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Solidão e padrões de vinculação aos pais na adolescência

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE PSICOLOGIA

SOLIDÃO E PADRÕES DE VINCULAÇÃO AOS PAIS

NA ADOLESCÊNCIA

Marina Alexandra Silva Maia

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA

(Secção de Psicologia Clínica e da Saúde / Núcleo de Psicologia Clínica Dinâmica)

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE PSICOLOGIA

SOLIDÃO E PADRÕES DE VINCULAÇÃO AOS PAIS

NA ADOLESCÊNCIA

Marina Alexandra Silva Maia

Dissertação orientada pela Professora Doutora Constança Biscaia

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA

(Secção de Psicologia Clínica e da Saúde / Núcleo de Psicologia Clínica Dinâmica)

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Agradecimentos

À professora Dr.ª Constança Biscaia pela disponibilidade, interesse e orientação na elaboração deste trabalho.

Aos adolescentes que participaram no estudo cuja participação era imprescindível para a realização da investigação.

À minha mãe, por ter transmitido valores e conceitos de vida que me tornaram uma Pessoa capaz de lutar pelos meus objetivos e, sobretudo, por me ter permitido e encorajado a construir a vida profissional que escolhi.

Ao meu irmão, por me transmitir sempre força e por me apoiar nos momentos de desânimo.

À minha família e amigos, que acreditaram em mim e me apoiaram durante esta longa e trabalhosa etapa da minha vida.

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Resumo

O presente estudo teve como principal objetivo contribuir para a compreensão da experiência de solidão vivenciada pelo adolescente nas suas relações com os pais, os pares e o par amoroso e o significado que atribui à experiência de estar só (aversão ou afinidade à solitude), na sua relação com o padrão de vinculação apresentado face aos pais. A investigação contou com uma amostra de 122 adolescentes (91 do sexo feminino e 31 do sexo masculino) com idades compreendidas entre os 14 e os 18 anos. Foram utilizados dois questionários, o Questionário de Avaliação da Solidão (Bastos, 2005) e o Questionário de Vinculação ao Pai e à Mãe (Gouveia & Matos, 2011). Foi ainda aplicado um questionário sociodemográfico de modo a caraterizar a amostra. Os resultados demonstraram que na adolescência existem maiores valores de solidão na relação com o par amoroso e na relação com os pais. Revelaram que existe diferenças significativas quanto à experiência de solidão na relação com os pais, sendo que esta é mais elevada em adolescentes cujos pais estão divorciados. Por fim, revelam que os padrões de vinculação relacionam-se com a experiência de solidão, na medida em que são influenciados pelos modelos internos do self e dos outros. Os resultados demonstram ainda que adolescentes com padrão de vinculação seguro comparativamente com os restantes padrões apresentam valores superiores na experiência de solidão na relação com os pares sugerindo que também são afetados pela ambivalência quanto ao desejo de autonomia e de continuação da dependência relativamente aos pais.

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Abstract

The present study focuses on understanding the experience of loneliness lived by the adolescent on his relationships with the parents, peers and the romantic partner and the meaning that the adolescent gives to the experience of being alone, (aversion and affinity to solitude) related with the pattern of attachment presented according to the parents. The investigation had the participation of 122 adolescents (91 females and 31 males) with ages between 14 and 18 years old. Two questionnaires have been used, the Questionário de Avaliação da Solidão (Bastos, 2005) and the Questionário de Vinculação ao Pai e à Mãe (Gouveia & Matos, 2011). It was also used a questionnaire regarding the socio-demographic data. The results show that in the adolescence there are more values of loneliness in the relationship with the romantic partner and in the relationship with the parents. They revealed that there are significant differences on the experience of loneliness and relationship with the parents, being the last one higher on adolescents whose parents are divorced. Finally, they reveal that the patterns of attachment are related to the experience of loneliness, as they are influenced by internal models of self and others. The results also show that adolescents with secure attachment compared to the other patterns show higher values on the experience of loneliness in the relationship with peers suggesting that they are also affected by the ambivalence about the desire for autonomy and continued dependence on parents.

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Índice

Introdução ... ... 1 1. Enquadramento teórico ... ... 3 1.1 Adolescência ... ... 3 1.2 A Solidão ... ... 4

1.2.1 Olhares sobre a solidão………... 4

1.2.2 Adolescência e Solidão ……….. ... 7 1.3 A Vinculação ... ... 8 1.3.1 Vinculação na adolescência ……….. ... 11 1.3.2 Vinculação e solidão ……… ... 14 2. Objetivos e hipóteses ... ... 16 3. Metodologia ... ... 18 3.1 Participantes ... ... 18

3.1.2 Caraterização sociodemográfica da amostra ... ... 18

3.2 Instrumentos de medida ... ... 19

3.2.1 Questionário sociodemográfico ... ... 20

3.2.2 Questionário de Avaliação da Solidão ... ... 20

3.2.3 Questionário de Vinculação ao Pai e à Mãe (QVPM)... ... 21

3.3 Procedimentos de recolha e análise dos dados ………. ... 22

4. Resultados ... ... 25

4.1 Caraterização dos resultados do Questionário de Avaliação da Solidão… ... 25

4.1.1 Estatística descritiva e análise das diferenças ……… ... 25

4.2 Caraterização dos resultados do Questionário de Vinculação ao Pai e à Mãe ... 28

4.2.1 Estatística descritiva e análise das diferenças ……… ... 28

4.2.2 Análise de clusters ……….. ... 30

4.3. Análise das diferenças na experiência da solidão em função da distribuição dospadrões de vinculação aos pais ... 33

4.4. Análise da correlação das subescalas do Questionário de Avaliação da Solidão e do Questionário de Vinculação ao Pai e à Mãe ... 35

5. Discussão………. ... 37

6. Conclusão ………..……… ... 44

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Índice de Tabelas

Tabela 1. Caracterização sociodemográfica da amostra ...19 Tabela 2. Médias, Desvio Padrão, Mínimos e Máximos das médias das subescalas do Questionário de Avaliação da Solidão ...25 Tabela 3. Resultados relativos ao teste Mann-Whitney para a variável género em função das subescalas do Questionário de Avaliação da Solidão ...26 Tabela 4. Resultados relativos ao teste Kruskal-Wallis para a variável idade em função das subescalas do Questionário de Avaliação à Solidão ...27 Tabela 5. Resultados relativos ao teste Mann-Whitney para a variável estado civil dos pais em função das subescalas do Questionário de Avaliação da Solidão ...27 Tabela 6. Médias, Desvio Padrão, Mínimos e Máximos das médias das subescalas do Questionário de Vinculação ao Pai e à Mãe ...28 Tabela 7. Médias das dimensões QVPM em função dos clusters para o Pai e para a Mãe ...31 Tabela 8. Médias das diferenças da experiência de solidão em função da distribuição dos padrões de vinculação aos pais ...34 Tabela 9. Análise da correlação das subescalas do Questionário de Avaliação da Solidão e do Questionário de Vinculação ao Pai e à Mãe ...36

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Índice de Anexos

Anexo I - Questionário Sociodemográfico Anexo II - Questionário de Avaliação da Solidão Anexo III - Questionário de Vinculação ao Pai e à Mãe

Anexo IV - Consentimento Informado dos Encarregados de Educação

Anexo V - Análise das diferenças entre as dimensões QVPM e o género dos adolescentes

Anexo VI - Análise das diferenças entre as dimensões QVPM e o estado civil dos pais dos adolescentes

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Introdução

A presente investigação centra-se na compreensão da forma como o adolescente perceciona e experiência a solidão nas suas várias dimensões relacionais, bem como o significado que atribui à experiência de estar só, na sua relação com os padrões de vinculação apresentados relativamente aos pais. A adolescência carateriza-se por um período de desenvolvimento complexo no qual os adolescentes se confrontam com múltiplas mudanças, gerando um ciclo de desorganização e reorganização do sistema psíquico.

As principais mudanças desta etapa de desenvolvimento estão relacionadas com a construção da sua identidade, o processo de separação-individuação e o crescente desejo de autonomia relativamente aos pais, bem como o desejo de explorar o mundo extra familiar. Estes processos de autonomia implicam uma progressiva separação interna dos pais e o investimento em novas relações extrafamiliares e, por isso, apesar de desejados são também geradores de ansiedade e insegurança. Assim, a solidão na adolescência é considerada um fenómeno normativo, parecendo surgir devido à ambivalência de sentimentos relativamente à experiência de estar só (desejo e medo). A qualidade da relação estabelecida com os pais, nomeadamente os modelos internos de vinculação estabelecidos na infância, definem a segurança ou insegurança do indivíduo nas suas relações de vinculação.

Deste modo, pretende-se analisar e estudar as implicações dos padrões de vinculação na perceção e experiência de solidão nas suas diversas dimensões e no significado atribuído à experiência de estar só em adolescentes. Para isso, recorreu-se a uma amostra de 122 adolescentes com idades compreendidas entre os 14 e os 18 anos e a frequentar o ensino básico e secundário, tendo sido utilizados dois instrumentos: o Questionário de Avaliação da Solidão, conceptualizado por Bastos (2005) e o Questionário de Vinculação ao Pai e à Mãe (QVPM), desenvolvido por Matos e Gouveia (2011).

Esta investigação está organizada em seis capítulos. No primeiro capítulo, é realizada uma revisão de literatura e um enquadramento teórico da temática em estudo No segundo capítulo são apresentados os objetivos gerais e específicos e respetivas hipóteses. No terceiro capítulo é exposta e desenvolvida a metodologia da investigação,

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2 tendo em conta a amostra do estudo, os instrumentos de medida e os procedimentos de recolha de dados e estatísticos. No quarto capítulo são explorados os resultados obtidos e no quinto capítulo é apresentada a sua discussão. Por fim, o capítulo 6 apresenta a conclusão da investigação realizada.

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1.Enquadramento teórico

1. Adolescência

A adolescência é o período de transição entre a infância e a idade adulta, no qual ocorrem diversas transformações biopsicossociais. Segundo Roberts (citado em Ferreira & Nelas, 2006) representa uma fase crítica, com múltiplas perdas, que implica a realização de sucessivos processos de luto.

Esta etapa de desenvolvimento inicia-se por volta dos 11/12 anos, com as primeiras mudanças biológicas e físicas da puberdade, que permitem a transformação do corpo e a aquisição de maturidade sexual (Ferreira & Nelas, 2006; Matos, 2005). Estas transformações vão implicar a perda da imagem do corpo de criança e a aceitação das alterações que ocorrem no mesmo, gerando um ciclo de desorganização e reorganização do sistema psíquico (Ferreira & Nelas, 2006). Assim, a maturação física e biológica está associada ao desenvolvimento emocional e social ligado a novas necessidades de intimidade e sociais (Brennan, 1982).

Segundo Blos (citado em Ferreira & Nelas, 2006), a adolescência é como um segundo processo de separação-individuação, através do qual se substituem os pais como figuras de vinculação privilegiadas (Matos, 2005) e se procura ganhar autonomia e independência (Larson, Csikszentmihalyi, & Graef, 1982), passando-se a estar mais tempo sozinho ou com os amigos do que com a família (Larson, 1999). Para isso, segundo Coimbra de Matos (1986, citado em Ferreira & Nelas, 2006), é necessário que haja uma transformação dos imagos parentais e das relações com os mesmos, de modo a que se torne possível o estabelecimento de novas relações amorosas extrafamiliares.

Todas estas mudanças implicam a reestruturação da imagem que o adolescente tem de si próprio, quer a nível físico quer psicológico e das relações sociais (Matos, 2005). Este processo está associado à construção da identidade, que Matos (2005) refere ser realizada de forma inconsciente, a partir de uma multiplicidade de identificações.

Se até então a identificação consistia na assimilação de caraterísticas de pessoas do meio intrafamiliar como os pais, a partir da adolescência passa a existir também a

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4 influência de modelos extrafamiliares com quem se tem ou deseja ter relações privilegiadas (Matos, 2005). Além disso, Erikson (1976) refere que a identidade do ego resulta da integração das identificações infantis precoces juntamente com aspetos psicológicos e psicossociais do presente.com as identificações feitas a outros objetos.

O desenvolvimento cognitivo tem um papel fundamental no processo de individuação, com a emergência da capacidade de realização de operações formais, simbolização e pensamento abstrato (Brennan, 1982). Estas aquisições permitem que os adolescentes sejam, gradualmente, capazes de representar e comparar múltiplas perspetivas e atributos, promovendo uma visão mais diferenciada do mundo, do self e dos outros (Moretti & Peled, 2004). Nesta fase de desenvolvimento há, assim, a emergência de um autoconceito mais organizado e diferenciado e um novo tipo de autoconsciência, fundamental para a experiência de solidão (Brennan, 1982; Heinrich & Gullone, 2006).

A adolescência termina com a adaptação e concretização de determinadas tarefas de desenvolvimento de cariz afetivo, social, sexual e intelectual (Ferreira & Nelas, 2006). Estas tarefas estão relacionadas com a aquisição de autonomia em relação às figuras de vinculação primárias, a elaboração de uma identidade própria, a aquisição de um sistema de valores e a capacidade de estabelecer e manter relações estáveis e maduras (Ferreira & Nelas, 2006).

1.2 A Solidão

1.2.1 Olhares sobre a Solidão

A solidão é um sentimento comum no ser humano e, portanto, bastante explorado em várias áreas, o que torna difícil a sua definição objetiva.

A solidão é definida por Sullivan (1953, citado em Peplau & Perlman, 1982) como resultante da não-satisfação das necessidades básicas de intimidade. É um estado aversivo, experienciado quando existe uma discrepância significativa entre as relações interpessoais desejadas pelo sujeito e a vida social percebida pelo mesmo (Perlman &

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5 Peplau, 1982; Rubenstein, Shaver & Peplau, 1979). Esta definição destaca uma componente emocional e uma componente cognitiva da solidão. A componente emocional relaciona-se com as experiências emocionais negativas que surgem associadas ao sentimento de solidão, estando a componente cognitiva associada à percepção que cada pessoa tem de si como um ser sozinho e a avaliação que faz das suas relações sociais, quer em quantidade quer em qualidade (Karnick, 2005; Peplau & Perlman, 1982).

A solidão é considerada um fenómeno psicológico subjetivo, que depende da percepção que cada sujeito tem de si próprio enquanto sozinho ou isolado e, portanto, não é sinónimo de isolamento social total (Peplau & Perlman, 1982).

De um modo geral, a solidão é descrita como uma experiência desagradável, angustiante e debilitante (Killeen, 1998; Peplau & Perlman, 1982) e está frequentemente associada a sentimentos negativos como tristeza, vergonha, culpa, frustração, desespero e perda (Rubenstein et al, 1979). A solidão como experiência persistente e dolorosa coloca muitas vezes em risco o bem-estar e a saúde física e mental dos sujeitos (Carvajal-Carrascal & Caro-Castillo, 2009; de Jong-Gierveld, 1998; Peplau & Pearlman, 1982), estando associada ao surgimento de comportamentos de risco, tais como o abuso de álcool e comportamentos suicidários, mas também a dimensões psicopatológicas como a depressão (Cacippo, Hughes, Waite, Hawkley & Thisted, 2006; Heinrich & Gullone, 2006; Killeen, 1998; Peplau & Perlman, 1982).

A solidão é um conceito multidimensional que tem levado à construção de várias tipologias para distinguir diferentes formas de solidão. Para Weiss (1973, citado em Perlman & Peplau, 1982), existem dois tipos de solidão: social e emocional. A solidão social está associada à perceção de inexistência de uma rede social adequada e ausência de sentimento de companheirismo. Em contraste, a solidão emocional é causada pela ausência ou perda de uma figura de vinculação íntima, ou seja, pela perceção de ausência de uma relação de intimidade, emocional ou vinculativa, existente nas relações românticas e familiares (Weiss citado em Perlman & Peplau, 1982).

A solidão pode ser considerada um traço de personalidade, respeitante a uma solidão crónica resultante de défices nas habilidades sociais, ou um estado psicológico

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6 temporário, surgindo apenas em situações pontuais específicas (Perlman & Peplau, 1998).

Além disso, pode ser classificada em termos de duração como: transitória, quando se trata de um estado de solidão breve e ocasional; situacional, quando algum evento de vida provoca uma alteração nos relacionamentos satisfatórios durante um período de tempo relativamente curto, por exemplo, o divórcio; ou crónica, quando se refere à incapacidade de estabelecer relações pessoais satisfatórias num período igual ou superior a dois anos (Young, 1982).

Existem referências de que a solidão é um fenómeno comum aos diversos estádios de desenvolvimento, sendo que as primeiras experiências de solidão ocorrem na infância e prolongam-se ao longo de toda a vida (Fromm-Reichmann citado em Perlman & Peplau, 1982; Sullivan citado em Perlman & Peplau, 1982; Winnicott, 1958; Zilboorg citado em Perlman & Peplau, 1982). No entanto, é na adolescência que se torna uma experiência mais recorrente e dolorosa, devido às múltiplas mudanças que ocorrem nesta fase de desenvolvimento, como o reajustamento das relações interpessoais, o aparecimento de uma nova forma de intimidade, o desenvolvimento da identidade e a luta pela autonomia (Brennan, 1982; Sullivan, 1953 citado em Brennan, 1982; Weiss, 1973 citado em Brennan, 1982).

Se por um lado a solidão é descrita como uma experiência angustiante, por outro, é encarada como positiva, sendo definida por Moustakas (1961, citado em Perlman & Peplau, 1982) como solitude. Para Winnicott (1958), a solitude carateriza-se pela capacidade do individuo estar só, sem realmente estar sozinho, desenvolvida na infância. Esta capacidade é considerada um dos sinais mais importantes de maturidade no desenvolvimento emocional de uma pessoa e depende da relação mãe-bebé estabelecida (Winnicott, 1958). Neste sentido, Winnicott (1958) refere que a capacidade de estar só na presença do outro depende da existência de um bom objecto interno, que só é passível de ser construído se a criança tiver tido acesso ao suporte de uma mãe suficientemente boa, que lhe tenha garantido sucessivas gratificações satisfatórias e, por isso, contribuído para a crença de um ambiente benigno. Assim, no decorrer do tempo, a criança introjecta a mãe como ego de suporte e diferenciada de si, sendo por isso capaz de ser e estar por si só, sem a referencia da mãe (Winnicott, 1958).

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7 Segundo vários autores, a solitude corresponde a uma experiência criativa, edificante e madura, que promove o crescimento pessoal a vários níveis, tais como intelectual, emocional e espiritual (Burger, 1995; Karnick, 2005; Moustakas citado em Perlman & Peplau, 1982). A capacidade de estar só consigo próprio é considerada útil para lidar com a própria solidão, pois é uma experiência prazerosa que nos permite organizar pensamentos e refletir sobre o passado e o futuro, potencializando uma auto-restruturação dos nossos recursos e energia (Burger, 1995; Rockack citado em Killeen, 1998). Na adolescência, dada a multiplicidade de transformações, a capacidade para “estar só” passa a ser encarada como um momento positivo e construtivo para a construção de uma identidade pessoal e à manutenção do equilíbrio psicológico (Bastos & Costa, 2005).

Em suma, na adolescência a experiência de “estar só” pode ser encarada como positiva, sendo desejada, ou pode ser assumida como negativa, associada a sentimentos de solidão e desejo de os evitar. Estas tendências relativamente à capacidade de estar só são independentes mas não opostos, podendo ocorrer em simultâneo e ser modificadas à medida que se alteram as necessidades do individuo (Bastos & Costa, 2005).

1.2.2 Adolescência e a solidão

A solidão na adolescência é considerada uma experiência normativa, devido às mudanças que ocorrem a nível da identidade e das novas expectativas e necessidades interpessoais e de intimidade (Sippola & Bukowski, 1999). A formação da identidade e o desenvolvimento da autonomia leva os adolescentes a experimentar sentimentos de separação, perda e responsabilidade, o que aumenta a vulnerabilidade à solidão (Carvajal-Carrascal & Caro-Castillo, 2009). A solidão na adolescência, está frequentemente associada às mudanças na relação pais-filho e na estrutura familiar, que podem tornar difícil a obtenção de apoio, orientação e satisfação de necessidades interpessoais básicas (Carvajal-Carrascal & Caro-Castillo, 2009). Este tipo de sentimento é denominado por solidão existencial (Moustakas citado em Perlman & Peplau, 1982), pois promove o desenvolvimento pessoal (Lasgaard & Elklit, 2009).

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8 Perante as bruscas transformações, os adolescentes podem não conseguir adquirir as capacidades sociais necessárias para lidar com o ambiente social ou desenvolver expectativas irrealistas acerca das suas relações interpessoais (Peplau & Perlman, 1982). Além disso, com o aumento da relevância das relações íntimas na adolescência (Erikson citado em Heinrich & Gullone, 2006) e com a atitude idealista dos adolescentes, a discrepância entre a necessidade de intimidade e a falha na sua obtenção é sentida de forma intensamente dolorosa (Rubenstein et al, 1979). Assim, quando se verifica um estado de solidão doloroso e persistente, que não é resolvido antes do término da adolescência, é considerado não-normativo e pode prejudicar o bem-estar e a saúde mental dos adolescentes (Lasgaard & Elklit, 2009).

A solidão aumenta e é mais prevalente durante a adolescência (Heinrich & Gullone, 2006), embora os sujeitos desta faixa etária tendam a estar rodeados de pares (Lasgaard & Elklit, 2009). Existem afirmações de que os adolescentes experienciam solidão mesmo quando estão com outras pessoas, sendo estas pares ou familiares (Lasgaard, Goossens, Bramsen, Trillingsgaard & Elklit, 2011). A solidão é considerada uma ameaça ao funcionamento psicológico e à saúde mental dos indivíduos (McWhirter, 1990), parecendo estar associada a depressão, distimia, ansiedade, ideação suicida, distúrbios alimentares e comportamentos auto-mutilantes (Koenig & Abrams, 1999;Lasgaard et al., 2011).

1.3 Vinculação

A vinculação diz respeito a um laço afetivo forte e duradouro que uma pessoa estabelece com outra (Moura & Matos, 2008). Este laço advém da necessidade humana de estabelecimento e manutenção de relações afetivas de proximidade (Bastos & Costa, 2005).

Bowlby (1969) desenvolveu a sua teoria da vinculação com base na psicanálise, etologia e biologia. Para o autor, os bebés nascem equipados com sistemas comportamentais, nomeadamente comportamentos de vinculação, como o choro, a sucção, o sorriso, a colagem e o seguimento, ativados em situação de desconforto

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9 (Bowlby, 1969). Estes comportamentos desenvolveram-se no sentido de garantir a sobrevivência da criança e conjugam-se com o sistema comportamental dos adultos, que têm como função reconhecer e responder de forma adequada às suas necessidades físicas e sociais (Ainsworth, 1985; Bowlby, 1969). Assim, a vinculação da criança com o prestador de cuidados resulta da ativação dos sistemas comportamentais que operam na manutenção da proximidade, física e emocional, e na satisfação biológica de sobrevivência e proteção (Ainsworth, 1985; Bowlby, 1969). Além disso, Ainsworth (1985) confere à vinculação uma dimensão de segurança, considerando-a um laço emocional estabelecido entre a criança e uma pessoa significativa, percecionada como uma fonte segura. Esta base segura facilita a exploração do meio envolvente, por parte da criança, que retorna a esta perante situações stressantes (Ainsworth, 1985). Assim, a vinculação resulta de um equilíbrio entre a procura de proximidade e a exploração do meio, facilitado pela capacidade responsiva e a disponibilidade do prestador de cuidados que garante à criança uma base segura.

Partindo desta base teórica, Ainsworth (1985) desenvolveu o procedimento da situação estranha para avaliar as diferenças individuais das crianças na organização dos comportamentos de vinculação e exploração (Ainsworth, 1985; Bowlby, 1969). Este procedimento consiste numa sequência de episódios de três minutos cada, com duração total de vinte minutos, aplicada a crianças de um ano (Ainsworth, 1985). Nesta sequência há uma ativação progressiva do sistema de vinculação da criança com o acumular de stress através de três elementos geradores de insegurança na criança: a entrada num ambiente desconhecido, a presença de um estranho e duas breves separações da mãe (Ainsworth, 1985). Os comportamentos de vinculação observados dizem respeito a três caraterísticas afetivas e comportamentais: (1) procura de proximidade, que nos indica o grau em que a figura de vinculação é procurada para apoio emocional e corresponde às necessidades emocionais da criança; (2) efeito de base segura, que avalia o grau em que a criança se sente confiante para explorar o meio sabendo que a figura de vinculação está disponível para dar apoio quando necessário; e (3) protesto com a separação, que indica o grau em que a separação física da figura de vinculação produz ansiedade e protesto na criança (Freeman & Bradford Brown, 2001). Através dos seus estudos, Ainsworth distingue entre crianças com padrões de vinculação seguro e inseguros, consoante a sua capacidade para gerir a

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10 distância/proximidade relativamente à figura de vinculação (Ainsworth, 1985; Bowlby, 1986; Machado, 2007).

A vinculação segura é aquela em que a criança consegue explorar e utiliza a figura de vinculação como base segura, recorrendo a esta em momentos de perigo ou ansiedade (Ainsworth, 1985; Machado, 2007). As mães destas crianças são responsivas e acessíveis, correspondendo aos seus sinais adequadamente (Ainsworth, 1985). Por outro lado, na vinculação insegura, a criança não apresenta um comportamento de exploração, mostrando-se desamparada e desorientada na ausência da mãe (Ainsworth, 1985). As mães de crianças inseguras são, geralmente, menos responsivas aos seus sinais e comunicações fazendo com que desenvolvam uma vinculação ansiosa (Ainsworth, 1985).

Dentro do padrão inseguro são, ainda, distinguidos dois tipos de vinculação: evitante e ansioso/ambivalente. Crianças com estilo de vinculação inseguro evitante, na situação estranha, mostram-sepouco perturbadas com a separação, exploram o meio e demonstram-se pouco afetuosos em relação à figura de vinculação, evitando-a (Ainsworth, 1985). De um modo geral, a criança evitante minimiza a expressão de emoções negativas na presença da sua figura de vinculação, que não se mostra disponível para ela, sendo rejeitante e negligente (Machado, 2007; van Ijzendoorn, Schuengel & Bakermans-Kranenburg, 1999). Crianças com estilo de vinculação ansioso/ambivalente, na situação estranha, reagem às separações da figura de vinculação e à presença do estranho de forma bastante perturbada e são difíceis de consolar (Ainsworth,1985). Neste sentido, as crianças ansiosas/ambivalentes têm tendência a maximizar a expressão de emoções negativas de modo a captar a atenção das suas figuras de vinculação, que se demonstram inconsistentes nas suas respostas (Machado, 2007; van Ijzendoorn et al., 1999).

Um quarto tipo de vinculação, desorganizado/desorientado, foi definido por Main e Solomon (1986, citado em van Ijzendoorn et al., 1999), para classificar alguns casos de crianças vítimas de abusos ou negligência ou cujos pais estão em luto (van Ijzendoorn et al., 1999). Crianças desorganizadas apresentam comportamentos contraditórios, desorientados e estereotipados, movimentos incompletos ou interrompidos, apreensão e indicação direta de medo dos pais (van Ijzendoorn et al., 1999). Estes comportamentos surgem devido ao facto de a figura de vinculação, que

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11 deveria ser uma fonte de conforto e segurança, ter um comportamento imprevisível e/ou abusivo (van Ijzendoorn et al., 1999). A vinculação desorganizada é considerada o maior fator de risco no desenvolvimento de psicopatologia da criança (van Ijzendoorn, 1999).

1.3.1 Vinculação na adolescência

De acordo com a teoria da vinculação, as relações de vinculação mantêm-se importantes ao longo da vida, existindo sempre uma figura de vinculação principal, que funciona como um recurso de segurança emocional em situações adversas (Freeman & Bradford Brown, 2001). Durante a infância, essa figura de vinculação principal é, normalmente, a mãe (Freeman & Bradford Brown, 2001), ainda que a partir do segundo ano de vida passem a existir mais figuras de vinculação (Machado, 2007). Segundo Bowlby (1977, citado em Bartholomew, 1997), nesse período, os indivíduos internalizam as suas experiências com os prestadores de cuidados, formando modelos de trabalho das relações intimas (Bartholomew, 1997). Os modelos internos são utilizados para prever a disponibilidade e responsividade do outro para responder às suas necessidades de apoio, e tendem a servir de protótipo para as relações sociais posteriores (Bartholomew, 1997; Bastos & Costa, 2005; Machado, 2007). Na adolescência, com o surgimento de novas necessidades de intimidade e sociais e a aquisição de novas capacidades cognitivas, surge um dilema relacionado com exploração dos novos papéis sociais e a manutenção da relação com os pais (Machado, 2007; Moretti & Peled, 2004). O sistema de vinculação torna-se mais maduro, havendo uma desativação progressiva dos comportamentos de vinculação dirigidos às figuras de vinculação que dá lugar à utilização dos modelos internos, ou seja, da representação da disponibilidade das mesmas (Bowlby, 1982 citado em Freitas, Correia, Santos, Ribeiro & Fernandes, 2008).

Na adolescência, a função da vinculação dos pais é posta em causa, embora continuem com um papel preponderante no desenvolvimento do adolescente (Machado, 2007). Assiste-se, por isso, a um aumento dos conflitos na relação pais-filho, percecionados como menos apoiantes e, consequentemente, um aumento do recurso aos

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12 pares como fontes de segurança (Nickerson & Nagle, 2004; Paikoff & Brooks-Gunn, 1991). A procura de autonomia relativamente aos pais funciona como facilitador da transferência das relações de vinculação para os pares, ainda que estas não funcionem como substitutos dos pais (Bastos & Costa, 2005). A relação do adolescente com os pais modifica-se no sentido em que deixa de representar uma posição hierárquica de complementaridade e passa a uma relação de reciprocidade, na qual o adolescente recebe e oferece segurança e apoio (Bastos & Costa, 2005).

Dadas as alterações que ocorrem a nível das relações interpessoais e de intimidade, na adolescência, vários autores conceptualizaram modelos de vinculação adulta (Bartholomew e Horowitz, 1991; Hazan & Shaver, 1987; Main, Kaplan & Cassidy, 1985, citado em Bartholomew, 1997). Neste sentido, Bartholomew e Horowitz (1991) propõem um modelo de vinculação adulta, que conceptualiza a vinculação nas relações íntimas com base na análise conceptual dos modelos internos do self e do outro de Bowlby (1969; Bartholomew e Horowitz, 1991).

O modelo de vinculação adulta conta com quatro padrões de vinculação que resultam da intersecção dos modelos de trabalho internos que os adultos têm acerca do self e dos outros (Bartholomew & Horowitz, 1991). O modelo interno do self é dicotomizado como positivo, quando o self é visto como merecedor de suporte e competente, ou negativo, quando o self é visto como não merecedor (Bartholomew, 1997; Bartholomew & Horowitz, 1991). O modelo interno dos outros é, igualmente, dicotomizado como positivo, quando os outros são vistos como disponíveis, responsivos e confiáveis, ou negativo, quando os outros são vistos como indisponíveis e rejeitantes (Bartholomew, 1997; Bartholomew & Horowitz, 1991). Os quatro padrões de vinculação são: seguro, preocupado, desinvestido e amedrontado.

Indivíduos com padrão de vinculação seguro têm um modelo positivo do self e do outro. Na infância, tiveram uma figura de vinculação disponível, responsiva e afetuosa, que os permitiu desenvolver um sentimento de autoestima e confiança nos outros. Neste sentido, são indivíduos autónomos e capazes de estabelecer e manter relações de intimidade, mantendo níveis de envolvimento adequados (Bartholomew, 1997; Bartholomew & Horowitz, 1991).

(22)

13 O padrão de vinculação preocupado advém de uma relação primária pautada por uma prestação de cuidados inconsistente acompanhada por mensagens parentais de devoção, que fomentaram a criação de um modelo negativo do self e positivo dos outros. Na infância, os indivíduos dispunham de motivação e confiança para explorar apenas com a aprovação e na presença das figuras de vinculação. Neste sentido, os indivíduos preocupados continuam excessivamente dependentes na idade adulta, procurando ativamente o outro na tentativa de satisfazer as suas necessidades. Além disso, são indivíduos que expressam um hiperenvolvimento, com elevada expressão emocional e autorrevelação nas relações de intimidade (Bartholomew, 1997; Bartholomew & Horowitz, 1991).

O padrão de vinculação desinvestido carateriza-se por um modelo positivo do self e um modelo negativo dos outros. Na infância, os esforços para obter suporte e cuidados, por parte das figuras de vinculação foram rejeitados, o que fez com que os indivíduos criassem representações internas negativas dos outros. Assim, os indivíduos desinvestidos têm uma elevada autoconfiança e autossuficiência emocional, que se associa a uma repressão da expressividade emocional e à desvalorização e evitamento de relações intimas (Bartholomew, 1997; Bartholomew & Horowitz, 1991; Freeman & Bradford Brown, 2001).

Por fim, os indivíduos amedrontados têm um modelo negativo quer do self como dos outros. Na infância, os padrões de interação dos prestadores de cuidados foram desorganizados, alternando entre respostas ansiosas e evitantes, o que levou os indivíduos a evitar relações de intimidade para se protegerem contra a possibilidade rejeição dos outros (Bartholomew & Horowitz, 1991). Indivíduos amedrontados possuem baixa autoestima e são excessivamente inseguros, comportando motivações ambivalentes de desejo e temor relativamente à intimidade (Bastos & Costa, 2005).

A transição saudável para a idade adulta é facilitada pela existência de uma vinculação segura aos pais (Ryan & Lunch, 1989, citado em Moretti & Peled, 2004). Este tipo de vinculação permite que os adolescentes se sintam compreendidos pelos pais, sentindo-se seguros mesmo na sua ausência (Moretti & Peled, 2004). Assim, têm capacidade para explorar, o que permite a sua individuação gradual e o desenvolvimento normal das novas competências cognitivas, sociais e emocionais (Allen et al., 2003; Moretti & Peled, 2004).

(23)

14 1.3.2Vinculação e Solidão

A solidão na adolescência é considerada uma experiência normativa, dada a aquisição de autonomia, individuação e novas necessidades sociais e de intimidade (Brennan, 1982; Sippola & Bukowski, 1999). A vinculação é apontada como um dos fatores que prepondera na experiência de solidão, na medida em que os modelos internos de vinculação aos pais são generalizados a outros tipos de relação, influenciando-os (Bastos & Costa, 2005; Rubestein e Shaver, 1982). Estes modelos internos de si e dos outros definem a segurança ou insegurança do indivíduo nas suas relações de vinculação (Bartholomew & Horowitz, 1991). Um modelo negativo do self pode levar o individuo a considerar-se incapaz de suscitar amor ou de ser valorizado pelos outros, dando origem a sentimentos de solidão (Bastos & Costa, 2005). Assim como um modelo negativo do outro, pode levar o individuo a encará-lo como rejeitante ou indisponível para satisfazer as suas necessidades sociais e de intimidade, gerando solidão (Bastos & Costa, 2005).

Os padrões de vinculação, por serem definidos com base nos modelos internos do self e dos outros, influenciam diretamente a experiência de solidão. Adolescentes com padrão de vinculação seguro têm um modelo positivo do self e dos outros, tendo capacidade para estabelecer relações de intimidade, sentindo menos solidão (Bastos & Costa, 2005). Além disso, para os adolescentes seguros, a capacidade de “estar só” é encarada de forma positiva, na medida em que permite a construção sólida da sua identidade pessoal e autónoma (Bastos & Costa, 2005). No entanto, indivíduos com padrão de vinculação inseguro (preocupado, desinvestido e amedrontado) encontram-se mais vulneráveis à solidão, dada a sua dificuldade em manter relações próximas (Rubestein & Shaver, 1982). Nestas situações, a solidão torna-se persistente devido à perceção de uma discrepância entre as necessidades e dos desejos sociais e de intimidade e a incapacidade de os satisfazer (Lasgaard & Elklit, 2009; Perlman & Peplau, 1982; Rubestein e Shaver, 1982; Sullivan 1953, citado em Peplau & Perlman, 1982).

A relação entre a vinculação insegura e a solidão em adolescentes e jovens adultos tem sido objeto de estudo em várias investigações, que utilizam medidas multidimensionais de solidão, onde se tem verificado a sua correlação positiva (Bastos

(24)

15 & Costa, 2005; DiTommaso, 1997; Goossens, Marcoen, van Hees, van de Woestijne, 1998). O estudo de DiTommaso (1997) avaliou a relação entre os padrões de vinculação e a solidão social, romântica e familiar em mulheres, esposas de membros das Forças Canadianas. Os resultados deste estudo indicaram que níveis elevados de vinculação segura e amedrontada estavam associados a menores níveis de solidão social, romântica e familiar (DiTommaso, 1997).

A investigação realizada por Goossens et. al. (1998) avaliou a associação entre a vinculação aos pais (segundo o modelo de DeWaffel citado em Goossens et. al., 1998) a solidão em relação aos pais e aos pares e a atitude assumida por adolescentes relativamente ao “estar só”. Os resultados indicam que adolescentes com um padrão de vinculação seguro experienciam menores níveis de solidão na relação com os pais e os pares. Relativamente à solitude, os adolescentes ansiosos/ambivalentes e evitantes são os que a encaram forma mais positiva e os dependentes são os que experienciam maior aversão. Os adolescentes dependentes ocuparam uma posição intermédia entre a vinculação segura e os dois outros grupos inseguros quanto à solidão relacionado com os pares e à afinidade à solitude (Goossens et. al., 1998).

O estudo de Bastos e Costa (2005) incidiu sobre a análise da relação entre a vinculação aos pais e ao par amoroso e os sentimentos de solidão em cada contexto relacional e a atitude face ao “estar só”, em jovens universitários. Os resultados indicam que o tipo de vinculação aos pais está associado à experiência de solidão romântica, sendo que indivíduos amedrontados ou desinvestidos tendem a isolar-se mais e a evitar relações de intimidade. Relativamente à solidão parental, são os indivíduos preocupados que apresentam menores resultados, enquanto os indivíduos desinvestidos evidenciam maiores níveis. Em termos de solitude, os indivíduos preocupados demostraram-se os mais aversivos, enquanto os desinvestidos evidenciaram maior afinidade, sendo que os desinvestidos demonstraram elevados resultados quer na aversão como na afinidade ao “estar só”.

(25)

16 2.

Objetivos e hipóteses

A presente investigação pretende contribuir para a compreensão da forma como o adolescente experiencia a solidão nas suas várias dimensões relacionais (relação com os pais, os pares e o par romântico) e o significado que atribui à experiência de estar só (aversão e afinidade à solitude). Assim, pretende-se perceber a relação entre a forma como o adolescente perceciona e experiencia a solidão e o padrão de vinculação (seguro, preocupado, desinvestido ou amedrontado) apresentado relativamente aos seus pais.

Desta forma, foi estabelecida como variável dependente a solidão (nas relações com os pais, os pares e o par amoroso e atitude face à solitude – afinidade ou aversão) e como variáveis independentes o padrão de vinculação relativamente aos pais, idade, género e estado civil dos pais.

Objetivo geral: Compreender a experiência de solidão vivenciada pelos adolescentes nas relações com os pais, os pares e o par amoroso e o significado que atribui à experiência de estar só, na sua relação com o padrão de vinculação apresentado face aos pais.

Objetivo específico 1: Caracterizar a experiência de solidão na relação com os pais, os pares e o par amoroso e a capacidade de estar só dos adolescentes.

Hipótese 1: Os resultados encontrados no que respeita à solidão na relação com os pais e com o par amoroso são superiores aos encontrados na solidão vivenciada com os pares.

Hipótese 2: Os resultados encontrados no que respeita à aversão à solitude são superiores aos encontrados afinidade à solitude.

Objetivo específico 2: Analisar a experiência de solidão nas suas várias dimensões e a capacidade de estar só dos adolescentes em função do género, da idade e do estado civil dos pais.

(26)

17 Hipótese 3: Existem diferenças significativas quanto à experiência de solidão na relação com os pares em função do género dos participantes, sendo esta mais elevada nos adolescentes do género feminino.

Hipótese 4: Existem diferenças significativas quanto à capacidade de estar só em função da idade, sendo que os resultados encontrados no que respeita à aversão à solidão são mais elevados nos adolescentes mais novos.

Hipótese 5: Existem diferenças significativas quanto à experiência de solidão na relação com os pais em função do estado civil dos pais, sendo esta mais elevada nos adolescentes cujos pais estão divorciados.

Objetivo específico 3: Analisar as diferenças na experiência da solidão nas suas várias dimensões e no significado que lhe é atribuído em função da distribuição dos padrões de vinculação aos pais

Hipótese 6: O padrão de vinculação seguro está associado a uma menor experiência de solidão nas suas diferentes dimensões.

Hipótese 7: Os padrões de vinculação seguro e desinvestido estão associados a uma maior afinidade à solitude.

Hipótese 8: O padrão de vinculação preocupado está associado a uma menor solidão na relação com os pais e com o par amoroso, bem como a uma maior aversão à solitude.

Hipótese 9: O padrão de vinculação amedrontado está associado a uma maior experiência de solidão relativamente aos pares e ao par romântico.

(27)

18

3.Metodologia

3.1. Participantes

A amostra desta investigação é constituída por adolescentes entre os 14 e os 18 anos. A recolha dos dados decorreu numa escola pública situada no distrito de Leiria, a Escola Secundária de Peniche.

3.1.2. Caracterização sociodemográfica da amostra

A presente investigação contou com a participação de 122 alunos de uma escola secundária da zona de Leiria. A média de idades da amostra é 17.15 e desvio padrão de 1.018, sendo que a idade mínima é de 14 anos e a idade máxima de 18 anos.

Do total da amostra de participantes, 91 são do género feminino e 21 são do género masculino, correspondendo a 74.6% e 25.4%, respetivamente.

No que diz respeito à escolaridade, a maioria dos participantes encontra-se no 12ºano (38.5%) e no 11ºano (33.6%), sendo que no 10ºano se encontra 25.4% da amostra e no 9ºano apenas 2.5%.

Quanto ao agregado familiar, a maioria dos adolescentes é proveniente de famílias intactas, sendo que 56.6% vive com ambos os pais. Relativamente aos que não vivem com os pais, 31.1% vive apenas com a mãe, 4.1% vive só com o pai e 8.2% encontra-se numa outra situação não especificada.

Na tabela 1 apresentam-se as frequências das variáveis sociodemográficas da amostra.

(28)

19 3.2. Instrumentos de medida

Nesta investigação, de forma a estudar a perceção da experiência de solidão sentida pelos adolescentes na relação com pais, pares e o par romântico e a forma como é vivida a experiência de “estar só” (afinidade e aversão à solitude), foi utilizado o Questionário de Avaliação da Solidão desenvolvido por Bastos (2005). Para análise dos padrões de vinculação foi utilizado o Questionário de Vinculação ao Pai e à Mãe, desenvolvido por Matos e Gouveia (1998). De forma complementar, foi realizado também um questionário para a caracterização da população onde foram recolhidos os dados sociodemográficos da amostra.

Tabela 1. Caracterização sociodemográfica da amostra

Caraterísticas N % Género (n=122) Feminino 91 74.6 Masculino 31 25.4 Idade (n=122) 14 anos 4 3.3 15 anos 3 2.5 16 anos 22 18.0 17 anos 35 28.7 18 anos 58 47.5 Agregado familiar (n=122)

Vive com ambos os pais 69 56.6

Vive só com a mãe 38 31.1

Vive só com o pai 5 4.1

Outra situação não especificada 10 8.2

Estado civil dos pais (n=122)

Divorciado 36 29.5

(29)

20 3.2.1. Questionário sociodemográfico

O questionário sociodemográfico1 permite a caracterização da amostra através da recolha de dados relativos aos adolescentes como o género, a idade e o estado civil dos pais.

A identidade dos participantes não é solicitada, sendo a recolha de dados anónima e confidencial.

3.2.2. Questionário de Avaliação da Solidão

O Questionário de Avaliação da Solidão2 (Bastos, 2005) é um instrumento de autorrelato, que resultou da conjugação da Louvain Loneliness and Aloneness scale for Children and Adolescents (LACA; Marcoen, Goossens & Caes, 1987) e a Social and Emotional Loneliness Scale for Adults (SELSA; DiTommaso & Spinner, 1997 citado em Bastos, 2005), sendo constituída por 60 itens divididos em 5 subescalas. Estas subescalas avaliam a solidão na relação romântica (S-Romântica), a solidão na relação com os pais (S-Pais), a solidão na relação com os pares (S-Pares), a afinidade à solitude (Afinidade) e a aversão à solitude (Solitude). A subescala que avalia a solidão romântica integrava a escala SELSA e as quatro restantes a LACA.

A solidão na relação romântica (S-Romântica, 12 itens) avalia a perceção de soidão na relação amorosa, derivada da inexistência da mesma ou da sua não correspondência aos critérios de proximidade afetiva e intimidade desejados pelo sujeito. A solidão na relação com os pais (S-Pais, 12 itens) resulta da perceção de défices na relação parental, na satisfação de necessidades de proximidade emocional, afetiva ou de orientação pessoal. A solidão na relação com os pares (S-Pares, 12 itens) deriva de défices (qualitativos e quantitativos) na rede de relações sociais dos sujeitos. A afinidade à solitude (Afinidade, 11 itens) permite perceber a perceção de sentimentos positivos na solitude, associados a um desejo genuíno de estar só ou a uma vontade de querer isolar-se dos outros. A aversão à solitude (Aversão, 12 itens) avalia a existência de atitudes negativas face à solitude, implica o medo de estar só ou a sensação de mal-estar na ausência da companhia de outras pessoas.

______________________________

1

Anexo I

2

(30)

21 As qualidades psicométricas do instrumento suportam a sua validade, indicando uma elevada consistência interna nas cinco subescalas (coeficiente alfa de Cronbach entre 0.81 e 0.95; Bastos, 2005). Na presente investigação,

Neste instrumento, os participantes respondem a uma escala de Likert de cinco pontos, que varia de “ Discordo totalmente” a “Concordo totalmente” (Bastos, 2005). Os resultados elevados numa subescala estarão associados a níveis de solidão mais elevados nas relações com os pais, os pares e/ou o par romântico ou quanto às atitudes relativamente à solitude, aversão ou afinidade.

3.2.3. Questionário de Vinculação ao Pai e à Mãe

O Questionário de Vinculação ao Pai e à Mãe3 (QVPM, Gouveia & Matos, 2011) é um instrumento de autorrelato que permite avaliar as perceções que os adolescentes e os jovens adultos têm da sua relação de vinculação aos pais, separadamente. Este questionário é constituído por 30 itens que se baseiam nas contribuições teóricas de Bowlby (1969) e Ainsworth (1985) relativamente à vinculação, e na proposta bidimensional de avaliação da vinculação no adulto proposta por Bartholomew e Horowitz (1991). O QVPM mede três dimensões relativas á relação de vinculação com cada uma das figuras parentais, nomeadamente a qualidade do laço emocional, a ansiedade de separação e inibição da exploração e individualidade, cada uma composta por 10 itens.

A qualidade do laço emocional avalia a importância das figuras parentais enquanto figuras de vinculação, percebidas pelo individuo como fundamentais e únicas para o seu desenvolvimento, a quem este recorre em situações de dificuldade e com quem projeta uma relação duradoura. A ansiedade de separação estima a perceção das experiências de ansiedade e medo de separação da figura parental de vinculação, reveladores de uma relação de dependência. A inibição da exploração e individualidade avalia a perceção das restrições à expressão da individualidade própria, exteriorizadas por dificuldades sentidas na manifestação de opiniões divergentes das figuras parentais, pela ausência de apoio a iniciativas de exploração ou pela interferência em questões pessoais do sujeito.

______________________________

3

(31)

22 Neste instrumento, os participantes respondem a uma escala de Likert de seis pontos, que varia de “ Discordo totalmente” a “Concordo totalmente”, consoante a forma como se sentem na relação com cada um dos seus progenitores no momento actual (Gouveia & Matos, 2011).

Os valores das várias dimensões estão, assim, organizados de forma a traduzirem os quatro padrões de vinculação de Bartholomew (seguro, desinvestido, preocupado e amedrontado; Bartholomew & Horowitz, 1991). Deste modo, o padrão de vinculação seguro é definido por valores elevados de qualidade do laço emocional e por valores reduzidos de ansiedade de separação e inibição da exploração e individualidade. O padrão desinvestido carateriza-se por valores elevados de inibição da exploração e individualidade e valores reduzidos de qualidade do laço emocional e de ansiedade de separação. O padrão preocupado apresenta-se com valores elevados de ansiedade de separação e qualidade do laço emocional e valores baixos de inibição da exploração e individualidade. Por fim, o padrão amedrontado carateriza-se por valores elevados de ansiedade de separação e inibição da exploração e individualidade.

As qualidades psicométricas do instrumento suportam a sua validade, indicando uma consistência interna (alfa de Cronbach) adequada nas três dimensões, quer para a versão mãe (entre 0.76 e 0.92; Gouveia & Matos, 2011), quer para a versão pai (entre 0.78 e 0.95; Gouveia & Matos, 2011).

3.3. Procedimentos de recolha e análise de resultados

A aplicação dos questionários decorreu no mês de Junho de 2014 em turmas do 9º, 10º, 11º e 12º ano, numa escola do distrito de Leiria, após a devida autorização pela Direcção-Geral da Educação e pelo Conselho Diretivo da respetiva escola.

Para efetivar a aplicação dos questionários, foi previamente solicitada a autorização aos encarregados de educação4 dos participantes, por escrito. No momento da aplicação, foi reforçado o caráter anonimo, confidencial e voluntário da participação dos adolescentes.

Desta forma, foram aplicados três questionários (Questionário Sociodemográfico, Questionário de Avaliação da Solidão e Questionário de Vinculação

______________________________

4

(32)

23 ao Pai e à Mãe) com duração de cerca de 30 minutos, em contexto de sala de aula mediante a presença da investigadora.

Para a análise dos dados recolhidos foi utilizado o programa estatístico IBM SPSS Statistics 22.

Em primeiro lugar, foi elaborado o cálculo dos coeficientes de Alpha de Cronbach com o objetivo de determinar a consistência interna de cada um dos instrumentos utilizados (Questionário de Avaliação da Solidão e Questionário de Vinculação ao Pai e à Mãe).

Para a análise dos dados obtidos, foi utilizada uma estatística descritiva composta por média, desvio-padrão, valores mínimos e máximos, bem como o cálculo de frequências e percentagens tendo em conta a natureza das variáveis.

Para determinar a normalidade das distribuições e homogeneidade das variâncias foram utilizados os testes de Kolmogorov-Smirnov e Shapiro-Wilk. Uma vez que os grupos não seguiam os pressupostos de normalidade e/ou homogeneidade, recorreu-se aos testes não-paramétricos para amostras independentes de Mann-Whitney (para analisar as diferenças entre duas amostras independentes) e Kruskal-Wallis (para analisar as diferenças entre mais do que duas amostras independentes).

No sentido de avaliar a existência de configurações específicas na organização das dimensões do QVPM, segundo o modelo bidimensional de Bartholomew (1990, Bartholomew & Horowitz, 1991), foi realizada uma análise de clusters constituída por dois passos, para a vinculação relativa ao pai e à mãe. Primeiramente, foi realizada uma análise de clusters hierárquica, utilizando-se o método Ward e o quadrado da distância euclidiana, para verificar quantos grupos estariam evidenciados. Em seguida, foi realizada uma análise de clusters K-means, sucedida de uma análise de variância multivariada e testes Post hoc, nomeadamente o Teste Tukey, com o intuito de avaliar as diferenças existentes entre cada configuração de cluster e legitimar as classificações efetuadas.

Foram realizados, ainda, testes não-paramétricos para amostras independentes de Kruskal-Wallis e Mann-Whitney para analisar as diferenças na experiência de solidão

(33)

24 nas suas várias dimensões e o significado que lhe é atribuído em função da distribuição dos padrões de vinculação aos pais.

Por fim, foi realizada uma análise correlacional entre os resultados obtidos nas subescalas de vinculação e as subescalas de solidão através de uma medida de associação não-paramétrica bivariada, o Coeficiente de Correlação de Spearman.

(34)

25

4.Resultados

4.1. Caracterização dos resultados do Questionário de Avaliação da Solidão

4.1.1 Estatística descritiva e análise das diferenças

Como referimos anteriormente, a escala de Avaliação da Solidão é constituída por 60 itens divididos em 5 subescalas com 12 itens cada. Estas escalas avaliam a solidão em relação aos pais (S-Pais), a solidão na relação com os pares (S-Pares), a solidão na relação romântica (S-Romântica), a aversão à solitude (Aversão) e a afinidade à solitude (Afinidade). Os resultados relativos a S_Pais, S_Pares, S_Romantica. Aversão e Afinidade, encontram-se na tabela 2, no qual podem ser verificadas as médias, desvios-padrão e os valores mínimos e máximos das subescalas.

Tabela 2. Médias, Desvio Padrão, Mínimos e Máximos das médias das subescalas do Questionário de Avaliação da Solidão

Solidão N Mínimo Máximo Média Desvio Padrão

S_Pais 122 1 5 2.23 .640

S_Pares 122 1 4 1.96 .696

S_Romântica 122 1 4 2.71 .763

Aversão 122 1 5 2.96 .534

Afinidade 122 2 5 3.08 .501

N válido (de lista) 122

Através da tabela 2, podemos contatar que a subescala da solidão na relação com o par romântico encontra-se mais elevada que as restantes com uma média de 2.71 e desvio padrão de 0.763, seguida da solidão na relação com os pais com uma média de 2.23 e desvio padrão 0.640. Desta forma, a amostra revela maiores défices na relação com o par romântico devido à inexistência da mesma ou da sua não correspondência aos critérios de proximidade afetiva e intimidade desejados pelo sujeito (DiTommaso & Spinner, 1997 citado em Bastos, 2005). Revela, também, défices na relação parental quanto à capacidade de corresponder às necessidades de proximidade emocional, afeto ou segurança Marcoen, Goosens & Caes, 1987). A escala de afinidade à solitude

(35)

26 apresenta valores superiores à subescala de aversão à solitude, sendo apresentadas médias de 3.08 e 2.96, respetivamente. Nos dados recolhidos, a subescala referente à solidão na relação com os pares é a que apresenta a média mais baixa (M= 1.96).

Os resultados obtidos nas dimensões avaliadas pelo Questionário de Avaliação da Solidão foram relacionadas com o género dos participantes através do teste não-paramétrico de Mann-Whitney, uma vez que não foram cumpridos os pressupostos da normalidade e/ou homogeneidade das variâncias (p <.05, através do teste Kolmogorov-Smirnov), no qual se utilizou uma probabilidade de erro tipo I de α = 0.05.

Na análise das diferenças das médias relativamente às subescalas do Questionário de Avaliação da Solidão constatou-se existirem diferenças estatisticamente significativas em função da variável género quanto à solidão na relação com os pares nos adolescentes do género feminino (U = 1062.0; W = 1558.0; p =.04). Assim, as raparigas apresentam resultados significativamente mais elevados do que os rapazes no que diz respeito à solidão na relação com os pares. No entanto, estes resultados devem ser interpretados com algumas reservas dadas as diferenças existentes no tamanho das amostras, conforme se pode observar na tabela 3.

Tabela 3. Resultados relativos ao teste Mann-Whitney para a variável género em função das subescalas do Questionário de Avaliação da Solidão

Subescalas Solidão

Feminino (n=91) _________________

Média das ordens

Masculino (n=31) _________________

Média das ordens

U Z S_Pais 60.99 62.98 1364.5 -.271 S_Pares 65.33 50.26 1062.0 -2.052* S_Romântica 62.56 58.39 1214.0 -.568 Aversão 64.08 53.94 1176.0 -1.381 Afinidade 61.10 62.68 1374.0 -.215 * p ≤ .05

Os resultados obtidos nas dimensões avaliadas pelo Questionário de Avaliação da Solidão foram relacionados com a idade dos participantes através do teste não-paramétrico de Kruskal-Wallis. A variável foi dividida em 3 grupos tendo em conta as tarefas desenvolvimentais da adolescência. Neste sentido, o primeiro grupo correspondente aos adolescentes com idades entre os 14 e os 16 anos, o segundo

(36)

27 correspondente aos adolescentes com 17 anos de idade e o terceiro correspondente aos adolescentes com 18 anos. Os resultados apurados revelam a existência de diferenças estatisticamente significativas quanto à experiência de solidão na relação romântica em função da variável idade dos participantes (X2=4,233; p=.037), sendo que o grupo etário dos 14 aos 16 anos é o que apresenta maiores resultados de solidão romântica.

Tabela 4. Resultados relativos ao teste Kruskal-Wallis para a variável idade em função das subescalas do Questionário de Avaliação à Solidão

Subescalas Solidão

14-16 anos (n=29) _______________

Média das ordens

17 anos (n=35) _______________

Média das ordens

18 anos (n=58) _____________ Média das ordens

X2 S_Pais 55,84 60,09 65,18 1,430 S_Pares 57,16 63,17 62,66 ,580 S_Romântica 73,02 55,84 59,16 4,233* Aversão 63,40 66,00 57,84 1,277 Afinidade 59,98 66,90 59,00 1,164 * p ≤ .05

Os resultados obtidos nas dimensões avaliadas pelo Questionário de Avaliação da Solidão foram relacionados com o estado civil dos pais dos participantes através do teste não-paramétrico de Mann-Whitney, conforme a tabela 5. A variável foi dividida em 2 grupos, o primeiro grupo correspondente aos adolescentes cujos pais estão divorciados e o segundo grupo correspondente aos adolescentes cujos pais não estão divorciados.

Tabela 5. Resultados relativos ao teste Mann-Whitney para a variável estado civil dos pais em função das subescalas do Questionário de Avaliação da Solidão

Subescalas Solidão

Pais Divorciados (n=36)

__________________ Média das ordens

Pais Não-Divorciados (n=86)

___________________ Média das ordens

U Z S_Pais 75.90 55.47 1029.5 -2.915* S_Pares 59.71 62.25 1483.5 -.363 S_Romântica 53.76 64.74 1269.5 -1.565 Aversão 57.68 63.10 1410.5 -.773 Afinidade 59.81 62.21 1487.0 -.343 * p ≤ .05

(37)

28 Conforme se pode observar na tabela 5, na análise das diferenças das médias relativamente às subescalas do Questionário de Avaliação da Solidão constatou-se existirem diferenças estatisticamente significativas em função da variável estado civil dos pais quanto à solidão na relação com os pais nos adolescentes cujos pais estão divorciados (U=1029.5; W=4770.5; p=.004). Assim, os adolescentes cujos pais estão divorciados apresentam resultados significativamente mais elevados do que os que vivem com ambos os pais no que diz respeito à solidão na relação com os pais. No entanto, estes resultados devem ser interpretados com algumas reservas dadas as diferenças existentes no tamanho das amostras.

4.2. Caracterização dos resultados do Questionário de Vinculação ao Pai e à Mãe

4.2.1 Estatística descritiva e análise das diferenças

Como referimos anteriormente, a escala de Vinculação ao Pai e à Mãe é constituída por 30 itens divididos em 3 subescalas com 10 itens cada, que determinam o padrão de vinculação aos pais, separadamente. Estas escalas avaliam a Qualidade do Laço Emocional (QLE), a Inibição e Exploração da Individualidade (IEI) e a Ansiedade de Separação (AS). Os resultados relativos a QLE, IEI e AS para o Pai e para a Mãe, encontram-se na tabela 6 onde podem ser verificadas as médias, desvios-padrão e os valores mínimos e máximos das subescalas.

Tabela 6. Médias, Desvio Padrão, Mínimos e Máximos das médias das subescalas do Questionário de Vinculação ao Pai e à Mãe

Dimensões

QVPM N Mínimo Máximo Média Desvio Padrão

Pai QLE 122 1 6 4.61 1.389 IEI 122 1 5.8 3.11 1.073 AS 122 1 5.7 3.50 1,222 Mãe QLE 122 1 6 5.26 .840 IEI 122 1 5.5 3.16 .871 AS 122 1 6 4.03 1.041 * p ≤ .05

(38)

29 Através na tabela 6, podemos observar que as subescalas referentes à relação com a Mãe apresentam valores mais elevados do que as subescalas referentes à relação com o Pai. Além disso, a subescala referente à qualidade do laço emocional é a que apresenta valores médios mais elevado quer na relação com o Pai como na relação com a Mãe. Assim como a subescala de inibição da exploração e da individualidade é a que apresenta valores mais baixos na vinculação aos pais.

De forma a proceder à caraterização dos resultados relativos ao QVPM em função das variáveis sociodemográficas, realizou-se uma análise que visava verificar se os pressupostos da normalidade e/ou homogeneidade das variâncias eram cumpridos. Para tal, foi utilizado o teste Kolmogorov-Smirnov com uma probabilidade de erro tipo I de α = 0.05, tendo sido verificado que os pressupostos definidos não eram cumpridos.

Neste sentido, foi utilizado o teste Mann-Whitney5 para proceder à análise das diferenças das médias das dimensões do QVPM em função do género dos participantes, na qual não se verificaram diferenças estatisticamente significativas.

As diferenças das médias das dimensões do QVPM em função da idade dos participantes foram analisadas através do teste não-paramétrico de Kruskal-Wallis. A variável foi dividida em 3 grupos tendo em conta as tarefas desenvolvimentais da adolescência. Neste sentido, o primeiro grupo correspondente aos adolescentes com idades entre os 14 e os 16 anos, o segundo correspondente aos adolescentes com 17 anos de idade e o terceiro correspondente aos adolescentes com 18 anos. Os resultados apurados revelam que não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas em função da variável idade dos participantes. No entanto, estes resultados devem ser interpretados com algumas reservas dadas as diferenças existentes no tamanho das amostras.

Na análise das diferenças das médias das dimensões do QVPM em função do estado civil dos pais dos participantes, na qual foi utilizado o teste Mann-Whitney6 verifica-se a existência de diferenças estatisticamente significativas. Neste sentido, as dimensões da qualidade do laço emocional (U=707.5; W=1373.5; p=.000) e da ansiedade de separação (U=998.0; W=1664.0; p=.002) em relação ao Pai apresentam diferenças significativas, sendo que valores mais elevados são apresentados pelos adolescentes cujos pais não estão divorciados. Diferenças significativas são também ______________________________

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Anexo V

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Imagem

Tabela 1. Caracterização sociodemográfica da amostra
Tabela 2. Médias, Desvio Padrão, Mínimos e Máximos das médias das subescalas do  Questionário de Avaliação da Solidão
Tabela  3.  Resultados  relativos  ao  teste  Mann-Whitney  para  a  variável  género  em  função das subescalas do Questionário de Avaliação da Solidão
Tabela  4.  Resultados  relativos  ao  teste  Kruskal-Wallis  para  a  variável  idade  em  função  das subescalas do Questionário de Avaliação à Solidão
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Referências

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