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UMA PROPOSTA PARA O ENSINO DE ÂNGULOS A ESTUDANTES SURDOS

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Academic year: 2021

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XVIII Encontro Baiano de Educação Matemática A sala de aula de Matemática e suas vertentes UESC, Ilhéus, Bahia de 03 a 06 de julho de 2019

2019. In: Anais do XVIII Encontro Baiano de Educação Matemática. pp.xxx. Ilhéus, Bahia. XVIII EBEM. ISBN:

UMA PROPOSTA PARA O ENSINO DE ÂNGULOS A ESTUDANTES SURDOS

Cecilia Manoella Carvalho Almeida Instituto Federal da Bahia cecipatinho@yahoo.com.br

Anete Otília Cardoso de Santana Cruz Instituto Federal da Bahia profanetecruz@gmail.com

Vitor Rios de Jesus Instituto Federal da Bahia profvitorrios@gmail.com

Sueli dos Prazeres Santos Instituto Federal da Bahia suematematica@gmail.com

Resumo: O presente relato propõe uma ferramenta didática para ser utilizada no ensino de ângulos. Serão apresentadas propostas de modelos para o ensino de ângulos para estudantes surdos, do Instituto Federal da Bahia – IFBA, campus Salvador, tendo em vista a dificuldade que alguns professores tem para ensinar esse campo do saber matemático. Para tal, foram observadas as aulas ministradas a um estudante surdo do curso técnico de Eletrônica do IFBA e analisou-se como se deu o aprendizado sobre o saber ângulos, por meio de um modelo de observação e do manuseio do software Geogebra. Pode-se assumir que há uma melhora na aprendizagem de estudantes surdos quando o professor realiza adaptações em sua prática pedagógica e amplia seu repertório metodológico para um ensino que permita o uso de outras linguagens e formas de expressão, tais como a utilização de recursos visuais, materiais manipuláveis, dentro outros objetos que ampliam a aprendizagem, não somente do surdo, mas também dos ouvintes.

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INTRODUÇÃO

Todos têm direito à educação e este é considerado um direito fundamental, garantido pela Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988 e vigente até os tempos atuais. Além do mais, ao longo de mais de trinta (30) anos, o Brasil tornou-se signatário de acordos internacionais para garantir o direito das pessoas com deficiência, criando seus próprios dispositivos legais, graças a luta de movimentos sociais de/para as pessoas com deficiência. O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia – IFBA, em consonância com a lei, tem ampliado o quantitativo de estudantes com deficiência ingressantes nessa instituição, seja no Ensino Médio seja no Ensino Superior, e o número de surdos tem sido crescente a cada ano.

Destacam-se algumas peculiaridades dos estudantes surdos, como por exemplo, o letramento matemático. Alguns deles chegam ao Ensino Médio tendo apenas vivenciado as operações básicas, e pouco (ou praticamente nada, na maioria das vezes) do conteúdo de Geometria. Vivenciamos no ensino deste saber a ausência de entendimento de termos específicos e de visão espacial de alguns deles. Por exemplo, quando ao estudante surdo é apresentado o conteúdo de ângulos, muitas das vezes não nos questionamos: Será que o meu estudante de fato entendeu aquele desenho que fiz no quadro, dentro da minha aula expositiva sobre ângulos?

Neste sentido resolvemos socializar como estamos trabalhando com o ensino de conceitos de Geometria Plana, em especial, o tema ângulos, através de um simples modelo utilizando canudos e do software de geometria dinâmica - o Geogebra.

A EDUCAÇÃO DE SURDOS

A Declaração de Salamanca que, em 1994, foi promovida pelo governo da Espanha em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) e a Conferência Mundial sobre Necessidades Educacionais Especiais foi um dos documentos mais importantes e significativos sobre a Escola Inclusiva, pois padronizou, em nível mundial, princípios, políticas e práticas para a transformação da Escola Regular em Escola Inclusiva.

No ano de 1996, dois anos após a Declaração de Salamanca, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), no Capítulo V, definiu a Educação Especial como

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acordo com a deficiência. Dessa maneira, a legislação brasileira se amplia com a legislação inclusiva, que resguarda os direitos das pessoas que possuem algum tipo de deficiência.

Com a conquista de muitos dispositivos legais, em 2002, institui-se a Lei nº 10.436/02 que reconhece a Língua Brasileira de Sinais como meio legal de comunicação e expressão. A partir daí Libras torna-se disciplina obrigatória do currículo nos cursos de formação de professores e de Fonoaudiologia. Em 2005, o Decreto nº 5.626/05 regulamenta a Lei nº 10.436/02, visando à inclusão dos alunos surdos e dentre outros aspectos dispõe a organização da educação bilíngue no ensino regular.

Nesse sentido, o cotidiano escolar começou a se organizar frente às demandas do processo de construção do sistema educacional inclusivo como lócus de formação para estudantes com deficiência, evitando que sua presença fosse meramente acessória dentro do espaço escolar.

Para a maioria dos estudantes surdos, o convívio escolar começa mais tarde. E vários são os fatores que corroboram com essa afirmativa: diagnóstico tardio da surdez; se o núcleo familiar é composto por ouvintes, o surdo é levado a se comunicar pela oralização, adiando, na maioria das vezes, o aprendizado e a comunicação em libras; a escassez (na maioria dos casos, a ausência) de escolas especializadas para surdos desde a educação infantil; a falta de intérpretes na educação básica, dente outros, são alguns dos aspectos que influenciam para que muitos deles deixem de estudar na idade correta e se tornem fluentes, o mais cedo possível, em sua língua materna (que é a libras). E nas salas de aula de matemática, no que se refere aos estudantes com surdez, tal situação se agrava, afinal

A língua consiste em uma barreira comunicacional na educação matemática de surdos, pois as aulas ocorrem em Língua Portuguesa – segunda língua para esses estudantes – e contam, imprescindivelmente, com a Linguagem Matemática, ambas contendo símbolos e significados distintos, ou não existentes, dos encontrados na sua primeira língua, que é a LIBRAS. Por isso, se faz necessário modificar esta realidade de práticas pedagógicas e didáticas, excludentes, para práticas que garantam a autonomia dos estudantes surdos, na apreensão dos saberes, permitindo-os que participem ativamente do processo de aprendizagem, assegurando, dessa maneira, a sua permanência, com qualidade, no ambiente escolar/acadêmico. (CRUZ, 2018)

Por meio do presente trabalho pretendemos ofertar uma ferramenta didática que possa ser utilizada pelo educador, na tentativa de organizar seu trabalho pedagógico de uma maneira inclusiva, respeitando as individualidades dos estudantes, surdos ou não surdos, no ensino de ângulos. O professor terá “[...] a tarefa de individualização das situações de aprendizagem

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oferecidas a todos os alunos, levando em consideração as suas capacidades afetivas, emocionais, sociais e cognitivas” (BRASIL, 1998, p.32).

INTERVENÇÃO DIDÁTICA

O conteúdo de Geometria já é descrito por alguns professores e alunos como difícil e complicado. Alunos de um modo geral expõem dificuldades na compreensão de conceitos e de visualização dos teoremas e definições. Para os estudantes surdos além da dificuldade de abstração de alguns destes conceitos ocorre também à dificuldade de acompanhar a metodologia expositiva do professor. Neste sentido, uma aula com utilização de recursos didáticos que permita aos estudantes ouvintes e surdos visualizarem como determinado conceito é definido, permite um melhor aprendizado. Segundo Costa et al (2018) "os recursos didáticos podem ser considerados uma dessas estratégias com surdos, haja vista que buscam favorecer os aspectos visuais dos surdos, despertando ainda mais o interesse dos alunos em relação ao conteúdo que está sendo ensinado.”(p.3)

Para tanto, apresentamos o que aqui chamamos de intervenção didática, o uso de um modelo através de material manipulável como o canudo, e do software Geogebra no ensino do conceito de ângulo para estudantes ouvintes e surdos aplicada em um curso técnico de Eletrônica do ensino médio do IFBA, campus Salvador. O ensino deste componente curricular se deu através da apresentação de um modelo para o ensino de ângulos e depois a utilização do software de Geometria dinâmica GeoGebra.

MODELO PARA ENSINO DE CONCEITOS DE ÂNGULOS

Quando ensinamos ângulos a estudantes além de apresentar a eles sua definição, apresentamos também as relações de congruência e comparação, os conceitos de bissetriz, ângulo reto, agudo, obtuso, suplementares, complementares, alternos (internos e externos), relação entre as retas paralelas.

Segundo Dolce e Pompeu (2005) “chama-se ângulo à reunião de duas semirretas de mesma origem, não contidas numa mesma reta (não colineares)”. (p.20).

Diante das dificuldades de entendimento do nosso aluno surdo ao exercício proposto na figura 1, resolvemos criar um modelo para discussão dos conceitos de ângulo quando apresentado sobre uma transversal que corta retas paralelas.

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Figura 1 – Exercício proposto em sala de aula

O modelo proposto para auxiliar os estudantes é bastante simples de ser construído, bastando utilizar canudos e um pedaço de papel duplex. Os canudos foram colados lado a lado representando a ideia de retas paralelas. Outro canudo e recorte de ângulos confeccionados em papel duplex conforme mostrado na figura 2 a seguir:

Figura 2 - Modelo criado para o ensino de ângulos

O modelo foi construído para que o professor trabalhe os conceitos dos ângulos formados por duas retas. Nesse caso, as retas paralelas são fixas e a transversal móvel para que o estudante possa movimentar os ângulos confeccionados livremente. O objetivo deste formato de construção é facilitar o entendimento do estudante surdo, quanto a associação da posição ao nome dado ao ângulo.

A construção do modelo foi confeccionado com a ajuda do estudante surdo e desta forma foi possível reforçar conceitos geométricos necessários para a validade deste. À medida que manuseávamos questões sobre os ângulos surgiam e respondíamos com a ajuda do modelo construído.

A seguir, as Figuras 3, 4, 5 e 6 representam algumas das posições referidas anteriormente.

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Figura 3 Figura 4 Figura 5 Figura 6 ÂNGULOS NO GEOGEBRA

É fato que a tecnologia está cada vez mais presente na vida dos estudantes, portanto devemos utilizá-la como um recurso didático afim de melhorar a aprendizagem dos estudantes. Nesse sentido, propusemos a utilização do software de Geometria dinâmica GeoGebra para trabalharmos com algumas atividades envolvendo os ângulos alternos internos e externos, bem como os ângulos colaterais internos e externos, dados duas retas paralelas cortadas por uma transversal.

Nas atividades propostas os alunos identificaram a congruência entre os ângulos alternos internos e externos por construção através das ferramentas disponíveis no software, vide figura 7 e 8.

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Figura 7 Figura 8

NOSSA ANÁLISE

Acompanhamos a sala de aula de um estudante surdo do segundo ano do ensino médio do curso técnico de Eletrônica, na observação durante um mês de como se deu o processo de aprendizagem do tópico ângulos dentro do conteúdo matemático Geometria plana.

O estudante surdo no IFBA participa das aulas como um estudante comum sem nenhuma deficiência. Ele assistia às aulas junto com os demais colegas ouvintes e sua intérprete. O que buscamos em nossas observações era entender como estava sendo desenvolvida a compreensão sobre este componente curricular através do que acreditamos ser obstáculos de origem epistemológica revelados nas respostas aos questionamentos levantados por ele, as suas atividades e avaliações realizadas. Neste caminhar encontramos também o que acreditamos ser obstáculos didáticos no desenvolvimento das aulas e atividades propostas pela professora.

Observamos que alguma das dificuldades dos estudantes surdos está na maneira como o conteúdo é apresentado. A dificuldade no entendimento de algumas palavras em português, palavras da linguagem matemática. A palavra ângulo, por exemplo, que fez com que percebêssemos a necessidade de trabalharmos de maneira diferente.

O modelo foi apresentado ao estudante após a aula expositiva da professora regente, em horário oposto ao dela, chamado horário de atendimento. Neste horário de atendimento, o estudante frequenta semanalmente e assim tira suas dúvidas e realiza atividades complementares sobre o conteúdo explanado, em outra sala de aula com o professor e o interprete. Neste momento o estudante expõe o que não compreendeu da atividade proposta pela professora em classe e a partir desse momento nós apresentamos o modelo.

O estudante pôde manusear o modelo e verificar os conceitos de ângulos complementares, suplementares, alternos (internos e externos), etc. Além disso, ao realizar

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suas atividades o modelo permitiu que o estudante fizesse uma análise mais rápida da situação do ângulo descrito.

Podemos concluir com nossa intervenção que ocorrem melhorias no aprendizado dos estudantes surdos quando nos permitirmos ampliar nosso repertório metodológico em sala de aula. Obstáculos irão surgir sempre à medida que os estudantes avançam seu aprendizado, geralmente as turmas são grandes e poucos são os surdos presentes (um ou no máximo dois) em sala de aula o que não permite ao professor uma atenção diferenciada aos questionamentos e dúvidas deles, mas pequenas mudanças em nossas conduções podem ser significativas na melhoria do processo de ensino aprendizagem não somente dos surdos mas dos estudantes ouvintes.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Matemática. (3º e 4º ciclos do ensino fundamental). Brasília: MEC, 1998.

COSTA, Walber Christiano Lima da: MENEZES, Gabrielle Janaina Barros de; CARVALHO, Carla Cristina Coelho; LIMA, Valdineia Rodrigues. Recursos didáticos no ensino de matemática: uma proposta na educação de surdos. Revista GPES estudos surdos. V.1 n.1, Marabá- Pará, 2018.

CRUZ, Anete Otília Cardoso de Santana. A TAD na organização de situações matemáticas para estudantes surdos: estudos iniciais. Artigo apresentado no II Simpósio Latino-Americano de Didática da Matemática. 03 a 08 de dezembro de 2018, São Paulo, Brasil.

http://sbem.iuri0094.hospedagemdesites.ws/eventos/index.php/GT-12/2-ladima/schedConf/presentations?searchInitial=F&track= Acesso em 26 de janeiro de 2019.

DOLCE, Osvaldo.; POMPEO, José Nicolau. Fundamentos da Matemática Elementar. Geometria Plana. Vol. 9. Editora Ática, São Paulo, 2005.

Referências

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