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Perceção de competência e perfil psicomotor em crianças com e sem obesidade

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO

PERCEÇÃO DE COMPETÊNCIA E PERFIL PSICOMOTOR EM

CRIANÇAS COM E SEM OBESIDADE

Dissertação de Mestrado em Educação Física – Especialização em Desenvolvimento da Criança

Andreia Susana Sousa Vaz 2015

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UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO Departamento de Ciências de Desporto, Exercício e Saúde

PERCEÇÃO DE COMPETÊNCIA E PERFIL PSICOMOTOR EM

CRIANÇAS COM E SEM OBESIDADE

Dissertação de Mestrado em Educação Física e Desporto – Especialização em Desenvolvimento da Criança

Andreia Susana Sousa Vaz

Orientadora: Prof. Dr.ª Eduarda Maria Rocha Teles de Castro Coelho Co-orientadora: Prof. Dr.ª Maria Isabel Martins Mourão-Carvalhal

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Dissertação de Mestrado realizada com vista à obtenção do grau de Mestre em Educação Física e Desporto – Especialização em Desenvolvimento da criança, pela Universidade de Trás-os- Montes e Alto Douro, sob a orientação da Professora Doutora Eduarda Maria Rocha Teles de Castro Coelho e co-orientadora: Prof. Doutora Maria Isabel Martins Mourão-Carvalhal.

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AGRADECIMENTOS

À Professora Doutora Eduarda Maria Rocha Teles de Castro Coelho, orientadora desta dissertação de mestrado, pelo profissionalismo, disponibilidade e pela ajuda ao longo da realização deste estudo.

À Professora Doutora Maria Isabel Martins Mourão Carvalhal, co-orientadora da dissertação do mestrado, pela prontidão e ajuda ao longo deste percurso.

Às crianças que participaram neste estudo, pela colaboração, pela alegria que transmitiram e dedicação durante a realização dos testes.

Às minhas parceiras de equipa, Cindy, Diana, Filomena e Marina, pelo trabalho em equipa durante a aplicação dos testes.

Às minhas companheiras e amigas da vida académica, Andreia, Daniela, Joana e Rosália, pela amizade que ainda perdura.

Aos meus pais, à minha irmã e aos meus sobrinhos, pelo apoio, motivação prestados no decorrer desta caminhada pois sem eles nada disto teria sido possível.

Ao Luis, pelo apoio prestado e incentivo nos momentos mais difíceis da finalização desta etapa no meu percurso académico.

A todos aqueles que já não estão comigo, mas que duma forma ou de outra me ajudaram a ser a pessoa que sou hoje, a acreditar mais em mim própria e a ultrapassar todos os desafios.

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RESUMO

A presente dissertação tem dois grandes objetivos: (i) – comparar a perceção de competência e o perfil psicomotor de acordo com o sexo e prevalência de obesidade; (ii) – verificar a influência da perceção de competência no perfil psicomotor e IMC. A amostra foi constituída por 138 crianças (71 meninas e 67 meninos), com idades compreendidas entre os 6 e os 10 anos (8,04 ±1,02). Para avaliar a perceção de competência (PC) foi usada a

Pictorial Scale of Perceived Competence and Social Acceptance for Young Children

(PSPCSAYC) de Harter & Pike (1981, 1984) aos alunos do 1º e 2º ano de escolaridade; e o

Self-Perception Profile for Children (SPPC) de Harter (1985) aos do 3º e 4º ano. Para o perfil

psicomotor utilizamos a Bateria Psicomotora de Vitor da Fonseca (BPM), calculamos o IMC e usamos os valores de corte de Cole et al. (2000) para definir obesidade. Utilizou-se o T-Test para comparar os fatores psicomotores e as sub-escalas de perceção de competência, de acordo com o sexo e prevalência de obesidade. Foi utilizado o coeficiente de correlação de Pearson para selecionar as variáveis a inserir no modelo de regressão múltipla. Relativamente à PC, os resultados apontam uma superioridade significativa do sexo feminino na sub-escala Comportamento (p<0.05), isto no 3º/4º ano, assim como no fator Psicomotor Equilibração (p=0.015) mas no 1º/2º ano, as meninas do 3º/4º ano ainda se destacam com diferenças significativas na Práxia Fina (p<0.05). Quanto à prevalência de obesidade os resultados apenas apontam diferenças significativas de PC no 3º/4º ano, onde os normoponderais são significativamente superiores na competência atlética (p<0.05) e aparência física (p=0.00). Verificam-se associações significativas entre o Total da BPM e as sub-escalas de perceção de competência cognitiva (p=.008) e competência atlética (p=.018), no 1º/2º ano; já no 3º/4º ano as associações são significativas entre o Total da BPM e a sub escala de aceitação social (p=.011), o IMC e as sub-escalas aparência física (p=.000) e competência física (p=.008). Os resultados da regressão demonstram que a aceitação social é variável preditora do Total da BPM (p=0.11; β=0,256) e a aparência física do IMC (p=0.00; β=-0,384). Concluindo, a PC e o Perfil Psicomotor variam nos diferentes anos do ensino básico (1º/2º e 3º/4º ano) de acordo com o sexo e obesidade, verificam-se associações entre o resultado da BPM e algumas sub-escalas de PC, e a aceitação social demonstra ser uma variavél preditora do perfil psicomotor, assim como, a aparência física do IMC, isto no 3º/4º ano.

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ABSTRACT

This dissertation has two main objectives: (i) - compare the perception of competence and psychomotor profile according to sex and prevalence of obesity; (ii) - verify the influence of the perception of competence in the psychomotor profile and BMI.

The sample consisted of 138 children (71 girls and 67 boys), aged between 6 and 10 years (8,04 ±1,02). Students of 1st and 2nd year was used at The Pictorial Scale of Perceived Competence and Social Acceptance for Young Children (PSPCSAYC) Harter & Pike (1981, 1984) to assess the perception of competence; and the Self-Perception Profile for Children (SPPC) Harter (1985) for the 3rd and 4th year. For the psychomotor profile we use Psychomotor Battery Vitor da Fonseca, and we calculate BMI, and obesity used to set the cutoff values of Cole et al. (2000). T-test was used to compare the results of psychomotor factors and the subscales of perception of competence, according to sex and prevalence of obesity. Pearson correlation coefficient was used to select the variables to be included in the multiple regression model. Regarding the PC, results show a significant superiority of females in the sub-scale behavior (p <0,05), this in 3rd/4th year, and the Psychomotor Balancing factor (p = 0.015) but in 1st/2nd year, 3rd/4th year girls still stand out with significant differences in factor praxis Fina (p <0,05). As the prevalence of obesity results only indicate significant differences in PC 3rd/4th year, where the normal weight are significantly higher in athletic competence (p <0,05), and physical appearance (p = 0,00). Check up associations between the BPM and Total subscales of perception of cognitive competence (p = ,008) and athletic competence (p = ,018) in 1st/2nd year; already in 3rd/4th year are significant associations between Total of BPM and the subscale of social acceptance (p = ,011), BMI and physical appearance subscales (p = ,000) and physical competence (p = ,008). The regression results show that social acceptance is predictor of Total BPM (p = 0.11; β = 0.256) and the physical appearance of BMI (p = 0,00; β = -0.384). In conclusion, the PC and the Psychomotor Profile vary from one year of basic education (1st / 2nd and 3rd / 4th year) according to sex and obesity, associations are found between the result of BPM and some PC subscales, and social acceptance proves to be a predictor variable psychomotor profile, as well as the physical appearance of the IMC, that on the 3rd / 4th year.

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Índice

AGRADECIMENTOS………..iv RESUMO………...v ABSTRACT………..vi I. INTRODUÇÃO………1

II. ESTUDO I - PERCEÇÃO DE COMPETÊNCIA E PERFIL PSICOMOTOR: DIFERENÇAS POR SEXO E OBESIDADE………8

Resumo ... 9 Abstract ... 9 Introdução... 10 Metodologia ... 13 Resultados ... 16 Discussão ... 19 Referências Bibliográficas ... 22

III. ESTUDO II - INFLUÊNCIA DA PERCEÇÃO DE COMPETÊNCIA NO PERFIL PSICOMOTOR E IMC………31 Resumo………...32 Abstract ... 33 Introdução... 33 Metodologia ... 35 Resultados ... 39 Discussão..………40 Referências Bibliográficas………43

IV. CONCLUSÃO GERAL………..48

V. PROPOSTAS FUTURAS………...50

VI. RETERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS………...52

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viii ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 – Amostra por ano de escolaridade, prevalência de obesidade e género…………...17 Tabela 2 – Perceção de Competência no 1º e 2º ano de escolaridade…………..…………....17 Tabela 3 – Perceção de Competência no 3º e 4º ano de escolaridade………...…..18 Tabela 4 – Resultados da BPM com médias e desvio padrão……….….18 Tabela 5 – Correlações entre o IMC, Total BPM e sub-escalas de PC do 1º e 2º ano de escolaridade….……….…39 Tabela 6 – Correlações entre o IMC, Total BPM e sub-escalas de PC do 3º e 4º ano de escolaridade.……….……39 Tabela 7 – Regressão Linear...……….……40

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ix ÍNDICE DE FIGURAS

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x LISTA DE ABREVIATURAS

1º CEB – 1º Ciclo do Ensino Básico

IMC – Índice de Massa Corporal

BPM – Bateria Psicomotora

PPM – Perfil Psicomotor

SPPC – Self-Perception Profile for Children

PSPCSAYC - Pictorial Scale of Perceived Competence and Social Acceptance for Young Children

PC – Perceção de Competência

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I. INTRODUÇÃO

A obesidade é considerada a epidemia do séc. XXI. A percentagem de crianças obesas tem aumentado de ano para ano tornando-se assim num dos maiores desafios da saúde pública (OMS, 2000; Currie & Roberts, 2004). É vista como uma doença que consiste na excessiva acumulação da gordura corporal, a qual prejudica gravemente a saúde do indivíduo, todavia, a quantidade dessa gordura, a sua distribuição no corpo e as suas consequências variam entre os indivíduos obesos (OMS, 2000; Kosti & Panagiotakos, 2006). Portugal foi considerado o terceiro país na União Europeia com maior taxa de prevalência de obesidade infantil, segundo dados da OECD (2010), comprovando assim, os resultados encontrados por estudos feitos anteriormente, onde verificaram uma tendência para o desenvolvimento da prevalência da obesidade infantil (Ribeiro, Guerra, Pinto, Duarte & Mota, 2003; Padez, Fernandes, Mourão, Moreira & Rosado, 2004; INE, 2009).

A obesidade infantil pode ser fruto de um contexto rodeado de uma reduzida atividade física, pois atualmente, a maioria das atividades de lazer das crianças passam pelo computador, pela TV e videojogos, não envolvendo assim esforço físico, tornando o sedentarismo no principal agente da obesidade (OMS, 2002; Dâmaso, 2001; Wang, Monteiro & Popkin, 2002; Marti, Martinez-González & Martinez, 2008; Pereira & Lopes, 2012). Também a alimentação é acusada como uma das maiores causas da obesidade, pois quer em casa quer na escola é muitas vezes constituída por alimentos hipercalóricos (Dâmaso, 2001; Wang et al., 2002; Pereira & Lopes, 2012), que muitas vezes pode ser influênciada pelo ambiente familiar, pelos estilos de vida e características sóciais (Cuixart, Prim, Sola & Caba, 2006). Alguns autores defendem que a obesidade, muitas vezes, está associada a distúrbios psicológicos tais como a diminuição de auto-estima (Viner & Cole, 2005; Bonilla & Arango, 2012), o isolamento social, a diminuição da participação em atividades coletivas (Viner & Cole, 2005), alterações da conduta e problemas no desempenho escolar (Bonilla & Arango, 2012).

Para uma prevenção, e tratamento de odesidade é necessária uma avaliação cuidadosa com um método confiável que certifique com clareza e segurança a sua presença. Existem vários métodos de medição mas aquele que a OMS (2002) seguiu foi o Índice de Massa Corporal (IMC), também conhecido por Índice de Quételet, que consiste na divisão do valor do peso (em kg) pelo quadrado do valor da altura (em metros). Cole, Bellizzi, Flegal & Dietz (2000) decidiram partir para uma investigação que lhe permitisse estabelecer uma tabela de

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pontos de corte de valores do IMC usada para crianças dos 2 aos 18 anos, através de um reajustamento dos valores percentílicos do IMC em função da idade e do género, tendo deste modo, usado dados de vários países do mundo. Assim, foi estabelecido que aos 18 anos já não existem diferenças de géneros, estando-se já na fase d adultos, sendo considerado excesso de peso o valor de IMC de 25kg/m2 e de 30kg/m2 obesidade, antes disso os valores

são diferentes quer em idades (diferenças de meio em meio ano) quer em género. Com esta nova tabela a utilização deste método e destes valores possibilitaram transformar os estudos comparativos mais válidos, ajudando assim, sobretudo nas investigações da obesidade infantil.

Chama-se Perceção de competência ao conjunto de perceções que o indivíduo tem de si mesmo em diferentes campos (Kunnen, 1992; Costa & Faria, 2000; Ferreira & Ferreira, 2012). Já Valentini (2002a), diz que a perceção de competência pode ser compreendida como o julgamento expresso pelo indivíduo referente a uma capacidade executada, tendo um carácter multidimensional pois pode ser exposta em domínios específicos do comportamento humano, cognitivo, social ou motor. Ainda Stone & May (2002), relatam que a perceção de competência diz respeito aos juízos individuais elaborados a partir da capacidade numa determinada área, tais como na escola, nas relações com os pares, na atividade física, e à maneira como os sujeitos estimam quantitativamente as suas capacidades nessas áreas.

De acordo com Kunnen (1992), existem três grupos de fatores que influenciam o desenvolvimento da perceção de competência, estando o primeiro relacionado com as experiências de sucesso ou insucesso no desempenho, o segundo com a qualidade e quantidade de informação recebida e o terceiro com as características do indivíduo (constitucionais e neurológicas). Essas experiências têm influência na elaboração das autoperceções e podem resultar dos vários contextos de vida, nomeadamente das vivencias na família, na escola, no grupo de pares e no contexto desportivo (Faria, 2005). Além disto, também resultam das interpretações que os indivíduos fazem dessas experiências, assim como, dos reforços e avaliações que os outros fazem dos seus comportamentos nomeadamente dos pais, professores e pares (Harter, 1982; Faria, 2005). Por sua vez, a perceção de competência também influencia todos os comportamentos e ações dos indivíduos nos diversos contextos de existência (Kunnen, 1992), sendo alterável pois esta pode sofrer mudanças no decorrer das experiências vividas e conquistas efetuadas (Almeida, Valentini, Berleza, 2009; Kunnen, 1992), os seus comportamentos são modificados pelas tarefas e pelo

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modo como percebem a sua competência pessoal e pela expectativa de êxito (Bandura, 1990), assim, os indivíduos desenvolvem a perceção da capacidade de desempenho nas várias áreas (Kunnen, 1992). A perceção de competência é assim, uma avaliação global de si próprio que resulta de uma síntese pessoal das avaliações das suas experiências anteriores nos diferentes domínios.

Também todas as vivências com rendimento positivo irão melhorar a auto-imagem e perceção de competência, e tornarão a pessoa mais motivado intrinsecamente e extrinsecamente a executar uma dada tarefa, mas o indivíduo que se entende menos competente irá ter problemas de motivação, ou seja, esta reduzirá com mais facilidade que resultará num abandono mais rápido dessa tarefa (Eccles et al., 1989). Além disto, também o número de experiências motoras vividas por parte da criança contribuem para a sua perceção, uma criança que seja estimulada, e que tenha passado por uma extenso leque de experiências tem tendência para se sentir mais segura e precisa na avaliação da sua competência (Valentini, 2002b).

Harter (1978, cit. por Valentini, 2002b) indica a existência de quatro fatores onde a motivação se organiza, para a competência na criança, sendo eles: 1) experiencias passadas; 2) desafios associados com o resultado da tarefa; 3) suporte e interação social; 4) motivação intrínseca, defendendo ainda que estes fatores parecem influenciar nos níveis de perceção de competência, quer baixos ou elevados.

Quando uma criança não percebe o grau de dificuldade de uma dada tarefa pode originar uma baixa perceção de competência e diminuir a motivação no desempenho dessa tarefa, ou seja, as experiências de fracasso vai influenciar negativamente a perceção de competência (Harter, 1982). As crianças atingem a precisão nas perceções por volta dos 8 anos, e até por volta dos 12 anos elas atingem um nível moderado de precisão (Harter, 1982), ou seja, com o aumento da idade a criança ganha mais conhecimento das suas capacidades e do que a envolve, e, a partir daí julga as suas habilidades de forma mais adequada. Também o reforço dos pais, professores e pares parecem influenciar diretamente a PC (Harter, 1982, 1999).

A auto-estima é um juízo que deve ser entendido, segundo Hater (1982), como multidimensional e dinâmico pois cada um de nós tem distintas perceções de nós próprios nas diferentes capacidades, considerando-a ainda, desenvolvimental pois a sua importância é variável com a idade e os domínios que a englobam são diferenciados. De acordo com Brown e Marshall (2001), a auto-estima está relacionada com imensos estados emocionais, tais como

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a ansiedade, depressão, orgulho e vergonha. É ainda vista por Heatherton e Wyland (2003), como uma atitude sobre o “eu” e está em conexão com as crenças pessoais sobre as competências, habilidades, relações sociais, e os resultados futuros, sendo ainda, uma resposta emocional à avaliação de diferentes coisas sobre si mesmo. Consiste na auto-avaliação que cada pessoa faz a partir das representações e imagens que tem de si próprio e da imagem que lhe é transmitida pelos outros, possibilitando a cada indivíduo a construção da sua identidade, quer ao nível pessoal como social (Lamia, Tap & Sordes-Ader, 2011). Mas isto, só é possível a partir de uma certa idade, pois as crianças em estágios iniciais não conseguem fazer esta auto-avaliação, dado que não estão habilitadas a reflectir de forma consciente sobre o self então a confusão entre o desejo e a realidade, e a ainda falta de capacidade para o pensamento lógico não ajudam a desenvolver a reflexão sobre o self (Harter, 1990), tal como Harter e Pike (1984) demonstraram com o seu estudo em crianças com idades entre os 4 e os 7 anos, concluindo que elas nessas idades ainda não fazem estimação sobre o seu valor global. Entre os 6 e 7 anos, já fazem auto-avaliações mas não é propriamente uma avaliação das suas qualidades mas sim, a exposição de um desejo impensado das características ambicionadas, pois durante o estágio pré-operatório as crianças apenas fazem a descrição de competências comportamentais, características físicas, preferências, posses, e associação categorias. A meio da infância a criança entra no estágio das operações concretas (por volta dos 8 anos), dando-se uma mudança de atributos surgindo uma nova competência para classificar atributos específicos em categorias, conseguindo assim, formar generalizações de ordem superior sobre o self (Harter, 1990). Segundo Harter (1982), as crianças aos 8 anos além da habilidade de fazer julgamentos acerca da sua competência nos diversos domínios, também possuem talento para fazer uma avaliação mais global sobre elas próprias assim neste meu estudo as crianças com 8 e mais anos também foram avaliadas em termos de auto-estima.

De acordo com Vítor da Fonseca (2005), “a psicomotricidade pode ser definida como o campo transdisciplinar que estuda e investiga as relações e as influências, recíprocas e sistémicas, entre o psiquismo e a motricidade” (p. 25). O psiquismo compreende desde as funções de atenção, processamento e integração multissensorial, até às de planificação, regulação, controlo e execução motora; ou seja, aos processos cognitivos do acto mental correspondem determinados substratos neurológicos (Fonseca, 2005; Fonseca & Oliveira, 2009). Por sua vez, a motricidade revela a vida psíquica em termos de comportamento e

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aprendizagem, desde as atitudes, gestos, mímicas (linguagem não verbal), linguagem falada (oromotricidade) e escrita (grafomotricidade) (Fonseca & Oliveira, 2009). Assim, a psicomotricidade procura espelhar a evolução do ser humano e, ainda, a aprendizagem na criança, uma vez que se revela o meio privilegiado do organismo para realizar uma interacção activa com o mundo exterior, e concomitantemente para aprender; é através deste meio que o indivíduo realiza uma construção da sua própria representação do real (Fonseca & Oliveira, 2009). O desenvolvimento psicomotor é um processo contínuo que ocorre num indivíduo desde o seu nascimento até á morte (Bueno, 1998), por sua vez, o Perfil Psicomotor (PPM) ou perfil intra-individual é o resultado das experiências vivenciadas sendo também o resultado da especificidade biológica, genética e endógena de cada um (Fonseca, 2007). Caracteriza a qualidade da ligação entre o psíquico e o motor de uma criança num determinado momento de desenvolvimento, e é determinado a partir da aplicação e interpretação dos dados obtidos da Bateria Psicomotora (BPM) de Vítor da Fonseca.

A escolha do tema da presente dissertação deve-se ao fato de a PC poder ser uma variável que influencia o PPM e a obesidade. Tornou-se pertinente desenvolvermos um estudo que engloba-se a obesidade, pois o estudo de Padez et al. (2005) revelou que as crianças portuguesas têm maior prevalência de excesso de peso e de obesidade que as crianças de outros países europeus e americanos, o que nos leva a crer que este problema é uma realidade nas crianças portuguesas. Dado que na investigação de Simões e Menezes (2007) é reconhecido a importância da avaliação das auto-perceções em crianças obesas, sendo sugerido que se desenvovam mais estudos nesta área, nós optamos assim por comparar a PC entre as crianças com e sem obesidade. Despertando o interesse de fazermos também a comparação por sexo, dado que existem investigações onde as meninas se apresentam superiores e outras onde são superiores os meninos, assim pretendos clarificar esta questão. Optamos, ainda, por avaliar o PPM pois é uma área de estudo pouco desenvolvida em Portugal e quisemos verificar se realmente existem ou não diferenças a este nível, entre crianças obesas e não obesas, pois como podemos ver existem estudos que demonstram uma inferioridade ao nível psicomotor por parte das crianças obesas.

As idades em que as crianças são mais passíveis ao estado de obesidade são faixa etária dos 6 e aos 12 anos de idade, tal como revelou o estudo de Prazeres e Fonseca (2010), existindo um pico aos 6 e aos 10 anos. Entre os 6-10 anos, aproximadamente, desenrolam-se os designados anos escolares na vida das crianças, uma vez que a escola apresenta um papel

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importante para o desenvolvimento físico, cognitivo e psicossocial. As crianças desenvolvem-se em todos os domínios: tornam-se mais altas, pesadas e fortes e adquirem competências motoras essenciais para participarem em jogos organizados e desportos; progridem no pensamento lógico e criativo, no julgamento moral, na memória e na literacia; à medida que as competências afectam o sucesso na escola, as diferenças individuais tornam-se mais evidentes e as necessidades especiais com mais relevo; apesar dos pais continuarem a ter um papel importante na personalidade da criança, o grupo de pares começa a ter uma maior influência; através do contacto com os outros desenvolvem-se física, cognitiva, emocional e socialmente (Papalia, Olds & Feldman, 2001).

Daí nós escolhermos as crianças que frequentavam o 1º ciclo do ensino básico, pois é neste período onde muitas transformações acontecem, onde é possível detetar determinados problemas e onde uma intervenção ainda pode ter resultados expectantes, considero assim, que o resultado do meu estudo pode gerar alertas para os problemas relacionados com os conteúdos nele abordados.

A presente dissertação é constituída por dois estudos, tendo como principais objetivos: (i) – Comparar a perceção de competência e o PPM em crianças de diferentes anos de escolaridade em função do sexo e obesidade; (ii) – verificar a influência da perceção de

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II. ESTUDO I - PERCEÇÃO DE

COMPETÊNCIA E PERFIL

PSICOMOTOR: DIFERENÇAS POR SEXO

E OBESIDADE

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III.ESTUDO 1 – Comparar a Perceção de Competência e Perfil Psicomotor de crianças

em diferentes anos de escolaridade em função do sexo e obesidade.

Resumo

Este estudo tem como objetivo comparar a perceção de competência (PC) e o perfil psicomotor (PPM) por sexo e prevalência de obesidade. A amostra foi constituída por 138 crianças de ambos os sexos, 39 crianças frequentavam o 1º e 2º ano de escolaridade (18 Femininos e 21 Masculios) e 99 do 3º e 4º ano (52 Femininos e 47 Masculinos), todos eles com idades compreendidas entre os 6 e 10 anos. Foi utilizado o IMC e os valores de corte de Cole et al. (2000) para estimar a prevalência de obesidade, The Pictorial Scale of Perceived Competence and Social Acceptance for Young Children de Harter & Pike (1981, 1984); o Self-Perception Profile for Children (SPPC) de Harter (1985) para avaliar a PC e a Bateria Psicomotora (BPM) de Vítor da Fonseca para o PPM. Para comparação dos resultados utilizou-se o T-Test. As crianças do 1º/2º ano não revelaram diferenças significativas entre os sexos na PC, e no PPM apenas existem diferenças significativas no fator Psicomotor Equilibração (p=0.015) onde as meninas obtêm valores superiores. Nas crianças de 3º/4º ano também as meninas apresentaram valores superiores na sub-escala Comportamento (p<0.05) referente à PC, e no fator Práxia Fina (p<0.05). Quanto à prevalência de obesidade, os resultados não apontam diferenças significativas entre as crianças com excesso peso/obesidade e normoponderais do 1º/2º ano, quer a nível da PC quer no PPM, já no 3º/4º ano existem diferenças significativas na PC, onde as normoponderais são significativamente superiores na competência atlética (p<0.05) e na aparência física (p=0.00). Concluindo as meninas obtêm melhores resultados na Equilibração no 1º/2º ano, no 3º/4º ano na Praxia Fina e no Comportamento, as crianças normoponderais apenas têm valores superiores na Competência Atlética e Aparência Física, isto no 3º/4º ano.

Palavras – chave: Perceção de Competência; Perfil Psicomotor; Crianças; Excesso

Peso/Obesidade

Abstract

This study aims to compare the perception of competence (PC) and psychomotor profile by sex and prevalence of obesity. The sample consisted of 138 children of both sexs, 39 children attended the 1st/2nd grade (18 Female and 21 Male) and 99 in the 3rd/4th grade (52 Female

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and 47 Male), aged between 6 and 10 years. BMI cutoff values of Cole et al were used. (2000) to estimate the prevalence of obesity, The Pictorial Scale of Perceived Competence and Social Acceptance for Young Children Harter & Pike (1981, 1984); and the Self-Perception Profile for Children (SPPC) Harter (1985) to assess the PC and Psychomotor Battery (BPM) Vitor da Fonseca for the psychomotor profile. For comparison of results we used the T-Test. Children of the 1st/2nd grade revealed no significant sex differences in the PC, and psychomotor profile only significant differences in factor psychomotor Equilibration (p = 0.015) where girls higher values. In children 3rd/4th grade also the girls showed higher values in behavior subscale (p <0.05) on the PC, and Thin Praxis factor (p <0.05). As the prevalence of obesity results do not indicate significant differences between excess weight / obesity and normal weight children of 1st/2nd grade, both within the PC or psychomotor profile; already in 3rd/4th grade there are significant differences in the PC, where the normal weight are significantly higher in athletic competence (p <0.05), and physical appearance (p = 0:00). Concluding the girls perform better at Equilibration the 1st/2nd grade, in the 3rd/4th grade in Thin Praxis and Behavior subscale; comparing children with and without obesity, the normal weight children only have higher values in Athletic Competence and Physical Appearance, that in the 3rd/4th grade.

Keyswords:Perceived Competence; Psychomotor Profile; Children; Obesity.

Introdução

A Perceção de competência é o conjunto de perceções que o indivíduo tem de si mesmo em diferentes campos (Costa & Faria, 2000; Ferreira & Ferreira, 2012; Kunnen, 1992). Por sua vez, a perceção vai ser influenciada por três grupos de fatores, estando o primeiro relacionado com as experiências de sucesso ou insucesso no desempenho, o segundo com a qualidade e quantidade de informação recebida e o terceiro com as características do indivíduo (constitucionais e neurológicas) (Kunnen, 1992), tendo um caractér alterável pois esta pode sofrer mudanças no decorrer das experiências vividas e conquistas efetuadas (Almeida, Valentini & Berleza, 2009; Kunnen, 1992). As crianças atingem a precisão nas perceções por volta dos 8 anos, e até por volta dos 12 anos elas atingem um nível moderado de precisão (Harter, 1982), ou seja, com o aumento da idade a criança ganha mais conhecimento das suas

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capacidades e do que a envolve, e, a partir daí julga as suas habilidades de forma mais adequada.

Algumas investigações apontam as meninas como superiores nas sub-escalas de competência escolar (Mendelson, White, & Mendelson, 1996) e no comportamento (Mendelson et al., 1996; Almeida et al., 2009; McCullough, Muldoon & Dempster (2008). Já os meninos demonstraram-se mais competentes na competência atlética e na aparência física (Mendelson et al., 1996; Carreiras e Quitério (2013). Ainda, outros estudos revelam que os meninos têm uma perceção de competência atlética superior às meninas (Eccles et al., 1989; Villwock & Valentini, 2005; Bois, Sarrazin, Brustad, Trouilloud & Cury, 2005; Villwock & Valentini, 2007; Robison, 2010) ou seja, os meninos entendem-se mais competentes atleticamente. Ainda dentro deste assunto, temos os estudos de Valentini (2002a, 2002b), em que não demonstrou diferenças significativas entre os sexos na PC física. McCullough et al. (2008) verificaram no seu estudo que o sexo masculino foi superior em todos os domínios de competência exceto no domínio da conduta comportamental. Já na investigação de Almeida et al. (2009), os resultados não demonstraram diferenças significativas nas subescalas quanto ao sexo. Relativamente à obesidade, há estudos que, demonstrou que as crianças obesas têm níveis mais baixos de perceção de competência em todos os domínios que as crianças com peso normal (Manus & Killeen, 1995; Phillips & Hill, 1998). Há outros onde as crianças com excesso de peso e obesidade têm significativamente menor pontuação na aparência física (Stradmeijer, Bosch, Koops & Seidell, 2000; Franklim, Denyer, Steinbeck, Caterson & Hill, 2006), competência atlética (Stradmeijer et al., 2000; Sung, Yu, So, Lam & Hau, 2004; Franklim et al., 2006); na aceitação social (Stradmeijer et al., 2000) e auto-estima global (Stradmeijer et al., 2000; Franklim et al., 2006). Por outro lado, o estudos de McCullough et al. (2008) revelou que as crianças com excesso de peso / obesidade apenas tiveram resultados superiores ás crianças com peso normal na conduta comportamental, nas restantes competências demonstraram-se sempre inferiores.

A auto-estima consiste na auto-avaliação que cada pessoa faz a partir das representações e imagens que tem de si próprio e da imagem que lhe é transmitida pelos outros, possibilitando a cada indivíduo a construção da sua identidade, quer ao nível pessoal como social (Lamia, Tap & Sordes-Ader, 2011). Sendo isto, só possível, a partir de uma certa idade, pois as crianças em estágios iniciais não conseguem fazer esta auto-avaliação. Isto, pelo fato de não estarem aptas a reflectir de forma consciente sobre o self então a confusão entre o desejo e a realidade, e a ainda falta de capacidade para o pensamento lógico não ajudam a desenvolver a

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reflexão sobre o self (Harter, 1990). Harter & Pike (1984) demonstraram com o seu estudo em crianças com idades entre os 4 e os 7 anos, concluindo que elas nessas idades ainda não fazem estimação sobre o seu valor global. Tal como nos diz Harter (1982), as crianças aos 8 anos além da habilidade de fazer julgamentos acerca da sua competência nos diversos domínios, também possuem talento para fazer uma avaliação mais global sobre elas próprias, assim neste estudo, as crianças do 1º e 2º ano escolaridade não serão avaliadas quanto à auto-estima, tendo esta avaliação apenas as crianças do 3º e 4º ano, que já se encontram com idades entre os 8 e 10 anos. Estudos comparativos mostram uma superioridade dos rapazes nos resultados de auto-estima (Alsaker & Olweus, 1993; Block & Robins, 1993; Franklim et al., 2006; Gaspar, Ribeiro, Matos, Leal & Ferreira, 2010; Lamia et al. 2011). Porém, McCullough et al. (2008) verificaram uma superioridade, embora que ligeira, no sexo feminino, mas contrariamente a estas duas situações surgiram investigações onde não se verificou diferenças significativas entre os sexos (Mendelson et al. 1996; Marsh, Craven e Debus, 1998; Strauss, 2000; Carreiras e Quitério, 2013). Foi possível verificar naqueles que compararam a auto-estima nas crianças com peso normal e com obesidade, que há muito as crianças obesas têm demonstrado ter uma baixa auto-estima (Allon, 1979; Manus & Killeen, 1995; Phillips & Hill, 1998; Pesa, Syre & Jones, 2000; Stradmeijer et al., 2000; Eisenberg, Neumark-Sztainer, & Story, 2003; Sung et al., 2004; Franklim et al., 2006; McCullough et al., 2008). Embora haja diferenças existem resultados que não suscitam diferenças significativas entre estes dois grupos (Gortmaker, Must, Perrin, Sobol, & Dietz, 1993; Renman, Engstrom, Silfverdal, & Aman, 1999; Strauss, 2000).

O desenvolvimento psicomotor é um processo contínuo que ocorre num indivíduo desde o seu nascimento até à morte (Bueno, 1998), por sua vez, o PPM ou perfil intra-individual é o resultado das experiências vivenciadas sendo também o resultado da especificidade biológica, genética e endógena de cada um (Fonseca, 2007) que caracteriza a qualidade da ligação entre o psíquico e o motor de uma criança num determinado momento de desenvolvimento.

Existem estudos onde não foram encontradas diferenças estaticamente significantes relativamente ao sexo, contudo através da análise descritiva observa-se que as meninas revelaram um perfil superior nos fatores tonicidade (Pereira & Tudella, 2005), equilibração (Pereira & Tudella, 2005; Zimpel, Batista & Alves dos Santos, 2010), lateralização (Pereira & Tudella, 2005), noção de corpo (Pereira & Tudella, 2005; Almeida, 2009; Zimpel et al., 2010), estruturação espacio-temporal (Almeida (2009) e praxia fina (Pereira & Tudella, 2005; Almeida, 2009; Zimpel et al., 2010), por outro lado os meninos obtiveram melhores

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resultados no equilíbrio (Almeida (2009), estruturação espacio-temporal (Zimpel et al., 2010) na praxia global (Pereira & Tudella, 2005; Zimpel et al., 2010). No estudo de Almeida (2009), foi possível constatar que o sexo feminino obteve, de uma forma geral, um melhor resultado em comparação com o masculino. Outros estudos não encontraram diferenças entre os sexos (Carvalho, Sousa & Fernandes [s.d.]; Pereira & Tudella, 2008).

Podemos, ainda, salientar que com o avançar da idade dá-se um aperfeiçoamento do PPM, ou seja, as crianças mais velhas exibiram melhores resultados de desenvolvimento psicomotor (Simões, Murijo & Pereira, 2008; Almeida & Martins, 2012).

Por outro lado, no estudo realizado por Poeta et al. (2010), o grupo das crianças obesas apresentou valores inferiores do grupo de crianças não obesas em todas as áreas, com grande diferença no desenvolvimento motor geral, na motricidade global, no equilíbrio e no esquema corporal. Mais recentemente Aleixo, Guimarães, Walsh & Pereira (2012) investigaram o equilíbrio, a praxia global, e as alterações posturais na coluna e nos membros inferiores decorrente da sobrecarga, em crianças com sobrepeso ou obesidade o que nos indica que o aumento do IMC altera de forma negativa o equilíbrio e a praxia global.

Dado isto, o objetivo do presente estudo é comparar os resultados de perceção de competência e do PPM, quanto ao sexo e prevalência de obesidade em crianças dos 6 aos 10 anos.

Metodologia

Participantes

A amostra foi constituída por 138 crianças, 39 do 1º/2º ano de escolaridade (18 Meninas e 21 Meninos; 16 com excesso peso/obesidade e 23 com peso normal) e 99 do 3º/4º ano (52 Meninas e 47 Meninos; 52 com excesso peso/obesidade e 47 com peso normal), com idades compreendidas entre os 6 e 10 anos (8,04 ±1,02). Todas as crianças residiam no Concelho de Vila Real, e frequentavam o ensino primário público numa das seguintes escolas da cidade de Vila Real: EB1 do Bairro S. Vicente Paula, Escola Primária da Araucária e Escola Primária das Árvores. O grupo de Obesidade inclui as crianças não só com obesidade mas também aquelas com excesso de peso.

Os critérios de exclusão foram:

 pertencer a grupo de etnia cigana;

 deter algum tipo de deficiência;

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Dados sócio-demográficos

Foi elaborado um questionário sócio-demográfico, com o objetivo de caraterizar os participantes em termos de sexo, idade, ano de escolaridade e escola.

Prevalência de obesidade

Foi calculado o IMC de cada criança, assim foram recolhidos o peso e a altura, recorrendo-se a uma balança digital e um estadiómetro. As medições do peso e altura foram efetuadas de acordo com Lohman, Roche e Martorell (1988, cit. por Libório, Carvalhal & Coelho, 2010), sendo que o avaliado deverá estar descalço, com menor quantidade de roupa possível em posição bípede; a cabeça deverá estar no plano horizontal de Frankfort (linha da visão perpendicular em relação ao corpo, e juntar à parede os calcanhares, nádegas e ombros). Para se distinguir as crianças obesas das não obesas, foram seguidos os valores de corte de Cole et al (2000), medindo-se o IMC das crianças, sendo a fórmula 𝐼𝑀𝐶 =(𝐴𝑙𝑡𝑢𝑟𝑎𝑃𝑒𝑠𝑜 2) .

Perceção de Competência

Dadas as idades das crianças da amostra, foram usadas a Escala Pitórica de Percepção de Competência e Aceitação Social para crianças, versão para o 1º/2º ano de escolaridade, a qual é uma adaptação para a população Portuguesa feita por Mata, Monteiro e Peixoto (2008) da Pictorial Scale of Perceived Competence and Social Acceptance for Young Children de Harter & Pike (1981, 1984); e o Self-Perception Profile for Children (SPPC) de Harter (1985) adaptada também para a população Portuguesa por Alves-Martins, Peixoto, Mata e Monteiro (1995), entitulado, “Escala de Autoconceito e Auto-Estima para Crianças e Pré-Adolescentes”. A primeira tem quatro versões diferentes, uma para crianças a frequentar o pré-escolar e outra para o 1º e 2º ano de escolaridade, depois existe ainda uma versão para cada sexo, neste caso foram utilizadas as duas versões (raparigas e rapazes) destinadas a crianças no 1º e 2º ano de escolaridade. Esta escala é pictórica de modo a captar a atenção, e facilitar o envolvimento e a compreensão das crianças quanto ao conteúdo dos itens, contempla a construção mental de dois elementos, a perceção de competência e a aceitação social percebida. É composta por 4 domínios, a competência cognitiva, a aceitação de pares, a competência física e a aceitação materna, e a cada um destes domínios correspondem 6 itens. Cada item é apresentado sob a forma de imagem, havendo imagens diferentes para rapazes e raparigas e em cada imagem aparecem duas situações diferentes, uma representa uma criança mais competente ou aceite e outra menos competente ou menos aceite e aí a criança terá que

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escolher com qual se identifica e qual o grau de identificação. No que toca a cotações, cada item é cotado de 1 a 4, sendo o último valor uma elevada perceção de competência (Mata et al., 2008). A segunda escala é dirigida a sujeitos do 3º ao 6º ano de escolaridade, apresenta o formato de questionário e divide-se em duas escalas: “Como é que eu sou”, traduzindo o perfil de auto-percepção e a “Qual é para ti a importância destas coisas?”. Onde foi utilizada apenas a primeira, a qual é formada por 6 subescalas, em que 5 são referentes a domínios específicos de auto conceito, sendo eles: a competência escolar, a aceitação social, a competência atlética, a aparência física e o comportamento, e uma para avaliação da auto-estima. Cada uma é constituída por 6 itens apresentados de forma alternada, fazendo um total de 36, em cada um deles a criança tem que escolher com qual tipo de criança se acha mais parecida e depois se julga que é “Tal e qual assim” ou “Um bocadinho assim”, em que a cotação de cada item também é de 1 até 4.

Perfil Psicomotor

Utilizou-se a Bateria Psicomotora (BPM) de Victor da Fonseca, em que esta é um instrumento original de observação psicoeducacional (constituindo um modo de efetuar uma abordagem psiconeurológica da observação psicomotora na criança) aplicada a crianças entre os 4 e 12 anos de idade (Fonseca, 2007). Consiste num conjunto de situações/tarefas simples, distribuídas por sete fatores psicomotores, divididos pelas Unidades Funcionais de Luria, 1ªunidade: tonicidade e equilibração, 2ª unidade: lateralização, noção do corpo, estruturação espácio-temporal, e a 3ª unidade: praxia global e praxia fina. Utilizando-se os seguintes materiais: colchão; fita métrica; cadeira suficientemente alta para que os pés fiquem fora do alcance do solo; mesa; bola de espuma de 5 centímetros de diâmetro; trave com 3 metros de comprimento, 5 centímetros de altura e 8 centímetros de largura; canudo de papel; folha de papel normal com buraco ao centro; relógio de corda; telefone; folha de papel; lápis de cor; fichas desenhadas com as respetivas estruturas e cinco fósforos; bola de ténis; cesto de papéis; 10 clips; cronómetro; e folha de papel quadriculado (quadrícula grande). Cada tarefa é pontuada de 1 a 4 pontos, de acordo com o desempenho da criança, ou seja, quanto melhor for o desempenho maior vai ser a pontuação obtida. Através da média das cotações de cada subfactores acha-se a pontuação do fator a que correspondem, somando-se depois os valores de todos os fatores, tendo a aplicação a cotação máxima de 28 pontos (4x7 fatores), podendo assim, o resultado final variar entre entre 7-28 pontos, permitindo também uma avaliação quantitativa.

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16 Procedimentos

Após a seleção dos instrumentos, obtiveram-se as autorizações necessárias do Conselho Executivo de cada escola, dos docentes dos alunos que iriam participar assim como dos seus encarregados de educação e também o consentimento dos próprios participantes. A administração assumiu a seguinte ordem, numa primeira fase o questionário sócio-demografico, a seguir a Bateria Psicomotora e por fim os questionários de Auto-Perceção de Competência. Tudo decorreu num ambiente natural com administração individual. Os instrumentos foram aplicados segundo a normas de execução, os dados foram recolhidos por uma equipa constituída por seis pessoas, estas obtiveram conhecimentos prévios acerca da aplicação, e no caso da BPM cada duas pessoas ficou responsável por uma Unidade Funcional de Luria para que o erro fosse sempre o mesmo, e foi calculada a consistência interna através do teste e reteste (estabilidade temporal), onde foi obtido o valor de 0.887 para a primeira unidade, 0.732 para a segunda unidade, 0.969 para a terceira unidade e 0.800 no total da BPM. A aplicação da Bateria teve a duração de aproximadamente 45 minutos por criança. Os questionários de Auto-Perceção de Competência foram aplicados de acordo com o ano escolar a frequentar, as perguntas foram lidas em voz alta, à exceção de algumas crianças que preferiam ler elas em voz baixa. Foram retiradas todas as dúvidas suscitadas e a duração da aplicação rondou os 25 minutos por criança. Ao longo da recolha de dados usaram-se folhas de registo a fim de possíveis dados não serem perdidos, que posteriormente foram copiados para uma base de dados.

Analise Estatística

Para a análise de dados foi utilizado o programa Statistical Package for Social Scienses (SPSS), versão 21.0 para Windows. Recorreu-se à estatística descritiva, usando-se o T-Teste para comparar as variáveis dependentes de acordo com as independentes (sexo, ano de escolaridade e prevalência de obesidade) calculando-se a média, desvio padrão.

Resultados

Através da tabela 1 verificamos que a obesidade é maior no sexo Feminino, tanto no grupo de crianças do 1º/2º ano como no 3º/4º ano. Verifica-se que é o 3º/4º ano de escolaridade que detém maior percentagem de obesos, ou seja, a faixa etária dos 8 aos 10 anos.

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Tabela 1 – Amostra por ano de escolaridade, prevalência de obesidade e sexo.

1º/2º ano 3º/4º ano Freq.(n) %(fr) Freq.(n) %(fr) Normoponderais Feminino 8 20,51 24 24,24 Masculino 15 38,46 23 23,23 Exc.peso/Obesidade Feminino 10 25,64 28 28,28 Masculino 6 15,39 24 24,24 Totais 39 100 99 100

Passando agora à Perceção de Competência, na tabela 2, verifica-se que no 1º/2º ano não existem diferenças significativas quanto ao sexo e obesidade. No entanto, existe uma tendência para o sexo feminino obter valores ligeiramente superiores, assim como, as crianças com excesso de peso / obesidade.

Tabela 2 – Perceção de Competência no 1º e 2º ano de escolaridade

Feminino (n=18) Masculino (n=21) Normal (n=23) Exc.Peso/Obesidade (n=16) m dp m dp P m dp. m dp p C.C. 3,483 ±0,510 3,329 ±0,603 ,397 3,374 ±0,485 3,438 ±0,668 ,732 A.P. 3,578 ±0,429 3,443 ±0,458 ,351 3,491 ±0,457 3,525 ±0,439 ,819 C.F. 3,55 ±0,431 3,31 ±0,549 ,142 3,37 ±0,554 3,494 ±0,437 ,459 A.M. 2,989 ±0,628 2,843 ±0,591 ,460 2,874 ±0,633 2,963 ±0,577 ,659

C.C. (Competência escolar);A.P. (Aceitação pares);C.F. (Competência Física); A.M. (Aceitação materna)

Analisando a tabela 3, vêmos que no 3º/4ºano apenas existem diferenças significativas na sub-escala comportamento (p<0.05), sendo que o sexo feminino demonstra valores superiores ao masculino. Quanto à prevalência de peso observam-se diferenças significativas na competência atlética (p<0.05), e na aparência física (p=0.00), cuja a superioridade pertence as crianças normoponderais.

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Tabela 3 - Perceção de Competência no 3º e 4º ano de escolaridade

Feminino (n=52) Masculino (n=47) Normal (n=47) Exc.peso/Obesidade (n=52) m dp m dp p m dp m dp p C.E. 2,602 ±0,525 2,760 ±0,679 ,197 2,687 ±0,604 2,667 ±0,611 ,871 A.S. 2,867 ±0,530 2,909 ±0,505 ,694 2,887 ±0,605 2,887 ±0,427 ,995 C.A 2,838 ±0,475 2,896 ±0,562 ,584 2,981 ±0,504 2,762 ±0,510 ,034* A.F. 3,198 ±0,641 3,157 ±0,739 ,770 3,504 ±0,464 2,885 ±0,724 ,000* C. 2,994 ±0,672 2,734 ±0,556 ,040* 2,768 ±0,640 2,963 ±0,613 ,124 A.E. 3,358 ±0,510 3,332 ±0,485 ,798 3,447 ±0,454 3,254 ±0,518 ,053

C.E. (Competência escolar);A.S. (Aceitação social);C.A. (Competência atlética); A.F. (Aparência Física); C (Comportamento); A.E. (Auto-estima); *p≤0,05

Relativamente ao PPM, na tabela 4, observamos que no 1º/2º ano de escolaridade apenas existem diferenças significativas entre o sexo na Equilibração (p<0,05), onde o sexo feminino tem resultado superior.

Tabela 4 – Resultados da BPM com médias e desvio padrão.

T E L NC EET PG PF TBPM 1º/2º ano Feminino (n=18) m 3,039 3,144 3,56 2,689 2,506 2,39 3,200 20,522 dp ±,5192 ±,3776 ±,511 ±,5870 ±,7328 ±,608 ±,5456 ±2,1996 Masculino (n=21) m 2,881 2,776 3,62 2,410 2,352 2,24 2,938 19,214 dp ±,4986 ±,5029 ±,590 ±,5078 ±,6047 ±,768 ±,7110 ±2,7052 p ,340 ,015* ,724 ,119 ,479 ,506 ,211 ,110 Normal (n=23) m 3,013 2,909 3,65 2,530 2,452 2,35 2,987 19,891 dp ±,4883 ±,5299 ±,487 ±,5312 ±,7012 ±,832 ±,6663 ±2,7013 Exc.peso/Obesidade (n=16) m 2,869 3,000 3,50 2,550 2,381 2,25 3,163 19,713 dp ±,5388 ±,4115 ±,632 ±,6088 ±,6221 ±,447 ±,6206 ±2,3715 p ,390 ,567 ,401 ,916 ,747 ,671 ,411 ,832 3º/4º ano Feminino (n=52) m 3,110 3,181 3,58 3,058 3,131 2,54 3,583 22,177 dp ±,4569 ±,3773 ±,499 ±,4452 ±,5078 ±,541 ±,3371 ±1,5886 Masculino (n=47) m 3,085 3,053 3,53 2,957 3,181 2,60 3,421 21,826 dp ±,4201 ±,4143 ±,546 ±,3933 ±,4959 ±,577 ±,4472 ±1,8438 p ,782 ,112 ,669 ,240 ,621 ,611 ,044* ,311 Normal (n=47) m 3,064 3,051 3,57 3,055 3,253 2,64 3,511 22,147 dp ±,4829 ±,4398 ±,500 ±,4505 ±,4026 ±,486 ±,4114 ±1,5049 Exc.peso/Obesidade (n=52) m 3,129 3,183 3,54 2,969 3,065 2,50 3,502 21,887 dp ±,3947 ±,3496 ±,541 ±,3948 ±,5636 ±,610 ±,3923 ±1,8906 p ,463 ,101 ,732 ,313 ,062 ,218 ,914 ,454

T (tonocidade); E (equilibração); L (lateralização); NC (noção de corpo); EET (estruturação espácio-temporal); PG(praxia global); PF(praxia fina). p≤0,05

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No 3º/4º ano de escolaridade verificamos apenas diferenças significativas entre os sexos na Práxia Fina (p<0,05), sendo este resultado favorável ao sexo feminino que tende, ainda, ser superior em quase todos os fatores psicomotores à excepção da Estruturação Espácio-Temporal e Práxia Global onde há um ligeiro domínio do sexo masculino. Em relação ao total da BPM não se verificam diferenças significativas, encontrando, ambos os sexos, um resultado considerado já como bom. Relativamente ao estado nutricional, não se verificam diferenças significativas e ambos os grupos no total obtiveram um resultado de PPM considerado bom.

Gráfico 1 – Caracterização do Perfil Psicomotor entre os grupos escolares

Olhando para os resultados dos anos escolares, verificamos que no geral o 3º/4º ano revela melhores resultados de PPM pois este obteve uma cotação total de ±22,01 e o 1º/2º ano ±19,81, o que nos leva a dizer que o PPM aumenta com o avançar da idade ou ano escolar.

Discussão

Após a análise dos resultados podemos dizer que tal como outros autores (Ferreira & Marques-Vidal, 2008; Leão, Araújo, Moraes & Assis, 2003; Moreira, Padez, Mourão-Carvalhal & Rosado, 2007; Salomons et al., 2007; Silva et al., 2008) também a nossa amostra revela maior prevalência de obesidade no sexo feminino e em idades mais velhas (8 aos 10 anos) (Costa et al., 2010; Leão et al., 2003; Prazeres & Fonseca, 2010).

Os resultados de PC não diferem significativamente por sexo nas crianças do 1º/2º ano, e no 3º/4º ano apenas diferem na sub-escala de comportamento, já na prevalência de obesidade verificam-se diferenças significativas nas sub-escalas aparência física e competência atlética,

0,00 5,00 10,00 15,00 20,00 25,00 T E L NC EET PG PF TOTAL BPM 1º e 2º ano 3º e 4º ano

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isto no 3º/4º ano. Alguns estudos também concluíram que não existem resultados significativos entre os sexos (Almeida et al., 2009). No 3º/4º ano, verifica-se que quanto ao sexo existem apenas diferenças significativas na sub-escala comportamento, onde as meninas têm valores superiores aos meninos, tal como nós outros também já tinham achado as meninas superiores a nível comportamental (Mendelson et al., 1996; McCullough et al., 2008; Almeida et al., 2009). Resultado que se pode dever ao fato de as meninas considerarem como maior preditor de comportamento anti-social os problemas escolares, enquanto os meninos consideram a rejeição por parte dos colegas (Lewin, Davis & Hops, 1999). Estes ainda relevam no estudo de Saud & Tonelotto (2005) ter mais problemas de relacionamento com os colegas que o sexo feminino, e tal como nós podemos verificar no dia-a-dia, os meninos têm mais atitudes de mau comportamento que as meninas, quer em casa quer na escola, daí estes resultados serem considerados normais.

Quanto à competência atlética, verifica-se um melhor resultado do sexo masculino que vai de encontro a estudos feitos anteriomente (Eccles, et al., 1989; Villwock & Valentini, 2005; Mendelson et al., 1996; Bois et al. 2005; Villwock & Valentini, 2007; Robison, 2010; Carreiras e Quitério, 2013). Podendo este resultado ser justificado pela maior participação, quer em tempo como em vezes por semana, dos meninos em atividades físicas (Bois et al., 2005), pois desde cedo são estimulados a ocupar os tempos livres a praticar desporto estruturado, como por exemplo o futebol, as meninas praticam atividades que envolvem reduzida atividade física, como por exemplo brincar com bonecas, atividades domésticas. Além disto, durante o recreio escolar os rapazes revelam maior nível de atividade física e as raparigas têm brincadeiras mais sedentárias tal como se pode verificar no estudo de Mesquita e Santos (2010).

Por fim, a auto-estima é ligeiramente superior nas meninas, resultado idêntico ao de McCullough et al. (2008), contrariando os resultados de diversos estudos que espelharam valores superiores de auto-estima nos meninos (Alsaker & Olweus, 1993; Block & Robins, 1993; Franklim et al., 2006; Gaspar et al., 2010; Lamia et al. 2011).

Comparando os resultados do grupo de crianças normoponderais com o grupo de crianças com exc.peso/obesidade, averiguamos que no 1º/2º ano as crianças com exc.peso/obesidade têm valores ligeiramente superiores em todos os domínios de PC, contrariando o esperado pois não se verificam resultados parecidos em nenhum estudo, podendo isto ser justificado pela exposição do desejo das características ambicionadas pelas crianças com elevado peso.

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Por sua vez, no 3º/4º ano o grupo normoponderal é significativamente superior na aparência fisica, seguindo-se a competência atlética. Também na investigação de Shin e Shin (2008) as crianças obesas se demonstraram menos satisfeitas com o seu corpo, ou seja, o estado de peso provoca nelas um desconforto com o seu aspeto, pois isto é influenciado por fatores biológicos, psicológicos e socioculturais (Smolak, 2004). A criança obesa é pouco competente ao nível desportivo, conduzindo-a muitas vezes à desistência ou desmotivação da prática de atividades planeadas, estruturadas e repetitivas (Mello, Luft & Meyer, 2004), sendo ainda vista uma diminuição da participação em atividades coletivas (Viner & Cole, 2005). Igualmente como Phillips & Hill (1998); Shin e Shin (2008); Strauss (2000), as crianças obesas demonstram no nosso estudo uma auto-estima inferior, existem autores que relatam a possibilidade de a obesidade ser associada a distúrbios psicológicos, sendo a diminuição de auto-estima uma das consequências (Viner & Cole, 2005; Bonilla & Arango, 2012). A obesidade pode assim conduzir a um estado depressivo e por consequência causar sentimentos de inferioridade em vários domínios em relação aos outros.

No PPM as meninas do 1º/2º ano demonstram resultados significativamente superiores aos meninos no Equilíbrio, também podemos observar este resultado no estudo de Pereira, Rocha e Tudella (2004); Zimpel et al. (2010) e Ferrari e Moretti (2009). A superioridade feminina pode dever-se ao fato de as meninas serem mais desenvolvidas que os meninos ao nível da maturação e crescimento (Condemarím, Chadwick & Milicic, 1989; cit. por Zimpel et al., 2010), dado que as crianças do 1º/2º ano têm idades entre os 6 e 7 anos, fazendo toda a diferença esta questão nos resultados.

Já no 3º e 4º ano, salientam-se os valores significativamente superiores das meninas na Práxia Fina e observa-se um melhor resultado do sexo feminino no total da BPM, o que vai de encontro ao estudo de Almeida (2009). Os meninos obtêm resultados ligeiramente melhores em termos de Praxia Global, tal como no estudo de Pereira & Tudella (2005). Isto, pode dever-se ao facto de eles praticarem mais atividade física, tal como é evidenciado no estudo de Mesquita e Santos (2010), onde as raparigas têm brincadeiras mais sedentárias durante o recreio escolar. Podendo isto, ser também justificação para o seu resultado significativamente superior a nível de Práxia Fina, assim os meninos com o avançar da idade, desenvolvem mais atividades que envolvem vários grupos musculares e as meninas tarefas motoras finas que envolvem pequenos grupos musculares.

Podemos, ainda, referir que o PPM se desenvolve com a idade, pois as crianças do 3º/4º ano obtiveram resultados superiores aos do 1º/2º ano tal como foi verificado por Simões et al.

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(2008), Almeida e Martins (2012) e Pinto, Coelho & Carvalhal (2013). Pois como sabemos, com o avançar da idade dá-se o desenvolvimento da maturação, do crescimento, dos comportamentos, tal como nos diz Pinto et al. (2013), desenvolvendo assim a criança quer a nível motor, passando assim do estágio elementar para o maduro, seguindo do movimento fundamental para o especializado, quer a nível psicomotor.

Verificamos que as crianças com exc.peso/obesidade demonstram resultados inferiores no total da BPM mas não existem diferenças significativas em nenhum fator psicomotor. O grupo com exc.peso/obesidade tal como o grupo normoponderal revela um perfil normal, mostrando assim o oposto da investigação de Pazin, Frainer e Moreira (2006), tendo esta revelado um atraso motor em todas as áreas em relação á idade cronológica, principalmente no equilíbrio, organização espacial e organização temporal.

Podemos dizer que nesta investigação o Equilíbrio é um fator onde as crianças com exc.peso/obesidade, em ambos os grupos de escolaridade, obtêm valores superiores aos normoponderais embora as diferenças não sejam significativas. No nosso estudo o aumento de IMC não revela interferir neste fator, tal como no estudo de Aleixo et al. (2012).

Concluindo, as crianças do 1º/2º ano não demonstram diferenças significativas nos valores de PC quanto ao sexo e obesidade, no 3º/4º ano as meninas são significativamente superiores no domínio de PC comportamento, e as crianças normoponderais são significativamente superiores no domínio competência atlética e aparência física. Nos fatores psicomotores equilibração, no 1º/2º ano, e praxia fina, no 3º/4º ano, as meninas também revelam valores significativamente superiores e não se verificam diferenças significativas a nível de PPM entre exc.peso/obesos e não obesos.

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Tabela 1 – Amostra por ano de escolaridade, prevalência de obesidade e sexo.
Tabela 4 – Resultados da BPM com médias e desvio padrão.
Gráfico 1 – Caracterização do Perfil Psicomotor entre os grupos escolares
Tabela  6  –  Correlações  entre  o  IMC,  Total  BPM  e  sub-escalas  de  PC  do  3º  e  4º  ano  de  escolaridade  IMC  Total BPM  R  P  R  P  Total BPM  --  --  1  --  PC C

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