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Motivos de causas do sucesso no desporto escolar : Estudo no âmbito das escolas EB 2/3 do concelho do Porto

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UNIVERSIDADE DO PORTO

Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física

Mestrado em Ciências do Desporto Desporto de Recreação e Lazer

MOTIVOS E CAUSAS DO SUCESSO NO DESPORTO ESCOLAR

ESTUDO NO ÂMBITO DAS ESCOLAS EB2/3 DO CONCELHO DO PORTO

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UNIVERSE)ADE DO PORTO

Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física

Mestrado em Ciências do Desporto Desporto de Recreação e Lazer

MOTIVOS E CAUSAS DO SUCESSO NO DESPORTO ESCOLAR ESTUDO NO ÂMBITO DAS ESCOLAS EB2/3 DO CONCELHO DO PORTO

Dissertação apresentada com vista à obtenção do grau de Mestre em Ciências do Desporto na Área de Recreação e Lazer Orientador: Prof. Doutor Amândio Graça

António Lopes Rebelo Outubro» 1999

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AGRADECIMENTOS

A realização deste estudo não foi uma tarefa fácil, implicou percorrer um longo caminho. O contexto do estudo, a constelação de ideias e a investigação das soluções acarretou necessariamente um esforço árduo, sério e dedicado. Avultou sobremaneira a força serena e a postura firme de quem procurou permanentemente seguir o seu caminho aprendendo a tornear os obstáculos que surgiam, partilhando e recebendo os saberes e experiências de outros, utilizando esmerada e zelosamente os recursos disponíveis, com a convicção plena de que a sua realização está no próprio esforço de conquistar algo de melhor para si e para os outros,

Porém, a construção deste estudo não decorreu somente do nosso esforço, mas também do contributo imprescindível de todos aqueles que de alguma forma acompanharam este percurso e participaram na sua realização. A todos estes importa expressar a nossa inteira e manifesta gratidão pelo seu estímulo, apoio, ajuda, compreensão, entusiasmo e carinho, nomeadamente:

Ao Prof Doutor Amândio Graça, pelos seus ensinamentos e sugestões, compreensão e simpatia, encorajamento e orientação deste trabalho, mostrando-se sempre disponível, atento e disposto a ajudar.

Ao Prof. Doutor António Manuel Fonseca, pela sua disponibilidade em aceder os inquéritos, ajuda e colaboração na análise e tratamento estatístico dos dados dos sujeitos e sugestões na organização e estruturação do trabalho.

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Ao Prof. Doutor Paulo Santos, pela amizade, esclarecimentos e sobretudo pelas sugestões prestadas no início do estudo.

As colegas e amigas, Anabela Afonso e Susana Marques, pelos incentivos e alento.

Ao professor Fernando Ferreira, pela disponibilidade que dispensou em fornecer alguns elementos de interesse da base de dados do Centro de Área Educativa do Porto.

Aos Conselhos Executivos das Escolas EB2.3 do Concelho do Porto, pela disponibilidade e facilidades concedidas na concretização do estudo empírico.

Aos colegas coordenadores do projecto do Desporto Escolar e responsáveis pelos grupos/equipas, pela colaboração e empenho na aplicação do inquérito e recolha dos dados.

Aos alunos participantes nas actividades de Desporto Escolar, que se dispuseram voluntária e empenhadamente a fazer parte deste estudo.

A Micéu, Ana e Pedro pela paciência e carinho.

Porto, 13 de Outubro de 1999

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RESUMO

No nosso estudo procurámos, por um lado, proceder à caracterização sócio-demográfica do projecto de Desporto Escolar das escolas EB2/3 do Concelho do Porto e identificar, por outro, os factores motivacionais para a prática desportiva e percepção das causas de sucesso no desporto.

A amostra do nosso estudo foi constituída por 278 alunos, 164 (59%) do sexo masculino e 114 (41%) do sexo feminino, de todas as escolas EB2.3 do concelho do Porto, inscritos nos diferentes grupos/equipas do Desporto Escolar.

Para a realização do estudo e, no sentido de avaliar os factores motivacionais e as causas do sucesso no desporto foram administrados aos inquiridos, dois questionários distintos: "Questionário de Motivação para as Actividades Desportivas" (QMAD: Serpa & Frias, 1991) com oito factores motivacionais identificados por Fonseca (1995), e o "Questionário das causas do Sucesso no Desporto" (QCS: Fonseca, 1995).

Para além dos questionários anteriores, procedemos à aplicação de outro questionário (Fonseca, 1995) relacionado com questões sócio-demográficas e no âmbito do projecto do Desporto Escolar.

Os procedimentos estatísticos utilizados na avaliação do QMAD e QCS, foram, nomeadamente a análise factorial, médias e desvios padrão e, para as análises comparativas, recorremos aos testes t de Student, o F de Scheffé e Anova.

(6)

As questões de natureza sócio-demográficas, foram analisadas em função das modalidades desportivas, escalão etário, níveis de escolaridade, anos de prática e frequência semanal, horas por semana, competições inter-turmas, desporto federado, outro desporto, actividade física e desportiva dos pais e habilitações literárias.

Os resultados encontrados mostram que, em termos de análise descritiva dos factores motivacionais, os mais valorizados foram o desenvolvimento técnico, afiliação geral e forma física.

Na análise comparativa dos factores motivacionais e interacção do sexo com as variáveis de estudo foram encontradas diferenças significativas, designadamente na estatuto, emoções, prazer, competição, desenvolvimento técnico, afiliação geral e afiliação específica.

No que concerne ao QCS, foram identificados 3 factores: Motivação/esforço, competência/habilidade e factores externos.

Na análise comparativa das causas do sucesso e interacção do sexo com as variáveis de estudo foram encontradas diferenças significativas na competência/habilidade e factores externos.

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO 0 1

Problema de estudo 0 4

Objectivos gerais de estudo 05 PRIMEIRA PARTE -REVISÃO DA LITERATURA 06

CAPÍTULO I - DESPORTO ESCOLAR 07

1.1: Perspectiva histórica 07 1.2: Panorama Actual do Desporto Escolar 12

1.3. Actual enquadramento legislativo 14

1.4. Conceito e finalidades 15

1.5. O papel da escola no contexto do Desporto Escolar 18

1.6. Clube do Desporto Escolar 19

1.7. Desenvolvimento do Programa e Práticas Desportivas Escolares 20 CAPÍTULO D - MOTIVAÇÃO PARA A PRÁTICA DESPORTIVA E CAUSAS DO

SUCESSO NO DESPORTO 22 2.1: Considerações gerais 22 2.2: Teorias da motivação 24 2.2.1. Teorias cognitivas da motivação 25

(8)

2.3: Teoria da atribuição 26 2.3.1. Contributos para a teoria da atribuição 27

2.4: Aavaliação das atribuições 30 2.5: Motivos para a prática desportiva 33 2.6: Investigação realizada com o PMQ a nível nacional e internacional 38

2.7: Síntese global das investigações realizadas a nível internacional e nacional 43

SEGUNDA PARTE-ESTUDO EMPÍRICO 46 CAPÍTULO III - MATERIAL E MÉTODOS 47

3.1. Introdução 47 3.2. Caracterização dos sujeitos da amostra 48

3.3. Instrumentos 50 3.4. Variáveis de estudo 51

3.5. Procedimentos 52 3.6. Tratamento estatístico 53

CAPÍTULO IV - APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS 54 4.1. Caracterização sócio-demográfica dos sujeitos da amostra 55

4.2. Análise descritiva dos factores motivacionais e factores do sucesso para a globalidade da amostra 62

4.3. Análise descritiva dos factores motivacionais e causas do sucesso no desporto em

função do sexo 64 4.4. Análise descritiva dos factores motivacionais e causas do sucesso no desporto em

função da idade 66 4.5. Análise descritiva dos factores motivacionais e causas do sucesso no desporto em

função do nível de escolaridade 68 4.6. Análise descritiva dos factores motivacionais e causas do sucesso no desporto em

função do tipo de desporto praticado 70 4.7. Análise dos factores motivacionais e causas do sucesso em função da interacção do

sexo com a idade 72 4.8. Análise dos factores motivacionais e causas do sucesso no desporto em função da

interacção do sexo como de escolaridade 74

(9)

4.9. Análise dos factores motivacionais e causas do sucesso em função da interacção do

sexo com o tipo de desporto praticado 76 CAPÍTULO V - DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 78

5.1: Caracterização sócio-demográfica dos sujeitos praticantes do Desporto Escolar .. 78 5.1.1. Influência das modalidades/actividades na procura desportiva dos sujeitos 78 5.1.2. Frequência e tempo de prática (incluído o tempo de treino e competições) 80 5.1.3. A interface das competições inter-turmas e o trabalho desenvolvido nas aulas de

Educação Física 82 5.1.4. A relação entre o Desporto Escolar, Desporto Federado e outro Desporto 83

5.1.5. A participação desportiva dos pais 83 5.2: Resultados globais dos factores motivacionais e causas do sucesso 85

5.3. Análise comparativa dos resultados dos factores motivacionais e causas do sucesso

no desporto em função das variáveis de estudo 85

5.3.1. Sexo 85

5.3.2. Idade 8 7

5.3.3. Nível de escolaridade 89 5.3.4. Tipo de desporto praticado 90

CONCLUSÕES GERAIS 92

6,1: Implicações práticas 95

BIBLIOGRAFIA 9 8

ANEXOS 106

Anexo 1 - Escolas com Desporto Escolar

Anexo 2 - Projecto final do clube de Desporto Escolar

ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 2.1: Relação entre as atribuições e o estado psicológico que desencadeiam

(Adaptado de Weinberg & Gould, 1995) 29 Quadro 2.2: Resumo do estudo de Gill, Gross & Huddleston (1983) 33

Quadro 2.3: Investigação desenvolvida em países anglófonos sobre os motivos para a

prática desportiva 39 Quadro 2.4: Investigação desenvolvida em países não anglófonos sobre os motivos para

(10)

Quadro 2.5: Investigações desenvolvidas em Portugal sobre os motivos para a prática

desportiva 41 Quadro2.6: Comparação do QMAD e QMPD relativamente aos sujeitos da amostra,

escala de respostas, forma verbal e n° de itens, designação dos factores, percentagem de

variância e coeficiente de Cronbach 42 Quadro3.1: Caracterização das escolas por níveis de ensino, grupos/equipas e alunos do

Desporto Escolar do concelho do Porto 48 Quadro3.2: Distribuição dos sujeitos por clube de Desporto Escolar e por modalidade/

actividade desportiva 49 Quadro 3.3: Distribuição dos sujeitos por modalidade/actividade desportiva e sexo .... 49

Quadro 4.1: Distribuição dos sujeitos em função da idade e do sexo 55 Quadro 4.2: Distribuição dos sujeitos em função da idade e do nível de escolaridade

56

Quadro 4.3: Distribuição dos sujeitos por modalidade com quadro competitivo e sem

quadro competitivo e por sexo 57 Quadro 4.4: Distribuição dos sujeitos em função do número de anos de prática de

Desporto Escolar 5g Quadro 4.5: Distribuição dos sujeitos em função da frequência semanal de prática de

Desporto Escolar 58 Quadro 4.6: Distribuição dos sujeitos (incluindo os treinos e as competições) em função

do número de horas dedicados à prática de Desporto Escolar 59 Quadro 4.7: Caracterização dos sujeitos em função das competições inter-turmas e do

sexo 59 Quadro 4.8: Distribuição dos sujeitos em função da prática de desporto federado e do

sexo 6 0

Quadro 4.9: Distribuição dos sujeitos em função de outro desporto e sexo 60 Quadro 4.10: Caracterização da actividade física e desportiva dos pais dos sujeitos 61

Quadro 4.11 : Caracterização das habilitações literárias dos pais dos sujeitos 61 Quadro 4.12: Médias e Desvios-padrão dos factores motivacionais para a totalidade da

amostra 6 2

(11)

Quadro 4.13: Médias e Desvios-padrão dos factores de sucesso para a totalidade da

amostra 63 Quadro 4.14: Factores motivacionais: Médias , desvios-padrão e valor de t das

respostas dadas em função do sexo 64 Quadro 4.15: Causas de sucesso no desporto. Médias, desvios-padrão e valor de t das

respostas dadas em função do sexo 65 Quadro 4.16: Factores motivacionais: Médias, desvios-padrão e valores de Scheffé

F-test das respostas dadas pelos sujeitos em função da idade 66 Quadro 4.17: Causas de sucesso no desporto. Médias, Desvios-padrão e valores de

Scheffé F-test das respostas dadas pelos sujeitos em função da idade 67 Quadro 4.18: Factores motivacionais. Médias , desvios-padrão e valores de Scheffé

T-test das respostas pelos sujeitos em função do nível de escolaridade 68 Quadro 4.19: Causas de sucesso no desporto. Médias, desvios-padrão e valores de

Scheffé F-test das respostas dadas pelos sujeitos em função do nível de escolaridade . 69 Quadro 4.20: Factores motivacionais. Médias, desvios-padrão e valores de Scheffé F-test nas respostas dadas pelos sujeitos em função do tipo de desporto praticado 70 Quadro 4.21: Causas de sucesso no desporto. Médias, desvios-padrão e valores de Scheffé F-test das respostas dadas pelos sujeitos em função do tipo de desporto

praticado 71 Quadro 4.22: Factores motivacionais. Médias, desvios-padrão e valores de Scheffé

F-test das respostas dadas pelos rapazes em função da idade 72 Quadro 4.23: Factores motivacionais. Médias e desvios-padrão e valores de Scheffé

F-test das respostas dadas pelos raparigas em função da idade 72 Quadro 4.24: Causas de sucesso. Médias e desvios-padrão e valores de Scheffé F-test

das respostas dadas pelos rapazes em função da idade 73 Quadro 4.25: Causas de sucesso. Médias e desvios-padrão e valores de Scheffé F-test

das respostas dadas pelos raparigas em função da idade 73 Quadro 4.26: Factores motivacionais. Médias e desvios-padrão e valores de Scheffé

F-test das respostas dadas pelos rapazes em função do nível de escolaridade 74 Quadro 4.27: Factores motivacionais. Médias e desvios-padrão e valores de Scheffé das

respostas dadas pelas raparigas em função do nível de escolaridade 74

(12)

Quadro 4.28: Causas de sucesso. Médias e desvios-padrão e valores de Scheffé F-test

das respostas dadas pelos rapazes em função do nível de escolaridade 75 Quadro 4.29: Causas de sucesso. Médias e desvios-padrão e valores de Scheffé F-test

das respostas dadas pelas raparigas em função do nível de escolaridade 75 Quadro 4.30: Factores motivacionais. Médias e desvios-padrão e valores de Scheffé

F-test das respostas dadas pelos rapazes em função do tipo de desporto praticado

76

Quadro 4.31: Factores motivacionais. Médias e desvios-padrão e valores de Scheffé F-test das respostas dadas pelas raparigas em função do tipo de desporto praticado 76 Quadro 4.32: Causas de sucesso. Médias e desvios-padrão e valores de Scheffé F-test

das respostas dadas pelos rapazes em função do tipo de desporto praticado 77 Quadro 4.33: Causas de sucesso. Médias e desvios-padrão e valores de Scheffé F-test

das respostas dadas pelas raparigas em função do tipo de desporto praticado 77 INDICE DE FIGURAS

Figura 1: Modelo organizativo (Fonte: Ver revista Horizonte, 1995) 13 Figura 4.1: Apresentação gráfica dos sujeitos por sexo e escalão etário 55 Figura 4.2: Apresentação gráfica dos sujeitos por sexo e níveis de escolaridade 56

Figura 4.3: Apresentação gráfica dos sujeitos por sexo e modalidades competitivas e

não competitivas 57 Figura 4.4: Distribuição das médias em função dos factores motivacionais do desporto

62

(13)

Introdução, problema de estudo e Objectivos gerais de estudo

INTRODUÇÃO

"A escola como templo de aprendizagem autêntica que lhe cumpre ser, deve ser espaço de felicidade para as crianças e os jovens que nela passam uma parte longa e importante da sua vida" (Patrício 1996, p.72). A promoção e estimulação do acesso à prática desportiva é uma forma profícua e propícia para a satisfação desta doutrina e necessidades de natureza bio-psico-social.

O fenómeno do desporto, segundo Lima (1981, p.83) "... é indiscutivelmente uma componente global da actividade humana e social". Ele está profundamente enraizado na cultura contemporânea e, como tal, impõe-se como uma necessidade humana e um bem comum na senda da formação educativa e desportiva dos nossos jovens.

A este respeito, Bento (1995) sublinha que o desporto se constitui como espaço, por excelência, de formação, educação e desenvolvimento da personalidade, de florescimento do eu moral e, fortalecimento de funcionalidade e expressividade do corpo. E é sobremaneira através de uma diversidade e inovação de modalidades desportivas, não apenas ao nível do rendimento, mas também ao nível da prática recreativa que o desporto se afirma.

Uma das vertentes manifestamente perfilhadas pelo desporto como actividade humana é a que se orienta para a criação de hábitos de vida saudável, o que reclama (Matos e Graça,1988, p.314) que "a actividade tem que ser gratificante, isto é, tem que:

- despertar alegria, prazer; ser vivida com sucesso;

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Introdução, problema de estudo e Objectivos gerais de estudo

Por sua vez, a escola é singularmente uma das instituições sociais capazes de chamar a si a adopção de tais dimensões e implementar in loco experiências de actividades físicas e desportivas organizadas e regulares para todas as criança e jovens.

Uma das preocupações pedagógicas e educativas da escola é de criar condições favoráveis à estimulação permanente e generalizada de actividades de ocupação de tempos livres, sendo as actividades do Desporto Escolar marcadas por grande alternância e variedade de ofertas para lançar os alicerces de uma prática activa e duradoura do Desporto (Bento, 1997).

Esta forma de ocupar o tempo livre, com toda a variedade de actividades que compõem o programa de Desporto Escolar deve processar-se à luz da preocupação de uma qualificação humana e libertadora do tempo livre, entendido como um "espaço onde a participação prevalece sobre a excelência e a alegria se contrapõe ao stress e à ansiedade" (Sobral, 1992, p. 121).

Na vasta gama de actividades físicas e desportivas, assumem crucial importância as modalidades e disciplinas desportivas do Desporto Escolar, como um "instrumento decisivo na promoção de um estilo activo e saudável (...) em que a competição desportiva seja um meio e não um fim em si mesmo" (Brito, 1999).

O Desporto Escolar, sendo por inerência uma actividade de índole facultativa constitui "uma boa aposta no sentido de conferir alguma credibilidade e valor às actividades físicas, pelo carácter de complementaridade ou de reforço das actividades curriculares" (Mota, 1997, p.81).

Estas actividades de Desporto Escolar estão em consonância com o artigo n°48 da LBSE (n°2 "actividades de complemento curricular"; n°4 "de ocupação dos tempos livres" e n°5 "promoção da saúde e condição física, aquisição de hábitos e condutas motoras e o entendimento do desporto como factor de cultura") e propõem-se contribuir para o desenvolvimento equilibrado e integral da personalidade, preparando a juventude para as necessidades cada mais exigentes de uma sociedade em permanente mudança.

Com base nestes pressupostos e pela crescente importância que o Desporto Escolar tem vindo a assumir nas escolas de há uns anos a esta parte, de complemento curricular, voluntária e de ocupação dos tempos livres (segundo os dados estatísticos do Centro de Área Educativa do Porto de 1997/98 o número de escolas envolvidas era de 1142, abrangendo 96200 alunos, 4644 professores e 4810 grupos/equipas), entendemos que seria de maior utilidade desenvolver o nosso estudo com participantes do Desporto Escolar.

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Introdução, problema de estudo e Objectivos gerais de estudo

Para tal, tornou-se pertinente, com base no programa oficial do Desporto Escolar para o ano lectivo 1998/99, caracterizarmos a oferta de actividades de Desporto Escolar para ocupação dos tempos livres das crianças e jovens.

Interessou-nos igualmente caracterizar a motivação para a prática desportiva das crianças e jovens, neste caso, no âmbito das modalidades do Desporto Escolar.

Sobral (1988, pp. 155,156) entende que a motivação "é a imagem que de si mesmo um indivíduo faz e a qualidade e o nível de aspiração que estabelece para a sua existência (...) sendo um motivo o móbil de ordem intelectual que impele a uma acção".

Sendo a motivação um dos constructos psicológicos mais estudados e utilizados no contexto desportivo com o fim de compreender o comportamento humano, e não obstante se registarem alguns estudos acerca da motivação no contexto do Desporto Escolar (e.g., Rêgo, 1995; Fonseca e Soares, 1995; Matos e Cruz, 1997; Bonito, 1998), podemos considerar que as investigações neste domínio são ainda escassas e que novos estudos poderiam contribuir para tornar ainda mais consistentes os resultados sobre a motivação desportiva no âmbito do desporto escolar.

Fernandes (1986, p.75) realça que "a motivação representa, a par da aptidão (física e intelectual) a variável mais importante que condiciona o rendimento e o grau de eficácia do comportamento".

Por sua vez, a compreensão do comportamento implica saber quais os motivos/razões que impulsionam o indivíduo para a prática e participação desportiva sob a forma competitiva ou recreativa.

Os fenómenos psicológicos desempenham um papel determinante na avaliação dos objectivos de realização dos indivíduos, isto é, na percepção das causas relativas ao sucesso e ao êxito desportivo. "O interesse e o prazer na tarefa serão os móbiles que conduzirão o aluno a um empenhamento no sentido do sucesso" asseguram Matos & Graça (1988, p.315).

Mais objectivamente, a forma como os alunos percepcionam as causas que consideram ter estado na base dos seus resultados depende do clima motivacional em que as actividades se desenrolam.

Segundo Roberts (1992) o primeiro passo no sentido da compreensão do comportamento de realização é reconhecer que o sentimento de sucesso e o de fracasso

são estados psicológicos baseados na interpretação da eficácia do empenho da própria pessoa.

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Introdução, problema de estudo e Objectivos gerais de estudo

A este propósito, Ames (1992) considera fundamental o contexto no qual as crianças ou jovens iniciam a relação com o desporto. Esta autora defende que a orientação para a mestria leva as crianças a aceitarem melhor os desafios, conseguem normalmente bons desempenhos, sentem-se competentes e respondem mais positivamente a situações de aprendizagem.

Julgamos que o conhecimento das razões que levam os jovens a envolver-se no desporto e da percepção das causas que influenciam os seus níveis de motivação em termos de sucesso no contexto do Desporto Escolar, pode tornar esclarecida a intervenção pedagógica do professor/treinador. Como acentua Serpa (1990: p.101) "Apenas depois de conhecer os porquês é possível ao professor ser eficaz e consequente nos "como", isto é, nas técnicas susceptíveis de influenciar a persistência dos indivíduos nas actividades e a intensidade com que se lhes dedicam"

Em termos de estrutura e organização do presente trabalho, este encontra-se disposto em duas partes fundamentais, designadamente a revisão da literatura e o estudo empírico.

No que concerne à revisão da literatura, procedemos a uma abordagem histórica-social e legislativa do Desporto Escolar, assim como, a uma análise pormenorizada do seu programa e finalidades. A revisão conceptual das teorias cognitivas e sociais da motivação e a caracterização dos instrumentos de avaliação dos factores motivacionais (QMAD) e causas do sucesso no desporto (CSD) completam esta primeira parte.

Na segunda parte, descrevemos a metodologia geral de estudo respeitante à caracterização da amostra, instrumentos e variáveis estudadas, procedimentos efectuados e tratamento estatístico aplicado aos resultados dos inquéritos das respostas dadas pelos sujeitos. Prosseguimos com a apresentação dos resultados e discussão dos mesmos e encerramos com as conclusões e possíveis reflexões e implicações. A revisão bibliográfica e os anexos concluem a presente dissertação.

Problema de estudo

Face ao exposto na introdução, há que propor algumas questões, de forma a sabermos, por um lado, em que medida do possível as actividades do Desporto Escolar concorrem para a ocupação dos tempos livres dos alunos e, por outro, saber qual o contributo dos fenómenos psicológicos na motivação dos nossos alunos para a prática desportiva e sucesso no desporto.

(17)

Introdução, problema de estudo e Objectivos gerais de estudo

Uma questão concreta, que tem a ver com o "Programa do Desporto Escolar-Ano lectivo del998/99", é verificar se, de facto, as ideias que subjazem aos seus objectivos programáticos traduzem única e simplesmente uma aprovação de princípios fundamentais, ou correspondem a objectivos concretos, de implicações e benefícios psicológicos de uma participação regular nas suas actividades físicas e desportivas.

Uma outra questão é a de saber qual a natureza dos motivos que conduzem os nossos alunos à prática de actividades/modalidades do Desporto Escolar e quais as eventuais atribuições causais do seu sucesso no desporto.

Especificamente, interessa-nos verificar se as fontes de motivação para a prática desportiva se relacionam com razões de natureza competitiva, ou o invés, com razões de natureza recreativa e lúdica. Por outro lado, importa saber se os tipos de objectivos, em termos de causas do sucesso apontam para uma orientação predominantemente referenciada à competência/habilidade ou apontam para uma orientação centrada na tarefa, ou seja, relacionada com a motivação/esforço.

Para responder a estas questões, recorremos à caracterização demográfica de alguns dados dos nossos praticantes (e.g., frequência e horas de treino) e características individuais (e.g., sexo, idade), já que estas características desempenham um papel importante e determinante no seu comportamento em contextos desportivos escolares.

Objectivos gerais de estudo

Face ao exposto e colocadas algumas das questões a que nos propomos responder, apresentamos de seguida, os objectivos gerais do presente estudo:

Caracterizar o projecto de Desporto Escolar das escolas EB2/3 do Concelho do Porto em relação às modalidades/actividades lúdicas ou desportivas na ocupação dos tempos livres das crianças e jovens.

Identificar os motivos para a prática desportiva e a percepção das causas de sucesso no desporto em função das variáveis individuais: sexo, idade e nível de escolaridade e variáveis contextuais: modalidades/actividades do desporto escolar.

(18)

PRIMEIRA PARTE

REVISÃO DA LITERATURA

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Desporto Escolar

I

DESPORTO ESCOLAR

1.1: Perspectiva histórica

Ao longo deste século, no plano do desenvolvimento do sistema desportivo e política educativa Portuguesa, o Desporto Escolar foi uma das instituições desportivas mais "antigas" Pires (1991b), mas também um estranho tema, carregado de ideologia, no sentido mais amplo do termo, encerrando em si muitas das contradições, quer do próprio sistema de ensino, quer do sistema desportivo (Carvalho, 1987).

Para uma maior compreensão de todo o processo evolutivo e enquadramento institucional do desporto escolar, em termos estruturais e legislativo, pareceu-nos de extrema importância fazer uma abordagem sobre o seu passado histórico.

De acordo com Pires (1991b), a evolução do processo de desenvolvimento do desporto escolar sistematizou-se em oito períodos, aos quais Pina (1994) acrescentou um nono período.

No decurso dos sucessivos períodos, várias foram as perspectivas de desenvolvimento do desporto escolar, integrando modelos conceptuais e organizativos, quer no âmbito do sistema desportivo/federado, quer no âmbito do sistema educativo.

(20)

Desporto Escolar

Io Período - Livre Associativismo ou Modelo Federado

No início do século, o processo de desenvolvimento das práticas desportivas assentava em modelos de organização pouco consistentes, de realização esporádica e pontual, com objectivos idênticos para todos os praticantes, modalidades e organizações.

De destacar, neste período, a ocorrência dos Io jogos Olímpicos Nacionais e os Io

Campeonatos Desportivos Escolares de remo, respectivamente em 1910 e 1918 .

Com o decorrer do tempo e com o desenvolvimento das condições políticas e sociais, as práticas desportivas foram-se diferenciando e segmentando em vários sectores e, consequentemente construindo as bases do livre associativismo/federado e a configuração das práticas desportivas.

2o Período - Mocidade Portuguesa

Com base na Lei n° 1941 de 11 de Abril de 1936, base XI e Decreto Lei 27301 de 4 de Dezembro de 1936, a organização e o ideário Nacional da Mocidade Portuguesa, onde se dizia "será dada à mocidade portuguesa, uma organização nacional e pré-militar que estimule o desenvolvimento integral da sua capacidade física, a formação do carácter e devoção à Pátria e a coloque em condições de concorrer eficazmente para a sua defesa".

Esta organização, muita fundamentada na orgânica das juventudes hitlerianas e nas juventudes fascistas italianas, foi determinante na conceptualização e organização das

práticas desportivas corporais entre a juventude portuguesa (Brito, 1982).

O desporto foi usado decisiva e decididamente como instrumento da ideologia política do Estado Novo.

A doutrina nacionalista, moralista e militarista, ditou as obrigações e normas da arregimentação da juventude, influenciando fortemente as organizações e as práticas desportivas. O regime vigorou segundo o modelo institucional da Mocidade Portuguesa até 1973.

(21)

Desporto Escolar

3o Período - Direcção-Geral de Educação Física e Desportos

Iniciou-se com a criação de um novo estatuto e competência sobre a Educação Física e Desportos, através do dec.-lei n° 694/73 de 3 Março.

A eclosão do 25 de Abril e as mudanças operadas em todos os sectores da sociedade portuguesa, criaram novas expectativas no desenvolvimento do sistema desportivo. Mas, como refere Pires (1991b), o problema é que muita coisa foi mudada mas pouca coisa foi transformada.

4o Período - Separação Orgânica do Desporto Escolar

O Dec- Lei n° 694/74 de 5 de Dezembro criou a Direcção Geral de Desportos e regulamentou os pontos n° 4 e n° 6, separando o desporto escolar da educação física, remetendo esta para a Direcção Geral dos Ensino Básico e Direcção Geral do Ensino Secundário.

A Direcção Geral de Desportos apresentou o plano de desenvolvimento para o Desporto Escolar, caracterizando este como "um processo integrado em todo um conjunto de acções culturais, através da prática educativa, voluntária, amadora e não discriminada, das actividades desportivas, em regime de ocupação de tempos livres" (Ministério da Educação e Investigação Científica, 1976).

5o Período - 1 Governo Constitucional

Com a promulgação da Constituição Portuguesa em 1976, pelo I Governo Constitucional e, através de várias medidas legislativas aprovadas, verificando-se a passagem progressiva do desporto escolar da Direcção Geral dos Desportos para as Direcções Gerais Pedagógicas, intensificou-se o apoio ao desporto, como consta no Art. 79:

■ "Todos têm direito à cultura física e desporto."

■ "Incumbe ao Estado, em colaboração com as escolas e as associações e colectividades desportivas, promover, estimular, orientar e apoiar a prática e a difusão da cultura física e desportiva, bem como prevenir a violência no desporto".

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Desporto Escolar

6o Período - Direcções Gerais Pedagógicas

Por despacho Conjunto do Secretário de Estado de Administração Pedagógica e do Secretariado do Estado da Juventude e regulamentada pela Portaria n°438/78 de 2 de Agosto, são criados os serviços de coordenação de Educação Física e Desporto Escolar nas Direcções-Gerais de Ensino.

Esta estrutura foi coordenada, por um inspector superior de Educação Física, exercendo as suas funções em articulação estreita com as direcções gerais pedagógicas; inspectores distritais para o Desporto Escolar; coordenadores concelhios e Conselho Técnico Coordenador do Plano de Desenvolvimento da Direcção - Geral dos Desportos.

A falta de recursos e apoios de diversa ordem, entre os quais financeiros, colocados à disposição do organismo de Coordenação do Desporto Escolar, comprometeram drástica e penosamente a viabilidade da nova política desportiva, lançando o desporto escolar, na opinião de Pires (1991b), num dos períodos de maior displicência e irresponsabilidade que o sistema desportivo jamais viveu em Portugal.

Neste período negro e atribulado para o desporto escolar, sob a responsabilidade do XI governo constitucional, foram extintos, os serviços de Coordenação de Educação Física e Desporto Escolar.

7o Período - Direcção Geral dos Desportos (associativismo juvenil)

Neste período foi publicado o Dec- n° 150/86 del8 de Junho, atribuindo, de novo, à Direcção Geral de Desportos a coordenação e apoio das actividades não curriculares e, estabelecendo como matéria de desporto a articulação estreita com as políticas de ensino

e juventude como via para a recuperação do atraso a que o Desporto Escolar tem estado

sujeito.

Este período foi denominado de Associativismo Juvenil, e a sua dinamização assentava no movimento associativo, através do desenvolvimento de três projectos: Torneios abertos, Clubes de jovens e Férias desportivas.

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Desporto Escolar

8o Período - Lei de Bases do Sistema Educativo

No XI governo constitucional, o desporto escolar conheceu uma nova orientação, desencadeado pela Lei 46/86 de 14 de Outubro, colocando-o novamente no âmbito do sistema educativo. Segundo Pires (1991b) o então ministro da Educação, Roberto Carneiro, teve coragem e vontade política para enfrentar a burocracia instalada, e tirar da mediocridade e vil tristeza em que se encontrava, havia pelo menos 12 anos.

Pelo Despacho 87/ME/89, foi criado um Gabinete Coordenador do Desporto Escolar e, a lei n° 1/90 de 13 de Janeiro, veio confirmar a opção estratégia da política desportiva e educativa governamental, que no seu art.0 6 diz que "o Desporto Escolar

titula organização própria no âmbito do Sistema Desportivo e subordina-se aos quadros específicos do Sistema Educativo".

Através do Dec. Lei n° 95/91 de 26 de Fevereiro - pedra basilar do sistema Desportivo Escolar - e, na sequência do desenvolvimento do art. 59 da Lei de Bases do Sistema Educativo, foi dada resposta ao regime jurídico de educação física e do desporto escolar.

Este decreto Lei, mereceu a aprovação do Conselho Nacional da Educação, do Conselho Consultivo da Juventude e foi ratificado pela Assembleia da República e, define o desporto escolar como: O conjunto de práticas lúdico-desportivas e de formação com o objectivo desportivo, desenvolvidas como complemento curricular e ocupação dos tempos livres, num regime de liberdade de participação e de escolha, integradas no plano de actividades da escola e coordenadas no âmbito do sistema educativo.

As suas principais finalidades são permitir o acesso à educação e ao bem-estar físico através da prática desportiva orientada.

Pretende-se ainda promover a saúde bem como a educação moral , intelectual e social da juventude no respeito absoluto à individualidade e à diferença.

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Desporto Escolar

9o Período - Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento da Educação Física

e do Desporto Escolar (GTDEFDE)

Através do Despacho Conjunto l/EAM/SESE/92 de 8 de Janeiro é instituído um Grupo de Trabalho para o desenvolvimento da Educação Física e do Desporto Escolar (GTDEFDE).

De acordo com este despacho ainda não estavam reunidas as condições para aplicação do disposto no Dec.-Lei n° 95/91 de 26 de Fevereiro.

E interrompido o regime de experiência pedagógica criado pelo despacho n° 87/ME/89 de 30 de Maio e as estruturas e meios que estavam a ser geridos e coordenados pelo Gabinete Coordenador do Desporto Escolar, passam a funcionar na execução das medidas aprovadas e a desenvolver no âmbito do GTDEFDE e na dependência do Director-Geral dos Desportos.

Com base no Despacho n° 108 - A/ME/92 de 22 de Julho, é extinto o grupo de trabalho (GTDEFDE) e é nomeado um novo grupo de trabalho (Task Force) para funcionar junto do gabinete do Sr. Ministro da Educação.

Todavia, com a tomada de posse do XII Governo Constitucional, a ideia , o projecto e a vontade política manifestada pelo anterior Governo, foi posta em causa,

mergulhando o Desporto Escolar num novo impasse, privilegiando a organização de um

Sistema Desportivo baseado na medida, no recorde e no espectáculo em prejuízo do ensino e da generalização da prática desportiva.

1.2: Panorama Actual do Desporto Escolar

No período, de 1993 a 1995, surge uma alteração que tem a ver com a criação da Secretaria de Estado da Educação e Desporto (SEED), com o objectivo de tratar os assuntos relacionados com o Desporto, incluindo o Desporto Escolar, continuando este em funcionamento no quadro das estruturas do Sistema Educativo.

Com o Dec. Lei 143/93 de 26 de Abril, é criado o Instituto do Desporto (INDESP), ao qual compete "...apoiar as actividades desportivas no âmbito do Desporto Escolar..." e, mais concretamente com o Dec. Lei 115/95 de 29 de Maio, Art. 2.°, é da sua competência "coordenar, a nível nacional as actividades do Desporto Escolar e assegurar as correspondentes infra-estruturas e equipamentos".

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Desporto Escolar

Ao Gabinete de apoio do Desporto Escolar, compete apoiar as actividades do Desporto Escolar, em coordenação com as Direcções Regionais e os centros da Área Educativa, conforme a figura 1.

Figura 1: Modelo organizativo do Desporto Escolar

Direcções Regionais de Educação (DRE) Centros de Área Educativa (CAEs) ESCOLAS Delegados Regionais do INDESP Sub-delegados Regionais do INDESP

Presentemente, o Desporto Escolar tem assistido a um conjunto de medidas de natureza legislativa e a ideias e propostas, provenientes de vários especialistas e instituições, nacionais e internacionais, com responsabilidades, não só na área profissional mas também na formação e investigação em Educação Física e Desporto, favoráveis ao seu desenvolvimento qualitativo e quantitativo.

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Desporto Escolar

1.3. Actual enquadramento legislativo

Entre os diplomas legais que directamente se relacionam com o Desporto Escolar, em termos de organização conceptual e linhas orientadoras de desenvolvimento, desde a formação do núcleo na escola aos objectivos a atingir, são: (Pina, 1995, p.2)

■ Lei n° 46/86 de 14 de Outubro ( Lei de Bases do Sistema Educativo): As

actividades curriculares dos diferentes níveis de ensino devem ser complementadas por acções orientadas para a formação integral e a realização dos educandos no sentido da utilização criativa e formativa dos tempos livres. As actividades de complemento curricular visam, nomeadamente, o enriquecimento cultural e cívico, a Educação Física e Desportiva, a Educação Artística e a inserção dos educandos na comunidade.

■ Lei n° 1/90 de 13 de Janeiro (Lei de Bases do Sistema Desportivo): A prática do

desporto como actividade extra-curricular, quer no quadro da escola, quer em articulação com outras entidades com actuação no domínio do desporto, designadamente os clubes, é facilitada e estimulada tanto na perspectiva de complemento educativo como na ocupação formativa dos tempos livres.

■ Decreto-Lei n° 286/89 de 29 de Agosto (Reforma curricular ): No ponto um,

defende-se que para além das actividades curriculares, os estabelecimentos de ensino organizarão actividades de complemento curricular: de carácter facultativo, de natureza lúdica e cultural, visando a utilização criativa e formativa dos tempos livres dos educandos.

■ Decreto-Lei n° 43/89 de 3 de Fevereiro (Autonomia das Escolas): A autonomia

das escolas exerce-se através de competências próprias em vários domínios, como a gestão de currículos e programas e actividades de complemento curricular na orientação e acompanhamento dos alunos.

■ Lei n° 83/67 de 11 de Junho (Associação de Estudantes): A intervenção na

organização de actividades circum-escolares e do desporto escolar - Colaborar na gestão de espaços de convívio e desporto;

Decreto-Lei n° 95/91 de 26 de Fevereiro (Regime Jurídico da Educação Física e Desporto Escolar): Refere que a Educação Física se situa no quadro das actividades

curriculares e o Desporto Escolar carece de tratamento próprio, em virtude de se tratar de uma actividade de complemento curricular - Define o Desporto Escolar como o

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Desporto Escolar

conjunto de práticas lúdico- desportivas e de formação com objectivo desportivo, desenvolvidas como complemento curricular e ocupação dos tempos livres, num regime de liberdade de participação e de escolha, integrados no plano de actividades da escola e coordenadas no âmbito do Sistema Educativo.

Os diplomas abaixo descriminados, procuram concretizar o princípio de que o Desporto Escolar, inserido no Sistema Educativo, só poderá cumprir a sua função social e cultural se criar e mantiver relações adequadas de cooperação entre o Sistema Educativo (nomeadamente na ligação com a disciplina curricular de Educação Física e na participação em projectos educativos globais) e o Sistema Desportivo (nomeadamente na articulação estratégica com o Desporto Federado. (Programa do Desporto Escolar, 1998/99).

■ O Decreto-Lei n° 164/96 de 5 de Setembro: Que adequa as Leis Orgânicas do Instituto do Desporto e do Ministério da Educação ao estabelecido no Dec. Lei n° 296-A/95, de 17 de Novembro (Lei Orgânica do XIII Governo Constitucional); ■ O Decreto-Lei n° 165/96 de 5 de Setembro: Que cria o Gabinete Coordenador do

Desporto Escolar (GCDE);

■ O Dec. Lei n° 258/97 de 30 de Novembro: Que actualiza o regime legal da distribuição dos resultados da exploração do Totoloto, o que permite, pela primeira vez, o financiamento regular e autónomo do Desporto Escolar em relação à administração pública desportiva.

1.4. Conceito e finalidades

"A verdade é que o desporto escolar foi sempre entre nós um conceito mal definido e falho de uma teorização psicopedagógica capaz de esclarecer o seu objectivo próprio, os seus métodos e processos de trabalho, assim como justificar plenamente a sua integração bem individualizada no processo educativo global." Carvalho (1987, p.13).

Estas afirmações põem em relevo as contradições, ambiguidades e mal-entendidos em que o desporto escolar tem vivido a sua atribulada vida de confusão, conflito e insegurança.

Para este estado muito contribuiu a oposição de opiniões, que permanentemente invadem a instituição educativa e a disputa de ambos os sistemas, Sistema Educativo e

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Desporto Escolar

Sistema Desportivo pela tutela do desporto escolar. Pires (1991b) refere que não tem havido uma ideia, uma vontade e um projecto para o enquadrar e implementar, com força para ultrapassar o imobilismo e os interesses da burocracia.

O autor associa a falência da política desportiva à inexistência de um sistema coerente de ideias e de quadro conceptual próprio para o desporto, que envolva a formulação de um modelo de organização desportiva, adaptado aos recursos existentes e aos objectivos pretendidos.

Há uma falta de reconhecimento político e social do Estado relativamente ao significado do desporto e das finalidades da Cultura Desportiva na formação educativa e desenvolvimento humano. O desporto escolar deve ser entendido como um autêntico serviço público, com a missão de democratização e desenvolvimento da cultura e da educação, assegurando a definição de um estatuto e forma de organização (Carvalho, 1982).

Apesar do desporto escolar constituir uma actividade eminentemente social, de grande relevância educativa e de enraizamento junto da juventude, beneficiando da popularidade do mundo do desporto e suas práticas, o Estado nunca lhe reconheceu o verdadeiro significado, como meio de acção educativa, social e cultural.

Em termos globais, e sem se pretender aprofundar as contradições e incoerências, quanto à política desportiva e sua contextualização institucional no Sistema Educativo, no Sistema Desportivo ou em ambos, o desporto escolar e toda a sua estrutura conceptual e organizativa própria enquadra-se no processo de desenvolvimento dos alunos (crianças e jovens).

Os seus princípios de desenvolvimento referenciam-se a um desporto para todos, na perspectiva da generalização da prática e da cultura desportiva, de acordo com a pluralidade de interesses e motivos.

Não pode, por isso, existir somente um modelo organizativo. É necessário subordinar todas as formas de prática desportiva às necessidades da evolução dos alunos, respeitando as etapas de desenvolvimento, integrá-las numa estrutura diferenciada, em que todos possam encontrar resposta para as suas aspirações, interesses e preferências (Carvalho, 1987).

Na perspectiva de Bento (1991), o desporto escolar deverá ter como preocupação resolver o conflito entre as expectativas crescentes do rendimento e a perspectiva de servir de forma responsável e consciente a sua educação e formação.

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Desporto Escolar

Lima (1994) considera que as actividades lúdico-desportivas de carácter complementar ao currículo, por propiciarem movimento de forma livre e voluntária, constituem uma boa aposta no sentido de conferir credibilidade e valor às actividades físicas.

As finalidades a que o Desporto Escolar se propõe situam-se globalmente na satisfação do direito de todos os alunos e (não apenas dos mais dotados) terem acesso ao Desporto e no reforço da motivação para a prática, com vista à aquisição de um estilo de vida activa e saudável. Por esta razão, na organização e desenvolvimento das actividades, devem ser ponderados os aspectos referentes à saúde e bem estar, uma vez que constituem um dos meios de compensação dos efeitos nocivos dos estilos de vida da sociedade actual (Mota, 1995).

Reveste-se de primordial importância a concepção educativa de desporto escolar e as funções de ocupação do tempo livre na vida de cada um , a resposta generalizada às suas necessidades, interesses e motivações e a garantia de salvaguardar as suas diferenças fisiológicas, psicológicas e culturais.

O Desporto Escolar é um meio de educação (social, pessoal, civíca e cultural) e, como tal, deve estabelecer relações de carácter consubstancial com a disciplina de Educação Física (a substância é o desporto) e, do mesmo modo com as federações desportivas (competição educativa).

Pires (1991), a propósito da parceria com o desporto federado, considera que o Desporto Federado é de suma importante, tem de ser alimentado a montante pelo Desporto Escolar, numa perspectiva de desenvolvimento humano e não de crescimento. Ambos são duas faces da mesma moeda que se complementam afirmando-se, na realidade, como dois sectores de prática desportiva com culturas próprias que têm de ser preservadas.

A questão central do Desporto não é desportiva, mas sim educativa, Carvalho(1987) e as suas práticas como componentes fundamentais de crescimento, exploração e aventura, contribuem integralmente, para a construção da qualidade de vida, para o seu inalienável direito à educação, à saúde, à cultura, ao lazer e à felicidade" (Pires 1991).

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Desporto Escolar

1.5. O papel da escola no contexto do Desporto Escolar

A escola pode ser vista, como sugere Bento (1991), como uma oficina de humanidade e de humanização dos humanos, de enraizamento da liberdade, de aperfeiçoamento e aprofundamento da cidadania e da democracia, mas também polo dinamizador de educação e cultura no meio em que se insere e local onde podem e devem ser oferecidas experiências e competências em todas as parcelas da paisagem desportiva.

O desporto escolar é, do mesmo modo, um instrumento do sistema educativo e com tal deve ser desenvolvido na escola, baseado num projecto educativo, em relação estreita com o plano de actividades da escola e articulação e complementaridade com o trabalho de Educação Física, cujo modo de funcionamento é da responsabilidade do Presidente do órgão de Gestão da escola e coordenador do Desporto Escolar. Integra-se numa sociedade denominada sociedade de organizações (Sousa, 1990), entendida como uma organização social, inserida num contexto local, com uma identidade e culturas próprias, um espaço de autonomia a construir e a descobrir, susceptível de se materializar num projecto educativo.

O grau de optimização da escola , como organização, depende da sua capacidade de alimentar nas comunidades educativas a aspiração a padrões elevados de qualidade, de sentido e significado das suas acções e pugnar pela promoção da qualidade de educação (Bento, 1995).

Uma escola que responda, antes de mais, às necessidades e motivações das crianças e dos jovens e, para tal, há que proceder à sua inovação e transformação educativa e cultural, não se deixando arrastar pelo carácter selectivo e segregacionista da prática desportiva.

Por outro lado, a instituição escolar deverá estar dotada, quer a nível das infra-estruturas, quer a nível das super-infra-estruturas, de meios e de recursos mínimos que lhe permitam a operacionalização do tempo livre dos alunos (Lima, 1994).

O desporto escolar somente tem significado, se for integrado no contexto de uma escola inovadora, educativa e cultural, baseado num projecto educativo inovador, alicerçado e aberto à comunidade.

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Desporto Escolar

A escola é hoje, na verdade, um equipamento social básico e, a escola deve dispor ainda de esquemas funcionais de cooperação com o meio e utilizá-los correntemente, não se deixando insularizar socialmente (Carvalho, 1987).

A escola, como instituição educativa vai "...preparar o desenvolvimento do desporto para todos no quadro de uma política de saúde para todos, de cultura para todos, e de uma renovação da vida democrática (...) introduzir o desporto na educação não serve para nada se não se reformar ao mesmo tempo a instituição educativa, de tal modo que o desporto encontre nela o seu sentido." Belbenoit (1974, p.p. 186-187).

1.6. Clube do Desporto Escolar

A unidade organizativa de suporte, na qual se processam as práticas desportivas do Desporto Escolar, é o Clube do Desporto Escolar (CDE),

Os valores que o animam revestem-se de primordial importância, na senda do associativismo, com as suas características de participação colectiva e de compromisso individual responsabilizado, cujo modelo a seguir, não é a prática desportiva federada, a lógica da vitória a todo o custo, produção do campeão e descoberta do mesmo e só aqueles que têm classe, qualidade, dons... Carvalho (1987).

O Clube do Desporto Escolar integra-se na dimensão extralectiva do Clube Escolar e é o ponto de convergência de duas liberdades e duas vontades: a do aluno e a do professor.

As grandes linhas de força vocacionais e as grandes apetências de realização humana, residem na profundidade do ser do aluno e do professor que, no fundo, constituem a existência do Clube do Desporto Escolar (Patrício 1996).

A sua finalidade básica, é o desenvolvimento de actividades de natureza desportiva de âmbito bem definido, no quadro do plano de actividades educativas aprovado pelos órgãos de gestão pedagógica da Escola.

Os objectivos a que se propõe regem-se pelo princípio da liberdade que cada Escola pode criar, em cada ano escolar, os grupos/equipas que considere adequados e necessários e, em conformidade com o que determina a LBSE no n° 4 do artigo 48°: os alunos participam na organização e coordenação da actividade geral dos clubes, bem como na organização, desenvolvimento e avaliação das respectivas actividades correntes,

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Desporto Escolar

em condições e graus adequados às suas idades, estádio de desenvolvimento e nível de escolaridade.

Constituem o Clube de Desporto Escolar, para além do seu Presidente, o coordenador, todos os docentes intervenientes no Desporto Escolar que nele trabalhem, bem como todos os alunos que nele livremente se inscrevem, um representante da associação de estudantes, onde exista, um representante da associação de pais e encarregados de educação e um representante da autarquia local que, a título voluntário, o integrem.(programa do Desporto Escolar. 1998/99).

Em termos operacionais, o Clube de Desporto Escolar é estruturado por grupos/equipas das modalidades e disciplinas desportivas, do Quadro Competitivo Nacionais e Internacionais e Encontros Regionais e/ou Nacionais, incluídas ou não nos programas de Educação Física.

1.7. Desenvolvimento do Programa e Práticas Desportivas Escolares

O desporto escolar desenvolve-se com base num programa que é enviado a todos os estabelecimentos de ensino, oficiais e particulares, no início de cada ano lectivo.

Mais especificamente, a participação no processo de desporto escolar formaliza-se com a elaboração de um projecto de adesão de Escola enviado para aprovação à Direcção Regional de Educação a que pertence o respectivo estabelecimento de ensino.

A prática desportiva escolar desenvolve-se através de modalidades/actividades desportivas, podendo cada uma delas ter uma dinâmica específica em função do grupo alvo, dos objectivos que se pretendem atingir, dos meios existentes e dos condicionalismos organizativos (Programa do Desporto Escolar, 1998/99).

As acções lúdico-desportivas que o Desporto Escolar integra devem, na medida do possível, contemplar e dar resposta às motivações intrínsecas das crianças e jovens, proporcionando actividades individuais e colectivas e, satisfazendo os diferentes níveis de prestação motora e estrutura corporal dos alunos.

Os níveis de desenvolvimento das actividades do desporto escolar processam-se a dois níveis. Por um lado, a nível interno de acordo com o projecto e a dinâmica de cada escola, tais como: competições internas, campeonatos inter-turmas, dias ou semanas da modalidade, formação de dirigentes, colóquios, entre outros. A nível externo, através de

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Desporto Escolar

convívios e competições inter-escolas e de participação em quadros competitivos organizados pelas diferentes estruturas do sistema educativo ou do sistema desportivo.

A programação do Desporto Escolar, é legitimamente eclética, encontrando o praticante no Desporto Escolar, uma construção histórica/social de sentidos do desporto e ele próprio reconhece e descobre algo na sua acção (Bento, 1991).

A lista de possibilidades de sentido das práticas desportivas enquadram-se no plano de actividades de complemento curricular de educação do lazer, configuradas pedagogicamente e moldadas como meio de formação de crianças e jovens.

A liberdade é a condição «sine qua none», das possibilidades de formação destas actividades, assim como o princípio do rendimento, no sentido da auto-realização e empenhamento pessoal, expresso em comportamentos, em «ser» e «ter», num contexto de relações estreitas entre exigências, empenhamento, esforço, exercitação, rendimento, sucesso e personalidade (Bento 1991).

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Motivação para a prática desportiva e causas do sucesso no desporto

II

MOTIVAÇÃO PARA A PRÁTICA DESPORTIVA E CAUSAS DO

SUCESSO NO DESPORTO

2.1: Considerações gerais

A literatura sobre motivação é densa e diversificada, abarcando todo uma multiplicidade de teorias e estudos no âmbito da Psicologia, em geral, e da Psicologia do Desporto, em particular (Roberts, Spink e Pemberton, 1986).

A motivação constitui um dos grandes temas da Psicologia do Desporto internacional e contemporânea, e as suas dimensões sócio-cognitivas fazem parte das secções do principal livro de referência mundial da investigação em Psicologia do Desporto "Handbook of Research in Sport Psycology" (Singer, Murphey & Tennant,1993).

Biddle (1993), em análise ao conteúdo dos artigos publicados em duas das mais conceituadas revistas internacionais de psicologia do desporto (i.e., Internacional Journal of sport Psychology e Journal of Sport and Exercise Psychology - Journal of Sport Psychology até 1988), verificou que a temática da motivação foi notoriamente a mais referenciada.

Do mesmo modo, kleinginna e Kleinginna (1981, cit.Thill, 1989), face à importância associada à motivação na literatura especializada, analisaram 140

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Motivação para a prática desportiva e causas do sucesso no desporto

definições apresentadas e verificaram a generalidade de conceitos de motivação e de assuntos abordados relacionados com esta temática.

Entre os vários assuntos sobre a motivação (e.g., motivação intrínseca, orientações motivacionais, climas motivacionais), a temática relacionada com a atribuição que as pessoas elaboram para tentar interpretar e explicar aquilo que lhes sucede no seu dia a dia tem sido uma das mais investigadas e debatidas pelos psicológicos sociais nos últimos vinte anos (Hewstone & Fincham, 1996, cit. por Fonseca, 1999).

O estudo desta temática, identificada na literatura pelo termo de teoria da atribuição causal - significando atribuição a percepção ou inferência da causa (ver Kelley & Michela, 1980), estuda as regras, processos e mecanismos que as pessoas utilizam no seu esforço de compreensão dos acontecimentos e comportamentos quotidianos, com o objectivo de tornar inteligível a realidade que percepcionam e vivenciam, através da atribuição de causalidade aos factos (Formosinho & Pinto, 1987).

A atribuição causal é, segundo Alves, Brito & Serpa (1996: p.44) "...o modo como as pessoas explicam para si próprias os resultados que obtêm nas actividade a que se dedicam". Em contextos desportivos, estes autores referem que "a partir da atribuição que os atletas fazem dos seus resultados, decorre o comportamento subsequente, num processo que evolui do seguinte modo:

1. O atleta participa numa determinada competição;

2. No final da competição verifica-se um resultado que pode ser positivo ou negativo;

3. De forma natural o atleta analisa o modo como decorreu a competição e que conduziu ao resultado verificado;

4. A partir da análise efectuada, o jogador encontra uma explicação (atribuição) para o resultado que obteve;

5. A explicação encontrada poderá provocar no jogador um sentimento positivo de orgulho ou negativo de vergonha, bem como determinará a sua expectativa em relação ao próximo encontro,

6. A motivação para a competição seguinte está, assim, condicionada pelo modo como todo o processo se desenvolveu a partir da explicação encontrada pelo sujeito para o que aconteceu".

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Motivação para a prática desportiva e causas do sucesso no desporto

Assume-se, assim, que o modo como os indivíduos, neste caso os atletas, percepcionam e explicam os seus resultados apresenta uma relação com os comportamentos futuros, podendo a motivação, requisito fundamental para uma boa perfomance e sucesso desportivo, ser influenciada pelo processo atribuitivo (Carron, 1984).

Porém, esta necessidade de se compreender e explicar os diferentes níveis de motivação para uma determinada actividade conheceu ao longo dos tempos numerosas teorias da motivação adoptadas pelos investigadores para a realização dos seus estudos, para além da já referida teoria da atribuição.

2.2: Teorias da motivação

Roberts (1993) sublinha que a história das teorias da motivação tem-se focalizado na procura da "verdadeira" teoria. De uma perspectiva mecanicista (i.e., "Machine Metaphor") (Weiner, 1991), evolui-se para uma perspectiva Personalista (Teoria da realização motivacional) e depois para uma perspectiva social-cognitiva, (como é que as pessoas percebem os outros e a si próprias) (Fiske & Taylor, 1991, cit. Bidlle, 1993).

De acordo com Cruz (1996b, p.305), as teorias da motivação procuram responder a questões que se iniciam com um "porquê?". Ou seja, essas questões são contigentes de três dimensões do comportamento: (a) direcção ("porque é que certos indivíduos escolhem um desporto para praticar e não outro?") (b) intensidade ("porque é que certos indivíduos se esforçam mais ou jogam com mais intensidade do que outros?") e (c)

persistência ("porque é que determinados indivíduos continuam a sua prática desportiva

e outros a abandonam?").

Entre os modelos teóricos alternativos existentes da motivação, identificam-se quatro teorias com maior tradição nas investigações no contexto desportivo (ver Roberts

1992):

■ Teoria da realização das necessidades (Atkinson, 1957, 1958; McClelland, 1961, McClelland, Atkinson, Clark & Lowell, 1953);

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Motivação para a prática desportiva e causas do sucesso no desporto

■ Teoria das expectativas de reforço (Crandall, 1963, 1969); ■ Teorias cognitivas da motivação:

■ Teoria da atribuição (Weiner, 1979, 1986; Weiner et ai., 1971). ■ Teoria da auto-eficácia (Bandura, 1977, 1986);

■ Teoria da Percepção de Competência (Harter, 1975, 1980);

■ Teoria dos objectivos de realização ( Dweck, 1986, Dweck & Elliot, 1983, Maerh & Braskamp, 1986;Maerh & Nicholls, 1980; Nicholls, 1980,

1984d, 1989; Ames, 1992);

■ Modelo Integrado de Motivação no Desporto (Weiss, 1995, Weiss & Chaumeton, 1992, cit. por Cruz, 1996b);

2.2.1: Teorias cognitivas da motivação

Apesar de se considerar mais que um tipo distinto de teorias da motivação, as teorias cognitivas constituem o modelo determinante do estudo da motivação.

O objectivo destas teorias é estudar o modo como os indivíduos adquirem, representam e utilizam o conhecimento na avaliação do seu comportamento (Roberts,

1992).

Apesar de Tolman (1932) se referir ao modelo cognitivo duma forma elementar, o eclodir da investigação sobre a motivação com base nos mecanismos cognitivos ou do pensamento data dos finais dos anos 60, com os trabalhos de Harlow, 1968; Heider, 1958, White, 1959 e Mc Vicker-Hunt, 1965.

Foi com Weiner e colaboradores (1971) que as teorias cognitivas ganharam consistência, através das atribuições causais na compreensão da motivação e na percepção dos resultados.

A respeito das teorias cognitivistas, Fonseca (1993, p.10) refere que estas constituem "o suporte conceptual que permite aos investigadores arguirem em defesa do homem como ser não só reactivo (exclusivamente dependente de necessidades, como defendem as abordagens mecanicistas) mas também activo (estruturando o seu

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Motivação para a prática desportiva e causas do sucesso no desporto

comportamento com base, igualmente, nos produtos dos seus processos perceptivo-cognitivos)".

Nesta perspectiva, o estudo da motivação dos sujeitos pretende compreender e explicar os processos comportamentais através do conhecimento das representações cognitivas que os sujeitos possuem de si próprio e da situação.

2.3: Teoria da Atribuição

A teoria da Atribuição é, no âmbito da psicologia social e no contexto das teorias cognitivas da motivação, a que maior interesse tem congregado na comunidade cientifica nos últimos vinte anos.

A importância da teoria atribuicional, ao nível da psicologia do desporto, prende-se necessariamente com o conhecimento dos aspectos relacionados com o processo atribuicional dos atletas e a forma como eles interpretam as situações e os resultados que protagonizam, parecendo condicionar e influenciar os seus níveis motivacionais .

A este respeito, Alves, Brito & Serpa (1996, p.44) afirmaram que "de entre os processos condicionantes do desenvolvimento da motivação talvez o mais importante a gerir pelos técnicos seja a atribuição causal".

Do mesmo modo, Roberts, Spink e Pemberton (1986) consideram a maneira como os atletas percepcionam e explicam os seus resultados, uma relação com os seus comportamentos, podendo igualmente influenciar a sua motivação.

Este modelo assenta fundamentalmente no modo como os indivíduos explicam as emoções, os afectos e os comportamentos resultantes dos acontecimentos em que estão envolvidos e, analisam as consequências daquelas atribuições na determinação dos comportamentos subsequentes.

Todavia, o estudo das atribuições causais apenas se desenvolveu de forma consistente nas últimas décadas, já que até aos anos 60, somente um reduzido número de autores (e.g., Piaget, Heider) havia produzido algum trabalho no domínio da psicologia.

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Motivação para a prática desportiva e causas do sucesso no desporto

Na base das contribuições teóricas para o estudo das atribuições situam-se os trabalhos de Heider (1944, 1958) e no plano da formação de uma teoria geral da atribuição destacam-se entre outros, os trabalhos de Kelley (1967, 1972, 1973), Jones e Davis (1965), Weiner e colaboradores(1971) e Weiner (1979, 1986a).

Porém, com base na revisão da literatura produzida por Kelley e Michela (1980), mais de 900 estudos publicados entre os anos 70 e 80, não existe apenas uma teoria geral da atribuição, mas uma quantidade enorme de teorias relacionadas com os processos de atribuição. De acordo com estes autores, por exemplo e, em função do centro de interesses, distinguem-se dois tipos de teorias da atribuição: atributivas relacionadas com a manipulação dos antecedentes das atribuições (crenças, informação e motivação) e atribuicionais relacionadas com a manipulação das causas percebidas e avaliação dos seus efeitos nas emoções, expectativas e comportamentos.

2.3.1: Contributos para a teoria da atribuição

A origem e definição da teoria da atribuição baseada no modelo de análise "naive" da acção deve-se a Heider (1944, 1958).

Heider (1958, cit. por Hanrahan et. ai., 1989) refere que o indivíduo interage com o meio e tenta entender o motivo de certo acontecimento. Para organizar e implicar as suas experiências, as pessoas fazem atribuições para explicar as relações de causa e efeito.

Por outro lado, Heider (1958, cit.. por Ross & Fletcher, 1985) considera que existem semelhanças entre os objectivos e as actividades dos cientistas e das pessoas na vida diária. As pessoas tentam compreender, prever e controlar acontecimentos que os preocupam a partir da compreensão das causas dos resultados anteriores. As pessoas não se limitam a observar e a fixar mentalmente comportamentos e conhecimentos. Em vez disso, sujeitam o acontecimento observado a uma análise psicológica, para tentar compreender as suas causas. Afirmou, por sua vez, que existe uma predisposição das pessoas para realização de atribuições a causas estáveis e duradouras.

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Motivação para a prática desportiva e causas do sucesso no desporto

Os primeiros autores a procurarem desenvolver as ideias de Heider acerca das atribuições foram Jones e Davis (1965) com a criação da teoria das inferências, centrada no papel da informação e das crenças dos indivíduos no processo da atribuição causal.

Estes dois autores descreveram como uma pessoa deduz as intenções ou disposições de outra pessoa, através do seu comportamento. Afirmam que no processo de dedução de disposições existem duas etapas: atribuição da intenção - os observadores fazem atribuições disposicionais apenas com base nos comportamentos intencionais; atribuição da disposição - se um acto é julgado como intencional, então o observador tenta inferir a disposição pessoal que o causou (Ross & Fletcher, 1985).

Para além do contributo de Heider (1958) e Jones e Davis (1965) para a teoria da atribuição, há que referir, do mesmo modo o contributo de Kelley (1967). Este autor salientou a importância da experiência subjectiva de validade atribuicional, considerando não apenas a percepção social, mas também a autopercepção.

No entanto, foi com Weiner e colaboradores (1971) a partir fundamentalmente da análise de Heider, que se postulou que as pessoas, para explicar os seus resultados de sucesso e insucesso, recorrem a determinadas atribuições. Os indivíduos utilizam quatro elementos essenciais nas suas atribuições: capacidade, esforço, sorte e dificuldade da tarefa, agrupadas em três factores causais, factor de locus de causalidade (interna e externa), factor de estabilidade (estável e instável) e factor de controlo (controlo próprio e fora do controlo pessoal) (Weinberg & Gould 1995).

A respeito dos factores causais, Alves, Brito & Serpa (1996: p.45) consideram que a estabilidade, é estável "quando o indivíduo percepciona as causas como tendendo a permanecer constantes ao longo do tempo" e instável "quando as causas são percepcionadas como alteráveis". Quanto à causalidade, é interna "quando o indivíduo situa as causas do seu resultado em si próprias" e externa "quando o indivíduo explica o acontecimento por razões exteriores a si". Por fim, e no que respeita ao controlo, será

próprio "quando se tem influência sobre a situação" e fora do controlo pessoal

"quando não se pode influenciar a situação".

No entanto, a validade destes elementos causais levantou algumas reservas na explicação dos resultados em contextos desportivos, apesar de se terem revelado úteis nos estudos levados a cabo pelos investigadores desportivos. A existência e a ocorrência de outras causas em situações tão diversas não explicavam totalmente os

Referências

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