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Comunicação de risco: a mídia no papel de ator social

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Academic year: 2021

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comunicação de risco tem tradição de se concentrar na apresenta-ção de informações, na persuasão e na escolha de mensagens estra-tégicas. Além disso, auxilia no desenvolvimento da mensagem antes, durante e depois de eventos. A confiança pública pode e deve ser reforçada com a participação de organizações dignas de credibilidade, como as empresas de radiodifusão. Depois da tragédia na região serrana do estado do Rio, em janeiro de 2011, quando as inundações mataram mais de 900 pessoas, o governo federal anunciou um plano nacional prevendo que, até 2014, criaria o mapeamento de áreas de risco em todo o país. O projeto até hoje, dois anos depois, não foi concluído. Agora, apresentamos a questão jornalística: como não esquecer as promessas, feitas em momentos de crise como a citada, e ga-rantir cobertura efetiva do que está sendo feito em matéria de defesa civil, mes-mo durante a estação seca, quando os riscos são mínimes-mos? Acreditames-mos que, se pudermos transformar informações oficiais em algo visual e atraente para o público em geral, questões como essa serão mais facilmente monitoráveis. Assim, é intenção deste ensaio sugerir o desenvolvimento de um sistema brasi-leiro de alerta, no formato multimídia de webdocumentário.

Palavras-chave: Comunicação de risco; Jornalismo; Mídia; Webdocumentário; Vale do Rio Doce.

Revista Communicare

Silvio Henrique Vieira Barbosa

Doutor em Comunicação pela ECA/USP, Prof. Titular licenciado da Faculdade Cásper Líbero e Professor da ESPM

E-mail: shbarbosa@hotmail.com

Eduardo Acquarone

Doutorando em Jornalismo Imersivo no ISCTE em Lisboa. e jornalista. E-mail: eduacquarone@gmail.com

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Risk communication: the media in the role of

social actor

Risk communication has a tradition of focusing on information presentation, persuasion, and strategic messaging. Furthermore, it assists in message development prior to, during and after events. Public confidence can be bolstered through the use of established credible organiza-tions, as the broadcasters, and infrastructure as part of the crisis management team. After the tragedy in the mountain region of Rio State, in January 2011, when floods killed 500 people, the federal government announced a national plan that would, by 2014, create a mapping of risk areas throughout the country. Now, we present the journalistic question: how not to forget the promises, in fact not materialized yet, and cover what is being done - even during the dry season, when seemingly nothing happens? We believe that if we can transform official information into something visual and appealing to the general public, issues like this one will be more easily monitored. It is intention of this article to suggest the development of a Brazilian warning system in the multimedia format of webdocs.

Key-words: Risk communication; Journalism; Media; Webdocs; Vale do Rio Doce.

Comunicación de riesgo: la mídia em el papel

de actor social

La comunicación de riesgos tiene una tradición de centrarse en la presentación de la informa-ción, la persuasión y la elección de los mensajes estratégicos. Además, ayuda a desarrollar el mensaje antes, durante y después de eventos. La confianza pública puede y debe ser mejorada a través de la participación de las organizaciones dignas de credibilidad, tales como las em-presas de radiodifusión. Después de la tragedia en la región montañosa del Estado de Río, en enero de 2011, cuando las inundaciones mataron a 500 personas, el gobierno federal anunció un plan nacional para mapear áreas de riesgo en todo el país hasta el 2014. El proyecto hasta la fecha, dos años más tarde, no ha sido concluido. Ahora, se presenta la pregunta periodística: ¿cómo no olvidar las promesas hechas en momentos de crisis como se cita y asegurar la co-bertura efectiva de lo que se está haciendo en el campo de la protección civil, incluso durante la estación seca, cuando los riesgos son mínimos? Creemos que si podemos transformar la información oficial en algo visual y atractivo para el público en general, temas como este serán más fácilmente monitoreables. Por eso la intención de este artículo es sugerir el desarrollo de un sistema de alerta en Brasil en formato de webdocumentário multimedia.

Palabras clave: comunicación de riesgos; periodismo; medios de comunicación; webdoc;

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Revista Communicare

Após as tragédias na região serrana do Rio de Janeiro, em 2011, quando mais de 900 pessoas morreram por causa das inundações e deslizamentos de terra, o governo federal anunciou um plano nacional com o objetivo de mapear todas as áreas de risco no país, oferecendo informações atualizadas às defesas civis municipais e estaduais.

Entretanto, dois anos após o fim do prazo, o país ainda não tem esse mapa nacional das áreas de risco. A promessa política não cumprida traz a questão jor-nalística: como convencer o governo a respeitar sua própria agenda e, ao mesmo tempo, como oferecer ao público, às agências oficiais e ONGs a informação sobre como agir durante tragédias ambientais?

Acreditamos que, se pudermos transformar dados públicos em algo vi-sual e atraente para o público em geral, no formato mais interativo do webdo-cumentário por exemplo, questões como esta serão mais facilmente monitora-das, permitindo-se:

• ajudar as pessoas a identificar áreas de risco; • ajudar as redações a ter dados atualizados; • visualizar mais facilmente esses dados;

• conferir maior transparência na utilização dos recursos públicos.

Para garantir o alcance do maior público possível, esse não é um projeto pensado apenas para a internet, mas algo construído com a colaboração contínua dos cidadãos, ONGs, órgãos públicos e meios de comunicação.

A materialização desse projeto é claramente urgente como podemos obser-var pela cobertura jornalística recente de fatos como a tragédia que destruiu in-teiramente uma comunidade no estado de Minas Gerais, em novembro de 2015. A Samarco Mineração S.A., empresa de capital fechado que tem como acionistas a Vale S.A. e a australiana BHP Billiton Brasil Ltda. e produz e exporta minério de ferro, entre outros minerais, é responsável pelas duas represas de rejeitos que se romperam no dia 5 de novembro de 2015, liberando toneladas de lama contaminada que atingiu a comunidade de Bento Rodrigues, distrito do município de Mariana (MG).

Dezenove pessoas, entre funcionários e moradores, e milhares de animais, de criação e silvestres, morreram soterrados sob cinco metros de lama. Dezenas de famílias ficaram desabrigadas em pelo menos três municípios mineiros.

Além da destruição imediata, a lama contaminou o rio do Carmo, que corta municípios mineiros até se juntar ao rio Piranga para, juntos, formarem o rio Doce, que percorre o sudeste mineiro e vai desembocar no mar, no município de Linhares, no Espírito Santo. Com a contaminação, que devastou a vida fluvial, 15 cidades dos dois estados tiveram que interromper a captação de água, prejudi-cando meio milhão de moradores.

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Figura 1: Represa da Samarco rompida (5/11/2015)

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Revista Communicare

Enquanto o presidente da empresa australiana, Andrew Mackenzie, falou com a imprensa desde o início da tragédia e partiu imediatamente para o Brasil, Murilo Ferreira, presidente da Vale, e nascido no mesmo estado da tragédia, Mi-nas Gerais, divulgou apeMi-nas uma declaração vaga. A presidente Dilma Roussef visitou a área, localizada a apenas uma hora de helicóptero de Brasília, somente sete dias após o rompimento dos diques.

A mineração é uma atividade produtiva de alto risco ambiental. A Vale S.A. explora minérios e deixa resíduos em Minas Gerais há mais de 70 anos. Ela é a maior indústria do estado, a maior empregadora e a maior recolhedora de im-postos do estado e uma das maiores do país.

O poeta Carlos Drummond, vendo a devastação em terras mineiras causa-da pelo desenvolvimentismo causa-da Vale, criou um poema de tom triste, Lira Itabira-na, que ganhou tom profético com a tragédia:

I

O Rio? É doce. A Vale? Amarga. Ai, antes fosse Mais leve a carga. II Entre estatais E multinacionais, Quantos ais! III A dívida interna. A dívida externa A dívida eterna.

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IV

Quantas toneladas exportamos De ferro?

Quantas lágrimas disfarçamos Sem berro?1

Ao redor do mundo, essa atividade tem adotado procedimentos para preve-nir e mitigar possíveis desastres. No caso dessa tragédia, o que pode ser verificado é que a Samarco/Vale foi negligente na prevenção e não se mostrou capaz de exe-cutar um plano de ação em caso de desastre. Companhias que têm atividades de alto risco devem estar preparadas para as ações de prevenção e mitigação de danos.

Entre outras questões de segurança, nota-se a falta de sirenes de alerta ou plano de emergência para a retirada dos moradores ribeirinhos localizados abai-xo das represas de rejeitos. Um relatório de procuradores estaduais, de 2013, alertou para sérios riscos na segurança da série de represas da Samarco. O do-cumento pediu a criação de um plano de emergência para Bento Rodrigues, dis-trito soterrado pela lama, com a realização de exercícios práticos para treinar os moradores em caso de evacuação, como condição para a renovação da licença ambiental para a operação das represas na área.

O plano, porém, nunca foi colocado em ação e os moradores de Bento Rodrigues só conseguiram abandonar as casas, a tempo de se evitar uma tra-gédia maior, porque foram avisados pelo celular por parentes e amigos que são funcionários da Samarco.

A própria diretora da escola do distrito foi avisada dessa forma, pelo celu-lar, mandando as 30 crianças correrem para o morro mais próximo, a tempo de salvá-las do tsunami de lama que soterrou a escola.

Da mesma forma como a ação da empresa beirou a negligência criminosa, algo que está sendo investigado pela justiça, os órgãos governamentais também tiveram sua preocupante dose de negligência. Os ministérios de Minas e Energia e do Meio Ambiente não prestaram a devida atenção aos riscos representados pela montanha de lama presa a curta distância de uma zona residencial, que não contava com planos de evacuação.

Como maior companhia mineradora do país, a Vale é também a maior doadora individual às campanhas eleitorais municipais e estaduais, ajudando na eleição de vereadores, prefeitos, deputados estaduais e federais, do governador de Minas e da própria presidência. Isso dá a dimensão real do porquê tão poucas e, ao mesmo tempo, tão suaves críticas foram feitas às mineradoras, as maiores recolhedoras de impostos em boa parte dos municípios afetados, garantindo ain-da o emprego de milhares de pessoas em toain-da a região.

Diante desse quadro em que essas mineradoras representam emprego, di-nheiro no comércio, pagamento de impostos municipais, estaduais e federais e

1Publicado em 1984

pelo jornal Cometa Itabirano, o poema nunca foi publicado em livro.

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ajuda aos políticos em suas campanhas, não é de se estranhar que as entrevistas que colhi com minha equipe para a realização do webdocumentário Vale do rio

de lama: no rastro da destruição, não apresentem críticas ao grupo Samarco/

Vale. Pelo contrário, os discursos de moradores ribeirinhos, de sitiantes, de pes-cadores que não podem mais pescar e de comerciantes que perderam negócios e clientes guardam um tom de respeito pelas ações mitigadoras que vêm sendo adotadas pelas mineradoras.

Nossa primeira entrevistada, no município de Barra Longa, a comerciante Selma Alves Sampaio, de 75 anos, teve o quintal, com piscina, horta, galinheiro e lavanderia, destruído pela onda de lama. Ela descreve o drama de ver parte de sua cidade destruída e a morte de suas vinte galinhas poedeiras, mas não faz críticas à Samarco, que chega a elogiar:

Mas a Samarco está trabalhando muito bem. Até falaram que o presidente da Samarco é uma pessoa muito boa… minha filha falou. E a gente está esperando.... Meu serviço eles ainda não pegaram não. Porque está me fazendo falta a lavanderia, né, por causa da pousada... pessoas que frequentam aqui. Mas o meu ainda está bem estragado.... Meu vizinho teve problema de saúde então eles estão olhando por ele.2

O comportamento oficial antes do evento também foi insuficiente. Os ministérios da Mineração e Meio Ambiente não prestaram a devida atenção aos riscos de rompimento das duas barragens construídas pela Samarco, não apresentaram um plano de ação para salvar os residentes nas proximidades e o meio ambiente local.

As informações oferecidas pelas autoridades são de que o plano de contin-gência recomendado não foi feito, sirenes não foram instalados em caso de um desastre. Ao contrário disso, a empresa ainda aumentou a produção no ano pas-sado e o governo do estado aprovou (2015) uma lei para acelerar as autorizações ambientais da mineração.

Projeto

As comunidades precisam de uma forma eficaz de comunicação sobre po-tenciais situações de risco. Há um consenso geral de que a comunicação de risco é um processo de duas vias entre comunicador e destinatário das mensagens.

Enquanto a comunicação de crise tem focado historicamente na imagem e na restauração de reputação, a comunicação de riscos tem como tradição o foco na apresentação da informação, na persuasão e nas mensagens estratégicas. Como Heath (apud Start, 2010, p3) explicou: “uma crise é um risco manifestado”. [...] Além disso, a comunicação de riscos auxilia no desenvolvimento da mensagem antes de, durante e após acontecimentos, incluindo riscos emergenciais que atualmente não são preocupações públicas primárias, como a biossegurança ou as questões cujas consequências não

2O resultado dessas entrevistas é uma produção multimídia e transmidiática, composta por um site, https:// valedoriodelamablog. wordpress.com/ sobre/, exposição fotográfica itinerante, videorreportagem (crônica/making of) e a produção do documentário “Vale do rio de lama - no rastro da destruição”, com 22 minutos, exibido no site, em eventos universitários e, também, reeditado em programa exibido pela Rede Vida de Televisão (22/5/2016). Revista Communicare

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fazem parte de um futuro próximo, como por exemplo o consumo seguro de alimentos geneticamente modificados.(Start, 2012, p.5)

Enquanto a comunicação de crise tem focado historicamente na imagem e na restauração de reputação, a comunicação de riscos tem como tradição o foco na apresentação da informação, na persuasão e nas mensagens estratégicas. Como Heath (apud Start, 2010, p3) explicou: “uma crise é um risco manifestado”. (...) Além disso, a comunicação de riscos auxilia no desenvolvimento da mensagem antes de, durante e após acontecimentos, incluindo riscos emergenciais que atualmente não são preocupações públicas primárias, como a biossegurança ou as questões cujas Figura 4: Bento Rodrigues antes e depois da tragédia

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consequências não fazem parte de um futuro próximo, como por exemplo o con-sumo seguro de alimentos geneticamente modificados. (Tradução livre do autor)

Geralmente teorias e modelos de comunicação aplicáveis às situações de risco recomendam:

- Inserção de membros da comunidade no planejamento das ações;

- Identificação de múltiplos canais para divulgar as mensagens de risco durante uma crise, e

- Compreensão de como públicos percebem os riscos antes de dissemi-nação de mensagens.

Devido ao atraso do governo federal em estabelecer o Sistema nacional de vigilância de áreas de risco, algo prometido para 2014, o projeto de criação de um webdocumentário de áreas de risco no Brasil propõe a implementação de um programa independente, facilmente atualizável, utilizando-se como modelo possível e já viabilizado o programa Globo Amazônia, criado pela Rede Globo de Televisão, oferecendo um portal interativo de monitoramento de queimadas e desmatamento que engaja os usuários de forma efetiva. Desde a estreia, em 2011, 55 milhões de mensagens de internautas ganharam a rede na forma de protestos virtuais. Expandido e adaptado, esse modelo pode abranger áreas de risco, ma-peadas por imagens de satélites, ao redor de todo o país.3

3Globo Amazônia.

Disponível em: http:// g1.globo.com/natureza/

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Também como no projeto Globo Amazônia, internautas terão o poder de denunciar e protestar contra a situação de risco em qualquer ponto do país.

Ao contrário da Região Amazônica, que sofre de problemas legais de pro-priedade da terra e de ocupações ilegais de áreas de proteção, a responsabilidade em áreas urbanas em todo o país é mais fácil de ser identificada. Assim, nesse projeto multimídia, ministérios, autoridades estaduais e dos municípios poderão ser notificados para que os “protestos” alcancem os níveis decisórios dos poderes legislativo e executivo.

O programa também pode permitir que internautas façam a inclusão de fo-tos, vídeos e textos sobre áreas de risco próximas ao local em que se encontram, facilitando o acompanhamento mesmo em regiões de difícil acesso.

Atualmente, as mídias jornalísticas - TV, jornais, revistas e até mesmo In-ternet - publicam imagens esquemáticas como a abaixo para representar áreas de risco:

Figura 6: Mapa mostra áreas de risco e quantas pessoas precisam ser transferidas (em milhares) O foco é consolidado e muito genérico. Mas o uso de relatórios como os oferecidos pelo IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas, vinculado ao Conselho de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado de São Paulo), é possível obter imagens detalhadas da seguinte forma:

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Figura 7: Foto do IPT

Com dados técnicos detalhados como esse, a produção multimídia poderá se concentrar em questões específicas, fatos de interesse da comunidade. As pes-soas poderão identificar se a rua ou o bairro em que vivem tem áreas de risco. A informação difícil de resgatar em relatórios herméticos apresenta-se na forma de galeria de fotos visualmente atraentes e interativas.

O projeto pode começar com áreas de risco já oficialmente mapeadas, como as localizadas no estudo do IPT (2010), que inclui as áreas mais populosas do Bra-sil, como litoral de São Paulo, região serrana do Rio e da cidade do Rio de Janeiro.

Outras áreas podem ser adicionadas após o lançamento do projeto, eventual-mente com o apoio de moradores e governos locais, órgãos públicos e ONGs.

Além dos relatórios oficiais, as áreas prioritárias em todo o país poderão ter outro tipo de monitoramento: fotos aéreas e/ou por satélite - que permi-tirão ver, por exemplo, se a área de construção irregular está aumentando ou diminuindo em áreas de risco.

Esse recurso tecnológico pode ser acoplado à produção multimídia utili-zando fotos do satélite GeoEye, oferecidas por cerca de R$ 120,00 por km². A resolução de 41 cm é a maior para fins civis.

O projeto multimídia, que denominamos de webdocumentário, também pode ser uma plataforma cronológica e mostrar que, em certas regiões, os desastres ambientais são recorrentes. Em tempos de crise, as informações adi-cionais também poderão auxiliar, em tempo real, organizações ligadas ao

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so-corro das vítimas, como escritórios locais da Cruz Vermelha, hospitais, igre-jas, escolas, entre outras.

Segunda fase

Com os modelos de mapas desenvolvidos, podem-se incluir, em tempo real, os pontos de alagamento, contando, por exemplo, com as informações oficiais, bem como com a colaboração de equipes de jornalismo e, claro, dos residentes locais.

O mapa se tornaria, assim, um instrumento instantâneo de ajuda aos mo-radores e, também, aos motoristas na vida cotidiana da metrópole, com acesso tanto pela Internet quanto por dispositivos móveis.

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Figura 9: a mesma imagem de satélite da inundação anterior com a de 41 cm

Objetivos

O objetivo do projeto é gerar credibilidade e apoio à criação de um sistema nacional de comunicação de risco. Além disso, pretende fornecer uma platafor-ma para facilitar a cobertura por organizações jornalísticas e a fiscalização por parte da população das promessas feitas pelos governos em suas três esferas. Um último ponto é que, embora o projeto não salve vidas por si só, pode promover ações que levem a isso.

Usando ferramentas de Web (multimídia, interatividade), o projeto tentará dar um caráter lúdico à informação que está sendo transmitida. O formato do webdo-cumentário é o mais indicado para atingir o objetivo de atrair a atenção do público. Criadores de PC e jogos de vídeo educativos têm inspirado muitas dessas técnicas.

A ideia é que, enquanto consideremos quaisquer dificuldades técnicas, econômicas e temporais, imaginar um estilo diferente de narrativa, capaz de proporcionar ao jogador o prazer que eles buscam nos jogos: a sensação de poder, exploração e descoberta, envolvimento emocional (Lietaert 2011). (Tradução livre do autor.)

Com o maior acesso e melhoria na oferta de ligação com a internet, o web-documentário surge oferecendo a convergência de formatos e capacidade prati-camente ilimitada de armazenamento de dados.

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Especiais em multimídia, reportagens multimídia, reportagens especiais, infográficos e webdocumentários são as denominações encontradas em diversos portais e sites jornalísticos que visualizam a convergência de mídias como uma estratégia de ampliação de seus modelos de negócio. Diante das dificuldades de se encontrar definições específicas para cada formato, os próprios portais não es-tabelecem conceitos ou padrões para orientar as rotinas de produção dos proje-tos, normalmente elaborados por diversos profissionais que desenvolvem várias técnicas e meios expressivos – texto, fotografia, iconografia e ilustração, gráficos, vídeos, animação digital, discurso oral, música e efeitos sonoros, vibração (Sala-verría, 2014) – para produzir conteúdos multimídia.4

São projetos especiais que demandam práticas diferenciadas em compa-ração ao trabalho executado em uma única mídia, em que a narrativa é pensada como um fluxo de informações que perpassam diferentes suportes e mercados midiáticos, o que remete ao conceito de convergência de Jenkins (2008, 377): “a convergência se refere a uma situação em que múltiplos sistemas de mídias coe-xistem e que o conteúdo passa por eles fluidamente”.

O webdocumentário incorpora as mídias sociais e aplicativos para telefo-nes celulares ou tablets para aumentar a interação e participação dos usuários da internet. Essas tecnologias permitem a colaboração com o projeto, o inter-câmbio e a integração da informação em vários meios de comunicação e espa-ço para opiniões e comentários, transformando o espectador numa espécie de coautor, em um processo ativo que melhora a compreensão e o comprometi-mento com a situação proposta.

Um excelente exemplo de webdocumentário é Prison Valley (TV Art, Fran-ça, 2011), história de uma cidade dos EUA com 13 prisões, e que é notável por sua interatividade e diversas formas de mídia (documentário de 59 minutos, um livro, uma exposição, app). Como uma espécie de jogo, ele permite ao público conectar-se com a conta do Twitter ou Facebook, possibilitando gravar os cami-nhos percorridos na narrativa e retornar para o ambiente virtual e seguir novos caminhos. Os usuários também podem acessar fóruns de discussão recomen-dando trajetos e personagens.5

Neste tipo de produção, o consumidor não é mais um sujeito passivo, como na TV ou no cinema. Pode-se ir e voltar várias vezes e escolher o que assistir, em que ordem, quando e onde assistir. A produção brasileira oferece um bom exemplo deste tipo de infotainment, a união de informação e entretenimento, o “Fora da escola Não Pode!”, documentário para web produzido para a filial brasi-leira do Unicef, que faz um mapeamento de acesso à educação nos mais de 5 mil municípios brasileiros, indicando quantas crianças e adolescentes estão fora da escola. Além de apresentar gráficos e números, oferece pequenos vídeos, entre-vistas (professores e alunos) e fotografias.6

4. Salaverría

(2014) define a multimidialidade simplesmente como a combinação de pelo menos dois tipos de linguagem em apenas uma mensagem.

5. Prison Valley.

Disponível em: http:// prisonvalley.arte.tv

6. Fora da escola não

pode. Disponível em: http://www. foradaescolanaopode. org.br

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Revista Communicare

É importante notar que o criador do webdocumentário também é um de-signer de uma experiência interativa e deve entender como as pessoas vão se comportar quando chegarem ao site. É por isso que o projeto deve oferecer o máximo de informações de uma forma atraente. O projeto de criação de um webdocumentário de áreas de risco no Brasil deve oferecer todas essas opções interativas para atrair a atenção do público, das ONGs e do governo em todas as suas três esferas: municipal, estadual e federal.

Referências

JENKINS, H. Cultura da Convergência. São Paulo: Editora Aleph, 2008. LIETAERT, M. Webdocs. A survival guide for online filmmakers. Not so crazy! Idfa Doclab, 2011.

SALAVERRÍA, R.. Multimedialidade: Informar para cinco sentidos. In: CANA-VILHAS, João (org). Webjornalismo: 7 características que marcam a diferença. Covilhã: UBI, LabCom, Livros LabCom, 2014.

START. Understanding Risk Communication Theory: A Guide for Emergency Managers and Communicators. Report. University of Maryland, USA, May, 2012. Disponível em: https://www.start.umd.edu/sites/default/files/files/publi-cations/UnderstandingRiskCommunicationTheory.pdf. Acesso em: 15/3/2016.

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