2º. Simpósio Brasileiro de Qualidade do Projeto no Ambiente Construído X Workshop Brasileiro de Gestão do Processo de Projeto na Construção de Edifícios
03 e 04 de Novembro de 2011 – Rio de Janeiro, RJ – Brasil
Matriz de Indicadores para Avaliação Pós-Ocupação
Indicator Matrix for Post-Occupancy Evaluation
Maria Fernanda Oliveira Nunes
Professora da Universidade de Caxias do Sul
| e-mail: mfonunes@ucs.br | CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/1555729873996754 |
Milissa Carissimi
| e-mail: mcarissi@gmail.com |
RESUMO
Proposta: formular uma matriz com os indicadores mais adequados para orientar a APO no
loteamento Victório Trez, em Caxias do Sul, levando em consideração o contexto sociocultural da comunidade. Método de pesquisa/Abordagens: analisar a aplicação de indicadores em avaliações já realizadas; definir uma matriz de indicadores; desenvolver e aplicar instrumento-piloto em loteamento passível de APO e, a partir dessa aplicação, analisar os dados obtidos com o intuito de aperfeiçoar o instrumento e a matriz de indicadores. Resultados: ao final das análises efetuadas a partir dos resultados da aplicação do questionário-piloto, algumas considerações puderam ser feitas a respeito do instrumento, da matriz e, até mesmo, da própria avaliação pós-ocupação. Por fim, a análise dos dados da correlação estatística proporcionou uma visão diferenciada e qualitativa dos dados tabulados da aplicação do piloto. As relações criadas entre perguntas indicaram possíveis causas da satisfação ou não do usuário naquele quesito. Além disso, essas correlações podem indicar a necessidade de um maior detalhamento das perguntas nesses itens. Contribuições/Originalidade: percebeu-se que dados isolados e apenas quantitativos não são totalmente eficientes, assim como somente pesquisas de opinião também não o são. A necessidade do cruzamento dos dados da APO com dados de aferição técnica, para avaliar de maneira eficaz a satisfação final do usuário, é imprescindível.
Palavras-chave: avaliação pós-ocupação; habitação de interesse social; indicadores.
ABSTRACT
Proposal: write a matrix with the most appropriate indicators to guide the post-occupancy evaluation of
the allotment Victório Trez, Caxias do Sul, taking the sociocultural context of the community. Research
method / approaches: reviewing the implementation of indicators on assessments already carried out,
defining a matrix of indicators, develop and implement pilot instrument capable of post-occupancy evaluation, and from that application, analyze the data in order to improve instrument and indicator matrix.
Results: At the end of the analysis made from the results of implementing the pilot questionnaire, some
considerations could be made about the instrument, the matrix and even their own post-occupancy evaluation. Finally, the analysis of data from the statistical correlation provided a different perspective and qualitative data tabulated the implementation of the pilot. The relations created between questions indicate possible causes of
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INTRODUÇÃO
A melhoria da qualidade na habitação de interesse social tem sido amplamente discutida nos meios político-sociais em nosso país. A busca por essa qualidade vem aumentando, devido à interação entre diversos agentes, públicos e privados, que passaram a perceber o problema da habitação como um problema de toda sociedade.
Essa melhoria nasce das exigências impostas pelos programas governamentais na aplicação dos recursos, as quais buscam a sustentabilidade das operações e a satisfação dos adquirentes. Mas ela também passa pela apreciação da sociedade, que almeja transparência dos processos, e chega ao usuário final, o morador, o qual inicia sua inserção social como cidadão.
Este trabalho tem como tema principal a avaliação pós-ocupação (APO) em habitação de interesses social e é parte integrante da pesquisa “Habitação Social e Relações Socioeconômicas”. A pesquisa é um projeto-piloto da prefeitura, através de um convênio com a Universidade de Caxias do Sul e busca diagnosticar, social e economicamente, a população do Loteamento Victório Trez. Essa população foi removida da área de sub-habitação do bairro Fátima Baixo. O projeto conta como uma equipe multidisciplinar que trabalha no aprofundamento nas questões decorrentes das modificações do espaço físico e das relações sociais das 340 famílias envolvidas.
O acompanhamento técnico-social que busca, entre outras coisas, analisar a satisfação do usuário representa um amadurecimento nos processos de reassentamento no âmbito da habitação na cidade de Caxias do Sul/RS.
Pesquisas anteriores demonstram que a satisfação do usuário em habitação de interesse social é um fator de grande relevância para a permanência do morador na unidade habitacional e sua inclusão na cidade formal.
O objetivo geral deste trabalho é criar uma matriz com os indicadores mais adequados para orientar a elaboração de um instrumento de coleta de dados para avaliação pós-ocupação no Loteamento Victório Trez. A definição desses indicadores se dará levando em consideração o contexto sociocultural da população envolvida.
O método dessa pesquisa se organizou em duas etapas principais. Na primeira, através de revisão bibliográfica, foi efetuada a caracterização de habitação de interesse social e a conceituação de avaliação pós-ocupação. Na segunda etapa, foi realizada a análise, através de estudos de caso, de aplicações de indicadores em pesquisas pós-ocupação realizadas em Porto Alegre e São Paulo. A partir desses estudos, desenvolveu-se um instrumento experimental de coleta de dados. Para garantir a eficiência desse instrumento, realizou-se um levantamento, através da aplicação de questionário-piloto em campo, em uma comunidade passível de APO. Nessa aplicação, além da coleta dos dados do questionário, foram efetuadas observações acerca do processo de aplicação e falhas nas questões, além de anotações de “falas” dos entrevistados. Para finalizar o trabalho, utilizou-se de critérios quantitativos e qualitativos para a análise dos dados e a verificação da adequabilidade do instrumento.
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AVALIAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO NA HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL
A padronização dos projetos habitacionais voltados para a população de baixa renda tem gerado diversos problemas de apropriação dos espaços. Deve-se lembrar que, há muito tempo, a habitação de interesse social deixou de ser apenas uma questão de abrigo e passou a ser uma questão de cidadania, que busca trazer a melhoria da condição de vida da população e sua inserção na sociedade (ROMÉRO; ORNSTEIN, 1999).
Os diferentes elementos do cotidiano do ser humano formam relações entre fenômenos, pessoas, lugares e atividades. Por isso, é relevante associar a qualidade de vida às inter-relações entre a pessoa ou grupo familiar e sua moradia. Para tanto, as edificações devem levar em consideração, além do atendimento às necessidades mínimas de segurança e higiene dos moradores, suas necessidades sociais, habilidades e potencialidades (SZÜCS, 2000).
Outro ponto a considerar é a casa quanto ao conceito de habitação. Nele, a casa não é mais um elemento isolado, mas um habitat, onde há integração entre interior e exterior. Sendo assim, habitação é a moradia integrada ao espaço urbano, ligando-se diretamente às questões de infraestrutura urbana, serviços e equipamentos de uso coletivo (MARTUCCI; BASSO, 2002). No entanto, apesar dos estudos que esclarecem sobre os conceitos pertinentes, algumas práticas apresentam foco na redução de custo, o que leva à utilização de materiais de baixa qualidade que, associados à falta de manutenção, podem gerar precariedade e insalubridade.
Em busca da qualidade técnica da construção, o dimensionamento ideal e a infraestrutura suficiente, utiliza-se a ferramenta de pesquisa pós-ocupação em edificações de interesse social, a fim de melhorar a qualidade dos projetos, garantindo a satisfação e a fixação do usuário (ROMÉRO; ORNSTEIN, 1999).
Na APO o levantamento e a análise desses dados têm como objetivo retroalimentar o próprio projeto da pesquisa, bem como melhorar projetos futuros. Sendo assim, a APO pode ser definida como um grupo de técnicas de avaliações de desempenho que são aplicadas durante a utilização de qualquer tipo de ambiente construído, buscando estabelecer diagnósticos que levem em consideração a opinião de especialistas técnicos e as necessidades e níveis de satisfação dos usuários. Essas informações, comparadas a dados sistêmicos sobre as relações de usuário e ambiente construído, demonstram erros e acertos na habitação (ABIKO; ORNSTEIN, 2002).
A APO se distingue das avaliações de qualidade convencionais porque considera, de maneira essencial, a satisfação do usuário, sem minimizar a importância da avaliação de desempenho físico. As analises são feitas in loco, em escala e tempo reais (ROMÉRO; ORNSTEIN, 2003). Além disso, a alta satisfação em APOs aplicadas em nosso país é recorrente. No entanto, conforme Kowaltowski et al. (2009), essa satisfação é gerada pelo situação precária da moradia anterior dessas famílias e não necessariamente pela sua qualidade construtiva e níveis de conforto ambiental.
Na habitação de interesse social, que utiliza recursos governamentais, as avaliações são uma oportunidade de analisar os resultados e os impactos da própria política pública. São oportunidades de transparência e diálogo entre a política e a sociedade, democratizando a gestão pública (IEE, 2006).
populações gera alterações nos conceitos de satisfação. Para isso, é necessário definir indicadores de acordo com o que se busca descobrir, de acordo com o objetivo da avaliação (IEE, 2006).
Os indicadores são sinalizadores de resultados de uma determinada ação planejada. Funcionam como um termômetro orientador, que indica a situação do programa, sua real projeção e repercussão. Eles são usados para monitoração e avaliação de projetos aplicados e orientam a elaboração de instrumentos de coleta de informações (CARVALHO; PAZ, 2006).
Os indicadores resultam de escolhas dentro das inúmeras relações estabelecidas em um contexto histórico e cultural da área de estudo e de seus moradores. São definidos baseando-se nos objetivos do projeto. Eles orientam a coleta de informações e a escolha do instrumento de verificação, o qual pode ser registro fotográfico, observação, reunião, coleta de depoimentos, entrevista ou questionário (IEE, 2006).
Ainda segundo o IEE (2006), dentro do âmbito da pesquisa pós-ocupação, existem três eixos de percepção: moradia e cidadania, inclusão social e satisfação do morador.
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OBJETO DE ESTUDO: LOTEAMENTO VICTÓRIO TREZ
O Loteamento Victório Trez localiza-se no bairro Nossa Senhora de Fátima, em Caxias do Sul. Das 340 famílias que ocuparão o loteamento, 241 foram removidas de áreas de habitação subnormal (invasão) localizadas às margens da RS-122, na mesma região. Outras 105 famílias são oriundas de outras áreas irregulares. O empreendimento foi financiado pela parceria entre o Governo Federal (PAC) e a Prefeitura Municipal.
A área de sub-habitação do bairro estende-se, a partir da faixa de domínio da RS-122, por áreas de grande declividade e às margens de um córrego, local conhecido como “Valão dos Braga”. Os moradores, nas áreas de grande declividade, residiam em casas mistas, em sua maioria, de dois pavimentos, inseridas num local de grande densidade construtiva. Já os moradores da faixa de domínio e do “valão” residiam em casas tipo palafita de madeira, com menor concentração de construções.
O novo local de moradia, o Loteamento Victório Trez, está localizado em uma área de 8,02 hectares a aproximadamente 900 metros do antigo assentamento. Essa proximidade permite a utilização dos mesmos equipamentos urbanos pela população e reduz o impacto social da mudança. O projeto arquitetônico foi elaborado utilizando os padrões construtivos já adotados em outros núcleos do município. Foram desenvolvidas quatro tipologias: a casa térrea com 36m², o sobrado com 41m², o apartamento de dois dormitórios com 45,60m² e o apartamento de três dormitórios com 53,45m².
O processo de reassentamento das famílias está tendo um acompanhamento técnico-social, através de uma equipe multidisciplinar da Universidade de Caxias do Sul. A participação comunitária, desde o projeto até a efetiva ocupação, busca minimizar os efeitos negativos da relocação forçada dessas pessoas.
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PROPOSTA DE INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS PARA O
LOTEAMENTO VICTÓRIO TREZ
O instrumento de coleta de dados foi fundamentado em indicadores que sinalizam os principais temas para APO em habitação de interesse social.
4.1 Amostragem e método de aplicação
Através de pesquisa realizada durante o processo inicial do trabalho técnico-social do reassentamento do Fátima Baixo, foi possível traçar o perfil da comunidade. Com esses dados, pode-se definir, então, um perfil-padrão de morador ao qual será aplicada a APO: idade entre 20 e 40 anos; economicamente ativo; escolaridade no máximo até o ensino fundamental completo; renda inferior a dois salários mínimos. A partir desse perfil, deverá ser elaborado um instrumento de coleta de dados compatível com o publico entrevistado. O loteamento Victório Trez, conforme a escala definida pelo IEE (2006), pode ser considerado como de grande porte, pois tem mais de 200 famílias. Sendo assim, o critério mínimo definido também pelo IEE (2006) é de 20% dos domicílios representativos do conjunto habitacional, escolhidos de maneira aleatória. Desta forma, das 340 famílias, a amostra mínima que deverá ser utilizada é de 68 famílias.
O método de aplicação utilizado foi o de “entrevista pessoal na residência”. Nesse método, o respondente é abordado pessoalmente em sua residência por um pesquisador, que é responsável por realizar as perguntas e registrar as respostas.
4.2 Desenvolvimento do questionário
O questionário é o método mais utilizado para levantamento de dados em pesquisas pós-ocupação. Isso se dá pela sua praticidade, baixo custo e pelo grande número de informações que podem ser obtidas a partir dele.
Analisando as vantagens e desvantagens dos tipos de questionário, optou-se pela aplicação prioritária de perguntas fechadas, pois além das questões já expostas, deve-se levar em consideração o público-alvo da abordagem, os moradores do Loteamento Victório Trez, conforme caracterização no item anterior. Além disso, foi determinada uma escala par com quatro categorias de respostas. Para facilitar a aplicação, foi adotada a escala de classificação visual com ilustrações para a escolha dos graus de satisfação, onde a variação de expressão facial indica avaliações cada vez mais favoráveis.
4.2.1 Eixos e Matriz de Indicadores
A partir dos estudos das APOs do Projeto PIEC (MIRON, 2002) e Jardim São Luiz (MIRON, 2008), e da Matriz do IEE, foram definidos três eixos de pesquisa principais: unidade, loteamento e projeto social/processo participativo.
Os indicadores foram agrupados em três eixos principais: unidade, loteamento e projeto social/processo participativo. Dentro dos blocos foram feitas subdivisões por temas, e outras por assuntos mais específicos (Quadros 1, 2 e 3).
Unidade Tamanho Ambientes Conforto Térmico Acústico Lumínico Ventilação Construção Solidez Qualidade Segurança Funcionamento Portas e janelas Hidráulica Elétrica Privacidade Pátio
Quadro 1: Eixo Unidade.
Loteamento
Melhorias Realizadas
Pretendidas Relação com vizinhos
Áreas comuns Associação moradores Áreas de lazer
Infraestrutura
Água, luz, esgoto Pavimentação
Iluminação Localização (acesso) Acesso serviços
Transporte Segurança
Quadro 2: Eixo Loteamento.
Projeto Social/Processo Participativo Retenção Acompanhamento Construção Mudança Pós-ocupação Adaptação Tipologia e tamanho
Pagamento de taxas Inserção Social Comunidade
Cidade Melhoria de qualidade de vida Qualidade de vida
Trabalho e renda
Quadro 3: Eixo Projeto Social/Processo Participativo.
4.3 Aplicação do questionário-piloto
Para garantir a qualidade e a eficiência da pesquisa que será aplicada posteriormente no Loteamento Victório Trez, foi realizada uma aplicação-piloto do questionário elaborado. Antes disso, aplicou-se um pré-teste no próprio loteamento Victório Trez para verificação da compreensão do vocabulário utilizado. Foram selecionados para isso, dois moradores, que responderam o instrumento simulando que já estivessem morando nas novas casas. A partir das constatações aferidas durante a aplicação, efetuaram-se alterações de vocabulário em algumas perguntas e na escala de satisfação, como mostra a Figura 1. A troca das respostas da escala por palavras mais simples e usuais melhorou o fluxo da entrevista.
RUIM BOM ÓTIMO
PÉSSIMO
1 2 3 4
Figura 1: Escala de satisfação definitiva
A aplicação do piloto ocorreu no Loteamento Marianinha de Queiróz, em Caxias do Sul. Entregue em abril de 2002, o projeto contempla 5 prédios com 80 apartamentos e 40 sobrados. Esse local foi escolhido devido a suas características serem semelhantes às do Loteamento Victório Trez, isto é, os moradores têm faixas de renda e escolaridade similares. O questionário foi aplicado em 5 residências no dia 6 de novembro de 2009. Foram necessárias aproximadamente duas horas e meia para a aplicação dos cinco questionários. Após algumas alterações decorrentes do teste, o instrumento de coleta de dados para futura aplicação em APO no Loteamento Victório Trez ficou com 63 questões. Sendo 9 questões na parte de perfil do morador, 42 com respostas na escala de satisfação, 8 questões com escala dicotômica e, para finalizar, 2 questões com respostas pré-determinadas sobre a unidade e 2 abertas sobre o loteamento.
Ao final de cada bloco foi inserido um campo de observação, para anotações referentes a algum apontamento acerca do item perguntado. As duas questões finais foram do tipo abertas e se referem às reformas que os moradores fizeram ou pretendem fazer nas unidades. Já, nas respostas, foi inserido, além da escala dos 4 pontos de satisfação, o campo “nda” (nenhuma das alternativas) para situações nas quais o pesquisado não saiba a resposta.
4.3.1 Análise de Dados
Como a intenção da aplicação do piloto não foi de avaliar os dados relativos ao Loteamento Marianinha de Queiróz, mas sim, utilizá-los para avaliação do próprio questionário, de sua
Conforme Hair et al. (2005), a correlação é uma técnica de associação que permite determinar a existência de relações entre duas ou mais variáveis. O coeficiente correlação
(r) é utilizado para avaliar essa associação. Grandes coeficientes indicam uma forte relação,
assim como pequenos coeficientes indicam uma fraca relação (HAIR et al., 2005).
Para o cálculo do coeficiente foi considerado o percentual de satisfação de cada uma das amostras. Sendo assim, verificou-se, através do valor do coeficiente de correlação, quanto determinado item de satisfação do questionário se relaciona com outro item, de acordo com a opinião do morador.
Foram gerados dois gráficos de correlação. No primeiro, tentou-se estabelecer as relações existentes entre o bloco unidade habitacional e o bloco loteamento. Já, no segundo, associou-se o loteamento com o bloco de projeto social/processo participativo.
Foram considerados os coeficientes de 1,00 a 0,71, indicativos de forte relação entre as questões, conforme escala de Hair et al. (2005), explicada anteriormente. Para a análise dessas relações, também foram observados os valores percentuais das tabulações de satisfação, além das anotações feitas durante as entrevistas. Observando-se as correlações geradas e suas análises, percebe-se que, muitas vezes, as questões isoladas não trazem dados muito significativos, mas que a associação entre elas pode gerar entendimentos e justificativas acerca da possível causa da satisfação ou não do usuário.
Figura 2: Questões com maior correlação
As questões que geraram correlação são justamente os subitens que produzem os maiores picos (positivos ou negativos) de satisfação nos moradores. Essa forte relação aponta a adequabilidade do instrumento de coleta de dados e de sua matriz, a qual conseguiu absorver as informações com maior relevância, que impactam na qualidade de vida do usuário. Além disso, as perguntas que aparecem correlacionadas, podem indicar que, será necessário um maior refinamento nos sub-eixos dessas questões.
É importante lembrar também que a APO isolada não gera dados suficientemente confiáveis para a aferição da qualidade e de desempenho nos projetos de habitação social. Por muitas vezes, o usuário tem dificuldade em entender e interpretar as questões, e suas respostas acabam não representando a realidade. Por isso da importância de cruzar dados de APO com avaliações de desempenho físico.
Ao final das análises efetuadas, algumas considerações puderam ser feitas a respeito do instrumento, da matriz e, até mesmo, da própria avaliação pós-ocupação.
No instrumento, após sua aplicação-piloto, foram feitas alterações de vocabulário, adequando-o ao melhor entendimento e interpretação da população-alvo. Da mesma forma, a escala de satisfação teve suas expressões de intensidade trocadas por palavras mais simples e diretas. Perguntas que foram interpretadas como semelhantes foram fundidas, e questões que tinham uma abrangência maior foram desdobradas. Outra alteração ocasionada foi nas questões do bloco projeto social/processo participativo, no qual as respostas foram alteradas para dicotômicas – sim ou não – e não mais na escala de satisfação, devido à dificuldade dos respondentes de mensurar a intensidade dos sentimentos. Também foi feita a inserção de questões sobre a apropriação do espaço comum das residências.
Embora a versão definitiva do instrumento não tenha incluído questões relacionadas a taxas condominiais e a custos de manutenção das áreas comuns das edificações, percebeu-se, posteriormente, a necessidade dessa inclusão. Isso deve ser considerado para a elaboração de trabalhos posteriores.
Por fim, a análise da correlação estatística proporcionou uma visão diferenciada e qualitativa dos dados tabulados da aplicação do piloto. As relações encontradas entre indicadores podem gerar entendimentos diferenciados sobre o tema, com especial atenção à divisão entre o projeto das áreas externas e da residência. Nesse sentido, as relações entre área da sala e áreas externas podem complementar critérios de projeto.
Contudo, percebeu-se que dados isolados e apenas quantitativos podem não ser totalmente eficientes, assim como somente pesquisas de opinião também não o são. A necessidade do cruzamento dos dados da APO com dados de aferição técnica, para avaliar de maneira eficaz a satisfação final do usuário, é imprescindível.
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REFERÊNCIAS
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