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RELATÓRIO ANUAL DE BOLSA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA PROJETO: MEMÓRIA AUTOBIOGRÁFICA E A CURVA DE REMINISCÊNCIA EM PESSOAS DE MEIA IDADE E JOVENS ADULTOS

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Academic year: 2021

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RELATÓRIO ANUAL DE BOLSA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA PROJETO:

MEMÓRIA AUTOBIOGRÁFICA E A CURVA DE REMINISCÊNCIA EM PESSOAS DE MEIA IDADE E JOVENS ADULTOS

Departamento de Psicologia – PUC-Rio Bolsista: Maria Vitória Tuma de Oliveira Orientador: Prof. J. Landeira-Fernandez

Co-orientador: Daniel Mograbi

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INTRODUÇÃO

O presente estudo investiga o funcionamento da memória autobiográfica. A memória autobiográfica é composta de memórias pessoais que possuem tanto caráter episódico quanto semântico, sendo um componente fundamental na determinação de nossa identidade, por exemplo, fornecendo continuidade para nossa experiência cotidiana. Estudos transculturais (Conway et al., 2005) indicam que a memória autobiográfica possui uma distribuição característica, com maior concentração de memórias lembradas do período da adolescência e início da vida adulta. Este fenômeno, ainda não explorado no Brasil, é chamado de curva de reminiscências (“reminiscence bump”), e diversas explicações foram sugeridas para sua ocorrência (Bernstein & Rubin, 2002). Por exemplo, sugere-se que este é um período crucial no desenvolvimento do sujeito, em particular na maturação de estruturas cerebrais fundamentais no processamento de auto-referência e identidade pessoal, como o córtex pré-frontal. Em contraste com esta posição, certos pesquisadores enfatizaram a importância do período da adolescência e início da vida adulta na construção de uma narrativa e de um script de vida (Bernstein & Rubin, 2002). Alguns estudos indicaram que a curva de reminiscências está presente apenas para memórias positivas, não sendo encontrada para lembranças de caráter neutro e negativo (Glück & Bluck, 2007). Este achado dá suporte para uma explicação da curva ligada à formação da identidade, e foi interpretado como parte da necessidade de manter uma narrativa de vida positiva (Glück & Bluck, 2007). No entanto, é possível que isto também reflita acesso limitado a memórias negativas. A relação entre esquecimento e o conteúdo afetivo de memórias é um tema controverso na história da psicologia. Evidências sugerem que memórias negativas, como experiências traumáticas, são mais facilmente recordáveis (Conway et al., 1992). Por outro lado, distorções de memórias, como esquecimentos e confabulações, frequentemente apresentam um viés positivo (Conway & Tacchi, 1996; Fotopoulou, 2004). Esta aparente contradição entre os dados pode estar relacionada à intensidade e duração das experiências negativas. A exposição a estados afetivos intensos e súbitos em geral leva a memórias duradouras e altamente específicas (Brown & Marsden, 1990), ao passo que memórias negativas menos intensas podem ser mais vulneráveis ao esquecimento (Conway & Pleydell-Pearce, 2000). Assim, é possível que memórias com conteúdo negativo não traumático sejam menos acessíveis à recordação, particularmente no caso

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de memórias mais antigas, que sofrem maior pressão por coerência interna do que correspondência externa (Conway & Pleydell-Pearce, 2000).

Uma forma de investigar esta hipótese é a utilização de procedimentos que induzam estados de humor leves e passageiros. Evidências indicam que a recordação de eventos é facilitada quando o contexto inicial de codificação é replicado (para uma revisão, Smith & Vela, 2001). Assim, pessoas em estado de humor negativo tem maior facilidade para lembrar-se de memórias negativas (Williams, 1984). Procedimentos de indução de humor (por exemplo, filmes, cenários fictícios e tarefas cognitivas) permitem explorar esta questão experimentalmente. Esta metodologia tem sido usada amplamente em pesquisas experimentais, e geram estados de humor suaves e transitórios (Argyle, 1987; Frost & Green, 1982; Isen & Gorgoglione 1983, Martin, 1990), dentro do escopo de respostas emocionais normais experimentadas diariamente pela maior parte das pessoas. O uso destes procedimentos permite ainda investigar em grupos saudáveis características normalmente associadas com condições clínicas, como a depressão. Uma série de estudos indicou como pacientes diagnosticados com depressão tendem a ter memórias autobiográficas excessivamente gerais, não conseguindo fornecer detalhes episódicos para eventos ocorridos em suas vidas (Williams et al., 1997). No entanto, não há clareza se este efeito é causado pelo estado de humor dos participantes ou por outras características associadas aos transtornos depressivos. O uso de materiais emocionais em sujeitos saudáveis permite isolar estas variáveis.

A generalidade de memórias é encontrada não só em grupos clínicos, como também em idosos (Levine et al., 1997). A redução da episodicidade das memórias é um dos aspectos associados com o envelhecimento, e pode estar associada com perda de neurônios no hipocampo, uma estrutura chave na formação e consolidação de memórias ricas em detalhes contextuais (Squire, 1987). Este fenômeno foi estabelecido na comparação de grupos de jovens adultos com idosos, mas até então nenhum estudo explorou alterações estruturais da memória em pessoas de meia idade comparadas com jovens.

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OBJETIVOS

Os principais objetivos do projeto são:

I – Investigar o perfil da memória autobiográfica em uma amostra brasileira, comparando-o com a curva obtida em estudos anteriores realizados em outros países. II – Explorar se uma curva de reminiscências pode ser obtida para memórias negativas através da exposição prévia de participantes a materiais com conteúdo emocional negativo

III – Investigar a especificidade e generalidade de memórias negativas produzidas por este mesmo procedimento

IV – Comparar as memórias autobiográficas de pessoas de meia idade e jovens adultos em termos de estrutura (episodicidade) e conteúdo emocional

PROGRESSO DA BOLSISTA DURANTE O PRIMEIRO ANO

A primeira tarefa da bolsista foi buscar a aprovação do projeto junto ao Comitê de Ética em Pesquisa da PUC-Rio. O projeto foi aprovado após pequenos ajustes no termo de consentimento livre e esclarecido (ver Anexo), permitindo o início da coleta de dados. Enquanto o projeto tramitava no comitê de ética, a bolsista realizou uma revisão bibliográfica, ao longo de 3 meses, buscando estudos que embasassem o presente projeto, tanto do ponto de vista teórico quanto metodológico. Foram selecionamos artigos nas bases de dados PUBMED, PSYCINFO, SCIELO e BIREME, em três línguas: inglês, português e espanhol. Os artigos foram filtrados de acordo com a proximidade com nosso tema e objetivos, citados acima. Espera-se que esta revisão de literatura sirva de base de produções decorrentes desta pesquisa, tais como artigos e apresentações em conferências.

Após a revisão de literatura, a bolsista estabeleceu, com auxílio de seu orientador, um protocolo com todos os passos a serem seguidos durante a coleta de dados. Além de descrever o procedimento a ser seguido durante a entrevista, o protocolo continha ainda os questionários e perguntas feitas ao entrevistado. A adequação do protocolo de pesquisa foi testada em um breve estudo-piloto, com jovens adultos. Durante o piloto, a relevância dos procedimentos foi verificada, e a partir dos dados iniciais e do feedback dos participantes ajustes foram feitos, até se chegar na versão final do protocolo de pesquisa.

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A coleta de dados encontra-se em curso, com um total de 17 participantes de meia idade testados, com a maior parte deles tendo sido testados após indução de humor negativo. As informações coletadas com os sujeitos de pesquisa estão sendo incluídas em um banco de dados anônimo. Os dados preliminares podem ser vistos abaixo.

METODOLOGIA

Participantes

O estudo pretende testar um total de 50 pessoas de meia idade (40-60 anos) e 25 jovens adultos (18-25 anos). Os participantes estão sendo recrutados através de anúncios na PUC-Rio, bem como das imediações da universidade. Os grupos serão pareados para variáveis demográficas como gênero e nível educacional. Os critérios de inclusão para todos os participantes são: alfabetização e escolaridade mínima de 4 anos, ausência de história atual ou prévia de doença psiquiátrica ou neurológica, ausência de história de trauma craniano envolvendo perda de consciência por mais de uma hora, e ausência de história de abuso de álcool ou drogas (baseado em critérios do ICD-10). Todos os participantes preenchem um termo de consentimento livre e esclarecido concordando em tomar parte da pesquisa.

Procedimento

Dados demográficos, como idade e escolaridade, são coletados com os participantes antes do início dos testes. Participantes também respondem a um questionário investigando a presença de sintomas depressivos (Inventário de Depressão de Beck).

Material com conteúdo emocional

Antes da tarefa de memória autobiográfica, os participantes assistem a um filme. Metade dos participantes de meia-idade e todos os participantes jovens serão expostos a um breve filme de conteúdo neutro, contendo cenas da natureza. A outra metade dos participantes de meia-idade assistirá a cenas selecionadas de um filme comercial triste (“Um amor verdadeiro”, censura 12 anos). Estes filmes já foram utilizados em pesquisas anteriores (Kunzmann & Gruhn, 2005; Mograbi et al., 2012), induzindo de forma bem sucedida os estados de humor desejados, sem, no entanto, causar qualquer reação adversa ou extrema. Ao final da sessão de testagem (isto é, após a tarefa de memória

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autobiográfica) todos os participantes assistirão a um clip retirado de um filme de comédia, com o fim de terminar a participação no estudo em um estado de humor positivo.

Antes e depois dos filmes, e ao final da sessão de testagem, participantes respondem a perguntas sobre seu estado de humor (ex. “Quão triste você está neste momento?”), utilizando uma escala de 0-4 pontos, com “0” representando nenhuma tristeza e “7” extrema tristeza. No evento improvável de algum participante ainda se sentir triste ao final da sessão, o experimentador conversará com a pessoa até que esta volte ao estado emocional do início da sessão. Até então isto não ocorreu durante a coleta de dados.

Tarefa de memória autobiográfica

Os participantes são testados individualmente com uma versão modificada da Autobiographical Interview (Levine et al., 2002) , que mede não só o período a que se refere a memória, como também características da memória, como, por exemplo, episodicidade. Participantes têm que se lembrar de memórias específicas sobre suas próprias vidas, fornecendo uma descrição detalhada de eventos que foram pessoalmente experimentados e que ocorreram em um tempo e lugar específico. Participantes são instruídos a relatar a 1° memória que lembrarem, sem rejeitar nenhuma memória, enfatizando que estas poderão ser de eventos positivos ou negativos. No entanto, eles também são instruídos a não divulgar em suas descrições das memórias quaisquer detalhes que eles desejam que permaneçam privados. Os participantes são instruídos a não se lembrar de memorias dos últimos 12 meses, mas sim de toda a sua vida. As memórias dos participantes estão sendo gravadas e posteriormente serão transcritas para avaliação usando os critérios descritos por Levine e colaboradores (2002). Ao final da descrição de cada memória, participantes têm que indicar a data em que o evento aconteceu e marcar quão prazerosa a memória é em uma escala de 1 (mais desprazerosa) até 8 (totalmente prazerosa) e o quanto ela influenciou a pessoa a ser quem ela é, novamente em uma escala de 1 (nenhuma influência) até 8 (máxima influência).

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RESULTADOS PRELIMINARES

Os dados preliminares foram analisados tendo em vista os objetivos descritos acima. Observou-se que os dados obtidos com o grupo exposto à tarefa de indução de humor negativo seguem o padrão observado em estudos internacionais, com a presença de uma curva de reminiscências (ver Figura 1 abaixo). Este achado, se confirmado, sugere que a falta de acesso a memórias autobiográficas negativas remotas pode ser causada por dificuldades de recordação. No entanto, são necessários mais dados no grupo de controle, exposto ao filme neutro, para determinar se as memórias geradas diferem em termos de conteúdo emocional. De toda forma, o padrão de memórias observado no grupo exposto ao filme negativo permanece o mesmo quando as análises são restritas apenas às memórias negativas.

Figura 1 – Frequência de memórias por faixa etária

Os dados sugerem ainda uma correlação fraca, porém significativa, entre a idade da memória e seu nível de prazer, com memórias mais antigas sendo mais prazerosas (r =-

.15, p = .025)

PLANEJAMENTO FUTURO

Como alvo para o próximo período de bolsa estão definidos a continuação da coleta dos dados, bem como a análise dos dados e preparação de produções, tais como artigos e

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apresentações em conferência, tomando como base os resultados obtidos. A bolsista fará ainda duas apresentações na Jornada de Iniciação Científica da PUC-Rio, sendo uma ainda neste ano.

REFERÊNCIAS

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Argyle, M. (1987). The psychology of happiness. New York, NY: Methuen. Bernsten, D., Rubin, DC. Emotionally charged autobiographical memories

across the life span: the recall of happy, sad, traumatic, and involuntary memories. Psychology Aging. (2002) Dec;17(4):636-52.

Brown, R. G., & Marsden, C.D. (1990). Cognitive function in Parkinson’s disease: From description to theory. Trends in Cognitive Sciences, 13,21-29.

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Conway, M. A., Wang, Q., Hanyu, K., & Haque, S. (2005). A cross-cultural investigation of autobiographical memory: On the universality and cultural

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Referências

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