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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA Nº 1654/2013 - PGGB

RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA Nº 31976/DF RECTE : SÔNIA MALATESTA

RECDO : UNIÃO

ADVOGADO: ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO : RENATO DAS NEVES

RELATOR : MINISTRO DIAS TOFFOLI - PLENÁRIO

Recurso ordinário em mandado de segurança. A competência originária do STJ definida no art. 105, I, b, da CF, com a redação da EC n. 23/99, limita-se, subjetivamente, aos Comandantes máximos do Exército, Marinha e Aeronáutica, não abrangendo os demais comandantes operacionais dessas Armas.

O Comandante da 5ª Região Militar da 5ª Divisão do Exército Brasileiro determinou a instauração de sindicância administrativa contra beneficiária de pensão instituída por servidor federal. Irresignada, a pensionista ajuizou mandado de segurança perante o Superior Tribunal de Justiça, pleiteando a suspensão da providência administrativa. O Ministro relator extinguiu o processo sem julgamento do mérito, por incompetência originária da Corte para apreciar a segurança contra ato de Comandante de Região Militar. O acórdão no agravo regimental que se seguiu manteve a decisão monocrática. Esta a sua ementa:

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ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. AUTORIDADE COATORA. COMANDANTE DA 5ª REGIÃO MILITAR DA 5ª DIVISÃO DO EXÉRCITO. ART. 105, I, "b", DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. INCOMPETÊNCIA DO STJ.

1. Cuida-se de mandado de segurança, com pedido de liminar, impetrado contra ato do Comandante da 5ª Região Militar da 5ª Divisão do Exército. A petição inicial foi liminarmente indeferida e denegada a segurança, devido a incompetência do STJ para processamento e julgamento do feito.

2. A agravante alega que a Constituição Federal, ao se referir a "Comandantes" da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, no plural, está se referindo aos vários Comandantes de cada uma das Forças, e não apenas a um Comandante da Marinha, um do Exército, ou um da Aeronáutica.

3. A resolução da questão passa por uma exegese gramatical do texto constitucional. Na verdade, a palavra "Comandantes", embora empregada no plural, é precedida de artigo definido "os", o que diferencia o Comandante titular de uma das três Forças Armadas dos demais oficiais que detenham o título de comandante.

4. A redação atual do art. 105, I, "b" da Constituição Federal foi determinada pela Emenda Constitucional n. 23, de 2 de setembro de 1999, que criou o Ministério da Defesa e "transformou" os antigos Ministros do Exército, da Marinha e da Aeronáutica em Comandantes das respectivas Forças, mantendo a prerrogativa de foro para julgamento nesta Corte. 5. Assim, a palavra "Comandantes", na redação atual art. 105, I, "b", da Constituição Federal está no plural para se referir a cada um dos "titulares" de cada uma das Armas, e não a todos os comandantes espalhados pelo Brasil, os quais devem ser processados e julgados nas instâncias ordinárias.

O recurso ordinário sustenta, em preliminar, a inconstitucionalidade do art. 19 da Lei Complementar nº 97/99, dispositivo que

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transmudou as denominações de Ministro de Estado da Marinha, do Exército e da Aeronáutica em Comandante de cada uma dessas Forças. Alega que o diploma normativo impugnado entrou em vigor antes da promulgação da EC n. 23/99, o que conduziria à sua inconstitucionalidade. O recurso também defende que os termos “Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica”, constantes do art. 105, I, b, da CF, na redação dada pela EC n. 23/99, inclui todos os comandantes operacionais existentes na estrutura do Ministério da Defesa, e não só os titulares dos três Comandos Militares de mais elevada hierarquia. Por fim, repisa os argumentos de fundo que motivaram o writ.

- II –

O deslinde da controvérsia requer a definição do sentido e alcance dos termos “Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica” inseridas no art. 105, I, b, da CF.

Até a EC n. 23/99, a competência do STJ para apreciar os mandados de segurança contra atos dos titulares dos ministérios militares decorria da denominação mesma de Ministro de Estado, atribuída aos titulares de cada uma dessas antigas pastas.

Com a criação dos cargos de Ministro da Defesa e de Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, pela EC n. 23/99, o art. 105, I, b, da CF, passou a ter a seguinte redação:

Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: I - processar e julgar, originariamente:

b) os mandados de segurança e os habeas data contra ato de Ministro de Estado, dos Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica ou do próprio Tribunal;

Desde logo, vê-se que a interpretação gramatical do dispositivo não aproveita à recorrente, estando o termo “Comandantes” utilizado no plural para concordar com os três Comandos - da Marinha, do Exército e da Aeronáutica-,

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que, antes, eram denominados Ministérios.

A interpretação histórica da alteração do art. 105, I, b, é, da mesma forma, desfavorável à pretensão. Nada autoriza crer que o legislador constitucional haja pretendido ampliar a competência originária do STJ para além dos cargos criados pela EC n. 23/99. É o que se depreende da Exposição de Motivos anexa à Mensagem n. 1.417/981:

“(...) Temos a honra de submeter à elevada apreciação de Vossa Excelência a anexa Proposta de Emenda Constitucional, cuja concepção foi norteada no sentido de possibilitar o adequado e satisfatório funcionamento do Ministério da Defesa e dos Comandos da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, mediante a inclusão do cargo de Ministro de Estado da Defesa entre os privativos de brasileiro nato, a alteração da composição do Conselho de Defesa Nacional e a definição do juízo competente para processar e julgar os Comandantes daquelas Forças. (...)

4. A seu turno, considerada a criação dos cargos de Comandante da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, a cujos titulares é reservada a atribuição de exercer, singularmente, a direção e a gestão das respectivas Forças, revela-se necessário imprimir àqueles cargos, em decorrência da magnitude das funções que lhes são inerentes, destaque institucional compatível e equivalente.

(…)

8. Finalmente, são propostas a alteração da alínea c, do inciso I, do art. 102, e das alíneas b e c, do inciso I, do art. 105, da Constituição, de modo a se garantir, respectivamente, prerrogativa de foro em prol dos Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica que passarão a ser processados e julgados originariamente perante o Supremo Tribunal Federal pela prática de crimes comuns e de responsabilidade, a se 1 Disponível em: <http://imagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/DCD24NOV1998.pdf#page=6> Acesso

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firmar, junto ao Superior Tribunal de Justiça, a competência originária para o processamento e o julgamento de mandados de segurança, habeas data e habeas corpus eventualmente impetrados contra atos por eles praticados. (…)"

O óbvio propósito que animou a inovação constitucional foi o de preservar o status que os antigos Ministros militares dispunham, em especial no que tange ao foro por prerrogativa de função, ante a unificação administrativa das Armas sob um Ministério civil. Este intuito foi fielmente objetivado na norma e há de servir de elemento teleológico para que se delimite a sua conotação subjetiva. Impõe-se, daí, concluir que a competência originária do STJ em mandado de segurança não se dilata para alcançar os atos praticados por todos os comandantes operacionais das Forças militares.

A propósito, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal não tem admitido interpretação extensiva das hipóteses previstas no art. 105, I, b, da CF, como o demonstram estes arestos:

Agravo regimental no recurso em mandado de segurança. Incompetência do STJ para processar e julgar ato dos presidentes do Superior Tribunal de Justiça Desportiva e da Confederação Brasileira de Futebol. O rol do art. 105, I, b, da CR é taxativo e não admite interpretação extensiva. Agravo regimental ao qual se nega provimento. (RMS n. 26.413-AgR/RJ, Rel. Min. Cármen Lúcia, DJe 24/5/2011)

A competência originária do STJ para julgar mandado de segurança está definida, numerus clausus, no art. 105, I, b, da CB. O STJ não é competente para julgar mandado de segurança impetrado contra atos de outros tribunais ou dos seus respectivos órgãos. (HC n. 99.010/SP, Rel. Min. Eros Grau, DJe de 6/11/2009).

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ante a visão sistemática da mudança a que a EC n. 23/99 procedeu.

Dada a menção que a Emenda também faz a “Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica”, ao atualizar a nomenclatura dos integrantes do Conselho de Defesa Nacional (art. 91, VIII, da CF), a proposição da recorrente levaria ao absurdo de se ter que admitir que todos os tantos comandantes operacionais das três Forças Armadas seriam membros natos do órgão máximo de consulta do Presidente da República para assuntos relacionados à soberania nacional e à defesa do Estado democrático.

Evidente, na mesma linha, é o descabimento da outra consequência da tese, que situaria no Supremo Tribunal Federal a competência originária para o julgamento das infrações penais comuns e dos crimes de responsabilidade de todos os comandantes operacionais militares do país (art. 102, I, c, da CF) – alargando consideravelmente o âmbito dessa competência para casos inéditos na história constitucional, em desnorteante linha de choque com a tendência oposta, de cunho restritivo, que o princípio republicano vem sugerindo à consciência jurídica.

A interpretação exata dos termos do art. 105, I, b, da Constituição, a que chegou o STJ não merece nenhuma censura, com o que deve ser confirmado o seu juízo de incompetência original para o writ. Essa solução torna desnecessária para a causa a sindicância da constitucionalidade da Lei Complementar nº97/99. Fica prejudicado o exame das arguições de mérito do recurso.

O parecer é pelo desprovimento do recurso ordinário. Brasília, 19 de novembro de 2013.

Paulo Gustavo Gonet Branco Subprocurador-Geral da República

Referências

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