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COLUNAS DE BLINDADOS OU DE SOLDADOS: A CAMPANHA DE 1940 NA FRANÇA E A NARRATIVA DA BLITZKRIEG COMO UMA FORMA INOVADORA DE GUERRA

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Academic year: 2021

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COLUNAS DE BLINDADOS OU DE SOLDADOS: A CAMPANHA DE 1940 NA FRANÇA E A NARRATIVA DA BLITZKRIEG COMO UMA FORMA

INOVADORA DE GUERRA

Fernando Botafogo de Oliveira1

William Arturo Vega Mendoza2

Resumo

A invasão da França em 1940 através da Operação Golpe de Foice abalou analistas e estudiosos das ciências militares quando o Exército Francês, na época considerado um dos melhores e mais bem preparados, foi derrotado com uma rapidez inesperada. Assim, após a conclusão da Segunda Guerra Mundial, criou-se uma concepção de que a Alemanha durante o período entre-guerras havia criado métodos doutrinários e estratégicos inovadores baseados em rápidas manobras e emprego de blindados em pontos críticos das linhas de defesa adversárias. Contudo o termo “Blitzkrieg”, curiosamente criado em 1939 por um repórter do New York Times graças ao sucesso alemão na campanha da Polônia, jamais fora usado nos manuais do Exército, Marinha e Força Aérea Alemã. Estruturado nessa dialética entre uma corrente que defende a existência de uma forma inovadora de guerra empregada pelas Forças Armadas Alemãs e outra proponente que tudo aquilo realizado durante os 6 anos da Segunda Guerra Mundial fora apenas uma adaptação de uma forma de guerra antes já praticada pela Prússia, este trabalho questiona: Como a Invasão da França em 1940 foi planejada a partir de outros antecedentes históricos? A hipótese norteadora desta pergunta é a de demonstrar que a Invasão da França foi fruto de um processo evolucionário do estudo do uso dos carros de combate blindados ao invés de uma forma inovadora de guerra. Por fim, os principais objetivos destes escritos são os de identificar eventos e autores antecedentes à Operação Golpe de Foice que influenciaram no seu planejamento, e analisar a blitzkrieg a partir de uma perspectiva que a identifique como uma reiteração de doutrinas e estratégias do passado.

Palavras-Chave

Blitzkrieg; Narrativa; Modernização

Abstract

The invasion of France in 1940 through the Operation Sickle-Cut startled analysts and military sciences scholars when the French Army, at the time considered one of better prepared and well-equipped forces, was defeated with unexpected speed. Thus, after the conclusion of the Second World War, a conception that Germany had created innovative strategical and doctrinarian methods based upon maneuvers and the employment of armored

1 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciências Militares da Escola de Comando e Estado-Maior do

Exército, bolsista da Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, Adjunto Acadêmico em Conflitos Bélicos do Observatório Militar da Praia Vermelha. E-mail: desertbriton@gmail.com

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vehicles in enemy defenses reigned amongst scholars. Although the term blitzkrieg, curiously created in 1939 by a New York reporter due to the German success in the polish campaign of 1939, was never used in field manuals belonging to the German Army, Navy, and Air Force. Structured over the dialectics between an axiom which defends the existence of a ground-breaking form of warfare employed by German Armed Forces, and another proposal that sustains everything accomplished during the 6 years of the Second World War was just an adaptation of warfare methods which were put in practice by Prussia, this essay questions: How the Invasion of France in 1940 was planned through historical antecedents? The hypothesis that will orientate the answer to the research question is that the Invasion of France was the product of an evolutionary process regarding the usage of armored cars instead of an innovative form of warfare. Finally, the objectives contained in this work are to identify events and authors prior to the Operation Sickle-Cut that could have influenced during its creation, and to analyze the blitzkrieg through a perspective that identifies it as a reiteration of military of past doctrines and strategies.

Keywords

Blitzkrieg; Narrative; Modernization

1. Introdução

A Operação Golpe de Foice, desenvolvida para a invasão da França em Maio de 1940, foi considerada após a sua execução como um marco de inovação doutrinária devido a velocidade do avanço das tropas alemãs. A partir de uma rápida derrota, o Exército Francês, até então considerado como uns dos melhores e mais bem preparados exércitos do mundo, sofreu uma memorável derrota para uma Alemanha que havia sido vencida durante a Primeira Guerra Mundial.

O impacto deste evento na História Militar fez com que analistas militares apontassem para tal fato como uma inovação histórica, como algo que jamais havia sido feito no que cerne o desenho das manobras e o uso de blindados como ferramentas de avanço de tropas.

Contemporaneamente, a publicação da obra de Karl-Heinz Frieser (2005) intitulada The Blitzkrieg Legend: The 1940 Campaign in the West, trouxe consigo importantes questionamentos e hipóteses sobre a modernidade e a inovação da invasão da França em 1940. Nesta obra, Frieser (2005) propõe que a operação realizada para a Invasão da França fora uma adaptação de manobras e planos que a Alemanha havia executado tanto na Primeira Guerra Mundial quanto na Guerra Franco Prussiana .Assim, se estabelecem duas correntes que identificam a Campanha na França em 1940 da seguinte forma: (I) Como evento inovador e capaz de quebrar paradigmas da doutrina e da história militar (II) Como evento que apenas reitera um pensamento estratégico e doutrinário já praticado no passado.

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Neste sentido, este trabalho questiona: Como a Invasão da França em 1940 foi planejada a partir de outros antecedentes históricos? Para responder esta pergunta, uma metodologia qualitativa embasada em um processo descritivo será utilizada para verificar a hipótese destes escritos. Logo, este ensaio é uma pesquisa teórica realizada a partir de uma revisão bibliográfica sustentada em pesquisas documentais por outros autores.

A hipótese que se tentará verificar ao final é a de que a Operação Golpe de Foice foi fruto de um processo evolucionário do estudo do uso de carros de combate ao invés de uma forma inovadora de guerra. Os objetivos que permitirão estabelecer meios para atingir esta hipótese são os seguintes: (I) Analisar a Operação Golpe de Foice a partir de uma perspectiva que a identifique como uma reiteração de doutrinas e estratégias do passado, (II) Identificar eventos antecedentes que possam ter influenciado no planejamento e no desenrolar desta operação.

2. Desenvolvimento

De início, é necessário estabelecer os fundamentos históricos e factuais daquilo que pode ser considerado uma doutrina, ou algo que se aproxime disso, bem como suas relações intrínsecas com a política e como isto se articula com os níveis tático, operacional e estratégico.

Os níveis estratégico, operacional e tático descritos no parágrafo anterior compõem uma importante parte do processo de ameaça ou uso da força em qualquer conflito. A trindade paradoxal de Clausewitz conota que a política como um processo de influência e poder relativo é algo inerente a guerra, portanto infere-se que os próprios objetivos do uso da força são de origem propriamente política. Logo, a estratégia terá em si traços políticos já que ela é uma forma de traduzir os objetivos estabelecidos pela política em meios militares, e é exatamente por este fato que tanto a política como a estratégia nunca podem ser tratados de forma separada como se não houvesse uma interposição entre os dois (GRAY, 2011).

A relação da Política e da Estratégia explica como ambas se articulam para a ameaça ou uso da força com objetivos políticos. Entretanto, a maneira como os níveis estratégico e operacional se relacionam para projetar aquilo que o nível político deseja obter necessita do intermédio de algo que consiga transformar os meios militares empregados pela estratégia em ações com resultados concretos, este algo é a doutrina. Nesta mesma linha, é

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passa a abarcar o escopo completo da estratégia (COUTAU-BÉGARIE, 2011). A unilateralidade que o intelectual francês descortina é a de que desde os tempos de Clausewitz a doutrina preocupava-se quase que apenas com questões do emprego operacional dos recursos militares, sem ao menos tanger alguma parte do nível estratégico.

Além disso, é necessário também estabelecer o que é uma processo evolucionário da doutrina alemã e como isso se articula com o modelo clausewitziano de guerra de manobra (bewegungskrieg), e como a tradição prussiana que data desde Frederico, O Grande, desta forma de guerrear, pode ter estabelecido um traço daquilo que durante a Operação Fall Weiss, a invasão da Polônia em Setembro de 1939, ficaria conhecido como guerra-relâmpago ou blitzkrieg.

A ideia de guerra-relâmpago pode ser considerada como uma maneira onde uma força militar liderada por uma ponta-de-lança compostas por um vasto número de blindados, infantaria mecanizada e motorizada, utilizando de suporte aéreo através de bombardeios e bombardeiros de mergulho, utiliza de manobras de flanco como movimentos de pinça, velocidade para envolver a concentração de forças do exército adversário (GRAY, 2011). Harris (1995), contribui no sentido de afirmar que o principal objetivo desta forma de se utilizar a guerra como instrumento político é a de evitar que batalhas de atrição e trincheiras, como aquelas da Primeira Guerra Mundial, sejam evitadas ao fazer com que o adversário seja sobrecarregado pela velocidade e pelas manobras utilizadas pela força atacante, culminando na sua derrota de maneira rápida e fugaz.

Em termos clausewitzianos, isto significaria utilizar do conceito de ponto de gravidade, ou seja, aquele ponto onde as forças adversárias estão sensíveis a ponto de ruírem caso este seja atingido, através do ímpeto e da inércia do movimento e da velocidade dos blindados. Não apenas isso, mas Clausewitz (1986), já compreendia a guerra de manobra como uma maneira de atingir o ponto de gravidade de um adversário, algo que se torna ainda mais relevante no caso da campanha da França.

O estudioso suíço Baron Antoine Henri de Jomini, em sua obra intitulada A Arte

da Guerra, escrita como uma forma de encontrar padrões na forma de guerrear de Napoleão

Bonaparte através da verificação de padrões estratégicos com o uso da História Militar dos conflitos passados, também revela padrões que podem ser encontrados na campanha alemã de maio de 1940. Os conceitos de massa, concentração, maneabilidade e velocidade, que podem ser resumidos em utilizar numerosas unidades em um determinado ponto da defesa

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adversária no menor tempo possível, se tornam ainda mais relevantes quando a principal característica que marcou a invasão da França na Segunda Guerra Mundial fora a exata rapidez com que o Exército Francês fora derrotado.

Ademais, a questão do uso de manobra como forma de conduzir a guerra, é algo ainda mais antigo que a própria ideia clausewitziana de ponto de gravidade. Frieser (2005), sustenta que a manobra de duplo envolvimento realizada durante a Operação Golpe de Foice é semelhante a manobra de Hannibal em Cannae no ano de 216 BC, essa semelhança é um indicativo de como a movimentação de unidades militares pode datar de tempos ainda anteriores a Maio de 1940.

Conforme visto no início desta seção, a doutrina é um instrumento de ligação entre o setor estratégico e o operacional, e que, pela estratégia ser um instrumento político que transforma os objetivos do Estado em meios militares através das forças armadas, a doutrina também carrega na sua essência uma carga de política. Logo, para haver doutrina, é necessário haver uma política nacional de defesa, ou uma política de Estado no sentido mobilizar esforços industriais e econômicos para que as Forças Armadas tenham as condições necessárias para atingir seus objetivos.

3. Conclusão

Após a exposição destes fatos, estabelece-se que através ditos é possível concluir que a Operação Golpe de Foice além de ter sido uma operação desenvolvida a partir de outros antecedentes históricos, foi também resultado de um contexto em particular. Assim, o que se pode verificar é que o contexto de desenvolvimento da Invasão da França foi um imperativo para o sucesso alemão durante a invasão. Além disso, a inspiração vinda do passado foi um ponto chave para que a manobra realizada pudesse ter sido executada com sucesso.

4. Referências Bibliográficas

CLAUSEWITZ, Carl von. On War. HOWARD, Michael; PARET, Peter (Trads). Yale: Yale University Press, 1984.

COUTAU-BEGÁRIE, Hervé. Traité de stratégie. Paris: Economica, 2011.

FRIESER, Karl-Heinz. The Blitzkrieg Legend: The 1940 Campaign in the West. 1º ed. Estados Unidos da América: Naval Institute Press, 2005.

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GRAY, Colin. Hard Power and Soft Power: The Utility of Military Force as

an Instrument of Policy in the 21st Century. Estados Unidos da América: Strategic

Studies Institute, 2011.

Referências

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