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Marítimos globais embarcados em São Paulo e Bahia: o caso dos imigrantes filipinos

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Academic year: 2021

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Marítimos globais embarcados em São Paulo e Bahia: o caso dos imigrantes filipinos.

Este estudo compõe as análises do Observatório das Migrações em São Paulo (NEPO/UNICAMP), focalizando a imigração de marítimos filipinos no contexto do mercado global do trabalho imigrante (Guarnizo et al, 2003). Utilizando a base de dados do SINCRE-PF (Sistema Nacional de Cadastro e Registro de Estrangeiros – Polícia Federal) para o município de São Sebastião, no litoral norte de São Paulo e para todo o estado da Bahia, pretende-se caracterizar a presença de imigrantes filipinos registrados como “Oficiais”, isto é, trabalhadores embarcados. Seu perfil demográfico, em ambas as localidades, aponta para semelhanças relativas à estrutura etária, sexo, estado civil, além de semelhanças quanto ao ano de registro de entrada no país e ao estatuto jurídico de seus vistos. Nesse sentido, este trabalho busca compreender o que condiciona esses imigrantes de um país com pouco ou nenhum vínculo histórico com o Brasil a trabalharem em águas jurisdicionais brasileiras, atentando, em especial, para o circuito espacial produtivo do petróleo e gás como espaço estruturante dessa força de trabalho em escala global. Além disso, algumas considerações serão feitas a respeito de sua condição “emigratória”, ou seja, processos históricos e sociais também no país de origem que operam para que esse imigrante seja parte do processo de “recrutamento internacional de trabalhadores imigrantes” (Peixoto, 2015).

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Introdução

O setor de petróleo e gás ganhou novo ânimo, no Brasil, após a descoberta de petróleo explorável na camada Pré-Sal, no sudeste brasileiro. A despeito da crise política e financeira da Petrobras em 2015 e 2016, surpreende a dinamização do capital transnacional no setor, por intermédio da concessão de exploração dos campos do Pré-Sal e mudanças no comando da estatal brasileira com a nova agenda política pós-impeachment. Articulado globalmente, o circuito espacial produtivo do petróleo e gás enseja uma migração específica e seletiva de acordo com cargos e funções que reflete relações de trabalho flexíveis e temporárias (Villen, 2017). É nesse contexto que o Brasil se transformou em rota dessa mobilidade articulada pelo capital transnacional, recebendo trabalhadores imigrantes Americanos, Noruegueses, Indianos, Filipinos, entre outros. Essa força de trabalho entra no país sob regimes de contratação estrangeiros, sem vínculo empregatício no Brasil, mas com autorizações de trabalho e vistos de residência temporários segundo Resolução Normativa nº 6 do CNIg (Conselho Nacional de Imigração), de 1º de Dezembro de 2017, já sob o regime da nova Lei de Migração, que possui pequenas modificações em relação à Resolução Normativa que versava sobre o mesmo tema anteriormente. As novas modalidades migratórias (Baeninger, 2015), no século XXI, apresentam desafios teórico-metodológicos que são marcados por dificuldades relativas à disponibilidade de dados e à complexidade do processo migratório, cuja transformação e reestruturação estão intimamente ligadas à atuação de empresas no processo político e econômico nacional e internacional, aos Estados enquanto campo de disputa política e instrumentalização jurídica de relações sociais que condicionam o processo migratório, e às possibilidades de ação dos próprios imigrantes.

Métodos

A entrada desses imigrantes no país é analisada aqui a partir do SINCRE-PF (Sistema Nacional de Cadastro e Registro de Estrangeiros – Polícia Federal), base de dados que registra imigrantes que permanecem no país por, no mínimo, 90 dias (Costa e Gurgel, 2017). No presente estudo, foram observados os imigrantes registrados entre o ano 2000 e novembro de 2015, no município de São Sebastião

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no Estado de São Paulo – marcado pela presença do Porto Público de São Sebastião e atividades de exploração do petróleo que se intensificaram após a descoberta da camada de óleo Pré-Sal no litoral do sudeste brasileiro – e em todo o Estado da Bahia.

Imigrantes filipinos se destacam dentre os estrangeiros registrados no município de São Sebastião, em São Paulo, quase todos oficiais de embarcação. Na Bahia, a mesma base de dados mostra, com especial peso para o município de Salvador, imigrantes filipinos igualmente registrados como oficiais de embarcação, sendo essa ocupação a principal dentre as ocupações de filipinos registrados.

Como indicado acima, os estrangeiros embarcados são contratados fora do Brasil e permanecem no país sem vínculo empregatício nacional, o que os torna invisíveis a outras bases de dados de fontes administrativas como a RAIS (Registro Anual de Informações Sociais). Além disso, seus regimes de trabalho prevêem 15 dias embarcados e 15 dias de folga – diferentes de acordo com a empresa contratante e, provavelmente, com a função ou cargo exercido. Esse conceito diferente de residência somado ao fato de que esses contratos duram conforme as etapas das atividades em alto mar começam e terminam, impede que essa população migrante seja contabilizada em pesquisas tradicionais como Censos Demográficos, PNAD etc., evidenciando a dificuldade metodológica enfrentada pelo estudo; essa não é uma particularidade desse contingente imigrante, mas da forma como as migrações internas e internacionais ocorrem no século XXI diante das constantes metamorfoses das formas de acumulação capital e transformações na circulação de pessoas.

É possível, por fim, que o número de imigrantes filipinos esteja subenumerado, dado que o registro no SINCRE-PF, para obtenção do RNE (Registro Nacional do Estrangeiro) ocorre a imigrantes que permaneçam no país por mais de 90 dias. No entanto, ainda não foi possível confirmar essa subenumeração, dado que o estudo ainda busca compreender como, de fato, funcionam os regimes de contratação e trabalho nesse setor produtivo.

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O perfil demográfico dos imigrantes filipinos em São Sebastião/SP e no Estado da Bahia é bastante semelhante. A absoluta maioria é do sexo masculino (99,8% em São Sebastião e 97,6% na Bahia), enquanto todos menos um filipino registrado em São Sebastião eram “Oficiais”, segundo a nomenclatura do SINCRE-PF para trabalhadores embarcados. Em toda a Bahia, essa proporção é de 92%. Além disso, virtualmente todos os vistos desses filipinos eram temporários (99,1% na Bahia e 100% em São Sebastião). Podemos visualizar a semelhança na estrutura etária a partir dos 21 anos (idade mais jovem registrada) desses filipinos, em ambas as localidades, no Gráfico 1 abaixo:

Gráfico 1. Filipinos com visto temporário registrados como “Oficiais” - São Sebastião/SP e Bahia, 2000 - 2015

Fonte: Sistema Nacional de Cadastro e Registros de Estrangeiros. Polícia Federal- Ministério da Justiça/Projeto MT Brasil – ICMPD/PUC Minas. Tabulações Observatório das Migrações em São Paulo (Fapesp-NEPO/UNICAMP).

A partir dos dados acima, e com as informações relativas ao ano de registro desses filipinos presentes no Gráfico 2 abaixo, podemos observar que se trata de um grupo imigrante bastante homogêneo mesmo em duas localidades diferentes do país. Paralelamente, a semelhança no ano de registro desses imigrantes (com especial atenção para o único período de queda sendo justamente o ano da crise global de 2018) somada à compreensão de que circuito produtivo espacial produtivo do petróleo opera em escala global, nos permite inferir que esses imigrantes, ao serem recrutados internacionalmente, ocupam uma posição social importante em seu país de origem e, possivelmente, estão presentes em outros países onde, num

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contexto de alta mobilidade transnacional do capital (Sassen, 1998), seja requisitada sua força de trabalho.

Gráfico 2. Registros de Filipinos - São Sebastião/SP e Bahia, 2002-2014

Fonte: Sistema Nacional de Cadastro e Registros de Estrangeiros. Polícia Federal- Ministério da Justiça/Projeto MT Brasil – ICMPD/PUC Minas. Tabulações Observatório das Migrações em São Paulo (Fapesp-NEPO/UNICAMP).

Segundo Zanin (2007), os trabalhadores marítimos asiáticos são historicamente utilizados pelo capital por serem mais baratos, disciplinados e flexíveis no trabalho, o que aponta na mesma direção da hipótese de que os filipinos registrados no Brasil fazem parte desse processo histórico, agora sob a batuta do capital transnacional após a reestruturação produtiva do fim do século XX.

Referências Bibliográficas

- PORTES, A.; GUARNIZO, L.; DANDOLT, P. La Globalización desde abajo:

Transnacionalismo inmigrante y desarrollo. México: FLASCO: Miguel Angel

Porrua, 2003

- CLEMENTE, C.C. Faces do pré-sal brasileiro: migração trabalho e

sociabilidade. Revista Idéias nº9 (nova série). Campinas, 2014

- SASSEN, S. The mobility of labor and capital. New York: Cambridge University Press, 1988.

- CASTILLO, R.; FREDERICO, Samuel. Espaço geográfico, produção e

movimento: uma reflexão sobre o conceito de circuito espacial produtivo.

Sociedade & Natureza, Uberlândia, 22 (3): 461-474, dez. 2010.

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Referências

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