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A reinvenção do quilombo na Macambira: identidade, conflito e território em Lagoa Nova/RN

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ

CAMPUS DE CAICÓ – DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA DO CERES ESPECIALIZAÇÃO EM HISTÓRIA E CULTURA AFRICANA E

AFRO-BRASILEIRA

ANA PAULA BEZERRA

A REINVENÇÃO DO QUILOMBO NA MACAMBIRA:

IDENTIDADE, CONFLITO E TERRITÓRIO EM LAGOA NOVA/RN

CAICÓ 2016

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ANA PAULA BEZERRA

A REINVENÇÃO DO QUILOMBO NA MACAMBIRA:

IDENTIDADE, CONFLITO E TERRITÓRIO EM LAGOA NOVA/RN

Trabalho de Conclusão de Curso, na modalidade Artigo, apresentado ao Curso de Especialização em História e Cultura Africana e Afro-Brasileira, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ensino Superior do Seridó, Campus de Caicó, Departamento de História, como requisito parcial para obtenção do grau de Especialista, sob orientação do Profª. Drª. Joelma Tito da Silva.

CAICÓ 2016

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 3

2 Quilombolas em luta e a emergência de um novo sujeito jurídico:... 8

2.1 Tradição oral, mito de origem e disputa pela terra na macambira ... 14

2.2 Os filhos de lázaro e a empresa de ventos ... 19

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 22

FONTES ... 24

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A REINVENÇÃO DO QUILOMBO NA MACAMBIRA: IDENTIDADE, CONFLITO E TERRITÓRIO EM LAGOA NOVA/RN

Ana Paula Bezerra1 Joelma Tito da Silva – Orientadora2

RESUMO:

O presente artigo tem como objetivo estudar o processo de formação histórico e identitário da comunidade Quilombola Negros da Macambira – Lagoa Nova- RN, analisando a importância da expressão de uma memória secular de origem sobre a posse das terras e a reconstrução de uma identidade quilombola após o processo de reconhecimento, a partir dos relatos dos moradores. Para isso, partimos da compreensão da formação histórica da comunidade, de modo a perceber os conflitos, a importância política e histórica de afirmação da memória. Metodologicamente este trabalho se desenvolve a partir da construção da fonte oral e tem como pressupostos teóricos a discussão sobre memória e história presente em Jacques Le Goff e Pierre Nora e as análises sobre identidade desenvolvidas por Stuart Hall e Tomaz Tadeu da Silva.

PALAVRAS-CHAVE

História. Memória. Identidade.

1 INTRODUÇÃO

O presente artigo trata do processo de formação histórica e identitária da comunidade quilombola Macambira – Lagoa Nova, RN, através da memória individual e coletiva dos sujeitos envolvidos, procurando analisar as mudanças ao longo da trajetória de lutas e conquistas pelo o espaço geográfico que residem e a reconstrução de uma identidade quilombola após seu reconhecimento. Para isso, analisaremos as relações entre presente e passado na luta secular pela conquista do território que torna

1Graduada em História Licenciatura pela UFRN, CERES, Caicó. Discente do Curso de Especialização em

História e Cultura Africana e Afro-Brasileira – Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Centro de Ensino Superior do Seridó (CERES), Campus de Caicó, Departamento de História (DHC). E-mail: hispche@hotmail.com

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politicamente importante a afirmação histórica da memória e da trajetória do grupo familiar nas terras que conhecemos como Macambira.

Partimos, assim, de uma perspectiva que prioriza a memória e os aspectos ligados à afirmação étnica e a territorialidade. Por isso, utilizamos como fontes de pesquisa os relatos dos sujeitos, a partir das técnicas e regras estabelecidas pela história oral, assim como realizamos um breve levantamento bibliográfico de pesquisas anteriores já existente no acervo do município.

Os dados analisados foram organizados a partir de pontos norteadores, como: Origem histórica da comunidade; as lutas em torno das conquistas territoriais e a política de afirmação no processo de reconhecimento como quilombolas; as disputas recentes pelas terras envolvendo os moradores da Macambira e os empresários responsáveis pelo o novo empreendimento eólico na Serra de Santana e as manifestações culturais que os identificam como integrantes de uma comunidade legalmente constituída e reconhecida como quilombolas .

Localizada na microrregião da Serra de Santana, município de Lagoa Novam, a cerca de 156 km de Natal, a Macambira tem sua origem no início do século XIX e atualmente abarca territorialmente parte dos municípios de Lagoa Nova, Bodó e Santana dos Matos, fronteira entre o sertões do Seridó e do Vale do Açu, Rio Grande do Norte3. Reconhecida como remanescente dos quilombos no ano de 2005 por parte da Fundação Cultural Palmares e pela Diretoria de Proteção ao Patrimônio Afro –Brasileiro, a Macambira deu um passo à frente nas suas lutas, porque isso os possibilitou ter acesso ao processo de “identificação, reconhecimento, demarcação e delimitação das terras ocupadas”4

.

A história dessa comunidade é marcada por muitos embates envolvendo a afirmação da propriedade da terra, ameaçada pela ação de latifundiários locais. A afirmação da comunidade como sujeito coletivo de direitos avançou na última década com as políticas afirmativas voltadas para minorias, tais como o reconhecimento dos chamados remanescentes de quilombos. Nessa nova configuração, os negros da Macambira, como são chamados, vem conquistando seu espaço de fala e construindo sua história. Para entender como estas lutas, conquistas e as mudanças históricas se

PEREIRA, Edmundo Marcelo Mendes. Comunidade Macambira: de “Negros da Macambira” à Associação Quilombola. Pág: 05. Cadernos do LEME, Campina Grande, vol. 3, nº 1, p. 123 – 260. jan./jun. 2011.

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processam neste amplo grupo familiar, recorremos à memória dos sujeitos, através de narrativas que indicam haver muitas questões a explorar e situações a registrar acerca da Macambira. Diante da importância da memória e da oralidade, utilizou-se recursos da História Oral para acessar, através dos relatos, elementos históricos presentes das lembranças dos quilombolas.

A História Oral atua em um campo específico da História e busca lidar com a pluralidade de versões acerca das experiências humanas no tempo. Debruçada especialmente no problema da oralidade, ela lida com a particularidade das experiências no tempo através dos relatos/depoimentos de indivíduos. Na construção da fonte oral as narrativas sobre o vivido são transformadas em fontes, servindo de base para uma reelaboração historiográfica. Nesse sentido, oralidade, tradição e identidade se entrecruzam na complexa relação entre história e memória. De acordo com Thompson (1992) na história oral em sentido mais geral, a experiência de vida das pessoas de todo tipo passa a ser utilizado como matéria prima e sua história ganha nova dimensão, pode ser utilizada para alterar o enfoque da própria história e revelar novos campos de investigação.

Para analisar a história da comunidade Macambira antes, durante e pós processo de reconhecimento como “Remanescentes de Quilombo”, utilizamos as discussões sobre a memória como principal aparato teórico-metodológico. Nesse sentido, seguimos a linha de raciocínio de Fernando Catroga (2001), quando este afirma que: “a memória é a nossa ‘arma’ contra o esquecimento, é essa maneira tão humanamente estranha de ‘inventar’ o passado, de selecioná-lo, de alardeá-lo através de diferentes ferramentas”. Através desse contato com as “memórias” de forma coletiva, percebemos que além do discurso formado em volta das lutas territoriais, existe inúmeros elementos significativos que os identificam, desde as manifestações culturais imateriais (danças, músicas, orações, terços tradicionais, louvores, cantigas entre outros, a comunidade conservam de modo especial, objetos e monumentos, “lugares de memórias” assim denominado por Pierre Nora5. Para ele, “os lugares de memórias são antes de tudo, os restos”. Restos que tem de ser arquivados, materializados a serviço de uma história que marca o luto da memória viva (...)”.

5 Véran, Jean- François. Rio das Rãs: Memória de uma “Comunidade Remanescente de Quilombo.

Disponível

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Como forma de preservar seus lugares de memórias, alguns moradores da Macambira, recusam-se a derrubar suas antigas casas (de taipa) apesar da recomendação de órgãos de vigilância sanitária. As chamadas “antigas taperas” constituem uma espécie de monumento histórico, ora individual, ora coletivo, que guardam a memória de muitas famílias, embora esteja associada a uma fase de muitas privações econômicas.

Se a manutenção desses espaços parecia não ter qualquer sentido para instituições de controle, para os moradores da Macambira guardam memórias familiares, tornaram-se monumentos para a lembrança, enfim, marcam trajetórias dos “troncos velhos”. Segundo Vilmário, 46 anos e presidente da associação quilombola, “a questão da memória pelas casas de taipas, até por uma questão da própria FUNASA6 (...) quando se constrói uma casa nova, nos orientam a derrubar as velhas por questões de combate às doenças causadas pelo o bicudo, muriçoca (...) pra não juntar muito inseto. Em questão da saúde eles exige que tem que botar no chão. Então teve que botar muito dessas casas velhas, as taperas no chão, mas ainda tem algumas”.

Mesmo diante da pressão do discurso sanitário, a conservação desses lugares de memória está presente na realidade do senhor Neco, 72 anos e morador da Macambira III, que afirma somente sair de sua “casinha para o cemitério”, pois foi lá onde viveu a vida toda. Para Vilmário, convencer seu Neco a viver em outra residência é um trabalho que vem sendo feito há muito tempo, mas ele não se desfaz do seu lugar de origem.

Assim como as taperas mencionadas, há outros lugares considerados pela comunidade como referência de recordação das suas histórias. Os marcos antigos fincados nas terras e um mirante, localizado ao norte da comunidade. Sobre esse lugar Vilmário afirma: “Mas lá, esse mirante que tem também, traz muita a memória deles por que ali era onde eles buscavam água em baixo de uns olhos d’água que tinha e aonde eles saíam para caçar mocó, tatu, peba e tirar mel pra se alimentar”. Para Le Goff (1996): Estes materiais da memória (...) os monumentos, são herança do passado (...) o monumento é um legado à memória coletiva.

Todos os elementos apresentados acima, nos faz refletir sobre a formação dessa nova identidade quilombola e como os moradores reagem ou reagiram diante

6 Ver site da Fundação Nacional de Saúde. Disponível em:

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dela. Para Hall (1999, p. 48) “as identidades (...) não são coisas com as quais nós nascemos, mas são formadas, transformadas no interior da representação” isso caracteriza bem como essa nova identidade quilombola vem sendo vivenciada na Macambira, uma vez que, sendo ela construída, passa a ser uma comunidade simbólica e gera sentimentos de identidade e de pertença. A estudar o tema, SILVA (2012) observa que uma nova identidade tem nascido (...) e tem passado por uma crise; Hall (2006) levanta um amplo questionamento sobre a identidade cultural da época atual e observa uma fragmentação da identidade oriunda das mudanças que estão ocorrendo na atual conjuntura.Segundo o autor:

(...) as velhas identidades, que por tanto tempo estabilizaram o mundo social, estão em declínio, fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indivíduo moderno, até aqui visto como um sujeito unificado. Assim, a chamada “crise de identidade” é vista como parte de um processo mais amplo de mudança, que está deslocando as estruturas e processos centrais das sociedades modernas e abalando os quadros referenciais que davam aos indivíduos uma ancoragem estável no mundo social (HALL, 2006, p.7).

Apesar dessa crise de identidade discutida por Silva (2012) e Hall (2006), Tomaz Tadeu7 destaca que “afirmar a identidade significa demarcar fronteira, significa fazer distinções (...)”. A identidade é simplesmente aquilo que se é: (...). A identidade assim concebida parece ser uma positividade ("aquilo que sou"), uma característica independente, um "fato" autônomo. Nessa perspectiva, a identidade só tem como referência a si própria: ela é autocontida e auto-suficiente8.

Nesse sentido, pretende-se então, explorar alguns conceitos que ajudam a definir a ideia de Quilombo e seu processo de formação na Macambira, as principais características que os define como “remanescentes de quilombo essa “nova identidade”. Sabemos que as definições são amplas e variáveis, e que alternam-se de acordo com a perspectiva de quem as elabora e com qual finalidade o faz. Nessa perspectiva, buscamos analisar as relações entre as mudanças e permanências no contexto histórico cultural da Comunidade, no que diz respeito ao antes e depois do processo de

7 SILVA, Tomaz Tadeu da. A produção social da identidade e da diferença . . Disponível em:

<http://www.diversidadeducainfantil.org.br/PDF/A%20produ%C3%A7%C3%A3o%20social%20da%20i dentidade%20e%20da%20diferen%C3%A7a%20-%20Tomaz%20Tadeu%20da%20Silva.pdf > Acesso em: 08-04016-2

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reconhecimento como “Remanescente de Quilombos”, enfocando as novas formas de apropriação do passado e da identidade coletiva em face das situações geradas a partir do momento em que os chamados negros da Macambira tornam-se sujeitos político de direito jurídico através da identificação como quilombola.

Para discutirmos estas questões, começamos situando a discussão em torno do reconhecimento das comunidades remanescentes de quilombos no Brasil e da inserção dessa nova identidade política, jurídica e histórica na Macambira, em seguida trataremos da relação entre a memória, a herança e a posse da terra e, por fim, analisaremos os embates contemporâneos envolvendo os moradores da comunidade que, diante da chegada de empresa eólica, se viram ameaçados no direito de permanecerem em seu território.

2QUILOMBOLAS EM LUTA E A EMERGÊNCIA DE UM NOVO SUJEITO

JURÍDICO:

A partir dos anos de 1990, descendentes de africanos em todo território nacional, organizados em associações quilombolas ou não, reivindicam o direito de permanência e reconhecimento legal à posse de terras ocupadas para moradia e sustento. Além disso, buscam o livre exercício de suas práticas culturais, crenças, costumes, valores e modos de viver considerados em sua especificidade. Falar dos quilombos e dos quilombolas no atualmente é, portanto, falar de uma luta política e, consequentemente, de uma reflexão científica em processo de construção9. É, portanto, perceber a existência de inúmeras questões voltadas para a história afro-brasileira que necessitam ser construídas ou reconstruídas através de um novo olhar.

O surgimento dos primeiros grupos denominados de “Quilombos” tem uma origem remota, abrange as mais variadas situações de ocupação territorial ensejadas por esses grupos. Para a tradição oral e os registros bibliográficos, podemos encontrar inúmeros espaços campesinos habitados por afro-brasileiros, os quais são referidos tradicionalmente como comunidades negras rurais ou popularmente reconhecida como “terras dos pretos” formadas por escravos ou ex- escravos, frutos de doações de terras

9

Leite, Ilka Boaventura. Os Quilombos no Brasil: Questões conceituais e normativas. Etnográfica, Vol. IV (2), 2000. 333- 354. Disponível em: <http://ceas.iscte.pt/etnografica/docs/vol_04/N2/Vol_iv_N2_333-354.pdf >

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por senhores a ex- escravos, outras compradas por escravos libertos, doações de terras a escravos que haviam servido ao exército em tempo de guerra, ou ainda doações a escravos por ordem religiosas. Embora apresentem características de formação, organização e ação diferentes, as comunidades remanescentes de quilombos atuais são frutos desta diversidade, de outras tantas experiências de lutas e conquistas10.

Mas, o que são Quilombos e que papel ocupa na sociedade? E “Remanescentes de Quilombos”, o que seria? Muitos são os conceitos atribuídos a Quilombo, essas denominações vão ganhando novos significados de acordo com cada período da história do Brasil. O primeiro conceito oficial está relacionado com a interpretação do Conselho Ultramarino11 em 1740, referente ao período colonial, definido pelo rei de Portugal como "[...] toda habitação de negros fugidos, que passem de cinco em parte despovoada; ainda que não tenham ranchos levantados e nem se achem pilões nele" (REIS, p.347). Durante o Império, era considerado quilombo, aquele agrupamento formado por até três negros fugitivos, mesmo que esses não possuíssem ranchos permanentes, já no Brasil República, o conceito de Quilombo ganha um discurso mais político, deixa de ser aquele grupo formado através de fuga e passa a ser agrupamentos em torno da resistência, não dos seus senhores, mas uma resistência que luta por políticas de afirmação no processo de construção de uma cultura negra no Brasil. O Quilombo agora, passa a servir como base para se pensar nos feitos, frente à ordem dominante, significa para esta parcela da sociedade brasileira, sobretudo, um direito a ser reconhecido e não propriamente apenas um passado a ser rememorado.12

Para Munanga & Gomes (2006), o quilombo não significou apenas um lugar de refúgio de escravos fugidos, mas a organização de uma sociedade livre formada de homens e mulheres que se recusavam viver sob o regime de escravidão e desenvolviam ações de rebeldia e de luta contra esse sistema. Munanga ainda acrescenta que o

10 Yabeta, Daniela; Gomes, Flávio. Memória, cidadania e Direitos de Comunidades Remanescentes (Em

torno de um documento da História dos Quilombolas da Marambaia). Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0002-05912013000100003> Acesso em: 08-04-2016

11

Padilha, Lúcia Maria de Lima; Nascimento, Maria Isabel Moura. Comunidades quilombolas brasileiras na perspectiva da história da educação: estado da arte. Disponível em:

<http://www.histedbr.fe.unicamp.br/acer_histedbr/jornada/jornada11/artigos/4/artigo_simposio_4_541_lu padilha5@yahoo.com.br.pdf > Acesso em: 08-04-2016

12

Ver : Leite, Ilka Boaventura. Os Quilombos no Brasil: Questões conceituais e normativas. Etnográfica,

Vol. IV (2), 2000. 333- 354. Disponível em:

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Quilombo brasileiro “é, sem duvida, uma cópia do quilombo africano reconstituído pelos escravizados para se opor a uma estrutura escravocrata (...)”.

A legislação vigente, considera remanescente de Quilombos, de acordo com o Decreto nº 4887/ 03.2, Art. 68 da Constituição Federal, os grupos étnico-raciais, segundo critérios de auto-atribuição, com trajetória histórica própria, dotados de relações territoriais específicas, com presunção de ancestralidade negra relacionada com a resistência à opressão histórica sofrida13. Esse conceito é relativamente recente, formado a partir da constituição brasileira de 1988, e baseia-se na autodefinição identitária de uma ancestralidade negra, com sentido coletivo e implica na ressignificação de valores sociais, culturais, religioso, econômico e ambientais. Assim, a denominação “remanescentes de quilombo” deve compreender todos os grupos que desenvolveram práticas de resistência para a manutenção e para a reprodução de seus modos de vida característicos de um determinado lugar, cuja identidade se define por uma referência histórica comum, construída a partir de vivências e de valores partilhados.14A inserção do mencionado artigo na Constituição Federal, simboliza um grande salto no que se refere ao reconhecimento das comunidades quilombolas, pois é o início de uma nova história de valorização aos direitos humanos, uma vez que, durante séculos, esses grupos foram abstraídos da cultura nacional e essa invisibilidade ocasionou toda ausência de conhecimento sobre os modos de ser e viver das comunidades remanescentes de Quilombos.

Em diferentes partes do Brasil, sobretudo após a Abolição (1888), os negros tem sido desqualificados e os lugares em que residem são ignorados pelo o poder público ou questionados por outros grupos recém-chegados15, e até mesmo pela comunidade local. No Rio Grande do Norte, de acordo com estudos realizados pela Fundação Cultural de Palmares (Vinculados ao Ministério da Cultura) existem cerca de 60 comunidades Quilombolas16, mas mesmo assim, (ASSUNÇÃO, 2006) afirma que a historiografia não tem dado a devida atenção ao tema do negro, e os registros bibliográficos apontam um pequeno número no que diz respeito à presença de escravos na sociedade potiguar. Apesar da invisibilidade que se tem dado a essa temática, no Rio Grande do Norte os

13 Ver Decreto nº 4887/03- Art. 68 da Constituição Brasileira. 14

Assunção: Luiz. “Quilombos: comunidades remanescentes- RN. Depto. De Antropologia, UFRN. Nº 17- volume- 03- novembro de 2006.

15

Ilka Boaventura. Obra citada.

16 MACÊDO, Rayana Garcia de. Quilombolas e desenvolvimento sustentável: análise a partir da

comunidade capoeira dos Negros (Macaíba/Brasil). Disponível em:

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descendentes de escravos estão espalhados por todas as regiões, compondo um conjunto de dezenas de comunidades negras rurais. Assim podemos afirmar que:

[...] sabemos da existência de várias outras comunidades afro-descendentes cuja história ainda fica para ser escrita: encontram-se espalhadas em todo o estado e, em particular, na região do Seridó, em Currais Novos, Acari e na Paraíba vizinha (CAVIGNAC, 2011, p.43).

No caso da Macambira, localizada na região do Seridó, assim como outras comunidades Quilombolas Potiguar, reconhecidas ou em fase de tramitação pelo INCRA, enfrentam além de dificuldades materiais, situações de discriminação e preconceitos, assim como, procedimentos históricos de usurpação das suas terras.

O processo de reconhecimento identitário da comunidade Macambira ocorreu em meio a muitos conflitos internos e externos, tendo como motivo principal a “Terra”. Historicamente, a comunidade preenche todos os requisitos defendidos pela Constituição Federal, art.68, sobre que povos podem ser considerados Remanescentes de Quilombos. O interesse de conhecer sobre a sua origem negra, partiu de um pequeno grupo da comunidade, já no fim dos anos 90, em resposta as humilhações, conflitos verbais e físicos que vinham ocorrendo entre o povo da Macambira e latifundiários que se apossaram de suas terras. O objetivo da comunidade junto ao seu reconhecimento estava voltado “a regularização de sua situação fundiária e a ampliação de seu território atual, recuperando áreas anteriormente perdidas, ou por venda, ou por processos de conflito com grandes proprietários locais, em particular entre as décadas de 1930-1940, quando se cercaram as grandes propriedades na região17. Sobre essa questão SILVA, (2012, p. 157) afirma:

Maria do Socorro Santos Silva (sindicalista) sabedora da situação da Macambira refletiu sobre uma nova possibilidade de ter acesso as terras. Segundo ela, a negritude da população (materializada historicamente de comentários pejorativos) e o contato com a mídia que apresentam algumas situações de sucesso no acesso a terra a partir de comunidades remanescentes de Quilombos, despertou para se tentar o acesso a terra através da transformação da Macambira, em uma comunidade Quilombola. (...) Nos anos 2000, reuniu os agricultores da Macambira (...) e explicou para eles que haveria a possibilidade deles terem acesso aquelas terras pelo fato de suas origem Quilombolas.

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Após essa decisão tomada pela sindicalista, foi dado início ao processo de reconhecimento junto a Fundação Palmares, o que culminou no relatório antropológico produzido pelo Antropólogo Edmundo Pereira (PPGAS/ UFRN) e teve como parecer conclusivo a recomendação para o reconhecimento como área “Quilombola”. Em julho de 2005 a comunidade Macambira obteve sua certidão de auto- reconhecimento como remanescentes de quilombos. A partir desse reconhecimento, passa a ser denominada por “Comunidade Quilombola da Macambira” e sua população ganha uma nova identidade. (...) seus membros apresentavam-se como sendo um mesmo grupo étnico(...) Este fato materializa-se na expressão corrente ouvida ao longo do trabalho nos quatro cantos de seu território, dentre todos os troncos visitados: “aqui é tudo uma família só”18.

Nasce um novo sujeito jurídico, uma nova forma de se reconhecer, uma nova identidade. Entretanto, para boa parte dos moradores permanece o discurso sobre o parentesco em comum a unir, por herança, aquelas pessoas em um território. Refletindo sobre esse novo sujeito podemos afirmar com Hall (1990) que as identidades são definidas historicamente, e não biologicamente e, assim, os sujeitos assumem identidades diferentes em diferentes momentos. Tais identidades não são unificadas ao redor de um “eu” coerente, existindo, dentro de nós, identificações contraditórias19. Esse pensamento diz muito dessa nova fase da história da Macambira, apesar de se considerarem biologicamente todos de uma mesma família, atualmente a nova identidade que estão assumindo está sendo definida com base na trajetória histórica do grupo.

De acordo com Vilmário, 46 anos e presidente da Associação Quilombola da Macambira, apesar desse discurso que lá todos fazem parte da mesma família, atualmente o território que compreende a Macambira é composto por aproximadamente, 300 famílias, há quem diga que não existe Remanescente de Quilombos lá. Porém, esse discurso foi construído por moradores que defendem, de certa forma, outros interesses políticos e estão à frente de outros movimentos fundiários. O senhor Francisco Lopes mais conhecido como (Bitico) é um exemplo desses moradores que não se reconhecem como remanescentes de quilombolas e, portanto, não se veem como integrante da

18

PEREIRA, Edmundo Marcelo Mendes. Obra Citada.

19 HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade, DP&A Editora, 1ª edição em 1992, Rio de

Janeiro, 11ª edição em 2006, 102 páginas, tradução: tomaz Tadeu da Silva e Guacira Lopes Louro): Disponível em: <http://www.angelfire.com/sk/holgonsi/hall1.html > Acesso em: 08-04-2016

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comunidade. Ele se vê como assentado e exerce a liderança local vinculado ao MST (Movimento dos Sem Terras).

De modo geral, ao interrogá-los sobre como os moradores da comunidade se identificavam\ identificam antes e depois do processo de reconhecimento, afirmam que, devido a pobreza, a dificuldade financeira, a falta de participação ativa na sociedade e o preconceito racial, era comum negarem a identidade negra como uma forma de defesa, pois, na maioria das vezes, se envergonhavam da pobreza na qual viviam e do preconceito que sofriam devido a cor da pele, legada pela grande maioria da comunidade. Os relatos sobre o presente são diferentes das narrativas sobre esse passado. Considera-se então que, enquanto no pretérito reinava a pobreza a envergonhar, no presente “nós somos tudo rico”, expressão comum usada por todo aquele que se reconhece como integrante da Comunidade quilombola da Macambira.

Porém, percebe-se que o orgulho dessa identidade está relacionada mais a questão da mudança de condição social da comunidade, e não exatamente por ser descendentes de escravos e terem sido reconhecidos como tal. Certamente, a escravidão não deixa marcas positivas na memória e, por isso, esteve associada ao esquecimento e aos silêncio. Entre os mais velhos que vivenciaram uma trajetória histórica de luta pela terra, percebemos a relação positiva com a nova identidade quilombola, associada à resistência e à busca da liberdade nas terras herdadas de um parente comum: Lázaro. No entanto, os mais jovens preocupam-se mais com os benefícios oriundos da condição de “integrantes legalmente de uma comunidade remanescente de escravos.

Entrevistado sobre as mudanças que ocorreram no antes e depois do processo de reconhecimento, Vilmário afirma:

Tudo de ruim que acontecia, botava culpa na gente. Uma briga, uma morte, uma bagunça, qualquer que acontecia, as pessoas dizia é lá da Macambira, é lá dos negros da Macambira (...) Naquela época em que o povo era pobre mesmo (...) o povo vivia dizendo: Ali só tem flagelado (...) Hoje todos se reconhecem e hoje também, graças a Deus, a gente não anda mais rasgado, não anda mais maltrapilho hoje todo mundo tem, quando não tem um carrinho, tem uma motinha, tem uma casinha boa pra morar, então a questão hoje é totalmente diferente. Na verdade, hoje as pessoas nem falam mais naquele sofrimento.

Vilmário também relatou a existência de outras famílias residentes na Macambira não pertencentes ao grupo quilombola, mas que compraram terras a

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terceiros e construíram suas casas, porém, não tem descendência negra, muito delas tem a pele branca. Dessa forma, compreendemos que não há uma unanimidade no processo de identificação quilombola entre os moradores da Macambira. Este, portanto, não é grupo fechado no espaço e parado no tempo. As muitas identificações mostram ser o amplo terreno compreendido pela Macambira um lugar cheio de histórias, que serviu como espaço de circulação de diferentes sujeitos nascidos ali, ou não, enfim, posseiros ou herdeiros da terra desde o tempo de D. Pedro II.

2.1 TRADIÇÃO ORAL, MITO DE ORIGEM E DISPUTA PELA TERRA NA MACAMBIRA

Antes e depois da abolição da escravatura o território brasileiro esteve marcado pela presença de comunidades negras. Esses grupos, até os dias atuais, resistem às pressões de latifundiários, empresas nacionais ou não, e até mesmo pressão impostas pelo poder público para manutenção ou reconquista de seus territórios. Assim, o processo de territorialização quilombola constitui-se muitas vezes, na luta para continuar a existir, na reinvenção de uma identidade política portadora de direitos que é informada por uma memória ancestral. A memória nesse sentido, ocupa um espaço de muita importância, porque é através da tradição oral que esses povos encontram na reinvenção de suas identidades uma oportunidade de recriação de suas histórias.

A Comunidade de Macambira, está situada na chã20 da Serra de Santana na Zona Rural, município de Lagoa Nova, interior do Rio Grande do Norte. Retratada pela tradição oral como uma das comunidades mais carentes economicamente do município, a Macambira carrega na sua memória momentos de muitas dificuldades, mas também registros de muitas conquistas e riqueza cultural. A população sobrevive hoje da agricultura familiar, da criação de animais, trabalhos em casas de farinha e dos benefícios do governo federal. Constantemente ouvimos dos moradores expressões que afirmam que grandes mudanças ocorrerem ao longo do tempo, em todos os aspectos, mas principalmente na situação financeira, quando pronunciam com muito orgulho que atualmente estão todos ricos.

Fundada em meados do século XIX, a história da Macambira está intrinsicamente ligada ao processo de requerimento das terras que hoje corresponde a

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cidade de Lagoa Nova por Adriana de Holanda Vasconcelos. De acordo com a documentação e a memória local, as terras que hoje pertencem a Macambira, foram vendidas pela família de Dona Adriana a um ex-escravo denominado de Lázaro Pereira de Araújo que constituiu uma numerosa família, que historicamente são considerados os responsáveis pela povoação de quase todo território do que hoje se conhece politicamente por Macambira. Nesse sentido, a maioria da comunidade, reconhece Lázaro, como o ancestralidade negra que deu origem a Macambira. No laudo antropológico da comunidade vemos a seguinte narrativa sobre a formação histórica daquele espaço:

No caso de Macambira, sua formação advém do encontro de famílias

negras ao redor das datas compradas por um ex-escravo, Lázaro, depois

de forro, Lázaro Pereira de Araújo, possuidor de vasta área na qual um conjunto de famílias estabeleceria laços de casamento e compadrio, e que na chã da Serra foram aos poucos abrindo seus primeiros roçados próprios e constituindo descendência (PEREIRA,2011, p.5).

Toda documentação que comprova ter sido Lázaro Araújo o primeiro proprietário dessas terras encontra-se guardada no arquivo da Associação da Comunidade e data o século XIX. São os chamados de “Documentos do tempo de Dom Pedro21”. Os registros apontam que, desde o início do século XX, seus membros de descendência negra são conhecidos por “negros da Macambira”. Essa denominação no qual são reconhecidos pelos seus vizinhos e a população branca de Lagoa Nova constituiu-se historicamente uma expressão pejorativa a qual se agregam acepções como sujos, bravos, feiticeiros22.

A “Macambira”, segundo a versão dos moradores, recebeu esse nome há cerca de seis a sete gerações23 atrás, devido à região norte da Comunidade ter sido encontrada muito “Macambira24

. De acordo com Pedro Daniel Pereira- 72 anos, “Botaram o nome de Sítio Macambira porque tinha muito pé de Macambira, naquele tempo (se referindo passado)”.

21 Expressão usada pelos moradores da Macambira se referindo a documentação do século XIX.

22 PEREIRA, Edmundo Marcelo Mendes. Comunidade Macambira: de “Negros da Macambira” à

Associação Quilombola. Pág: 05. Cadernos do LEME, Campina Grande, vol. 3, nº 1, p. 123 – 260. jan./jun. 2011.

23 Dados presente na dissertação de mestrado de Danilo Duarte costa e Silva. Ver nas referências

bibliográficas.

24

Macambira foi o nome dado a comunidade em referência ao vegetal denominado cientificamente de BromeliaLaciniosa.

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As histórias da comunidade são marcadas por narrativas de exclusão social e de intensa luta pela conquista e reconhecimento dos seus direitos, entre eles, o direito à terra. Sucessivas secas, fome, invasões à feiras livre25 do município como forma de reivindicação política, perseguições clientelistas entre outros, são dificuldades relatadas pelos moradores no decorrer da sua história. Para eles, a situação passou a melhorar da década de 1980 após a demarcação territorial da Macambira em três partes: (Macambira I, II, III), essa foi uma forma encontrada pelos moradores para atrair mais recurso para a comunidade. Observa-se que o maior problema elevado pelo grupo são as questões voltada a posse das “Terras” em espacial ao longo do século XX, porque perderam parte do seu território original para um dos grandes proprietários da região e atualmente, buscam reconquistá-la.

Uma das dificuldades citadas pelos moradores, está relacionada às prováveis alterações no território com as relações clientelistas que a população de Macambira mantinha com a família Galvão26, que culminou em uma perda de parte do território nos anos de 1940, na área atualmente conhecida como Cabeça de Macambira. Para eles, Elísio Galvão, grande proprietário de terras, é um dos personagens principais, pois como era considerado um homem de muitas posses, mantinha sempre o contato de “favorecimento” com a população pobre da Macambira, afim de conseguir o domínio das terras que ora pertencia a comunidade, através da compra consensual ou pressionada. Assim nos relata Dona Agripina de 83 anos:

Essas terras que tá em questão aí era tudo nossa. Aí depois foi vendida a seu Elisu, né? aí seu Elisu disse, chegou e disse: Maria eu vim pá ver se você quer me vender essa terra. Ela disse: não, eu não vou vender que João não tá em casa, joão tá nos roçado e só vendo essa terra se joão combinar. Aí papai chegou, ele falou. Aí papai sentou-se assim e disse: (...) aí ele disse: não seu elisu, a terra é dela, ela pode vender. Claro que papai disse, era pra ter dito não, ninguém vende a terra. Muita terra, Muita terra que ia até o cabeço da grota. Aí seu Elisu comprou, me lembro, que nesse tempo dinheiro nem era cruzeiro e nem os de agora, era minrréis”.

Ainda de acordo com Dona Agripina, após Elísio Galvão conseguir as terras almejadas, ele procurava impedir o acesso da população de várias formas, cercando ou soltando animais bravos, para que estranhos não se aproximassem do território. Assim,

25Refere-se aos saques que ocorreram a feira livre de Lagoa Nova pelos Negros da Macambira, na década

de 1980.

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nos relatou: “Depois que ele conseguia a terra, logo passava uma cerca e botava boio brabo dentro. A cerca passava bem ali (...) aí quando nós ia minha fia, quando era de noite era lote de gado, tinha boio brabo, que a gente só ouvia o ronco dos bichos,parecia (...) Era cada Torão passando (...) Tomou essa terra daqui, com a do Bonfim, tudo passou a ser de Seu Elisu (...)”.

Observa-se, a partir do discurso das falas dos próprios moradores, que o maior problema enfrentado pela comunidade envolve a posse de suas terras. Assim observou Edmundo Pereira, (2011, p 128- 129): “O processo socio-histórico de formação da Comunidade (e da ocupação da Serra de Santana em termos gerais) dá conta de que o problema da terra é historicamente umas das questões centrais para o grupo – em especial ao longo do século XX (...)”. A recriação das histórias narradas através das bibliografias disponíveis, e as que buscamos construir em campo, nos remete não só as relações identitárias que a comunidade tem com o território, mas também a profunda tristeza de perceber-se marginalizados pela própria história de luta política e social por esse território. Muitas lembranças frustrantes fazem parte da memória desse povo, é o que nos relatou Dona Agripina, que viveu momentos de tensão desde os primeiros momentos nos quais sua família foi convencida a vender parte de suas terras para Elísio Galvão em meados dos anos trinta, e como foi o processo de luta da comunidade em busca de reconquistar seus territórios perdidos.

Insatisfeitos com perda de parte dos territórios pertencentes, por lei, à comunidade, nos anos de 1990, mais precisamente em 1997, os moradores de Macambira organizaram uma mobilização política (embaixo de um cajueiro) com o intuito de organizar uma tomada de terras localizada ao norte da Macambira, que encontrava-se em posses da família Galvão. Após esse episódio, várias ameaças e intimações ocorreram por parte da família Galvão ao povo de Macambira. Esses acontecimentos são relatados com muita angústia pelos moradores, pois foram dias tensos de muita agressão física e verbal, entre os moradores e os representantes do latifundiário local. De acordo com Vilmário, foi ameaçado pelo próprio Elísio Galvão no ano de 1997, dois anos antes dele falecer, no qual o ameaçou dizendo que se continuasse a invasão ele cortaria sua cabeça fora e colocaria lá na porteira, para servir

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de exemplo para os que tentarem invadir de novo27. “Teve dia da polícia chegar aqui e a gente se armar contra os ataques deles com foice, espingarda(...)”

Buscando valer seus direitos, e a reconquista de suas terras subtraídas ao longo do tempo, no início dos anos 2000 os moradores movimentaram-se em torno do reconhecimento como remanescentes de quilombos e formalizaram o pedido junto a Fundação de Palmares, com o intuito de iniciar o processo de legalização, no que culminou em um relatório antropológico, que a partir dele, observou-se que todo território pertence a comunidade Macambira e isso está previsto na documentação dos “tempos de Dom Pedro”. Essa nova conjuntura leva a comunidade a reconstrução de uma nova identidade, a partir das suas características históricas.

Segundo Edmundo Pereira (2011), dois meses antes da certificação, membros da Comunidade se organizaram e fundaram a Associação dos Quilombolas da Macambira do Município de Lagoa Nova. Essa é uma forma de pré-requisito administrativo e jurídico para o pleito pela “autodeterminação”. Todo esse processo visava o reconhecimento identitário e assim, recuperar áreas territoriais anteriormente perdidas, por venda, ou por processos de conflito com os proprietários locais, especialmente, entre as décadas de 1930-1940, quando se cercaram as grandes propriedades na região. Nesse sentido em 29 de julho de 2005, a Fundação Cultural Palmares certificou a comunidade como remanescente de quilombos por auto-reconhecimento. Em março de 2016 foram publicadas 4 Portarias de Reconhecimento e 1 RTID, no diário oficial da União, no qual a presidenta Dilma Rousseff assinou 4 decretos de desapropriação em benefício à quatro comunidades quilombolas brasileiras, dentre elas a Macambira (RN).28

Apesar da comunidade ter sido reconhecida em 2005 pela Fundação Cultural de Palmares como remanescentes de Quilombos, nos últimos anos (2013 e 2014) foram vítima de desapropriação de seus territórios à pedido da justiça e por intermédio de latifundiários locais (descendentes de Elísio Galvão) que alegam ser proprietário das terras. Vilmário descreve que foram momentos de tensão, por que perderam tudo, a terra

27SILVA, Danilo Duarte Costa e. “ A ROÇA É NOSSA...” Analisando as mudanças a partir de uma perspectiva antropológica da relação do homem com o meio- ambiente. Dissertação de mestrado

defendida junto ao programa de pós-graduação em Antropologia Social (UFRN – PPGAS), Natal, 2012.

28 Terras Quilombolas: Disponível em:

http://comissaoproindio.blogspot.com.br/2016/04/terras-quilombolas-publicados-decretos.html (Acesso em: 08-04-16)

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e toda colheita que haviam plantado “nós tava nas nossas 400 hectares de roça plantada, milho, feijão, aí tudo isso foi tirado da gente, passamos uma dificuldade muito grande”.

Uma nova problemática que envolve as terras da Macambira tem surgido recentemente. De acordo com Vilmário (46 anos, agricultor e presidente da associação que representa a Comunidade Quilombola, fundada em 2005), um novo sindicato foi organizado na comunidade e com ele, uma nova associação “clandestina” expressão usada por Vilmário e pelo Jovem Anderson Palmeira, 22 anos, também morador da Macambira. Segundo eles, a formação desse novo sindicato e associação clandestina (pois não é reconhecida pelo ministério do trabalho, não tem um espaço de funcionamento) sob a organização da sindicalista Maria do Socorro não tem trazido benefício para a comunidade nem para o município de Lagoa Nova. Uma das ações já realizada pelo novo sindicato, foi conseguir novas casas para a comunidade de forma ilegal, no qual os moradores que aderiram ao projeto de certa forma estão pagando quantias para cobrir gastos que o sindicato tem, no processo de construção das residências. É o que nos relata Vilmário: “Essa associação que foi criada não é reconhecida pela Fundação Palmares, não foi feito nenhum trabalho de nada dentro dessa associação, então ela é uma associação clandestina que não existe. Ela não tem prédio, ela funciona dentro da casa da própria presidente”.

Desta forma, podemos classificar estes conflitos como sendo primordialmente territoriais, envolvendo grupos externos e interno que apresentam visões e interesses diversos e que vai sempre resultar em concepções também diferentes, afinal, a comunidade busca a permanência da conservação de um território jurídico e delimitado politicamente para fins de vivência coletiva, já os empresários, latifundiários locais e sindicalistas buscam uma frente de expansão aos seus negócios e interesses particulares.

2.2 OS FILHOS DE LÁZARO E A EMPRESA DE VENTOS

Atualmente, a energia eólica vem sendo apontada como a fonte de energia renovável mais promissora para a produção de eletricidade, levando em consideração os aspectos de segurança energética, os custo socioambiental e a viabilidade econômica. No Brasil, mais precisamente na região nordeste, existe grandes investimentos no campo de energia eólica (isto é, a energia gerada a partir da força dos ventos), pois esta

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“pode ser explicada, em termos físicos, como a energia cinética formada nas massas de ar em movimento”.29

O Estado do Rio Grande do Norte, localizado na região Nordeste do Brasil, vem se destacando na implantação de parques eólicos. Dentre as suas microrregiões, a Serra de Santana recebeu os maquinários do mais novo empreendimento de energia renovável, que tem alterado a paisagem natural, econômica e social, especialmente nos municípios de Bodó, Santana do Matos e Lagoa Nova. Neste último, a Macambira figura entre as muitas comunidades rurais escolhidas para abrigar, em seus território, o maquinário responsável pela produção de energia eólica. A Macambira é composta por 263 famílias e ocupa uma área total de aproximadamente 2.589.1695 hectares30, espaço tido como necessário ao desenvolvimento da comunidade. A maioria da população é composta por descendentes de Lázaro Pereira de Araújo que teria adquirido a terra em meados do século XIX. Segundo o discurso dos moradores e das bibliografias recentes, desde os anos de 1940, a comunidade passa a perder parte do seu território em relações clientelistas, para o grande proprietário de terra denominado de Elísio Galvão e isso irá gerar muitas disputas, ameaças e estratégias para se requerer novamente o direito à terra.

A inserção das atividades geradas pela energia eólica na Macambira trouxe novos problemas e acentuou a questão da disputa pela manutenção da posse da terra, fomentando, ainda mais, o embate entre os “descendentes de quilombos e latifundiários”. A princípio, gestores de empresas espanholas, responsáveis pelo investimento, tinham como projeto, construir um parque eólico em parte do território que compreende a Macambira. Não levou muito tempo, e os descendentes de Elísio Galvão (latifundiários da região) apresentaram-se como proprietários da área, dizendo-se legalmente amparados e negociaram a instalação de um parque eólico na localidade. Amparados pela justiça, os empresários dos ventos e latifundiários locais, recebem a reintegração de posse das terras e, repentinamente, as mais de 260 famílias da

29 ALVES, Jose Jakson Amancio. Estimativa da Potência, Perspectiva e Sustentabilidade da Energia

Eólica no Estado do Ceará. Campina Grande. Universidade Federal de Campina Grande. Centro de Tecnologia e Recursos Naturais. Disponível em: http://rbgdr.net/012010/artigo8.pdf (Acesso em: 08-04-2016)

30 Ver site do INCRA: Disponível em:

http://www.incra.gov.br/sites/default/files/incra-andamentoprocessos-quilombolas_quadrogeral.pdf (Acesso em: 08-04-16)

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comunidade quilombola da Macambira, foram despejadas de suas casas e terras por ordem judicial, sem compreenderem o motivo de tal situação31. Esse evento que ocorreu em março de 2013, marca dias de lamentações a angústias para seus moradores.

Sobre esse acontecimento Vilmário relata: “Nós tava todo mundo trabalhando de repentizinho chega, uns cem (100) policial mandado pelo (suposto) proprietário, pra nos tirar da terra. A gente tinha (400) hectares de roça plantada, milho, feijão, aí tudo isso nos foi tirado, passamos uma dificuldade muito grande”.

Para a empresa tão importante quanto garantir a implantação do empreendimento era assegurar a configuração espacial, anteriormente negociada com o proprietário representante da família Galvão. Após a mídia, movimentos e discursos dos moradores as 263 famílias da Comunidade Remanescente de Quilombo de Macambira, comemorou mais uma etapa do processo de regularização do território onde vivem desde meados do século XIX. Por meio da Portaria Nº 240, de 1º de junho de 2015, a justiça reconheceu como terra remanescente de quilombo a área de aproximadamente 1.835 hectares reivindicada pela comunidade32. A justiça concedeu ganho de causa aos trabalhadores rurais de Macambira que durante anos, viviam enfrentando disputas e discórdias com latifundiários representantes da família Galvão, voltaram as suas terras e passaram a tratar diretamente com a empresa eólica a instalação do parque.

Após o processo de reintegração, os empresários dos ventos, a comunidade, os latifundiários locais e a justiça, buscaram entrar em um consenso sobre a implantação do parque eólico nas terras da comunidade que não viesse a prejudicar nenhum dos lados, porém não foi realmente o que aconteceu. Segundo os moradores da comunidade da Macambira, eles continuaram sendo os principais prejudicados, pois continuaram sofrendo ameaças e que deviam calar-se e aceitar as condições estabelecidas pelos empresários e latifundiários, ao contrário poderia haver mortes. Segundo Vilmário, a comunidade não teve opção, a não ser aceitar que a empresa eólica permanecesse em seus territórios “não foi do nosso gosto, mas por que fomos obrigados, por medo, até houve ameaça de morte. Houve situações de baterem em pessoas lá dentro, por conta

31

Ver: Que bons ventos os trazem? A investida das usinas eólicas e a reconfiguração dos territórios rurais no Estado do Rio Grande do Norte: desafios e perspectivas. Disponível em:

<https://bay179.mail.live.com/mail/ViewOfficePreview.aspx?messageid=mgQUti7mO45RGOwwAhWth XMg2&folderid=flinbox&attindex=1&cp=-1&attdepth=1&n=30119439 (acesso: 08-05-2016)

32 Ver Relatório com as principais noticias divulgadas pela mídia relacionada com a agricultura.

Disponível em:

<https://bay179.mail.live.com/mail/ViewOfficePreview.aspx?messageid=mgQUti7mO45RGOwwAhWth XMg2&folderid=flinbox&attindex=0&cp=-1&attdepth=0&n=93294720> Acesso: 30-04-2016

(23)

dessas terras, eles ficavam pressionando dizendo que nós ía perder tudo e se nós não fechasse um acordo favorável a eles”.

Interrogados sobre os benefícios e os problemas causados em razão da implantação da empresa eólica em suas terras, os moradores são unânimes em afirmar que a chegada do empreendimento na Macambira não foi bem vinda. Ela foi instalada na Comunidade não por uma decisão coletiva, mas por um empresário local, que juga-se dono das terras por autorização judicial. A aceitação da eólica nas terras dos “negros Macambira” não aconteceu em comum acordo e, segundo afirmam, a população ofereceu resistência por medo das ameaças de morte sofridas para não intervirem. Assim nos relatou Vilmário: “Então nós se achando acoados com essa situação, nós fomos obrigados a ceder uma parte da terra pra eólica botar suas torres lá. Não tivemos opção aqui, que pudéssemos se defender e lutar por nossas terras”.

Após a aceitação da Comunidade Macambira sobre a implantação do parque eólicos em seus territórios, foi firmado um acordo no qual a empresa dos ventos teria como contribuição social, a construção de uma casa de farinha com espaço e maquinário moderno, e dessa forma, contribuir para gerar renda aos moradores locais. Um outro compromisso da empresa eólica com a comunidade era aproveitar a mão de obra local, mas de acordo com os depoimentos, isso não aconteceu. Segundo Vilmário: “segundo eles diz, que ainda vão ajeitar nossa casa de farinha. Apesar de, no primeiro momento, prometeram que iam beneficiar o pessoal da comunidade com trabalho e isso não aconteceu, empregaram outras pessoas de fora os da própria comunidade, se botaram dez pessoas da comunidade pra trabalhar foi muito talvez uns dez trabalhou lá”. Para Anderson de 22 anos, após o direito de reintegração de posse aos quilombolas a comunidade foi submetida a um acordo descabido, sem fundamento que só beneficiou a empresa e aos latifundiários locais. A Comunidade até agora não recebeu nem um projeto social, enquanto em algumas comunidade vizinhas que também foram receptoras de torres eólicas em seu território e foram beneficiadas.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os quilombos brasileiros foram construídos como uma unidade básica de resistência do negro contra as condições de vidas impostas pelo sistema escravista, porém essa denominação tem mudado. Atualmente, quilombos são considerados

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espaços de resistências no qual seus integrantes desenvolvem e reproduzem modos de vida com suas próprias especificidades culturais construídas ao longo tempo. Na Constituição Federal de 1988, foi assegurado às comunidades remanescentes de quilombos o direito às terras por eles ocupadas, devendo o Estado atuar na titularização destas. De acordo com a Fundação Cultural Palmares existem hoje no país cerca de 1500 comunidades certificadas33. Dessa forma, muitas comunidades rurais negras passaram a construir uma nova identidade, baseada no resgate do conceito de “quilombo”, com o aparecimento de novos atores sociais, ampliando e renovando os modos de ver e viver a identidade negra. Muitas dessas comunidades, utilizam-se da memória para o registro de suas histórias.

Buscando compreender o processo identitário da comunidade Macambira, antes e depois de seu reconhecimento como remanescentes de quilombos através da memória secular dos sujeitos envolvidos, percebemos que a Macambira carrega na sua história um grande legado da cultura afro brasileira. A pesar da população afirmar que seus membros fazem parte de uma mesma família, não é o que se ver na prática. Não há uma identidade absoluta, existem várias identidades, e isso foi mudando com tempo. A primeira mudança após o processo de reconhecimento está ligado a financeira, nesse pontos todos tem muito orgulho de dizer que não são mais os negros que viviam em extrema pobreza. Um outro perfil da nova identidade está na definição: quem é quilombola, jamais poderá fazer parte “Dos Sem Terras” grupo da Macambira que se identifica como integrantes do (MST), também, dentro da comunidade residem pessoas que compraram terras a terceiros que não tem descendência negra, e sindicalistas que não se reconhecem como quilombolas, exceto quando se tem algo relativo a terra. Embora seja um território marcado por uma história de conflitos internos e externos, cuja motivação principal é a “Terra”, observamos que as múltiplas identidades que foram construídas ao longo do tempo, unificam-se quando o assunto é a tomada das terras por povos que não sejam eles próprios.

Dessa forma, compreendemos que não há uma unanimidade no processo de identificação quilombola entre os moradores da Macambira. Este, portanto, não é grupo fechado no espaço e parado no tempo. As muitas identificações mostram ser o amplo terreno compreendido pela Macambira um lugar cheio de histórias, que serviu como

33 Silva, Simone Rezende da Silva. Quilombos no brasil: a memória como forma de reinvenção da

identidade e territorialidade negra. Disponível em :< http://www.ub.edu/geocrit/coloquio2012/actas/08-S-Rezende.pdf>

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espaço de circulação de diferentes sujeitos nascidos ali, ou não, enfim, posseiros ou herdeiros da terra desde o tempo de D. Pedro II.

THE QUILOMBO OF THE REINVENTION MACAMBIRA: IDENTITY, CONFLICT AND TERRITORY IN POND NEW / RN

ABSTRACT

The present article aims, the study on the process of history and identity formation of community Macambira’s Quilombo Negroes - Lagoa Nova- RN, analyzing, from the reports of people who live there, the importance of the expression of a secular memory source on ownership of land and the reconstruction of a quilombo identity after the recognition process. For this, we start from the understanding of the historical formation of the community, in order to understand the conflict, the political and historical importance of memory statement. Methodologically this work develops from the construction of oral source and its theoretical assumptions discussion about memory and present history in Jacques Le Goff and Pierre Nora and analysis of identity developed by Stuart Hall and Tomaz Tadeu da Silva.

KEY WORDS

History. Memory. Identity

FONTES:

SANTOS, Anderson Palmeiras, 22 anos. Entrevistadoras: Ana Paula Bezerra e Francisca Iselda de Macêdo, Áudio Mp3, duração 90 minutos, 17 de abril de 2016.

Vilmário Cândido da Silva, 46 anos. Entrevistadoras: Ana Paula Bezerra e Francisca Iselda de Macêdo, Áudio Mp3, duração 1:30 mim, 23 de Abril de 2016.

Pedro Daniel Pereira- 72 anos. Entrevistadoras: Ana Paula Bezerra e Francisca Iselda de Macêdo, Áudio Mp3, duração 50 mim, 17 de Abril de 2016.

(26)

Agripina Daniel Pereira – 83 anos. Entrevistadoras: Ana Paula Bezerra e Francisca Iselda de Macêdo, Áudio Mp3, duração 1:10 mim, 17 de Abril de 2016.

Manoel Luciano dos Santos (Seu Neco) – 72. Entrevista informal realizada por Ana Paula Bezerra e Severino dos Ramos, Áudio Mp3, duração 45 mim, 09 de Janeiro de 2016.

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Referências

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