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Elaboração e avaliação do fator ambiental análise de riscos em estudos de impacte ambiental de projetos industriais do setor da transformação e da energia

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Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

ELABORAÇÃO E AVALIAÇÃO DO FATOR AMBIENTAL ANÁLISE DE RISCOS EM ESTUDOS DE IMPACTE AMBIENTAL DE PROJETOS INDUSTRIAIS DO SETOR DA TRANSFORMAÇÃO E DA ENERGIA

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM ENGENHARIA DO AMBIENTE

Sara Raquel Crespo Capela

Prof.ª Doutora Margarida Maria Correia Marques

(Departamento de Biologia e Ambiente, Escola de Ciências da Vida e do Ambiente, UTAD)

Arquiteta Ana Cristina Russo Teixeira (Agência Portuguesa do Ambiente)

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Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

ELABORAÇÃO E AVALIAÇÃO DO FATOR AMBIENTAL ANÁLISE DE RISCOS EM ESTUDOS DE IMPACTE AMBIENTAL DE PROJETOS INDUSTRIAIS DO SETOR DA TRANSFORMAÇÃO E DA ENERGIA

Dissertação de Mestrado em Engenharia do Ambiente

Sara Raquel Crespo Capela

Orientação:

Prof.ª Doutora Margarida Maria Correia Marques Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Arquiteta Ana Cristina Russo Teixeira

Agência Portuguesa do Ambiente

Composição do Júri:

Presidente Professora Doutora Edna Carla J. Cabecinha da Câmara Sampaio Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Vogais Professor Doutor Nelson Augusto de Azevedo Barros Universidade Fernando Pessoa

Professor Doutor Manuel Joaquim Sabença Feliciano Instituto Politécnico de Bragança

Professora Doutora Margarida Maria Correia Marques Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Arquiteta Ana Cristina Russo Teixeira Agência Portuguesa do Ambiente

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As ideias expressas na presente Dissertação são da inteira responsabilidade da Autora do documento.

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AGRADECIMENTOS

A realização deste trabalho exigiu da minha parte uma entrega que inevitavelmente ocupou o meu tempo livre e o meu tempo de trabalho.

Assim, em primeiro lugar quero manifestar o meu agradecimento ao meu marido, Rui, por ter sido tudo o que eu precisava que ele fosse durante este período: paciente, incentivador e crítico.

Aos meus Pais (Manuel e Benilde), irmã (Susi) e cunhado (Lúcio), quero manifestar o meu profundo agradecimento por acreditarem nas minhas capacidades e manifestarem interesse contínuo pelo meu trabalho.

Aos meus colegas de trabalho (Alexandre e Maria José), por terem com o seu empenho fantástico, permitido que me afastasse um pouco dos meus deveres laborais para dar cumprimento ao meu objetivo e naturalmente aos meus superiores (Carlos Pedro e Nelson), por permitirem que eu o fizesse. A estes últimos tenho ainda que agradecer o incentivo dado para que eu concretizasse este objetivo e o apoio incondicional.

Não posso deixar de dar um agradecimento especial ao Nelson e ao Alexandre por terem partilhado comigo a sua experiência académica e terem dado conselhos essenciais para o desenvolvimento e melhoria deste projeto.

Por fim, cabe-me agradecer à minha orientadora, Professora Doutora Margarida Marques por me ter apresentado um tema muito aliciante na área da Avaliação de Riscos Ambientais, que tanto enriqueceu o meu conhecimento. Para além disso, tenho a agradecer a disponibilidade demonstrada e apoio manifestado principalmente na fase final deste percurso, assim como a contínua manifestação de confiança nas minhas capacidades e palavras de incentivo ao meu trabalho. À minha coorientadora, Arq. Cristina Russo, tenho a agradecer a disponibilidade dos estudos que serviram de base ao trabalho realizado e o apoio demonstrado.

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RESUMO

Durante a construção, exploração e desativação de uma indústria podem ocorrer acidentes graves com consequências profundas ao nível do ambiente, da população e do património local, surgindo assim a necessidade de realizar uma avaliação do risco potencial das indústrias. Assim, considera-se que a Avaliação dos Riscos Ambientais em indústrias em fase de Estudo de Impacte Ambiental (EIA) é um passo necessário e relevante para a tomada de decisão dos intervenientes no processo.

Atualmente ainda existem lacunas de conhecimento que dificultam a realização destas avaliações em fase de EIA, como a falta de consenso sobre os métodos a aplicar, a dificuldade na definição dos cenários de acidente ou ainda a ausência de critérios de aceitação e tolerância ao risco.

Desta forma, considera-se pertinente a criação de uma metodologia de Avaliação de Riscos aplicável a indústrias em processo de Avaliação de Impacte Ambiental (AIA), que sirva de suporte à equipa que realiza o estudo e à Comissão de Avaliação (CA), tendo por base a informação recolhida em EIA de indústrias realizados a nível nacional, os métodos de avaliação de risco existentes, que constituam normas técnicas com carácter legal ou que sejam apenas de carácter informativo, a nível internacional. O presente estudo pretende assim, apresentar uma metodologia que abrange os setores da indústria transformadora e de produção de eletricidade de origem térmica.

O primeiro passo da metodologia de Avaliação de Riscos definida neste trabalho para as fases de construção e exploração de um projeto industrial passa pela Caraterização Ambiental da zona de intervenção e envolvente próxima.

O segundo passo consiste na Caracterização do Projeto, que inclui a descrição do projeto, a identificação e quantificação das substâncias perigosas, a identificação das fontes de risco internas e externas e das medidas de contenção e prevenção de acidentes graves. Na fase de exploração deve ainda considerar-se a análise estatística do registo histórico de acidentes.

O terceiro passo da metodologia proposta diz respeito apenas à fase de exploração, e consiste na Avaliação Preliminar de Riscos (definição dos cenários de acidente aplicando as técnicas adequadas e classificação do risco desses cenários com base na relação entre a probabilidade e severidade determinadas para o risco).

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Por fim, em ambas as fases do estudo deve ser aplicada a Avaliação Quantitativa dos Riscos Ambientais, que consiste na avaliação das consequências dos cenários de acidente grave para a população, ecossistemas e património que possam ocorrer durante a construção e exploração do projeto industrial (libertação de substâncias tóxicas, inflamáveis e/ou explosivas), utilizando softwares adequados à situação em análise, com a descrição dos pressupostos assumidos e a justificação das opções tomadas ao longo do estudo.

O processo de Avaliação de Riscos da fase de desativação deve assentar essencialmente na monitorização e acompanhamento dos solos e massas de água existentes no perímetro fabril e envolvente próxima, de modo a despistar indícios de contaminação das substâncias perigosas existentes na instalação durante o seu funcionamento.

Palavras-chave: Análise de Riscos Ambientais, Estudo de Impacte Ambiental, Acidentes

industriais graves, Indústria de transformação, Indústria de produção de eletricidade de origem térmica

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Preparation and Evaluation of Environmental Risks Analysis in Environmental Impact Assessments of Manufacturing and Thermal Energy Industries Projects

ABSTRACT

During construction, exploitation and deactivation of an industry it may occur accidents with serious damage on the environment, population and local properties. In this way, it is very important the assessment of the potential risk in industries, in the Environmental Impact Study (EIS), as a relevant step for the decision making process.

At present, there are still knowledge gaps that bring difficulties for the risk assessment in EIS, as the non consensus about Risk Analysis methods applied, the difficulty of definition of accident scenarios or the lack of criteria on tolerability and acceptance of risks.

In this way, it is relevant the elaboration of a methodology of Risk Assessment applicable to industries in Environmental Impact Assessment (EIA) process, as a support to the working team and the Scientific Commission that assess it, considering all the gathered information in EIS of national industries and the existing risk assessment methods (legal or informative international technical standards). So, the aim of this study is the presentation of a methodology for risk assessment that covers the manufacturing and thermal energy sectors of industry.

The first step of the Risk Assessment Methodology defined in this work for the construction and exploitation phases is the Environmental Characterization of the layout area and vicinity.

The second step consists in the Project Characterization, which includes de Project description, the hazard substances identification and quantification, the internal and external risk sources identification and the accident preventing measures identification. In the exploiting phase it must be also considered the statistic analysis of accidents databases.

The third step of the proposed methodology refers to exploitation phase only, and consists into Preliminary Risks Analysis (accident scenarios definition applying the adequate techniques and risk classification regarding the relation between the risks probability and severity).

For last, must be applied the Quantitative Risk Analysis, that consists in the evaluation of the effects on population, ecosystems and properties from accidental releases of hazardous substances (toxic, inflammable and explosive substances) occurred during the construction or

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exploitation of the industrial project, applying adequate software, with the assumptions and all the options token during the study justified.

The risk assessment procedure for deactivation phase consists in the monitoring and assessment of local soil and water, as a form to verify the contamination level of the hazardous substances used and stored in the factory during the working period.

Keywords: Environmental Risk Analysis, Environmental Impact Study, Serious Industrial Accidents, Manufacturing Industry and Thermal Energy Industry.

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LISTA DE ABREVIATURAS

AEGL Acute Exposure Guideline Levels AIA Avaliação de Impacte Ambiental ALARP As Low as Reasonably Practicable APA Agência Portuguesa do Ambiente, I.P. APR Análise Preliminar de Riscos

AQR Avaliação Quantitativa de Riscos

ARAMIS Accidental Risk Assessment Methodology for IndustrieS ARIP Accidental Release Information Program

BLEVE Boiling Liquid Expanding Vapour Explosion CA Comissão de Avaliação

CAE Classificação das Atividades Económicas CCC Central de Ciclo Combinado

CLC Corine Land Cover

CLP/GHS Classification, Labeling and Packaging of substances and mixtures to the Global Harmonized System

CPPS Center for Chemical Process Safety CSB Chemical Safety Board

DGAE Direção Geral das Atividades Económicas DIA Declaração de Impacte Ambiental

EEA European Environment Agency EIA Estudo de Impacte Ambiental

EPA Environmental Protection Authority of Australia ERPG Emergency Response Planning Guideline

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FACTS Failure and ACcidents Technical information System FMEA Failure Mode Effect Analysis

GPL Gás Petróleo Liquefeito HAZOP Hazard and Operability Study

HHRAP Human Health Risk Assessment Protocol

ICNB Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, I.P. IGAOT Inspeção Geral do Ambiente e do Ordenamento do Território INAG Instituto da Água, I.P.

MAHB Major Accident Hazards Bureau MARS Major Accident Reporting System MHIDAS Major Hazards Incident Data Service

NPR Número de Prioridade de Risco

PHAST Process Hazard Analyses Sofwtare Tool

RA Responsabilidade Ambiental

RECAPE Relatório de Conformidade Ambiental do Projeto de Execução RIP Resíduos Industriais Perigosos

RNT Resumo Não Técnico

SNIRH Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos UNEP United Nations Environment Program

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ÍNDICE

ÍNDICE DE FIGURAS ...xiii

ÍNDICE DE TABELAS ...xiii

1 I N T R O D U Ç Ã O ... 1

2 E S T A D O D E A R T E D A A N Á L I S E D E R I S C O A M B I E N T A L ... 5

2.1 CONCEITOS INERENTES ... 5

2.2 ENQUADRAMENTO LEGAL, NORMATIVO E INFORMATIVO ... 6

2.2.1 Decreto-Lei nº 254/2007, de 12 de Julho ... 6

2.2.2 Diretiva 2012/18/UE, de 4 de Julho de 2012 ... 8

2.2.3 Decreto-Lei nº 147/2008, de 29 de Julho ... 10

2.2.4 ISO 31000:2009 – Gestão de Riscos – Princípios e Diretrizes ... 12

2.2.5 AS/NZS 4360:2004 - Gestão de Risco... 12

2.2.6 Norma Espanhola UNE 150008:2008 ... 15

2.2.7 Cadernos Técnicos PROCIV #1 ... 18

2.3 MÉTODOS E FERRAMENTAS DE AVALIAÇÃO DE RISCOS... 23

2.3.1 Failure Mode and Effect Analyses (FMEA) ... 23

2.3.2 Análise Preliminar de Riscos (APR) ... 24

2.3.3 Accidental Risck Assessment Methodology for Industries (ARAMIS) ... 25

2.3.4 Método Hazard and Operability (HAZOP) ... 26

2.3.5 Árvore de Falhas ... 26

2.3.6 Modelo PHAST ... 27

2.3.7 Modelo Proteus ... 28

2.4 ANÁLISE DE RISCOS NO PROCESSO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTE AMBIENTAL ... 30

3 RISCO AMBIENTAL NO SETOR INDUSTRIAL ... 35

3.1 CARACTERIZAÇÃO DO SETOR INDUSTRIAL EM PORTUGAL ... 35

3.1.1 Evolução da Indústria em Portugal ... 35

3.1.2 Distribuição geográfica da indústria transformadora e de produção de eletricidade de origem térmica em Portugal ... 36

3.2 DESCRIÇÃODAS FONTES DE RISCO, DOS PERIGOS E RISCOS ASSOCIADOS À ATIVIDADE INDUSTRIAL38 3.2.1 Fontes de risco ... 39

3.2.2 Perigos associados a substâncias ... 40

3.3 DESCRIÇÃODOS RISCOS DE ACIDENTE ASSOCIADOS À CONSTRUÇÃO DE UMA UNIDADE FABRIL ... 42

3.4 DESCRIÇÃODOS RISCOS DE ACIDENTE ASSOCIADOS À DESATIVAÇÃO DE UMA UNIDADE FABRIL... 43

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4.1 ANÁLISE DOS RELATÓRIOS DE ESTUDOS DE IMPACTE AMBIENTAL ... 46

4.1.1 EIA da Ampliação da CUF – Químicos Industriais ... 46

4.1.2 EIA da Ampliação da DOW Portugal ... 49

4.1.3 EIA da Central de Ciclo Combinado de Taveiro ... 51

4.1.4 EIA da Cogeração do Barreiro ... 53

4.1.5 EIA da Co-Incineração de RIP na Fábrica da Secil-Outão ... 54

4.1.6 EIA do Projeto de Conversão da Refinaria do Porto ... 57

4.1.7 EIA da Expansão do Complexo Petroquímico da Repsol ... 60

4.1.8 EIA da Ampliação da Fábrica de Resinosos e Derivados da EuroYser ... 62

4.2 SÍNTESE CONCLUSIVA DA ANÁLISE DOS RELATÓRIOS DE EIA ... 63

5 METODOLOGIA PROPOSTA PARA A ANÁLISE DE RISCOS NO EIA ... 67

5.1 FASE DE CONSTRUÇÃO E DE EXPLORAÇÃO ... 68

5.1.1 Caracterização Ambiental ... 71

5.1.2 Caracterização do projeto nas fases de construção e exploração ... 74

5.1.3 Avaliação Preliminar de Riscos ... 78

5.1.4 Avaliação Quantitativa dos Riscos Ambientais ... 83

5.1.5 Verificação dos pontos-chave da metodologia de Avaliação de Riscos ... 91

5.2 FASE DE DESATIVAÇÃO ... 93

5.3 ANÁLISE CRITICA ... 94

5.4 ESTRUTURA PROPOSTA PARA O GUIA METODOLÓGICO ... 96

6 S Í N T E S E C O N C L U S I V A ... 99 7 R E F E R Ê N C I A S B I B L I O G R Á F I C A S ... 101 A N E X O – GU I A ME T O D O L Ó G I C O P A R A A EL A B O R A Ç Ã O E AV A L I A Ç Ã O D O FA T O R AM B I E N T A L AN Á L I S E D E RI S C O S E M ES T U D O S D E IM P A C T E AM B I E N T A L. CA S O D E ES T U D O – IN D Ú S T R I A S D O S E C T O R D A T R A N S F O R M A Ç Ã O E D O S U B S E C T O R D A PR O D U Ç Ã O D E EL E T R I C I D A D E D E O R I G E M T É R M I C A. ... 105

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 2-1 – Percurso normativo relativo à gestão de riscos de acidentes industriais graves (adaptado de IGAOT,

2008) ... 9

Figura 2-2 - Processo iterativo para identificar, avaliar e gerir o risco ambiental (adaptado da UNE 150008:2008) .. 16

Figura 2-3 – Desenvolvimento do método FMEA aplicado à Análise de Riscos (adaptado de Moura, 2000) ... 24

Figura 2-4 – Processo de AIA em Portugal ... 31

Figura 5-1 – Processo de Avaliação de Risco proposto para a Fase de Construção das indústrias do setor da Transformação e da Energia ... 69

Figura 5-2 – Processo de Avaliação de Risco proposto para a Fase de Exploração das indústrias do setor da Transformação e da Energia ... 70

Figura 5-3 – Diagrama da Análise das Consequências de Acidentes Industriais (adaptado da EEA – Environmental Risk Assessment, 1998) ... 85

ÍNDICE DE TABELAS Tabela 2-1 – Objetivo, âmbito de aplicação e obrigações da indústria segundo os documentos legais identificados para a Análise de Risco ... 21

Tabela 2-2 – Principais características das ferramentas aplicadas na Análise de Risco ... 29

Tabela 4-1 – Resumo da Análise dos relatórios de Análise de Risco dos Estudos de Impacte Ambiental ... 65

Tabela 5-1 – Classificação da frequência do risco ... 80

Tabela 5-2 – Classificação da severidade do risco ... 81

Tabela 5-3 – Categorias de risco ... 83

Tabela 5-4 – Matriz de classificação de risco (Adaptado de ISO 31010:2009) ... 83

Tabela 5-5 – Critérios de avaliação da exposição à radiação térmica gerada por um incêndio ... 88

Tabela 5-6 – Critérios de avaliação da exposição à sobrepressão gerada por uma explosão ... 89

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I N T R O D U Ç Ã O

1 I N T R O D U Ç Ã O

Durante o funcionamento de uma indústria podem ocorrer acidentes graves com consequências profundas ao nível do ambiente, da população (colaboradores e habitantes) e do património local, surgindo assim a necessidade de realizar uma avaliação do risco potencial das indústrias.

De facto, foi a ocorrência de acidentes graves, quer na Europa quer noutras regiões do mundo, e a análise das consequências dos mesmos que estiveram na origem da legislação comunitária existente atualmente (Ver Figura 2-1) (IGAOT,2008).

Alguns dos principais acidentes industriais da história Mundial ocorreram há décadas atrás, como o acidente na fábrica Nypro, em Flixborough, Inglaterra, sucedido a 1 de Junho de 1974, devido a uma fuga de cerca de 30 toneladas de ciclohexano, que resultou numa explosão de grandes dimensões (a nuvem de vapor produziu uma deflagração, que libertou uma quantidade de energia equivalente a cerca de 16 toneladas de TNT). Morreram 28 trabalhadores e 36 sofreram ferimentos graves, tendo sido registados 53 feridos fora do estabelecimento (CPPS, 2005).

Também na Europa, mas em Seveso, no norte de Itália, a 9 de Julho de 1976 ocorreu a libertação de uma densa nuvem de vapor contendo cerca de 2 kg de TCDD (dioxina), uma substância carcinogénica e bastante tóxica, numa fábrica de pesticidas e herbicidas. Cerca de 2000 pessoas foram tratadas devido a envenenamento por dioxinas e verificou-se a morte de mais de 3000 animais (Velosa, 2007).

Em 1984, na cidade Bhopal, na Índia, 40 toneladas de gás tóxico (metil de isocianeto,) foram libertados da fábrica de pesticidas Union Carbide India Limited, resultando na morte de milhares de pessoas, por inalação do gás (Greenpeace, 2012).

Ainda no ano de 1984, mas na cidade de San Juan Ixhuatepec (Mexico), uma série de explosões seguidas de fogo destruíram um largo número de reservatórios de GPL (Gás Petróleo Liquefeito), causando a morte a 503 pessoas (Darbra et al, 2010).

Em Toulouse (França), no ano 2001, ocorreu uma explosão de nitrato de amónia na fábrica AZF, que devastou as instalações e diversos bairros residenciais vizinhos, provocando a morte de 29 pessoas e ferindo várias centenas (Parlamento Europeu, 2004).

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I N T R O D U Ç Ã O

reservatórios da refinaria, e que se estendeu às áreas circundantes, tendo destruído várias casas e provocado a morte a dezenas de pessoas.

Desde a altura em que os primeiros acidentes ocorreram até aos dias hoje foram desenvolvidas ações, que passam pela criação de legislação específica para Avaliação de Riscos e pela inclusão desta análise na Avaliação de Impacte Ambiental (AIA) de novos projetos. A realização da Análise de Risco a uma Unidade Industrial em fase de Estudo de Impacte Ambiental (EIA) permite a adoção de medidas corretivas e preventivas ainda antes do início de exploração da mesma, evitando-se, desta forma, os erros cometidos nos acontecimentos acima descritos. A Análise de Riscos efetuada à fase de construção permite adotar um programa de obras que minimize os riscos normalmente associados, principalmente quando se tratam de instalações já em funcionamento.

De realçar que a elaboração de uma Avaliação de Riscos Ambientais de uma indústria em fase de projeto se confronta com a ausência de informação detalhada sobre o funcionamento do mesmo, limitando assim, muitas vezes, o desenvolvimento do estudo até aos níveis desejados (Kontic e Gerbec, 2009).

Atualmente ainda existem lacunas de conhecimento que dificultam a realização destas avaliações em fase de EIA, como a falta de consenso sobre os métodos de Avaliação de Riscos a aplicar (determinísticos, probabilísticos, ou ambos), a dificuldade na definição dos cenários de acidente ou ainda a ausência de critérios de aceitação e tolerância ao risco, para que se possa concluir sobre a decisão de permissão ou não, de exploração de um projeto (Kontic e Gerbec, 2009). As lacunas referidas podem ser colmatadas pela criação de um guia técnico de suporte à equipa que realiza o estudo e à comissão científica que o avalia.

O objetivo deste estudo é propor uma metodologia de avaliação de riscos aplicável a indústrias dos setores da transformação e da produção da eletricidade de origem térmica em processo de AIA, tendo por base a informação recolhida em EIA de indústrias realizados a nível nacional, e as metodologias de avaliação de risco selecionadas, que constituam normas técnicas com carácter legal ou que sejam de carácter informativo, a nível internacional. A seleção dos setores industriais teve por base a disponibilidade de estudos para análise.

Pretende-se ainda criar um guia técnico, disponível para a equipa que elabora o EIA e para a Comissão de Avaliação (CA), acreditando-se que a implementação da metodologia proposta no

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I N T R O D U Ç Ã O

âmbito da presente dissertação permitirá uma melhoria e agilização do processo de AIA, com diminuição do tempo de resposta de ambas as partes envolvidas.

O âmbito do presente estudo abrange as fases de construção, exploração e desativação da indústria. A metodologia definida para as fases de construção e exploração tem em conta a avaliação de riscos em fase de EIA, enquanto que a metodologia para a fase de desativação consiste principalmente na elaboração de um plano de monitorização ambiental adequado após o encerramento da instalação.

No presente trabalho o termo indústria é visto como todas as atividades operacionais diretamente relacionadas com o funcionamento da instalação, excluindo, desta forma, as atividades indiretas como o transporte de material de e para fora da unidade.

O presente relatório é constituído por seis capítulos principais e um anexo, antecedidos de um sumário executivo apresentado nas línguas inglesa e portuguesa.

O presente capítulo constitui o primeiro capítulo (capítulo I) e apresenta a introdução ao estudo no âmbito da dissertação de Mestrado.

No capítulo II é apresentado o Estado de Arte, onde são definidos conceitos fundamentais ao entendimento do processo de Avaliação de Riscos, é efetuado um enquadramento legal e apresentados métodos e ferramentas de Avaliação de Riscos. É igualmente efetuada a caracterização do processo de AIA em Portugal e do modo como se enquadra atualmente a Análise de Risco neste processo. A revisão do estado atual do processo de Avaliação de Riscos Ambientais a nível nacional e internacional constitui o ponto de partida para o trabalho desenvolvido nesta dissertação.

No capítulo III é relacionado o conceito de risco ambiental e indústria. Primeiramente é efetuada uma caracterização do setor industrial em Portugal, quer ao nível da evolução que tem sofrido ao longo das últimas décadas, quer ao nível da distribuição geográfica. Posteriormente, são identificadas as principais fontes de risco associadas à atividade industrial e os perigos e riscos inerentes, com base na pesquisa bibliográfica efetuada. O trabalho realizado neste ponto permitiu ganhar conhecimentos ao nível do risco na indústria, úteis quer na análise dos EIA, quer na elaboração adequada da metodologia de Avaliação de Riscos Ambientais.

No capítulo IV é abordada a análise de riscos nos EIA em Portugal, tendo por base oito relatórios de EIA do registo histórico da Agência Portuguesa do Ambiente, I.P. (APA), que

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I N T R O D U Ç Ã O

abrangem duas instalações do Setor da Produção de Eletricidade e seis do Setor da Indústria Transformadora. A análise dos oito relatórios de EIA teve como principal objetivo a recolha de informação acerca das metodologias seguidas e dos softwares aplicados e a perceção da variabilidade entre os estudos, quer no que diz respeito à sua elaboração, quer no que diz respeito à sua análise por parte da CA.

No capítulo V é apresentada a metodologia proposta para a Análise de Riscos nos EIA, que servirá de base ao guia técnico. Neste capítulo pretende-se ainda realizar uma análise crítica, ou reflexão sobre a temática, onde se pretende evidenciar os pontos fortes e fracos da Avaliação de Riscos Ambientais aplicada presentemente a indústrias dos setores abrangidos nesta dissertação (transformação e energia).

No Capítulo VI são efetuadas as conclusões do trabalho realizado.

Em anexo é apresentado o Guia Técnico à elaboração e avaliação do fator ambiental Análise de Riscos de atividades industriais dos setores da transformação e produção de eletricidade de origem térmica a integrar o respetivo EIA.

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E S T A D O D E A R T E D A A N Á L I S E D E R I S C O A M B I E N T A L

2 E S T A D O D E A R T E D A A N Á L I S E D E R I S C O A M B I E N T A L

2.1 CONCEITOS INERENTES

Considera-se necessário a definição de conceitos que irão ser usados ao longo do relatório, e cuja total compreensão é necessária ao entendimento do estudo realizado.

Assim, a análise de risco ambiental pode definir-se como sendo o processo realizado para determinar e quantificar os perigos para o ambiente de uma atividade e designar as medidas de gestão do risco (Houdijk, 2012). A análise de risco ambiental de uma indústria é o processo aplicado a uma atividade fabril existente, ou em vias de ser instalada.

A gestão do risco, segundo a Norma AS/NZS 4360:2004, é um processo dinâmico que uma organização adota de forma a manter os níveis de risco dentro de limites considerados aceitáveis, e que inclui a identificação, a análise, a classificação e o tratamento dos riscos da atividade prevendo em todas as fases a comunicação e consulta. É um processo sujeito a monitorização e revisão, de modo a que esteja sempre atualizado e otimizado.

O risco pode ser definido como o produto da probabilidade de ocorrência de um evento (cenário de acidente) e a potencial consequência negativa do mesmo sobre o ambiente natural, humano e sócio-económico (UNE 150008:2008). O conceito de risco pode também ser traduzido pela seguinte fórmula de cálculo (Houdijk, 2012):

= × × çã ×

O perigo é um conceito que por vezes se confunde com risco, mas que tem um significado distinto. O perigo, segundo o Decreto-Lei nº 254/2007 é “a propriedade intrínseca de uma substância perigosa ou de uma situação física suscetível de provocar danos à saúde humana ou ao ambiente”. O risco, como visto anteriormente relaciona o perigo com outras varáveis, como a probabilidade e a vulnerabilidade do meio recetor.

Um acidente, no contexto do risco ambiental, pode ser definido como uma emissão de uma ou mais substâncias perigosas, que pode ser seguida de um incêndio ou de uma explosão de graves proporções, resultante do desenvolvimento não controlado de processos durante o

Vulnerabilidade do ambiente Impacte

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E S T A D O D E A R T E D A A N Á L I S E D E R I S C O A M B I E N T A L funcionamento de um estabelecimento, e que provoque um perigo grave, imediato ou retardado, para a saúde humana ou para o ambiente (adaptado do Decreto-Lei nº 254/2007, de 12 de Julho).

O efeito dominó é um fenómeno que ocorre quando os efeitos físicos gerados num acidente são capazes de, por sua vez, causar dano em equipamentos próximos, produzindo novos efeitos adversos incrementando dessa forma os efeitos do acidente inicial (Dabra et al, 2010)

Como fator ambiental podemos entender qualquer componente do ambiente (atmosfera, água, solos, etc) que pode ser afetado pelas ações de construção, exploração e desativação de um projeto (UNE 150008:2008).

2.2 ENQUADRAMENTO LEGAL, NORMATIVO E INFORMATIVO

A Análise de Riscos apesar de enquadrada na legislação relativa ao processo de AIA deve seguir as indicações da legislação específica existente para a atividade da instalação fabril em estudo.

Devem ser avaliados não apenas os documentos legais e normativos existentes a nível nacional, mas também aplicáveis a nível internacional.

Neste subcapítulo são apresentados os documentos legais, normativos, ou informativos (documentos que apesar de não apresentarem obrigatoriedade, são documentos de referência) relacionados com a temática em estudo.

No final da apresentação e descrição dos referidos documentos é apresentada uma tabela comparativa que evidencia as diferenças entre os mesmos, ao nível do objetivo, âmbito de aplicação e obrigações da indústria ao nível da Análise de Riscos (Tabela 2-1).

2.2.1 Decreto-Lei nº 254/2007, de 12 de Julho

O Decreto-Lei nº 254/2007 estabelece o regime de prevenção de acidentes graves que envolvam substâncias perigosas e a limitação das suas consequências para o homem e o ambiente, transpondo para o direito interno a Diretiva nº 2003/105/CE, de 16 de Dezembro (que altera a Diretiva nº 96/82/CE), relativa ao controlo dos perigos associados a acidentes graves que envolvam substâncias perigosas (adiante designada por Diretiva Seveso II). Convém realçar que a 12 de Julho de 2012 foi publicada a Diretiva 2012/18/EU, do Parlamento Europeu e do Conselho, também chamada Diretiva Seveso III, com vista a revogar a Diretiva Seveso II e que será alvo de análise no subcapítulo 2.2.2.

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E S T A D O D E A R T E D A A N Á L I S E D E R I S C O A M B I E N T A L O Decreto-Lei atualmente em vigor é aplicável a estabelecimentos que armazenem e manuseiem substâncias, misturas ou resíduos, cuja libertação descontrolada pode originar um incêndio, uma explosão, uma nuvem tóxica ou um derrame com contaminação do meio. No Anexo I deste documento são estipulados os limiares inferiores e superiores de quantidade armazenada de substâncias perigosas, a partir dos quais os estabelecimentos se podem considerar abrangidos por esta legislação. Os estabelecimentos que apresentem quantidades das substâncias listadas superiores aos limiares mais elevados (coluna 3) são considerados estabelecimentos industriais de nível superior de perigosidade, e os que apresentarem quantidades inferiores a esse valor, mas superiores ao limiar mais reduzido (coluna 2) são estabelecimentos industriais de nível inferior de perigosidade.

A APA publicou uma lista dos estabelecimentos nacionais atualmente abrangidos pelos níveis superior e inferior de perigosidade do Decreto-Lei nº 254/2007, a 1 de Junho de 2011. Nesta lista encontra-se 130 estabelecimentos no nível inferior de perigosidade e 60 no nível superior de perigosidade.

A Análise de Riscos efetuada a instalações que se encontrem abrangidas pelo referido documento legal terá em linha de conta as exigências aí estabelecidas, contudo, este documento não estabelece uma metodologia que deva ser seguida em fase de Análise de Riscos, obrigando apenas o operador a:

• Apresentar uma notificação antes da construção do estabelecimento, que inclui, entre outras coisas, a quantidade de material perigoso armazenada, o estado físico da mesma e uma descrição da envolvente com identificação dos pontos sensíveis de causar um acidente grave. Esta notificação deve, em caso de se tratar de um edifício novo, ser elaborada e entregue na entidade legal antes da construção do mesmo.

• Elaborar uma política de prevenção de acidentes graves.

Os estabelecimentos de nível superior de perigosidade devem ainda elaborar um relatório de segurança, que contenha informações relativas à indústria (inventário das substâncias perigosas), e à descrição da sua envolvente, assim como a política de prevenção de acidentes graves envolvendo substâncias perigosas do estabelecimento e todas as informações sobre o sistema de gestão e sobre a organização que visem essa mesma prevenção. O relatório deve demonstrar o comprometimento e empenho da empresa na adoção das medidas preventivas e o

(21)

E S T A D O D E A R T E D A A N Á L I S E D E R I S C O A M B I E N T A L total conhecimento dos perigos de acidente grave envolvendo substâncias perigosas e a respetiva divulgação às autoridades competentes, para que estas possam elaborar o Plano de Emergência Externo e tomar decisões sobre a implantação de novas atividades ou adaptações em torno de estabelecimentos existentes.

Quer o relatório de segurança, quer a política de prevenção e a notificação, podem e devem ser estabelecidos tendo por base a Análise de Riscos efetuada em fase de EIA.

Contudo, apenas uma pequena parte das instalações fabris atualmente instaladas ou que ainda se venham a instalar no território nacional são abrangidas pelo Decreto-Lei que transpõe a Diretiva Seveso. A APA lista as indústrias que se encontram abrangidas pelo decreto-Lei nº 254/2007, em termos do limite inferior e superior de perigosidade. Esta lista mostra que em Portugal, atualmente, há 130 e 60 estabelecimentos cujas quantidades de substâncias perigosas armazenadas excedem, respetivamente, os limiares inferior e superior de perigosidade.

2.2.2 Diretiva 2012/18/UE, de 4 de Julho de 2012

A 12 de Julho de 2012, foi publicada a Diretiva 2012/18/EU, do Parlamento Europeu e do Conselho, também chamada Diretiva Seveso III, relativa à prevenção de acidentes graves envolvendo substâncias perigosas, com vista à revogação da Diretiva Seveso II. Foi estabelecida a data limite de 01 de Junho 2015 para a entrada em vigor do diploma a nível nacional.

Os principais aspetos inerentes à filosofia Seveso II mantêm-se, sendo o objetivo principal da Diretiva Seveso III alinhar o Anexo I com o novo regime de classificação de substâncias e misturas (Regulamento CE nº 1272/2008 – CLP). Dentro deste âmbito foi necessário converter as categorias de perigosidade não linear para as substâncias tóxicas, mantendo o nível de proteção existente (Figueira, 2013).

A revisão à Diretiva pretende ainda clarificar e melhorar (Figueira, 2013):

• Obrigações ao nível da Politica de Prevenção de Acidentes Graves/Sistema de Gestão da Segurança;

• Ordenamento do território (noção de distâncias apropriadas/outras medias – áreas sensíveis);

• Participação pública (projetos/planos e programas – decisão em termos de ordenamento do território) e a articulação e coordenação com Avaliação de Impacte Ambiental e Avaliação Ambiental Estratégica;

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E S T A D O D E A R T E D A A N Á L I S E D E R I S C O A M B I E N T A L

• Maior transparência na informação ao público, sendo para tal necessária a disponibilização de informação por parte dos operadores;

• Planeamento e periodicidade das Inspeções;

• Acesso à justiça.

A Figura 2-1 apresenta o percurso normativo relativo à gestão de riscos de acidentes graves industriais na Europa e em Portugal, que teve por base a ocorrência de acidentes com consequências muito graves para a população, ambiente e património.

Figura 2-1 – Percurso normativo relativo à gestão de riscos de acidentes industriais graves (adaptado de IGAOT, 2008) Diretiva 96/82/CE (SEVESO II) Diretiva 82/501/CEE (SEVESO I) Decreto-Lei nº 164/2001 Decreto-Lei nº 204/93 Portaria nº 193/2002

Seveso, Itália ( 1976 – Libertação de dioxina)

Flixborouugh, Reino Unido (1984 – explosão de nuvem de ciclohexano) Bhopal, India (1984 – Libertação de Metil isocianato)

Quadro legal revogado Decisão 98/433/CE

Decisão 96/865/CE Diretiva 2003/105/CE (alteração SEVESO II) Toulouse, França (2001 – Explosão de

Nitrato de Amónia) Decreto-Lei nº 254/2007 (em vigor) Diretiva 2012/18/UE (SEVESO III) Portaria nº 830/2007 Portaria nº 966/2007

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E S T A D O D E A R T E D A A N Á L I S E D E R I S C O A M B I E N T A L

2.2.3 Decreto-Lei nº 147/2008, de 29 de Julho

A publicação do Decreto-Lei nº 147/2008, de 29 de Julho (Diploma RA), alterado pelo Decreto-Lei nº 245/2009, de 22 de Setembro e pelo Decreto-Lei nº 29-A/2011, de 1 de Março, introduziu no direito nacional o conceito da responsabilidade por danos ambientais, por parte dos causadores desse dano. Este documento transpõe para a ordem jurídica nacional a Diretiva nº 2004/35/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 21 de Abril (posteriormente alterada pelas Diretivas 2006/21/CE, de 15 de Março e 2009/31/CE, de 23 de Abril), assente no princípio poluidor-pagador, ou seja, a responsabilização financeira do poluidor sobre os danos causados no ambiente, ficando este forçado a proceder à sua recuperação (APA,2011).

Apenas estão sujeitas ao regime de Responsabilidade Ambiental (RA), as atividades cujas emissões, acontecimentos ou incidentes causadores de danos ambientais ocorram após 1 de Agosto de 2008. O regime define ainda o período máximo que pode existir entre o dano ambiental e a emissão, acontecimento ou incidente que lhe deu origem.

O diploma nacional distingue dois mecanismos de responsabilidade, a responsabilidade civil e a responsabilidade administrativa pela prevenção e reparação de danos ambientais.

No regime de responsabilidade civil os operadores (causadores da poluição) ficam obrigados a indemnizar os indivíduos lesados pelos “danos” sofridos por via de uma componente ambiental.

O regime de responsabilidade administrativa destina-se a prevenir e reparar os danos causados ao ambiente perante toda a coletividade, não conferindo aos particulares o direito a compensação na sequência de danos em questão. Este regime constitui o objetivo principal do Diploma RA, que consiste, então, na responsabilização legal e financeira da recuperação e/ou prevenção de um dano ambiental ou sua ameaça iminente pelo operador causador do mesmo. As obrigações do operador são assim, as de Prevenir, Reparar e Reportar. Adicionalmente, o operador que desenvolva uma atividade ocupacional abrangida pelo Decreto-Lei nº 147/2008 deve constituir uma garantia financeira que lhe permita assumir a responsabilidade ambiental à atividade desenvolvida (APA, 2011).

Os danos ambientais abrangidos pelo Diploma RA são os danos causados aos recursos naturais: espécies e habitats naturais protegidos, água e solo.

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E S T A D O D E A R T E D A A N Á L I S E D E R I S C O A M B I E N T A L A metodologia para avaliação de ameaça iminente e dano ambiental a seguir pelos operadores, com base no guia da APA é composta pelos seguintes pontos principais (APA, 2011):

• Âmbito de aplicação e informação de base. Para cada descritor ambiental é verificada a aplicabilidade do diploma RA e são definidos os procedimentos a seguir na avaliação dos acidentes que resultem ou possam resultar em afetação do estado de conservação das espécies e habitats, água e solo;

• Identificação das espécies e habitats, água e solos abrangidos e estados de conservação desses descritores;

• Estado inicial da envolvente da instalação. O conhecimento do estado inicial dos recursos naturais abrangidos pelo Diploma RA é condição essencial para avaliar a magnitude e extensão da afetação dos mesmos aquando da ocorrência de um acidente. A aferição da significância do dano é obtida pela comparação do estado dos recursos após a ocorrência da emissão, incidente ou acontecimento, com o estado inicial.

• Afetação dos descritores ambientais.

Adoção das medidas de contenção previstas nos Planos de Emergência Internos, no caso de acidente ou ameaça iminente;

Enquadramento em situação de ameaça iminente de dano ambiental: avaliação da afetação do descritor, reporte às autoridades competentes e adoção de medidas de prevenção.

Enquadramento em situação de dano ambiental: em primeiro deve ser a avaliada a significância do dano, para verificar se os efeitos adversos do incidente são suficientemente significativos para causar a alteração do estado de conservação do descritor ambiental, com recurso a um plano de monitorização. De seguida deve ser avaliada a afetação do dano, tendo em conta o conceito estabelecido no Diploma RA com recurso a ferramentas, tais como, a modelação da dispersão da mancha de contaminante através de software adequado; a implementação de planos de monitorização dos efeitos da afetação por um período mínimo de um ano e a Análise de Risco Ambiental Quantitativa, para determinação do risco

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E S T A D O D E A R T E D A A N Á L I S E D E R I S C O A M B I E N T A L para a saúde humana, na sequência da eventual afetação do descritor ambiental (espécies e habitats, água e/ou solo).

2.2.4 ISO 31000:2009 – Gestão de Riscos – Princípios e Diretrizes

A ISO 31000:2009 – Gestão de Riscos – Princípios e Diretrizes, expõe a metodologia que se deve seguir na gestão de riscos, podendo ser aplicada a todos os tipos de riscos, com consequências positivas ou negativas, e que engloba, assim, os riscos ambientais, em fase de projeto, aplicáveis ao objetivo do presente estudo.

Esta norma internacional define que a gestão de riscos é um processo composto por três fases: a Identificação do risco, a Análise do risco e a Avaliação do risco. A identificação do risco consiste no reconhecimento das fontes e causas dos potenciais eventos e as possíveis consequências dos mesmos. A análise do risco consiste na definição da natureza e nível do risco (magnitude do risco, ou combinação de riscos, expressa pela combinação da consequência e a sua probabilidade de ocorrência), criando assim, a base para a avaliação de riscos. Por fim, a avaliação do risco abrange a comparação dos resultados da análise de riscos com os critérios (legais ou outra natureza) existentes para o respetivo risco.

O tratamento do risco é igualmente visto como parte do processo de avaliação de risco, que inclui a implementação das alterações das condições que conduzem ao risco, e que deve, por sua vez, ser devidamente monitorizada, para verificação da eficácia.

Este documento destaca ainda que as atividades da gestão de riscos devem ser rastreáveis. Assim, o processo de gestão de risco deve ser documentado, com o registo de todos os passos do processo.

2.2.5 AS/NZS 4360:2004 - Gestão de Risco

A Norma AS/NZS 4360:2004, da gestão de risco, é aplicada conjuntamente à Austrália e Nova Zelândia, e tem como objetivo proporcionar um guia aos intervenientes no processo de gestão de risco, que aumente a sua fiabilidade e eficiência. Este é um processo iterativo, que, aquando levado de modo sequencial proporciona uma melhoria contínua da tomada de decisão e desempenho da organização (dada a elevada aplicabilidade o termo organização, nesta norma, serve para referir o objeto de análise de risco, que pode ser uma fábrica, uma infraestrutura de transporte, um terminal logístico, entre outros). O risco é visto como a exposição às

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E S T A D O D E A R T E D A A N Á L I S E D E R I S C O A M B I E N T A L consequências da incerteza e dos potenciais desvios do planeado/expectável, mais do que como uma simples consequência ou impacte negativo dum acidente ou evento.

Este documento normativo pode ser aplicado a qualquer atividade e em todas as suas fases (projeto, exploração ou desativação), contudo, o seu proveito é maximizado quando aplicado previamente ao início de exploração. É um documento genérico, independente de qualquer atividade industrial e setor económico.

Os principais elementos do processo iterativo da Gestão de Riscos são:

• Comunicação e consulta: Este elemento deve estar presente em todas as fases do processo de gestão de risco, e consiste na interação e diálogo da equipa de trabalho com as partes interessadas a nível interno e externo, de forma a garantir a compreensão e acompanhamento, por parte de todos os intervenientes, das bases que levam à tomada de decisão.

• Estabelecimento do contexto: Este passo inclui a caracterização do ambiente externo e interno e o âmbito da avaliação de risco. A caracterização do ambiente externo deve incluir um levantamento das principais fatores externos (sociais, políticos, regulamentares, etc) que possam influenciar ou ser influenciados pela avaliação de riscos e das relações entre a organização e esses fatores externos. O estabelecimento do contexto interno assenta no conhecimento da organização (valores, estratégias, objetivos, etc). Por fim, é necessário estabelecer os objetivos, estratégias, parâmetros e o alcance da gestão de risco da organização.

É nesta fase também que se definem os critérios para avaliação do risco. A decisão de seguir com tratamento do risco deve assentar em critérios operacionais, técnicos, financeiros, legais, sociais, ambientais, humanitários, entre outros, estabelecidos tendo em conta o contexto interno e externo da organização. Este passo termina com a definição da estrutura do processo de avaliação de risco a seguir.

• Identificação dos riscos que devem ser incluídos no processo de gestão de riscos. Estes devem incluir quer os que estão diretamente dependentes da organização quer aqueles sobre os quais a organização não tem influência, mas que podem originar desvios ao funcionamento normal da mesma.

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E S T A D O D E A R T E D A A N Á L I S E D E R I S C O A M B I E N T A L

• Análise dos riscos: Este passo prende-se com o desenvolvimento e compreensão do risco, criando assim elementos de apoio à decisão sobre o modo de tratamento de risco e quais as estratégias de custo-benefício da gestão dos riscos. Uma análise de riscos envolve considerações sobre as fontes de risco, as suas consequências positivas e negativas e a probabilidade das mesmas ocorrerem. Nesta fase podem ser identificados riscos a serem excluídos do processo de gestão de riscos, por não apresentarem motivos de preocupação.

A norma define três tipos de análise: qualitativa, semi-quantitativa e quantitativa, a serem aplicados consoante a situação em análise.

A análise qualitativa pressupõe o uso de escalas descritivas para determinar a magnitude das consequências e a probabilidade de ocorrência, sendo usada preferencialmente como avaliação preliminar para identificação de riscos que requerem uma análise mais detalhada, ou em casos em que os dados disponibilizados são insuficientes para uma análise quantitativa. A análise semi-quantitativa pressupõe também o uso de escalas qualitativas, atribuindo valores para as descrições usadas na escala. O uso desta informação deve ser feito com especial cuidado. A análise quantitativa usa valores numéricos para qualificar as consequências e probabilidade, estabelecidos com base em informação recolhida (registos, experiência e perícia da equipa que elabora o estudo, publicações, pesquisas, consultas públicas, protótipos e modelos financeiros ou de engenharia). A qualidade da análise depende do grau de detalhe e rigor dos valores numéricos usados e da validade do modelo aplicado.

• Avaliação dos riscos: Implica uma tomada de decisão acerca dos riscos prioritários e para os quais deve ser aplicado um tratamento, com base nas saídas da análise de riscos.

• Tratamento dos riscos: Esta fase envolve a seleção de opções para tratamento do risco. Após apreciação das mesmas (confronto entre os custos de implementação e os benefícios que daí resultam) são preparados os planos de tratamento (ações, recursos necessários, responsabilidades, prazos, medidas de desempenho, relatórios e monitorização).

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E S T A D O D E A R T E D A A N Á L I S E D E R I S C O A M B I E N T A L

• Monitorização e Revisão: Repetir, com regularidade, o ciclo de gestão de risco, de modo a manter o sistema atualizado e eficiente (as medidas de desempenho podem demonstrar a ineficiência de alguns planos).

2.2.6 Norma Espanhola UNE 150008:2008

A Norma Espanhola UNE 150008:2008 intitulada “Análise e Avaliação do Risco Ambiental” veio revogar a anterior Norma 150008:2000 EX, e pretende implementar um esquema de gestão do risco ambiental em linha com os documentos internacionais atualmente em vigor, como a Diretiva Seveso e a Diretiva da Responsabilidade Ambiental, anteriormente referidas ou ainda a Diretiva PCIP, a Diretiva 2003/4/CE e a Diretiva 2003/35/CE (ver descrição na bibliografia).

O objetivo da Norma Espanhola é criar uma metodologia de orientação aos intervenientes no processo de Avaliação de Risco Ambiental, homogeneizando o vocabulário utilizado neste tipo de estudo, que facilite a troca de informação entre as partes interessadas e o processo de tomada de decisão sobre esta matéria.

No entanto não estabelece quais as ferramentas específicas e técnicas a aplicar na análise do risco ambiental, indicando apenas que devem ser aplicadas as ferramentas e modelos adequados para cada situação em análise, que sejam reconhecidos internacionalmente pela comunidade técnica e científica.

A Norma é aplicável a locais, atividades e organizações de qualquer natureza e setor produtivo, nas fases de projeto, construção, arranque, operação ou exploração e desativação.

Considera-se que numa primeira fase tem de se selecionar a equipa multidisciplinar a realizar o estudo, que contenha os conhecimentos e experiência necessários para proporcionar informação fiável e útil à tomada de decisão. Antes ainda de iniciar o estudo, deve ser definido o alcance do mesmo, tendo em conta aspetos como o objeto de estudo, os locais afetados e o enquadramento geográfico do mesmo, a(s) fase(s) de atividade a que se dirige a análise, o nível de profundidade pretendido e os grupos de interesse relevantes.

O processo iterativo para identificar, avaliar e gerir o risco ambiental, é apresentado na Figura 2-2.

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E S T A D O D E A R T E D A A N Á L I S E D E R I S C O A M B I E N T A L

Figura 2-2 - Processo iterativo para identificar, avaliar e gerir o risco ambiental (adaptado da UNE 150008:2008)

Na Análise de Riscos devem ser identificadas e caracterizadas todas as possíveis fontes de perigo e os perigos associados. No levantamento efetuado não devem ser consideradas as fontes de perigo que, em caso de acidente, não provoquem danos no ambiente, e que ponham apenas em causa a segurança dos trabalhadores ou afetem as instalações existentes, dado que estas situações são reguladas por outros documentos normativos.

Devem sim, ser tomadas em conta as fontes de perigo relacionadas com o fator humano no âmbito da organização e individual, com as atividades e instalações (armazenamentos, processos

C O M U N IC A Ç Ã O E C O N S U L T A M O N IT O R IZ A Ç Ã O E R E V IS Ã O ANÁLISE DE RISCO Identificação de causas Perigos Fatores ambientais Identificação de causas Perigos Identificação de causas Perigos Estimativa de Consequências Determinação da Probabilidade Estimativa do Risco AVALIAÇÃO DO RISCO

- Fatores sociais e humanos;

- Expectativas das partes interessadas;

- Custo-benefício da aplicação de técnicas de redução de riscos; - Avaliação das incertezas,

- Outros critérios

GESTÃO DO RISCO

- Eliminação do Risco; - Redução e controlo do risco - Retenção e transferência do Risco; - Comunicação do Risco

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E S T A D O D E A R T E D A A N Á L I S E D E R I S C O A M B I E N T A L produtivos e auxiliares) e com os elementos externos (naturais, socioeconómicos e infraestruturas existentes).

Uma vez terminada a identificação dos perigos devem ser identificados os eventos iniciadores, que estejam na origem do possível acidente, com base na informação até então recolhida, aos quais devem ser atribuídas probabilidades de ocorrência, seguindo as técnicas indicadas no anexo B.2 da referida norma.

A partir dos eventos iniciadores identificados deve ser estabelecida a sequência de eventos ou alternativas possíveis (árvore de eventos), que, com uma probabilidade conhecida, podem dar origem a um cenário de acidente, sobre os quais se vão estimar as potenciais consequências para o ambiente. O resultado final consiste na estimativa de risco de cada sucesso iniciador e o valor de risco global associados à organização.

Para estimar a gravidade das consequências devem ser aplicadas as fórmulas 1 a 3 em que se consideram os critérios relevantes para o risco ambiental, da população e socioeconómico.

( ) = + 2 × + ã + (1)

( ú ℎ ) = + 2 × + ã + çã (2)

( ) = . +2 × + ã + ó / (3)

A avaliação do Risco Ambiental é um processo mediante o qual a organização avalia a capacidade de aceitação e tolerância ao risco, tendo por base a análise de risco realizada e outros fatores ou critérios considerados relevantes. Como critérios de aceitação do risco entendem-se os limites legalmente impostos (níveis de concentração de poluentes em ar ambiente, por exemplo) e outros definidos em função da combinação de fatores sociais (expectativas dos grupos de interesse), económicos (análise de custo-benefício), políticos, tecnológicos (depende do tipo de instalação em estudo), científicos, culturais e éticos.

Ainda nesta fase do estudo é importante efetuar a gestão da incerteza do processo de avaliação, que consiste, em pelo menos, identificar as fontes de incerteza e a sua contribuição para a estimativa final do risco ambiental da organização.

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E S T A D O D E A R T E D A A N Á L I S E D E R I S C O A M B I E N T A L A Gestão do Risco é a parte final do processo e consiste na tomada de decisão acerca dos riscos ambientais analisados e avaliados, fundamentada em critérios de segurança e eficiência económica, que deve ser comunicada aos grupos de interesse.

Acima de tudo convém realçar que, na Norma Espanhola UNE 150008:2008, o processo de Avaliação de Riscos Ambientais é um processo iterativo, que deve ser revisto e monitorizado ao longo do funcionamento de qualquer infraestrutura.

2.2.7 Cadernos Técnicos PROCIV #1

O Manual de Avaliação de Impacte Ambiental na vertente de Proteção Civil (PROCIV, 2008) constitui o Caderno Técnico PROCIV #1, e apresenta, para diversas tipologias de projetos (Instalações Industriais, Estações de Tratamento de Águas Residuais, Infraestruturas Rodoviárias, etc) uma orientação para a Análise de Riscos em Unidades Industriais em fase de EIA. Assim, apesar de não constituir um documento legal, fornece informação muito útil para o tema em estudo.

O Caderno Técnico PROCIV #1 indica uma check list a seguir na análise de Riscos Ambientais em Instalações Industriais, que deve incluir:

• Determinação do Risco Sísmico que caracteriza a área e implantação da instalação;

• Verificação da Rede hidrológica existente na área de estudo, com especial atenção às zonas ameaçadas pelas cheias;

• Estabelecimento de medidas de segurança do projeto durante a fase de construção e exploração;

• Definição de cenários de acidente grave;

• Fornecimento aos agentes de Proteção civil e afins de informação acerca de características do projeto;

• Afetação do tráfego em infra-estruturas associadas;

• Consulta aos Serviços Municipais de Proteção Civil da área em estudo.

Apresentam também recomendações a seguir nas Fases de Projeto, Execução e Exploração da Unidade Industrial. Segundo as indicações da Proteção Civil, para uma correta análise dos riscos decorrentes da implantação do projeto, o EIA deve, com base em metodologias adequadas à instalação, modelar os acidentes que possam afetar o homem e o ambiente no exterior da instalação. Do ponto de vista da proteção civil o EIA deverá incluir ainda a modelação de um

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E S T A D O D E A R T E D A A N Á L I S E D E R I S C O A M B I E N T A L cenário que avalie os impactes cumulativos do projeto com as instalações indústrias vizinhas, caso seja aplicável, de modo a verificar a possibilidade de ocorrência do efeito dominó, em caso de ocorrência de acidente grave.

Relativamente à modelação, devem ser indicados os pressupostos assumidos, os parâmetros do modelo de simulação, os domínios de aplicação e a justificação da sua aplicabilidade aos cenários e por fim, a margem de validade e uma indicação do grau de incerteza dos resultados apresentados.

Para cada cenário de acidente grave deve ser apresentado:

• Descrição das condições específicas de ocorrência do possível acidente grave, quer ao nível da operação dos equipamentos da instalação e das matérias perigosas libertadas, quer ao nível da caracterização da envolvente da instalação e da meteorologia considerada (deve incluir as condições típicas do local de inserção do projeto, mas também as condições mais desfavoráveis para a dispersão de matérias voláteis);

• Desenvolvimento do cenário de acidente grave, tendo em consideração todos os elementos necessários à respetiva caracterização, designadamente no que diz respeito às à emissão de substâncias perigosas, à projeção de fragmentos, ocorrência de incêndios, explosões, ondas de sobrepressão e radiação térmica;

• Avaliação dos efeitos dos fenómenos perigosos, com apresentação de mapas que permitam visualizar os efeitos do acidente e o alcance dos mesmos;

• Avaliação das consequências dos acidentes graves cenarizados segundo as vertentes humanas e ambientais;

• Medidas de mitigação (ações imediatas) preparadas para minimizar as consequências.

Tal como referido anteriormente, a Tabela 2-1 apresenta e compara os objetivos e âmbito de aplicação dos documentos legais identificados assim como as obrigações do industrial no que diz respeito à Análise de Riscos, segundo cada documento.

Mais uma vez convém realçar que apesar do Caderno Técnico PROCIV #1 não constituir um documento legal ou normativo, foi incluído na comparação efetuada na Tabela 2-1.

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E S T A D O D E A R T E D A A N Á L I S E D E R I S C O A M B I E N T A L

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E S T A D O D E A R T E D A A N Á L I S E D E R I S C O A M B I E N T A L

Tabela 2-1 – Objetivo, âmbito de aplicação e obrigações da indústria segundo os documentos legais identificados para a Análise de Risco

Documento Objetivo Âmbito de Aplicação Obrigações da Instalação Industrial

DL nº 254/2007

Prevenção de acidentes graves que envolvam substâncias perigosas e a

limitação das suas consequências para o homem e o ambiente.

Estabelecimentos nacionais onde estejam presentes substâncias com quantidades superiores aos limiares estabelecidos na parte 1 do Anexo I.

Estabelecimento de nível inferior e superior de perigosidade:

- Apresentar uma notificação antes da construção do estabelecimento, com a quantidade de material perigoso

armazenada, o estado físico da mesma e uma descrição da envolvente com identificação dos pontos sensíveis de

causar um acidente grave.

- Elaborar uma política de prevenção de acidentes graves. Estabelecimento de nível superior de perigosidade:

- Apresentar um relatório de segurança.

DL nº 147/2008

Responsabilização financeira do poluidor sobre os danos causados no

ambiente.

Danos ambientais, bem como as ameaças iminentes desses danos, causados em resultado do exercício

de uma qualquer atividade ocupacional a nível nacional.

Atividade industrial enumerada no anexo II, que mesmo sem dolo ou culpa, cause ou ameace causar um dano

ambiental, é responsável pela adoção de medidas de prevenção e reparação do dano (responsabilidade

objetiva).

Atividade industrial não enumerada no anexo II mas que cause ou ameace causar um dano ambiental, com culpa ou

negligência, é responsável pela adoção de medidas de prevenção e reparação dos danos.

ISO 31000:2009

Providenciar os princípios e diretrizes gerais a seguir na Gestão

dos Riscos.

Qualquer instituição pública ou privada, associação, grupo ou individual, a nível internacional. Não

é específica para nenhum setor industrial.

Dependendo do objetivo do estabelecimento industrial, a Norma promove que o operador deve desenvolver a gestão de riscos como um processo composto por três

fases: a Identificação do risco, a Análise do risco e a Avaliação do risco.

A instalação deve apresentar métodos de tratamentos dos riscos identificados.

(35)

E S T A D O D E A R T E D A A N Á L I S E D E R I S C O A M B I E N T A L

Documento Objetivo Âmbito de Aplicação Obrigações da Instalação Industrial

Austrália e Nova Zelândia. -Comunicação e consulta;

- Contexto; - Identificação dos riscos;

- Análise dos riscos; - Avaliação dos riscos; - Tratamento dos riscos; - Monitorização e revisão do processo.

UNE 150008:2008

Criar uma metodologia de orientação aos intervenientes no processo de

Avaliação de Risco Ambiental.

Atividades instaladas em Espanha de qualquer natureza e setor produtivo,

nas fases de projeto, construção, operação e desativação.

Aplicação do processo iterativo de identificação, avaliação e gestão dos riscos. Devem ser consideradas as

fontes risco ao ambiente e que ponham em causa o bem-estar da população, os recursos naturais e/ou o património

e capital produtivo.

PROCIV #1

Manual de Avaliação de Impacte Ambiental na vertente de Proteção

Civil.

Projetos de instalações industriais, ETARs, infraestruturas rodoviárias,

entre outros, em fase de EIA.

Seguir a Check List indicada para a Análise de Riscos em fase de EIA.

Seguir as recomendações nas fases de projeto, execução e exploração da instalação industrial.

(36)

E S T A D O D E A R T E D A A N Á L I S E D E R I S C O A M B I E N T A L

2.3 MÉTODOS E FERRAMENTAS DE AVALIAÇÃO DE RISCOS

Atualmente são aplicados métodos e ferramentas de Avaliação de Riscos desenvolvidos por entidades especializadas na Segurança Industrial, com origem em diversos países do mundo.

Neste capítulo são apresentados os métodos identificados na literatura consultada que apresentam uma aplicabilidade em maior escala. Estes métodos servirão de base à metodologia proposta e que é objetivo deste estudo.

No final da apresentação e descrição dos referidos métodos e ferramentas é apresentada uma tabela resumo das principais aplicações que os caracterizam (Tabela 2-2).

2.3.1 Failure Mode and Effect Analyses (FMEA)

A metodologia de Failure Mode and Effect Analysis (FMEA) é uma ferramenta que procura evitar, por meio da análise das potenciais falhas e propostas de ações de melhoria, que ocorram falhas no projeto ou fabricação de um produto, processo ou serviço (Moura, 2000). Apesar de ser tipicamente aplicada para garantia da qualidade de um produto, processo ou serviço, pode ser aplicada a um projeto, para identificação e análise dos riscos ambientais, sendo atualmente aplicada em alguns EIA a nível nacional.

Trata-se de um método semi-quantitativo (método que conjuga as consequências e probabilidades, mediante a atribuição de uma escala numérica representativa do nível de risco), que culmina na atribuição de um resultado numérico a cada fator de risco (ambiental), designado por Número de Prioridade de Risco (NPR), que resulta do produto dos valores correspondentes aos vários atributos que qualificam o risco (ambiental), como sejam a Probabilidade, a Detetabilidade e a Gravidade (Braaksma et al, 2013).

O valor do NPR calculado para cada fator de risco é avaliado de forma expedita com base numa escala de importância de risco (muito baixa, baixa, média, elevada e muito elevada). A escala apresentada permite hierarquizar os riscos e estabelecer e priorizar medidas de intervenção em relação aos fatores de risco identificados, não tendo o NPR um significado rigidamente estabelecido.

O desenvolvimento da do método FMEA numa Análise de Riscos Ambientais compreende as etapas apresentadas na Figura 2-3.

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E S T A D O D E A R T E D A A N Á L I S E D E R I S C O A M B I E N T A L

Figura 2-3 – Desenvolvimento do método FMEA aplicado à Análise de Riscos (adaptado de Moura, 2000)

2.3.2 Análise Preliminar de Riscos (APR)

A Análise Preliminar de Riscos (APR) é uma técnica que incide na identificação de situações perigosas que possam estar na origem de acidentes, na pesquisa sistemática das suas possíveis causas e as consequências expectáveis numa perspetiva humana, da instalação e ambiental, culminando na atribuição de uma categoria de risco a cada situação definida, atribuída pela respetiva frequência e gravidade estimadas (Zhao et al, 2009).

Identificação dos riscos

Análise e dos riscos

•Análise do projeto

•Identificação das causas internas e externas;

•Determinação da probabilidade de ocorrência;

•Identificação dos sistemas de deteção previstos;

•Determinação dos impactes expectáveis e gravidade

Classificação dos Riscos

Classificação segundo a probabilidade de ocorrência, a detetabilidade e a gravidade do risco (medidas de 1 a 10, através de uma escala de valoração pré-definida)

Atribuição do NPR

•Determinação da importância associada aos vários fatores de risco identificados;

•Atribuir o NPR a cada risco – escala de 1 a 1000

Identificação dos aspetos críticos

Aspetos do projeto cujo NPR ultrapassa o Limiar de aceitabilidade de risco definido)

Imagem

Figura 2-1 – Percurso normativo relativo à gestão de riscos de acidentes industriais graves (adaptado de IGAOT, 2008) Diretiva 96/82/CE(SEVESO II)Diretiva 82/501/CEE(SEVESO I)Decreto-Lei nº 164/2001Decreto-Lei nº 204/93 Portaria nº 193/2002
Figura 2-2  - Processo iterativo para identificar, avaliar e gerir o risco ambiental (adaptado da UNE 150008:2008)
Tabela 2-1 – Objetivo, âmbito de aplicação e obrigações da indústria segundo os documentos legais identificados para a Análise de Risco
Figura 2-3 – Desenvolvimento do método FMEA aplicado à Análise de Riscos (adaptado de Moura, 2000)  2.3.2  Análise Preliminar de Riscos (APR)
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Referências

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