• Nenhum resultado encontrado

Fatores que influenciam a decisão de migração para outro paradigma tecnológico

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Fatores que influenciam a decisão de migração para outro paradigma tecnológico"

Copied!
117
0
0

Texto

(1)

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

ELIZABETH MERLO

FATORES QUE INFLUENCIAM A DECISÃO DE MIGRAÇÃO

PARA OUTRO PARADIGMA TECNOLÓGICO

VITÓRIA 2009

(2)

ELIZABETH MERLO

FATORES QUE INFLUENCIAM A DECISÃO DE MIGRAÇÃO

PARA OUTRO PARADIGMA TECNOLÓGICO

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração do Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas da Universidade Federal do Espírito Santo, para cumprimento de créditos finais no Curso de Mestrado em Administração.

Orientadora: Profa. Dra. Teresa Cristina Janes Carneiro

VITÓRIA 2009

(3)

FATORES QUE INFLUENCIAM A DECISÃO DE MIGRAÇÃO

PARA OUTRO PARADIGMA TECNOLÓGICO

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração do Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas da Universidade Federal do Espírito Santo, para cumprimento de créditos finais no Curso de Mestrado em Administração.

Aprovada em 26 de junho de 2009.

COMISSÃO EXAMINADORA

____________________________________________ Profa. Dra. Teresa Cristina Janes Carneiro

Universidade Federal do Espírito Santo

____________________________________________ Prof. Dr. Helio Zanquetto Filho

Universidade Federal do Espírito Santo

____________________________________________ Profa. Dra. Monica Ferreira da Silva

(4)
(5)

RESUMO

O trabalho foi realizado devido à importância do setor de software na sociedade da informação e à dicotomia presente entre os padrões software livre e software proprietário. Foram analisadas situações de migração no parque tecnológico de empresas que usavam software proprietário e optaram pelo software livre, e vice-versa, e identificadas questões financeiras, tecnológicas e institucionais presentes neste processo. Utilizou-se das categorias de algumas teorias de avaliação de adoção de tecnologia, aplicadas em três situações de pesquisa: a primeira foi exploratória, visando o entendimento do tema; a segunda foi exploratória em profundidade, realizada com duas organizações a fim de refinar as questões identificadas; e a terceira foi de caráter quantitativo, por meio de um questionário enviado a 1.740 pessoas da área de TI, retornando uma amostra de 38 empresas. As análises mostram que o fato de ser livre ou proprietário exerce influência na decisão de migração não pela disponibilidade ou não do código fonte – fator que mais diferencia um padrão do outro – mas sim por aspectos de confiabilidade e de usabilidade reconhecidos em cada um destes padrões. As considerações finais apontam diversas hipóteses a serem testadas em pesquisas futuras.

Palavras-chave: Adoção de Tecnologia, Padrão Tecnológico, Software Livre e Proprietário, Decisão de Migração.

(6)

ABSTRACT

The research was conducted because of the importance of business software in the information society and this dichotomy between free software and proprietary software standards. The analyzed situations are related to companies that migrated their technology park from proprietary software to free software, and vice versa. It was identified financial, technological and institutional issues in these processes. We used the categories of evaluation of some theories of adoption of technology, applied in three situations of research: the first one was exploratory, seeking to understand the subject; the second the second was exploratory in depth, made with two organizations in order to refine the issues identified; and the third was of quantitative nature, using a questionnaire sent to 1,740 people in the area of related to IT, returning a sample of 38 companies. The final considerations show that the feature of being free or proprietary software influences the decision to migrate. Although it is not because of the availability of source code - the factor that differentiates most of the other standard - but because of issues of reliability and usability found in each of these standards. They also suggest several hypotheses to be tested in future research.

Palavras-chave: Adoption of Technology, Technologic Standard, Free and Proprietary Software, Decision of Migration.

(7)

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Gráfico em “S” com Ciclo de Vida das Revoluções Tecnológicas. ... 22

Figura 2 – Conceito básico dos modelos de aceitação de tecnologia ... 45

Figura 3 - Seleção de Categorias para a Pesquisa ... 48

Figura 4 - Teoria Unificada da Aceitação e Uso da Tecnologia - UTAUT ... 49

Figura 5 - Etapas da Pesquisa ... 53

Figura 6 – Relação Hardware x Sistema Operacional ... 64

(8)

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Cinco revoluções tecnológicas em 230 anos: indústrias e tecnologias. ... 20

Quadro 2 – Modelos e Teorias de Aceitação Individual de Tecnologia ... 47

Quadro 3 - Quadro Teórico das Categorias Utilizadas ... 48

Quadro 4 – Relacionamento entre Categorias da Fase 1 e da Fundamentação Teórica ... 62

Quadro 5 – Relacionamento entre Categorias da Fase 2 (Caso 1) e da Fundamentação Teórica ... 71

Quadro 6 – Relacionamento entre Categorias da Fase 2 (Caso 2) e da Fundamentação Teórica ... 76

Quadro 7 – Identificação das Categorias selecionadas nas duas primeiras fases da pesquisa ... 80

Quadro 8 – Identificação das Categorias selecionadas nas fases 1 e 2 da pesquisa – fez migração ... 81

Quadro 9 – Identificação das Categorias selecionadas nas fases 1 e 2 da pesquisa – não fez migração ... 81

(9)

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Porte da empresa ... 82

Tabela 2 – Já participou de alguma migração ... 82

Tabela 3 – Porte da empresa que participou ou não de migração ... 83

Tabela 4 – Setor da empresa ... 83

Tabela 5 – Setor da empresa que participou ou não de migração ... 84

Tabela 6 – Sistema Operacional atualmente adotado pela empresa ... 84

Tabela 7 – Sistema operacional da empresa que participou ou não de migração ... 85

Tabela 8 – Suíte de escritório da empresa que participou ou não de migração ... 85

Tabela 9 – Migração mais recente da empresa ... 86

Tabela 10 – Última migração na empresa X Sistema Operacional Atual... 86

Tabela 11 - A opção tecnológica adotada já não era a melhor opção técnica - performance era insatisfatória ... 87

Tabela 12 - A opção tecnológica adotada não era a melhor opção em termos financeiros (custos de aquisição, treinamento, manutenção e atualização) ... 87

Tabela 13 - A opção tecnológica adotada não nos dava mais segurança junto ao fornecedor, pois não contávamos com suporte técnico ... 88

Tabela 14 - A opção tecnológica adotada nos deixava dependente do fornecedor ... 88

Tabela 15 - A alta gerência exigiu que migrássemos ... 89

Tabela 16 - Última migração na empresa X a opção tecnológica adotada já não era a melhor opção técnica - performance era insatisfatória ... 90

Tabela 17 - Última migração na empresa X a opção tecnológica adotada não era a melhor opção em termos financeiros (custos de aquisição, treinamento, manutenção e atualização) ... 91

(10)

Tabela 18 - Última migração na empresa * A opção tecnológica adotada não nos dava mais segurança junto ao fornecedor, pois não contávamos com suporte técnico ... 92 Tabela 19 - Última migração na empresa * A opção tecnológica adotada nos deixava

dependente do fornecedor ... 93 Tabela 20 - Última migração na empresa * A alta gerência exigiu que migrássemos ... 94 Tabela 21 - A opção tecnológica adotada é a melhor opção técnica ... 94 Tabela 22 - A opção tecnológica adotada é a melhor opção em termos financeiros (custos

de aquisição, treinamento, manutenção e atualização) ... 95 Tabela 23 - A opção tecnológica adotada nos dá segurança junto ao fornecedor, pois

contamos com suporte técnico ... 95 Tabela 24 - A opção tecnológica adotada nos dá autonomia, pois nossa equipe já está

treinada ... 96 Tabela 25 - Já pensamos em migrar, mas não tivemos apoio da gerência ... 96 Tabela 26 - A empresa já fez migração, mas eu não participei ... 97

(11)

LISTA DE SIGLAS

BSD Berkeley Software Distribution CSRG Computer Science Research Group

DARPA Agência de Pesquisas e Projetos de Avançados de Defesa dos EUA FLOSS Free/Libre and Open Source Software

FSF Free Software Foundation GPL General Public License

IDC International Data Corporation

ITI Instituto Nacional de Tecnologia da Informação ITU International Telecommunications Union

MIT Massachussets Institute of Technology

OECD Organisation for Economic Co-operation and Development OSI Open Source Initiative

TI Tecnologia da Informação

(12)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 12

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ... 18

2.1 O PARADIGMA TECNO-ECONÔMICO ... 18

2.2 A ECONOMIA DO APRENDIZADO ... 23

2.3 O SOFTWARE NO ATUAL PARADIGMA TECNO-ECONÔMICO ... 28

2.3.1 Software Livre e Software Proprietário: Compreendendo os dois Universos ... 30

2.4 A DECISÃO DE MIGRAÇÃO ... 44 2.4.1 Expectativa de Desempenho ... 49 2.4.2 Expectativa de Esforço ... 50 2.4.3 Influência Social ... 50 2.4.4 Condições Facilitadoras ... 51 2.4.5 Voluntariedade de Uso ... 51 2.4.6 Visibilidade... 51 3 METODOLOGIA ... 53

4 ANÁLISE DOS DADOS ... 58

4.1 FASE 1: ENTENDENDO O TEMA ... 58

4.2 FASE 2: ANALISANDO DOIS CASOS DE MIGRAÇÃO ... 62

4.2.1 Caso 1: Migração de Software Proprietário para Software Livre ... 62

4.2.2 Caso 2: Migração de Software Livre para Software Proprietário ... 72

4.2.3 Comparando os Casos ... 76

4.3 FASE 3: EXPANDINDO OS RESULTADOS ENCONTRADOS NOS CASOS ... 79

4.3.1 Categorias Selecionadas ... 80

4.3.2 Perfil dos Respondentes ... 81

4.3.3 Análise dos Dados de Quem já Participou de Migração ... 86

4.3.4 Não Participou de Migração ... 94

4.3.5 Considerações da Fase 3 da Pesquisa ... 97

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 99

6 REFERÊNCIAS ... 100

ANEXO I ... 110

ANEXO II ... 112

(13)
(14)

1

INTRODUÇÃO

Nos últimos anos a expressão “Sociedade da Informação” tem sido intensamente utilizada e estudada por diversos autores, tais como Machlup (1962), McLuhan and Fiore (1967), Bell (1976), Masuda (1981), Naisbitt (1983), Toffler (1982), Negroponte (1995), Fukuyama (1989) e Castells (1999) conforme foi consolidado no artigo “Mapping the Information Society Literature: Topics, Perspective, and Root Metaphors” de Álvares e Kilbourn (2001). Cada um deles vem apresentando diferentes visões sobre a natureza e as implicações das atuais mudanças que a sociedade tem experimentado em um ritmo particularmente intenso.

A origem da expressão, no entanto, remonta aos anos 70, especialmente no Japão e nos EUA, em torno das discussões sobre o que seria a sociedade pós-industrial e quais seriam suas principais características. Percebeu-se que a sociedade caminhava em direção a um novo modelo de organização, no qual o controle e a otimização dos processos industriais eram substituídos pelo processamento e manejo da informação como chave econômica. Nas palavras de Castells (1999, p. 43):

Uma nova economia, informacional e global, surgiu nas duas últimas décadas. É informacional porque a produtividade e a competitividade de unidades ou agentes nessa economia dependem basicamente da sua capacidade de gerar, processar e aplicar de forma eficiente a informação baseada em conhecimentos. É global porque as principais atividades produtivas estão organizadas em escala global, diretamente ou mediante uma rede de conexões entre agentes econômicos. É informacional e global porque a produtividade é gerada e a concorrência é feita em uma rede global de interação.

A informação sempre foi importante em todas as revoluções tecnológicas. No entanto, na Sociedade da Informação, observam-se algumas particularidades neste aspecto. Ainda em Castells (1999), tratando especificamente do paradigma da tecnologia da informação, identificamos cinco aspectos do novo paradigma.

O primeiro deles é que a informação é a matéria prima do novo paradigma: são tecnologias agindo sobre a informação, não apenas informação agindo sobre a tecnologia, como foi o caso das revoluções tecnológicas anteriores. O segundo aspecto refere-se à penetrabilidade dos efeitos das novas tecnologias: uma vez que a informação é uma parte integral de toda atividade humana, todos os processos de nossa existência individual e coletiva são diretamente moldados pelo novo meio tecnológico. A terceira característica refere-se à lógica de redes em qualquer sistema ou conjunto de relações, baseada nessas novas tecnologias da informação. Em quarto lugar, o paradigma da tecnologia da informação é

(15)

baseado na flexibilidade: não apenas os processos são reversíveis, mas organizações e instituições podem ser modificadas e até mesmo fundamentalmente alteradas, pela reorganização de seus componentes. Uma quinta característica dessa revolução tecnológica é a crescente convergência de tecnologias específicas para um sistema altamente integrado, em que as atividades passam a ser desenvolvidas de forma interligada e complexa, em uma interdependência entre e intra setores, sendo difícil delimitar onde termina uma e começa a outra.

Nesse sentido, a sociedade da informação pode ser entendida como um estágio de desenvolvimento social caracterizado pela capacidade de seus membros (cidadãos, empresas e organizações públicas) de fazer o melhor uso possível das Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC), beneficiando-se delas.

Por outro lado, as novas tecnologias podem gerar uma nova lógica de exclusão, acentuando as desigualdades já existentes em função das condições diferenciadas de acesso à informação e da capacidade de aprender e inovar. Um dos motivos está diretamente relacionado ao custo. Mesmo com os preços de hardware apresentando queda, conforme descrito no Livro Verde do Ministério de Ciência e Tecnologia (TAKAHASHI, 2000), os gastos previstos com a compra de software estão entre os que mais têm crescido na Sociedade da Informação.

Outro aspecto que colabora para a lógica da exclusão é, segundo Kranzberg (1985, p. 37): "A tecnologia não é nem boa, nem ruim e também não é neutra." Uma vez adotado um padrão, fica-se dependente dele para a tomada de decisões futuras. Do contrário, os esforços de aprendizado podem ser muito grandes.

Especificamente no mercado de softwares, que é o foco desta pesquisa, há dois paradigmas: o de software livre e o de software proprietário.

O software livre se apresenta como uma alternativa para superar o problema do custo elevado das licenças. Em linhas gerais, são programas de computador que podem ser alterados, distribuídos e copiados sem restrições e sem a necessidade de grandes investimentos em licenças de uso (por exemplo, o Linux). Apesar de também poderem ser vendidos, os softwares livres apresentam, em geral, licenças distribuídas gratuitamente no mercado. Assim, a adoção destes programas poderia substituir os já conhecidos softwares proprietários (por exemplo, o Unix Aix da IBM, o Windows da Microsoft), cujas licenças de uso não permitem a cópia nem a alteração de suas funcionalidades.

(16)

O senso comum apregoa que a tecnologia de software livre é interessante economicamente, devido a seu baixo custo de aquisição. É viável tecnologicamente, pois o fato de deixar o código aberto permite acesso ao expertise de outros desenvolvedores, em uma tentativa de vencer a lacuna tecnológica entre os países que já são grandes produtores de software e os que não são. Este aspecto deve ser considerado principalmente no caso do Brasil, que é reconhecido mundialmente como um produtor de softwares criativos e de qualidade (VELOSO et.al, 2003). No entanto o software livre ainda enfrenta barreiras institucionais que impedem sua plena adoção na sociedade da informação. Por exemplo, há o questionamento de que não existe suporte técnico, que a gratuidade não compensa o custo maior com consultoria, questões de violação de direitos autorais, uma vez que libera o código para todos.

Por outro lado, o senso comum também defende que, apesar dos altos preços das licenças de uso, os softwares proprietários são mais confiáveis tecnologicamente e institucionalmente, devido à amplitude de sua compatibilidade, obedecendo a um padrão. Este aspecto é primordial para o caso da categoria de software conhecida como sistemas operacionais, pois viabiliza a instalação de aplicativos atualizados, drivers de equipamentos e maior ou menor usabilidade, uma vez que o sistema operacional é a base onde os demais softwares são instalados. O sistema operacional é uma coleção de programas para gerenciar as funções do processador, o input, o output, o armazenamento e o controle dos dispositivos. O sistema operacional tem todos os comandos básicos que os aplicativos vão usar, sem que se faça necessário reescrever todas estas funções para cada aplicativo (RAMALHO, 2003). Além disso, o suporte oferecido é mais acessível, pois há contratos assinados, telefones de contato, sites a serem consultados, transmitindo uma imagem de solidez e confiança.

No entanto, o que se observa é uma realidade em que algumas empresas que utilizavam software proprietário estão migrando para software livre (migração do Windows para o Linux, por exemplo), enquanto outras, que utilizavam software livre tomam o caminho inverso e optam pelo proprietário (migração do Linux para o Microsoft Windows).

A presença do uso de softwares é observada em praticamente todas as cadeias produtivas da Sociedade da Informação. As organizações dependem cada vez mais das informações que estão armazenadas e são processadas no ambiente digital, sem as quais, não se realiza o negócio. Além dessa característica de agente estratégico para o desenvolvimento, o crescimento da indústria de software por si só, promove incremento na economia. Todas

(17)

as atividades relacionadas ao software possuem um alto valor agregado, quer seja no desenvolvimento de sistemas de informação ou na prestação de serviços de consultoria, pois se trata de uma indústria intensiva em conhecimento (VELOSO et.al, 2003).

Os sistemas de informação se tornaram parte vital do ambiente de trabalho, mas, segundo Yi (2006, apud JAMIELSON, 2007) ainda existe pouco entendimento dos fatores que contribuem para sua adoção e aceitação. Raggad (1997) defende que o sucesso futuro das organizações está diretamente relacionado aos sistemas de informações adotados, no entanto, a incidência de sucesso na implementação de projetos de sistemas de informação ainda é muito baixa (ROBBINS-GIOIA, 2002; STANDISH GROUP, 1995, apud JAMIELSON, 2007).

Os tomadores de decisão realizam um papel crítico na avaliação, aquisição e implementação de sistemas de informação nas organizações. Segundo Mintzberg (1990), tanto a tomada de decisão quanto seus resultados são influenciados por um número de fatores organizacionais e informacionais que incluem custo, tempo e disponibilidade de recursos. A maioria dos autores tem seu foco limitado aos atributos de sistema e de requisitos dos usuários da organização (DAVIS et al., 1992; FIELD, 1997; KIPPENBERGER, 2000; OASIG, 1996; STANDISH GROUP, 1995, apud JAMIELSON, 2007). Mas vem crescendo o número de autores que têm considerado os aspectos organizacionais e contextuais da implementação do sistema de informação (MINTZBERG e WESTLEY, 2001; ROGERS, 1995).

Assim, o objetivo desta pesquisa é identificar os fatores que influenciam a tomada de decisão pela migração para um determinado padrão de tecnologia, seja software livre para software proprietário, vou vice-versa, conceitos que serão detalhados. Esta pesquisa busca investigar se as decisões de migrar para outro padrão de sistemas de informações seguem as práticas padrões de grandes aquisições, com justificativas lógicas e racionais (BALLANTINE e STRAY, 1999; DOHERTY e KING, 2003; IRANI e LOVE, 2001; LIN e PERVAN, 2001; VERVILLE e HALINGTEN, 2002); ou se não, se estas decisões raramente são lógicas e racionais e estão muito mais sujeitas a fatores subjetivos (SIMON, 1967; BANNISTER e REMENY, 1999; MINTZBERG, 1990). O que se observa com frequência em análises dos casos de migração para outro paradigma de software é que se devem a razões técnicas e financeiras. Esta pesquisa busca analisar as razões desta mudança e se estas passam por questões que vão além do custo e da tecnologia. A pergunta é: quais fatores influenciam as decisões envolvendo a troca de um determinado padrão de software para empresas?

(18)

A resposta a esta pergunta passa pela teoria da tomada de decisões, que considera o homem como sendo racional. No entanto, de acordo com Mintzberg (1990) a extensão desta racionalidade começa a ser limitada pela complexidade das situações vivenciadas pelos tomadores de decisão. As decisões da vida real, segundo Simon (1967), levam em consideração as metas, os fatores ambientais e as inferências obtidas a partir destes, podendo ser reais ou supostos. De todo modo, reconhece-se que os tomadores de decisão tentam sustentar uma imagem racional, mas estão sujeitos às influências sutis ou incertas que podem alterar suas decisões.

Considerando as decisões relacionadas à seleção e implementação de sistemas de informações no contexto da teoria da decisão, esta pesquisa busca investigar se as decisões relacionadas ao software, algumas vezes, são tomadas de modo não-racional em função dos diversos atributos deste tipo de decisão. Estes atributos incluem grande volume de informação e alto grau de complexidade e de incerteza. Além disso, algumas decisões aparentemente não-racionais, tomadas a partir da confiança na intuição do decisor, podem produzir resultados organizacionais positivos.

Foram analisados alguns contextos corporativos, em que o padrão já instalado de software foi migrado de proprietário para livre; e também de livre para proprietário. A intenção da pesquisa foi compreender os fatores que levam um gestor a optar por mudar o padrão já instalado, mesmo tendo a organização que passar por um novo processo de aprendizagem. É importante destacar que a decisão de adoção de uma tecnologia que altere o padrão tecnológico de uma organização afeta um grupo de pessoas e não somente o indivíduo que optou pela mudança.

Vale, neste ponto, uma breve diferenciação entre adoção e migração. Esta última envolve fortemente as experiências anteriores do usuário, suas boas ou más lembranças, sua base de conhecimento, seu network. Estes fatores podem se configurar como incentivos ou barreiras para mudar. No caso da adoção, o usuário ainda não tem um parâmetro consolidado.

A fim de compreender os motivos que levam à adoção de software livre em substituição ao software proprietário e vice-versa foi realizada uma pesquisa em três fases: uma primeira fase exploratória com profissionais da área de Tecnologia da Informação, seguida de outra fase com mais profundidade analisando dois casos de migração em duas organizações, uma pública e outra privada; e por último, uma terceira fase com 38 respondentes, a partir dos dados obtidos nas duas primeiras fases. O objetivo inicial era que essa última fase fosse

(19)

confirmatória mas devido ao número de respostas válidas obtidas, a amostra não se mostrou com significância estatística para tanto. No entanto, permite que se trace possibilidades para pesquisas futuras.

O referencial teórico teve como fio condutor os artigos de Perez (2002a, 2002b, 2003) que tratam do paradigma tecno-econômico e de seu processo de difusão; documentos de Johnson e Lundvall (1994) que abordam a economia do aprendizado; Venkatesh (2003), Rogers (1976, 1995) e Mintzberg (1990, 2001) para a questão da decisão de migração para um padrão tecnológico diferente.

O Capítulo II apresenta a fundamentação teórica que oferece subsídios para a condução da pesquisa. O Capítulo III descreve os procedimentos metodológicos que foram adotados a fim de atingir os objetivos propostos. O Capítulo IV apresenta a análise dos dados das três fases realizadas na pesquisa. As considerações finais estão apresentadas no Capítulo VI, e as referências no Capítulo VI. Os Anexos apresentam os complementos necessários para uma melhor compreensão da pesquisa.

O presente trabalho busca contribuir para a discussão das questões presentes nos casos de migração de padrão tecnológico no setor das TICs. Nesta linha, a pesquisa resgata a importância do software como fator estratégico para uma organização e decisivo para o desenvolvimento econômico.

(20)

2

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Este capítulo contempla a fundamentação teórica que auxiliou no entendimento das experiências empíricas analisadas na pesquisa. Ele é o suporte para a análise acerca da decisão pela migração para um padrão tecnológico em detrimento de outro.

Foi estruturado em três subitens, iniciando com uma análise do conceito de paradigmas tecno-econômicos, construído a partir de trabalhos de Perez (2002a, 2002b, 2003). Também contribuem para esta seção, trabalhos de Kuhn (1970) e Castells (1999). Os autores dão suporte ao entendimento da importância do software na sociedade da informação e também à situação dicotômica existente entre software livre e software proprietário.

A segunda parte deste capítulo aborda a economia do aprendizado, utilizando documentos de Johnson, Lundvall e Nielsen (1993, 1994, 1996 e 1998), que tratam da “learning economy” e Kunh e Weidemann (2002) que tratam de sociedade do aprendizado e da importância do software neste processo. Nesta seção será evidenciado o engessamento que pode ser observado diante da adoção de uma tecnologia que já é conhecida e dominada em uma organização.

Estes argumentos conduzem para a terceira seção do capítulo, que evidencia a importância do software no atual cenário sócio-econômico e esclarece a situação dicotômica presente nos padrões de software livre e software proprietário. Foram utilizadas obras de Stallman e de instituições defensoras do software livre, e publicações que fazem o contraponto em software proprietário, assim como publicações do MIT (Massachussets Institute of Technology) e revistas especializadas.

Finalmente a quarta seção, que dá suporte às questões relacionadas à tomada de decisão. São utilizadas categorias de oito teorias consolidadas pela Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia - UTAUT – formulada por Venkatesh, Morris, Davis e Davis (VENKATESH et al 2003). Esta seção também é influenciada pelos trabalhos de Mintzberg (1976, 2001), em que o autor defende que as decisões não são puramente lógicas e de Rogers (1976, 1995), ao tratar da difusão da inovação.

(21)

As Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs) configuram-se como a base estrutural da Sociedade da Informação em que vivemos. Iniciando com a Revolução Industrial na Inglaterra, ao final do século XVIII, a economia capitalista passou pelas transformações de cinco revoluções tecnológicas. Schumpeter (1942) desenvolveu uma nova abordagem para as crises econômicas do sistema capitalista baseando-se em inovações e no conceito de “destruição criadora”. Para ele, as crises apesar de instaurarem uma desordem inicial, eram resolvidas pelo próprio sistema, que se organizavam e evoluíam para um novo equilíbrio. Cada uma dessas “destruições criadoras” shumpterianas articularam uma “constelação”, utilizando o termo cunhado por Freeman e Soete (1994), de novos insumos, produtos e indústrias, novas infra-estruturas, tecnicamente e economicamente inter-relacionadas e desenharam um novo significado ao transporte de bens, pessoas e informações, assim como fontes alternativas de energia ou novos meios de acessá-las. O Quadro 1 a seguir apresenta a composição das cinco revoluções, que normalmente são identificadas pela tecnologia que prevaleceu.

Revolução Tecnológica Novas tecnologias e indústrias novas ou redefinidas

Infra-estruturas novas ou redefinidas PRIMEIRA:

Revolução Industrial Britânica A partir de 1771

Indústria têxtil mecanizada Canais e estreitos; Estrada de

ferro; Potência hidráulica SEGUNDA:

Era do vapor e das estradas de ferro - na Inglaterra e expandindo para o continente e

EUA A partir de 1829

Máquina a vapor; Construção de estradas de ferro; Energia a vapor

para muitas indústrias

Estrada de ferro; Serviço de postagem universal; Telégrafo; Grandes portos e

navegação mundial; Fornecimento de gás para

cidades

TERCEIRA: Era do aço, Eletricidade e Engenharia pesada - EUA e

Alemanha alcançando a Inglaterra A partir de1875

Aço barato; Amplo desenvolvimento da máquina a vapor para embarcar em navio; Química pesada e engenharia civil; Indústria de equipamentos elétricos; Cobre e cabos; Comida

enlatada; Papel e embalagem; Remessas mundiais em rápidos

navios a vapor

Estradas de ferro mundiais; Ótimas pontes e túneis; Telégrafo mundial; Telefone; Rede elétrica para iluminação

e uso industrial

QUARTA:

Era do óleo, do automóvel e da produção em massa - Nos EUA e espalhando-se por toda a

Europa A partir de 1908

Produção em massa de automóveis; Óleo barato;

Derivados de petróleo; Combustão interna para automóveis, caminhões, tratores,

aviões, tanques de guerra; eletricidade; ampliação da rede

elétrica para residências; Comidas refrigeradas e

congeladas

Redes de estradas e estradas de ferro, portos e aeroportos; Redes de dutos; Eletricidade universal; Telecomunicações

(22)

Revolução Tecnológica Novas tecnologias e indústrias novas ou redefinidas Infra-estruturas novas ou redefinidas QUINTO: Era da informação e telecomunicações - Nos EUA espalhando-se pela Europa e

Ásia A partir de 1971 A revolução da informação: Micro-eletrônica barata; Computadores, softwares; Telecomunicações; Instrumentos de controle; Biotecnologia e novos materiais Mundo digital;

Telecomunicações (cabo, fibra ótica, radio, satélite); Internet

– Correio eletrônico e outros serviços; Múltiplas fontes, uso flexível, redes de eletricidade; Transporte de alta velocidade Quadro 1 - Cinco revoluções tecnológicas em 230 anos: indústrias e tecnologias.

Fonte: Perez (2002, p.14, tradução nossa)

Cada um desses períodos de desenvolvimento não adicionou simplesmente um conjunto de novas indústrias no paradigma existente. Muito mais do que isso, essas novas tecnologias potencializaram a modernização em toda a estrutura produtiva e elevaram o nível geral de produtividade e qualidade, criando um novo paradigma tecno-econômico (FREEMAN e PEREZ, 1988). Segundo Kuhn (2003, p.18), paradigmas são “resultados científicos universalmente reconhecidos que durante algum tempo servem como referencial na busca de soluções por parte de uma comunidade de pesquisadores”.

Freeman e Perez (1988) associaram este conceito ao instrumental schumpteriano para construírem a taxonomia da inovação, composta dos níveis: inovações incrementais, inovações radicais, mudanças no sistema tecnológico, mudanças no paradigma tecno-econômico. Este último é entendido como uma transformação radical na engenharia e no gerenciamento que prevalecem em busca de melhor produtividade e práticas mais lucrativas, influenciando praticamente todas as indústrias. Esta expressão “paradigma tecno-econômico” é utilizada pelos autores Freeman e Perez (1988) no lugar da expressão cunhada por Dosi (1982) “paradigma tecnológico” por representar de modo mais completo as mudanças causadas, que vão muito além da trajetória na engenharia de um produto específico ou em um processo tecnológico e atingem toda a estrutura produtiva, nos diversos campos da vida social, econômica e política das pessoas e organizações.

Para os objetivos deste trabalho, vale destacar três maneiras diferentes como Kuhn (1970) trata paradigma:

I. Iguala paradigma a um padrão, a uma nova forma de ver, a um princípio que organiza e orienta a percepção, a um mapa e a algo que demarca um grande espaço da realidade;

(23)

II. Como uma conquista científica universalmente reconhecida - como se fosse um conjunto de instituições políticas ou uma decisão judicial tomada;

III. Desvincula-se da tradição de ver a ciência como um empreendimento a serviço de um objetivo previamente estabelecido.

Segundo Merlo e Carneiro (2008), Kuhn (1970) então pode ser visto como inspirador para o entendimento de paradigma por Freeman e Perez (1988), mas seus princípios foram levados mais longe, na medida em que eles relacionam a questão tecnológica muito além de um segmento econômico específico e também a colocam muito além da sua repercussão econômica, buscando relacionar seu impacto à sua adequação institucional (econômica, política e social).

A abordagem de Freeman e Perez (1988) está centrada em uma interpretação mais ampla da “destruição criadora” de Schumpeter, uma vez que seu conceito de paradigma tecno-econômico destaca a capacidade do capitalismo se reorganizar em períodos de crise. Em Villaschi (2002, p.3):

Entre cada uma das grandes crises, o referencial tecnológico, econômico e institucional estabelecido pelo paradigma tecno-econômico em vigor abre espaço para um grande número de trajetórias tecnológicas e arranjos institucionais que podem se configurar de diversas formas no tempo e no espaço. [...] Os novos processos por eles propiciados trazem novas formas para se fazer coisas antigas. Do ponto de vista institucional, uma alteração de paradigma tecno-econômico implica em mudanças substanciais na sociedade e [...] estas mudanças se dão de forma diferenciada nas diversas formações sócio-econômicas na medida em que cada um delas encerra atitudes, instituições, políticas etc. diferentes.

Sendo assim, a abertura de novas possibilidades institucionais é que promoverá ganhos econômicos com a inovação e sua difusão. Não basta, então, que as tecnologias estejam disponíveis e que as inovações baseadas nelas ou derivadas delas sejam viáveis economicamente. Para que aconteça um processo de desenvolvimento baseado em sua difusão, é necessário que haja a convergência entre disponibilidade tecnológica, viabilidade econômica e possibilidade institucional.

Exatamente por terem implicações nestas três esferas que a expressão utilizada neste trabalho para designar a opção por migrar de software livre para proprietário ou vice-versa será “mudanças no paradigma tecno-econômico”.

Segundo Perez (2003), a mudança de paradigma é um processo complexo e muitas vezes penoso. É preciso que sejam vencidas as resistências do paradigma anterior, a partir da superioridade do novo paradigma em termos de produtividade. Uma onda de mudanças vai

(24)

transformando toda a estrutura produtiva assim como o modo de vida e vai reorganizando a economia e a sociedade. Como Perez apresenta (2003), o ciclo de vida das revoluções tecnológicas tende a seguir uma curva “S” (Figura 1).

A globalização é parte da atual mudança de paradigma, de acordo com Perez (2003). Este movimento constitui-se de um aumento da interdependência entre as sociedades, em que as distâncias vão tornando-se menores, todos vão ficando mais próximos, formando uma “aldeia global”, termo cunhado por McLuhan (1967).

G rau de m atu ri da de t ecn ol óg ica e de satur açã o do m e rcad o

Fase I Fase II Fase III Fase IV

Período de gestação

Configuração do paradigma

Introdução de novos produtos, indústrias e sistemas tecnológicos, e

modernização dos existentes

Contração do potencial

Figura 1 - Gráfico em “S” com Ciclo de Vida das Revoluções Tecnológicas. Fonte: Perez (2003, p.11)

Seguindo o conceito de Castells (1999, p.43), “a nova economia é informacional e global”. Ele lembra que a informação sempre foi importante em todas as revoluções tecnológicas, mas que na sociedade da informação ela, a informação, é matéria prima. E, como a informação é uma parte integral de toda atividade humana, todos os processos de nossa existência individual e coletiva são diretamente moldados pelo novo meio tecnológico.

Tempo

Big bang

(25)

A questão que se coloca é como identificar e aproveitar as oportunidades que estão surgindo de uma economia internacional cada vez mais integrada, buscando aproveitar as “janelas de oportunidades” (FREEMAN e PEREZ, 1998) que se abrem nessas circunstâncias. Perez (2002) deixa claro, no entanto, que há uma imensa variedade de formas, uma vez que a tecnologia será modelada de acordo com influências históricas, culturais e políticas de cada país. Além disso, o antigo paradigma permanece vivo e torna-se um obstáculo para o novo.

Mas Perez (2002) vê essa variedade de formas de se aproveitar o novo paradigma de modo otimista, pois cria um grande espaço para “o poder de inovação institucional” (“institucional creativity”). Dentro dele, várias forças sociais são confrontadas, são experimentadas e são aceitas. O resultado é o framework (estrutura) que irá moldar, orientar, selecionar e regular o atual caminho que o novo potencial irá seguir.

Isso significa, ainda em Perez (2002), que cada crise, cada período de transição tecnológica é um ponto de indeterminação na história. Um salto quantitativo no potencial de produtividade dependerá do framework sócio-político específico. Por fim, Perez (2002) lembra que cada transição tem modificado tanto as condições dos vários grupos sociais dentro de cada país, como a posição relativa dos países na geração e distribuição da produção mundial.

Compreendida a questão dos paradigmas, ou padrões, será abordada a economia do aprendizado.

2.2 A ECONOMIA DO APRENDIZADO

Segundo Perez (2002) as economias - e as organizações - que não souberem aproveitar o momento para se beneficiar das mudanças, poderão ser penalizadas pelo aumento desproporcional das desigualdades econômicas causado pelas TICs. Na citação de Proenza (2003): “Apesar da tendência à desigualdade que é associada ao desenvolvimento das TICs, as novas tecnologias oferecem extraordinárias oportunidades...“

Alguns autores referem-se ao atual estágio de desenvolvimento como “economia do aprendizado” ou “learning economy” (LUNDVALL, 1996; LUNDVALL e ERNST, 1997; LUNDVALL e NIELSEN, 1998). A importância crescente do aprendizado na vida econômica pode ser atribuída ao processo de globalização dos mercados. A globalização não conduz

(26)

simplesmente à intensificação da competição, mas também ao estabelecimento de novas regras no “jogo da competição”.

A importância econômica do aprendizado está relacionada à sua conexão com a inovação. Gregersen e Johnson (2000) definem inovação como a introdução de um novo conhecimento na economia ou novas combinações de antigos conhecimentos. Definido desta maneira, inovação é um processo. Não se refere somente à primeira introdução na economia de um pedaço de conhecimento, mas também à sua subseqüente difusão. Citando novamente Johnson e Lundvall (1994), na economia do aprendizado o sucesso individual, de firmas, de regiões e das próprias economias nacionais reflete sua capacidade de aprender e de esquecer, levando-os a aprender mais. A capacidade de produzir inovações constantes depende diretamente da capacidade de aprender. Aprendizado e inovação, como argumentam Johnson e Lundvall (1994), estão intimamente relacionados, de modo que o aprendizado é um insumo importante e necessário para o processo de inovação.

A fim de compreender melhor o papel do aprendizado na economia e de distinguir diferentes tipos de conhecimento, Lundvall e Johnson (1994) propuseram a taxonomia: Know-what, Know-why, Know-how, Know-who.

Know-what: refere-se a conhecimento sobre fatos - por exemplo o número de habitantes de uma cidade, quais os ingredientes de uma determinada receita; nesta categoria, o conhecimento se aproxima do que comumente chama-se de informação, pode ser digitalizada e transmitida sobre a forma de dados;

Know-why: trata do conhecimento sobre princípios e leis de movimentos da natureza, da mente humana e da sociedade. O acesso a este tipo de conhecimento pode tanto contribuir para o avanço tecnológico mais rápido, quanto para reduzir a freqüência de erros em procedimentos envolvendo tentativa e erro;

Know-how: equivale à habilidade de fazer alguma coisa e pode estar relacionado tanto ao talento de um artesão e de um trabalhador na produção, quanto à capacidade de um gerente para julgar as possibilidades de mercado de um produto novo; não deve ser compreendido como um conhecimento apenas prático e desprovido de teoria;

Know-who: é cada vez mais importante; implica tanto na informação sobre quem sabe o que e quem sabe o que fazer, quanto a habilidade social de cooperar e se comunicar com diferentes tipos de pessoas e de especialistas.

(27)

Por outro lado, não se trata de se formar uma sociedade de especialistas, mas de pessoas que aprendem. Nas palavras de Kunh e Weidemann (2002, p.4):

Uma sociedade do aprendizado [...] pode ser considerada como uma sociedade onde o conhecimento e o aprendizado contínuo ocupam uma posição central e afetam todos os aspectos da economia, política ou vida social. Enfatizar a importância do conhecimento e do aprendizado não significa que a sociedade do aprendizado seja uma sociedade repleta de sábios especialistas. Ao contrário, o aprendizado do cidadão, seu envolvimento com atividades de estudo e aprendizado é que ocupam o centro do palco.

Nessa economia, o software é um componente vital para o aprendizado. O software, o conjunto de instruções que informa ao computador o que deve ser feito com um dado (LUNARDI, 2006), tornou-se o passo limite da economia do aprendizado. Atualmente é o software que institui as regras fundamentais para o processamento da informação e, desta forma, para a toda a economia e sociedade (BARMA e WEBER, 2003). Determina como a informação é manipulada, por onde ela passará, para quem e por qual razão.

Por outro lado, o software também pode ser um grande limitador da difusão da tecnologia, quer pelo alto preço das licenças de software proprietário, quer pela falta de familiaridade do usuário com a interface do software livre. Parece paradoxal, mas o modelo de negócio que se baseia em compra de licenças para o uso de softwares proprietários pode inibir a utilização de computadores uma vez que demanda altos investimentos em software. De modo equivalente, o engessamento em uma plataforma livre pode causar descontentamento dos usuários e incentivar o uso marginal de licenças não legalizadas de softwares proprietários, mais familiares aos usuários.

Um dos instrumentos utilizados pelas empresas que desenvolvem softwares proprietários é a propriedade intelectual. A história de patentes de software é recente (década de 80), mas sempre gerou controvérsias (CIURCINA, 2003). Para os defensores, as patentes de software estimulam a inovação por garantirem o retorno sobre o investimento. As patentes protegem as empresas de desenvolvimento da cópia de idéias, encorajando, assim, o investimento de recursos para estimular a inovação. Já os opositores argumentam que a inovação na indústria de software é cumulativa e seqüencial e que cada inovação representa um progresso comparado ao estado-da-arte e é baseado em inovações anteriores. Dessa forma, a inovação seria estimulada com a ausência de patentes de software e com a difusão de um ambiente de desenvolvimento aberto e transparente.

O que se observa é que a propriedade intelectual do software tem sido um recurso que cria barreiras à entrada de outras empresas na indústria de software, uma vez que o código

(28)

fonte fica indisponível para a consulta ou alteração. Além disso, as patentes geram a necessidade do envio de royalties para os países que sediam as empresas de desenvolvimento do software.

Nas palavras de Stallman (2002, p.47), “software shwould have no owners” (software não deve ter dono). E este formato de negócio baseado em software proprietário tem sido repensado.

Algumas iniciativas inovadoras nesta área adotam um novo modelo de desenvolvimento e distribuição de software: o software livre. O termo "software livre" refere-se à liberdade dos usuários de tecnologia da informação de executar, copiar, distribuír, estudar, modificar e aperfeiçoar o software. O código fonte é aberto, ou seja, fica disponível para todos e as licenças de uso podem vir a ser gratuitas, utilizando um conceito de propriedade intelectual contrário ao copyright, denominado copyleft (STALLMAN, 2003). O desenvolvimento quase sempre é descentralizado em comunidades de programadores.

O modelo vem sendo adotado por muitos países, principalmente na Europa e vem demonstrando ser vantajoso economicamente - por questões como a economia de custos com o não pagamento de royalties aos fabricantes e a não-dependência tecnológica para modificações - e viável tecnologicamente – algumas soluções têm se mostrado mais eficientes do que as alternativas proprietárias, principalmente com a Internet facilitando a comunicação e colaboração entre os desenvolvedores. No entanto, sua adoção efetiva ainda enfrenta pesadas barreiras institucionais (nas esferas social, econômica e política). Parte desses entraves passa pelo aspecto “path-dependent” (DAVID, 1985) ou “de trajetória dependente” do software. Um processo econômico é path-dependent quando a história do processo tem efeitos duradouros nas definições subseqüentes. Nesse sentido, o software simboliza o que David (1985) denominou “path-dependence”. A definição de qual software utilizar, não passa necessariamente por sua qualidade, mas antes disso, pelo fato de ser a aplicação padrão de mercado e/ou por ser o software que a equipe conhece. Nas palavras de David (1985, p.1):

Em uma seqüência path-dependent de mudanças econômicas as influências importantes em cima do resultado podem ser exercidas por eventos temporariamente remotos, incluindo acontecimentos dominados por elementos inesperados em detrimento de forças sistemáticas.

A essência do argumento é que as pessoas ficam presas ao padrão anterior. Uma massa crítica de pessoas adota o padrão, fazendo com que os produtos relacionados fiquem mais baratos (ou mais valiosos), atraindo, com essa atitude, mais pessoas para adotar o novo

(29)

padrão.

O exemplo clássico utilizado por David (1985) é o teclado padrão QWERTY. Desenhado originalmente para reduzir a pressão mecânica exercida em um design específico de máquina de escrever, este padrão se mantém até hoje, até mesmo nos mais atualizados computadores. Outros modelos de disposição de teclas foram desenvolvidos para teclados, na intenção de tornar a digitação mais fácil e eficiente para o usuário, sem obterem sucesso de mercado. Isso porque os gerentes de escritórios preferiam adquirir teclados com um sistema já conhecido por seus usuários, não gerando a necessidade de investimentos em treinamento e adaptação à mudança. Nossa escolha de teclado, mesmo hoje, é dirigida pela história, não por questões ergonômicas ou otimização econômica.

Do mesmo modo, a definição de qual software adquirir pode ficar sujeita ao path-dependence, mesmo não sendo aquela alocação a mais eficiente. Uma vez que um software esteja instalado, o usuário tende a comprar produtos atualizados e compatíveis com aquele software, pois se sente familiarizado com seu padrão. Devido a esse tipo de “lealdade”, um fator importante na indústria de software não é necessariamente ser o melhor, mas ser o primeiro, o mais popular, o mais conhecido.

Esse cenário de path-dependence acaba conduzindo para uma situação de monopólio no caso específico de softwares. Em 2004, por exemplo, uma única empresa – a Microsoft - fornecia sistema operacional para 93% das estações de trabalho do mundo (IDC, 2007). Essa categoria de software – sistema operacional – é o cérebro de todo computador. Desse modo, todo usuário de sistemas de informação tem contato com o sistema operacional de seu computador, direta ou indiretamente e todos os aplicativos instalados devem ser compatíveis com ele, seguindo seu padrão.

Do mesmo modo a suíte de aplicativos de escritório da Microsoft - composta de software de edição de texto, de planilha eletrônica, de apresentações, de banco de dados e de agenda e e-mail - está entre os produtos tecnológicos mais utilizados. De acordo com uma pesquisa de 2007 realizada pela CompTIA (Computing Technology Industry Association) com 471 profissionais da indústria de tecnologia nos Estados Unidos, o Word e o Excel eram, respectivamente, o processador de texto e a planilha eletrônica mais utilizados pelos entrevistados.

O usuário fica atraído pela idéia de ter um bom sistema operacional sem ter que pagar caro por sua licença, no entanto, fica acomodado ao padrão que já utiliza e pela capacitação que já possui para utilizá-lo.

(30)

Além disso, cada paradigma desenvolve uma forte rede de interações em uma estrutura particular de negócios, que não se dissolve da noite para o dia. As empresas já estabelecidas no formato de negócio do software proprietário sentem-se ameaçadas e reagem de maneira resistente à possibilidade da mudança. De acordo com Perez (2002), para aqueles que têm vasta experiência em aplicar princípios antigos, é difícil acreditar que a maneira "normal" de fazer as coisas tenha se tornado um estilo velho e ineficaz.

Outra questão quando se fala de padrão tecnológico é a credibilidade em seu formato de negócio distribuído. O mercado ainda apresenta muitas críticas acerca da qualidade do desenvolvimento dos aplicativos livres e também do suporte prestado por seus desenvolvedores. É comum a comparação entre a infra-estrutura de empresas como a Microsoft, que conta em seu quadro funcional com aproximadamente 30 mil funcionários concentrados em sua sede em Seatle (EUA) e a estrutura para o desenvolvimento, por exemplo, do sistema operacional livre GNU/Linux, muitas vezes formados em sua maioria, nas palavras de Silveira (2002), por “estudantes, especialistas, amantes da computação, diletantes, gente à procura de fama, empresas em busca de lucro, profissionais de altíssimo nível, entre tantos outros”. Por outro lado, ainda em Silveira (2002), pode-se constatar que o desenvolvimento do Linux conta com cerca de um milhão de programadores e dificilmente uma empresa privada terá condições de acompanhar o ritmo de inovações incrementais de uma rede tão variada de pessoas.

A transposição dessas barreiras e a efetiva decisão por uma tecnologia passam necessariamente pelo aprendizado. Perez (2002) aponta o treinamento especializado e a educação como um dos elementos-chave desse processo de mudança e adaptação de paradigma, ao lado de outros fatores, como a melhoria no desenvolvimento dos serviços relacionados e a adaptação cultural para a nova lógica de tecnologias envolvidas.

Soma-se a isso o fato da tecnologia não ser neutra, de acordo Kranzberg (1985) e principalmente, no caso de tecnologia da informação, as decisões tomadas tem impacto em toda a organização e em sua imagem no mercado.

Compreendida a importância econômica do aprendizado, passa-se a uma análise do papel do software no atual paradigma.

2.3 O SOFTWARE NO ATUAL PARADIGMA TECNO-ECONÔMICO

Neste momento, faz-se necessário compreender-se a indústria de software, sua importância no paradigma sócio-econômico atual e a situação do setor no Brasil. Este item contempla

(31)

uma exposição inicial a respeito do software na sociedade da informação, conduzindo à análise para a questão da dicotomia entre software livre e software proprietário.

O software está presente em praticamente todas as cadeias produtivas da sociedade da informação, assim como atividades governamentais, o que lhe concede uma importância estratégica diante dos outros segmentos. As organizações dependem cada vez mais das informações que estão armazenadas e são processadas no ambiente digital, sem as quais, não se realiza o negócio. O software é a ferramenta que controla o processamento, o acesso e a disponibilidade destas informações.

Segundo um estudo do International Data Corporation (IDC, 2007) realizado em 57 países, incluindo o Brasil, a indústria de software funciona como agente indutor para o setor de Tecnologia da Informação (TI) e para o desenvolvimento da economia. A indústria de software apresenta-se como um elemento chave para os projetos de desenvolvimento de um país. Segundo o Instituto, buscar autonomia no desenvolvimento e manutenção de softwares nacionais ou importados gera efeitos positivos em toda a base industrial de um país.

Além dessa característica de agente estratégico para o desenvolvimento, o crescimento da indústria de software por si só, promove incremento na economia. Todas as atividades relacionadas ao software possuem um alto valor agregado, quer seja no desenvolvimento de sistemas de informação ou na prestação de serviços de consultoria. Isso se deve ao fato de ser uma indústria intensiva em conhecimento, na qual, tradicionalmente, os países desenvolvidos sempre tiveram papel significativo (VELOSO et.al, 2003).

A exemplo do que vem ocorrendo em muitos mercados internacionais, também no Brasil a indústria de software é uma das que mais se desenvolve. O país é o 7º mercado de software no mundo e vem crescendo, desde 1995, a uma taxa média anual de 11%, a maior do setor de Tecnologia da Informação, três vezes maior do que a de equipamentos, ou hardware. No período entre 1991 e 2001, a participação do segmento de software como percentual do PIB mais do que triplicou, passando de 0,27% para 0,71% (ASSESPRO, 2004).

Segundo pesquisa da ABES - Associação Brasileira das Empresas de Software (IDC, 2007), o mercado brasileiro de software e serviços ocupa a 13ª posição no mercado mundial, tendo movimentado em 2006 aproximadamente 9,09 bilhões de dólares, equivalente a 0,97% do PIB naquele ano. Deste total, foram movimentados 3,26 bilhões em software, o que representou perto de 1,3% do mercado mundial. Os restantes 5,83 bilhões foram movimentados em serviços relacionados. Estudos apontam para um crescimento médio

(32)

anual superior a 12% até 2010. Em 2006, a participação de programas de computador desenvolvidos no país atingiu 32,5 % do total do mercado brasileiro de software, confirmando a importante tendência de crescimento que vinha sendo apontada desde 2004, que poderá atingir 40% até o final da década.

Este mercado é alimentado por cerca de oito mil empresas dedicadas ao desenvolvimento, produção e distribuição de software e de prestação de serviços. Daquelas que atuam no desenvolvimento e produção de software, 94% são classificadas como micro e pequenas empresas. Os consumidores de software e serviços apresentam uma concentração maior, nos setores industrial e financeiro representando quase 50% do mercado usuário, seguidos por serviços, comércio, governo, agroindústria e outros.

Um estudo da PwC (2004) informa que em 2004 eram mais de 145 mil brasileiros trabalhando direta ou indiretamente na indústria de software. Nos últimos três anos, o número de empresas que atuam no setor saltou de 2.300 para 3.500, transformado o Brasil em um importante desenvolvedor e fornecedor de soluções para automação bancária, segurança de informações, gestão empresarial, automação do agronegócio e soluções para Internet.

O crescimento do mercado brasileiro de software foi tema de uma pesquisa conduzida pelo Massachussets Institute of Technology (VELOSO et. al, 2003), um dos institutos de tecnologia de maior renome em todo mundo, com apoio do Softex (Sociedade para a Promoção da Excelência do Software Brasileiro) entitulada "Slicing the knowledge-based economy in Brazil, China and India: a tale of three software industries". A pesquisa mostrou que alguns países em desenvolvimento, como Brasil, China e Índia vêm conquistando posições importantes no mercado de software, com diferentes formas de inserção, apesar do predomínio desse setor ser historicamente dos países mais desenvolvidos. Entre os três países analisados pela pesquisa do MIT, o Brasil tem o maior mercado interno de software, da ordem de US$ 7,7 bilhões, crescendo a um índice de 2,2 (VELOSO et. al, 2003);

2.3.1 Software Livre e Software Proprietário: Compreendendo os dois Universos

Esta seção apresenta um resumo da história do software livre e do software proprietário, resgatando acontecimentos, pessoas e empresas envolvidas. Também serão apresentadas especificidades de cada uma das modalidades, tanto no aspecto tecnológico quanto no modelo de negócios.

(33)

No início, todo software era livre (GREVE, 2003). Quando um computador era vendido, a venda incluía o hardware e o software em um pacote único. Essa técnica, conhecida por bundling, englobava programas para qualquer tipo de aplicações completamente livres de encargos que os fabricantes forneciam a fim de estimular e apoiar a venda dos seus computadores.

Essa situação começou a passar por alterações a partir de 1969 (PACITTI, 2006), em resposta às ações anti-trust do governo dos EUA contra a IBM, levando a maioria dos fabricantes a adotarem o unbundling, isto é, separarem os preços do hardware e do software. A indústria de hardware passou a incluir no seu preço base apenas o software fundamental – sistema operacional – e os demais programas passaram a ter preços próprios. A partir desse ponto, a atividade de software passou a ter o “status” de uma atividade econômica dotada de dinâmica própria.

O unbundling promoveu, então, o nascimento da indústria de software. Este processo se deu por duas vertentes, uma livre e outra proprietária. A diferença básica entre elas é a propriedade do código fonte, ou linhas de programação, que é o conteúdo efetivo do software. Para o paradigma de software livre, o código fonte é “livre”, no sentido de ser disponível para quem quiser ver e alterar, respeitadas as devidas regras que serão descritas mais à frente neste documento. Por outro lado, para o paradigma de software proprietário, o código fonte é de propriedade de quem o escreveu, sendo fechado e de acesso exclusivo a este, assunto que também será detalhado posteriormente.

2.3.1.1 Software Livre

O impulso inicial para a história do software livre foi dado em 1969, quando Ken Thompson, pesquisador do Bell Labs, criou a primeira versão do sistema operacional Unix. Este sistema era utilizado pelos mainframes - grandes computadores - que existiam na década de 70 em universidades e grandes empresas. O Unix era distribuído gratuitamente para as universidades e centros de pesquisa, com seu código-fonte aberto. A partir daí foram surgindo novas versões do Unix, igualmente abertas e compartilhadas pelo meio acadêmico. Em 1971, Richard Stallman, do Massachusetts Institute of Technology (MIT), inaugurou o movimento Open Source. Ele produziu no Laboratório de Inteligência Artificial do MIT diversos programas com código-fonte aberto. Em 1979, quando a empresa AT&T anunciou seu interesse em comercializar o Unix, a Universidade de Berkerley criou a sua versão do sistema, o BSD Unix. A AT&T se juntou a empresas como IBM, DEC, HP e Sun para formar a Open Source Foundation, que daria suporte ao BSD. Stallman criou em 1983 o Projeto

(34)

GNU, acrônimo de “GNU is Not Unix”, com o objetivo de desenvolver uma versão do Unix com código-fonte aberto, acompanhada de aplicativos e ferramentas compatíveis, como um editor de textos, por exemplo, igualmente livres. Em 1985, ele publicou o Manifesto GNU e um tratado anti-copyright intitulado General Public License. Esse tratado criava a Free Software Foundation, explicando a filosofia do software livre.

Assim, ao final da década de 70 e início de 80, dois diferentes grupos estabeleciam as raízes do atual movimento em prol do software livre: na costa leste dos EUA, Richard Stallman lançava o Projeto GNU e a Free Software Foundation(FSF) (GNU, 2003); e na costa oeste dos EUA, a Computer Science Research Group (CSRG) da Universidade da Califórnia em Berkeley lançava o projeto BSD Unix (Berkeley Software Distribution Unix) (BSD, 2003).

A meta final de Stallman com o Projeto GNU era construir um sistema operacional gratuito. Para isso, ele desenvolveu sub-projetos pequenos mantidos por voluntários ou corporações. Lançou também uma ferramenta legal, a GNU General Public License (GPL), desenhada não só para certificar que os softwares produzidos a partir da tecnologia GNU permaneceriam livres, mas também para estimular o desenvolvimento de mais softwares livres. No aspecto filosófico, Stallman declarou que a disponibilidade do código fonte e a liberdade para redistribuir e modificar o software são direitos fundamentais.

O segundo projeto de software livre significativo da época, estruturado pela Computer Science Research Group (CSRG), também tinha o Unix como modelo. O BSD Unix originalmente consistia de extensões para o sistema operacional UNIX, buscando aprimorá-lo. Para isso, contava com o apoio da Agência de Pesquisas e Projetos de Avançados de Defesa dos EUA (a DARPA) e também de muitos hackers (especialistas em software) voluntários espalhados pelo mundo. Durante muito tempo, a distribuição deste software ficou restrita a uma comunidade que possuía o Unix AT&T licence. Mas, ao final dos anos 80, o Unix passou a ser distribuído livremente, sob a licença “BSD licence”, tornando-se uma das primeiras licenças de software livre lançadas.

Ao longo dos anos 80 e início dos anos 90, os softwares livres que haviam começado com alguns grupos relativamente isolados, passaram a contar com a Internet como facilitador na comunicação entre os desenvolvedores. Paulatinamente, muitos softwares desenvolvidos foram se integrando à custa dessa conectividade promovida pela Internet, mesclando o trabalho de muitos daqueles grupos, primeiramente nos EUA e depois em outros países. Como resultado dessa integração, ambientes completos puderam ser desenvolvidos usando software livre, passando a ser freqüente a substituição de aplicações Unix por programas

(35)

GNUs e BSD.

Durante os anos de 1991-1992, todo o cenário de software livre e, conseqüentemente, de desenvolvimento de software em geral, estava prestes a se alterar. Dois eventos marcantes aconteceram, apesar de estarem em grupos separados.

Um deles, na Califórnia, o grupo do BSD buscava implementar o restante do código que faltava para não mais utilizarem o código proprietário do Unix AT&T. Finalmente isso aconteceu com o Networking Tape 2, conhecido como Net/2. Ele foi complementado posteriormente por William F. Jolitz, que escreveu o código que faltava e o lançou em 1992, como o 386BSD.

O segundo evento ocorreu na Finlândia, onde Linus Torvalds, um estudante de Ciência da Computação, criou em seus projetos de pesquisa um kernel chamado Linux que, em 1992, foi agregado ao GNU, resultando no sistema GNU/Linux. Essa combinação disponibilizou todos os principais componentes de um sistema operacional compatível com o Unix. Por meio da criação da licença GPL (General Public License), foram garantidas todas as condições legais para a liberdade de uso desse software. Pode-se afirmar que em 1993, tanto o GNU/Linux, quanto o 386BSD, já se configuravam como plataformas estáveis.

Eric Raymond (2001), hacker e autor do manifesto absoluto da fonte aberta, “The Cathedral and the Bazaar” resume a filosofia fundamental da comunidade de fonte aberta no contexto de sua discussão sobre o Linux: “...dada uma base grande o suficiente de testadores e co-desenvolvedores, quase todos os problemas irão ser caracterizados rapidamente e o ajuste será óbvio para alguém.” (RAYMOND, 2001, p.19).

O termo "software livre" refere-se à liberdade dos usuários de tecnologia da informação em executar, copiar, distribuir, estudar, modificar e aperfeiçoar o software. Segundo a Fundação para o Software Livre (FSF – Free Sofwtare Foundation), mais precisamente, o termo se refere a quatro tipos de liberdade para os usuários do software:

- Liberdade nº 0: A liberdade de executar o programa, para qualquer propósito

- Liberdade nº 1: A liberdade de estudar como o programa funciona e adaptá-lo para as suas necessidades. O acesso ao código-fonte é um pré-requisito para esta liberdade. - Liberdade nº 2: A liberdade de redistribuir cópias de modo que se possa ajudar ao

Referências

Documentos relacionados

A Lista de Fauna Ameaçada de Extinção e os Entraves para a Inclusão de Espécies – o Exemplo dos Peixes Troglóbios Brasileiros.. The List of Endangered Fauna and Impediments

No capítulo seguinte será formulado o problema de programação não linear e serão apresentadas as técnicas de penalização para tratar os problemas com restrições gerais

2.1. Disposições em matéria de acompanhamento e prestação de informações Especificar a periodicidade e as condições. A presente decisão será aplicada pela Comissão e

Detectadas as baixas condições socioeconômicas e sanitárias do Município de Cuité, bem como a carência de informação por parte da população de como prevenir

• Quando o navegador não tem suporte ao Javascript, para que conteúdo não seja exibido na forma textual, o script deve vir entre as tags de comentário do HTML. <script Language

• A falta de registro do imóvel no CAR gera multa, impossibilidade de contar Áreas de Preservação Permanente (APP) na Reserva Legal (RL), restrição ao crédito agrícola em 2018

• Não garantir condições dignas e saudáveis para os trabalhadores pode gerar graves consequências para o empregador, inclusive ser enquadrado como condições análogas ao

• A falta de registro do imóvel no CAR gera multa, impossibilidade de contar Áreas de Preservação Permanente (APP) na Reserva Legal (RL), restrição ao crédito agrícola em 2018