RECUPERAÇÃO DE NASCENTES COM SABIÁ (Mimosa
caesalpiniifolia, BENTH) FABACEAE
NO AGRESTE PARAIBANO.
F. C. Pereira1; C. A. Uyeda2; A. K. V. de O. Lima3; V. Guedes4; L. L. Costa4; C. S. Rocha5
RESUMO: A preservação e a recuperação das matas ciliares, aliadas às práticas de conservação e ao manejo adequado do solo, garantem a proteção de um dos principais recursos naturais: a água. Esses sistemas de proteção estão associados ao controle da erosão nas margens dos cursos d’água, evitando assim, o assoreamento dos mananciais; também minimizam os efeitos das enchentes; mantém a quantidade e a qualidade das águas, pois possibilita uma filtração de resíduos de produtos químicos como agrotóxicos e fertilizantes além de auxiliar na proteção da fauna local. Estudou-se indicadores de sustentabilidade como o índice de sobrevivência das espécies implantadas, a formação de serapilheira e acúmulo de Matéria Orgânica. A área de estudo está localizada a 130 Km da capital do estado da Paraíba, no Nordeste do Brasil, que se refere as nascentes de água doce da microbacia hidrográfica Riacho das Piabas, abrangendo os municípios de Puxinanã, Lagoa Seca e Campina Grande. Observou-se em todas as parcelas que existe uma correlação direta entre a serapilheira formada por um bosque de Sabiá (Mimosa caesalpiniifolia, Benth) e os teores de matéria orgânica presente nesse mesmo local. O Sabiá pode vir a ser utilizado como uma ferramenta para recuperação de áreas degradadas e nascentes no agreste paraibano.
PALAVRAS-CHAVE: Mata Ciliar; Nascentes; Sabiá
RECOVERY SPRINGS WITH SABIA (Mimosa
caesalpiniifolia, BENTH) FABACEAE IN
AGRESTE OF PARAIBA.
SUMMARY: The preservation and restoration of riparian forests, combined with conservation practices and adequate soil management, guarantee the protection of one of the main natural resource: water. These protection systems are associated with control of erosion on the banks of watercourses, thus avoiding the silting of water sources; also minimize the effects of floods, maintaining the quantity and quality of water, since it enables a filtration of waste chemicals as pesticides and fertilizers as well as help protect the local fauna. We studied indicators of sustainability as the survival rate of the implanted species, the formation of accumulation of litter and organic matter. The study area is located 130 km from state capital of Paraiba, Northeast Brazil, which refers to the freshwater springs of the Piabas Creek watershed, covering
the municipalities of Puxinanã, Campina Grande and Lagoa Seca. It was observed in all the plots that there is a direct correlation between the litter formed by a grove of Sabia (Mimosa caesalpiniifolia, Benth) and the levels of organic matter present in the same location. The plant of Sabia might be used as a tool for recovery of degraded areas and springs in Agreste.
KEYWORDS: Riparian Forest; Springs; Sabia
INTRODUÇÃO
O Sabiá (Mimosa caesalpiniifolia, Benth) é uma leguminosa tropical arbórea de pequeno porte atingindo até sete metros de altura. Largamente utilizada na região Nordeste como forrageira e produtora de varas, forquilhas, lenha e carvão, empregada com muito sucesso no reflorestamento de solos tropicais. É uma madeira altamente resistente à decomposição, mesmo quando enterrada, por isso é muito utilizada como estacas e mourões, que mesmo não recebendo nenhum tipo de tratamento, apresentam vida útil acima de 20 anos.
O solo em geral tem uma grande importância para o ecossistema terrestre, pois além de ser utilizado como substrato pelas plantas, exerce, também, multiplicidade de funções como regulação da distribuição, escoamento e infiltração da água da chuva e de irrigação, armazenamento e ciclagem de nutrientes para as plantas e outros elementos, ação filtrante e protetora da qualidade da água e do ar. Devido sua dinamização, o solo está passível a ser degradado pelo homem, condição em que o desempenho de suas funções fica severamente afetadas, o que acarreta em interferências negativas no equilíbrio ambiental, principalmente naqueles que sofrem mais diretamente a ação humana, que são os sistemas agrícolas e urbanos.
A Lei de Crimes Ambientais nº 9.605 de 1998, determina que é proibido “destruir ou danificar floresta da área de preservação permanente (APP), mesmo que em formação, ou utilizá-la com infringência das normas de proteção”. As nascentes são consideradas áreas de preservação permanente, ainda que intermitentes, e nos chamados “olhos d’água”. A Resolução CONAMA nº 303 de março de 2002 regulamenta que toda intervenção em nascente, bem como nas demais APP’s (rios, córregos e lagos) deve ser precedida de consulta e respectiva autorização por parte dos órgãos competentes de controle, orientação e fiscalização das atividades de uso e exploração dos recursos naturais.
O sabiá se propaga facilmente por sementes e por ser uma leguminosa fixa o nitrogênio atmosférico auxiliando no processo de regeneração de florestas, e principalmente, na recuperação de áreas degradadas. A revegetação com leguminosas arbóreas associadas a bactérias fixadoras de nitrogênio atmosférico e fungos micorrizos tem se mostrado uma excelente alternativa para a reabilitação de solos degradados (FRANCO et al., 2005; FRANCO & FARIA, 1997).
Poucas cidades da região semiárida possuem resquícios de vegetação nativa em seu território urbano. As cidades de Campina Grande, Puxinanã, e Lagoa Seca no Estado da Paraíba, têm o privilégio de possuí-los compondo um território com parcela de meio rural e urbana geopoliticamente integrante desses três municípios, ainda pouco estudado pela literatura acadêmica.
Essa região conhecida como as nascentes de água doce da microbacia hidrográfica Riacho das Piabas, na Serra da Borborema, é a área revegetada com o Sabiá (Mimosa caesalpiniifolia, Benth) onde fez-se as análises de seus índices de sobrevivência, da quantidade acumulada de serapilheira ao longo de três anos e meio e os teores de matéria orgânica em 5 parcelas distintas na propriedade objeto deste estudo.
METODOLOGIA
O experimento foi conduzido em condições de campo na Granja Renascer, bairro Cuités, município de Campina Grande, estado da Paraíba. A cidade situa-se a 7°13'11" latitude Sul e 35°52'31" longitude Oeste de Greenwich. Com uma altitude de aproximadamente 550 metros acima do nível do mar, na região oriental do Planalto da Borborema, distante 130 km da capital do Estado, João Pessoa. O clima segundo Köpen é Aw, com precipitação média de 400 a 1000 mm/ano (AESA, 2011). O bosque em estudo foi plantado entre fevereiro e maio de 2008, portanto as plantas em estudo possuem aproximadamente 3 anos e meio de idade.
Estudou-se 5 ambientes com a cultura do Sabiá. A quantidade de serapilheira foi medida com o auxílio de um quadro de madeira medindo 0,5 x 0,5 m e arremessado de forma aleatória em uma área de 100 m2 representativa dos cinco ambientes citados acima. O referido gabarito de madeira era arremessado 4 vezes e no local onde o mesmo caía ali era recolhido toda a serapilheira nas 5 áreas com 4 repetições. O material foi acondicionado em sacos de papel e transportado para o Laboratório da Universidade Federal de Campina Grande, onde se procedeu a pesagem da Matéria Úmida (MU). Na sequência colocou-se o material para secar em uma estufa com circulação e renovação de Ar TE - 394/3, 48h à 60°c, e realizou-se novamente a pesagem da Matéria Seca (MS).
Para a avaliação do índice de sobrevivência das plantas efetuou-se a delimitação das parcelas, que mediram 10 m x 10 m, e de imediato isolou-se a área, para a posterior contagem dos indivíduos sobreviventes. O espaçamento do plantio foi de 2 m x 1 m, perfazendo 50 plantas por parcela. A área total do plantio foi de 6 hectares. Realizou-se 5 amostragens.
RESULTADO E DISCUSSÃO
A partir do espaçamento utilizado 2,0 x 1,0 e tendo as dimensões da parcela de 10,0 x 10,0 m, foram, de fato, plantadas em cada parcela 50 plantas através de mudas oriundas do Viveiro do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Campus de Areia – PB, e plantadas entre os meses de fevereiro a maio de 2008, período que coincide com o período chuvoso, visando aumentar o índice de sobrevivência das mudas.
A matéria orgânica (MO) do solo que pode ser avaliada pelo teor de carbono orgânico total é considerada como um indicador chave da qualidade do solo. De maneira geral podemos dizer que o húmus contribui para a melhoria da qualidade do solo e produtividade das culturas através dos seus efeitos positivos nos atributos físicos, químicos e biológicos do solo. Este consenso em relação à Matéria Orgânica como indicador da qualidade do solo emana do fato de que seu teor é muito sensível em relação às práticas de manejo, principalmente nas regiões tropicais e subtropicais, onde, nos primeiros anos de cultivo, mais de 50% da matéria orgânica previamente acumulada é perdida por diversos processos, entre esses a decomposição microbiana e a erosão.
A maioria dos atributos do solo, relacionados às suas funções básicas, citados na definição, têm estreita relação com a M.O. tais como: a estabilidade dos agregados, a estrutura, infiltração e retenção de água,, resistência à erosão, atividade biológica, capacidade de troca de cátions (CTC), disponibilidade de nutrientes para as plantas, lixiviação de nutrientes, liberação de CO2 e
degradados existe ainda uma fração significativa de matéria orgânica que começa a se acumular devido ao desenvolvimento do sabiá e ao aparecimento de gramíneas e outras leguminosas rasteiras nas entre linhas do plantio.
Quando analisa-se as quantidades médias de serrapilheira coletada em cada uma das parcelas, observa-se que uma correlação direta entre a quantidade acumulada no solo e seu reflexo positivo presente em teores significativos nas análises de solos. Mesmo nas áreas mais degradas. (Gráfico 1).
De acordo com Golley et al. (1978), a estimativa da biomassa é um instrumento útil na avaliação de ecossistemas, quanto à sua conversão de energia e ciclagem de nutrientes, absorção e armazenagem de energia solar, possibilitando conclusões para a sua exploração racional. É importante avaliar a produção e distribuição de biomassa das espécies arbóreas de uso múltiplo, visando aumentar a disponibilidade de madeira e forragem na região, e que, indiretamente, contribuam com a preservação das espécies nativas.
CONCLUSÕES
O alto índice de sobrevivência do Sabiá e o fato de não se ter derrubado as árvores e espécies existentes na área, acarretaram o aumento da serapilheira e dos teores de matéria orgânica no local, consequentemente os índices de matéria orgânica, havendo uma proteção com estas espécies próximas a algumas fontes que brotam para o interior da bacia hidrográfica do riacho das piabas, diminuindo consideravelmente os sulcos erosivos, o desbarranqueamento de encostas e a erosão laminar.
REFERÊNCIAS
AESA – Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba. Disponível em: http//www.pb.gov.br/aesa. Acesso em: 29 de novembro 2011.
FRANCO, A. A; FARIA, S. M; The contribution of N2-fixing tree legumes to land reclamation and sustainability in the tropics. Soil Biology and Biochemistry, v. 29, n. 5/6, p. 897-903, 1997.
FANCO A.C; BUSTAMANTE M., CALDAS L.S; GOLDSTEIN G; MEINZER F.C; KOZOVITS A.R.; RUNDEL P; CORADIN V.T.R; (2005) Leaf functional traits of Neotropical savanna trees in relation to seasonal water déficit. Trees 19:326-335.
GOLLEY, F.B., McGINNIS, J.T., CLEMENTS, R.G., CHILD, G.I. & DUEVER, M.J. Ciclagem de minerais em um ecossistema de floresta tropical úmida. EDUSP, São Paulo. 1978.
Tabela 1 – índice de sobrevivência das mudas de Mimosa caesalpiniifolia, Benth; plantadas nas 4 parcelas da Granja Renascer, agosto de 2010.
Parcelas em estudo N de Plantas Índice de sobrevivência (%)
Área 1 46 92
Área 2 35 70
Área 3 48 96
Área 4 48 96
Gráfico 1: Teores de Matéria úmida Seca oriunda da serapilheira (em Gramas - g) nas 5 parcelas estudadas. Fonte: Pesquisa de campo, granja Renascer, Bairro Cuités, zona rural Campina Grande – PB.
Gráfico 2: Teores de Matéria Orgânica e Carbono Orgânico nas 5 parcelas estudadas. Fonte: Pesquisa de campo, granja Renascer, Bairro Cuités, zona rural Campina Grande – PB.
