa, Maria das Dores Mendes Segundo e Deribaldo dos

Santos, no capítulo intitulado “As parcerias público-privadas na educação brasileira:

uma análise crítica à luz marxiana”, têm por objetivo estudar a questão das parcerias público-privadas nas políticas educacionais brasileiras, a partir do Programa Educação para Todos, concebido por organismos internacionais, especialmente o Banco Mundial.

Em “A formação de professores recomendada nos Relatórios de Monitoramento Global de Educação para Todos: análise no contexto da crise estrutural do capital”, de autoria de Maria das Dores Mendes Segundo, Emanuela Rútila Monteiro Chaves, Aline Nunes Paiva e Cleide Barroso, o objetivo é, a partir desses Relatórios, apresentar análise crítica da política de formação de professores.

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Maria das Dores Mendes Segundo, Luís Távora Furtado Ribeiro, Jackline

Rabelo e Cristiane Porfírio, em “A problemática da valorização dos profissionais da

educação: investigando o Fundef e Fundeb”, abordam, com base em documentos oficiais relativos a esses Fundos, aspectos relacionados à valorização do magistério, especialmente salário, capacitação e condições de trabalho docente.

“Aprendizagem e pobreza: um estudo crítico das metas de desenvolvimento do milênio”, de autoria de Rosângela Ribeiro da Silva, Leonardo José Freire Cabó e Jackline Rabelo, aborda documentos referentes à parceria entre agências internacionais e governos de países periféricos para financiamento da Educação, visando atingir as metas de desenvolvimento do milênio, especialmente em relação à melhoria da aprendizagem e à redução da pobreza.

Cristiane Lima, Susana Jimenez e Samara Almeida Chaves, em “Educação,

questão de gênero e o discurso do capital: um estudo documental no âmbito da ONU”, apresentam análise, com base em documentos desse organismo, sobre a inter-relação entre Educação e equidade de gêneros.

“A cultura de paz: desdobramentos do Movimento de Educação para Todos no contexto da crise estrutural do capital” é o capítulo de autoria de Joeline Rodrigues de Sousa, Iara Saraiva Martins e Jackline Rabelo, que problematizam a questão da cultura de paz, levada a termo pela UNESCO, e seus desdobramentos na Educação dos países periféricos e sua vinculação com a lógica de mercado e com a governabilidade.

O livro propicia elementos para a compreensão de imbricações entre diferentes organismos internacionais, países centrais do capitalismo e o sistema do capital, bem como para a compreensão do papel da cultura – por conseguinte, da

Educação – para o consenso social, a governabilidade e, por conseguinte, a

reprodução da sociabilidade hegemônica.

Os dados apresentados contribuem, também, para a compreensão ampliada dos aspectos filosóficos e ideológicos das diretrizes educacionais dos organismos internacionais, cujos impactos negativos são perceptíveis no Brasil, apontado como um caso exemplar, em alguns aspectos, pelo Banco Mundial. A concepção de Educação do Banco, como já apontado, é organicamente vinculada com o projeto de

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reprodução e expansão do capital, especialmente no que se refere à divisão internacional da produção, que tem implicações necessárias na área da Educação.

Destaca-se que, na concepção dos organismos internacionais, a Educação (a ser) propiciada à ampla maioria das classes trabalhadoras dos países periféricos é voltada principalmente para a conformação social e para o mercado de trabalho, em especial para ocupações mais básicas e precarizadas, em conformidade com o preconizado pela divisão internacional do trabalho para países periféricos. Trata-se,

portanto, de uma Educação reduzida – em termos de anos de estudo e de

componentes curriculares –, domesticadora, unilateral e empobrecida para pessoas

economicamente pobres.

As categorias presentes em documentos ou diretrizes de organismos

internacionais – qualidade, equidade, empregabilidade, racionalidade, eficácia,

eficiência, reforma, participação, flexibilização, descentralização, cultura de paz,

dentre outras – refletem uma concepção de Educação vinculada à visão de mundo

capitalista, que, pelos princípios que lhe são inerentes, é, em última instância, incompatível com uma Educação pública, gratuita, universal, igualitária, democrática e inclusiva. Isso porque a Educação escolar é uma instituição-chave para a reprodução da sociabilidade hegemônica e cumpre importante papel na legitimação das hierarquias verticais e das desigualdades sociais, em especial no que tange à meritocracia, fundamental para essa legitimação.

A rigor, na lógica hegemônica, Educação para todos é um paradoxo, pois os ataques à escola pública e a implementação de medidas que promovem a privatização da Educação resultam em restrições de acesso, permanência ou progressão nos estudos por parte de pessoas que não têm condições financeiras para pagamento direto dessa despesa, seja pelos baixos salários, seja pelo desemprego conjuntural ou estrutural. Além disso, de acordo com a lógica de mercado, o acesso e a qualidade de determinada mercadoria depende da capacidade de pagamento, o que implica estratificações da Educação, fato verificável nas diferentes ofertas de serviços educacionais no Brasil.

As diretrizes dos organismos internacionais resultam em precarização e desmoralização da Educação pública e, por conseguinte, das pessoas que nela e por ela trabalham. Isso tem por objetivo principal facilitar o processo de privatização

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da Educação pública. A privatização resulta retrocessos em diversos avanços conquistados ao longo de décadas de lutas levadas a termo por setores das classes trabalhadoras brasileiras, visando, entre outros, o direito à Educação pública, laica, gratuita, universal, igualitária, democrática e inclusiva, categorias essas, a rigor, indissociáveis.

As organizadoras do livro (p. 8) destacam que o denominado Movimento de Educação Para Todos é “[...] um projeto do capital para a educação mundial, destinado, sobretudo, aos países pobres.” Destacam, ainda, que a Educação é “[...] um complexo de complexos inserido na dinâmica metabólica do capital.”

Disso decorre a necessidade de investigação e de compreensão da filosofia subjacente às diretrizes educacionais e da relação entre Educação e sociedade, inclusive porque algumas das categorias mencionadas são disputadas por diferentes classes sociais ou por suas frações.

Constata-se, assim, a importância de se investigar, como realizado no livro, criticamente as diretrizes educacionais e as categorias aplicadas pelos organismos internacionais, bem como por formuladores das políticas educacionais, com vistas a evidenciar ou problematizar a filosofia e a ideologia implicadas com essa concepção de Educação, evitando-se análises ou conclusões fenomênicas ou nominalistas.

Para isso é fundamental uma formação docente crítica e consistente. No entanto, em consonância inclusive com as diretrizes desses organismos, as matrizes curriculares dos cursos de formação de professores têm, cada vez mais, reduzida a parte referente a disciplinas ou conhecimentos que propiciam subsídios teórico-práticos para essas análises.

Por issoa importância e a necessidade de estudos em perspectivas críticas e

interdisciplinares, considerando-se, articuladamente, as esferas da política, da economia e da cultura, pois há relações necessárias entre sociedade e Educação.

O livro em referência contribui para desvelar ou ressaltar aspectos patentes ou latentes de diretrizes para a Educação concebidas e difundidas por organismos internacionais. Essa publicação é disponibilizada ao público em um momento histórico de intensificação dos controles e das disputas pela Educação, bem como de acirramento de medidas de privatização implementadas nessa área, privatização

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essa que ocorre de diferentes formas, inclusive pela atuação de ONGs ou fundações, cada vez mais presentes e atuantes nas políticas educacionais dos diferentes entes federados, em consonância com as diretrizes dos organismos internacionais, sob as consignas – que podem induzir a adesões a priori – de “educação para todos”, “todos pela educação”, entre outras, pretensiosamente apresentadas como neutras ou universais.

Referências

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