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Monitoramento da qualidade da água prévio a instalação de pequenas centrais hidrelétricas

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Monitoramento da qualidade da água prévio a instalação de pequenas centrais

hidrelétricas

Sílvio Luís Rafaeli Neto

1

; Valter Antonio Becegato

2

; André Bruck de Andrade

3

RESUMO - O Rio Caveiras está situado na região serrana de Santa Catarina com uma bacia

hidrográfica com cerca de 2400 km2. A jusante do seu terço superior, destacam-se a captação para o abastecimento da cidade de Lages, seguido de uma Pequena Central Hidrelétrica (PCH) com cerca de 2 MW de potência instalada. Em breve, serão construídas mais três PCHs a jusante formando uma seqüência de quatro ambientes lênticos. A montante da captação, o rio é considerado Classe 1. A jusante deste ponto, estima-se que a qualidade das suas águas esteja mais comprometida num trecho de 70km, devido ao lançamento de efluentes da cidade em dois tributários. Existe a hipótese de que, com as novas PCHs, poderá haver uma piora da qualidade da água no trecho. Este trabalho teve por objetivo realizar o monitoramento da qualidade da água do rio Caveiras antes da construção das PCHs, como meio de formular um banco de dados basilar e de suporte aos processos de negociação. Concluiu-se que as águas do rio Caveiras ainda podem ser consideradas de boa qualidade e que parte da carga poluidora da cidade de Lages está sendo retida pelo lago da PCH existente. A situação poderá piorar com as novas PCHs.

Palavras-chave: Bacia Hidrográfica, PCH, Poluição.

ABSTRACT - The Caveiras River is located in mountain region of Santa Catarina with a

catchment of about 2400 km2. Downstream of its upper third, it is the abstraction for the supply of the city of Lages, followed by a Small Hydroelectric Central (SHC) with approximately 2 MW of installed power. Soon, three more will be built downstream forming SHCs thus a sequence of four lentic environments. The river is considered Class 1 upstream of the supply point. Downstream of this point, it is estimated that the quality of its waters is more compromised in a stretch of 70km, due to launch of effluent from the city into two tributaries. There is a possibility that with the new SHCs, there may be a worsening of water quality in the future. This study aimed to carry out the monitoring of water quality in the river before the construction of the SHCs as a means to formulate a database for supporting processes of negotiation. It was concluded that the water can still be considered of good quality and that the pollution load of the city of Lages is retained by the lake in existing SHC. The situation could worsen with the new SHCs.

Key-words: Watershed, SHC, Pollution.

1

Professor Associado da UDESC, CAV. Av. Luís de Camões, 2090, CP 281, Lages, SC. E-mail: silvio@cav.udesc.br. 2 Professor Associado da UDESC, CAV. Av. Luís de Camões, 2090, CP 281, Lages, SC. E-mail: becegato@cav.udesc.br.

3 Bolsista PROBIC da UDESC, CAV. Av. Luís de Camões, 2090, CP 281, Lages, SC. E-mail: andrenado@ibest.com.br

(2)

1 INTRODUÇÃO

A Bacia Hidrográfica do Rio Caveiras está situada na região serrana de Santa Catarina, sendo a segunda maior sub-bacia da Bacia Hidrográfica do Rio Canoas (Figura 1).

®

0 62.5 125 250

km

Rio Caveiras Rio Canoas

Bacia Hidrográfica do Rio Caveiras Bacia Hidrográfica do Rio Canoas

49°0'0"W 49°0'0"W 50°0'0"W 50°0'0"W 51°0'0"W 51°0'0"W 52°0'0"W 52°0'0"W 53°0'0"W 53°0'0"W 54°0'0"W 26°0'0"S 26°0'0"S 27°0'0"S 27°0'0"S 28°0'0"S 28°0'0"S 29°0'0"S 29°0'0"S

Figura 1 – Situação da Bacia Hidrográfica do Rio Caveiras.

Estima-se que a qualidade das suas águas esteja mais comprometida num trecho de 70km, o qual se inicia com o ponto de captação de água que abastece a cidade de Lages (160.000 hab.). O terço superior do rio, a montante deste ponto, é considerado classe 1 (SEPLAN, 1977), onde convivem comunidades rurais esparsas e a cidade de Painel, com cerca de 2500 habitantes. A jusante deste ponto, o rio recebe os efluentes industriais de uma cervejaria e efluentes urbanos de Lages, principalmente através dos rios Ponte Grande (24km2) e Carahá (30km2) (RAFAELI NETO, 1994). Na seqüência de seu trajeto, o rio é represado pela Pequena Central Hidrelétrica (PCH) Salto Caveiras, cujo lago com cerca de 17km2 de superfície e 54 km de perímetro, serve também para recreação de contato direto a cerca de 1000 pessoas nos dias de calor e a atividades econômicas de uma comunidade instalada ao seu redor. Além destes usos, estão para serem construídas à jusante mais três represas (ANEEL, 2005 [a], [b], [c]) para geração de energia, como resultado de um processo de três anos, durante o qual não houve participação da sociedade da bacia. Os aproveitamentos hidrelétricos Itararé (10 MW de potência instalada), João Borges (19 MW) e Pinheiro (10 MW), cada qual com cerca de 4 km2 de lago, deveriam estar com o início da montagem dos canteiros de obras e acampamentos instalados até 03 de Dezembro de 2006. Estas quatro PCHs comporão uma seqüência de ambientes lênticos, com cerca de 30 km2 de lago, que podem alterar as características lóticas do rio no trecho das três novas usinas. A PCH Portão (16 MW) ainda está em processo de análise no órgão ambiental.

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Esta pesquisa teve por objetivo diagnosticar a qualidade das águas do Rio Caveiras antes da instalação destas três PCHs como meio de fornecer subsídios aos processos de negociação sobre prováveis passivos ambientais destes empreendimentos.

0 2.5 5 10 15 20 Km

.

PCHs Projetadas e construídas Salto Caveiras Pinheiro Itararé João Borges Portão 520000.000000 520000.000000 530000.000000 530000.000000 540000.000000 540000.000000 550000.000000 550000.000000 560000.000000 560000.000000 570000.000000 570000.000000 69 20 0 0 0 .0 000 0 0 69 20 0 0 0 .0 000 0 0 69 300 0 0 .0 00 0 0 0 69 300 0 0 .0 00 0 0 0 69 40 0 0 0 .00 0 0 0 0 69 40 0 0 0 .00 0 0 0 0 Figura 2 – Localização das PCHs Salto Caveiras (construída), Pinheiro, Itararé, João Borges e

Portão ao longo do Rio Caveiras.

2 MATERIAL E MÉTODOS

A estruturação do processo de amostragem ao longo do Rio Caveiras somente foi possível tendo-se a base cartográfica de apoio. Houve um longo período de planejamento em que se estabeleceu uma logística para conciliar a quantidade e distribuição de pontos de amostragem, tempo para coleta das amostras e chegada ao laboratório, parâmetros amostrais, quantidade de pontos e custo da análise laboratorial das amostras. Outro critério importante foi que alguns pontos deveriam estar entre os aproveitamentos hidrelétricos, ou seja, um ponto estaria entre a casa de força de uma e o início do lago da seguinte. Isto porque este trecho do rio permanecerá como ambiente lêntico após a construção das mesmas.

Através da utilização de mapas, imagens de satélites e receptores GPS decidiram-se os pontos a serem visitados, suas posições e as rotas a serem seguidas para atingi-los. Foram

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preparados mapas de campo que, juntamente com a navegação por satélites, possibilitaram otimizar os recursos do projeto.

Nos dias 18/072008 e 24/072008 foram realizadas campanhas de campo para reconhecimentos durante as quais foram analisados os acesso às margens e centro do rio, tempo para fazer os percursos e retornar a Lages de modo a enviar as amostras ao laboratório, custo da campanha de campo. Durante essas campanhas, foram feitos ensaios de amostragem composta, ou seja, com repetição em três pontos na seção transversal do rio (margens e centro). Mediu-se o oxigênio dissolvido, sólidos dissolvidos, condutividade e salinidade. Os resultados preliminares não indicaram diferenças significativas, razão de se ter adotado amostragem simples, o mais próximo possível ao centro do rio.

Cinco campanhas de monitoramento foram realizadas em sete pontos ao longo do rio, nas seguintes datas: 28-29/8/2008, 18/9/2008, 4/11/2008, 25/11/2008 e 11/12/2008. As amostragens a partir do dia 04/11 foram precedidas de períodos de chuvas intensas. As amostragens dos dias 28 e 29/08 foram precedidas de período de longa estiagem. A partir do dia 18/09 todos os pontos foram amostrados num único dia, sendo as amostras mantidas em caixas térmicas com gelo. Ao final do dia, o gelo era trocado e feita a postagem na transportadora. As amostras chegavam ao laboratório próximo das 10:00h do dia seguinte.

0 10 20 30 40 50 60 70 1/ 7/ 2008 8/ 7/ 2008 15/ 7/ 2008 22/ 7/ 2008 29/ 7/ 2008 5/ 8/ 2008 12/ 8/ 2008 19/ 8/ 2008 26/ 8/ 2008 2/ 9/ 2008 9/ 9/ 2008 16/ 9/ 2008 23/ 9/ 2008 30/ 9/ 2008 7/ 10/ 2008 14/ 10/ 2008 21/ 10/ 2008 28/ 10/ 2008 4/ 11/ 2008 11/ 11/ 2008 18/ 11/ 2008 25/ 11/ 2008 2/ 12/ 2008 9/ 12/ 2008 16/ 12/ 2008 23/ 12/ 2008 30/ 12/ 2008 28-29/8 18/9 04/11 25/11 11/12

Figura 3 – Datas das coletas e precipitações (mm) durante o período de monitoramento. (Fonte: EPAGRI/CIRAM, 2009)

Procurou-se seguir uma rotina de campo de modo que o horário de coleta de uma amostra fosse a mesma ao longo das campanhas. A razão principal está em que alguns parâmetros, como o oxigênio dissolvido, dependem da temperatura da água. Entretanto, a sazonalidade provocou aumento da temperatura dos meses mais frios para os meios mais quentes.

Os pontos de amostragens distribuíram-se ao longo do rio (Figura 4). O ponto NASC foi estabelecido sobre uma ponte e considerado como sendo ponto de controle, supostamente sendo o

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que apresentaria os melhores valores dos parâmetros de qualidade de água, especialmente por estar na região de cabeceira da bacia e seu entorno apresentar pouca atividade antrópica. O ponto PAINEL receberia influência do terço-superior do rio Caveiras, considerado de Classe 1.

O ponto BR-2 receberia influência das cargas poluidoras de uma cervejaria, dos rios Ponte Grande e Caraha e ainda da região oeste da cidade que despeja seus efluentes numa série de rios de deságuam no rio Caveiras. Este ponto possui especial relevância porque antecede o lago do Salto do Rio Caveiras, utilizado para gerar energia elétrica pela PCH das Centrais Elétricas de Santa Catarina (CELESC) e também pela comunidade de Santa Teresinha do Salto que vive no seu entorno. O ponto SALTO está localizado após a estação de geração da CELESC e recebe influência do alagado. Os pontos BR-2 e SALTO deveriam permitir uma compreensão dos efeitos de um alagamento na qualidade da água do rio.

®

0 5 10 20 30 40 50

Km Ponto de monitoramento

Rio Caveiras

Bacia Hidrográfica do Rio Caveiras

Municipios na Bacia

Bocaina do Sul Campo Belo do Sul Capão Alto Cerro Negro Correia Pinto Lages Painel Rio Rufino São José do Cerrito Urupema JB ITA BR-2 NASC BALSA SALTO PAINEL 500000.000000 500000.000000 520000.000000 520000.000000 540000.000000 540000.000000 560000.000000 560000.000000 580000.000000 580000.000000 600000.000000 600000.000000 6900 000 .0000 00 6900 000 .0000 00 69 20 00 0 .0 0 000 0 69 20 00 0 .0 0 000 0 6940 000 .0000 00 6940 000 .0000 00 696 0 0 0 0 .0 00 00 0 696 0 0 0 0 .0 00 00 0

Figura 4 – Localização dos pontos monitorados ao longo do Rio Caveiras de Agosto/2008 a Dezembro/2008. Lages, SC.

Para os pontos ITA, JB e BALSA o critério de localização foi que o ponto deveria estar no trecho compreendido entre a casa de força de uma PCH e o lago da PCH a jusante. Isto porque este trecho do rio deverá manter-se como ambiente lótico, mesmo após a construção destas usinas, de tal modo que, futuramente seja dada continuidade no monitoramento e compará-lo com o período pré-usinas. Assim, para a PCH Pinheiro estabeleceu-se a montante de seu lago o ponto SALTO e a jusante de sua casa de força o ponto ITA (Figura 5). Para a PCH Itararé tem-se a montante do lago

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o ponto ITA e a jusante da casa de força o ponto JB. Para a PCH João Borges tem-se a montante do lago o ponto JB.

Não foi possível estabelecer um ponto entre o lago da PCH Portão e a casa de força da João Borges por inexistência de acesso a este trecho. Assim, foi estabelecido o ponto BALSA, após a casa de força da PCH portão, a 26 km da foz do rio Caveiras no rio Canoas.

®

0 1 2 4 6 Km [_ Uso da água Ponto de monitoramento DrenagemCaveiras Rio Caveiras

Bacia Hidrográfica do Rio Caveiras

PCHs Projetadas Itararé João Borges Pinheiro Portão Bom Jesus Linda Vista

Passo dos Fernandes JB ITA BALSA 520000.000000 520000.000000 525000.000000 525000.000000 530000.000000 530000.000000 535000.000000 535000.000000 540000.000000 540000.000000 6 935 0 0 0 .0000 0 0 6 935 0 0 0 .0000 0 0 6 940 0 0 0 .00 0 0 0 0 6 940 0 0 0 .00 0 0 0 0 69 45 00 0 .0000 00 69 45 00 0 .0000 00

Figura 5 – Distribuição dos pontos ITA, JB e BALSA. São José do Cerrito/Lages, SC, Novembro/2008.

Os parâmetros que foram definidos para análise da qualidade da água foram os seguintes: pH, oxigênio dissolvido, salmonelas, coliformes fecais, coliformes totais, nitrogênio amoniacal, nitrito, nitrato, sulfato, cloreto, fósforo total, DBO, DQO, condutividade, sólidos dissolvidos, salinidade. Os dois primeiros foram determinados a campo, sendo que para pH foi utilizado peagâmetro e para oxigênio dissolvido foi utilizada sonda específica para tal. Foram realizadas calibrações prévias em laboratório com soluções próprias, antes de cada campanha de amostragem. Para salmonelas, coliformes fecais e coliformes totais optou-se pela utilização de cartela com meio de cultura, submetida à estufa a 37ºC por 24h (Figura 6). Após este tempo foram contadas as colônias indicadas por pontos azuis (coliformes fecais), verdes (salmonelas) e vermelhos Estes últimos, somados aos azuis, compuseram o número de colônias de coliformes totais. Sua concentração (em UFC/100mL) foi obtida multiplicando-se o número de colônias por 60, conforme orientação do fabricante. Condutividade, sólidos dissolvidos e salinidade somente puderam ser

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medidos com sonda durante as campanhas de reconhecimento, por ser um equipamento emprestado e não disponibilizado nas campanhas seguintes. Os demais parâmetros foram determinados no Laboratório de Pesquisas Hidrogeológicas (LPH) da Fundação da Universidade Federal do Paraná. Foram coletados 2 litros de água para cada ponto de amostragem, acondicionados em caixas térmicas cedidas pelo LPH e mantidas em gelo.

(d) (e) (f)

Figura 6 – (a) medição de pH e oxigênio dissolvido, (b) volume amostrado e cartela de amostragem de um ponto, (c) cartelas em estufa.

O processo de coleta de água foi definido pelas condições do local. No caso de pontes e balsa, a água foi coletada em balde, previamente enxaguado com a água do próprio rio, uma vez que, pelo seu alto custo, não se dispunha de garrafas coletoras próprias, indicadas pela ABNT. Quando utilizada canoa a coleta ocorria diretamente no rio.

Os dados foram compilados e armazenados em banco de dados. As análises não espaciais foram realizadas em planilha eletrônica.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Conforme seria esperado, os parâmetros analisados sofreram piora do ponto NASC ao ponto BR-2. A partir daí os mesmos parâmetros apresentam melhoras, indicando o efeito provável de dois fatores principais: a ação do lago do Salto Caveiras que pode estar retendo a carga poluidora da cidade de Lages e a ação de reaeração de inúmeras corredeiras ao longo do rio (ver Anexos).

O ponto NASC, localizado no alto da bacia, deveria apresentar os melhores índices de qualidade da água. O oxigênio dissolvido apresentou-se bem acima do limite de 5mg/L estabelecido pela Resolução CONAMA 357 para rio de classe 1 (CONAMA, 1986). No entanto, surpreendeu os níveis de coliformes e salmonelas bem acima de 1000 UFC/100mL em 80% das amostra, estabelecidos pela mesma resolução. Considerando pequena a área de contribuição de sua sub-bacia (36,1 km2), a causa provável estaria na presença de algumas edificações esparsas e criação de animais, especialmente pecuária extensiva. Quanto aos parâmetros biológicos de DBO e DQO os resultados laboratoriais não apresentaram valores consistentes para análise. As concentrações de

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nitritos resumiram-se a traços menores que 0,01 mg/L (limite de 1 mg/L) em todo o período de amostragem. As concentrações de fósforo total também estiveram abaixo do limite de 0,1 mg/L, assim como de nitrogênio amoniacal, (limite de 10 mg/L) e de cloreto (limite de 250 mg/L). A ocorrência de chuvas intensas na bacia no período de outubro a dezembro pode ter contribuído para elevação das concentrações de oxigênio dissolvido, possivelmente pela maior movimentação da água no rio devido às cheias. Por outro lado o aumento na concentração de salmonelas e coliformes poderia ser explicado pelo carreamento de dejetos dos animais criados a campo pelo escoamento superficial da água precipitada na sub-bacia de contribuição. A diminuição nas concentrações de nitrito poderia ser explicadas pelo maior volume de água no rio no período das chuvas indicando sem aumento na carga poluidora. Para os níveis de cloreto observou-se uma tendência de queda gradativa passando do período de seca para o de chuvas intensas.

Os parâmetros analisados no ponto PAINEL apresentaram comportamentos semelhantes ao ponto NASC, com uma tendência geral de indicarem uma melhor qualidade geral da água. Este comportamento não seria esperado uma vez que sua área de contribuição é cerca de 10 vezes maior que a do ponto NASC e possui em seu interior uma cidade com cerca de 2500 hab. A explicação para isso estaria que, apesar de suas dimensões em relação ao ponto NASC a sub-bacia do ponto PAINEL é muito pouco antropisada. Além disso, o afluente do Caveiras que recebe diretamente os efluentes da cidade de PAINEL, e o próprio rio Caveiras, estariam fazendo a autodepuração numa extensão de cerca de 20 km deste a cidade de Painel ao ponto de amostragem.

Foi confirmada a hipótese inicial de que a qualidade da água no ponto BR-2 seria inferior a dos demais pontos. Os níveis de oxigênio dissolvido mantiveram-se dentro do limite para rio classe 2 (< 5 mg/L), confirmando a constatação de que, apesar da carga de poluentes, o rio Caveiras possui grande capacidade de reaeração.

O comportamento dos parâmetros de qualidade da água deste ponto pode ser comparado com dos parâmetros do ponto BR-2, uma vez que entre os mesmos se encontra o lago do Salto Caveiras. O oxigênio dissolvido não sofreu variações significativas entre o ponto BR-2 e SALTO, provavelmente devido à queda d’água até a casa de força, que estaria agindo como reaerador a jusante do lago.

O comportamento dos parâmetros de qualidade da água no ponto ITA parecem pouco diferir dos pontos anteriores. Parece haver uma pequena melhora nos parâmetros microbiológicos, especialmente coliformes fecais e salmonelas. Os parâmetros de DBO e DQB não mostraram boa consistência, mas parecem indicar tendência de DBO entre 2 a 5 mg/L, dentro dos limites para rios classe 2.

O comportamento do ponto JB assemelhou-se ao do ponto ITA, como seria esperado por serem pontos muito próximos ao longo do rio. Destaca-se que, a exemplo dos pontos SALTO e

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ITA, houve uma tendência de diminuição das concentrações dos parâmetros nitrogenados e de fósforo total, embora todos estivessem sempre dentro dos limites aceitáveis para rios da classe 1.

Seria esperado que o ponto BALSA apresentasse melhores condições de qualidade da água que os demais pontos, por estar bem distante dos principais pontos de poluição pontuais. Entretanto, seu comportamento parece diferir mais apenas no que se refere aos parâmetros nitrogenados. Os parâmetros biológicos parecem indicar que sua ocorrência estaria mais relacionada com a extensão da área de contribuição e com o uso do solo.

4 CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES

a) De acordo com os parâmetros analisados a qualidade da água do rio Caveiras está dentro dos limites estabelecidos pela legislação para classe 1.

b) A região de cabeceira do rio Caveiras apresenta sinais de poluição que devem ser considerados pelas autoridades.

c) O rio apresenta grande capacidade de autodepuração em toda sua extensão, principalmente devido à presença de muitas corredeiras. A maioria delas deverá desaparecer com as três PCHs que devem ser construídas. Isso deverá reduzir drasticamente a capacidade de regeneração do rio. Haverá necessidade de se fazer o monitoramento e exigir da empresa exploradora providências que evitem este problema.

d) A maior cidade da região que se abastece de suas águas também é seu maior poluidor.

e) O trecho mais crítico está situado entre a cervejaria e a ponte sobre a antiga BR-2, situada antes do lago da PCH do Salto Caveiras. Todos os parâmetros analisados apresentaram piora considerável neste trecho.

f) Após o lago desta PCH todos os parâmetros apresentaram melhora significativa. Conclui-se que o lago da PCH do Salto Caveiras recebe a carga poluidora de Lages e poderia estar agindo semelhante a uma gigantesca fossa séptica. Há que se fazer pesquisas para verificar a qualidade da água do lago e, especialmente, as condições do lodo acumulado durante os cerca de 50 anos de sua existência. As autoridades sanitárias deveriam ficar atentas a esta questão.

De modo geral, as águas do rio Caveiras ainda podem ser consideradas de boa qualidade. As principais razões para isso seriam a baixa densidade demográfica da bacia hidrográfica, a predominância de florestas e campos na bacia, a existência de inúmeras corredeiras ao longo do rio e a existência do lago do Salto Caveiras que retêm a carga poluidora da cidade de Lages.

5 AGRADECIMENTOS

Os autores do trabalho agradecem à UDESC, FAPESC, Polícia Militar Ambiental de Santa Catarina, Glênio Bruck de Andrade e Lúcia Helena Baggio Martins.

6 BIBLIOGRAFIA

ANEEL, 2005 [a]. http://www.aneel.gov.br/cedoc/area2005373_1.pdf (PCH Itararé). [acesso em 09/06/2009].

ANEEL, 2005 [b]. http://www.aneel.gov.br/cedoc/area2005375_1.pdf. (PCH Pinheiro), [acesso em 09/06/2009].

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ANEEL, 2005 [c]. http://www.aneel.gov.br/cedoc/area2005374_1.pdf (PCH João Borges). [acesso em 09/06/2009].

CONAMA - CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE, Resolução n.20, 1986. http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res86/res2086.html. [ acesso em 09/06/2009].

RAFAELI NETO, Sílvio Luís. Análises morfométricas em bacias hidrográficas integradas a um sistema de informações geográficas. Curitiba, 1994. Dissertação (Mestrado) - Departamento de Geociências, Universidade Federal do Paraná.

SEPLAN - Secretaria de Estado de Planejamento e Coordenação de Santa Catarina. Portaria 024/79, 1977.

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7 ANEXOS Oxigênio dissolvido 0 2 4 6 8 10 12 14

NASC PAINEL BR-2 SALTO ITA JB BALSA Ponto de amostragem mg /L 28-29/08/2008 Oxigênio dissolvido 0 2 4 6 8 10 12 14

NASC PAINEL BR-2 SALTO ITA JB BALSA Ponto de amostragem mg /L 18/09/2008 Oxigênio dissolvido 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14

NASC PAINEL BR-2 SALTO ITA JB BALSA Ponto de amostragem mg /L 04/11/2008 Oxigênio dissolvido 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14

NASC PAINEL BR-2 SALTO ITA JB BALSA Ponto de amostragem mg /L 25/11/2008 Oxigênio dissolvido 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14

NASC PAINEL BR-2 SALTO ITA JB BALSA Ponto de amostragem

mg

/L

11/12/2008

Figura 7 – Comportamento do oxigênio dissolvido nas campanhas de monitoramento realizadas de agosto a dezembro de 2008 ao longo do Rio Caveiras.

DBO e DQO 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

SALTO ITA JB BALSA

Ponto de amostragem mg /L DBO DQO 28-29/08/2008 DBO e DQO 0 5 10 15 20 25 30 35

NASC PAINEL BR-2 SALTO ITA JB BALSA Ponto de amostragem mg /L DBO DQO 04/11/2008 DBO e DQO 0 5 10 15 20 25 30 35

NASC PAINEL BR-2 SALTO ITA JB BALSA Ponto de amostragem

mg

/L DBO DQO

25/11/2008

Figura 8 – Comportamento da DBO e DQO nas campanhas de monitoramento realizadas de agosto a dezembro de 2008 ao longo do Rio Caveiras.

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Parâmetros Biológicos 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500

NASC PAINEL BR-2 SALTO ITA JB BALSA Ponto de amostragem UF C/ 1 0 0 m l Salmonelas Coliformes fecais Coliformes totais 28-29/08/2008 Parâmetros Biológicos 0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000

NASC PAINEL BR-2 SALTO ITA JB BALSA Ponto de amostragem UF C/ 1 0 0 m l Salmonelas Coliformes fecais Coliformes totais 18/09/2008 Parâmetros Biológicos 0 5000 10000 15000 20000 25000

NASC PAINEL BR-2 SALTO ITA JB BALSA Ponto de amostragem U F C /10 0m l Salmonelas Coliformes fecais Coliformes totais 04/11/2008 Parâmetros Biológicos 0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000 9000

NASC PAINEL BR-2 SALTO ITA JB BALSA Ponto de amostragem UC F /1 0 0m l Salmonelas Coliformes fecais Coliformes totais 25/11/2008 Parâmetros Biológicos 0 5000 10000 15000 20000 25000 30000 35000 40000 45000

NASCPAINEL BR-2 SALTO ITA JB BALSA GUARA BATIST Ponto de amostragem U F C /10 0m l Salmonelas Coliformes fecais Coliformes totais 11/12/2008

Figura 9 – Comportamento dos parâmetros biológicos (Salmonelas, Coliformes Fecais e Coliformes Totais) nas campanhas de monitoramento realizadas de agosto a dezembro de 2008 ao

longo do Rio Caveiras.

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1

NASC PAINEL BR-2 SALTO ITA JB BALSA Ponto de amostragem mg /L Nitrogênio Amoniacal Nitrito Nitrato Fósforo total 28-29/08/2008 0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0,3 0,35 0,4 0,45

NASC PAINEL BR-2 SALTO ITA JB BALSA Ponto de amostragem mg /L Nitrogênio Amoniacal Nitrito Nitrato Fósforo total 18/09/2008 0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0,3 0,35 0,4 0,45

NASC PAINEL BR-2 SALTO ITA JB BALSA Ponto de amostragem mg /L Nitrogênio Amoniacal Nitrato Fósforo total 04/11/2008 0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0,3 0,35 0,4 0,45

NASC PAINEL BR-2 SALTO ITA JB BALSA Ponto de amostragem mg /L Nitrogênio Amoniacal Nitrito Nitrato Fósforo total 25/11/2008 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9

NASC PAINEL BR-2 SALTO ITA JB BALSA Ponto de amostragem mg /L Nitrogênio Amoniacal Nitrito Nitrato Fósforo total 11/12/2008

Figura 10 – Comportamento dos parâmetros nitrogenados (Nitrito, Nitrato, Nitrogênio Amoniacal) e Fósforo Total nas campanhas de monitoramento realizadas de agosto a dezembro de 2008 ao

(13)

Cloreto 0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5

NASC PAINEL BR-2 SALTO ITA JB BALSA Ponto de amostragem mg /L Cloreto 28-29/08/2008 Cloreto 0 1 2 3 4 5

NASC PAINEL BR-2 SALTO ITA JB BALSA Ponto de amostragem mg /L 18/09/2008 Cloreto 0 1 2 3 4 5

NASC PAINEL BR-2 SALTO ITA JB BALSA Ponto de amostragem mg /L 04/11/2008 Cloreto 0 1 2 3 4 5

NASC PAINEL BR-2 SALTO ITA JB BALSA Ponto de amostragem mg /L 25/11/2008 Cloreto 0 1 2 3 4 5

NASC PAINEL BR-2 SALTO ITA JB BALSA Ponto de amostragem

mg

/L

11/12/2008

Figura 11 – Comportamento do parâmetro cloreto nas campanhas de monitoramento realizadas de agosto a dezembro de 2008 ao longo do Rio Caveiras.

Referências

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