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Conceção e desenvolvimento de uma coleção de homem: Senhor Prudêncio

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Academic year: 2021

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ÊN

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Relatório de Estágio

Mestrado em Design de Produto-Moda

2017

Orientadora

Helena Sofia Silva

Co-Orientador

João Pedro Filipe

Alexandra Sofia Morais Ferraz

CONCEÇÃO E DESENVOLVIMENTO

DE UMA COLEÇÃO DE HOMEM

(2)

Imagem 1 —

Fotografia

lookbook

(3)

2 — 3 .

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elatório de Estágio — senhor PRUDÊNCIO

RELATÓRIO DE ESTÁGIO DE MESTRADO EM DESIGN DE PRODUTO-MODA, APRESENTADO À ESCOLA SUPERIOR DE ARTES E DESIGN DE MATOSINHOS PARA A EXECUÇÃO DOS REQUISITOS À OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM DESIGN DE PRODUTO-MODA. REALIZADO SOB A ORIENTAÇÃO DA PROFESSORA HELENA SOFIA SILVA, E SOB A CO-ORIENTAÇÃO DO RESPONSÁVEL PELA EMPRESA ONDE O ESTÁGIO FOI REALIZADO, JOÃO PEDRO FILIPE.

(4)

Imagem 2 —

Fotografia

lookbook

GURI A

(5)

4 — 5 .

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elatório de Estágio — senhor PRUDÊNCIO

RESUMO

Português

O presente relatório reporta a um estágio realizado na empresa João Pedro

Filipe studio, onde foi desenvolvida uma coleção para a marca senhor PRUDÊNCIO. É feita uma abordagem teórica sobre o panorama do calçado

português e a mudança de estratégia atualmente adotada por várias marcas no mercado nacional e mundial, denominada see now, buy now e refletida igualmente na marca a ser trabalhada.

Explora-se o contexto, apresenta-se o seu fundador, conhece-se a marca fazendo uma contextualização da história, os valores e o conceito, compreende-se o público-alvo, a estratégia e o mercado. O processo criativo e o desenvolvimento de uma coleção estruturam-se metodologicamente, pelo que se apresenta a metodologia adotada. Expõe-se o processo de desenvolvimento da coleção através das suas várias fases: pesquisa e conceito, moodboard e paleta de cores, plano de coleção, brainsketching, seleção e desenvolvimento de fichas técnicas, modelação, prototipagem e produção.

Finaliza-se retratando a importância da realização deste estágio, como rampa de lançamento para o mercado de trabalho, experiência, conhecimento e crescimento.

Palavras-chave:

(6)

Imagem 3 —

Fotografia

lookbook

GURI A

(7)

6 — 7 .

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elatório de Estágio — senhor PRUDÊNCIO

ABSTRACT

English

The present report describes an internship at the João Pedro Filipe studio, where a collection for the senhor PRUDÊNCIO brand was created and developed. There’s an initial approach to the portuguese footwear industry and the changes that led to new strategies adopted in the national and the international market in terms of marketing around the new see now, buy now trend, that also took place in the senhor PRUDÊNCIO brand.

It will explore the internship context, introduce the founder and the brand’s history, as well as its main concept and core values, considering its market, strategy and target audiences. The creative process and the making of in a collection are always anticipated by a methodological framework that creates a structure for its development, and, as such, the methodology used in this studio will also be presented. The process its clarified in all its stages, research and concept, moodboard and color palette, collection plan, brainsketching, technical files creation, pattern making, prototyping and production.

It finishes with my personal approach to the opportunities this internship brought to me, serving as a starting point for the labor marketing by giving me professional experience, knowledge and personal development.

Key words:

(8)

0//

1//

GLOSSÁRIO 13

INTRODUÇÃO

Objeto de estudo

17

Objetivos

17

Âmbito do estágio

17

Motivação pessoal

18

Estrutura do relatório

19

Caracterização do local de estágio

19

// João Pedro Filipe studio // A equipa

// Novo espaço, nova imagem

ÍND

(9)

3//

2//

METODOLOGIAS DE DESIGN — DESIGN THINKING

Evolution 6² como metodologia adotada

35

senhor PRUDÊNCIO

O fundador

23

A história, os valores e o conceito

24

O público-alvo, a estratégia e o mercado

26

A mudança de estratégia

28

// O boom do calçado português - Enquadramento económico e social // See now, buy now

8 — 9 .

R

(10)

PROJETO REALIZADO NO ÂMBITO DO ESTÁGIO

Fase 1 — Emergência

39

Fase 2 — Empatia

40

// TURBINE SS13

// GURI AW 13 / GURI LIMIT.ED // BE//LIVE SS14

// 21.14 VINTEEUMCATORZE AW14 // HOMONIMA SS15

// DUAL AW15

// THE ORDINARY TASKS OF A SUPER HUMAN SS16

Fase 3 — Experimentação

50

Fase 4 — Elaboração

52

Fase 5 — Exposição

59

Fase 6 — Extensão

59

(11)

5//

6//

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclusão

61

Referências bibliográficas

64

Lista de imagens

66

ANEXOS

Fichas técnicas look 1

71

Fichas técnicas look 2

79

Fichas técnicas look 3

87

Fichas técnicas look 4

95

Fichas de correção de protótipos — Sacos

104

10 — 11 .

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Imagem 4 — Fotografia lookbook GURI A W13 .

(13)

12 — 13 .

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elatório de Estágio — senhor PRUDÊNCIO

Bordado ponto alto de chenille — Bordado com alto relevo, que possibilita

o uso de fios de vários tipos de materiais e combina diferentes tipos de ponto com o ponto alto. Um ponto que se realça pelo seu resultado excelente no que toca a bordados, conseguindo com ele aspetos perfeitamente diferenciados. Contudo, este ponto é especialmente desenvolvido em máquinas industriais concebidas para o efeito.

Brainsketching — Técnica usada para geração de ideias através de desenho

individual, usado em contexto de grupo, em que não se trocam ideias verbalmente. Elimina-se assim o direcionamento das ideias para a opinião do líder da sessão, que apenas identifica o tema principal. Por fim as ideias são reunidas, avaliadas e discutidas em conjunto.

Brainwriting — Técnica usada para geração de ideias através de escrita

individual, usado em contexto de grupo, em que não se trocam ideias oralmente. Elimina-se assim o direcionamento das ideias para a opinião do líder da sessão, que apenas identifica o tema principal. Por fim as ideias são reunidas, avaliadas e discutidas em conjunto.

Brief — Resumo, ou seja, um conjunto de dados que criam a base de um

processo de planeamento para atingir um determinado resultado, produto ou serviço. Caracteriza-se como um resumo dos dados mais relevantes sobre o cliente e os serviços por ele oferecidos. Podem existir diversas variedades de brief porém, cada empresa tem o seu e adapta o mesmo às suas

necessidades e objetivos.

Early adopters — Pessoas pioneiras na adoção de tendências, capazes de

abraçar a diferença e a inovação. Procuram sempre estar um passo à frente, rasgando o comum e destacando-se assim pelas suas escolhas. Capazes de alavancarem um produto e acelerarem a sua mudança.

EVA — Espuma sintética, bastante versátil, utilizada para o fabrico de solas

no calçado. É uma espuma que na sua produção, poderá ser colorida e quando pronta é um material lavável.

Gáspea — Parte dianteira de um sapato, que cobre o peito do pé e que em

alguns casos pode ser prolongada, originando a língua ou lingueta.

GLOSSÁRIO

(14)

Interlock — Malha dupla, mais volumosa e firme do que o jersey. Por norma

é composta por fibras naturais, no entanto, para uma melhor elasticidade e recuperação é por vezes misturada com elastano.

Inspiration Boards — Por vezes uma das fases iniciais na industria criativa.

Painéis de inspiração, físicos ou digitais, que podem conter imagens e informação de qualquer área, como arquitetura e fotografia. O conjunto de todas essas imagens levam o designer a encontrar pequenos detalhes que se revelam no produto final.

Livestreaming — Tem como objetivo uma melhoria do acesso a informações

através de uma transmissão de vídeo de dados. Esta ferramenta possibilita qualquer tipo de pessoa em qualquer lugar acompanhar um determinado evento ao vivo. Uma vez que existe a distância do público, esta ferramenta levada ao limite poderá fornecer aos visualizadores meios de interagir com o evento.

Moodboards — Painéis direcionados que possuem temas, definindo um

determinado produto ou ideia através de um conjunto de imagens. Os mesmos têm a capacidade de quando observados, transmitirem o estilo que o designer procura atingir no seu produto ou coleção.

Oversized — Tendência de moda caracterizada pelos cortes exageradamente

volumosos. Por norma, oferece ao consumidor final bastante conforto.

Outsourcing —Trabalho externo, por norma usado por grandes empresas

que queiram realizar um determinado trabalho, produto ou serviço, fora do seu ramo empresarial, recorrendo à subcontratação de outras empresas para concretizar o mesmo. Nos dias de hoje é uma atividade bastante comum, cada vez mais as empresas focam-se num só serviço e abrem portas a parcerias quando querem alcançar algo para além do seu foco.

Sampling — São muito mais do que amostras. Este termo está inserido numa

estratégia de marketing empresarial, é a atividade do envio de amostras dos produtos para um potencial cliente. Por norma usada quando existe o lançamento de um novo produto.

(15)

14 — 15 .

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elatório de Estágio — senhor PRUDÊNCIO

Shooting — Sessão de fotografias, usadas na preparação de uma campanha,

lançamento ou apenas na demonstração de um produto.

Upper — Parte superior de um sapato, todos os elementos exceto a sola. Vira — Componente aplicado em solas pré-fabricadas que dá o acabamento

entre o upper e a sola.

Wholesalers — Venda por retalho, pretende atingir o melhor preço comprando

numa escala de grande quantidade. As empresas que o praticam são posteriormente responsáveis pela distribuição do produto fazendo com que o mesmo chegue ao cliente final.

(16)

1//

Imagem 5 — Fotografia lookbook BE//LIVE SS14 .

(17)

16 — 17 .

R

elatório de Estágio — senhor PRUDÊNCIO

INTRODUÇÃO

Objeto de estudo

O objeto de estudo deste relatório é o desenvolvimento de uma coleção masculina para a marca senhor PRUDÊNCIO, desde o vestuário, calçado, sacos, cintos, luvas e chapéus. Esta coleção acompanha uma mudança de estratégia da marca e da empresa onde o estágio foi realizado.

O seu resultado final pretende demonstrar o processo projetual pelo qual a coleção passa, apoiada numa metodologia de design.

Objetivos

O objetivo deste estágio foi aprofundar e consolidar conhecimentos adquiridos durante a Licenciatura em Design de Moda e o Mestrado em Design Produto-Moda, principalmente no âmbito do calçado,

métodos aplicados à execução dos produtos e tecnologias envolvidas na industrialização, técnicas de construção do calçado, métodos de trabalho, experiência em trabalho de equipa, conhecimento do mercado e contacto com a indústria de produção. Um outro ponto chave que me fez avançar para este estágio foi o facto de viver num país onde este setor está muito bem considerado a nível mundial, num mercado que tem vindo a crescer não só a uma escala económica, mas também tecnológica. Pretendi conhecer a forma como se desenvolve o trabalho do designer nesta área, obtendo conhecimentos num setor que me despertou interesse, considerando todos estes pontos como fulcrais para a constituição de uma sólida preparação para o mercado de trabalho.

Âmbito do estágio

O estágio foi realizado no João Pedro Filipe studio, localizado na Rua das Flores em plena Baixa do Porto. O estúdio é especializado no desenvolvimento de coleções de calçado e acessórios, contando com a sua marca própria, senhor PRUDÊNCIO.

Todo o trabalho por mim realizado ao longo do estágio foi dedicado à senhor

PRUDÊNCIO, tendo eu sido responsável pelo desenvolvimento criativo de

uma coleção masculina para a marca, com a introdução do segmento de vestuário, desenvolvendo várias peças como calças, camisolas, camisas e casacos. A coleção conta também com os acessórios já característicos da marca, como chapéus, sacos, luvas e cintos, sendo que não poderiam faltar

(18)

os vários modelos de sapatos projetados tendo em conta a identidade da marca e o estudo desenvolvido a partir do conceito construído para esta coleção.

O estágio teve início a 22 de Fevereiro de 2016 e término a 15 de Julho de 2016, cumprindo um horário das 14h às 18h, sendo que em grande parte dos dias o horário foi prolongado.

Motivação pessoal

A área do calçado foi abordada e trabalhada no âmbito académico durante o Mestrado de Produto-Moda no primeiro semestre do segundo ano do curso, embora tenha sido em forma de workshop e por um curto período de tempo existiu a oportunidade e a experiência de desenvolver uma curta coleção de calçado – com apenas três modelos – que apesar de ter sido apenas a nível projetual, foi uma experiência que me despertou instantaneamente um gosto especial conjugado com muita curiosidade e bastante interesse.

Sempre estive muito ativa no que toca à criação de contactos com empresas, conhecer diferentes mercados, tecnologias existentes e manter-me a par das novidades dos materiais que estão presentes nos vários setores da moda. Valorizo muito estes contatos, pois apesar de serem portas abertas para possíveis oportunidades de mercado, estou sempre no ativo e atualizada em relação à produção de peças para as quais eu me preparei para desenvolver. Existe um ponto muito forte que é o facto de estarmos a lidar com pessoas, muitas delas com anos de experiência e uma grande bagagem de conhecimentos técnicos que podem vir a ser transmitidos.

Através deste projeto e deste primeiro contacto com a área do design de calçado, foi-me despertado um interesse instantâneo para adquirir mais conhecimentos além dos já adquiridos em ambiente académico, aliciada por conhecer mais do que na verdade é o mundo do calçado de que tanto se fala em Portugal.

Uma área cada vez mais valiosa, muito explorada a nível de formas e materiais, e com bastante potencial de crescimento, em paralelo com excelentes profissionais que trabalham estes artigos com uma qualidade e delicadeza extrema, existindo hoje uma boa produção nacional já destacada a nível mundial.

Juntando todos estes elementos à paixão que tenho pela parte técnica e o contacto com a indústria como refiro acima, nasce a vontade de fazer este estágio e o sonho de aprofundar este tema.

(19)

18 — 19 .

R

elatório de Estágio — senhor PRUDÊNCIO

Estrutura do relatório

O relatório de estágio apresenta um carácter teórico/prático.

Na fundamentação teórica, é feita uma abordagem à evolução do setor do calçado em Portugal tendo em conta o seu enquadramento económico e social, bem como à mudança de estratégia adotada por algumas marcas internacionais denominada see now, buy now. Caracteriza-se o local do estágio e a marca trabalhada, referindo a sua história, valores, conceito e a forma como a marca se apresenta perante o mercado em que se insere, referindo a sua estratégia.

O projeto realizado no estágio, ou seja, a componente prática, está dividido em seis partes: emergência; empatia; experimentação; elaboração; exposição e extensão, referindo-se às várias fases projetuais segundo a metodologia

adotada, Evolution 62 de Katja Tschimmel.

Caracterização do local de estágio

// João Pedro Filipe studio

João Pedro Filipe Unipessoal Lda. é uma empresa criada em 2013 a partir

de uma estrutura delineada em 2010, designada João Pedro Filipe studio. Situado na Rua das Flores, em plena Baixa do Porto, o estúdio dedica-se ao desenvolvimento de coleções de calçado e acessórios, desde o design até ao acompanhamento de amostras num processo contínuo de progressão na relação com vários clientes, como Felipe Oliveira Baptista, Lacoste,

Rag&Bone, Exceed, Eureka, Preen, Takoon e Volca. Em 2012, o seu fundador,

com o objetivo de dar a conhecer o trabalho do estúdio sob uma perspetiva mais ligada à indústria, lança a marca senhor PRUDÊNCIO.

(20)

— Imagem 6 e 7

Showroom e sala de reuniões.

— Imagem 8 e 9

Espaço de trabalho.

// A equipa

O estúdio conta com uma equipa de designers de moda, dois designers séniores e dois estagiários aptos para superar qualquer desafio com o máximo de criatividade, capazes de responder aos clientes com coleções únicas e originais. Além desta equipa, o estúdio conta também com um colaborador, responsável pela comunicação, marketing e vendas, somente dedicado à marca senhor PRUDÊNCIO. Todo este grupo tem bastante importância para um trabalho consistente e uma obtenção de resultados sólidos. Para um bom desenrolar de todos os projetos é necessário que exista uma equipa que trabalhe com foco no mesmo objetivo e nas mesmas metas. É com este brio que a senhor PRUDÊNCIO tem o usufruto de atingir bons resultados nos seus projetos e obter um constante crescimento.

// Novo espaço, nova imagem

João Pedro Filipe studio foi criado com uma identidade e filosofia visual

distinta que não só permitiu o seu crescimento e reconhecimento, como introduziu novas necessidades e desafios. A localização geográfica e o progressivo interesse demonstrado por novos mercados e média na indústria do calçado, foram uma importante alavanca na construção deste novo projeto para um estúdio dinâmico, ligado à cultura do design que o Porto tem vindo a viver. O espaço, localizado na Rua Cimo de Vila no Porto, passará

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20 — 21 .

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elatório de Estágio — senhor PRUDÊNCIO

— Imagem 10

Fachada do novo espaço.

— Imagem 11

Render da fachada do novo espaço.

Anca design studio. — Imagem 12

Interior do novo espaço.

— Imagem 13

Diagrama do novo espaço. Arquiteta Gabriela Pinto.

a ser denominado PRUDÊNCIO studio, sendo um espaço que conta com loja física é importante referir o reconhecimento que esta cidade tem tido a nível Europeu, sendo considerado o melhor destino Europeu pela terceira vez no ano de 2017 pelo website European Best Destinations (European Best Destinations, 2017). Um aumento de turismo suporta o crescimento de todo o mercado local e o reconhecimento internacional da cidade revelou--se determinante para a abertura de uma loja fisica. Funcionará como um transmissor entre o trabalho desenvolvido pelo estúdio e o consumidor final. No espaço serão comercializados os produtos resultantes do trabalho do estúdio e outras parcerias com marcas e entidades do setor, de forma a potenciar a força criativa deste conceito. A necessidade deste novo projeto nasce de uma nova forma de estar com o público-alvo, tendo um espaço de venda que expõe aos clientes não só a comercialização dos produtos como também o desenvolvimento de projetos e o seu ambiente de trabalho, vindo assim a alterar a dinâmica anterior. Esta mudança resulta da necessidade de a marca se afirmar no mercado através da sua imagem, sendo extremamente importante para a formação da sua reputação e para o fortalecimento da mesma num mercado cada vez mais competitivo.

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Imagem 14 —

João P

edro Prudêncio Filipe

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22 — 23 .

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elatório de Estágio — senhor PRUDÊNCIO

senhor

PRUDÊNCIO

O Fundador

João Pedro Filipe é o nome por detrás da marca senhor PRUDÊNCIO. Natural da Nazaré, vive no Porto desde 1998, que não sendo a sua casa já se tornou o seu lar. O designer de moda cresceu entre os moldes e o couro, já que o seu avô, José Prudêncio, que homenageou com a criação da sua marca, era sapateiro e grande parte da sua família trabalhava neste ramo e no da marroquinaria.

Graduou-se em 2002 pelo CITEX em Design de Moda, venceu o concurso Novos Talentos Óptimus 2000 com o projeto Scratch, prémio que lhe deu a possibilidade de nesse ano apresentar Safe Values no Portugal Fashion/ Porto Fashion Week. Foi nomeado, na categoria de Criador Revelação para os Prémios de Moda RTP (Rádio Televisão Portuguesa) 2000.

Em 2001 é-lhe atribuído o primeiro prémio do concurso de Jovens Criadores Portugal de Moda da FIL (Feira Internacional de Lisboa) com o projeto Flesh Skirt. Com o projeto Bondages of Blood, Yarn Pierced Skin recebeu o segundo prémio do júri do Porto de Moda 2001 e representou Portugal no concurso MITTELMODA AWARDS em Itália.

Em 2001, a convite da Dra. Helena de Matos, começou a sua colaboração como assistente na empresa de consultadoria de moda Dematos Designer, onde desenvolveu, até 2006, as coleções de vestuário e acessórios da marca

Globe Line, têxteis para as empresas Arco Têxteis, LMA e TEBE, bem como

Fóruns de Tendências para feiras de moda nacionais e internacionais e as conferências Questões de Moda.

Desenvolveu em 2006 o guarda roupa para a personagem Rita do filme Veneno Cura de Raquel Freire.

Em 2008 Pós-graduou-se no Programa Internacional de Design de Moda pelo Institut Français de la Mode (IFM) em Paris, sendo que no decorrer da formação foi selecionado pela Louis Vuitton para a execução do projeto de calçado e acessórios Sissi collection. Estagiou na Felipe Oliveira Baptista e foi redator da revista Rua de Baixo na área de Moda. Colabora desde 2009 como Professor no CITEX, atual MODATEX no Porto, no CENATEX em Guimarães, no CIVEC em Lisboa e no CITEVE em Famalicão nas áreas de desenvolvimento e planeamento de coleções, e em desenho técnico e infografia de vestuário. Em 2010 abriu o João Pedro Filipe studio, gabinete de Design de Moda e Calçado e acompanhamento de produções, trabalhando para clientes como o Grupo Zarco, Felipe Oliveira Baptista, Grupo Carité, Exceed, Ricardo

Dourado, LA PAZ, Maria Gambina, Eureka, Thakoon Addition, Preen por Thornton Bregazzi, entre outros.

Em setembro de 2012, João Pedro Filipe ganhou o prêmio Young Creative Fashion Entrepreneur Award do British Council e representou Portugal na London Fashion Week, onde a marca senhor PRUDÊNCIO foi lançada oficialmente.

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A história, os valores e o conceito

Em 2008, durante a pós-graduação em Design de Moda pelo Institut Français de la Mode (IFM) em Paris, surge a João Pedro Filipe a ideia de criar uma marca. Contudo, o projeto idealizado era diferente do que se verificou até 2016, consistindo na criação de uma marca contava como segmentos de mercado o vestuário, o calçado e acessórios direcionados ao público masculino. O interesse por este público advém da segurança de João Pedro Filipe como criador, defendendo que uma vez integrado neste público o processo de criação e desenvolvimento tornam-se mais fáceis de realizar. Após reflexão, João Pedro Filipe percebeu que iria ter dificuldades em controlar sozinho uma marca com estas dimensões. Principalmente com a inclusão do vestuário, a missão tornar-se-ia impossível. Como tal, o foco virou-se só para alguns tipos de produtos que o criador considerava que melhor satisfariam o mercado, direcionando inicialmente assim a marca para os sacos – classificando a oferta de mercado como reduzida e tradicional – e o calçado, que para o criador estava envolvido numa lacuna em termos de design e qualidade, sendo que as marcas com qualidade orientavam-se para modelos básicos e praticavam um preço demasiado elevado. Posto isto, surge então a grande oportunidade para João Pedro Filipe criar uma marca que prima pelo design, a um preço inferior ao praticado por marcas concorrentes.

A marca senhor PRUDÊNCIO, foi então fundada em 2012 por João Pedro Prudêncio Filipe, tendo como suporte do seu lançamento a plataforma Fashion Hub – Guimarães 2012, concurso que lhe permitiu representar Potugal na Young Creative Fashion Entrepreneur Award 2012 do British Council, ganhando um prémio que lhe trouxe a oportunidade de apresentar uma coleção na London Fashion Week em Londres. Para o designer seria

— Imagem 15

Logotipo da marca senhor

(25)

24 — 25 .

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elatório de Estágio — senhor PRUDÊNCIO

difícil alcançar tanta visibilidade se a marca tivesse sido lançada de uma outra forma.

A marca define-se como a personificação de um sapateiro tradicional português dos anos 50, enquadrado na era do branding e da comunicação. Associada ao saber fazer de outros tempos e a um país onde a produção de calçado se mantém como característica do que se produz com qualidade, a marca assume um produto 100% português. O nome da marca pretende ser um nome de família sem que, no entanto, seja conotado como um nome de marca de autor, apesar de João Pedro Filipe já não conseguir separar o seu nome da marca, devendo-se isto ao facto de existir uma linguagem específica que demonstra ser sempre a mesma pessoa na sua coordenação.

Forma, proporção e construção são os três elementos que sempre inspiraram a marca, o universo imaginado traduz-se em linhas distintas e em produtos cujo detalhe é trabalhado ao extremo para um resultado elegante, consistente e luxuoso. Os cortes conduzidos, a pesquisa de materiais, novas formas de os coordenar e a reinterpretação dos básicos – peças transversais à cultura local – demarcam o produto.

A base de desenvolvimento dos produtos está na pesquisa de calçado masculino para as várias necessidades quotidianas: o casual, o formal e o desportivo são aspetos a ter em conta numa linguagem coerente e homogénea. O investimento no conforto e a pesquisa dos clássicos são a linha de desenvolvimento de criação e design que se pretende inovadora com contrastes revelados ao nível dos materiais aplicados, promovendo um visual próprio. O mote deste nome é manter assim identidade, quer a nível da criação, quer a nível da produção e da comunicação do produto e da marca. Para um público sensível às tendências, no âmbito local, nacional e internacional, a senhor PRUDÊNCIO procura um público-alvo jovem e astuto, que não faz alterações constantes no seu guarda-roupa e que pretende ter produtos intemporais que resistem às estações do ano, desejáveis para uso hoje em dia.

A marca apresenta calçado e acessórios com um design contemporâneo e de qualidade premium, apostando no conforto e tendo como preocupação a fidelização do cliente à marca.

Ao estabelecer-se em Portugal, a senhor PRUDÊNCIO garante o acesso a materiais de alta qualidade e cria produtos vanguardistas com foco nas técnicas artesanais tradicionais e no design contemporâneo.

(26)

O público-alvo, a estratégia e o mercado

A marca senhor PRUDÊNCIO destina-se a um homem maduro, independente, urbano, consciente, com uma forte preocupação com a imagem e com a forma como se apresenta, pretendendo ainda que o seu guarda roupa perdure no tempo, atingindo assim uma população internacional de early adopters, interessados nas novas energias criativas, estando constantemente ligados às novas tendências de mercado.

Este público-alvo compreende uma faixa etária essencialmente entre os 20 e os 50 anos, apresentando poder de compra, sensibilidade a detalhes, aos bons acabamentos e à investigação de um produto couture – inovação, qualidade perfeita e diferenciação. A originalidade deste público exprime-se através da mistura de marcas inovadoras com marcas institucionalizadas. Em suma, o público-alvo é alargado e pode abranger diferentes faixas demográficas, unidas por um gosto diferente da norma, mais exclusivo, mas que, pelas especificidades atrás descritas, ou é maioritariamente jovem, ou monetariamente flexível.

A senhor PRUDÊNCIO tem a sua estratégia definida e não deixa que passe ao lado uma boa comunicação do produto e um bom trabalho à volta do mesmo, para que as vendas sejam positivas e as metas definidas sejam alcançadas. Tratando-se de uma marca bastante considerada no mercado, tendo a imagem de marca premium de calçado e acessórios, apostando em materiais de excelência, num design contemporâneo e numa boa produção com recurso a métodos tradicionais, desenvolve um produto nacional de extrema qualidade sendo a mesma transmitida ao seu consumidor final. Com produtos intemporais e sem qualquer vínculo a uma estação, a marca vem deste modo romper com o mercado regular e identificar-se como uma marca inovadora na sua estratégia de marketing e na sua forma de estar no mercado atual.

A senhor PRUDÊNCIO não está unicamente sobre o território português. As suas peças/coleções serão expostas e comercializadas no espaço

PRUDÊNCIO studio mas também conta com representação em algumas lojas

de retalho multimarca no estrangeiro – Espanha, França, China e Bulgária. Além disso, beneficia de um website – senhorprudencio.com – com venda on-line que proporciona uma expansão de mercado, uma vez que são enviados produtos para quase todo o mundo, bem como a presença em feiras internacionais do setor, eleborando todo um trabalho para elevar a marca ao mais alto nível. Um trabalho árduo e com objetivos definidos é algo que não passa ao lado da senhor PRUDÊNCIO, a mesma tem as metas bem traçadas com foco no alcance das mesmas. A importância da visão dentro de uma empresa como esta é algo fulcral, sendo através dela e de todo o panorama em que a mesma se define que a marca consegue estar no mercado e competir com a concorrência.

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26 — 27 .

R

elatório de Estágio — senhor PRUDÊNCIO

É através desta missão que, de certa forma inconscientemente, os produtos atingem os bons resultado que estão a atingir e a marca se define no mercado. É aqui que se demonstra o porquê de desenvolver cada produto da forma como o faz.

Este espírito implantado em toda a equipa e na marca é exportado para o mundo através dos seus produtos.

A senhor PRUDÊNCIO foca-se no seu consumidor em cada segundo no desenvolvimento dos seus produtos, transcreve todos os seus objetivos para o desenho do produto. Com todo este esforço e trabalho por parte de toda a equipa da marca, é levado até ao cliente através do produto todo o seu foco principal, oferecendo peças intemporais de calçado e acessórios.

Nunca esquecendo o conforto, o lado útil e funcional de todos os seus produtos, peças resistentes e práticas que superam assim as expetativas de todos os consumidores que se identificam com a marca.

(28)

//O boom do calçado português — Enquadramento económico e social

Nos últimos anos, a indústria do calçado tem sido a que mais tem crescido em Portugal no que toca a exportações. De acordo com os dados da APICCAPS (Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado Componentes e Artigos em Pele e seus Sucedâneos), desde 2009 que a indústria nacional de calçado cresceu em mais de 50%, tendo registado em 2015 o total de 79 milhões de pares vendidos no estrangeiro – o equivalente a 1.865 milhões de euros (APICCAPS, 2015).

Primeiro a integração de Portugal no mercado livre europeu, depois a globalização e a internacionalização do mercado à escala global, colocaram o país no segundo lugar do ranking mundial de vendas depois de Itália, num setor que era há cerca de três décadas dominado por microempresas de estrutura familiar, em zonas do interior norte onde o negócio do calçado era de subsistência e os seus gestores não detinham qualificação superior (APICCAPS, 2015).

A adesão à Comunidade Económica Europeia e a criação de fundos como o Programa Específico de Desenvolvimento da Indústria Portuguesa serviram para a industrialização do processo de fabrico, que se tornou mais moderno e eficiente permitindo baixar o custo de produção com recurso a máquinas também elas desenvolvidas em Portugal. A aposta no design e na qualidade contribuíram para o progresso do setor, mas o modelo de negócio continua a ser dominado por microempresas. Segundo o Banco de Portugal, metade das empresas do setor continuam como microempresas e, apesar do acesso à educação se tornar cada vez mais universal e qualificado, a verdade é que o número de trabalhadores qualificados numa indústria com tanto peso na economia nacional ainda se encontra nos 9%.

As Pequenas e Médias Empresas dominavam, em 2014, em volume de negócios e número de pessoas ao serviço (Banco de Portugal, 2016), e atualmente a produção do calçado mantém-se centrada em zonas

semirrurais do nosso país. A produção do calçado distribui-se maioritariamente por dois pólos, centrados nos concelhos de Felgueiras e Guimarães, e, por outro lado, Santa Maria da Feira, Oliveira de Azeméis e São João da Madeira, sendo que no distrito de Leiria, na Benedita se encontra um outro pólo menor. Isto faz com que, a nível nacional, cerca de 76% do volume de negócios seja gerado nos distritos do Porto (46%) e Aveiro (30%) (APICCAPS, 2015).

Se pensarmos na produção em massa e no baixo custo que representa, como pratica por exemplo a China, que detém a posição de maior exportador mundial, poderíamos questionar todo o potencial da indústria nacional com este tecido económico micro, na sua maioria não qualificado, e com peças de valor elevado no mercado mundial.

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28 — 29 .

R

elatório de Estágio — senhor PRUDÊNCIO

A verdade é que mesmo assim, 98% da produção nacional é para exportação, e ano após ano os preços do made in Portugal têm aumentado (APICCAPS, 2015).

Isto explica-se porque a aposta da indústria nacional está nos sapatos de maior qualidade, com especialização no calçado em couro, e na sua promoção internacional com públicos que se afastam dos segmentos do mercado onde a concorrência se faz predominantemente pelo preço (APICCAPS, 2015).

O mercado europeu, que absorve 91% do total das exportações portuguesas, é caracterizado pela existência de núcleos de consumidores com elevado poder de compra, com uma forte componente de moda e design, e consequentemente de preço elevado, o que torna o produto nacional competitivo (APICCAPS, 2015).

Mesmo com a recessão da zona euro e a crise interna que depois do pico em 2008 ainda faz sentir efeitos, a indústria progrediu no sentido do aumento da produção e da criação de emprego, sobretudo desde 2009. Isto reflete os resultados positivos de uma política de investimento não apenas no design e na qualidade da produção e das matérias primas, mas também no marketing internacional e na aposta na projeção de marcas próprias que começam a ganhar terreno ao regime de outsourcing no qual funcionam muitas destas microempresas (APICCAPS, 2015).

Nomes como Luís Onofre, Nuno Gama ou mesmo a senhor Prudêncio projetam para o palco mundial a lusofonia, sem nomes estrangeiros a facilitar a integração, fazendo com que a ideia do made in Portugal passe a ter tanto peso e legitimidade como o made in Italy.

É neste contexto que a própria estratégia de expansão no mercado, que cada vez mais passa por direcionar a exportação para países fora da União Europeia numa tentativa de diminuir a dependência deste meio regional, integra também a adoção da última tendência na indústria da moda – see now, buy now. Esta é uma estratégia que permite chegar mais rapidamente ao consumidor final, em qualquer parte do mundo, e que atualmente integra a visão da senhor PRUDÊNCIO.

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// See now, buy now

A Burberry foi a primeira marca a pôr em prática, em 2016, o conceito de see now, buy now – a forma prática e imediata de vender coleções imediatamente após os desfiles. Esta é uma estratégia que veio revolucionar o mercado, num contexto de mundo globalizado, onde as tecnologias de informação se tornaram aliadas da indústria da moda e os média sociais como o Facebook,

Twitter ou Youtube passaram a permitir livestreaming dos desfiles (BOF, 2016).

Esta revolução trouxe imediatismo ao consumo, que deixou de ser sazonal e se tornou presente em tempo e espaço. Christopher Bailey, diretor criativo da Burberry, traduz isto numa nova forma de “criar uma ligação direta entre a experiência que se cria nos desfiles e o momento em que as pessoas podem fisicamente explorar as coleções” (BOF, 2016), que abandonam os moldes de primavera/verão em prol de um tempo mais informal.

Isto dá, por um lado, flexibilidade às marcas para mais produções, que se tornam intemporais e, por outro lado, permite satisfazer o desejo de consumo de quem vê a peça, mas até então apenas a podia adquirir meio ano depois – o que num contexto de consumo imediato acaba por perder efeito. Ao mesmo tempo, a diferença sazonal que se vive em diferentes regiões do mundo acaba por limitar as marcas de presença mundial. Este problema, acaba por ser colmatado a partir do momento em que a indústria não tem de se limitar às estações do ano e assim passa mais facilmente a atuar em mercados diferentes.

Mas esta mudança de paradigma no mundo da moda traz implicações ao nível da produção, da distribuição e da venda e não traz unanimidade na indústria. Algumas opiniões divergentes veem esta nova corrente como uma banalização do que deveria ser alta costura, e que, como o próprio François-Henri Pinault defendeu, “negam o sonho do luxo, que cria o desejo” (BOF, 2016) de comprar. Muitos apontam que esta reformulação afeta o processo criativo submetendo-o às lógicas do comércio e do que é mais facilmente vendido em prol da essência artística das peças, facilitando casos de plágio e de massificação de tendências.

No caso da Burberry, a coleção primavera/verão de 2017, apresentada em setembro de 2016, teria normalmente de começar a ser preparada em maio. No entanto, neste novo formato, a equipa de design começou a preparar a coleção em janeiro para que a apresentação de setembro fosse já em molde see now, buy now. Isto provocou alterações imediatas nas relações com os fornecedores, que passou a ser um processo paralelo à criação – enquanto o desfile e a coleção é preparada, os materiais vão sendo pedidos em função de deadlines definidas para que o desfile de setembro não seja apenas uma apresentação, mas uma loja global que se abre em simultâneo. Neste novo contexto, os desfiles deixam de ser uma apresentação privilegiada de pré-venda e divulgação para a imprensa que por tanto tempo gerou

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expetativas e sustentou elites.

O processo de sampling sofre aqui consequências, cada peça é produzida atempadamente, e está pronta não para o desfile, mas três meses antes para ser apresentada à imprensa e aos agentes do mercado, que passam a definir com antecedência o que querem publicitar/vender.

Mário Testino, responsável pelas campanhas fotográficas da Burberry, acabou por redefinir também o seu próprio método de trabalho ao ter contacto com as peças antes dos desfiles. O fotógrafo acabou por incluir no seu portfólio o próprio processo de produção realizado pelos designers, fotografando as peças em criação pelos costureiros. Em entrevista à BOF (Business of Fashion), o fotógrafo peruano notou que “É interessante perceber que os desfiles já não se fazem para os wholesalers, mas para o consumidor” (BOF, 2016).

As campanhas são preparadas antes dos desfiles, e não depois, como acontece normalmente quando jornalistas e compradores se deslocam ao showroom preparado depois do desfile, altura em que têm o primeiro contacto com a coleção.

A Burberry criou um showroom reservado, de acesso restrito apenas a imprensa e vendedores-chave, e as previews foram realizadas logo a partir de junho num contexto de secretismo, sendo que as peças foram apenas disponibilizadas para venda após o desfile.

Instant Fashion

Um novo paradigma de moda instantânea chega à indústria, reformulando estratégias de produção, de marketing e de venda. A relação com o consumidor tornou-se próxima e direta com os criadores, e a venda permite um processo estratégico de feedback direto – vendas permitem perceber tendências de forma rápida e integrá-las na definição da própria estratégia de branding.

Isto implica um investimento ao nível dos novos média e uma presença online reforçada. Parcerias com agências criativas, compras online, lookbooks novos ou aplicações para dispositivos móveis simplificadas exigem um maior investimento e uma reformulação de estratégias que suportem o propósito do see now, buy now (BOF, 2016).

Fashion Immediacy

A lógica natural dos mercados força nomes como Tom Ford, Tommy Hilfiger e Dior a seguir a linha da Burberry e a criar coleções disponíveis no imediato. A verdade é que esta se tornou uma tendência em crescimento e várias foram as marcas a aderir no último ano ao imediatismo no mundo da moda em função das consequências da economia global que o exigem, da nova sociedade de informação assente na rapidez e facilidade de consumo, e na

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própria lógica de crescimento das empresas, que passam a procurar o lucro no aumento de vendas – e o aumento de vendas vem com o investimento no imediato.

O modelo onde a coleção era desenvolvida, depois exibida, e vendida apenas seis meses depois foi revertido num processo que integra os wholesalers e o consumidor final na mesma lógica de divulgação, com uma eficácia melhorada e maior flexibilidade de adaptação criativa e de resposta ao mercado.

As marcas deixaram de viver em função da ditadura de calendário, e este tipo de moda instantânea permitiu desta forma envolver o consumidor e mantê-lo envolvido no processo jogando com o elemento surpresa e o fator disruptivo de novas criações em primeira mão (BOF, 2016).

Os mais críticos apontam para uma perda de criatividade e para a abertura à massificação, já que esta é uma tendência que vivendo da imediaticidade, dá espaço para que marcas genéricas e com preços mais acessíveis reproduzam os modelos para um público genérico com baixo/médio poder de compra. Outro fator muitas vezes apontado é o distanciamento entre o que se vende e o que se usa naquela estação. Mas, considerando a evolução deste tipo de branding, o progressso aponta no sentido do see now, wear now, aumentando vendas tendo em conta que é mais provável que o público compre algo que vá usar naquela época e não com uma estação de antecipação.

Com falhas ou não, esta é uma estratégia que domina os mercados atuais e em função da qual qualquer marca terá de dar resposta se quer o mínimo de afirmação e visibilidade.

Foi neste contexto que a senhor PRUDÊNCIO desenvolveu uma lógica de imediatismo para as suas coleções. Da distribuição em lojas multimarca, a estratégia da marca passou para a venda online e para a abertura de uma loja física própria, que até então não existia.

A senhor PRUDÊNCIO passará a ter morada fixa e tirando partido disso a marca lançará a nova coleção em simultâneo. Até então, a senhor

PRUDÊNCIO apresentou produtos nas áreas do calçado e acessórios

direcionados particularmente para o público masculino. Neste relatório, irá verificar-se a introdução do segmento de vestuário à marca.

Esta implementação surge após o sucesso do vestuário desenvolvido na sequência do lançamento da última coleção – The Ordinary Tasks of The Super Human, Spring/Summer 16 – a fim de ser apenas utilizado em shooting para campanhas, sem que houvesse produção associada à comercialização do mesmo.

Isto dá-se numa altura em que a marca adota uma nova estratégia de mercado – see now, buy now – passando a apresentar coleções cápsula no seu calendário de apresentações, deixando o vínculo de realização de coleções

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sazonais, passando a ser sem estação e com comercialização on time. A senhor PRUDÊNCIO encontra-se inteiramente ligada ao PRUDÊNCIO

studio tendo sido criada para lhe dar uma maior divulgação, mantendo

a qualidade dos serviços que oferece elevando a satisfação dos clientes. Foi com este pensamento que emergiu a necessidade de mudar a estratégia da marca, podendo assim melhor satisfazer as necessidades dos clientes. A comercialização on time vai permitir chegar diretamente ao consumidor a partir do momento em que a coleção é introduzida numa versão cápsula – sem estação associada, intemporal.

De acordo com João Pedro Filipe, o responsável da marca, isto irá permitir uma maior visibilidade da marca a nível tanto nacional como internacional, aproximando-se da realidade virtual do online e do contacto com o público que a marca nunca tinha antes experienciado.

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Imagem 16 — Fotografia lookbook HOMONIMA SS15 .

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A prática de interpretação da realidade e o processo de criação de subjetividade que decorre da sua observação é aquilo a que podemos chamar de pensamento do design. Na sua área criativa de ação, o designer é capaz de reinventar as formas visuais e materiais do que o rodeia, adaptando artisticamente um conceito próprio e original de forma a que se diferencie no mercado onde se insere e responda à sua demanda (Tschimmel, 2010). Recuperando a ideia de Munari (1981), “o método projetual não é mais do que uma série de operações (…) ditada pela experiência” (Munari, 1981, p. 20). Ainda assim, este é um processo que não descarta de método e planeamento, sobretudo se pensarmos que tudo começa com o questionamento sobre o que nos rodeia e quais são as possíveis formas de resposta. Partindo deste exercício, é essencial um processo de investigação sobre o que já foi feito nesse sentido, como podemos acrescentar valor ao que existe ou criar uma solução mais eficaz de raiz, considerando sempre a lógica de produtividade do processo: que materiais implica, que métodos, entre outros (Munari, 1981). Isto faz com que o método projetual não seja absoluto nem definitivo (Munari, 1981) mas sim algo em transformação constante num exercício de aperfeiçoamento que visa ajustar as expectativas aos resultados que se procuram, abrindo espaço a inovações que possam surgir ao longo desse processo.

Já Brown (2010), CEO da IDEO, agência de design que fez várias pesquisas sobre o Design Thinking salienta que, “o Design Thinking começa com habilidades que os designers têm aprendido ao longo de várias décadas na busca por estabelecer a correspondência entre as necessidades humanas com os recursos técnicos disponíveis considerando as restrições práticas dos negócios” (Brown, 2010, p. 3).

Costumamos dizer na IDEO que “todos nós somos todos mais inteligentes do que qualquer um de nós” e essa é a chave para liberar o poder criativo de qualquer organização. Pedimos que as pessoas não se limitem a oferecer conselhos especializados em relação a materiais, comportamentos ou software, mas para colaborarem ativamente em cada um dos espaços da inovação: inspiração, idealização e implementação (Brown, 2010, p. 26).

Segundo Brown (2010), a inspiração é motivada pela procura da oportunidade, das soluções para problemas, realizando-se um briefing e a observação do público-alvo no seu quotidiano; na ideação, surge o processo de geração e desenvolvimento de ideias, com base em brainstormings e a representação visual de conceitos; por último a implementação, onde se gera um mapeamento do mercado e as melhores ideias são levadas a cabo. Para Ambrose & Harris (2010), “Design Thinking, é um processo que transforma um

METODOLOGIAS DE DESIGN

Design Thinking

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brief ou exigência num produto acabado ou solução de design. O processo de projeto pode ser compreendido em sete fases: definição, investigação, ideação, prototipagem, seleção, implementação e aprendizagem” (Ambrose & Harris, 2010, p. 11, tradução livre).

A definição passa por perceber exatamente qual o problema de design e quem é o seu público-alvo; a investigação implica a caracterização do estado de arte do que foi produzido naquele domínio, identificando os principais problemas em causa; a ideação, feita a partir das necessidades do utilizador, vai de encontro à projeção das primeiras ideias que poderão resultar antes de serem formalmente apresentadas, através de um exercício de brainstorming, que permitirá posteriormente uma comparação de hipóteses propostas na fase de seleção; a implementação sucede à seleção, e consiste na sua posta em prática: o design é aplicado, desenvolvido, e apresentado ao cliente; a aprendizagem, e última fase do processo, passa por comparar os resultados reais com os objetivos traçados na primeira fase de definição, percebendo se o processo respondeu ou não às necessidades de uma maneira eficaz, através do feedback do público-alvo, que permitirá ao designer futuras melhorias e ajustes (Ambrose & Harris, 2010).

Design Thinking acaba então por ser um processo criativo que começa na reflexão e termina na implementação e acompanhamento da integração de um elemento criando respostas aos problemas da realidade, seja qual for a circunstância/área de intervenção do designer. É aqui que o Design Thinking se afasta do pensamento científico, orientado pela lógica e pelas relações de causa-efeito dos acontecimentos. Este é, pelo contrário, um tipo de conhecimento construído de raiz pelas necessidades, que parte da observação e da interpretação dos eventos de uma forma subjetiva e não linearmente racional. Aproxima-se, então, de um tipo de conhecimento criativo, formada na significação, nos conceitos artísticos que unem o visual e formal ao que é estratégico no seu conteúdo – na sua procura pela funcionalidade de resposta a uma necessidade (Tschimmel, 2010).

“O Design Thinking é entendido hoje como uma forma de pensar que conduz à transformação e inovação num trabalho de equipas multidisciplinares” (Tschimmel, 2016).

Chama-se Evolution 6² o modelo de Tschimmel (2016), uma vez que o processo criativo está em constante evolução (Evolution), sendo ele não só um processo iterativo, repetindo-se diversas vezes, como também interativo porque é capaz de interagir e comunicar.

E6, deriva do facto de o modelo estar repartido em 6 fases que iniciam com a letra ‘E’. A Emergência (Emergence) é a primeira fase, onde surge a identificação da oportunidade, dá-se a observação e pesquisa de tendências sendo necessário estar aberto a novos estímulos e perceções. Na segunda fase, Empatia (Empathy), existe a necessidade de conhecer melhor o cliente

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— Imagem 17

Mindshake Design Thinking Model

Evolution 6².

e o contexto em que se insere, dando-se também a realização de moodboards e inspiration boards. Terceira fase Experimentação

(Experimentation), fase onde são geradas ideias e desenvolvidos conceitos através de brainwriting e brainsketching. Quarta fase Elaboração (Elaboration), fase onde se desenvolvem e materializam as ideias, passando por

prototipagem rápida podendo assim ser melhoradas, elaboração de desenhos técnicos e fichas técnicas. Quinta fase Exposição (Exposition), comunicação do novo conceito e soluções ao cliente, através de uma apresentação emocional que consiga apelar. Sexta fase e última Extensão (Extension), dá-se a implementação do novo conceito recorrendo a suportes de comunicação, seguido da observação e recolhendo feedback para uma possível melhoria e crescimento futuro.

“E6² uma vez que em todas as fases do processo existem momentos de divergência (Exploration) e convergência (Evaluation), elevamos ao quadrado a potência do 6” (Tschimmel, 2016).

Este relatório de estágio apresenta como abordagem metodológica o processo de Design Thinking Evolution 6², tendo sido adotado e adaptado à prática de estágio.

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Imagem 18 — Fotografia lookbook THE ORDINAR Y T A

SKS OF THE SUPER HUMAN SS16

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Nesta fase, foi aplicada toda a pesquisa realizada frequentemente de forma autónoma, observando os acontecimentos do mercado, como a visualização de outras coleções já lançadas e o acompanhamento constante das semanas de moda, tendo como principal foco as coleções masculinas para a estação de inverno 16/17. Desta pesquisa, deu-se a observação que se sustentou numa recolha de imagens do que é tendência e do que pode vir a ser tendência, que serviram como referência para melhor compreender o que no momento se estava a passar à nossa volta, analisando e reportando a interpretação que cada marca ou criador fez das tendências para a estação. Estas tendências surgem de um trabalho realizado por várias entidades, onde são identificadas tendências macro e micro, derivando conceitos e imagens que guiam os designers durante o processo criativo influenciando nos materiais têxteis, cores, padrões, formas e estilos, sendo muitas vezes estas tendências posteriormente apresentadas em eventos a um público restrito. Para o desenvolvimento projetual de uma coleção da senhor PRUDÊNCIO não são requeridos este tipo de serviços sendo que a marca se orgulha em primar pela diferença, trazendo inovação ao mercado e de certa forma consagrando-se como tendência. A visita às feiras internacionais do setor são uma forte fonte de tendências, uma vez que os produtores têxteis já as trabalharam previamente para o desenvolvimento de materiais. Posto isto, no início de fevereiro de 2016, elementos do João Pedro Filipe studio fizeram uma visita à Première Vision, feira realizada em Paris, com mais de 1900 expositores e com secções dedicadas às peles, tecidos, acessórios e confecionadores. Capturaram imagens e recolheram amostras de materiais, efetivaram contactos com diversas empresas e realizaram encomendas de amostras de materiais.

A 24 de fevereiro de 2016 visitei a feira MODtissimo, realizada no Porto, com fornecedores e confecionadores têxteis maioritariamente nacionais. Observei o fórum de novas tendências, estive em contacto com diversas empresas, procedi à recolha e encomenda de amostras, estando sempre aberta a novos estímulos e perceções.

PROJETO REALIZADO NO ÂMBITO DO ESTÁGIO

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Nesta fase, dá-se a necessidade de conhecer melhor a marca através de uma pesquisa e de um estudo intensivo, passando por todo o espólio imagético da marca – lookbooks, vídeos, moodboards e press book – bem como a consulta de amostras de produtos das coleções anteriores. Conhecer a identidade, compreender os valores e códigos da senhor PRUDÊNCIO, foram aspetos fulcrais a ter em conta aquando do desenvolvimento de uma nova coleção. Foram estudadas minuciosamente as coleções que haviam já sido lançadas e que serão referidas seguidamente com o auxílio de uma timeline apresentada na imagem 19.

Fase 2 — Empatia

— Imagem 19

Timeline das coleções da senhor

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// TURBINE SS13

TURBINE, a primeira coleção da marca senhor PRUDÊNCIO, assumida

como uma coleção manifesto, nasceu e veio estabelecer a identidade e valores da marca, lançando diretrizes para as estações seguintes e projetos da marca. As referências tidas em conta no processo criativo desta coleção incidem na relação entre o homem e o próprio corpo, o bodybuilder, numa altura em que o comportamento dos consumidores masculinos se alterou primando pela exaltação do corpo e cultivando a ideia de homem máquina. Características similares são igualmente atribuídas às máquinas, mais propriamente aos muscle cars, desenvolvidos com linhas agressivas e para uma alta rentabilidade, tendo principal foco nos muscle cars dos anos 70. Álvaro de Campos, heterónimo de Fernando Pessoa, cuja poesia futurista enaltece a descoberta da máquina e o triunfo da era moderna pós-revolução industrial, sendo um uníssono da relação física entre o homem e a máquina, foi outra referência desta coleção. O lado gráfico, paleta de cores e texturas, espelham as formas e os acabamentos dos muscle cars. Os principais materiais utilizados foram as peles de aspeto natural e as peles polidas. Os estampados gráficos também tiveram a sua presença atribuindo dinamismo à coleção. Nesta estação, a senhor PRUDÊNCIO apresentou calçado, sacos, luvas e cintos, tendo sido estruturada para atribuir mobilidade e performance ao consumidor.

— Imagem 20

Montagem de imagens do lookbook da coleção TURBINE SS13.

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// GURI AW13 / GURI LIMIT.ED

GURI, inspirou e deu nome à coleção de inverno 2013, apresenta-se como o

narrador de uma história na qual não participa, apenas observa. As referências desta coleção assentaram no relato de memórias feito por Guri, a geração da liberdade dos anos 80 em Portugal, o movimento kitsch, a idolatria das marcas, o non-sense na coordenação de peças e o over-design. A coleção exibiu o lado desportivo conjugado com o formal, tendo como base a construção clássica, usada de forma a atribuir aos produtos um look neo-sporty. Nesta estação, a senhor PRUDÊNCIO apresentou calçado, sacos, uma linha de pequena marroquinaria, cintos e luvas. A seleção dos materiais parte da intenção de atribuir textura aos produtos e uma estética que revisita os materiais hi-tech.

GURI LIMIT.ED, foi a primeira edição limitada da marca, composta por três

peças que surgiram de uma colaboração feita com a ilustradora portuguesa Lara Mendes.

— Imagem 21

Montagem de imagens do lookbook da coleção GURI AW13 e

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// BE//LIVE SS14

BE//LIVE, coleção de verão 2014, explora os aspetos imateriais que são

determinantes para as ações materiais. Baseada na fé que se caracteriza por ser invisível, intangível e imaterial, esta coleção é inspirada nas muitas maneiras como a fé pode ser mostrada, tendo em conta diferentes crenças ou até mesmo nenhuma. A arquitetura também marca presença neste conceito, tomando o lugar material, criado pelo homem ou pela natureza, ambientes onde se torna possível sentir colossais formas de energia, exploradas para deixar a luz penetrar, as formas da arquitetura impossível deixando o conceito de lacunas.

Nesta coleção, a senhor PRUDÊNCIO apresentou calçado, sacos, cintos e luvas.

Os materiais selecionados transmitem o conceito de transparência, e de luz como o veludo e o plástico, numa paleta de cor com tons sóbrios.

— Imagem 22

Montagem de imagens do lookbook da coleção BE//LIVE SS14.

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// 21.14 VINTEEUMCATORZE AW14

21.14, é a coleção de inverno 2014, inspirada no imaginário do avanço de um

século, enriquecida pelo futurismo. Um futurismo que declara a ideia de uma nova beleza, a da velocidade, reportando ao universo do manifesto futurista de Marinetti.

“Uma corrida automóvel com o seu gorro adornado com grandes tubos como serpentes com fôlego explosivo... Um automóvel rugindo que parece executar fogo de metralhadora, é mais bonito que a vitória de samotrácia.

Nós queremos cantar o Homem ao volante, eixo ideal do que atravessa a terra, atirou-se ao longo da sua órbita.” (Marinetti, 1909, tradução livre) A coleção explorou o lado desportivo e o formal, ressaltando a construção clássica dos produtos. Nesta estação, a marca apresentou calçado, sacos e cintos. A paleta de cores destaca-se pelos tons vivos, sendo que a seleção dos materiais parte da intenção de atribuir textura aos produtos e uma estética mais futurista.

— Imagem 23

Montagem de imagens da colaboração com a ilustradora Rita Roque da coleção 21.14 AW14.

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// HOMONIMA SS15

HOMONIMA, a coleção de verão 2015, apresenta a precisão geométrica

inspirada pelo arquiteto Pancho Guedes, conhecido pela abordagem contemporânea para a criação de objetos, altamente ordenado, mas complexo na proporção da sua composição. Enquanto artista português, Nadir Afonso cria espaços harmoniosos e oferece um humor que ressoa com a natureza lúdica da senhor PRUDÊNCIO. HOMONIMA, homenageia o utilitarismo dos clássicos enquanto elegantemente trabalha componentes diferentes de cada peça para criar elementos modernos e originais. Os sapatos são produzidos recorrendo a métodos tradicionais de construção através das várias fases de produção. Cada par de sapatos passa por uma série rigorosa de operações para garantir que o produto acabado é absolutamente perfeito e que vai durar uma vida inteira.

Desta coleção surgiu uma colaboração com a FOFFA Bikes, marca de bicicletas britânica, denominada FOFFA X senhor PRUDÊNCIO, em que foi elaborado um saco totalmente adaptado à bicicleta, como pode ser visto na imagem 24.

— Imagem 24

Montagem de imagens do lookbook da coleção HOMONIMA SS15.

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// DUAL AW15

DUAL dá nome à coleção de inverno 2015 e surge da procura pela

simplicidade extrema. Advém da palavra dualidade, um todo que é composto por duas partes igualmente complementares, reflete o elemento mais básico do sapato - tem par. Inspirada pela essência de relacionamentos criativos, cultivada por participação mútua, ocorre do estudo da interação entre duos de famosos artistas, Robert Mapplethorpe e Patti Smith, Marina Abromovic e Ulay.

A plasticidade da imagem em escala de cinza de Mapplethorpe inspirou uma busca constante por simetria na luz perfeita, ângulos e técnicas. Estes efeitos crus capturam a beleza na sua mais pura forma do corpo humano, que abriu possibilidades extensas para a coleção DUAL.

Concentrada numa forma abstrata, dependente dos aspetos físicos, dando espaço para detalhes subtis em cada par, torna a coleção consistente em desigualdades. A coleção pretende enfatizar a estética do corpo humano com volume, criando um equilíbrio natural de ergonomia e design.

— Imagem 25

Montagem de imagens do lookbook da coleção DUAL AW15.

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// THE ORDINARY TASKS OF A SUPER HUMAN SS16

THE ORDINARY TASKS OF A SUPER HUMAN, nome da coleção de

verão 2016, surge da mudança do ser humano que busca e valoriza um estilo de vida saudável, incutindo hábitos alimentares e de atividade física, conjugados com uma carreira profissional estabelecida e bem-sucedida. Estes indivíduos são justamente identificados como super humans, sendo ambiciosos, vigilantes e hiperativos na criação de uma vida que desejam viver. Necessitam de itens específicos para atender às suas necessidades, peças que acomodam a sua incansável capacidade atlética e espírito empreendedor, com materiais duráveis e multifuncionais. Assim, a coleção THE ORDINARY

TASKS OF A SUPER HUMAN da senhor PRUDÊNCIO apresenta calçado e

acessórios que vão dar a cada super human as ferramentas necessárias para melhorar seu desempenho nas suas tarefas quotidianas.

— Imagem 26

Montagem de imagens do lookbook da coleção THE ORDINARY TASKS

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Após consulta e estudo de todo o espólio imagético da marca, foi iniciado o trabalho de pesquisa dedicado ao conceito da nova coleção, em que foi realizada uma recolha de imagens e consultas de livros inerentes a um conjunto de palavras-chave, previamente definidas e dispostas num briefing que me foi entregue aquando da minha entrada no estúdio. Utopia do espaço ou do objeto – cidades que nunca foram habitadas, concept cars que nunca foram lançados no mercado; o acidental – quer pareça ou não forçado; o erro fotográfico – lomografia; o derramado – pó, líquido, lixívia; o bruto – luta ou coreografia; design limpo e básico; sporty 80’s; street style; paleta de cores reduzida – clara; contraste de materiais clássicos em oposição a materiais técnicos; uma peça parecer a combinação de duas; workwear; jeans; vestuário em pele; motivo senhor PRUDÊNCIO all over em degradé; Frank Ocean como banda sonora – complexo mas simples. Estas foram as palavras-chave que se transformaram em conceito, transpostas para imagens que selecionadas formaram o moodboard que inspirou a coleção. Analisando a harmonia cromática das imagens selecionadas, com o apoio do catálogo de cores da

PANTONE, nasceu a paleta de cores onde está presente a dicotomia entre

os tons escuros, neutros e os apontamentos de cores claras.

— Imagem 27

Moodboard CAPSULE 001.

— Imagem 28

Paleta de cores,

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elatório de Estágio — senhor PRUDÊNCIO

Partindo uma vez mais do briefing que me foi entregue, foi elaborado um plano de coleção inicial que foi sofrendo alterações ao longo de todo o processo criativo da coleção. Um plano de coleção tem como principal objetivo pensar atempadamente na estrutura da mesma, o número de peças, a tipologia de produto, a silhueta, a coordenação por looks, e até mesmo possíveis materiais a serem selecionados posteriormente. Em suma, pode dizer-se que é um guia de apoio para a fase seguinte do projeto. Este plano de coleção, como pode ser visto na imagem 29, é composto por um total de quatro looks/coordenados, idealizados com a tipologia de produtos por look – vestuário, calçado e acessórios. O primeiro look é composto por um saco, um par de sapatos, um chapéu, uma camisa e um bottom/peça inferior. O segundo look é constituído por um saco, um par de sapatos, um chapéu, uma camisola e um bottom/peça inferior. O terceiro look é estruturado por um saco, um par de sapatos, uma camisa, um bottom/peça inferior, um casaco e umas luvas. O quarto e último look apresenta um saco, um par de sapatos, uma t-shirt, um bottom/peça inferior, um casaco e umas luvas. Parte das imagens inseridas no plano de coleção pertencem a coleções anteriores da

senhor PRUDÊNCIO, tendo esta seleção sido feita com o objetivo de seguir

a linguagem da marca.

— Imagem 29

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Esta é a fase onde são geradas ideias e desenvolvidos conceitos. Iniciou-se com um levantamento de lojas de roupa em segunda mão existentes na zona do centro do Porto, seguindo-se posteriormente uma visita às mesmas, com o objetivo de adquirir peças em segunda mão adequadas às temáticas que pretendíamos explorar. Com estas peças foram realizados alguns ensaios, por vezes foram desconstruídas costuras, efetuados cortes, aplicados alfinetes e outros materiais ou acessórios, transformando-as no que seriam possíveis peças a ser desenvolvidas para a nova coleção.

Nesta fase iniciou-se o desenvolvimento do calçado, com um estudo das solas, através do método de colagem utilizando como ferramenta de trabalho o programa Adobe Photoshop. Estas colagens são realizadas tendo por base uppers de coleções anteriormente desenvolvidas e apresentadas pela marca. Como pode ser visto na imagem 31, as solas foram trabalhadas por camadas e com diversos materiais. A este tipo de solas dá-se o nome de solas pré-fabricadas.

Fase 3 — Experimentação

— Imagem 30

Ensaios com as peças em segunda mão.

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elatório de Estágio — senhor PRUDÊNCIO

— Imagem 31

Colagens das solas dos sapatos.

— Imagem 32

Reunião de equipa onde se realizaram estudos de cor.

No seguimento do desenvolvimento da coleção, foi gerado o brainsketching – realização de esboços concebidos por tipologia de produto – tendo sempre como base o plano de coleção. Posteriormente, em reunião de equipa foi feita a seleção das peças e a sua coordenação por looks. Realizaram-se ilustrações rápidas e deu-se também início ao estudo de cor recorrendo a materiais riscadores como lápis e marcadores.

Iniciou-se o processo de recolha de materiais para a coleção, tendo efetuado vários contactos a empresas fornecedoras e a deslocação às mesmas de forma totalmente autónoma.

Referências

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