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Zero, 1996, ano 13, n.8, jul.

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(1)

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Conélições

de

vi�tecária

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,

'I

(2)

ZERO

JornalLaboratóriodo Curso de JornalismodaUFSC Ano 13-

I�-Julho/96

Arte: Ivan

Jerônimo,

Solon

Soares,

Romeu

Martins,

Christina

Va

tedêo,

Joice

Sabatke

Colaboração:

Alex

Cunha,

Josette

Goulart,

Patrick

Cruz,

Tatiana

Ramos,

Carolina Heinen,

Rogéno

Kiefer. Nathan

Manfroi,

Dubes

Sonêgo,

Romeu

Martins,

Michelle

Araújo,

Michele

Oliveira

Capa:

Foto: Elmar Meurer Arte. Joice

Sabatke

Edição:

Joice

Sabatke,

Christina

Va/adão,

Gladinston

Silvestrini,

Marcelo

Santos,

Renê

Müller,

Elmar

Meurer,

Daniela de Paula

Queiróz,

Barbara

Pettres,

Laura

Tuyama,

Paulo

Henrique

de

Sousa,

Alessandro

Bonassoli

Editoração

Eletrônica: Joice

Sabatke,

Christina

Va/adão.

Laura

Tuyama,

Daniela de Paula

Queiróz

Laboratório

Fotográfico:

Barbara

Pettres,

Laura

Tuyama,

Elmar

Meurer,

Marina

Moros

Montagem:

Joice

Sabatke,

Christina

Va/adão

Planejamento

Gráfico:

Christina

Va/adão,

Joic€

Sabatke

Supervisão:

Prof

Carlos

Locatelli

Redação:

Curso

de Jornalismo

(UFSC

-CCE),

Trindade,

Florianópolis/SC

-

CEP

38040 -900 e-mail:

com@cce.ufsc.br

Telefones:

(048)

231-9490

e 231-9215

Telex

e Fax:

(048;"234-4069

Fotolitos e

Impressão:

Jornal

A

Notícia

Tiragem:

5

mil

exemplares

Distribuição

Gretuite

Circ'riláção

Diri&Vda

---�---julho/1996

A

montagem

de

um

mural

em

comemoração

ao

"Dia da

Di9nidade Gay"

desencadeia

uma

série

de

rea�ões

e

repercussôes

num curso

aparentemente

liberal.

Isto

levou

alunos

e

professores

do

Jornalismo

da

UFSC

a

discutirem

publicamente

a

discriminação

das

minorias,

principalmente

de

homossexuais,

e a

ética

dos

futuros

jornalistas

formados

neste curso.

ZERO

dedica

seu

espaço

editorial

procurando

esclarecer

o

f'.l1isódio,

tratado

com

parcialidade pela

imprensa

focal.

rar a

responsabilidade

da

pichação,

Umcartazcom a

inscrição

"dia 30de

fevereiro,

dia do

orgulho

do

pai

do

gay"

é colocado emoutro mural do curso,conhecidocomo"Mural

Legal".

À

tarde,um

jomal

apócrifo

entitulado "O Cretino" é afixado no mesmo

mural,Ironizandoasatitudesdo gru­ po homossexual.

Caia

,

mascara

Dois alunos de

jornalismo

da LlFSC montamà noite, na porta do curso, urn mural sobre homosse­ xualismo com recortes de

jornais

e

revistas,em

comemoração

ao"Diado

Orgulho

Gay",

27/06

Um cartaz onde se lê "morte à

viadagem"

é colocado no mural. O autor

-ou autores

desconhecido,

nãosesabendonem seé docursode

jornalismo.

Nomesmodia,aresposta

"nossas

expectativas

seconfirmaram., asbichasenrustidas,os

hipócritas

e os

cretinos

piadistas

se marufestaram" é afixada

logo

abaixo à

pichação.

28/06

E solicitadaasindicância para

apu-01/07

-Asindicância é

negada pela

chefia do curso. A resposta "bichas

enrustidas,

saiamde, ármário'' é colo­ cada

junto

ao"O Cretino". Em

segui­

da, sai a

segunda publicação

do

jor­

nal,

com amanchete "nósnão assumi­

mosnada", Acoordenadoria docurso

é informada

pelo

grupohomossexual de que

providências

serão

tomadas,

inclusive consultaa um

advogado.

03/07

Após

a

acusação

de

pratica

dis­ curso ueo-nazista, é

lançado

o ter­

ceiro "c) Cretino", com um

artigo

ridicularizando Adolf Hitler.

04/07

-' �

O"Mural do

Orgulho

Gay"

é des­ montado porseuscriadores,

c:c

(.)

-'.:E.

,<LU

..

C».

,a..

O que

Hon_a,

dia'

a

dia

25/06

05/07

'

Aquarta

publicação

de "O Creti­ no" ironiza a ameaça de processo

policial

contra seuseditores.

09/07

-Areunião do

Colegiado

docurso

paraadiscussão doassuntonãotem

quórum.

Mesmo assim é realizado

um debate, com a presença de um

candidatoa

prefeito

e umacandidata a vereadora de

Florianópolis,

um

vereadore um

advogado,

convidados

do grupo homossexual.

12/07

Reuniãodo

colegiado

do Centro de

Comunicação

e

Expressão

- CCE

-inclui naatauma

moção

de

repúdio

à

qualquer

forma de

desrespeito

aos

direitoshumanos ede minorias.

o

caso,

à

luz da

lei

,

'N

odia 9 de

julho,

o cur­ so

,dejornalismo,

c�­

rajosarnente, atraues

.

deseucoordenador abriuumadis­

cussão considerada tabu por pra­ ticamentetodaasociedade.

Não

gostaria

demeestendernapo­

lêmica criada

pela circulação

dopan­

fleto

"OCretino".Creioqueos

fatos

sâo pot' demais conhecidos equea e:\7S­ tência deumconteúdo racista nesta

publicação

é incontestáuel.

À

luzdoDireito,

qualquer

precon­ coito,

independente

desua

origem

écri­

me

inafiançável

eseusautoresestari­

am

sujeitos

ao

enquadramentopenal;

inclusive com base também Cons­ titucional. Ooutrocrime

que.incor­

reram os

auto-resde'-o Creti­ no",

foi

de o

não

identificar

oautordocon­

teúdo escrito;

rera o art.,. inciso IV: "é

li-tolerância

e democracia,

sem emitir

Quanto

aos

ofendidos,

creio que

conceitosde valoresnem"a

priori"

de estesdevem

exigir

justiça

e não uin­

julgamentos,

gança,

superando

as

manifestaçôes

de O mais

importante

é que

sejam

pura revoltae mostrarde que

forma

identificados

osautoresda

referida

pu- seusvalores

permitem

uma

ampliação

blicaçâo,

nãocorno uma

"caça

às bru- dos ualoresquehabitamoconceitoda xas" ou para eventuais cidadania,

patrulhamentos

ideológi-

I

I Gostaria

cos, maspam quepossam

i"

•.•

entendo que "O Cretino"

I de

reforçar

demaneira honestaexpres-

deva

continuar

como uma

II

uma idéia

sarem seupensamento e

I

publicação

livre,

com a

I

que,

deser:-defenderem

suas idéias, .

°d

tOfO

-d

t

"VOlVI

nodia Nos casasde

persistência

:

I en I

Icaçao

os au ores•••

do

debate,

a

da

transgressâo

legal,que

de

queé

a

ui-os mesmo

sejam identificados

e

puni-

timadeuma

acusação

que sabese a

dos,

conforme

reza a

Constituição,

o intensidade da mesma é ou não Direito

vigente

e a

propria

LeideIrn-

preconceituosa,

nãoo seuautor.

prensa, Desta

forma,

entendoque "O

Cre-Entendo que o tino"deva continuarcorno umapu­

primeiro

atoé ope-

blicaçâo

livre,

corn a

identificaçâo

dos dido

particular

de autores.Paraumcrescimentoda qua­

desculpas

para as lidade é

preciso

quesetenhamaisdo pessoasquesesenti- que

simples

oposição

de

idéias,

mas

ram

atingidas

e a re- oerdadeiros embates teóricos,

trataçâo

pública

das Gostaria de

podei'

voltara

escre-frases

que

ultrapas-

versobreestecasoondeeupossa ana-sa m omau-gostoe a lisarapenascornouma

publicação

de

chacota, Eventuais

mau-gosto

oude valor estético duvi­

frases

que possam

identificar

osauto-

doso,

não maiscomo um crime cor­ res corn a

ideologia

nazistaouquein- roem osalicercesdeuma

nação

base­

cite a violência devemSei'depronto ada em valores democráticos e

recha-çadas pelos

seusautoresque;

pluralistas.

"

devem,depúblico,deiw�rclarosuaop-

Rogério

Portanova,

Advogado

e Professor

ção

pelas

regras do

jogo

democrático do Curso de Direito da

UFSC,

Doutor em e

pela ampla

liberdadede

imprensa,

Sociologia

e

Antropo/Dg/

..'D/ftlea

"

.••.

qualquer preconceito,

independente

de

sua

origem

é crime

inafiançável

e seus

autores

estariam

sujeitos

ao

enquadramento

pena!.

..

"

ure a

manifes-taçâo

dopensamentosendo veda-.

do oanonimato".

Nãocreio queas medidasmera­

mente

repressiuas

ede

cardterpuniti­

vo

sejam

asmaisindicadasparaare­

solução

da

referida

polêmica.

Creio queesteéumbelomomento dese

aprender

umpoucomaissobre

(3)

julho/1996

Não

pode

rir

A

posição

do

curso

,

'E

rnborame repercussaoo

fato

t�nha

e tensoes

gerc::.do

despropor­

uma enor­

cionais pensamosquetantoa

Chefia

do

D'ep

artarnerito de

Comunicação

como a

Coordenadoria do Cursoestavamdandoao caso uma

condução

correta,sériae

responsável.

O

fato

de termosnos

negado

aabrir uma sindicância quedeveriaapuraros

responsáveis

pela picha­

ção

do

mural,

não quer dizerque estivéssemos minimizandoou

querendo

escondero

problema.

Entendíamos, como continuamos

entendendo,

que a

sindicância,

além deacirrar os

ânimos,

serviria apenas para uma tentativa de

punição

em

lugat·

de gerar

respeito

mútuo.

Lamentamosamaneira

pela

qual

a

imprensa

participou

doassuntoe otratamentodadoa

ele,

transformando

um

problema

internoemviasde

solução,

numa

posição

genérica

e,pretensamente,

assumida pal' toda auniversidade.

Quanto

ao

fato

do boletim chamado" O Creti­

no'; embora não concordemosquea

linguagem

seja

adequada,

não tomamos imediatamente

umaatitude de

repreensão

porque bistoricamen­

te oCurso e o

Departamento

têm

procurado

ga­ rantir

ampla

eirrestritaliberdade de

expressão.

Continuamosentendendo quemaisdo que

repri­

mir é

preciso

refletir

o que e como se

produz

e

quais

oslimites da

linguagem

utilizada.

Finalmente

defendemos

queo

Departamento

e oCursosepreocupemcom as

questões

relativas aosdireitoshumanossem terdecercear a liber­ dadee odireito de cadaum.

"

,

,

F

ala-semas sóem

aqueles

liberdade deque estão

expressao,

do lado dos homossexuais

podem

se e.xpres­ sal' sem

patrulhamento.

No curso defornalis­ moda

UFSC,

pelo

menos, é istoquetentaseins­ taurar.A

patrulha

do

politicamente

corretousa

todososmétodos

possíveis

para tentar

impor

suasvontades.Asúltimas

ações

foram

chamar

políticos

que não são

fa

miliarixadoscom o am­

bientedo curso etentar

transformar

em crime contraahumanidadea

publicação

"O Cretino".

A

vinculação

da

pichação

"Morte à Via­

dagem",

no mural do

orgulho

gay, à

publica­

ção

de "O Cretino" éumatentativaardilosa que

poderia

ter

surgido

da

paranóia

de

alguns

professores

e alunos de queasminorias estão sempre

perseguidas

por

trogloditas

desocupa­

dos. Tal

vinculação

nãosó é mentirosa como,

caso

[osse verdadeira,

careceriaainda deuma

proua.

Nãohá.

Logo,

nãose

pode

vincularuma

coisa com a outra.

"O Cretino"

surgiu

com o

objetivo

único de

rire

fazer

rirda

apologia

aohomossexualismo eda ditadura dasminoriasque

impera

nocur-, so

dejornalismo.

O

próprio

nomedo

"jornal"

é' umdeboche

à-

rotulação

feita pelos

homossexu­

ais aos demais alunos e

professores

do curso,

que

foram

tachados de "bichas

enrustidas,

hi­

pócritas

ecretinos

piadistas".

"O Cretino"iden­

tificou-se

como uma

publicação

"cretino

piadista

", e passou caricaturalmente a

agir

comotal.

Ohumor éa

primeiro

passoparaa aceita­

ção.

Esehouvesse

alguém

aqui

no CU1'SOde

j

01'­

nalismo que não aceitasseasminorias não se

preocuparia

em

fazer

"O Cretino",

partiria

logo

para

algum

método de

eliminação

destamino­

ria.

Quem

faz

"OCretino"

reconhe-ceosgayscomogruposociale

acei-,

ta-os

democraticamente,

procedi-lO� lie

t

'

mentaque nãotem

reciprocidade.

"

\!

Jl' <ô

t

lL

][1l

(O)

Um veiculovoltadoàcretinice-"Antesumcretinopiadistaqueumviadomal-humorado"

Professores

Áureo

Moraese Neila Bianchin Chefe de

Departamento

eCoordenadora do Curso de Jornalismo da UFSC

NúmeroI(Numeropor

extensornesrno'Porque

aquelabolinhadepois

do "n"e coisa deviadot)

*

O texto não está assinado

"Por

qu�

os

outros

viados são

mais

alegres

que

os

nossos?"

Primeira

edição

do

panfleto

apócrifo

ClQ

Cretino",

afixado

no

Mural

Legal

do

Curso

de

Jornalismo

da

UFSC

Questão

formulada

porumdosmentoresdoJornalismogerapolêmicano curso Um dosprincipais professoresdo Curso de Jor­

nalismo daUFSCpropôsaosseuspupilosapergunta

SempToshiba "POT queOS outrosviados são mais

alegresqueosnossos'?",não obtendorespostaimedi­

ata.OsJovensrepórteresforam àprocura dasolução

desteenigma primordial.masqualnãofoiasurpresa

dosaprendizesaodescobriremqueomestrejáapos­

stria113pontadalíngua: "Porquenãodão! Viadnvtr­

geméapiorcoisaquetem.Ou voces acham queum

viado que trepouanoite toda teriadisposiçãopara ficar colandocartazespor ai?"

E�111profícuadiscussão degênerodeu-seem

plenodia 2� dejunho. 'duranteasalegrescomemora­

çõesdodia doorgulhodeservindo.edespertouou­

trasquestões. comoumdilema nomelhor estilo Tostines"Ele!': são tristes porque não dãoounão dão porque sao tristes?"

Comovidos.masnão dandoaminima.a

Asso-ciaçãodes CretinosPiadistasdoCurso deJornalis­

moda UniversidadeFederal de SantaCatarma,a

ACPCJUFSC.com oapoiodeumelemento quese

identiflcoucomohipócrita(não,uenhuma bicha eurustidasemanifestou)ficouintrigadacomaestra­

nha datacomemorativa.Qualoorgulhoemmordera

fronha?E por que raios dia2�.enão24?E quem raioslimpaessaáguatoda que vai pratoradabacia?

Questõescomoessasreforçamuma campauhn de

couscientizaçãoquearevista MADfeznadécada de XO.que dizia:"Atenção!Se vocêsentirumapertãona

cintura.umbafo quentenanuca. umaunhapenetran­ do-Lheocalcanhare aestranhasensaçãode cagar para dentro CUIDADO'!! Vocêpode estar cendn enrabado!"

Parareverter estasituação deprimcnr ede deflorarashemorróidas.aACPC.njFSCgritapara o

mundoouvir "Pombana caradeles!'/"

Curso é dividido

em

cinco

categorias

Um sempreateatofuncionáriodoJomatismo.cm

seusmusesanosde estrada não deixa escapar nenhum

"suspeito"de deslizarnoquiabo.Ele carregaconsigo

umdossiê. denominado"ListaRosa".daqualnãoesca­

paninguémMaso"Muro] doOrgulho Gay"osurpreen­

deu."ComesseIlIUIalaí,alistajáestácommais de500

espécimes".afirma. Mas.comojádisseumprofessor

rcspeitadissimo"Muitoteenganas!Muitoteenganas!"

OJornalismoaruabneotcencontra-sedivididoemd�

versascategorias,que sâomulheres (amaioria,paraI

desg...ça daviadegem),osviados(paraadesgraçada

mulherada),osbichas earustidos(quenãosemanifes­ tam).ohipócrita(queapóiaoscretinospiadistas)eos

próprioscretinospiadistas,queseencontramsmdicah­ zadosliaACPCRJFSC.

Nadiscussão citadanamatériaprincipal.ovisio­ náriomostreafirmavaque vialamentavelmente que al­ gUlls deseusalunosestavamficando tristes, cabisbai­

xes,"borocoxôs""Daquiapouco, vaicomeçaradizer queesta comumvaziointerior.queprecisadealgopara

preencheresteespaço,... edepoisvai sentar!" Franca­

malte,viagadem!Comtantamu.lh.ernoClD'"SOvocês pre..

lerem ficar"bitingthepillowcase?"Ainda maisagora.

com asfuturasnutricionistascaminhandopelafamosa escada do Jornalismo. Jíquedasvãosernutricionistas. seráque nãoépossívelcomerdesdejá?' I .

, '

Humor

no

olho

dos

outros

é

refresco

"

O

Diade

junho)

Mundial dacomemora

Dignidade Gay

o início da

(28

luta dos homossexuais

pelo

direito à uma cidadania

plena.

Para

celebrá-lo,

eu e um

colega.

com a

colaboração

da

Prot"

Aglair

Bernardo, montamosummural.Nele

afixamos

cópias

dereportagensderevistase

jornais

que tratavam gays e lésbicas de uma

forma

posi­

tiva. Tínhamostambémointuitode

informar

e mostraraos nossos

colegas, futuros

jornalistas,

como otemaé tratado

pela

mídia

impressa

na­

cional.

As

reações

frente

ao mural

foram

as mais

diversas,

uns se

detinham,

liamasmatérias,ou­

trosseassustavamou se

indignavam.

Não ima­

ginávamos

que matérias de

jornal,

que nãoata­

cavam

ninguém, pudessem

causartantodescon­

forto.

Surgiram reclamações, pichações, ''piadas''

afixadas

sobreo murale

publicações

ridicula­

rizandoosgays.As

manifestaçôes

de

preconcei­

to, dissimuladoem

gracejos,

setornaraminsus­ tentáveis para osGIS

(Gays,

Lésbicase

Simpa­

tizantes).

Mascomo somos umaminoria,acha­ vam quenãotínhamossensode burnor.

Quem

se

depara

a vida inteira com opre­

conceito é maissensível à ele. Eum

jornalista

responsável

devesepreocuparcom asvárias lei­

turasqueumtexto

pode

receber. Osautores

das

piadas

e muitosdos queas leram não conse­

guiram

vera virulência e

agressividade

conti­

da,

não sócontra osgays, mastambém contra

asmulheres. Faltou sensibilidadeamuitagen­ teque nãosedeucontadeestar

magoando

ou­

trosseres

humanos,

colegas

e

professores

com os

quais

convivem.

Ninguém

zombaria de um

mural comemorando o Dia Internacional da Mulherou oaniversáriodamortede Zumbi dos Palmares. Mascomo oalvoeram oshomosse­

xuais....

Sea

repercussâo

ameaçoua

imagem

doCur­

so

dejornalismo,

foi,

issosim

pelo fato

de ma­

nifestações

preconceituosas

terem tido livre trânsito. Nãose

pode

julgar

uma minoria

pela

ótica damaioria. Nessa

perspectiua,

caiporter­ ra a

recomendação

de quesedeveouvirosdois

lados,

como sehouvesseumasimetriade

poder

entreosdois.

Um

jornalista

preconceituoso pode

destruir vidas de inocentese nada

pior

para um curso

de

comunicação

quereceberesterótulo. Essadiscussão deve terlevadoaspessoasa

refletirem

e a

reflexão

sempreé

produtiva,

Não

pretendíamos

fazer "apologia"

da homossexu­

alidade,

mas mostrarparte da realidade que vivemos. Historicarnente

fomos,

eaindasomos, tratadoscom

preconceito,

mas tambémtemos direito àum

lugar

aosolequeremosser

respei­

tados. Secom um

jornalzinho

afixado

num mu­

ralestes

futuros jornalistas

conseguem causar

tantatristeza,

imaginem

quando

estiveremtra­ balhandoem um

jornal

de verdade,"

Cláudio

Narciso

Aluno da 5� fase do Jornalismo

\ { !

(4)

---julho

/1996

o

último

vigia

do

mar

Seu

Modesto

Vasques

da Silva

é

um

aqncuitor

de

12 anosJ

"nascido

e

criado",

como

diz

a

moda,

no

Muquém

do Rio Vermelho. Todos

os

anosJ

quando chega

o

mês de

maio,

ele

se

iranstorma

no

protaqonista

de

uma

tradição

secular da

Ilha de

Santa Catarina:

seu

Modesto

é

vi9ia

da

pesca da

tainha,

na

praia

de

Moçambique,

38

anos.

Essa

profissão

está

desaparecendo.

Quando

a

pesca

tinha

maior

importância

econômica,

a.té

a

década de

50J

trabalhavam

quatro

vig;asJ

mas

hoje

só restou

um por

M��rício

Giraldi

Todas

asmanhãs,bem

cedo,

o

patrão

dapescavemdos

Ingle­

ses,numcaminhão

basculan-te,

pegando

pessoas

paratrabalhar-nos dois barcos e

ajudar

apuxarasredes.

Logo

que

chegam

na

praia,

vãotodas

para dois barracões de

madeira,

en­

quantoseuModesto sobeo morrodo

costãoe seinstalaem seulocal detra­ balho. Doalto deuma

pedra

no mor­

ro,numlocal

estratégico

bemde fren­ teparaomar,ele passaodia todosen­

tado,

embaixo deum

jirau

coberto de

palha,

olhando parao mar.Ficadas seis da manhã às

�is

da

tame,

esperando

pelos

cardumes

de tainha que

chegam

do

sul,

com ofrio doinverno.

Suaidade

avançada

nãoo

impede

de

cont�lUar

atrabalhar.

Ã<>

vezes,seu

Modesto diz parao

patrão

que não vai

mais pescar, que

estávelho. "Senão estiveres lá no morro,

pode

abanar

.

quem

for;

queeu

nâoponho'os

barcos

�C'TJ1<"11'" "_", ,

'l{r"5... ,ese!.v.preª�PQSt&i I

'I.

Elecontaque consegue veraté qua­ trooucincotainhas nadando

juntas

e

que

aprendeu

sozinhoa enxergaros

peixes.

"Desdeos 15anos,

quando

era

pescador

de

caniço,

via os

peixes

debaixo

d'água.

Depois

quemecasei, me puseramde

vigia."

Além da visão

excepcional

edemuita

paciência

para passar mais de dois meses por ano

olhandoparao

mar�seu

Modestotem

bastante

experiência

napesca. Ele pas­ soumuitosanosembarcadocomopes­

cadorprofissional

noRioGrande doSul.

SALVA-VIDAS- SeuModesto conhece muitode "entrada decanoana

água",

decorrentesede marés.

"Ã<>

vezestem

peixe,

mas acorrenteza da

água

está paraas

pedras.

Por

peixe

nenhum,

eu voucolocaremriscoavida deseisou

sete chefes de família". Ele

salvou

pescadores

inexperientes

queentra­

vªq_l.· P9fJll!T.�

"Defendi

gente,

mandei

"saif"!)c9!(\.t�:

.!)" I ." �')

"c.','

"

I �

Mauricio Glraldl/ZERO

Cercade 50moços,velhosecrian­ ças,passamodianosbarracões dema­

deira,

na beira docostãoda

praia

de

Moçambique,

somente

esperando

al­ gum sinal do

vigia.

Entre conversas, brincadeirase

descanso,

ficam atentos aosmovimentos deseuModesto.Lá de

cima,

com

alguns

poucas sinais, ou

"abanos",

ele transmiteaos

pescadores

o tamanho do

cardume,

sualocaliza­

ção,

profundidade

e a

direção

emque

estãoindo. Indica tambémcomoobar­ codeveentrarnamar,

atingir

ocardu­ me e"daro

lanço".

MARADENTRO

-Rapidamente,

todos

corrempara colocaras barcosna

água

epoucos instantes

depois,

lávãoospes­

cadoresmar

adentro,

levando apenas os remose as

redes,

de500

braças

de

comprimento,

cercade 1.100metros.

Quando

tudo dá certo,

podem

trazer até 10 mil

tainhas,

oque

exige

muita

f01"Çl

para retirarasredes da

água.

Depois

detanto

esforço,

é feitaapar­

tilha dos

peixes,

em

"quinhões".

O

dono da redeficacom a

metade,

a ou­

trametade é divididaentrea"camara­

dagem":

o

patrão,

os

pescadores,

ovi­

gia

e as

ajudantes.

"Masquemestiver

na

praia,

também

ganha

uma ouduas

tainhas",

contaseuModesto.O

patrão

ficacom umpouco mais, porque é

dono do

barco,

do barracãoe arcacom as

despesas

de

alimentação

dos pesca­ dores.

SeuModestonuncavendeuumsó

:�e! Ele abastece

suacasaeados fi­

lhos

casados,

.àJ.�de

vi.zi.nhos,:limig<í>Si

eparentes. O que

sobra,

quando

80-bra,

suaesposa, dona

"Mimosa",

esca­

lae seca aosol. 'Atainha bem

sequinha

dura muito

tempo",

ensina.

Apesar

da pescaartesanalestardi­

minuindo,

seu

Mpdesto

nãoacredita queo

peixevá

acabar. "O queDeus

fez,

dura,

nãoacaba".Para

ele,

nem apesca

predatória

industrial vai

pôr

fim à artesanal. "Os barcosmatammuito

pei­

xe emalto mar,

40,

até60

toneladas,

masmuito

peixe

escapa. Esteana mes­

mo,viumamantade tainhacommais

de500mil". Ele acredita que,

pior

que

odescaso das autoridades

pela

faltade

fiscalização

napesca,sãoos

tarrafeiros,

que espantamoscardumes. "O

peixe

paraaterranãocorre,elecorreparao

mar",

declara. Elecontaque

alguns

anos,"ficava

peixe

o ano

todo",

escon­

didosnas

pedras.

"Umavez,mateitrês tainhasnodia24de

dezembro",

recor­

da.

Paraseu

Modesto,

ofuturo da pro­

fissão de

vigia

éincerto.Ele acredita que atualmenteé difícilumapessoareunir todasas

aptidões

necessáriasà

profis­

são. "Muito moço vê ocardume na

água,

masnãotem

experiência

com o

barco", declara.

ORQUÍDEAS

-Masa

paciência

deseu

Modestonão serviusomenteparalhe

ajudara

esperaroscardumes de tainha.

Desdemenino,elecultiva

orquidáceas

e

bromélias,

numlocal escondidonas encostasdo

Muquém.

"Com 10anos, ialevar comidaparameu

padrasto

na

lavouraeencontravaas

plantas

corta­ das de facão.Trazia

comigo

eia

plan­

tando nochão". Deste

modo,

foi for­ mando uma

coleção

que

calcula

ter maisde 20 mil mudas. Seu

orquidário

mais pareceum

jardim

natural,

onde asárvorese

pedras

sãototalmenteto­ madas

pelas

plantas.

Quem

vêa

simplicidade

deseuMo­ destonão

imagina

que ele éumpro­

funda conhecedor de

orquídeas

e

bromeliáceas. Aos poucos, foi apren­ dendocomos

pesquisadores

ecoleci­ onadores de todoo

país

edoexterior,

que

visitaramsua

coleção.

"Elesfala­ vamo nomecientíficoe eu

aprendia",

conta.Sua

coleção

foitemade repor­ tagensde

jornais

e revistas

estrangei­

ras,oque é motivo de

orgulho

paraseu

Modesto.

Sua

coleção

possui

quase todasas

espécies

de

orquídeas

ebromélias da

MataAl:lântica.Dascentenasde

espéci­

es que

possui

em seu

jardim,

muitas delasseencontramem

extinção

na na­

tur-eza.SeuModesto diz que nãogosta de pensarnisso, mas sabe que suas

plantas

valemmuitodinheiro. Ele até vende

alguma

muda,

mas sedesfazer

das

plantas

não fazpartedosseus

pla­

nos.SeuModesto diz

preferir

as

plan­

tas nacionais. '�

plantas estrangeiras

nãosãotão-bonitas comoas

brasilei-,

�",r�V€bt.,�

oU 'P"·.... 'i I" i·.li.-1C'!

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(5)

julho/1996

"Ehhh,

mardita!"

A

cachaça,

bebida

mais

tradicional

do

Brasil,

ainda

encontra

seus

melhores

produtores

entre

os

pequenos

alambiques

porRogério Kiefer ode atéser

invenção

doca­

peta,mas ocertoé que a

achaça

é a bebida destila­

da mais

popular

doBrasil.

Chega

a sertidacomo umsímbolo da ale­

gria

nacional

-ao lado da

mulata,

do futebol e do carnaval. Encon­ trada em

qualquer botequim

de

beira de

estrada,

a

"branquinha"

tem no preço um de seus

princi­

pais

atrativos,

o litro de

algumas

marcas custa menos de 1 real.

Além

disso,

serve para

afogar

as

mágoas.esquecer do'

abandonoda

mulher,

da derrota do time deco­

ração

ou apenas regar e animar um

bate-papo.

Essas

qualidades

fazem da

pinga

o

principal

pro­

duto de venda de

alguns

bares. A

produção

brasileira é desconheci­

da,

pois,

peque,nos

agricultores

fa­ bricam seu destilado artesanal­ mente sem

registro.

O

agricultor

Oswaldo Merkle

temasmãos

calejadas

pormais de

40anos de trabalho naroça. Des­

cendente de

alemães,

como a

maiorpartedos

produtores

dare­

gião

de

Joinville,

conta que seu

pai

começou a

produzir cachaça

em 1930.

Hoje,

com a

ajuda

do

filho

Alexandre,

Oswaldo Merkle

chega

a

produzir

60litros por

dia,

entretanto, revela que as vendas

andambaixas e a maiorparte da

produção

temficado armazenada

nos

alambiques.

Segundo

ele,

que

temumbarnabei­ ra da estrada onde vende

principal­

mentepara turistas

de passagem, nun­ cahouveumapara­

lisação

tão

grande

na comercializa­

ção.

"A recessão

causada

pelo

gover­

no

atingiu

bastan­

te o comércio de

cachaça",

reclama. Não existe mui­

to

segredo

para

produzir

umaboa

pinga.

Para seu

Oswaldo,

o essen­

cial é cuidar da hi­

giene

do

produto,

filtrandoagarapa

(caldo

de

cana)

antes da

destila-"j

A família de Oswaldo Merkle faz

cachaça

desde 1930

e

hoje

vende.a maior

parte

da

produção

aosturistas que passam

pelo engenho

gem e a

cachaça

pronta, com fil­ trode

algodão,

antesde iraoalam­

bique,

"pra

não entrar

vinagre

e

azedar tudo".Além

disso,

é

preci­

soquea

"branquinha"

saia fria do

destilador,

para manter o gosto

original

e que

seja

bem armaze­

nada. Os

alambiques

devem ser

limpos

e feitos de madeira resis­ tente.

AGUADA - A

qualidade

da cana

também é

importante, pois

quan­ do é pequena e

doce, exige

mais

fermentação,

masdá um

produto

final melhor. O

engenheiro agrô­

nomoJosé

Salvador,

extensionista da

Epagri

emLuís

Alves,

a

capital

catar-inense da

cachaça,

explica

queem

períodos

demuita

chuva,

a cana cresce efica

aguada.

"Com muita

água

a canaficamenosdoce

Cada

povo

tem

a

pinga

que

merece

Todos

os

povos têm

suas

bebidas tradicionais. Os

japoneses

por

exemplo,

fermentam

o arroz

para fazer

o

saquê,

os

italianos

a uva

para

o

vinho. Antes do

descobrimento,

os

habitantes da

terra

que viria

a ser o

Brasil

usavam um

fermen­

tado

em suas

cerimônias

religiosas.

Eram

os

índios

tupis,

que preparavam

sua

bebida,

o

cauim,

com

mandioca

e

milho

mastigados.

Mais

tarde,

com a

chegada

dos

portugueses

e o

começo do ciclo da cana-de­

açúcar

foram

trazidos muitos africanos para

o

trabalho

escravo no

país.

Os negros

também

possuíam

sua

própria

bebida,

feita

no seu

continente. Não acharam

os mesmos

produtos

no

Brasil

e

começaram

a

produzir

usando

a

rapadura

e o

bagaço

de

cana

que tinham facilmente.

Surgiu

assim

a

cachaça

no

Brasil.

.

Os negros bebiam para

se

fortalecer

e em suas

cerimônias

religiosas.

Até

hoje,

toda sessão de terreiro que

se

preze

usa

cachaça

para animar

os

espíritos.

Essa

crença é tão

forte,

que

qualquer

bebedor oferece

um

pouco de

sua

caninha

"pro

santo" de

devoção

antes

do

primeiro gole.

A bebida fez

um sucesso

tão

grande,

que

em

13 de setembro de

1649 Po

rtu­

gal

baixou

uma

provisão régia proibindo

oconsumo em

todo

o

país.

Achava que

a

cachaça

poderia atrapalhar

a

colonização,

deixando

o

povo desmotivado para

o

trabalho.

Mas,

como

tudo que é bom não

pode

ser

proibido, ninguém ligou

para

anova

lei

e a

branquinha

continuou imbatível

na

preferência popular.

e muito

grande.

Assim, o

produ­

tor

pode

deixara garapa fermen­

tando pormenostempomas,tem um

produto

inferiore em menor

quantidade".

A cana doce

pode

render até 200 litros de destilado para cada millitros de garapa,en­

quanto com amais

aguada

opro­

dutor tira apenas a metade. Por

isso, omelhor

período

de

produ­

ção

é o inverno,

quando

chove menos.

O

produtor

Eriço João

Fleight

aprendeu

a fazer

pinga

com o

pai

egarantenãotemer aconcorrên­

cia as

grandes

indústrias.

Eriço

afirma que a

cachaça

artesanal mantém bebedores

cativos, prin­

cipalmente

por não ter conser­

vantes, e ter um gosto melhor.

Chega

a

produzir

200 litros num

único diaeembora tenha diminu­

ídosuas

vendas,

acredita que no

invernoelas melhorem.''As indús­ trias estão fazendo uma

cachaça

de menor

qualidade

e isto tem

ajudado

os

produtores

a manter

seus

compradores",

arremata. "Seu" Oswaldo revela que co­

nheceumaboa

cachaça pelo

chei­ ro eque atualmentea

pinga

vem

piorando.

Ele acredita que o ex­ cessode

produtos

químicos,

usa­

dos para aumentaro rendimen­

to, tem feitoas pessoas tomarem "umverdadeiro veneno".Umadas formas de reconhecer a

qualida­

de da

pinga

é chacoalhara garra­

fa,

a boa faz bolhas pertodo gar­

galo.

No entanto,

alguns

engar­ rafadores "batizam" a bebida

com

água

para que ela rendamais

e misturam soda para que conti­

nueborbulhando.

Acana não é oúnico

produto

que

pode

ser usado no feitio da

pinga.

O mele abananatambém

podem

serusados na

produção.

Segundo

Oswaldo Merkle a de

mel,

que é misturada com

água

e destilada cinco dias

depois,

é

a melhor de todas porser"mais suave". Suave, éuma

palavra

es­

tranha

quando

se falaem cacha­

ça... O grau alcólico da bebida

varia de até

60%,

a

primeira

a

sairdo destilador e por isso co­

nhecida como "de

cabeça",

a

21%, chamada

"água

fraca". Uma

cerveja

tem um teor alcó­ lico pouco

superior

a 5%. MISTURA - Oswaldo conta

que

depois

de pronta, a

pinga

pode

receber vários

ingredientes

para mudar seu sabor. "Muita coisa

pode

sercolocada

junto

noalam­

bique,

como por

exemplo:

cascas

de

laranja,

cerne de

pessegueiro,

butiá,

gengibre

eoutros

produ­

tos,

dependendo

dogostode cada um".

Eriço

Fleight

diz que a ma­

deira de que é feitoo

alambique

também

pode

fazer

diferença

na

qualidade

da bebida. Umamadei­

ramuitousada na

construção

dos

barris éo

arariba,

porserbastan­ te resistente e durar

algumas

dé­

cadas. No entanto, ele assegura que a melhor "caninha" é a do

alambique

de carvalho,

Depois

de

alguns

anos "descansando" na

madeira "a

cachaça

fica mais 'no­

bre',

com corde

whisky

e um sa­

bor melhor do que as outras"

completa,

fazendo

propaganda

de

seu

produto.

A

cachaça,

certamente, éa be­

bida com o maior número de si­ nônimos que existe. Amansa-so­ gra,

pé-de-briga,

baixa-pau,

leite­

de-onça,

chora

menina.obrigação

de

pobre,

martelada,suor

de alam­

bique

e muitos outros: Mas, o

bom bebedor sabe que em

qual­

quer

botequim

bastaencostarno

balcão,

levantar o dedo e dizer

"me dáuma" que virá uma bran­

quinha

da boa.

-O

) I 'I I '1

(6)

.... :...s.. ,o,

Baleias

Todos

os

à

vist.a

anos,Santa

Catarina ironsiorma-se

em

berçário

para

as

baleias

francas,

a

segunda

espécie

mais

ameaçada

de

extinção

no

mundo

por Daniela Queiroze

MariaAugusta Carvalho

Entre

maio e

outubro,

nosso litoral recebe de­ zenas de baleias

francas.

Saindo dos mares frios da

Antártida,

elas

viajam

até

3

mil km em busca de

águas

mais

quentes

e calmas para os seus

futuros

filhotes. Dos

4

mil cetáceos restantes

dessa

espé­

cie. a

grande

maioria acaba en­

C";ntrando na Península de

Valdés,

Argentina,

condições

fa­ voráveis para o

parto,

mas al­

gumas

chegam

até o litoral Sul

do Brasil.

Denominada cientificamen­ teEubalaena

australis,

abaleia

franca é assim conhecida PQPU­ larrnente por ser extremamen­ te dócil e lenta

-atinge

no má­

ximo 15

km/h

- o

que facilita muito a sua

captura.

Pode ser

reconhecida

pelo

corpo todo negro. à

exceção

de uma man­ ch.r branca na

barriga.

Uma das características mais

peculiares

dcsxa

espécie

são as

"verrugas"

bra nco-amareladas na

cabeça.

Dilcrcrn de animal para

animal,

como se fossem

impressões

di­

gitais,

permitindo

aos

pesqui­

sadores o estudo do seu pro­ cesso de

migrações.

As baleias francas possuem a cauda mui­ to

larga,

a nadadeira

peitoral

em forma de

trapézio

oe

o "es­

guicho"

em forma de

"V",

bem

visível

quando

respiram

-na

verdade é o ar

quente

que sai

rápido

dos

pulmões,

e não

água.

As baleias dessa

espécie

podem alcançar

18 metros de

comprimento,

e

chegam

a pe­ sar cerca de 40 toneladas.

MIG

RAÇÕES

-

Segundo

o bió­

logo

Paulo André

FI�res,

do

"Projeto

Baleia

Franca",

o ciclo

desse cetáceo está dividido em

duas etapas

alimentação

e re­

produção,

que influenciam di­ retamente nosprocessos de mi­

gração.

Flores

explica

que du­ rante o verão no hemisfério

Sul,

asbaleias procuram os ma­ res frios da

Antártida,

onde há

"krill" em

abundância,

um crus­

táceo

parecido

com o

camarão,

base da dieta das francas. Co­

mo não possuem

dentes,

mas

sim

barbatanas,

elasnadamcom aboca

aberta,

próximas

à super­

fície,

"filtrando" o seu alimen­

to. O

estômago

de um animal

adulto

pode

armazenar até

3

toneladas de alimento.

PROMISCUIDADE- Com ache­

gada

do

inverno,

as baleias pro­ curam

águas

mais

quentes

e cal­ mas para a

reprodução.

A

°

mai­

or

parte

migra

para a Península

de

Valdés,

onde mais de 1.200 baleias

foram identificadas

pelos

padrões

de calosidadesna

cabeça.

Outras

chegam

atéoSul

do Brasil. Durante seis meses

elas quase não se alimentam.

É

um

período

dedicado somente

ao processo de

cópula

e

parto.

A

"promiscuidade"

é uma das

características

reprodutivas

des­

sa

espécie.

Vários machos ten­ tam

copular

com uma só

fêmea,

que

pode

aceitarum

pretenden­

te ou

rejeitar

a todos. Para

isso,

ela dificulta a

aproximação

do

JoséTrudlVDlvulgaqão

macho virando o ventre para cima. Mas acaba voltando à po­

sição

normal para

respirar,

fi­ cando vulnerável à

cópula.

.

Depois

de um

período

de

9

a 12 meses, a baleia franca dá à

luz a apenas um

filhote,

que

nasce com cercade

5

metros.No momento do

parto,

a fêmea

chega

a se

aproximar

até 20 metros da

praia.

Na amamen­

tação,

não há um contato dire­

to entre mãe e cria porque as

glândulas

mamárias dos ce­

táceos são internas. Com a con­

tração

dos músculos ao redor

dessas

glândulas,

o leite é

espir­

rado para fora. Pelo alto teor de

gordura,

o

líquido

nãosedissol­ ve na

água,

formando

espécies

de "bolos" dos

quais

o filhotese

alimenta. O

período

de ama­

mentação

dura cercadeumano,

sendo que o filhote passa mais

dois ou três anos com a mãe até

que ela acasale novamente. Du­ rante esse

tempo,

ele

aprende

a se alimentar e a realizaras mi­

grações.

O

(7)

...

julho/1996

---Turismo

ecológico

é

opção

de

inverno

Baleias

trancas

podem

atrair

turistas

para

o

litoral

catarinense

e

estimular

a

atividade

durante

a

chamada baixa

temporada

H

á

um ano, a baleia fran­ ca é

considerada

Mo­

numento

Natural

de

Santa Catarina.

Único

animal a

receber tal

classificação

no es­

tado,

a

proteção

da

espécie

conta com o

trabalho

do "Pro­

jeto

Baleia

Franca",

uma asso­

ciação

entre

organizações

não­

governamentais

(ONGs)

es­

trangeiras

e o governo do es­

tado.

Criado em

1982,

o

projeto

monitora a

população

de balei­ as francas no Sul do

país,

além

de criar medidas de

proteção

e educar a

população

para a

preservação

da

espécie,

através de cartazes,

folhetos

explica­

tivos e

palestras

em escolas.

"As pessoas, em

especial

as cri­ anças, têm sem mostrado mui­ to

receptivas

e interessadas no nosso

trabalho",

confirma o bi­

ólogo

Flores. Ele ainda

prevê

para este ano a

instalação

de

placas explicativas

nos locais

onde

as baleias são

avistadas

na ilha.

Paralelamente a esse

proje­

to, existe o

Programa

Baleia à

Vista,

que

pretende

aumentar

o turismo no litoral catari­ nense incentivando a observa­

ção

de baleias francasno inver­

no e assim acabar com a cha­

mada

"baixa

temporada".

Sóna

Península

de

Valdés,

em

1993,

o turismo

ecológico

gerou mais de

US$

27 milhões para

a

Argentina.

No

Brasil,

nesse mesmo ano, a

observação

de

cetáceos rendeu

US$

7 mi­

lhões,

mas nem um centavo

foi

embolsado por Santa Catarina. No ano

passado,

68

francas

fo­

ram avistadas no

estado,

e es­

tima-se para este ano um nú-mero ainda maior.

.

Paulo

Croccia,

oceanólogo

e um dos coordenadores do

programa,

explica

que o turis­

mo

ecológico

não irá

prejudi­

caras

baleias,

que a observa­

ção

é feita por terra. Na Praia do

Rosa,

lugar

de

freqüentes

avistagens,

uma

pousada

cons­

truiu um mirante para facilitar

a

observação

aos turistas. Mas

houve

incidentes

com

curiosos que não se contenta­

ram em ficar em terra

firme,

como um

cinegrafista

do SBT

que levou um susto e foi parar

na

água depois

de incomodar uma

franca

e seu

filhote.

Crocciatambém

lembra

a fal­

tade

fiscalização

na

Enseada

dos

Currais,

próxima

à Ilha de Anha­ tomirim. Todos os finais de se­ mana e durante a

temporada,

dezenas de

embarcações

inva­ dem o

local

atrás dos

golfinhos.

"Já

está

comprovada

uma alte­

ração

no

comportamento

dos

animais com a

aproximação

dos

barcos,

da música alta e a

própria

gritaria

dos

turistas",

diz o

oceanólogo.

Mas ele ga­

rante que com as francas será

diferente,

graças ao trabalho

de

conscientização

que está sendo

feito

junto

à pop

lação.(D.Q.,

M.A.C.)

O

Na

época

dasua

reprodução,

asbaleias francas JoséTruda/Dlvulgação

aproximam-se

muito dacosta,dando inúmerossaltoseexibindoa caudacaracterística

Histórias

de

pescador

de quatro ou cinco baleias porano e até 1973

ninguém

nunca falouem

proibição", explica.

Ovelho

pescador

temrazão. Em

1946

foi colo­ cadaem

vigor

umalei

proibindo

apesca da baleia.

Masamatança continuou.Entre1952e1973cerca

de 350 baleias francas foram mortas no litoral

catarinense,

quando

só então a

Armação

de

Imbituba,

amais ativado

estado,

fechousuaspor­ tas em

função

do

desaparecimento

das suas

presas.

Segundo

Esperandio,

aúnicaempresade

Florianópolis

com

condições

de realizar a

pesca baleeiraera a

"Pioneira",

atualmente

umadasmaioresindústriasdosetor.Apar­ tirdo século

20,

oóleodasfrancas passou aserutilizadona

conservação

decouros e na

produção

de sabão. Noentanto, a caça

continuoua serfeitacomonoséculo passa­

do,

usando-se um

arpão

com dinamite.

"Sempre

nos

aproximávamos

pela

frente da ba­ leia. Porsua

grande quantidade

de

gordura,

que

faz com que flutue

depois

de morta, e por sua

docilidade,

abaleiafranca foiumdos

primeiros

e

principais

alvos da pesca artesanal desdeoséculo

17.Acredita-se queeramencontradas desde Santa

Catarina atéa

Bahia,

existindo indícios decaptu­ rainclusivenaBaíadeGuanabara. Misturando-se oóleocom

barro,

cal de concha

queimado

eareia grossa, obtinha-seumcimento de ótima

qualida­

de. OFortede

Anhatomirim,

assimcomo amaior parte das casas

açorianas

da

ilha,

foi todo construídocom essematerial. Comasbarbatanas

faziam-se

espartilhos,

golas

de camisae

agulhas.

A

cameserviapara

alimentação

dosescravos e com osossos erafeitafarinha paraosanimais. Somen­ tenoséculo

passado,

mais de 100 mil baleiasfran­

casforam mortas, reduzin- doa

população

a ní­ veistãobaixos que che- gou-se a

duvidar deuma

possível

recuperação.

Esperandio

João

dos Santos nãogosta de fa­ larda

época quando

ca­

çava baleias. Esse pesca­ dor de

63

anos, nascido

ecriadonaPraiadaArma­

ção,

ao Sul da

ilha,

teme sercondenadoporumaati­

tudena

qual

não enxerga cri­ me

algum.

"Pescávamoscerca

.A

..

.'

Entãoumdenós fincavao

arpão",

conta.Abaleiaten­ tavase

livrar,

mas

depois

de cinco minutos vinha a

explosão. "Às

vezestínhamosque esperar até24horas paraabaleia

boiar,

masnão

perdíamos

orastrograças aoóleo que ela ia

soltando",

lembrao

pescador

Aldo Correia de Souza, 56anos,

tam-bém

pescador

nativo da

Armação,

lembra que,

quando

garoto,pegavaossosde ba­

leia para vender. "Havia uma cerca de ossos emtoda a

praia,

construída ainda notempodos

escravos",

lembra Aldo.

Os

pescadores

nãovêemcombons olhosofato de Santa Catarinaserber­

çário

natural das baleias francas. "Elas

se

aproximam

demaiseacabamlevan­

doedestruindonossas

redes",

recla­ maAldo. O

pescador já

viuoscartazes

do

"Projeto

Baleia Franca" embares ,

I.

. erestaurantesda

Armação,

ereconhe­

"'I::'

.

'D'

ce a

importância

da

preservação

da .

;.Jt.'1

espécie.

No entanto,

cOnfessa,

estar

"

1.

muito mais

preocupado

com a

ex-l'

tinção

da pesca

artesanal,

seu

ganha

'" ..

f.

pão

de toda avida. '�cho válido que

-:1

haja

gente lutando

pela

vida �c;,.L_.J/_ das baleias. Masos

pes-�

cadores artesanais

tam-�

.

',/"

t

bémestão

ameaçados

-...,.__"

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1/..

i

e

ninguém

faz

nada",

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....

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diz

o.pescador.

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Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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