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DESIGUALDADE SOCIAL E ESPAÇO URBANO EM PORTO ALEGRE ( ): UM PANORAMA ACERCA DE UMA PESQUISA EM ANDAMENTO

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DESIGUALDADE SOCIAL E ESPAÇO URBANO EM PORTO ALEGRE (1850-1880): UM PANORAMA ACERCA DE UMA PESQUISA EM ANDAMENTO

Guilherme Vargas Pedroso Graduando em história, Universidade Federal de Santa Maria/Bolsista FIPE guilhermepedroso.v@hotmail.com Luiz Fernando dos Santos da Silva Rodrigues Graduando em história, Universidade Federal de Santa Maria/Bolsista PIBIC-CNPq

Fernando12rodrigues@gmail.com

Introdução

O final do século XIX foi marcado por transformações políticas, sociais e econômicas que modificaram estruturas e relações sociais na sociedade brasileira, como por exemplo: a proibição do tráfico atlântico de escravizados (1850), a Lei de Terras no mesmo ano, a Guerra do Paraguai (1864-1870), a Lei do Ventre Livre (1871) e, a abolição da escravidão (1888). Essas mudanças impactaram de forma contundente a cidade de Porto Alegre, capital do Rio Grande Sul, que nesse momento encontrava-se em crescente desenvolvimento econômico e social. O objetivo desta comunicação é relatar o andamento do projeto de pesquisa “Hierarquia social, trabalho e família na fronteira meridional do Brasil (século XIX)1”e fazer reflexões iniciais sobre a sociedade

porto-alegrense da segunda metade do século XIX.

A fonte principal da pesquisa são os inventários post-mortem, que fazem parte do acervo documental do Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul (APERS). Nos inventários podemos acessar informações variadas sobre uma parcela da população inventariada de Porto Alegre, que possibilitam fazer um retrato de diversos aspectos daquele contexto, como a relação do espaço urbano com a escravidão ainda muito presente, as estratégias sucessórias e de

1 Projeto registrado junto ao Departamento de História e ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Santa Maria – UFSM, apoiado por bolsa PIBIC – FIPE. Vinculado ao Grupo de Pesquisa CNPq “Sociedade e hierarquias no Brasil Meridional (1750-1930) ”. Coordenado pelo Professor Luís Augusto Farinatti (Doutor em História – UFRJ) e composto por alunos da graduação e da pós-graduação.

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acumulação de riquezas, a (re) construção de hierarquias sociais e análises dos bens de consumo daquela sociedade. Em primeiro momento, pretendemos construir um panorama geral acerca da cidade de Porto Alegre a partir da historiografia que já se dedicou sobre o tema. Após realizar uma discussão a respeito das possibilidades de utilização de inventários post-mortem na pesquisa histórica, faremos um levantamento das fontes adquiridas pelo projeto até o momento e que já fazem parte do banco de dados da pesquisa.

Porto Alegre: transformações, população e espaço urbano

Antes de adentrarmos nos estudos da pesquisa propriamente dita, é importante conhecermos um pouco sobre o histórico da cidade de Porto Alegre, a fim de que se possa entender o contexto que estamos estudando. Segundo Sandra Pesavento (2002), as raízes de Porto Alegre estão entrelaçadas entre o “trinômio guerra-estância-fronteira do Prata”. O modesto vilarejo teve grande importância estratégica diante dos conflitos com a Coroa Espanhola pelas terras ao Sul da América Meridional. No ano de 1773, a Capital da Província foi transferida de Viamão para a jovem freguesia de Nossa Senhora da Madre de Deus de Porto Alegre, fazendo com que a localidade se desenvolvesse diante da condição fronteiriça da província de São Pedro do Rio Grande do Sul. O que fazia da nova Capital um lugar de refúgio em meio à ameaça castelhana, que antes mesmo de ser elevada à condição de Vila e Cidade, ganhou o título de Capital.

[...] Sem ruas calçadas ou limpeza pública, a nascente cidade, ainda modesto burgo açoriano, assistiu à chegada de bizarros contingentes populacionais a partir de 1824: os imigrantes alemães, que vinham para se tornar pequenos proprietários rurais no Vale do Rio dos Sinos. (PESAVENTO, 2002, p. 253)

Conseguimos perceber transformações importantes no desenvolvimento da cidade ao longo do século XIX. Sheila Staudt (2007) ao estudar os olhares dos viajantes sob a Porto Alegre no século XIX nos oferece elementos interessantes para compreender essas mudanças. A autora destaca que muitos desses relatos são feitos através de uma perspectiva eurocêntrica que olhava para o Brasil “sob o influxo desta nova sensibilidade [modernização das cidades e reformas

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urbanas] a que estavam submetidos, e por isto mesmo, percebiam-nas sob a ótica do estranhamento, vinculadas à barbárie e, portanto, distante da preconizada modernidade” (STAUDT, 2007, p. 2).

Até 1850, o relato desses viajantes destacava, em grande parte, a natureza e a paisagem campestre da cidade e aproximando a mesma da barbárie, já que não possuía indícios significativos de desenvolvimento. Entretanto, a partir de 1850, estas crônicas começam a salientar o espaço urbano e a cidade propriamente dita, com seu comércio, meios de transporte, melhorias urbanas, etc., qualidades estas que evidenciam não só a expansão urbana de Porto Alegre, como também a mudança de seus costumes, antes tidos como bárbaros e primitivos para um comportamento moderno e civilizado. (STAUDT, 2007, p. 5)

Elaboramos gráficos baseados nos censos e nos recenciamentos do século XIX, para entendermos o aumento populacional na cidade, assim como o perfil social da população de Porto Alegre. Sabemos que muitos desses estudos populacionais sub-representam determinados grupos sociais. Todavia, são importantes indicativos demográficos que nos oferecem dados essenciais para refletirmos a configuração social das cidades ao longo do período Colonial e Imperial no Brasil.

Fonte: Dados retirados de (SINGER, 1968, p. 154 apud PESAVENTO, 2002, p. 252) e (FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA, 1981, p. 77-85). 0 10.000 20.000 30.000 40.000 50.000 60.000 1807 1820 1848 1858 1872 1890

CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO DE PORTO ALEGRE AO LONGO DO SÉCULO XIX

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Percebemos um grande salto no número de habitantes de Porto Alegre entre os anos de 1858 e 1872, que em menos de 15 anos aumentou 238%2. Esse desenvolvimento deveu-se ao fluxo contínuo de imigrantes europeus e trabalhadores nacionais que enxergavam na cidade grandes oportunidades de ascensão social, fazendo que Porto Alegre se desenvolvesse socialmente e economicamente, com a construção de novos edifícios, que visavam dinamizar a vida social e cultural da Capital, como o Teatro São Pedro (1855), Beneficência Portuguesa (1868), Palácio da Justiça (1870) e o novo Mercado (1870).

[...] A cidade era agora não só a Capital, sede do poder político e administrativo, mas o principal centro econômico da província. Equipamentos Urbanos e serviços públicos se faziam necessários. Em suma, mais longe de das injunções da guerra, o lado da cultura precisava impor-se à “formosa natureza” do sítio. [...] Os arrabaldes e arraiais se povoavam, como Menino Deus, São Manoel, Areal da Baronesa, Paternon e Navegantes. Ao longo do Caminho Novo, despontavam as chaminés das fábricas e, nos arrabaldes, olarias, chácaras e matadouros, coabitavam com as casas dos habitantes. E o Centro, reduto simbólico da urbanidade intramuros, viu erguerem-se palacetes na cidade alta. Mas seus moradores, para irem à Rua da Praia, precisavam cruzar por becos e ruas cheias de tavernas, bordéis e cortiços. As próprias ruas da parte baixa da cidade, zona comercial por excelência, ostentava uma variedade de tipos de gente de todos os níveis sociais, que se cruzavam nas ruas. (PESAVENTO, 2002, p. 254)

Contudo, grande parte da população estava à margem desse desenvolvimento, a cidade fora dividida de acordo com características geográficas, que também se tratavam de uma referência toponímica portuguesa que “diferenciava a ‘parte alta’, núcleo onde partiu o povoamento, chamado de centro - e a genérica e mal definida ‘parte baixa’ – situada entre a várzea do Bom Fim e o Rio Guaíba e que se estendia até o arraial do Menino Deus” (ROSA, 2019, p. 88). Segundo Marcus Vinícius de Freitas Rosa (2019), essa diferença geográfica alinhava-se também à distinção social dos moradores de ambos os lugares, sendo que a “cidade alta” era caracterizada como o lugar dos ricos e bem-nascidos e a cidade baixa dos pobres e desclassificados. Pesavento (2002, p.

2 É preciso que façamos algumas considerações acerca dos censos e recenseamentos que antecederam o de 1872. É possível que tenha tido uma sub-representação no censo de 1858, através da metodologia empregada na época. Contudo, o crescimento populacional nas cidades ao longo do século XIX se deu, mesmo que não de forma tão veloz como nos números apresentados. É preciso enxergar essas fontes como um indicativo demográfico, que permite construir um panorama do crescimento populacional da época, porém não são dados incontestáveis, por isso estão sujeitos a questionamentos.

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252) afirma que nessa área se formou um território negro, que serviu muitas vezes de refúgio para escravos que fugiam do cativeiro. Cronistas antigos chamavam a localidade de “Emboscadas” por conta do “sítio formado por moitas e capões de mato, macegas e acidentes de terreno, cortado por sangas e picadas, a topografia e a vegetação do local se prestavam para açoitar negros fugidos e outros criminosos, como revelam as crônicas”. Elaboramos um gráfico que será reproduzido a baixo, a fim de que possamos compreender a porcentagem da população escrava em Porto Alegre e a classificação da população segundo categorias raciais no censo de 1872.

População Livre e Escrava de Porto Alegre censo de 1872

Fonte: Fonte: Recenseamento Geral do Brazil de 1872 – Dados da Província de S. Pedro do Rio Grande do Sul.

Segundo o censo de 1872 a população de Porto Alegre chegava aos 43.998 habitantes, na qual 81% eram pessoas livres e 19% escravas. Luciano Costa Gomes (2012) ao estudar as estruturas da escravidão em Porto Alegre no início do século XIX, aponta que a quantidade de escravos distribuídos tanto dentro como fora da área urbana era a mesma, porém a diferença se encontrava na comparação com o tamanho das propriedades, sendo que as propriedades rurais dependiam de mais escravos para os trabalhos agrários, enquanto “os senhores das áreas urbanas, por outro lado, compravam um ou dois escravos para as atividades de menor dimensão como executar tarefas domésticas ou oferecer seus serviços para terceiros ao preço de uma diária” (GOMES, 2012, p. 89).

Livres 81% Escravos

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População de Porto Alegre segundo categorias raciais da época – Censo de 1872

Fonte: Fonte: Recenseamento Geral do Brazil de 1872 – Dados da Província de S. Pedro do Rio Grande do Sul.

O censo de 1872 nos oferece informações mais detalhadas sobre a diversidade racial na Capital do Rio Grande do Sul, longe de ser hegemonicamente branca, a cidade contava com a considerável presença de não-brancos3, que compunham cerca de 48% da população, sendo esses em sua maioria, trabalhadores livres egressos do sistema escravista. Rosa (2019, p. 33) afirma que “mesmo entre os negros e brancos subalternos havia disputas em torno da igualdade e diferença, entre quem desejava mandar e quem não queria obedecer”. Isso fica muito evidente nos conflitos entre trabalhadores brancos e negros que faziam parte do mesmo estrato social e compartilhavam os mesmos espaços de moradia e trabalho, como analisa Rosa em sua tese sobre Porto Alegre nos fins do século XIX e início do XX.

Paulo Staudt Moreira (2009) aponta para os conflitos entre negros livres ou escravizados e imigrantes alemães em Porto Alegre na segunda metade do século XIX. O autor ressalta que alemães e seus descendentes absorveram dos portugueses práticas usuais de uma formação social escravista. Portanto, mesmo que muitos deles compartilhassem com os nacionais negros condições

3 Destacamos aqui as categorias utilizadas no censo de 1872 onde evidenciava a presença de pretos, pardos e caboclos, sendo que esse último representa indivíduos com ascendência indígena.

Brancos 52% Pardos 21% Pretos 22% Caboclos 5%

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de sobrevivência muito semelhantes, as diferenciações raciais e nacionais eram fatores que consolidavam hierarquias bem delimitadas na sociedade Porto Alegrense do século XIX.

Desigualdade socioeconômica e espaço urbano: o uso de inventários post-mortem como fonte para a pesquisa histórica

Figure 1 Fonte: Arquivo pessoal dos autores

A imagem acima ilustra a capa de um inventário post-mortem. Documento exigido pelo Estado através do Poder Judiciário, o inventário descreve todos os bens de uma pessoa por ocasião do seu falecimento. Isso é feito para que se possa formalizar a partilha destes bens para os herdeiros e sucessores do falecido. A constituição do documento geralmente não foge à regra e é composta da seguinte maneira: abertura, avalição dos bens (móveis, imóveis, semoventes), documentos comprobatórios, avaliação de dívidas passivas e/ou ativas e a partilha dos bens. Podendo conter informações excedentes ou inexistentes as que aqui citamos.

Como fonte para a pesquisa em história, os inventários passam a ser utilizados com maior frequência, no Brasil, sobretudo a partir da década de 1980, com a influência dos estudos desenvolvidos pela segunda geração da Escola dos Annales, quando houve uma reformulação nos métodos e técnicas de pesquisa, substituindo a história factual e narrativa pela história problema. Nesse momento, os inventários tornaram-se um importante instrumento para os historiadores. Segundo Beatriz Ricardina de Magalhaes (1989), o inventario é uma fonte diversificada, que

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permite o estudo de várias parcelas da população. “É como se tivéssemos em mãos uma câmera indiscreta vasculhando os meandros da casa, o vestuário, o mobiliário, o vasilhame, a despensa, o quintal, o sítio, as datas de minerar e, sobretudo, a mão-de-obra”. (MAGALHÃES, 1989, p.31-32). Nesse sentido, os inventários são fontes que nos possibilitam uma espécie de fotografia da vida de uma pessoa em determinado espaço e tempo histórico. Apesar de ser único, por corresponder apenas a uma pessoa (falecida) ou um casal, é possível reunir uma série de documentos desse tipo (inventários post-mortem) e realizar analises relativas aos aspectos sociais e econômicos da região pertencente ao estudo.

Jonas Moreira Vargas (2013) ao discutir as possibilidades do uso de inventários, afirmou que as pesquisas que utilizaram tais fontes, proporcionaram uma renovação em diferentes áreas de estudos que não apenas em História Econômica, Agrária ou da Escravidão. Essas pesquisas, no Rio Grande do Sul, tiveram contribuições importantes e pioneiras nas produções de Paulo Zarth e Helen Osório, atualmente sendo amplamente utilizadas por pesquisadores de diferentes campos e linhas de pesquisa (VARGAS, 2013, p, 158)4.

Devemos lembrar, que os inventários não foram (e não são) produzidos com o objetivo de tornarem-se fonte para pesquisas futuras. As pessoas envolvidas no processo – inventariantes, inventariados e outros – tinham motivos pessoais, fomentados por seus desejos aguardavam a partilha dos bens como uma das principais motivações. Sendo assim, quem vai transformar esses documentos repletos de relações sociais por trás dos papeis, onde se iniciavam e terminavam famílias, negócios, casamentos e aprisionamentos, são os próprios historiadores. São diversas as formas de utilizar as informações retiradas desses documentos, conforme se fazem novas perguntas, surgem novas respostas.

Neste texto, que tem como objetivo central informar o andamento de nossa pesquisa, a qual vamos explanar melhor adiante seus objetivos e metodologia, nos valemos dos inventários post-mortem de Porto Alegre da segunda metade do século XIX, mais especificamente nas décadas de

4Como exemplo alguns trabalhos referentes a fronteira Meridional do Brasil com Uruguai e Argentina, território de

grandes controvérsias da historiografia em relação a presença e ao trabalho escravizado, mas que a produção das últimas décadas vem dando conta de modificar, como os trabalhos de Luís Augusto Farinatti (2007), Graciela Bonassa Garcia (2010), Marcelo Santos Matheus (2012) e Guinter Tlaija Leipnitz (2016).

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1850, 60 e 70 como fontes para compreender as desigualdades socioeconômicas da capital, mas para além disso, entender o espaço urbano em formação, bem como a relação daquela sociedade com as transformações de múltiplas esferas recorrentes aquele período.

Sobre o projeto

Como dito, a segunda metade do século XIX foi marcada por mudanças nas diferentes esferas. No Sul do país não foi diferente, o reordenamento social que se iniciava com as leis de proibição do tráfico, ventre livre, abolição da escravidão e o fim do Império perpassou por todas as camadas sociais daquela sociedade hierárquica e bem demarcada. O projeto Hierarquia Social, Trabalho e Família na fronteira do Brasil Meridional visa investigar a cidade e a sociedade de Porto Alegre justamente nesse contexto.

Dentro disso, buscamos entender as relações sociais e econômicas entre as pessoas, bem como a concentração de riqueza em meio a esta sociedade hierarquizada; a relação do espaço urbano com a escravidão em declínio e a reorganização dos espaços na cidade. Tudo isso, utilizando os inventários post-mortem como fonte central da pesquisa. As tarefas do grupo são divididas na seguinte forma:

a) Leituras – realizar discussões de textos referentes ao período estudado e da metodologia empregada no manejo das fontes;

b) Fotografias das fontes – Visitas do grupo ao Arquivo Público do Estado para adquirir novas fontes5;

c) Catalogar – Armazenar as informações dos registros das novas fontes;

d) Banco de dados – fichamento das fontes afim de alimentar o banco de dados; Análises – analises qualitativas das informações presentes no banco de dados afim de apresentar

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dados na tentativa de responder as perguntas e cumprir os objetivos da pesquisa6.

Nesse sentido, ao fotografarmos as fontes, uma tabela no Excel, ao ser preenchida, da conta de nos mostrar quais são as fontes que temos disponíveis para fichamento, a partir da coleta de informações como: número da caixa onde está o inventário, número do processo, dados das pessoas inventariadas e inventariantes. A partir disso, um banco de dados projetado pelo próprio grupo na plataforma Microsoft Access é utilizado para os fichamentos, onde são coletadas informações relacionadas as pessoas e aos bens descritos no inventário. Abaixo, através das imagens, consecutivamente ilustramos os dois bancos de dados.

Figure 2 Fonte: Arquivo pessoal dos autores

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Figure 3 Fonte: Arquivo pessoal dos autores

As imagens mostram partes dos bancos de dados utilizados, onde é possível enxergar algumas das informações que são coletadas a partir das fontes, a primeira com informações referentes ao processo em si e a segunda com informações do interior do documento.

Atualmente temos os seguintes números referentes as fontes catalogadas:

Década Quantidade Inventários

1850 84

1860 60

1870 89

Total 233

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Este número total, refere-se à quantidade de inventários post-mortem fotografados e já catalogados pelo projeto7. Destes, 80% já foram fichados e passados para o segundo banco de dados, sendo os anos da década de 1870 os mais comtemplados pelos fichamentos. Assim, o objetivo central do projeto nesse momento é a finalização dos fichamentos das fontes já catalogadas, para assim que possível, ao passo que se conseguir novas fontes, iniciar as análises daquelas já fichadas.

Este trabalho é realizado pelo professor coordenador do projeto Dr. Luís Augusto Eblig Farinatti, e pelos alunos de graduação Matheus Donay (Voluntário), Guilherme Pedroso (Bolsista FIPE), e Fernando Rodrigues (Bolsista PIBIC/Voluntário). Sendo os dois últimos, autores deste texto, apenas os porta-vozes de um extenso trabalho coletivo.

A título de conclusão: últimas considerações

Esta comunicação teve como objetivo realizar uma discussão sobre a cidade de Porto Alegre na segunda metade do século XIX, entre as décadas de 1850, 60 e 70 através do relato de pesquisa do projeto “Hierarquia social, trabalho e família na fronteira meridional do Brasil (século XIX). Não nos propomos a esgotar a temática relativa ao uso de inventários como fonte para a pesquisa histórica, tampouco realizar análises acerca das desigualdades sociais e econômicas em Porto Alegre no contexto estudado. Mas sim, apresentar primeiras notas de uma pesquisa em andamento a partir do olhar da iniciação científica. O desenvolvimento dessa pesquisa nos oportuniza uma visão ampla sobre o ofício do historiador e o trabalho com fontes históricas. Mesmo que por hora não tenhamos resultados pragmáticos acerca do objeto em estudo, a partir do manejo das fontes e da metodologia empregada com a criação de fichas e bancos de dados, acerca dos inventários, conseguimos ter uma perspectiva panorâmica sobre a sociedade porto alegrense de meados do século XIX.

7 O contexto de Pandemia (COVID-19) impossibilitou a descrição exata de todos os dados referentes ao projeto, estando descrito aqui apenas as fontes das quais tivemos acesso de casa, faltando uma certa parte, presente apenas no computador da sala do coordenador do projeto, no campus da Universidade, a qual encontra-se fechada durante a escrita deste texto.

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Referências Bibliográficas

FARINATTI, Luís Augusto. Confins Meridionais: famílias de elite e sociedade agrária na fronteira meridional do Brasil. Santa Maria: Ed. da UFSM, 2010.

VARGAS, Jonas M. Pelas margens do Atlântico: um estudo sobre as elites locais e regionais no Brasil a partir das famílias proprietárias de charqueadas em Pelotas, Rio Grande do Sul (Século XIX). Tese (Doutorado em História).

TEIXEIRA, Adriano Braga. Inventários post mortem: possibilidades de pesquisa a partir de uma fonte plural. Mal-Estar e Sociedade, v. 5, p. 65-83, 2012

FARINATTI, L. A. E. Construção de séries e microanálise: notas sobre o tratamento de fontes para a história social. ANOS 90 (UFRGS. IMPRESSO), v. 15, p. 57-72, 2008.

MAGALHÃES, B. R. Inventários e sequestros: fontes para a História Social. Revista do Departamento de História UFMG, Belo Horizonte, p. 31-45, 1989.

HAAG, E; VOGT, O. P; RADUNZ, R. Mathias José Velho e seus escravos: o inventário como fonte de pesquisa. Revista Jovens Pesquisadores, v. 4, p. 130-140, 2014.

GOMES, Luciano Costa. Uma cidade negra: escravidão, estrutura econômico-demográfica e diferenciação social na formação de Porto Alegre, 1772-1802. Dissertação (Mestrado) - PPG-História, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2012.

MOREIRA, Paulo Roberto Staudt. Se era negro, não era da sua cozinha! Experiências e interdependências entre escravos, imigrantes e forros no Brasil Meridional. In: COSTA, Miguel Ângelo S. da et al. (orgs.). Explorando possibilidades: experiências e interdependências entre imigrantes alemães, seus descendentes e outros mais no Brasil Meridional. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2009, p. 227-254.

PESAVENTO, Sandra Jatahy. O imaginário da cidade: visões literárias do urbano – Paris, Rio de Janeiro, Porto Alegre. Porto Alegre: Editora da Universidade/UFRGS, 2002.

STAUDT, S. K. A Porto Alegre do século XIX sob o olhar dos viajantes. Nau Literária (UFRGS), v. 03, p. 01, 2007.

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Referências

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