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FORMAÇÃO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA ADAPTADA: UM ESTUDO DE CASO

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FORMAÇÃO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA ADAPTADA: UM ESTUDO DE CASO

Patrícia Rossi1 Mey de Abreu van Munster2 Programa de Pós-graduação em Educação Especial – PPGEEs

Universidade Federal de São Carlos – UFSCar

INTRODUÇÃO

A inclusão social implica em um processo bilateral, no qual as pessoas excluídas e a sociedade buscam em parceria a equiparação de oportunidades para todos, visando uma sociedade democrática em que a diversidade seja respeitada, aceita e reconhecida. Para que aconteça o processo de inclusão na escola, além da organização de serviços e de políticas, é importante que os professores possuam uma formação profissional adequada para que saibam lidar, atuar e trabalhar com essa diversidade (MENDES, 2002; MENDES, 2006). A formação do profissional em Educação Física convive com uma diversidade de intervenções que sugerem a ausência de um modelo único ou generalizado nas formações de ensino superior, pois os cursos de Educação Física incluem disciplinas e fundamentos centrados no movimento do corpo e nas bases biológicas (NASCIMENTO, 2006; MAUERBERG-DECASTRO, 2005).

Muitos são os problemas encontrados na formação inicial em Educação Física que podem refletir tanto por questões mais gerais, que são representadas por “determinações ou fatores políticos e econômicos que afetam a instituição universitária como um todo”, como por questões mais específicas, como as que advêm de “fatores organizacionais da própria estrutura universitária, de fatores pessoais e sociais de características de professores e dos alunos e também de fatores do desenvolvimento científico da área” (NASCIMENTO, 2006, p. 61).

Segundo Ghilardi (1998), o profissional em Educação Física deve possuir um conhecimento que o permita compreender o homem em movimento nos variados contextos em que ele se encontra, entendendo as fases de desenvolvimento, as necessidades, as limitações e os anseios, sem fundamentar somente na prática pela prática.

Durante a formação profissional em Educação Física, é importante que se discuta e analise como se processa o movimento nas diversas formas de manifestações (esporte, dança, recreação, escola), sobretudo no dia a dia do indivíduo, direcionando a atenção para: as implicações do movimento dos alunos (com e sem deficiência), o que esse movimento proporciona para eles, os benefícios, a adequação e inadequação, as propriedades e impropriedades e como interfere na vida (GHILARDI, 1998).

1

Mestranda pelo Programa de Pós-graduação em Educação Especial – PPGEEs/UFSCar patriciarossi.pr@hotmail.com

2 Professora Doutora do Programa de Pós-graduação em Educação Especial – PPGEEs/UFSCar

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Tendo em vista alunos com e sem deficiência, nos deparamos com a Educação Física Adaptada, considerada uma parte da Educação Física que tem como finalidade o estudo e a intervenção profissional acerca das pessoas com deficiência para a prática de atividades físicas, desenvolvendo a cultura corporal de movimento (PEDRINELLI; VERENGUER, 2008).

No Brasil, a Educação Física Adaptada passou a influenciar uma discussão acadêmica e profissional a partir da década de 1980 e 1990, proporcionando reflexões sobre sua identidade (PEDRINELLI; VERENGUER, 2008).

A preocupação com a formação profissional para atuar com a Educação Física Adaptada surgiu quando foi identificado que poucos profissionais da Educação Física atuavam na área da Educação Especial. Assim, os cursos de Educação Física foram reestruturados, a partir da Resolução n. 03/87, do Conselho Federal de Educação que propunha a inserção da disciplina Educação Física Adaptada nos cursos de graduação de Educação Física (PEDRINELLI; VERENGUER, 2008) para atender às demandas da sociedade. Todavia, alguns cursos de Educação Física, antes dessa Resolução, já apresentavam preocupação com as pessoas com deficiência, incluindo disciplinas que abordavam essa temática nos seus conteúdos curriculares.

Na disciplina de Educação Física Adaptada é importante que se considere a dimensão conceitual, em que poderão ser exploradas as definições e os conceitos relacionados à deficiência e à inclusão; a dimensão procedimental do conteúdo, em que poderão ser analisados os programas e os procedimentos pedagógicos, aplicação da intervenção e avaliação simulada durante as aulas; e a dimensão atitudinal do conteúdo, que envolve a percepção e a conscientização das pessoas com deficiência (ZABALA, 1998; PEDRINELLI; VERENGUER, 2008).

A Educação Física Adaptada propõe a modificação das atividades para ir ao encontro das necessidades dos alunos. Para isso, o profissional deve ter um conhecimento básico (adquirido pela formação profissional) e também, a sensibilidade para atuar frente às situações diversas em ambiente escolar.

O atual desafio de refletir sobre a inclusão de pessoas com deficiência no contexto escolar proporciona a seguinte reflexão: como vem acontecendo o processo de formação profissional dos professores de Educação Física Escolar?

Considerando a importância do intercâmbio de experiências entre as diferentes instituições de ensino superior, esse estudo tem como objetivo analisar o processo de formação dos egressos do curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar, para atuar diante do processo de inclusão de alunos com deficiência nas aulas de Educação Física Escolar.

MÉTODO

O presente estudo, de cunho quali-quantitativo, caracteriza-se como uma pesquisa documental, a qual é baseada em documentos constituídos por fontes primárias, escritos ou não, podendo ser arquivos públicos, arquivos particulares, censos, contratos, entre outros (MARCONI; LAKATOS, 2007).

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Para a realização desse estudo, foi feita a pesquisa e a análise dos documentos do curso de Licenciatura em Educação Física da UFSCar. Foram utilizadas fontes primárias referentes a esse curso: projeto político pedagógico, estrutura curricular e os planos de ensino, tanto das disciplinas obrigatórias oferecidas pelo curso no período de 2008 a 2011, quanto das disciplinas optativas oferecidas entre 2009 e 2011.

Para compreensão dos resultados recorreu-se à análise de conteúdo, tendo como técnica a análise temática. Foram relacionados temas (unidades de significação) que estavam ligados a uma afirmação (núcleos de sentido) a respeito de determinado assunto, sendo apresentadas por meio de uma palavra, uma frase ou um resumo (unidades de registro) (MINAYO, 1999).

Para a análise, foram explorados os núcleos de sentidos das unidades de significação (tema) de cada questão. A partir das unidades de significação, foram determinadas as unidades de registros (frases). Em seguida, foram selecionadas unidades de contextos, para análise das interferências e realização de interpretações acerca do assunto abordado na pesquisa. Os núcleos explorados foram: inclusão, deficiência, necessidades especiais e educação física adaptada.

RESULTADO E DISCUSSÃO

A fim de proporcionar melhor compreensão acerca dos dados obtidos pela pesquisa documental embasada no projeto político pedagógico, a análise e discussão foram desenvolvidas concomitantemente e foram organizadas de acordo com os seguintes tópicos: a formação profissional acerca do processo de inclusão, a estrutura curricular e atividades complementares/extracurriculares e os planos de ensino das disciplinas obrigatórias e optativas oferecidas pelo curso de Licenciatura em Educação Física da UFSCar.

A formação profissional do curso de Licenciatura em Educação Física da UFSCar acerca do processo de inclusão

O projeto pedagógico do Curso de Licenciatura em Educação Física da UFSCar nos mostra que não há referência direta e específica ao processo de inclusão, todavia, o trecho a seguir apresenta uma reflexão acerca desse tema:

A Educação Física Escolar deve dar oportunidades a todos os alunos para que desenvolvam suas potencialidades, de forma democrática e não seletiva, visando seu aprimoramento como seres humanos. Nesse sentido, cabe assinalar que os alunos portadores de deficiências não podem ser privados das aulas de Educação Física. Independentemente de qual seja o conteúdo escolhido, os processos de ensino e aprendizagem devem considerar as características dos alunos em todas as dimensões do comportamento (cognitiva, corporal, afetiva, ética, estética, de relação interpessoal e inserção social). (UFSCar, 2010, p. 16-17).

Observa-se que o projeto pedagógico refere que todos os alunos possuem o direito de participar das aulas de Educação Física na escola, considerando também os que apresentam

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algum tipo de deficiência. Isso demonstra a preocupação do curso em relação ao processo de inclusão e a intenção de formar profissionais que promovam a participação de todos nas aulas de Educação Física Escolar de modo democrática, sem que os alunos com deficiência sejam excluídos.

Nesse mesmo sentido, como dissertam Pedrinelli e Verenguer (2008), o professor deve olhar para seus alunos, com e sem deficiência, e perceber as capacidades, possibilidades e essência, contribuindo para um processo efetivo de escolarização e assegurando os direitos humanos e sociais de todos.

Concomitantemente, verifica-se o fato de o curso preocupar-se com a forma como os profissionais desenvolverão os conteúdos, pois é de extrema importância adaptar as estratégias de ensino e a metodologia para ir ao encontro das características e das necessidades dos alunos, proporcionando a participação de todos, selecionando as atividades apropriadas, com o intuito de proporcioná-los um ambiente favorável à aprendizagem (PEDRINELLI; VERENGUER, 2008).

Outro trecho do projeto pedagógico aponta o fato das transformações que acontecem na sociedade e a necessidade de estar atento a essas mudanças, afinal:

[...] é preciso que a formação universitária contribua para uma nova postura ética, recolocando valores humanos fundamentais como justiça, solidariedade, honestidade, reconhecimento da diversidade e da diferença, respeito à vida e aos direitos humanos básicos, como suportes de convicções democráticas. (UFSCar, 2010, p. 18)

Assim, observa-se a importância direcionada ao processo de inclusão, pois como Mendes (2002) afirma, o princípio da inclusão social se associa à construção de uma sociedade democrática, na qual a diversidade deve ser respeitada, aceita e possuir reconhecimento político das diferenças.

Portanto, em uma educação inclusiva, o professor deve respeitar a diversidade e promover atividades, estratégias e planos de ensino que valorizem a diferença. Sem esquecer-se que os conhecimentos, as habilidades e os valores a serem alcançados pelos alunos com deficiência devem ser os mesmos propostos para toda a turma (MACHADO; LABEGALINI, 2007).

Já o último trecho apresenta o processo de inclusão referente à atuação do profissional em Educação Física, que:

“compreende em um processo constitutivo da cidadania dos alunos (que) é essencial para a superação das desigualdades sociais, à medida que seja refletida nos processos e nos resultados relacionados com a melhoria da qualidade cognitiva das aprendizagens. Tal compreensão tem implicações para o perfil profissional desejável de professor.” (UFSCar, 2010, p. 9-10).

Essa discussão demonstra que o curso preocupa-se com uma formação profissional que “supere as desigualdades sociais”, ou seja, que proporcione a equiparação de oportunidades a todos os alunos, independentemente da sua condição motora, cognitiva, social, afetiva, estética etc. Afinal, todos são diferentes e necessitam de condições

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adequadas às suas peculiaridades individuais, usufruindo assim, das oportunidades existentes (ARANHA, 2000).

A partir do exposto, considera-se que o curso de Licenciatura em Educação Física da UFSCar preocupa-se sim com o processo de inclusão e seus princípios, que são refletidos nesses três trechos citados acima. Entretanto, seria importante que houvesse uma discussão mais aprofundada em relação ao processo de inclusão nas escolas e, principalmente, durante as aulas de Educação Física Escolar.

A estrutura curricular oferecida pelo curso de Licenciatura em Educação Física da UFSCar e as atividades complementares/extracurriculares

Os conteúdos desenvolvidos nas disciplinas desse curso são trabalhados de forma ampla, preocupando-se com as três dimensões dos conteúdos: conceitual, procedimental e atitudinal. A conceitual aborda os conceitos, os fatos e os princípios, é o saber; e a procedimental está relacionada com as regras, os métodos, as técnicas, as habilidades, as estratégias que buscam alcançar e realizar um objetivo, é o saber fazer; e a atitudinal, que envolve as normas, os valores e as atitudes, é o ser (ZABALA, 1998). As três dimensões permeiam todo o conhecimento escolar e estão presentes no projeto pedagógico do curso em questão.

A estrutura curricular do curso compreende disciplinas de vários grupos de conhecimentos, que são aqueles adquiridos durante a graduação e que privilegiam o exercício da reflexão e análise dos conhecimentos, proporcionando ao futuro licenciado que reconheça o caráter pedagógico de sua prática e que tenha a produção de conhecimento vinculada diretamente à sua vida profissional. As disciplinas são classificadas e organizadas como mostra o quadro 1 a seguir:

QUADRO 1 – Classificação das disciplinas oferecidas pelo curso de Licenciatura em Educação Física da UFSCar.

OA - H : Disciplina de orientação acadêmica – derivada das ciências Humanas

OA - B : Disciplina de orientação acadêmica – derivada das ciências Biológicas

Ope : Disciplina de orientação pedagógica

Opr : Disciplina de orientação às atividades (ou de orientação às práticas) Fonte: Projeto pedagógico do curso de licenciatura em Educação Física da UFSCar (UFSCar, 2010).

A estrutura curricular atual foi reformulada e baseia-se em discussões atuais que envolvem a produção de conhecimento na área, tendo em vista o novo perfil do licenciado.

É importante ressaltar, que para a elaboração desse estudo, foram analisadas apenas as disciplinas oferecidas pelo Departamento de Educação Física e Motricidade Humana (DEFMH/UFSCar). Faz-se necessário ressaltar que o Curso de Licenciatura em Educação Física é composto ainda por disciplinas oferecidas por outros departamentos.

Ao analisar a grade curricular, verifica-se que o DEFMH/UFSCar oferece apenas uma disciplina obrigatória específica para desenvolver os aspectos acerca do processo de inclusão e das pessoas com deficiência na Educação Física Escolar. Essa disciplina é

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denominada “Educação Física Adaptada”, classificada como sendo de orientação pedagógica. Antes denominada de “Educação Física para Populações Especiais”, foi reformulada para atender ao novo perfil do licenciado e às necessidades da sociedade. A Educação Física Adaptada, que envolve o estudo e a intervenção acerca das pessoas com deficiência para a prática de atividades físicas, passou a influenciar uma discussão acadêmica e profissional a partir da década de 1980, quando surgiu a preocupação com a formação profissional, proporcionando reflexões sobre sua identidade (PEDRINELLI; VERENGUER, 2008).

A disciplina “Educação Física Adaptada” é a única específica para desenvolver tal temática, todavia, algumas disciplinas obrigatórias propõem reflexões, discussões e práticas acerca da inclusão e de pessoas com deficiência no ambiente escolar.

A estrutura curricular também oferece disciplinas optativas, devendo os alunos cursar no mínimo 8 créditos. Quanto às disciplinas obrigatórias e optativas que desenvolvem o tema inclusão de pessoas com deficiência, será discutido separadamente a seguir, para tornar a leitura dinâmica e compreensível.

Além de cursar as disciplinas (obrigatórias e optativas) da estrutura curricular, os graduandos devem realizar atividades complementares, realizadas nas mais diversas atividades dentro e fora da universidade, como projetos de extensão, grupos de estudo, estágios extracurriculares, participação em eventos acadêmicos científicos, realização de iniciação científica, monitoria, entre outros. Dessa forma, pode-se verificar que o curso se preocupa com a tríade ensino, pesquisa e extensão. Sendo essa tríade fundamental para uma formação ampla e de qualidade.

O ensino universitário deve ser orientado por meio da interação, da participação e da reciprocidade da tríade ensino/pesquisa/extensão, em que o ensino propicia o domínio de um conjunto de conhecimentos teórico-práticos, métodos e técnicas científicas, a pesquisa identifica a direção do ensino, ocorrendo a práxis educacional (LIMA; DUARTE, 2006), e a extensão, fundamental para a inferência e a interferência nos contextos sociais, sendo um suporte para o ensino e a pesquisa (MUNSTER; ALMEIDA, 2010).

Ao relacionar tais possibilidades de aquisição de conhecimento acerca da inclusão e de pessoas com deficiência, verifica-se que o curso possui o Projeto de Extensão em Atividades Físicas, Esportivas e de Lazer Adaptadas às Pessoas com Deficiência (PROAFA), que tem como objetivo proporcionar às pessoas com deficiência (física, intelectual e sensorial) de todas as idades (bebês, crianças, jovens e adultos), a oportunidade de participar de um conjunto de atividades físicas, esportivas e de lazer, visando o prazer dessa prática e a descoberta da cultura corporal de movimento pelo corpo deficiente (PROGRADWEB, 2011). Concomitantemente, esse projeto também tem como finalidade proporcionar aos acadêmicos um ambiente de preparação e capacitação profissional para atuar junto a pessoas com deficiência; desenvolver estudos acerca dessa área e divulgá-los em eventos e publicações científicas (PROGRADWEB, 2011), relacionando assim a tríade ensino, pesquisa e extensão.

Essa tríade é importante, pois é onde acontecem os encontros entre alunos, professores e comunidades, possibilitando a incorporação de saberes e a ampliação da capacidade de reflexão sobre as práticas, porque nelas são constituídas as experiências (CASTRO, 2004).

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Além do PROAFA, o DEFMH possui o Núcleo de Estudos em Atividade Física Adaptada (NEAFA) com duas linhas de pesquisa: 1) atividade física e esportes adaptados, que abrange possibilidades de intervenção e de investigação nessa área sob a perspectiva da inclusão e 2) avaliação de desempenho de atletas com deficiência, que desenvolve instrumentação, métodos e técnicas específicas de avaliação e de análise biodinâmica no desempenho de atletas com deficiência (CNPq, 2011), proporcionando a relação entre ensino, pesquisa e extensão.

O aluno do curso de Licenciatura em Educação Física da UFSCar também pode enfrentar e vivenciar situações sobre o tema em questão durante os estágios curriculares obrigatórios (componente obrigatório inserido na estrutura curricular), em poderá ser observadas situações de inclusão e de exclusão, transferindo essa vivência para sua formação profissional. Há também os estágios não obrigatórios, que não estão inseridos na grade curricular, mas que podem ser cursados pelos alunos desde que possua uma proposta pedagógica.

Além dessas possibilidades, o aluno ainda pode frequentar eventos acadêmicos científicos que a própria Universidade oferece acerca dessa temática. Como por exemplo, a Semana de Integração Educação Física e Educação Especial, que acontece todos os anos, e o Congresso Brasileiro de Educação Especial, que acontece a cada dois anos, ambos realizados nas dependências da UFSCar. Ainda, vale destacar a realização de eventos que acontecem na própria cidade de São Carlos, como o Simpósio SESC de Atividades Físicas Adaptadas, realizado todos os anos pelo SESC São Carlos.

Por meio da estrutura curricular e das atividades extracurriculares, verifica-se que o curso de Licenciatura em Educação Física da UFSCar oferece aos alunos várias maneiras de aquisição de conhecimentos acerca do processo de inclusão e de pessoas com deficiência na sociedade, envolvendo ensino, pesquisa e extensão.

Todavia, como cita Nascimento (2010), a defasagem na formação profissional pode refletir questões que envolvem não só a parte política da universidade, mas também fatores pessoais e sociais e, principalmente, as características de professores e de alunos. No caso dos alunos, se estes estão interessados em buscar conhecimento, experiências e vivencias.

Disciplinas obrigatórias e optativas oferecidas pelo curso de Licenciatura em Educação Física da UFSCar: uma análise dos planos de ensino

Para análise dos planos de ensino de cada disciplina foi necessário o acesso à página da internet NEXOS – Sistema de desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem da UFSCar (2011), que se encontra no site da Universidade e disponibiliza todos os planos de ensino das disciplinas oferecidas por todos os cursos.

Foram analisados os planos de ensino das disciplinas obrigatórias oferecidas entre 2008-2011 e das disciplinas optativas oferecidas a partir do 2º período de 2009, sendo este o período em que os alunos ingressos em 2008 poderiam se inscrever nas disciplinas optativas, já que essa possibilidade existe para os alunos somente a partir do 4º período. Os planos de ensino apresentam os objetivos gerais e específicos, a ementa e os tópicos/conteúdos desenvolvidos durante cada disciplina, sendo todos estes itens analisados.

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Para o levantamento dos planos de ensino das disciplinas oferecidas pelo DEFMH que abordavam a temática, foram selecionadas algumas palavras-chaves: “inclusão”, “necessidades especiais”, “deficiência”, “educação física adaptada” e “esporte adaptado”. A partir desse levantamento, verificou-se que quatro delas apresentavam pelo menos uma das palavras-chave, como apresenta o quadro 2.

QUADRO 2 – Disciplinas obrigatórias do curso de Licenciatura em Educação Física da UFSCar oferecidas no período de 2008 à 2011.

Disciplinas Período de oferta Objetivos gerais Objetivos específicos Ementa Tópicos/conteúdo Fundamentos das atividades aquáticas 2º --- --- - Pessoa c/ necessidades especiais --- Pesquisa quantitativa em Educação Física 4º --- --- - EF* adaptada --- Educação Física Adaptada 6º - Inclusão - Pessoa c/ deficiência - Inclusão - Pessoa c/ deficiência - EF* adaptada - Inclusão - Pessoa c/ deficiência - Esporte adaptado - Inclusão - Pessoa c/ deficiência - EF* adaptada - Esporte adaptado Educação Física no ensino fundamental 2: de 5ª a 8ª série 7º --- - Inclusão --- ---

Fonte: Elaborado pelo autor. *EF = Educação Física.

A disciplina “Fundamentos das Atividades Aquáticas” propõe na ementa que fossem desenvolvidas as habilidades motoras aquáticas para “pessoas portadoras de necessidades especiais”. A disciplina “Pesquisa Quantitativa em Educação Física” apresenta na ementa que os alunos ampliassem seus conhecimentos acerca da avaliação envolvendo a “educação física adaptada”. Já a disciplina “Educação Física no Ensino Fundamental 2: de 5ª a 8ª série” apresenta nos objetivos específicos que os alunos saibam implementar e organizar as dimensões conceituais, atitudinais e procedimentais de acordo com a cultura corporal de movimento, proporcionando a “inclusão” nas aulas de Educação Física Escolar, considerando a diversidade.

Para essas três disciplinas, seria importante que tal conteúdo fosse apresentado também nos tópicos/conteúdos, informando quais conceitos seriam trabalhados, quais deficiências e quais a referências bibliográficas a serem utilizadas.

Quanto à disciplina “Educação Física Adaptada”, esta apresentou quatro das cinco palavras-chave, distribuídas nos objetivos gerais e específicos, na ementa e nos tópicos/conteúdo, o que reforça esta ser a única disciplina oferecida pelo curso com a finalidade de desenvolver conteúdos referentes à inclusão de pessoas com deficiência em ambiente escolar.

Essa disciplina apresenta uma coerência entre os objetivos gerais e a ementa e entre os objetivos específicos e os tópicos/conteúdo a serem desenvolvidos pelo professor. Há

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como proposta desenvolver: conteúdos acerca de conceitos e características das deficiências (física, intelectual e sensorial), o processo de inclusão em ambiente escolar e na sociedade em si e as adaptações necessárias nas estratégias de ensino, conteúdos e metodologias para atender às necessidades de todos os alunos.

Na disciplina de Educação Física Adaptada é importante que se considere a dimensão conceitual (as definições e os conceitos relacionados à deficiência e à inclusão); procedimental (analisar programas e procedimentos pedagógicos), e a atitudinal (percepção e a conscientização das pessoas com deficiência) (ZABALA, 1998; PEDRINELLI; VERENGUER, 2008).

De modo geral, essas quatro disciplinas demonstram a preocupação (principalmente a disciplina Educação Física Adaptada) em desenvolver aspectos relativos ao processo de inclusão e à inserção de pessoas com deficiência na sociedade e em ambiente escolar, mostrando uma visão atual, crítica e importante para a formação dos alunos que poderão no futuro, trabalhar com turmas que possuem alunos com deficiência nas aulas de Educação Física Escolar ou em qualquer outro ambiente de atuação profissional.

Quanto às disciplinas optativas, verifica-se que cinco delas apresentavam pelo menos uma das palavras-chave em seu plano de ensino (quadro 3).

QUADRO 3 – Disciplinas optativas do curso de Licenciatura em Educação Física da UFSCar oferecidas a partir do 2º período de 2009 até o 2º período de 2011.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Na disciplina optativa “Estudos Avançados em Basquetebol” verifica-se a presença do “esporte adaptado” nos tópicos/conteúdos a serem desenvolvidos, propondo aos alunos a vivência da prática e dos fundamentos do basquetebol em cadeira de rodas.

Quanto à disciplina “Esportes na Natureza”, verifica-se nos objetivos gerais aspectos e conceitos acerca dos esportes de aventura desenvolvidos na natureza com a participação de todos em diferentes contextos sociais, a partir dos princípios da “inclusão” social, da acessibilidade e da responsabilidade ambiental. A disciplina “Metodologia do Ensino da

Disciplina Período de oferta Objetivos gerais Objetivos específicos Ementa Tópicos/conteúdo Estudos Avançados em Basquetebol 4º; 6º e 8º --- --- --- - Esporte adaptado Esportes na Natureza 5 º - Inclusão --- --- --- Práticas Pedagógica em Educação Física e Esportes Adaptados 7º - Pessoa c/ deficiência - Esporte adaptado - Pessoa c/ deficiência - Esporte adaptado - Pessoa c/ deficiência - Esporte adaptado - Pessoa c/ deficiência - Esporte adaptado Metodologia do Ensino do Voleibol 4º - Esporte adaptado - Pessoa c/ necessidades especiais - Pessoa c/ necessidades especiais - Esporte adaptado Metodologia do Ensino da Natação 4º --- --- - Pessoa c/ necessidades especiais ---

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Natação” apresentou o tema na ementa do plano de ensino, que propõe a natação para “grupos especiais”.

Com relação às disciplinas “Prática Pedagógica em Educação Física e Esportes Adaptados” e “Metodologia do Ensino do Voleibol”, estas apresentaram as palavras-chave em todo o plano de ensino. A primeira tem como proposta proporcionar aos alunos a experiência, vivência e o contato direto com as pessoas com deficiência (física, intelectual e sensorial) no campo do esporte adaptado, relacionando a tríade ensino, pesquisa e extensão, visando uma formação profissional mais completa para atuar frente ao processo de inclusão. A segunda propõe ensinar aos alunos os fundamentos teóricos e metodológicos do voleibol adaptado e a importância em adaptar as regras para atender a todas as “pessoas com necessidades especiais”.

Tais disciplinas optativas demonstraram importância em desenvolver o tema inclusão a partir do esporte adaptado a pessoas com deficiência, proporcionando a interdisciplinaridade com a Educação Física Adaptada, em situação de infusão do conhecimento. Isso sugere que todas as disciplinas poderiam desenvolver esses temas, proporcionando um ambiente mais rico para preparar os futuros profissionais frente ao processo de inclusão nos aulas de Educação Física Escolar.

CONCLUSÕES

De acordo com os documentos analisados, o curso de Licenciatura em Educação Física da UFSCar demonstra preocupação acerca do processo de inclusão, embora o projeto pedagógico apresente uma discussão superficial. Isso sugere que deveria ser revisto com o intuito de propor e atentar para uma discussão mais aprofundada em relação à inclusão nas escolas e, principalmente, durante as aulas de Educação Física Escolar.

Há disciplinas, projetos de extensão e grupos de estudos voltados a esse tema, proporcionando aos graduandos várias maneiras de adquirir conhecimento enriquecendo a formação profissional. Todavia, ainda são poucas disciplinas específicas da Educação Física Adaptada e poucas disciplinas que realizam a interface/interdisciplinaridade com esse tema, o que torna a carga horária insuficiente para a infusão do conhecimento. Além disso, poderia existir uma interdisciplinaridade maior entre as demais disciplinas e entre ensino, extensão e pesquisa.

Sugere-se para pesquisas futuras que seja realizada uma comparação com os dados apresentados pelos documentos com entrevistas e questionários aplicados aos próprios graduandos que vivenciam tal situação para compreender se esses futuros profissionais acreditam possuir uma formação profissional adequada para atuar na Educação Física Escolar frente ao processo de inclusão.

REFERÊNCIAS

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Referências

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