• Nenhum resultado encontrado

Renda da terra e acumulação de capital na formação e econômica do semiárido nordestino

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Renda da terra e acumulação de capital na formação e econômica do semiárido nordestino"

Copied!
19
0
0

Texto

(1)

RENDA DA TERRA E ACUMULAÇÃO DE CAPITAL NA FORMAÇÃO

SOCIAL E ECONÔMICA DO SEMIÁRIDO NORDESTINO

1

RESUMO

O presente artigo tem como perspectiva analisar a propriedade da terra na formação social e histórica do semiárido. Partindo de componentes do período colonial que viabilizaram o desenvolvimento de suas estruturas. Também, busca compreender tal realidade fazendo conexões com a literatura da renda da terra e renda fundiária categorias estruturadas pela economia política clássica.

PALAVRAS-CHAVE: acumulação de capital, semiárido e renda da terra2.

1. INTRODUÇÃO

A análise da atuação do capital no espaço rural está caracterizada, essencialmente, pelo combinado das atividades relacionadas aos fatores de produção terra e trabalho. O controle da propriedade da terra é um dos alvos da dinâmica do capital que se manifesta incondicionalmente sobre a perspectiva de formação de uma estrutura fundiária estática e com característica de concentração.

Na realidade, o conjunto de interesses do modo de produção capitalista busca, historicamente, instituir relações que visem separar os trabalhadores do campo, do espaço rural, dos principais condicionantes necessários a sua sobrevivência, ou seja, a penetração de relações capitalista na zona rural é acompanhada da separação dos trabalhadores rurais, das populações sertanejas do acesso a terra, dos recursos indispensáveis a reprodução da vida, transformando – os, em

trabalhadores assalariados sob condições de subordinação e precarizadas3.

1

Romilson do Carmo Moreira (Economista, mestre em Análise Regional. Professor da UNEB, Campus VII e da FACAPE.)

2

Este artigo foi baseado na capitulo 2 da minha dissertação de mestrado cujo tema foi “ Controle da Terra, posse da água e

acumulação de capital no semiárido baiano: uma abordagem institucional histórica”, foi apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional e Urbano da Universidade Salvador (Unifacs), no ano de 2006, sob orientação do professor Dr. Fernando Cardoso Pedrão.

3

São trabalhadores rurais classificados nas mais diversas categorias: posseiros, colonos, parceiros, arrendatários, moradores que no geral são transformados em proletários, em trabalhadores, quase sempre sem terra, à procura de trabalho não somente no campo, mas também na cidade. Nessas condições de reprodução e subordinação são conhecidas as condições dos trabalhadores avulsos em diversas regiões do país, conhecidos como “bóias-frias”, trabalhadores volantes ou clandestinos que operam sem garantia dos direitos trabalhistas ou qualquer amparo legal (MARTINS, 1991, 47).

(2)

O conjugado de relações instauradas, essa separação, é o que tecnicamente se chama de expropriação, pois, o trabalhador sertanejo no espaço rural perde o que lhe é próprio e essencial para sua sobrevivência de forma autônoma, perde a propriedade da terra, perde o controle dos instrumentos de trabalhos.

Nesse contexto, para sobreviver necessita vender sua força de trabalho, necessita subordina-se aos interesses e condições de quem tem o controle da terra, de quem tem o domínio do capital.

De acordo com Marx (2002), a instauração do divórcio entre o trabalhador e as coisas que necessita para a manutenção de sua subsistência, como a terra, os maquinários, as ferramentas e no caso, especifico do semiárido, as reservas de recursos hídricos e domínios de tecnologias para cultivar o solo, são as primeiras condições e os primeiros passos para que se materializem as condições favoráveis para o domínio e expansão do sistema capitalista no campo.

A propriedade da terra e suas diversas formas de concentração garantem ao capital a retirada e liquidação do produto excedente do trabalhador rural, ou seja, o estudo da concentração da propriedade fundiária denuncia a extração de sobretrabalho, de mais-valia. O monopólio da terra materializa para os interesses do capital renda da terra ou renda fundiária que é um tributo social pago, sob forma de trabalho que é garantido pelo uso da terra.

A investigação da renda fundiária na região mostra-se fundamental para compreender a composição da estrutura fundiária, como também, as diversas formas de articulação do capital no espaço rural. A renda da terra, ou renda fundiária é parte da mais-valia geral é a representação do conjunto das diversas modalidades do trabalho excedente não pago ao trabalhador sertanejo, agrícola que é apropriado pelo capitalista e/ou pelo proprietário das terras (MARX, 2002).

O presente artigo tem como propósito analisar as formas históricas de desenvolvimento do capital no espaço rural, em especifico no semiárido, relacionando o conjunto de interesses da acumulação de capital na propriedade da

(3)

terra e no controle das formas essenciais de produção de renda com a conseqüente expulsão e precarização do trabalhador sertanejo.

O artigo está dividido em três momentos. No primeiro momento aborda as origens remotas do processo de colonização, as relações que possibilitaram a formação da propriedade da terra. Em um segundo e terceiro momento busca subsídios na literatura histórica da economia política com os clássicos conceitos de renda da terra e renda fundiária, categorias desenvolvidas por David Ricardo e Karl Marx que aqui serão utilizadas para compreender a posse da terra e a manifestação do latifúndio na região.

2. A DINÂMICA DA ACUMULAÇÃO NO PERÍODO COLONIAL E O PROCESSO E FORMAÇÃO DA REGIÃO.

A análise do período colonial representa parte estratégica no entendimento do modelo de sociedade que se instaura na formação brasileira. As formas de interação e reprodução de riqueza estavam conectadas aos interesses exteriores, a dinâmica de formação e o fluxo comercial estavam representados pela figura do colonizador português e nas crescentes procuras por riquezas e produtos dos Países de clima tropical.

A mecânica de funcionamento da colônia conjugava interações distintas ao núcleo de interesses do colonizador, neste contexto, desenvolveram-se diversas atividades econômicas centradas no movimento de extração, de natureza agrícola ou exploratória. O cerne do desenvolvimento das atividades, quase sempre, representava a procura e realização de mercadorias, objetos, utensílios de significativa busca do mercado europeu. Fato que pode ser observado com a passagem abaixo.

De simples empresa espoliativa e extrativa – idêntica à que na mesma época estava sendo empreendida na costa da África e nas Índias Orientais – a América passa a constituir parte integrante da economia reprodutiva européia, cuja técnica e capitais nela se aplicam para criar de forma permanente um fluxo de bens destinados ao mercado europeu (FURTADO, 1989, p 8)

(4)

De acordo com Santos (1996), a forma social da produção, imposta ao novo mundo, só poderá se concentrar em produtos que se destinam ao mercado exterior, artigos com demanda garantida na Europa e que não concorressem com a produção metropolitana. Com isso, queremos dizer que o gênero colonial traz em si a complementaridade climática (pois é impossível produzi-lo na Europa) o que lhe garante a não-equivalência nas trocas, perfeitamente adequadas à acumulação mercantil, comprar barato para vender caro – requerendo ainda o monopólio sobre os circuitos mercantis, monopólio este, garantido pelos Estados Absolutistas europeus e facilitado pelos altos custos de transporte, que permitem o acesso somente aos grandes mercadores.

No espaço territorial brasileiro formou-se um modelo de geração de riqueza organizado pelo sistema colonial mercantil escravista. O que representava a utilização de um combinado de recursos do espaço colonial adicionado a significativa apropriação e utilização da mão - de - obra de alguns grupos, em especifico, os índios nativos no território colonizado e o africano escravizado.

Na realidade, os índios mostraram pouca afinidade as condições de trabalho forçado e a subjugação imposta pelo projeto da Coroa Portuguesa. As populações nativas mostraram-se refratárias e articularam formas de resistências que iam desde boicote ao trabalho escravo até fugas e rebeldias que resultavam em repressão e violência por parte do colonizador Português.

As populações indígenas, em um primeiro momento, foram utilizadas nas atividades de natureza extrativa como foi o caso da extração do pau-brasil; em seguida, houve uma tentativa de adaptação em trabalhos agrícolas e domésticos, entretanto, ocorreram diversos conflitos. De acordo com Faria (1994), os índios estariam mais propensos a desenvolver trabalho de natureza extrativa, situação explicada pela sua própria organização econômica que se baseava na coleta e nas atividades de pesca. Não se pode perder de vista, que as nações indígenas eram de habitação errante, ou seja, não estabeleciam moradias fixas.

Outros fatores tornaram custosos e dificultosos a utilização da mão-de-obra indígena, dentre eles, pode-se listar os seguintes: diminuição do contingente

(5)

populacional indígena causado por guerras contras os colonizadores e muitas doenças que dizimaram muitos índios, também, podendo citar a distância cada vez maior das aldeias quando fugiam do contato com o branco e seus aliados, embreando-se pelo sertão (WEHLING, 1994).

O estudo da cultura e da historia indígena representa fato relevante na compreensão da sociedade brasileira, os números estimados de sua população no início do período colonial, exatamente nos primórdios, mostravam uma população de aproximadamente, 6 milhões quando os portugueses aqui chegaram, estando significativa parte da sua população estabelecida no litoral. Entretanto, o contato com outras culturas e a continuidade de relações mostram-se devastadoras, de todo contingente populacional indígena restam, nos dias atuais, de 180 a 200 mil índios

(FARIA4,1994).

A introdução do negro africano escravizado5 como mão-de-obra deu-se

majoritariamente, na Bahia e em Pernambuco, no século XVI. Paulatinamente, os negros foram substituindo os índios nas atividades de plantações coloniais e nos trabalhos domésticos. A análise do trabalho escravo no período colonial é um elemento cheio de generalização, pois, todas as atividades desenvolvidas no espaço em formação tinham suas bases centradas na utilização do trabalho escravo (ANTONIL, 1982; WEHLING, 1994).

Os africanos escravizados trabalhavam nos canaviais, tratando dos roçados, do plantio e da colheita, nos engenhos, em atividades mais especializadas sob a orientação dos mestres do açúcar; nas lavouras do tabaco; nas minas de ouro e nas lavras de diamantes; nas fazendas de gado e nas charqueadas; e nas casas, como escravo doméstico, enfim o escravo representa os braços e os pés do senhor de engenho (ANTONIL, 1982).

4

Ver. FARIA, Sheila de Castro. A colonização em movimento: fortuna e família no cotidiano colonial (Sudeste, século XVIII). Rio de Janeiro, Universidade Federal Fluminense, 1994. (Tese de Doutorado).

5 A escravidão mais importante foi a dos africanos e de seus descendentes. Milhões de escravos entraram no Brasil, até o

século XIX, vindos da Guiné, Angola e Moçambique em três grandes levas, ou ciclos, do acordo com a procedência predominante: da Guiné no século XVI (entre 50 mil e 100 mil), de Angola no século XVII (cerca de 600 mil) e da costa da Mina no século XVIII (cerca de 1.3 milhão). A imprecisão dos dados relativos ao tráfico legal e a simples estimativa para os números do contrabando impede um censo inteiramente confiável: tais quantidades devem apontar apenas a dimensão e a tendência do tráfico e de suas correntes (WEHLING, 1994, p 192).

(6)

Em trabalho clássico6 sobre a colonização e as condições que regiam a lavoura da cana-de-açúcar no Brasil setecentista, Antonil faz a seguinte citação sobre a utilização e importação do trabalho escravo africano.

Os escravos são as mãos e os pés do senhor de engenho, por que sem eles no Brasil não é possível fazer, conservar e aumentar fazenda, nem ter engenho corrente. E de modo como se há com eles, depende tê-los bons ou maus para o serviço. Por isso, é necessário comprar cada ano algumas peças e reparti-las pelos partidos, roças, serrarias e barcas. E por que comumente são de nações diversas, e uns mais boçais que outros e de forças muitos diferentes, se há de fazer a repartição com reparo e escolha, e não à cega. Os que vêm para o Brasil são ardas, minas, congos, de São Tomé, de Angola, de Cabo Verde, e alguns de Moçambique que vêm nas naus da Índia. Os ardas e as minas são robustas. Os de Cabo Verde e de São Tomé são mais fraco. Os de Angola, criados em Luanda, são mais capazes de aprender ofícios mecânicos que os das outras partes já nomeadas. Entre os Congos, Há também alguns bastantes industriosos e bons não somente para o serviço da cana, mas para as oficinas e para o manuseio da casa (ANTONIL, 1982, p38).

As insurreições e revoltas eram elementos marcantes na condução da produção e nas relações escravistas da economia colonial. Os negros rebelavam-se contra as precárias condições de trabalho e aos constantes maus tratos, quase sempre, fugiam e muitas vezes escondiam-se nas matas, nas florestas ou em outros espaços que pudessem desenvolver uma sobrevivência em condições de liberdade e formar

família com outros africanos7.

A utilização da mão-de-obra das populações indígenas e africanas em condições de subjugação e escravidão era o alicerce do modelo de sociedade que se incorporava na gênese da formação social brasileira. Outros elementos combinavam-se ao movimento de formação de capital, organização e o domínio do espaço colonizado, dentre eles, faz-se necessário analisar as atividades econômicas e o controle de vastos lotes de terra.

O modelo de acumulação de capital da economia colonial tinha suas bases institucionais incorporadas na propriedade fundiária e na formação do latifúndio que cumpriam a dupla função de monopolizar a terra para uso agrícola e de

6

ANTONIL, André João. Cultura e opulência no Brasil. 3.ed. Belo Horizonte: Itatiaia/Edusp, 1982.

7

Os quilombos, os levantes nas fazendas, as fugas individuais ou em grupos, o assassinato de feitores e senhores e, muitas vezes, o próprio suicídio foram alguns aspectos das diversas formas que esses levantes assumiram no Brasil.

(7)

contingenciar a mão-de-obra escrava e livre para o trabalho nas plantações, nas minas e nas fazendas (FURTADO,1989; RIBEIRO, 1991).

Essencialmente, a produção de açúcar foi a atividade mais dinâmica e de maior interesse pelo capital mercantil, pois, operava com uma expressiva renda monetária em favor dos negócios da Coroa. Tal movimento atraía investimentos vultuosos para consolidação e produção do açúcar. Também, altos investimentos eram mobilizados para aquisição da mão-de-obra do escravo africano que trabalhava em diversas atividades do circuito da produção e comercialização do açúcar (ANTONIL, 1982; FURTADO 1989).

É importante ter em mente que a constituição da propriedade fundiária representava o fortalecimento e a expansão do plantio monocultura da cana-de-açúcar em vastas extensões de terras. Também, foram alocadas grandes quantidades de terras na atividade pecuarista de criação de animais na parte do sertão brasileiro (FURTADO 1989; PRADO, 2004).

De acordo com Furtado (1989), a atividade pecuária, criatório de animais, representava uma extensão da atividade da monocultura da cana-de-açúcar, ou seja, o desenvolvimento de atividade subsidiária de plantio de alimentos e subsistência, como também, da criação de animais na parte semi-árida nordestina, historicamente, esteve subordinada a economia da cana-de-açúcar que combinadas, conjugavam a captura de muitas terras e utilização da mão-de-obra escrava para viabilização de seus projetos de expansão.

A porção sertaneja da região nordestina foi um elemento conveniente aos interesses do capital agrário mercantil, pois, foi amplamente utilizado para produção de suprimentos e estoque de produtos alimentícios para sustentar a expansão da economia canavieira que se desenvolveu centrada nos alimentos produzidos, tais como, couro, carne seca, carne de gado e outras fontes disponíveis de alimentos.

Formou-se, assim, no sertão brasileiro, uma sociedade dominada por grandes latifúndios, cujos detentores quase sempre viviam em Olinda ou Salvador, delegando a administração da propriedade a empregados, e nas quais havia sítios

(8)

que eram aforados a pequenos criadores que implantavam currais. Era uma economia inteiramente voltada para um mercado distante, situado no litoral, para onde a mercadoria se autotransportava, em boiadas conduzidas por vaqueiros e tangedores, por centenas de léguas. No percurso havia pontos de repouso e de engorda, pois a caminhada provocava uma queda de peso dos animais (FURTADO 1989; ANDRADE, 1986).

Visitando literatura de Furtado (1989), percebe-se que a alta rentabilidade da produção açucareira, que levou à sua extrema especialização, foi a causa fundamental da expansão pastoril que proporcionou com a carne para alimento e o couro para utensílios, o complemento indispensável à monocultura. Permitiu ainda a resistência que o sistema açucareiro de produção sempre apresentou às crises, passando da euforia à fase vegetativa sem autoconsumir-se. Aquela alta rentabilidade induz, assim, o desenvolvimento pastoril, tornando-o um apêndice necessário à extrema especialização açucareira.

De acordo com Wehling (1994), a região nordestina durante o século XVI, em função dos projetos e interesses do capital mercantil teve um aumento significativo de suas

áreas da ordem de 4.700 km2 para 18.000 km2. As fazendas de gado representaram

importante fator de expansão territorial durante os séculos XVI e XVII, enquanto não se descobriu ouro no interior, não houve outro atrativo econômico suficientemente forte para a fixação das populações.

O açúcar, o Pau-Brasil, o tabaco e a agricultura de subsistência limitaram a colonização a, no máximo, algumas dezenas de quilômetros do litoral. Foi a introdução e o domínio da pecuária, ou seja, a criação do gado o fator da interiorização brasileira. No território baiano, o núcleo de destaque do eixo pecuarista foi o rio São Francisco, destacando-se como grande latifúndio e extensão de terras as famílias Guedes de Brito e Garcia d’Ávila.

Com o aumento dos rebanhos, as fazendas se-multiplicaram por todo rio, até a altura do Gurguéia e do Canindé, afluentes do rio Paraíba. No ano de 1670, Domingos Afonso Mafrense, criador ligado à casa da Torre, o latifúndio dos Garcia d’ Ávila, estabeleceu-se no que virá a ser o atual estado do Piauí (ANDRADE, 1988).

(9)

Como exemplo da expansão e formação da grande propriedade fundiária no espaço regional nordestino um estudo de Andrade (1986), relata o domínio e poderio dos Garcia d’ Ávila e dos seus descendentes que estabelecidos na casa-forte da baía de Tatuapera – a famosa Casa das Torres -, embora não desdenhasse as possibilidades de riquezas minerais, deram a maior importância ao gado, fato que pode ser bem compreendido com a citação a seguir.

Desde governo de Tomé de Souza, os Garcia d’ Ávila trataram de conseguir doações de terras, que cada vez mais penetravam o Sertão baiano, subindo o Itapicuru e o Rio Real, para alcançarem o Rio São Francisco. Nem este grande rio deteve a ambição, a fome de terras dos homens da Casa da Torre que, através dos seus vaqueiros e prepostos, estabeleceram currais na margem esquerda, pernambucana, por tanto, do Rio São Francisco e ocuparam grande parte dos sertões de Pernambuco e do Piauí, até no Cariri cearense pleitearam os homens da Casa da Torre o recebimento de terras, assim, constituíram os maiores latifúndios do Brasil, tornando-se senhores de uma extensão territorial maior do que muitos reinos europeus, pois, possuíam, em 1710, em nossos sertões, mais de 340 léguas de terras nas margens do Rio São Francisco (ANDRADE, 1986, p148)

Em síntese, pode-se perceber que o crescimento e consequente sucesso das atividades pecuarista tinham como alvo importante a produção de couro que era utilizado largamente pelas comunidades sertanejas e pelo colonizador, além de grande demanda pelo mercado europeu. Outro fator de sucesso e que viabilizou a expansão das atividades pecuárias foram às condições naturais que permitiram a multiplicação do rebanho: pastagens de regular ou boa qualidade, proximidade dos rios e presença de sal nos barrancos do rio São Francisco.

A realidade da ocupação da região nordestina e o seu conseqüente desenvolvimento via crescimento de atividade agrícola, pela cultura da cana-de-açúcar no litoral, como também, a expansão das atividades da pecuária e da criação de animais no seu semiárido esteve caracterizada pela plena ocupação das terras, sob forma de grandes latifúndios. Fato observado na passagem abaixo.

A concentração fundiária existente na região nordestina é conseqüência do caráter essencialmente comercial da agricultura da região, caráter esse, que se manifestou desde do início da colonização e que ainda hoje, apesar do crescimento sensível da classe média e do mercado interno, conseqüência da industrialização, é predominante. Seu domínio se manifesta através da proteção dispensada pelos órgão governamentais à

(10)

grande lavoura – cana-de-açúcar, ao café, ao cacau e como contradição, mostra total desprezo as lavouras de subsistência. A grande propriedade tem acesso ao crédito fácil, garantias de preços mínimos, assistência de estações experimentais, comercialização organizada , enquanto a pequena propriedade, geralmente destinada a culturas de subsistência são relegadas ao crédito de agiotas, as tremendas oscilações nos preços entre a safra e a entressafra e a ganância dos intermediários. Daí o florescimento constante da grande lavoura e, conseqüentemente, da grande propriedade fundiária (ANDRADE, 1986, p51).

Tal conjuntura histórica viabilizou uma estrutura agrária concentrada com constituição de latifúndios que permanece inalterada tendo implicações no padrão de vida das populações que residem na zona rural, ou seja, os trabalhadores sertanejos e do conjunto de suas famílias.

O censo agropecuário de 1996 revelou que 31.6% dos estabelecimentos rurais do país têm pelos menos 10ha e ocupam-se tão-somente as escassas áreas de 1,4%. Em contrapartida 1,5% dos estabelecimentos têm mais de 1000 ha e ocupam 52,1% da área total. O que denuncia uma estrutura de propriedade concentrada (ARAÚJO, 1997).

Na região nordestina8, o quadro da repartição de terra conserva as mesmas

características, os dados confirmam que a estrutura da composição fundiária nordestina aumentou. Em 1980, os estabelecimentos com menos de 100ha (94% do total) ocupavam 30% da área. Em 1990, essa participação caiu para 28%, ao mesmo tempo, que os estabelecimentos com mais de 1000ha (0.4% do total) aumentaram sua participação na área total de 27% em 1980 para 32% em 1990 (ARAÚJO, 1997).

3. ELEMENTOS TEÓRICOS DA ECONOMIA POLÍTICA DE MARX

No modo de produção capitalista a terra é transformada em mercadoria, a propriedade da terra significa renda capitalizada; é o direito de se apoderar de uma renda, que é uma fração da mais-valia social e, portanto, pagamento subtraído da

8

No semiárido, onde se reproduz a estrutura desigual do resto do Nordeste, a situação é agravada pela presença de “latifúndios maiores” , na região, a área média do 1% dos maiores estabelecimentos (1.914 Hectares, em 1985), é superior ao tamanho médio desses estabelecimentos no resto do Nordeste (1.002 Hectares). Na região o acesso a terra é feito através de arrendamento, parceria, caracterizando maior instabilidade, precarização e se registra maior presença de posseiros em comparação ao resto do nordeste (ARAÚJO, 1997, p 460).

(11)

sociedade em geral. Isso ocorre devido ao fato de que uma classe detém a propriedade da terra e só permite a sua utilização como meio de produção, arrendada ou não, através da cobrança de um tributo: a renda capitalista da terra. É por isso que, sob o capitalismo, a compra da terra é compra de renda antecipada (MARTINS, 1991).

Quando o sistema capitalista apropria-se da terra sob forma de monopólio, ou seja, quando se verifica a concentração da propriedade da terra sob determinados grupos (latifundiários) é assegurado ao capitalista o direito de cobrar da sociedade, no seu conjunto, um tributo pelo uso da terra, que é chamada de renda fundiária ou renda da terra.

A propriedade fundiária, no modo de produção capitalista, é renda capitalizada, é direito de se apoderar de uma renda, que é fração da mais-valia social e, portanto, pagamento subtraído da sociedade em geral (MARTINS, 1991). Fato que pode ser entendido com a passagem abaixo.

A terra, não é o único agente da natureza que possui capacidade produtiva, mas é o único ou quase o único de que um grupo de homens se apodera, à exclusão dos demais, apropriando-se de seus benefícios. As águas dos rios e do mar, pela capacidade de movimentarem nossas máquinas e de conduzir nossos barcos, sustentar nossos peixes, têm também uma capacidade produtiva; o vento que faz girar nossos moinhos, e até mesmo o calor do sol trabalham para nós, felizmente, porém, ninguém ainda foi capaz de dizer, o vento e o sol são meus, e o serviço que eles prestam devem ser pagos (SAY apud RICARDO, 1996, p51).

Para uma melhor compreensão dos interesses do modo de produção capitalista e nas suas diversas formas de controle e apropriação, tanto das atividades econômicas, como da posse e domínio econômico da terra, faz-se necessário visitar

a literatura Marx8 e seu entendimento sobre as formas de riqueza, via concentração

de terra, pelo sistema capitalista e sua lógica de acumular capital.

O processo de desenvolvimento do modo de produção capitalista tem necessariamente que ser entendido no seio das realidades históricas concretas, ou seja, no seio da formação econômico-social capitalista. O desenvolvimento do capitalismo é produto de um processo contraditório de reprodução capitalista

8

(12)

ampliada do capital, ou seja, o modo de produção não está circunscrito apenas à produção imediata, mas também à circulação, portanto, inclui também a troca de

mercadorias por dinheiro e, obviamente, de dinheiro por mercadoria (MAR9X, 2002).

Esse processo contraditório decorre do fato de que o modo de produção não é em essência um modo de produção de mercadoria no seu sentido restrito, entretanto,

trata-se de produção de mais-valia10, entendendo mais-valia, como: “trabalho social

excedente não pago de que se apropriam os proprietários dos meios de produção, sob forma de lucro e renda (MARX, 2002, p 209).

É interessante destacar, dentro da percepção Marxista da geração de riqueza, que o produto final não é mais-valia e sim mercadoria. Essa mercadoria que sai do processo produtivo contém, aprisiona mais-valia. Numa palavra, é na produção que a mais-valia é gerada, entretanto a sua realização só se dá na circulação da mercadoria, é na circulação que o capitalista converte a mercadoria em dinheiro, e, portanto apropria-se da mais-valia, que é, trabalho não pago (MARX, 2002)

Nesse processo ressalta-se, o movimento de rotação do capital. Esse desenvolvimento é fruto do seu princípio básico de geração e apropriação de renda ou trabalho excedente. O circuito D – M – D’ significa a conversão de dinheiro em mercadoria e reconversão de mercadoria em dinheiro.

O dinheiro que se movimenta transforma-se em capital, vira capital, através de uma relação social de produção. Ainda faz-se necessário tecer algumas considerações sobre D’, que significa D, acrescido, ou seja, a soma do dinheiro originário mais um acréscimo excedente sobre o valor primitivo, isto é, mais-valia (MARX, 2002).

10

A mais-valia é, em geral, um valor acima do equivalente. Equivalente, por definição, é somente a identidade do valor consigo mesmo. Aliás, do equivalente jamais provém a mais-valia, nem tampouco o processo de produção do capital surge, originariamente, da circulação. O mesmo problema pode ser expresso da seguinte maneira: se o trabalhador necessita apenas de meia jornada de trabalho para viver um dia inteiro, para continuar existindo como trabalhador necessita trabalhar apenas meio dia. A segunda metade da jornada de trabalho é trabalho forçado, trabalho excedente. Aquilo que, do ponto de vista do capital, se apresenta como mais-valia, apresenta-se do ponto de vista do trabalhador exatamente como o mais-trabalho que suplanta a quantidade de trabalho imediatamente necessária à manutenção da condição vital do trabalhador. O grande sentido histórico do capital é criar esse trabalho excedente ( MARX apud BARBOSA, 2004, p.192).

(13)

O lucro nesse contexto é representado pela transfiguração, metamorfose da fração da mais-valia nas mãos dos capitalistas, “A riqueza da sociedade onde rege a produção capitalista configura-se em imensa acumulação de mercadorias, e a mercadoria, isoladamente considerada, é a forma elementar dessa riqueza” (MARX, 2002 p.57).

No campo específico do objeto de estudo do presente trabalho, o sistema capitalista movimenta sua lógica de reprodução e acumulação de capital via o controle e posse da propriedade da terra e domínio social e econômico dos recursos disponíveis no espaço do semiárido nordestino.

A análise denuncia que a questão terra no território brasileiro, em específico no semiárido, tem duas faces combinadas: a expropriação e a exploração. Percebe-se, que há uma clara concentração da propriedade fundiária, mediante a qual os pequenos agricultores perderam ou deixaram a terra, que é seu principal instrumento de trabalho, em favor de grandes produtores.

O processo de expropriação e exploração constitui uma das principais características na lógica do crescimento e na reprodução de capital, ou seja, a expropriação, que significa a separação dos instrumentos de trabalhos do trabalhador é um componente essencial na compreensão da lógica de reprodução capitalista.

A expropriação do trabalhador pelo capital cria os mecanismos sociais para que esse mesmo capital passe para outra etapa, a outra face do seu processo de reprodução de capital, que é a exploração do mesmo trabalhador que já foi expropriado.

Cabe ressaltar nesse processo o papel do grileiro, o seja, a grilagem de terra é outro processo que revela esse caráter, o caminho gratuito do acesso à renda, do acesso ao direito antecipado de obter o pagamento da renda, sem mesmo ter sequer pago para poder auferi-la. Da mesma forma, porém revelando o sentido oposto, a posse é o ato de quem não quer pagar a renda ou não aceita a condição de que para produzir tenha que pagá-la (MARTINS, 1991).

(14)

O trabalhador sertanejo, sem os instrumentos de trabalho, sem acesso ao fator produtivo essencial para sua sobrevivência autônoma no campo que é a posse da terra, transforma-se em mercadoria, ou seja, na mercadoria força de trabalho, nessas condições, é obrigado (voluntariamente) a vender a sua força de trabalho ao capitalista, como um componente de processo produtivo, segundo as regras das leis de mercado que impõem um ritmo de exploração e relações precarizadas.

Segundo Marx (2002), o capital só pode se expandir, só pode se reproduzir, mediante a subjugação do trabalhador, por que somente o trabalho cria riqueza, por isso, um dos pressupostos básicos do capital é subordinar o trabalho. Não existe acumulação de capital sem controle do trabalho.

A propriedade do dinheiro, dos meios de subsistência, das máquinas e de outros conjuntos de meios de produção não transforma um homem em capitalista, se lhe falta o complemento, o trabalho assalariado, o outro homem que é forçado a vender-se a si mesmo voluntariamente “(Marx, 2002, pág 92)”.

Dessa forma, o proletário, o trabalhador do campo, vende sua força de trabalho ao capitalista. Mediante o salário, os frutos do seu trabalho aparecerão necessariamente como frutos do capital que o comprou, como propriedade capitalista, ou seja, como mercadoria. Para que isso ocorra é necessário separar o trabalhador dos instrumentos de trabalho; para evitar que o trabalhador trabalhe para si mesmo, isto é, para evitar que deixe de trabalhar para os capitalistas.

No quadro de relações instituídas social e historicamente a questão da posse da terra na região se-apresenta como componente dinamizador no processo de formação e acumulação de capital, pois, o seu controle e suas diversas formas de representação possibilitam aos proprietários ganhos adicionais. Ou seja, a mais-valia capturada representa a intensificação da exploração do conjunto dos trabalhadores despossuídos e pelo extenso controle de lotes de terras que liquidam renda fundiária.

(15)

4. A TEORIA DA RENDA DA TERRA

O estudo sobre a renda da terra foi desenvolvido originalmente pelo economista David Ricardo (1996) e posteriormente por Marx (2002) que desenvolveu outras abordagens. Alguns conceitos são relevantes para uma melhor compreensão sob a temática em questão.

Para Ricardo renda é a porção do produto da terra paga ao seu proprietário pelo uso das forças originais e indestrutíveis do solo. Freqüentemente seu termo é aplicado a qualquer pagamento anual de um agricultor ao proprietário pelo uso terra em que trabalha, e fica bem entendido com a passagem a seguir.

Se, de duas fazendas vizinhas com a mesma extensão e idêntica fertilidade natural, um contasse com todas as vantagens de edificações agrícolas, e se, além disso, estivesse devidamente drenada e adubada e adequadamente repartida por sebes, cercas e muros, enquanto a outra não apresentasse nenhuma dessas benfeitorias, naturalmente maior remuneração seria paga pelo uso da primeira; não obstante, em ambos os casos essa remuneração seria chamada de renda (RICARDO, 1996, p49).

Ricardo diferenciou o conceito de aluguel da terra e renda do solo, dando a teoria uma formulação clássica. Também, tomou como referência a Lei dos Rendimentos Decrescentes na agricultura que considera serem as terras mais férteis cultivadas antes que as terras menos férteis, ou seja, com o crescimento populacional tenderia a elevação dos preços de certos produtos agrícolas, esse aumento de preços possibilitaria a inclusão de terras, de segunda categoria, na produção de alimentos, o cultivo de terras menos férteis e o custo de produção seria mais elevado do que em terras mais férteis.

Dentro desse contexto, Ricardo observou que os arrendatários, que ao manterem, sob seu controle grande quantidade de terras sob forma de latifúndio, apropriariam-se dos maiores lucros independente do trabalho e do capital aplicado a terra. Essa diferença em seu favor, ou excedente sobre os custos de produção, constituiria a renda apropriada pelo proprietário. Assim, a renda de determinada terra seria a diferença entre o valor da colheita dessa área fértil e da colheita de outras menos férteis.

(16)

A esse rendimento suplementar, Ricardo conceitua de renda diferencial e na medida em que a população fosse aumentada e se elevasse a procura de alimentos, os preços desses alimentos aumentariam e as terras de terceiras categoria também

seriam cultivadas, as terras de segunda categoria passariam a gerar renda

diferencial, embora em proporção menor que a produzida pelas melhores terras.

Marx partindo das constatações de Ricardo desenvolveu com maior profundidade outros elementos da dinâmica capitalista no campo, ou seja, seus trabalhos apontaram o alvo dos interesses dos proprietários de terras que é o controle sob forma de latifúndio de grandes quantidades de terras, fato que se revela essencial para compreender os objetivos propostos pelo presente trabalho.

Na realidade, o espaço do semiárido nordestino configura-se como um componente estratégico da dinâmica capitalista no campo, pois viabiliza lucros suplementares extraordinários que são superiores ao lucro médio (CARVALHO, 1988).

A renda é uma categoria pré-capitalista que subsiste apenas por que o modo de produção capitalista não nasceu no vazio. A aliança de classes entre a burguesia nascente e a propriedade fundiária, de origem feudal ou camponesa, preenche as funções essenciais no processo de acumulação primitiva, ela conduz a extração na mais-valia em proveito desta classe de proprietário, denominada de renda absoluta (MARX, 2002).

Os proprietários de terras recebem a renda absoluta que deriva exclusivamente em decorrência do monopólio da propriedade privada da terra. A renda absoluta, categoria estudada por Marx, pode ser entendida pela diferença dada entre o valor e o preço da produção dos produtos, tal tipo de renda tem, pois, lugar em virtude de a agricultura, dentre outras características, apresentar uma composição orgânica do capital mais baixa do que a indústria e, conseqüentemente, um taxa de lucro superior a da indústria (MARX, 2002).

Pode-se compreender que a terra sob forma de monopólio limitada explica a renda absoluta. A terra, sob forma de monopólio de qualidade diferenciada, explica a renda diferencial. Assim, o mecanismo social que engendra a renda é unificado, e o

(17)

sobrelucro agrícola único. As duas formas de renda têm a mesma causa, ou seja, o monopólio relativo da terra (AMIN E VERGOPOULOS, 1977).

A parcela de mais-valia que não entra na igualação da taxa média de lucro é apropriada com exclusividade pelos proprietários de terras. Não são outras, portanto, na prática, as razões, pelas quais, arrendatários de terras beneficiadas pelo Estado, a exemplo das existentes no interior dos perímetros de irrigação ou em áreas de colonização, lutam para se tornarem proprietários, com exclusividade, dessas terras. Os capitalistas do setor industrial, os comerciantes e muitos profissionais liberais também, compram terras como propósitos semelhantes.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O debate proposto pelo presente estudo, embora não esgote totalmente a problemática, carrega o cerne da inquietação e do núcleo da questão no espaço do semiárido nordestino que são as contradições e as complexas relações pelo controle da posse da terra na região. O estudo capturou os elementos históricos e as contradições do processo de formação do semiárido à luz da dinâmica capitalista.

Na realidade, a compreensão da problemática na região esta intimamente atrelada ao conjugado de relações pela posse da terra, sob forma de latifúndio e pelo controle dos trabalhadores que, historicamente, são separados dos fatores de produção essências para a sua sobrevivência. O estudo demonstrou com a exposição e auxílio da literatura da economia política clássica os reais motivos causadores da concentração e controle da posse da terra na região.

A terra no controle dos grupos capitalista, proprietários de terras, latifundiários viabiliza lucros, captura de mais-valia sob condições especiais, principalmente, quando conjugadas as condições climáticas na região. Nesse contexto de expropriação e condições adversas o trabalhador do campo e o conjunto de famílias sertanejas buscam formas alternativas de sobrevivências, quase sempre, formas precarizadas de baixo valor monetários criando um quadro de pobreza e exclusão social.

(18)

A questão das migrações e do êxodo rural no semiárido nordestino representa o acirramento da problemática, visto que, numa conjuntura de grande estiagem, períodos longos sem chuvas as famílias dos trabalhadores do campo esgotam as mínimas possibilidades de estratégias de sobrevivências.

Por fim, sugiro as seguintes indagações: quais os reais caminhos e possibilidades de inserção do semiárido nordestino, de fortalecimento das atividades do pequeno produtor do campo no contexto das relações capitalistas? Quais os caminhos e perspectivas de fortalecimento das atividades de convivência com o semiárido no contexto da complexa estrutura e controle da terra na região?

Sugiro ainda pensar, no contexto desse cenário, a possibilidade, também, de relações fundadas no trabalho humano, na negação da exploração, no fortalecimento da identidade de classe, no controle do excedente pelo conjunto dos trabalhadores e das famílias sertanejas. Sugiro pensar uma utopia social, sugiro pensar a utopia social do legado marxista.

6. REFERÊNCIAS:

ANDRADE, Manuel Correia de. A terra e o homem no nordeste. 5.ed. São Paulo: Atlas,

ANDRADE, Manuel Correia de. O Nordeste e a Questão Regional. Recife: Àtica, 1988.

ARÚJO, Tânia Barcelar. A promoção do desenvolvimento das forças produtivas no Nordeste: da visão do GTDN aos desafios presentes. Revista Econômica do

Nordeste, Fortaleza. V.28, n. 4, p. 451-467., out/dez. 1997

AMIN, Samir; VERGOPOULOS, Kostas. A questão agrária e o capitalismo. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1977.

ANTONIL, André João. Cultura e Opulência no Brasil. 3.ed. Belo Horizonte: Itatiaia/Edusp, 1982.

BARBOSA, Diva V. N. Os impactos da seca de 1993 no semiárido baiano – o caso de Irecê. Salvador: Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia, 1993. (Séries Estudos e Pesquisas, 51).

(19)

BARBOSA, Wilmar do Vale. O materialismo histórico. In: Curso de filosofia para

professores e alunos dos cursos de segundo grau e graduação/ Antônio

Resende (Organizador). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004. pág. 101-116.

CARVALHO, Otamar de. A Economia Política do Nordeste: secas, irrigação e desenvolvimento. São Paulo: Campus, 1988.

CARVALHO, Otamar de; SANTOS, José Aldo dos. Oficina do Semiárido: contribuição da “nova SUDENE” para o desenvolvimento da região semi-árida do nordeste. Recife: Ministério da Integração Nacional, 2003.

FARIA, Sheila de Castro. A colonização em movimento: fortuna e família no cotidiano colonial (Sudeste, século XVIII). Rio de Janeiro, Universidade Federal Fluminense, 1994. (Tese de Doutorado).

MARTINS, José de Souza. O cativeiro da terra. São Paulo: Ática, 1991.

MARTINS, José de SOUZA. Expropriação e violência: a questão política no campo. São Paulo: Hucitec, 1991

MARX, KARL. O Capital: crítica da economia política. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002. Livro 1

MARX, KARL. O Capital: crítica da economia política. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002. Livro III

MOREIRA, Romilson do Carmo. Controle da terra, posse da água e acumulação

de capital no Semiárido baiano: uma abordagem institucional histórica.

Dissertação Mestrado em Análise Regional. Salvador: UNIFACS, 2006.

PRADO JÚNIOR, Caio. História econômica do Brasil. São Paulo: Brasiliense, 2004.

RIBEIRO, Darcy. Os brasileiros. Teoria do Brasil. Petrópolis: Editora Vozes, 1991. RICARDO, David. Princípios de economia política e tributação. São Paulo: Abril Cultural, 1996. (Coleção os economistas)

FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. São Paulo: Nacional, 1989. WHELING, Arno. Formação do Brasil Colonial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994.

ARÚJO, Tânia Barcelar. A promoção do desenvolvimento das forças produtivas no Nordeste: da visão do GTDN aos desafios presentes. Revista Econômica do

Nordeste, Fortaleza. V.28, n. 4, p. 451-467., out/dez. 1997

AMIN, Samir; VERGOPOULOS, Kostas. A questão agrária e o capitalismo. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1977.

Referências

Documentos relacionados

Crisóstomo (2001) apresenta elementos que devem ser considerados em relação a esta decisão. Ao adquirir soluções externas, usualmente, a equipe da empresa ainda tem um árduo

[...] além de alfabetizar, educar o povo para a racionalidade imposta pela lógica da produção, a escola passa a cumprir um papel importante nesse controle como

Todavia, o que se observa é uma nova relação entre empregado e empregador; assim, fica evidente que há uma aliança entre ambos, a qual estimula o trabalhador a fazer seu trabalho de

Estudos sobre privação de sono sugerem que neurônios da área pré-óptica lateral e do núcleo pré-óptico lateral se- jam também responsáveis pelos mecanismos que regulam o

Como parte de uma composição musi- cal integral, o recorte pode ser feito de modo a ser reconheci- do como parte da composição (por exemplo, quando a trilha apresenta um intérprete

This clinical decision support system could be based on multiple models, tested in this work, like logistic regression and Bayesian networks using naïve Bayes and tree

Considerando a amplitude da rede mundial de computadores (internet) e a dificuldade em controlar as informações prestadas e transmitidas pelos usuários, surge o grande desafio da

A democratização do acesso às tecnologias digitais permitiu uma significativa expansão na educação no Brasil, acontecimento decisivo no percurso de uma nação em