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Concepções, autopercepção e práticas ligadas à saúde e doença de estudantes universitários masculinos do bacharelado interdisciplinar em saúde da Universidade Federal da Bahia

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Academic year: 2021

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INSTITUTO DE HUMANIDADES, ARTES E CIÊNCIAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO ESTUDOS INTERDISCIPLINARES SOBRE A UNIVERSIDADE

DANIELE MACHADO PEREIRA ROCHA

CONCEPÇÕES, AUTOPERCEPÇÃO E PRÁTICAS LIGADAS À SAÚDE E DOENÇA DE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS MASCULINOS DO

BACHARELADO INTERDISCIPLINAR EM SAÚDE DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

Salvador-BA 2017

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CONCEPÇÕES, AUTOPERCEPÇÃO E PRÁTICAS LIGADAS À SAÚDE E DOENÇA DE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS MASCULINOS DO

BACHARELADO INTERDISCIPLINAR EM SAÚDE DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Estudos Interdisciplinares Sobre a Universidade do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Professor Milton Santos da Universidade Federal da Bahia, como requisito para obtenção do grau de mestra em Estudos Interdisciplinares sobre a universidade.

Linha de pesquisa II: Qualidade de vida e promoção da saúde na universidade.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Thereza Ávila Dantas Coelho.

Coorientador: Prof.º Dr.º Jorge Luiz Lordelo de Sales Ribeiro.

Salvador-BA 2017

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Ficha catalográfica fornecido pelo Sistema Universitário de Bibliotecas da UFBA SIBI-UFBA

D184 Machado Pereira Rocha, Daniele

Concepções, autopercepção e práticas ligadas à saúde e doença de estudantes universitários masculinos do Bacharelado Interdisciplinar em Saúde da Universidade Federal da Bahia. / Daniele Machado Pereira Rocha. - Salvador, 2017.

117 f. il.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Thereza Ávila Dantas Coelho.

Coorientadora: Prof.º Dr.º Jorge Luiz Lordêlo de Sales Ribeiro. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal da Bahia, Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Professor Milton Santos.

1. saúde. 2. doença. 3. autocuidado. 4. estudantes. 5. universidade. I. Coelho, Maria Thereza Ávila Dantas. II. Ribeiro, Jorge Luiz Lordêlo de Sales. III. Título.

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Nesta vida, não construímos nada sozinhos e a elaboração desta dissertação teve o apoio, a parceria, a paciência e a contribuição de muitas pessoas que são extremamente importantes na minha vida.

A Deus, meu socorro bem presente na hora da angústia, que me abençoa e me protege na minha trajetória de vida acadêmica.

A todos os meus familiares, em destaque para minha avó (Nicinha), pelas orações e intercessões. Aos meus pais (Eliene e Edmundo) pelos pedidos de proteção, por acreditar e incentivar a cada dia meu progresso nos estudos.

Agradeço a minha tia (Dr.ª Edilene), por ser inspiração, exemplo de vida e resiliência, pois, se estou terminando este mestrado e buscando o doutorado, é graças a ela.

Ao meu companheiro, Daniel, pelo apoio, paciência, cumplicidade. Por ser um ombro mais que amigo em que eu podia dividir minhas angústias e triunfos na pesquisa e escrita da dissertação.

À Dr.ª Thereza Coelho, por se minha orientadora desde a minha entrada no Bacharelado Interdisciplinar e continuar comigo no mestrado. Pelas oportunidades, pelo acolhimento no grupo de pesquisa e por acreditar no meu potencial, sou muito grata.

Ao meu coorientador, Dr. Jorge Sales, pelo cuidado, atenção e paciência. Aprendi muito com seus ensinamentos e com sua metodologia de ensino.

Aos meus amigos (as) de pesquisa, Luciana, Angélica, José, Fernanda, Fiama, Juan, Adailton, pelas discussões do trabalho, pela paciência de leitura conjunta, pelo aprendizado. Agradeço a Raquel, pelo interesse por meu tema de estudo, pela construção conjunta do artigo. A Carlos, inspiração dentro do grupo, pela

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Aos meus amigos de mestrado e vida, Elvira, Alex e Cristiano. Nossas risadas, trocas de experiências e momentos pós-aula fizeram toda a diferença nesta caminhada.

À minha melhor amiga, Emilin, e ao meu cunhado e amigo Iago, pelos momentos de diversão e pela compreensão nos meus momentos de escrita.

Por fim, ao Instituto de Humanidades, Artes e Ciência Professor Milton Santos (IHAC), com todos os seus profissionais e estudantes, que em conjunto auxiliaram na trajetória acadêmica, direta ou indiretamente, influenciado na minha (des)construção de pensamentos e percebendo o valor e a necessidade de sermos interdisciplinares na teoria e na prática.

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“Ter desafios é o que faz a vida interessante e superá-los é o que faz a vida ter sentido”.

Joshua J. Marine [...] “Até aqui nos ajudou o Senhor”.

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Bacharelado Interdisciplinar em Saúde da Universidade Federal da Bahia. 117 f. il. 2017. Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós Graduação em Estudos Interdisciplinares sobre a Universidade, Instituto de Humanidades, Artes e Ciências, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2017.

RESUMO

Introdução: Poucas são as pesquisas ligadas às concepções, autopercepção e práticas relacionadas à saúde e doença de estudantes universitários, sobretudo no contexto da saúde do homem. Há necessidade de se ampliar as pesquisas na intenção de perceber como os estudantes compreendem a saúde e a doença, como avaliam o próprio estado de saúde e as práticas que utilizam em seus cotidianos. Objetivo: Analisar as concepções, autopercepção e práticas ligadas aos processos de saúde e doença de estudantes do gênero masculino ingressos em um curso superior de saúde, da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Metodologia: Participaram da pesquisa alunos com idade entre 18 e 61 anos, que responderam às perguntas de um questionário semiestruturado, referentes à temática abordada. As respostas foram analisadas nos moldes da análise de conteúdo de Bardin. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e os participantes assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Resultados: Em relação às concepções de saúde, as respostas referiram-se majoritariamente à ideia de saúde como bem-estar, ligada ao conceito da Organização Mundial da Saúde (OMS), aos hábitos de vida, como alimentação saudável e atividade física. Quanto à autopercepção, 90% dos estudantes se consideraram saudáveis. Referente às concepções de doença, destacaram-se as ideias de desequilíbrio do corpo e da mente, assim como as de dores física e/ou mental. Relativo às práticas de saúde, novamente apareceram a atividade física e a alimentação saudável como formas de se obter uma boa saúde e prevenir doenças. Outras práticas de promoção, prevenção, práticas integrativas / complementares e religiosas de saúde também foram mencionadas, em menor frequência. Conclusão: As concepções relacionadas ao modelo hegemônico biomédico, relacionado à saúde como ausência de doença,

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nas práticas, respostas que são comumente veiculadas na mídia e que se inclinam para uma visão de saúde individualizada do sujeito, tornando os mesmos responsáveis por seu próprio cuidado. Na perspectiva da saúde dos homens, as respostas afastam-se do corriqueiro distanciamento dos homens em relação aos serviços e cuidado com a saúde, mas evidenciam algo que é discutido na literatura, a percepção positiva de saúde e o fato de não se sentirem doentes. Desse modo, salienta-se a necessidade de se dar destaque a novas formas de vivenciar os processos de saúde e doença, reconstruindo/descontruindo masculinidades e concepções/práticas de saúde e doença predominantes.

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Bachelor of Health of the Federal University of Bahia. 117f. il. 2017. Master Dissertation - Programa de Pós Graduação em Estudos Interdisciplinares sobre a Universidade, Instituto de Humanidades, Artes e Ciências, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2017.

ABSTRACT

Introduction: There are few researches related to conceptions, self-perception and practices concerned with health and illness, between university students, especially in the context of human health. There is a need to broaden the research in order to know how students understand health and disease, how they assess their health status and which practices they use in their daily lives. Objective: To analyze the conceptions, self-perception and practices related to health and illness processes between male university students, of a higher health course in Federal University of Bahia. Methodology: The participants of the study were students aged between 18 and 61, who answered the questions of a semi-structured questionnaire, referring to the subject matter. The responses were analyzed according to Bardin‟s content analysis model. The study was approved by the Research Ethics Committee of the Nursing School of the Federal University of Bahia and the participants signed an Informed Consent Term. Results: Regarding to health conceptions, the answers referred mainly to the idea of health as well-being, linked to the concept of the World Health Organization (WHO), to the habits of life, such as healthy eating and physical activity. Regarding self-perception, 90% of the students considered themselves healthy. Regarding conceptions of disease, the ideas of imbalance of body and mind, as well as those of physical and / or mental pain, stand out. Concerning health practices, physical activity and healthy eating once again appeared as ways of achieving good health and preventing diseases. Others practices of promotion, prevention, integrative / complementary and religious practices of health were also mentioned, but in small amount. Conclusion: The conceptions related to the biomedical hegemonic model, related to health as absence of disease, have been deconstructed and gradually a collective and humanized thinking becomes more present. Nonetheless, we perceive both conceptions and practices that are

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view of men's health, the answers diverge from the common distance of men in relation to health care and services, but they point to something that is discussed in the literature, the positive perception of health and the fact that they do not feel sick. Thus, it is necessary to emphasize new ways of experiencing health and disease processes, reconstructing / dismantling masculinities and prevailing health and disease conceptions / practices.

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Tabela 1 Concepções de saúde dos estudantes. (Artigo 1) ... 33

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ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária AS alimentação saudável

AT atividade física

BI Bacharelado Interdisciplinar

BIS Bacharelado Interdisciplinar em Saúde CEP Comitê de Ética em Pesquisa

CNDSS Comissão Nacional sobre os Determinantes Sociais da Saúde CNPq Conselho Nacional de Pesquisa

COFEN Conselho Federal de Enfermagem DSS Determinantes Sociais da Saúde FACIPE Faculdade Integrada de Pernambuco

FAPESB Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado da Bahia HND História Natural das Doenças

IC iniciação científica

IHAC Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Professor Milton Santos LAPICS Liga Acadêmica de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde

OMS Organização Mundial da Saúde ONU Organização das Nações Unidas PAF Pavilhões de Aula da Federação PIB Produto Interno Bruto

PICS Práticas Integrativas e Complementares

PNAISH Política Nacional de Atenção Integral a Saúde do Homem PNPIC Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares PNPS Política Nacional de Promoção da Saúde

PPGEISU Programa de Pós-Graduação Estudos Interdisciplinares Sobre a Universidade

SAVIS Núcleo de Estudos Interdisciplinares em Saúde, Violência e Subjetividade

SUS Sistema Único de Saúde

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido UFBA Universidade Federal da Bahia

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APRESENTAÇÃO...16

INTRODUÇÃO...18

2 ARTIGOS... 25

2.1 ARTIGO 1 - CONCEPÇÕES E AUTO-PERCEPÇÃO LIGADAS À SAÚDE E À DOENÇA DE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS DO GÊNERO MASCULINO... 26

2.2 ARTIGO 2 - PRÁTICAS DE SAÚDE DE ESTUDANTES DO GÊNERO MASCULINO DE UM CURSO SUPERIOR EM SAÚDE... 53

2.3 ARTIGO3 - INFLUÊNCIA DA MASCULINIDADE NAS CONCEPÇÕES E PRÁTICAS DE UNIVERSITÁRIOS RELACIONADAS À SAÚDE E À DOENÇA...76

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 94

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 95

APÊNDICES... 106

APÊNDICE A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)...107

APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO APLICADO AOS ESTUDANTES INGRESSOS NO BACHARELADO INTERDISCIPLINAR EM SAÚDE...108

ANEXOS...111

ANEXO A - PRINT DO COMPROVANTE DE SUBMISSÃO DO ARTIGO 01: REVISTA E-PSI – REVISTA ELETRÔNICA DE PSICOLOGIA, EDUCAÇÃO E SAÚDE...112

ANEXO B - PRINT DO COMPROVANTE DE SUBMISSÃO DO ARTIGO 02: REVISTA DA FAEEBA – EDUCAÇÃO E CONTEMPORANEIDADE... 113

ANEXO C - PRINT DO COMPROVANTE DE SUBMISSÃO DO ARTIGO 3 – REVISTA INTERFACES CIENTÍFICAS - HUMANAS E SOCIAIS ... 114

ANEXO D – PARECER CONSUBSTANCIADO DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA DA ESCOLA DE ENFERMAGEM DA UFBA / PLATAFORMA BRASIL... 115

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APRESENTAÇÃO

Este trabalho é fruto de um processo de aprendizado dentro do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Professor Milton Santos (IHAC), da Universidade Federal da Bahia. Esse Instituto me acolheu desde 2011, como ingressante no Bacharelado Interdisciplinar em Saúde (BIS), um curso novo, com uma proposta revolucionária de ensino, que me cativou e remodelou os meus projetos de vida estudantil e profissional, principalmente na área da saúde, a qual não fazia parte dos meus planos e que, no entanto, direcionou o meu olhar para uma perspectiva humanizada e integradora, proporcionando também a finalização de mais um ciclo dentro do Programa de Pós-Graduação Estudos Interdisciplinares Sobre a Universidade (PPGEISU).

No BIS obtive a oportunidade de participar de reuniões em grupos de iniciação científica (IC), logo nos primeiros semestres e ingressar, como bolsista de IC, em 2012, no grupo coordenado pela Prof.ª Dr.ª Maria Thereza Ávila Dantas Coelho (atual orientadora de mestrado), na pesquisa intitulada „Bacharelado Interdisciplinar em Saúde: concepções e práticas de saúde e doença‟. Nesse grupo, tive em conjunto com as outras bolsistas o espaço para escolher com qual público iríamos estudar e trabalhar durante a pesquisa e, diante das alternativas, preferi a temática da saúde do homem, pela curiosidade e por falta de informações tanto no cotidiano geral, quanto acadêmico.

Durante esse ciclo, estudei, apliquei questionários, explorei o assunto no contexto dos estudantes do BIS, como proposto pelo projeto de pesquisa, e isto me possibilitou a criação e aperfeiçoamento do artigo denominado „Gênero Masculino: concepções e práticas de saúde‟, apresentado no III Seminário Internacional Enlaçando Sexualidades e publicado nos anais deste mesmo congresso, em 2013. No ano de 2015, retorno ao projeto de pesquisa, inserida no Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades, e desta vez o estudo é intitulado „Concepções e práticas pessoais e profissionais ligadas a processos de saúde e doença‟.

Nessa mesma época, obtive aprovação na seleção do Programa de Pós-Graduação Estudos Interdisciplinares Sobre a Universidade (PPGEISU) da UFBA, trabalhando com meu tema de interesse ligado às concepções, autopercepção e práticas de saúde e doença de estudantes do gênero masculino do BIS, dentro da

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linha de pesquisa „qualidade de vida e promoção da saúde na universidade‟, que contribui também com os estudos de gênero e políticas públicas de saúde.

Atualmente orientada pela Prof.ª Dr.ª Maria Thereza e coorientada pelo Prof.º Dr.º Jorge Luiz Lordêlo de Sales Ribeiro, do Instituto de Psicologia da UFBA, venho construindo e apresentado artigos, com parcerias de colegas tanto do mestrado, quanto da iniciação científica, a saber, „Construção do corpo masculino: relações com ações de promoção da saúde e prevenção de doenças‟, no IV Seminário Internacional Enlaçando Sexualidades em 2015; „Região Sudeste e suas políticas de promoção da saúde voltada para a população‟, no 12º Congresso Internacional Rede Unida em 2016; „Práticas de saúde de estudantes do sexo masculino do Bacharelado Interdisciplinar em Saúde da Universidade Federal da Bahia‟, Congresso da UFBA em 2016, dentre outros.

O BIS e todas as pessoas que estiveram e estão ao meu redor proporcionaram uma visão acadêmica e profissional que eu não pensava em construir e que hoje vem se delineando em forma de mestrado, com a criação da dissertação em formato de artigos, de acordo com o disposto na Resolução nº 003/2011 do PPGEISU. Os artigos presentes nesta dissertação estão submetidos à publicação nos periódicos Revista da FAEEBA: Educação e Contemporaneidade, Revista E-Psi – Revista Eletrônica de Psicologia, Educação e Saúde, sendo um artigo já aceito para publicação na revista Interfaces Científicas - Humanas e Sociais.

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INTRODUÇÃO

Parece unanimidade, todos e todas querem estar saudáveis e jamais estar doentes. A saúde representa um bem valioso e necessário para a vida e a doença parece representar um problema diante disso. Laplantine (2010) descreve, em Antropologia da Saúde, que a doença tende a ser considerada como um mal, um infortúnio. A saúde, por sua vez, vai ao encontro do sucesso, produtividade e felicidade. Seguindo essa linha, um dos conceitos mais utilizados para definir a saúde, o da Organização Mundial da Saúde (OMS, 1948), a considera como não somente ausência de doença, mas um estado de completo bem-estar físico, mental e social, sem espaço para enfermidades, pois, do contrário, não seria uma saúde ideal e prazerosa (SCLIAR, 2007).

Nos dicionários pesquisados, esses conceitos não possuem mudanças significativas. Segundo o Minidicionário Soares Amora da língua portuguesa, saúde é um substantivo feminino que significa “estado de coisa ou indivíduo que é são, que tem as funções orgânicas regulares”; também tem sentido de “vigor” e representa uma saudação e/ou brinde, dependendo da situação (AMORA, 1999, p. 663). A doença, por sua vez, é conceituada como a “falta ou perturbação da saúde”; também é considerada um “mal, moléstia, enfermidade” (AMORA, 1999, p. 235).

Um pouco mais objetivo, o minidicionário Houaiss da língua portuguesa considera a saúde como um “estado do organismo livre de doença”; significa também “força física, vigor” e tem relação com um voto que as pessoas utilizam quando alguém espirra ou faz um brinde (HOUAISS, 2010, p. 702). A doença está ligada a um “distúrbio da saúde de um humano, animal etc., manifestado por sintomas, enfermidade, moléstia” (HOUAISS, 2010, p. 270). Algumas concepções de saúde e doença foram emblemáticas e, mesmo seculares ou milenares, permanecem no cenário social, perpassadas por uma visão mágico-religiosa, pelas ideias de equilíbrio e harmonia, de saúde como ausência de doença e pelo modelo biomédico, utilizado com maior frequência para determinar os processos de saúde e doença.

No modelo mágico religioso ou xamanístico, os (as) autores (as) pesquisados (as) situam tais concepções a partir do período compreendido, segundo Reis (1998), de 2600-323 a.C até 776 a.C, na Mesopotâmia e no Egito, onde a doença era vivenciada como um castigo divino, uma maldição, ocasionada pelos pecados que

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os indivíduos cometiam de transgressões aos mandamentos sagrados, originando-se as doenças visíveis como a cólera e a lepra, bem como a guerra, a fome e os desastres ambientais (CZERESNIA; MACIEL; OVIEDO, 2013). Oblações eram oferecidas aos deuses com o objetivo de cessar as punições. Essa perspectiva ficou conhecida como „modelo mágico-religioso ou xamanístico‟. Também no período até 476 d.C, a população acreditava que forças sobrenaturais ligadas à natureza causavam as doenças, de modo individual ou coletivo, a partir do desrespeito às divindades. Feiticeiros e xamãs eram chamados para restaurar as ligações com a natureza e afastar os espíritos ruins que estavam nas pessoas. Nesse período também se iniciaram estudos mais analíticos acerca da saúde e da doença (REIS, 1998; SCLIAR, 2007; CRUZ, 2009).

Relacionando-se ao pecado, as concepções de saúde e doença, no período compreendido entre 500-1500 d.C, evidenciaram o poderio da Igreja Católica e o modo como a purificação da alma era essencial para livrar-se dos castigos de Deus e, consequentemente, das doenças a que eram acometidas a população. Nesse período, denominado Idade Média, houve incontáveis epidemias e pestes, a exemplo da lepra e varíola, em que a população afetada era condenada ao isolamento, em local intitulado „hospital‟. Apesar do domínio da igreja, algumas atitudes ligadas à saúde pública foram criadas e efetivadas, como a proibição da lavagem das peles dos animais e o fornecimento de água tratada para as necessidades dos moradores (BATISTELLA, 2007).

Concepções mais naturalísticas acerca dos processos de saúde e doença iniciaram-se com a medicina da Grécia Antiga, ainda que a cultura grega associasse diversos deuses e deusas à saúde, a saber, Higeia e Panacea que, respectivamente, representavam a higiene e a cura. Salienta-se que, no tocante à cura, os gregos também utilizavam plantas e métodos naturais, com ervas, pedras e mãos, para além dos ritos religiosos. As ervas eram utilizadas para reduzir as dores e agilizar a cicatrização, as pedras para cauterizar as feridas e a imposição das mãos para curar e abençoar (SCLIAR, 2007; TEIXEIRA; OKADA, 2009).

Embora houvesse esses processos de saúde e cura das doenças, a Grécia Antiga ficou marcada pela teoria naturalista e racionalista do considerado pai da medicina, Hipócrates de Cós (460-370 a.C), (REIS, 1998). O modelo hipocrático relacionava a saúde e a doença a causas naturais do equilíbrio e harmonia vital, caracterizado por ele pela existência de quatro humores no corpo – a bile amarela

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(no fígado), a bile negra (no baço), a fleuma ou linfa (no cérebro) e o sangue (no coração). Hipócrates então percebia o homem como um sistema ordenado através desses fluídos, e o desarranjo desse equilíbrio como um estado de doença, bem como um estímulo que a natureza realiza para o homem se reequilibrar (CANGUILHEM, 1943/2009; REIS, 1998; SCLIAR, 2007; CRUZ, 2009; ALMEIDA FILHO, 2011).

Nessa direção, a saúde e a doença eram então concebidas como um equilíbrio ou desequilíbrio desses elementos, relacionados também ao ar, à água, ao ambiente e à alimentação dos sujeitos. O filósofo pré-socrático Alcméon (510 – V a.C) pregava que as circunstâncias do desequilíbrio eram derivadas do ambiente físico, dos astros e do clima, reforçando as ideias de Hipócrates e caracterizando esse período, em que as pessoas deveriam seguir um estilo de vida concernente com as leis naturais do ambiente, como produtor de um modelo holístico de saúde, em que a doença faz parte do homem e tem a intenção de cura para um novo equilíbrio, diferente do modelo de integralidade atual, que considera essencial a interação entre aspectos biopsicossociais dos sujeitos (CANGUILHEM, 1943/2009; REIS, 1998; SCLIAR, 2007; CRUZ, 2009).

Relacionado às concepções acima, o equilíbrio e harmonia como sinônimos, em uma perspectiva biológica e física, integram a visão da medicina experimental positivista fundamentada pelo médico fisiologista Claude Bernard (1813-1878), autor que defendia o saber científico para determinar os processos de saúde e doença e que foi criador da „expressão meio interno‟. Atualmente essa expressão vincula-se à ideia de homeostase, criada pelo fisiologista Walter Canon, por volta de 1929, caracterizada pela autorregulação por meio das células e sistemas biológicos, garantindo a estabilidade do meio interno e seu equilíbrio, e, dessa forma, uma boa saúde. Nessa perspectiva, se há uma alteração do meio interno e o organismo, por intermédio da homeostase, não consegue compensá-la, ocorre a doença (ALMEIDA FILHO, 2011; JANCZUR, 2013).

A ideia de equilíbrio e harmonia é criticada pelo filósofo da medicina, o norte-americano Christopher Boorse, que embora tenha seu nome pouco mencionado e citado nas bibliografias relacionadas à saúde coletiva no Brasil, tem publicações que reformulam conceitos de saúde e doença. A saber, Boorse considera inconsistentes valores morais na concepção de saúde, pois eles reduzem a neutralidade, sendo a idealização incompatível com o ideal biologicista. Desse modo, Boorse incentiva

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uma análise nos moldes biológicos, que resultaria na expressão „saúde como ausência de doença‟ ou na perspectiva negativa da saúde. As reformulações de Boorse atingem a lógica fisiológica de homeostase, ao considerar que doenças como surdez, paralisia e esterilidade não configuram quebra do equilíbrio e sim alterações biológicas, não sustentando, assim, a teoria da homeostasia (ALMEIDA FILHO; JUCÁ, 2002; ALMEIDA FILHO, 2011).

De acordo com a ideia de saúde como ausência de doença, baseada na concepção boorseana, esta se desenvolve a partir do funcionamento natural de cada parte que resultaria na saúde do organismo, sendo, assim, uma questão objetiva. De forma individual, um organismo saudável deveria agir de maneira normal e livre de agentes patológicos. Segundo a teoria de Boorse, os organismos seguem um comportamento direcionado para um objetivo; alguns exemplos são o suor para o calor, a adrenalina para o estresse, a digestão para a alimentação, dentre outros. Desse modo, quando o sistema não funciona de maneira normal ele torna-se imperfeito. Essa visão boorseana é criticada, pois suprime fatores econômicos, sociais, culturais e psicológicos que perpassam os processos de saúde e doença (ALMEIDA FILHO; JUCÁ, 2002; BATISTELLA, 2007).

Ressalta-se que o modelo biomédico está vinculado à conjuntura do renascimento e ao método de René Descartes (1596-1650), filósofo e matemático francês criador do discurso do método, cujas ideias produziriam o cartesianismo, que, para além da separação mente-corpo, também se baseou na identificação de todos os pontos para a aceitação da verdade, separação de todas as partes para poder examiná-las e solucioná-las, através do pensamento ordenado, da simplicidade e revisão sistemática e completa dos elementos de um discurso (REIS, 1998; BARROS, 2002; CRUZ, 2009). Laplantine (2010) considerou que esse modelo subtrai o sujeito, sua história e suas subjetividades e que estas práticas, institucionalizadas, levam o indivíduo a perceber-se vulnerável e fraco diante da doença, sem poder decidir, agir e refletir acerca da sua própria experiência de adoecimento.

Atualmente, e de forma mais prevalente, existem concepções de saúde e doença que avançam na perspectiva do conceito de saúde ampliado, com foco nos determinantes sociais da saúde e tendo o sujeito como protagonista das suas percepções de saúde e doença. As discussões desses modelos são importantes para a construção e o entendimento dos processos de saúde e doença, pois focam

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nas questões de iniquidades sociais, vivenciadas por um conjunto da população que sofre com situações que são poupáveis, indevidas e dispensáveis (BUSS; PELLEGRINI FILHO II, 2007).

As práticas de saúde também avançam para uma visão mais expandida, para além das práticas individuais de saúde, que fazem parte do estilo de vida pessoal de cada sujeito e que podem ser influenciadas por fatores externos, como a mídia e os grupos em que o sujeito esteja inserido, a exemplo da atividade física, alimentação saudável e práticas terapêuticas biomédicas, que realizam o tratamento e a cura das doenças. As práticas se ampliam para o coletivo, com foco nas ações realizadas para a saúde de toda a população de forma equitativa, contribuindo para o bem-estar social, bem como para as práticas religiosas, integrativas e complementares, realizadas em igrejas, grupos de apoio, centros espirituais, espaços recreativos, utilizadas pela população de forma coletiva e/ou individual, contribuindo para a saúde e a cura de doenças (ACIOLI, 2006; TROVÓ & SILVA, 2002).

Com relação às Práticas Integrativas e Complementares (PICS), o Ministério da Saúde, através da Portaria nº145/2017, ampliou as possibilidades de procedimentos. Agora, para além dos que já existiam na Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no Sistema Único de Saúde (PNPIC/SUS) de 2006, a saber, acupuntura, fitoterapia, homeopatia, termalismo social/crenoterapia e medicina antroposófica, o SUS oferece também arteterapia, meditação, musicoterapia, tratamento naturopático, tratamento osteopático, tratamento quiroprático, reiki, terapia comunitária, dança circular/biodança, yoga, oficina de massagem/automassagem, auriculoterapia e massoterapia (BRASIL, 2017).

No que concerne às concepções e práticas ligadas à saúde e doença de estudantes homens de cursos superiores da área da saúde, encontramos um número reduzido de estudos que abordem o tema em questão. As pesquisas voltadas para a saúde da população universitária geralmente referem-se ao consumo de alimentos saudáveis e/ou práticas de atividade física. Com relação ao conteúdo referente às percepções sobre a saúde e a doença, os estudos referem-se, de modo predominante, ao público de homens trabalhadores (GOMES, 2008; GOMES, 2010).

Entretanto, as pesquisas relacionadas à saúde e à doença dos homens vêm ascendendo, desde o final da década de 1970, em uma perspectiva

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norte-americana. Na América latina, os estudos começaram a emergir a partir da década de 80, com as altas taxas de morbimortalidade masculina. Baseado nesses dados e no aumento progressivo deles no país, o Brasil criou, em 2009, a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH), pensando na vulnerabilidade dos homens às doenças e no pouco cuidado com a sua saúde (BRASIL, 2009; CARRARA; RUSSO; FARO, 2009; RODRIGUES & RIBEIRO, 2012).

Historicamente os homens acreditam que o cuidado tem relação com a feminilidade e, portanto, deve ser atribuído às mães, companheiras e profissionais da área da saúde. Vale considerar que essa visão vem sendo problematizada, discutida e aos poucos desconstruída, e que, ao longo das mudanças sociais é possível identificar outras concepções e modos de se colocar frente à saúde, pois os homens vêm se cuidando mais e sendo cuidadosos uns com os outros, se distanciando do padrão de masculinidade hegemônica construído socialmente como modelo dominante de ser homem, incluindo outras masculinidades que são plurais e variam de acordo com a cultura e a época (CONNEL, 1995; FIGUEIREDO; SCHRAIBER, 2011; COELHO et al, 2016).

Percebe-se que há uma importância em estudar, transmitir e compreender saberes acerca da saúde e doença de forma equitativa e igualitária, englobando as particularidades sociais, de gênero e raça/etnia. Desse modo, estudos sobre esta temática têm como um dos objetivos contribuir para melhorar as condições de vida dos sujeitos, considerando que saúde e doença têm demandas que se modificam a cada época. Tais condições de vida envolvem saneamento básico adequado para toda população, criação de ambientes saudáveis, melhores condições de trabalho respeitando a saúde e a subjetividade do (a) trabalhador (a), de modo a ampliar a expectativa de vida de homens e mulheres, incluindo os fatores socioculturais que influenciam a morbimortalidade das pessoas (BUSS, 2000; GIDDENS, 2005; BUSS; PELLEGRINI FILHO II, 2007).

A inserção dos estudos sobre a saúde dos estudantes homens tende a melhorar o entendimento sobre as concepções e práticas desse segmento, com efeito, tanto na esfera coletiva, em conjunto com seus familiares, amigos (as) e companheiras (os), quanto na individual. A pesquisa pode fortalecer a desconstrução de estereótipos sobre os homens, a construção de novas masculinidades, compreendendo que este segmento da população tem demandas

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específicas, necessitando de cuidado e qualidade de vida (SCHWARZ; MACHADO, 2012).

Diante disso, o objetivo deste estudo é analisar as concepções, autopercepção e práticas ligadas à saúde e à doença, dos estudantes do gênero masculino do Bacharelado Interdisciplinar em Saúde da Universidade Federal da Bahia. Este estudo está vinculado ao projeto de pesquisa „Concepções e práticas pessoais e profissionais ligadas a processos de saúde e doença‟ e ao Núcleo de Estudos Interdisciplinares em Saúde, Violência e Subjetividade (SAVIS) que tem, como uma de suas linhas de pesquisas a de „saberes e práticas de saúde‟.

Esta é uma pesquisa de cunho qualitativo, realizada junto aos alunos do Bacharelado Interdisciplinar em Saúde (BIS) do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Professor Milton Santos (IHAC) da Universidade Federal da Bahia (UFBA), ingressos no semestre de 2014.1 nos turnos diurno e noturno. O total de ingressantes do gênero masculino, nesse ano, foi de 79 alunos e participaram desta pesquisa 76 estudantes. Para a coleta de dados aplicou-se, como instrumento de pesquisa, um questionário semiestruturado, contendo 33 perguntas acerca das concepções e práticas de saúde dos estudantes. Esse questionário é utilizado em alguns dos estudos realizados no grupo de pesquisa citado anteriormente. A aplicação do questionário foi realizada no IHAC, nos pavilhões de aula da federação (PAF) III e V, durante o início das aulas, no âmbito do componente curricular HACA10 Introdução ao Campo da Saúde.

As respostas dos alunos foram digitadas no processador de texto Microsoft Word® e analisadas de forma qualitativa, explorando o caráter subjetivo de cada conteúdo escrito pelos sujeitos (MINAYO & SANCHES, 1993). As repostas de caráter objetivo foram analisadas no editor de planilhas Microsoft Office Excel®, sendo contabilizadas em número absoluto de estudantes e porcentagem. Os dados coletados foram analisados com base na análise de conteúdo temática de Bardin (2009). O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Escola de Enfermagem da UFBA e os estudantes participantes assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) durante a coleta de dados.

Para a estruturação da dissertação em formato de artigos, seguiram-se as recomendações dispostas na Resolução nº 003/2011, do PPGEISU (UFBA, 2011). Para tanto, como produtos desta pesquisa, foram elaborados três artigos, obedecendo às recomendações específicas de cada periódico.

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2. ARTIGOS

Nesta parte, apresentaremos os três artigos que compõem esta dissertação, conforme as instruções de cada periódico submetido. O primeiro artigo, intitulado „Concepções e auto-percepção ligadas à saúde e à doença de estudantes universitários do gênero masculino‟, foi submetido à Revista E-Psi – Revista Eletrônica de Psicologia, Educação e Saúde, associada ao Psy Assessment Lab (Laboratório de Avaliação Psicológica e Psicometria) da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra. O segundo artigo teve como título ‘Práticas de saúde de estudantes do gênero masculino de um curso superior em saúde‟ e foi submetido à Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade, publicada pelo Departamento de Educação – Campus I da Universidade Estadual da Bahia (UNEB). O terceiro artigo, denominado „Influência da masculinidade nas concepções e práticas de universitários relacionadas à saúde e à doença‟, foi submetido e aceito para publicação, à Revista Interfaces Científicas - Humanas e Sociais, filiada ao Grupo Tiradentes de Sergipe, Centro Universitário Tiradentes – UNIT – Alagoas e Faculdade Integrada de Pernambuco – FACIPE.

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2.1 ARTIGO 1

Concepções e auto-percepção ligadas à saúde e à doença de estudantes universitários do gênero masculino

Male university students’ conceptions of health and disease and self-perception related to health

Daniele Machado Pereira Rocha1, Maria Thereza Ávila Dantas Coelho2, & Jorge Luís Lordelo de Sales Ribeiro3

Resumo

As concepções de estudantes universitários ligadas à saúde e à doença, bem como a auto-percepção acerca do estado de saúde são temas ainda pouco abordados. Compreendendo, a partir da literatura, a relação distanciada entre os homens e o cuidado em saúde, há uma necessidade de ampliar as pesquisas na intenção de perceber como os estudantes compreendem a saúde e a doença, e como avaliam o próprio estado de saúde. Nessa direção, o objetivo deste estudo é analisar as concepções de saúde e doença e a auto-percepção ligada à saúde, de estudantes do gênero masculino ingressantes em um curso superior de saúde, da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Participaram da pesquisa alunos com idade entre 18 e 61 anos, que responderam as perguntas de um questionário semiestruturado, referentes à temática abordada. As respostas foram analisadas nos moldes da análise de conteúdo de Bardin. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e os participantes assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Com relação à concepção de saúde, as respostas mais significativas foram referentes à ideia de saúde como bem-estar, na perspectiva do conceito de saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS), ligada a hábitos de vida, como alimentação saudável e atividade física, constantemente mencionados na mídia. 90% dos estudantes se consideraram saudáveis. Quanto à doença, esta

1

Bolsista da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado da Bahia. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Estudos Interdisciplinares Sobre a Universidade – PPGEISU. E-mail: danielep.rocha@hotmail.com

2 Professora Associada da Universidade Federal da Bahia. Doutora em Saúde Pública. E-mail:

therezacoelho@gmail.com

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foi associada ao desequilíbrio do corpo e da mente, bem como à dor física e/ou mental. Embora as respostas dos discentes estejam voltadas para uma definição mais distanciada do modelo biomédico de saúde, estas se mostram individualistas, sendo necessário o desenvolvimento, ao longo da graduação, de uma concepção mais ampliada, relacionada aos determinantes sociais, para um pensamento mais coletivo e humanizado.

Palavras-chave: saúde; doença; estudantes; universidade.

Abstract

The conceptions of university students related to health and illness, as well as the self-perception about health status are still little discussed. Understanding from the literature the distance between men and health care, there is a need to broaden the research in order to realize how students understand health and disease, and how they evaluate their own state of health. In this direction, the objective of this study is to analyze the conceptions of health and disease and the self-perception related to health, of male students entering a higher education in health, in Federal University of Bahia (UFBA). The participants of the study were students aged between 18 and 61, who answered the questions of a semi-structured questionnaire, referring to the subject matter. The responses were analyzed according to the Bardin‟s content analysis model. The study was approved by the Research Ethics Committee (REC) of the Nursing School of the Federal University of Bahia (UFBA) and the participants signed a Free and Informed Consent Term. With regard to the conception of health, the most significant responses were related to the idea of health as well-being, from the perspective of the health concept of the World Health Organization (WHO), linked to life habits such as healthy eating and physical activity, constantly mentioned in the media. 90% of the students considered themselves healthy. As for the disease, it was associated with imbalance of body and mind, as well as physical and / or mental pain. Although students' responses are focused on a definition that is more distanced from the biomedical model of health, they are individualistic, requiring the development of a broader conception, related to social determinants, for a more collective and humanized thinking.

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Introdução

As concepções de saúde e doença, bem como as percepções acerca do estado de saúde, vêm sendo abordadas por diversos autores (as) de uma maneira mais ampliada, considerando as subjetividades, culturas, locais em que se vive, etnias, gêneros e religiões. Nessa direção, o conceito de saúde e doença vem sendo estudado e debatido por diversos ângulos, históricos, filosóficos, psicológicos e biomédicos, possibilitando uma abordagem interdisciplinar, com alternativas diversas de discussão e pluralidade de sujeitos (Batistella, 2007; Scliar, 2007; Czeresnia, Maciel, & Oviedo, 2013). Considerando que os estudantes da área da saúde têm a missão de prestar cuidado com um bom acolhimento, conforme os princípios da universalidade, integralidade e equidade do Sistema Único de Saúde (SUS), é necessário compreender a saúde em seu sentido ampliado, portanto, contemplando os fatores sociais, culturais e econômicos de cada sujeito e os seus saberes (Mori & Rey, 2012).

A partir dessa realidade, adquirem importância os estudos relacionados às concepções, práticas e auto-percepção ligadas à saúde e à doença de universitários do gênero masculino, entendendo que o gênero pode influenciá-los (Gomes, 2003). Elementos sociais e culturais atribuídos aos homens historicamente os colocam em posições de privilégio, a saber, maiores salários, cargos de chefia, reconhecimento social, etc. No entanto, as mesmas condutas que caracterizam o “ser homem” na sociedade, como não chorar, liderar, agir com rispidez, dentre outros, também afetam a sua saúde, diminuindo sua expectativa de vida e agravando quadros de morbidade e mortalidade (Gomes, 2008). Segundo Gomes (2010), reforçado por Figueiredo e Schraiber (2011), os homens, geralmente, não possuem o hábito de discutir e cuidar da sua saúde, muitas vezes porque acreditam serem fortes e, neste sentido, sadios.

Desse ponto de vista, percebe-se a importância do entendimento da pluralidade dos cuidados através da interdisciplinaridade, não somente na teoria, como na prática, transcendendo o modelo biomédico fragmentado e considerando que a saúde vai além de uma disciplina única, direcionando para a necessidade de uma discussão intersetorial, segundo as diretrizes do SUS. Os estudos sobre masculinidade, saúde do homem e universidade seguem esse caminho, avançando o conhecimento a partir da interação entre a educação, sociologia, antropologia,

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ciências da saúde, história e psicologia, e dialogando com os saberes de cada sujeito (Vilela & Mendes, 2003; Paim & Silva, 2010).

Alguns dos estudos empíricos que contribuíram e foram utilizados no decorrer deste artigo versam acerca das concepções e práticas dos (as) estudantes do Bacharelado Interdisciplinar em Saúde (BIS), ligadas à saúde e à doença, quando ingressantes no primeiro semestre de 2009 e concluintes em final de 2011. Também foram consideradas pesquisas com estudantes da Universidade do Porto, em Portugal, e universitários de instituições públicas e privadas dos Estados de Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás, que investigaram a temática da saúde em suas relações com o bem-estar subjetivo, a felicidade, a qualidade de vida e a atividade física. Outros estudos com profissionais da área da saúde e trabalhadores de uma forma geral, homens, serviram ainda de base de comparação em relação à autopercepção da saúde, pois não foram encontrados estudos sobre este tema com estudantes universitários.

Considerando essa lacuna na literatura, o objetivo deste estudo é analisar as concepções de saúde e doença e a auto-percepção acerca da saúde, entre estudantes do gênero masculino do Bacharelado Interdisciplinar em Saúde da Universidade Federal da Bahia, de modo a compreender o que estes estudantes pensam sobre a saúde e a doença, bem como sobre o próprio estado de saúde, e os significados que lhes atribuem.

Concepções contemporâneas de saúde e de doença

Concepções, conceitos e definições de saúde e de doença tendem a mudar de acordo com o tempo, região, valores, cultura, etc. Na perspectiva etimológica, a palavra saúde origina-se do espanhol salud, que provém do latim salus (salutis), que significa salvação, conservação da vida, integridade, cura, completude e bem-estar (Almeida Filho, 2000; Luz, 2008). A doença, por sua vez, provém do latim dolentia, de dolens, entis, que quer dizer causar/sentir dor, amargurar. Conforme esses conceitos e suas respectivas origens, a saúde e a doença são objetos complexos, perpassados por perspectivas religiosas, biomédicas e holísticas de bem-estar (Almeida Filho, 2000; Rezende, 2011).

As abordagens atuais acerca da saúde e da doença revelam, assim, a amplitude de tais conceitos, ao englobarem fatores biomédicos, religiosos, racionais e integrais de saúde e doença (Cruz, 2009). Dessa forma, serão comentados aqui os

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seguintes modelos de compreensão desses fenômenos: o biomédico, o ampliado de saúde, o sistêmico, o processual e o dos Determinantes Sociais da Saúde (DSS).

A teoria biologista que reduz o corpo humano à funcionalidade dos órgãos fundamenta o „modelo biomédico‟, que concebe a doença a partir do mau desempenho das funções do corpo, local em que se buscam todas as suas causas, desprezando os fatores sociais. Georges Canguilhem, filósofo e médico francês, critica esse modelo biomédico considerando-o reducionista e mecanicista. Ele parte da ideia de que a saúde vai além das funções internas do organismo e que, embora a objetividade seja necessária na prática médica, ela não é autossuficiente (Batistella, 2007).

O antropólogo francês François Laplantine também critica o modelo biomédico segundo o qual as doenças derivam sempre de imperfeições do organismo humano. Desse modo, o sujeito é colocado em segundo plano e suas relações interpessoais, bem como seu modo de vida, são desvalorizadas (Laplantine, 2010). Outras fragilidades desse modelo, apontadas por Giddens (2005), são: a doença observada como decadência do corpo humano, divergindo do seu estado de normalidade; separação entre o corpo e a mente; destaque para a cura do sujeito, reduzindo seu bem-estar; excesso de especialização; e pedantismo médico, ao considerar-se como único responsável pela cura.

Devido às variadas críticas ao modelo biomédico, autores debatem a necessidade de uma medicina preventiva, para além da curativa. Há um consenso de que a prática médica deve voltar-se para a promoção da saúde e prevenção de doenças, com currículos que abarquem disciplinas para além da anatomia, fisiologia, etc., e que façam referência às relações do indivíduo com o ambiente, reconhecendo os problemas de saúde derivados das condições de vida da população (Czeresnia et al, 2013).

Nessa direção, os médicos Hugh Leavell e Edwin Clark lançaram, em 1958, a primeira edição do livro intitulado „Medicina Preventiva‟, explicando os processos de saúde e doença a partir de uma perspectiva causal, na qual há uma relação direta entre o agente responsável pela doença, o hospedeiro e o meio ambiente. O „modelo processual‟ ou modelo da „História Natural das Doenças (HND)‟ é caracterizado pelos períodos da pré-patogênese e patogênese. Embora o HND tenha iniciado um processo de transição do modelo biomédico, incluindo aspectos relacionados à promoção da saúde, este ainda apresenta características naturais

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dos processos de saúde-doença, enfatizando mais o aspecto preventivo do que o social (Czeresnia, 2004; Cruz, 2009; Almeida Filho, 2011).

Um modelo que envolve características positivas da saúde, contrário à negatividade biomédica reducionista, e que parte da integralidade, é o ecossistêmico, que inclui elementos patogênicos, econômicos, políticos, culturais, ambientais e sociais nos processos de saúde e doença, de modo que o desequilíbrio de um desses promove alteração em todos os outros. Esse modelo entende que a saúde e a doença são objetos complexos e interdependentes, sendo importante para discutir sobre as relações entre as condições de vida da população e os processos de saúde e doença (Batistella, 2007; Cruz, 2009; Almeida Filho, 2011; Ceballos, 2015).

O modelo que abarca os fatores econômicos, sociais, culturais, étnicos, raciais, psicológicos, comportamentais, como influência direta para problemas de saúde e razão para fatores de risco da população, é o dos „Determinantes Sociais da Saúde (DSS)‟. De acordo com esse modelo, fatores individuais não podem ser utilizados para explicar situações de saúde de uma população e, nem sempre, um alto Produto Interno Bruto (PIB) de um Estado Nação reflete melhores indicadores de saúde, pois se não há equidade na distribuição e uso desses recursos, não há saúde (Buss & Pellegrini Filho, 2007; Badziak & Moura, 2010).

O modelo dos DSS está ligado ao conceito ampliado de saúde, elaborado na VIII Conferência de saúde, ocorrida em Brasília, em 1986, no contexto de redemocratização do país e no movimento da Reforma Sanitária brasileira. Nesse período, os movimentos sociais „levantaram a bandeira‟ pela democracia na saúde, colocando o Estado como responsável pela mesma e esta como direito de todos os cidadãos, “garantido mediante políticas sociais e econômicas à redução do risco de doença e de outros agravos e o acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” (Brasil, 1988, p. 116), incentivando, assim, não só a prevenção de doenças, mas a promoção da saúde de toda a população (Batistella, 2007; Paim, 2008).

Uma compreensão da concepção de saúde baseada nos princípios do SUS pode tornar o profissional mais humanizado, capacitado e preparado para compreender e problematizar a situação de saúde vivenciada pela população. Isto se torna essencial na medida em que propõe discutir a saúde levando em consideração fatores políticos, sociais, econômicos, culturais, para além dos

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aspectos biológicos e individuais. Compreende-se a importância dos fatores biológicos, mas entende-se que, para uma grande parte da sociedade, que fora privada dos diretos equitativos de saúde, o ideal de concepção pode estar direcionado para o coletivo, garantindo o acesso de todos, informando e construindo saberes de forma intersetorial e interdisciplinar (Vasconcelos & Pasche, 2006).

Autopercerção acerca da saúde e da doença

O estado de saúde é perpassado por aspectos biológicos, físicos e subjetivos, caracterizando uma condição multidimensional que engloba o desempenho, estado físico, mobilidade, dor, incapacidade, humor, bem-estar, desconforto, dentre outros fatores (Almeida Filho, 2011). Existem questionários que são utilizados por pesquisadores da área epidemiológica, com o objetivo de mensurar a percepção de saúde/doença dos sujeitos. Nos estudos acerca da autopercepção, autores afirmam que características não relacionadas à clínica médica são levadas em consideração e a percepção de saúde depende também de fatores como as condições sociais e econômicas, bem como o gênero, a idade, a presença ou ausência de enfermidades. Salienta-se que, mesmo não possuindo doenças, as pessoas podem não se sentir saudáveis e vice-versa. Os autores entendem que é necessário que o sujeito identifique como está sua própria saúde, uma vez que suas práticas e seus hábitos serão influenciados por essa condição e perspectiva do bem-estar individual. Nessa direção, as percepções e comportamentos relacionados à saúde é o que conta, entendendo que estes também podem afetar a saúde de todos ao seu redor (Theme Filha, Szwarcwald & Souza Junior, 2008; Gomes, 2010; Moreira, Santiago & Alencar, 2014).

O gênero tem relação direta com a percepção sobre o estado de saúde dos sujeitos, devido aos papeis que ainda são atribuídos socialmente a homens e mulheres. Estudos que abordaram esta temática, comparando os resultados entre os gêneros, perceberam que, no universo masculino, a maioria considerava como boa sua condição de saúde. Embora os homens, historicamente, tenham se distanciado das práticas de saúde tanto individuais quanto coletivas, e dos serviços de atenção primária, por considerarem estas atividades estritamente femininas, eles se consideram na maioria saudáveis, uma vez que saúde significa força e vitalidade, características essenciais da masculinidade hegemônica que, embora parcialmente desconstruída, continua permeando o imaginário coletivo (Figueiredo, 2005;

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Agostinho, Oliveira, Pinto, Balardin & Harzheim, 2010; Sousa, 2013; Sousa, Queiroz, Florencio, Portela, Fernandez & Pereira, 2016).

Metodologia

Este é um estudo de abordagem quantitativa e qualitativa, pela possibilidade de dimensionar as concepções de saúde e doença e percepção da própria saúde a partir das respostas livremente dadas pelos participantes. Segundo Minayo e Sanches (1993), a pesquisa qualitativa aproxima mais o sujeito e o objeto, envolvendo motivos, intenções e ações de atores sociais. Oliveira (2007) contribui informando que a abordagem qualitativa tem o objetivo de investigar o significado e as particularidades de cada conjuntura em que se encontram os pesquisados. Minayo e Sanches (1993), a respeito da pesquisa quantitativa, expõem que o objetivo central desta é analisar dados mensuráveis de grandes grupos. No entanto, as duas abordagens se complementam, no sentido de embasar e tornar a pesquisa mais qualificada.

Participantes

Este estudo integra uma pesquisa maior, que investiga as concepções e práticas pessoais e profissionais ligadas a processos de saúde e doença. Foi realizado com 212 estudantes, do total de 245 alunos recém-ingressos no Bacharelado Interdisciplinar em Saúde (BIS) da Universidade Federal da Bahia (UFBA), no início do primeiro semestre letivo de 2014. Para a realização deste artigo, foram analisadas as respostas dos estudantes do gênero masculino, dos turnos diurno e noturno.

O total de ingressantes homens nesse ano foi de 79 alunos, dos quais 76 estudantes participaram desta pesquisa, com idades que variavam de 18 a 61 anos. Usamos parte dos dados sócio demográficos dos discentes, como religião, local onde reside, natureza da instituição onde concluíram o ensino médio e se possuíam outra graduação concluída, para relacionar com as respostas obtidas.

Instrumentos

Utilizou-se um questionário semiestruturado contendo 33 perguntas acerca das concepções, autopercepção e práticas ligadas a processos de saúde e doença, incluindo dados sóciodemográficos. Neste artigo foram selecionadas 06 perguntas

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desse instrumento, referentes à concepção de saúde e doença e percepção da própria saúde desses estudantes: „O que é saúde para você?‟, „Você se sente saudável?‟, „Que cinco palavras você mais associa a saúde?‟, „O que é doença para você?‟, „Você se sente doente?‟, „Que cinco palavras você mais associa a doença?‟.

Procedimentos

As respostas às perguntas abertas relacionadas à concepção de saúde e doença foram digitadas no processador de texto Microsoft Word® e analisadas de forma qualitativa, explorando o caráter subjetivo de cada conteúdo escrito pelos participantes (Minayo & Sanches, 1993). As respostas às perguntas acerca da autopercepção de saúde e doença, de natureza objetiva, foram analisadas no editor de planilhas Microsoft Office Excel®, sendo contabilizadas em número absoluto de estudantes e porcentagem. As cinco palavras que os estudantes mais associaram à saúde e à doença foram computadas através do software „INSITE‟, um contador de palavras online.

O INSITE fornece um relatório estatístico detalhado sobre o vocabulário do texto, informando a quantidade de ocorrências de cada palavra, o tamanho das palavras, frequência de letras, listagem das palavras por ocorrência e em ordem alfabética, dentre outros dados. As palavras associadas ao termo saúde totalizaram 340 palavras, das quais 174 foram diferentes umas das outras, incluindo também os sinônimos. Dos 76 participantes da pesquisa, 73 responderam todas as 05 palavras ou menos. Relacionadas à doença, foram obtidas 360 palavras no total, sendo que, dos 76 participantes da pesquisa, 75 apresentaram todas as 5 palavras ou menos. Desse total de 360 palavras, 132 foram diferentes umas das outras, incluindo também os sinônimos.

Os dados coletados foram analisados com base na análise temática de conteúdo, de Bardin (2009), que a define como uma união de técnicas visando alcançar o detalhamento do conteúdo que, neste caso, se caracteriza pelas respostas dos sujeitos, interpretadas à luz da revisão de literatura. Segundo Bardin (2009), a análise temática é realizada tomando como referência palavras, resumos, textos, dentre outros elementos que podem significar algo para o objetivo central do estudo. Podemos operacionalizá-la criando categorias e, se necessário, subcategorias que auxiliarão na organização das respostas dos estudantes, por similaridade, e na interpretação dos dados produzidos.

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Nessa direção, após a leitura dos dados, que Bardin (2009) situa como um elemento essencial da pré-análise, houve a categorização das unidades de análise, que serão utilizadas tanto para as questões „O que é saúde para você?‟ e „O que é doença para você?‟, quanto para as perguntas „Que cinco palavras você mais associa a saúde? e „Que cinco palavras você mais associa a doença?‟. As categorias elaboradas para a saúde foram: „saúde como bem-estar individual e\ou coletivo‟; „saúde como qualidade de vida socialmente determinada‟; „saúde como estilo de vida‟; „saúde como felicidade‟; „saúde como equilíbrio e\ou harmonia‟; „saúde como vida‟ e „outros‟. Para a doença, as categorias formuladas foram: „doença como ausência de saúde e\ou mal-estar‟; „doença como dor‟; „doença como anormalidade e\ou distúrbios‟; „doença como desarmonia e\ou desequilíbrio‟; „doença como morte‟ e „outros‟. Após a categorização, houve a descrição e interpretação dos dados de acordo com a análise de conteúdo temática de Bardin (2009) e a literatura científica sobre o tema.

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Escola de Enfermagem da UFBA, sob o nº. 741.187, respeitando os dispositivos da Resolução nº 466/13 do Conselho Nacional de Saúde sobre Pesquisa com Seres Humanos. Os estudantes participantes assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) de participação, e responderam de forma integral ou parcial as perguntas citadas, de forma livre e não identificável.

Resultados

Os resultados mais expressivos obtidos com o questionário, no tocante aos dados sócios demográficos, expressaram que 45% dos estudantes têm entre 18 e 19 anos de idade e 40% têm de 20 a 29 anos. Referente à religião, 37% são católicos, 18% evangélicos, 11% não possuem religião e 11% são espíritas. Quando perguntados sobre a natureza da instituição em que concluíram o ensino médio, 45% dos estudantes responderam „pública‟ e 45% „privada‟. Quanto a ter cursado outra graduação, 84% dos discentes responderam que „não‟ e 16% que „sim‟. 67% dos estudantes são residentes de Salvador, 24% vieram do interior da Bahia, 7% da Região Metropolitana de Salvador (RMS) e 4% dos Estados de São Paulo e Espírito Santo.

Esses dados sóciodemográficos apontam que a diferença de porcentagem entre as idades dos participantes de até 19 anos e a faixa etária de 20 a 29 anos é

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pequena, sendo este segmento do curso majoritariamente composto por adultos jovens (85%). Observamos que a quantidade de alunos oriundos de escola pública vem crescendo (45%), se compararmos com um estudo realizado com ingressantes no BIS, em 2009, em que 67% dos estudantes entre homens e mulheres eram provenientes de escolas particulares (Teixeira & Coelho, 2014).

A maior parte dos estudantes declarou ter ao menos uma religião (66%), estar ingressando na universidade pela primeira vez (84%) e ser oriunda da capital baiana (67%). Essa última característica pode estar ligada ao processo de interiorização das universidades e a presença do BIS em outras universidades da Bahia, como a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) e a Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), que têm ofertado maior possibilidade de estudo universitário em cidade ou região mais próxima à de residência.

Tomar-se-á como referência para a apresentação dos resultados e discussão as categorias descritas na metodologia. A letra S será utilizada no início das respostas, indicando cada sujeito que respondeu ao questionário, facilitando a compreensão e discussão dos resultados obtidos através da literatura revisada.

Em relação aos cinco termos associados à saúde, os que apareceram com maior frequência foram, em ordem decrescente, „alimentação‟ (36 respostas / 48%), „esporte‟ (32 respostas / 44%), „bem-estar‟ (23 respostas / 32%), „felicidade‟ (21 respostas / 28%) e „vida‟ (19 respostas / 24%).

Quanto às respostas à pergunta aberta sobre a concepção de saúde, obtivemos, também em ordem decrescente, 47 respostas (63%) na categoria „saúde como bem-estar individual e/ou coletivo‟; 22 respostas (30%) na categoria „saúde como equilíbrio e/ou harmonia‟; e, por fim, 5 respostas (7%) na categoria „saúde como qualidade de vida socialmente determinada‟. A tabela 1 abaixo mostra esses resultados categorizados.

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Tabela 1 – Concepções de saúde dos estudantes do BIS, 2014 Categoria Participantes (%) Trechos de respostas Saúde como bem-estar individual e\ou coletivo 45 (59%)

Saúde é tudo aquilo que é saudável, que causa sensação de bem-estar. Nome dado ao estudo e estado físico/mental em que se encontra algo/alguém (S.04).

Saúde, para mim, se configura como o bem-estar de um indivíduo. E prezar por uma vida saudável e prevenir-se contra doenças que tirem este indivíduo do seu estado de paz e prejudique-o (S.08)

Saúde como equilíbrio

e/ou harmonia

15 (20%)

De acordo com alguns filósofos e sanitaristas, o conceito de SAÚDE ainda é indefinido; porém de acordo com a “teoria” dos humores, proposta por Hipócrates, saúde é a harmonia entre esses humores, para o funcionamento ideal do corpo (S.46).

Equilíbrio físico, mental e social (S.74).

Saúde como qualidade de vida socialmente determinada 5 (7%)

(...) político e cultural, ou seja, é ter uma boa educação, um renda adequada, lazer, esporte, entretenimento. Não somente a ausência de enfermidades, embora seja um componente importante (S.33).

(...) qualidade de vida promovida pelo acesso às condições básicas de educação, trabalho, moradia e lazer (S.59).

Fonte: elaborada pelos autores

Em relação às cinco evocações associadas à doença, as que apareceram com maior frequência, em ordem decrescente, foram: „dor‟ (26 respostas / 36%), „mal-estar‟ (15 respostas / 20%), „remédio‟ (13 respostas / 17%), „hospital‟ (12 respostas / 16%) e „morte‟ (12 respostas / 16%).

Quanto às respostas à pergunta aberta sobre a concepção de doença, obtivemos, também em ordem decrescente, 39 respostas (53%) na categoria „doença como desarmonia e/ou desequilíbrio‟; 17 respostas (23%) na categoria „doença como anormalidade e/ou distúrbios‟; e, por fim, 7 respostas (9%) na categoria „doença como ausência de saúde‟. Vide tabela 2.

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Tabela 2 – Concepções de doença dos estudantes do BIS, 2014 Categoria Respostas (%) Trechos de respostas Doença como desarmonia e/ou desequilíbrio 30 (39%)

É um estado patológico, onde há desarmonia entre os sistemas, seja físico ou mental (S.24).

Doença não deixa de ser uma ausência da saúde, mas é também um desequilíbrio fisiológico do ser humano (S.54).

Doença como anormalidade

e/ou distúrbios

17 (23%) Sensação de desconforto ou anomalias corporais (anatômicas) (S.02).

É a vulnerabilidade no qual o corpo passa de seu estado normal para anormal (S.72).

Doença como ausência de

saúde

07 (9%) Ausência de saúde (total) (S.13).

Ausência de saúde em algum doa fatores sociais, espirituais ou físicos (S.63).

Fonte: elaborada pelos autores

Em relação à percepção sobre a própria saúde, as respostas com relação a sentir-se saudável corresponderam a 91% dos discentes, totalizando 69 estudantes que se consideraram sadios. Apenas 9% não se consideraram assim. Quando perguntado o inverso, sobre a condição de estarem doentes ou não, 92% responderam que não se consideravam doentes (70 alunos), ao passo que 8% acreditavam estar doentes. A diferença entre as respostas dessas duas perguntas quanto ao sentimento de não estar saudável e o de estar doente foi de apenas 1%, de modo que podemos hipotetizar que, para a grande maioria desses estudantes, a percepção de não estar saudável coincide com a de estar doente.

Discussão

A saúde como „bem-estar individual e/ou coletivo‟ configurou-se como a categoria com maior número de respostas (63%). Podemos relacionar essa ideia com o conceito de saúde da OMS, que embora criticado por autores como Segre e Ferraz (1997) e Sá Júnior (2004) na perspectiva da impossibilidade de se alcançar um perfeito estado de bem-estar, é comumente reproduzido. Essa ideia de saúde envolve aspectos da subjetividade apenas parcialmente, pois até mesmo as sensações de mal-estar podem se tornar benéficas para alguns, sendo associadas à melhora e superação em determinados setores da vida.

Referências

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