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Processo 367/2000.C1

Data do documento 13 de fevereiro de 2007

Relator Isaías Pádua

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE COIMBRA | CÍVEL

Acórdão

DESCRITORES

Direito de preferência > Co-herdeiros > Herança > Meação > Cônjuge sobrevivo

SUMÁRIO

I – Nos termos do artº 1410º, nº 1, do C. Civ., o comproprietário a quem não se dê conhecimento da venda

… tem o direito de haver para si a quota alienada contanto que o requeira dentro do prazo de seis meses, a contar da data em que teve conhecimento dos elementos essenciais da alienação e deposite o preço devido nos 15 dias seguintes à propositura da acção.

II – Não basta que o preferente saiba que a venda se realizou, sendo também preciso que ele conheça os elementos essenciais do contrato realizado.

III – Dispõe o artº 2130º, nº 1, do C. Civ. que quando seja vendida ou dada em cumprimento a estranhos um quinhão hereditário, os co-herdeiros gozam do direito de preferência nos termos em que este direito assiste aos comproprietários.

IV – Constitui entendimento dominante na doutrina e na jurisprudência que o direito de preferência estatuído no artº 2130º do C. Civ. é concedido aos próprios herdeiros e não à herança indivisa enquanto tal, do mesmo modo que, na previsão do artº 1409º, é o comproprietário, e não a comunhão ou o condomínio, que goza do direito de prelação.

V – Também o direito à meação do cônjuge sobrevivo se encontra sujeito ao direito de preferência dos co- herdeiros da herança que foi aberta por morte daquele que foi seu cônjuge, mas que ainda se encontra no estado de ilíquida e indivisa.

TEXTO INTEGRAL

Acordam neste Tribunal da Relação de Coimbra

I- Relatório

1. Os autores, A... e seu marido B..., instauraram contra os réus, C... e mulher D..., todos com os

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demais sinais dos autos, a presente acção declarativa, com forma de processo sumário, alegando para o efeito, e em síntese, o seguinte:

Após o falecimento da mãe da A., a herança que então se abriu permaneceu ilíquida e indivisa, ou seja, por partilhar, sendo então os seus herdeiros o seu pai, então viúvo (embora tenha recentemente também falecido) e uma sua irmã, para além da referida autora.

Acontece que, por escritura pública outorgada em 29/5/1998, o pai da A. vendeu, pelo preço ali estipulado, ao réu-marido o direito e acção (incluindo a sua meação e o seu quinhão hereditário) que tinha na referida herança, sem que, todavia, lhes tivesse comunicado tal venda, a fim de que pudessem exercer o direito de preferência que legalmente lhes assistia em tal compra.

Venda essa de que só recentemente tiveram conhecimento, pelo que pretendem preferir na referida compra, tendo para o efeito depositado a importância correspondente ao preço devido.

2. Na sua contestação, os réus defenderam-se, em síntese, invocando a ilegitimidade da autora para demandar, a caducidade do direito (de acção) dos autores e ainda a litigância de má fé dos últimos.

Pelo que terminaram os réus pedindo a sua absolvição da instância, por força da procedência daquela excepção dilatória de ilegitimidade que invocaram, e, de qualquer modo, sempre a improcedência da acção, quer pela procedência daquela excepção peremptória de caducidade que aduziram, quer por não se verificarem os pressupostos legais do direito que os AA. pretendem exercer, e ainda a condenação dos últimos, como litigantes de má fé, num multa e numa indemnização a seu favor.

3. No seu articulado de resposta os autores pugnaram pela improcedência das excepções que foram invocadas pelos réus, e pela procedência da acção, negando ainda a litigância de má fé que os últimos lhe imputaram.

4. No despacho saneador, julgou-se improcedente a excepção de ilegitimidade da autora que foi aduzida pelos RR, afirmando-se a validade e a regularidade da instância, tendo-se relegado para final, e por falta de elementos, o conhecimento da excepção de caducidade invocada pelos últimos, procedendo-se, depois, à elaboração da selecção da matéria de facto, sem que tivesse sido objecto de censura por qualquer das partes.

5. Mais tarde, teve lugar a realização do julgamento – sem a gravação da audiência -, terminando com a resposta aos diversos pontos (quesitos) da base instrutória, e sem que igualmente tivesse sido objecto de qualquer reclamação das partes.

6. Seguiu-se a prolação da sentença, a qual, muito embora tivesse julgado improcedente a excepção (peremptória) de caducidade invocada pelos réus, acabou, todavia, por julgar improcedente a acção, absolvendo os últimos do pedido, tendo, contudo, também absolvido os AA. do pedido de condenação por litigância de má fé.

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7. Não se conformando com tal sentença, os autores dela interpuseram recurso, o qual foi admitido como apelação.

8. Nas suas correspondentes alegações de recurso que apresentaram, os autores/apelantes concluíram as mesmas nos seguintes termos:

“1) A A., NA QUALIDADE DE HERDEIRA DE E..., SUA MÃE, GOZA DO DIREITO DE PREFERÊNCIA NA VENDA DO DIREITO E ACÇÃO DA HERANÇA ILIQUIDA E INDIVISA POR ÓBITO DESTA, EFECTUADO PELO CÔNJUGE SOBREVIVO.

2) O DIREITO E ACÇÃO SOBRE A HERANÇA ABRANGE QUER O QUINHÃO HEREDITÁRIO, QUER A MEAÇÃO DO CÔNJUGE SOBREVIVO.

3) O HERDEIRO TEM DIREITO DE PREFERENCIA NA VENDA DA MEAÇÃO A QUEM O NÃO É.

4) DIREITO ESTE IGUALMENTE ABRANGIDO PELA PREVISÃO DO ARTº 2130º DO CCIVIL.

5) SEM NUNCA CONCEDER, SE O TRIBUNAL RECORRIDO ADMITIU QUE ASSISTIA ESSE DIREITO QUANTO À VENDA DO QUINHÃO, ENTÃO DEVERIA CONSIDERAR, COERENTEMENTE, QUE HAVIA OBRIGAÇÃO DO ALIENANTE EM NOTIFICAR OS PREFERENTES DA ESCRITURA QUE IRIA SER REALIZADA (QUE INCLUIA A SUA VENDA).

6) E JULGAR PARCIALMENTE PROVADA A ACÇÃO.

7) JÁ QUE NÃO SE VISLUMBRA A INDIVISIBILDADE DO OBJECTO DA ESCRITURA DE VENDA REFERIDA NOS AUTOS.

8) O TRIBUNAL RECORRIDO VIOLOU O DISPOSTO NO ART.º 2130º DO CC.”

9. Nas suas contra-alegações, os réus acabaram por defender e concluir que, perante os factos dados como assentes, a excepção por si aduzida quanto à caducidade do direito (de acção) dos autores deverá, ao contrário do que fez a srª juiz a quo, ser julgada procedente – impedindo, desde logo, a discussão sobe o mérito da causa -, pugnando, depois e à cautela, sempre pela improcedência do recurso e pela manutenção do julgado.

10. Colhidos que foram os vistos legais, cumpre-nos, agora, apreciar e decidir.

***

II- Fundamentação

1. Delimitação do objecto do recurso.

Como é sabido, é pelas conclusões das alegações dos recorrentes que se fixa e delimita o objecto ou o âmbito dos recursos (cfr. artºs 684, nº 3, e 690, nº 1, do CPC).

Ora, calcorreando as conclusões do recurso dos AA. e bem assim as conclusões das contra-alegações dos RR. (em relação às quais, como resulta do acima exarado, se deve entender que, à luz do artº 684-A do CPC, ampliaram o âmbito do presente recurso) verifica-se que as questões que importa aqui apreciar são as seguintes:

a) Saber se caducou, ou não, o direito (de acção) dos autores.

b) Em caso de resposta negativa à 1ª questão, saber se os autores gozam, no caso presente, do direito

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legal de preferir na venda que o pai da autora fez aos Réu-marido, e em que medida.

***

2. Os Factos

Pelo tribunal da 1ª instância foram dados como provados os seguintes factos:

1. A Autora é filha de E... e de G....

2. A referida E... faleceu no dia 6 de Janeiro de 1994.

3. O G... faleceu em 12 de Maio de 2000.

4. Por morte da mãe da A. não foi realizada partilha dos bens deixados.

5. Por escritura pública lavrada a fls. 68, verso a 69 do livro 610-C, celebrada no dia 29 de Maio de 1998, G..., viúvo, declarou. no Cartório Notarial de Celorico da Beira, vender, pelo preço de um milhão de escudos que já recebeu, a C..., casado, em comunhão de adquiridos, com D..., que declarou aceitar, o direito e acção (meação mais quota hereditária e que corresponde a dois terços) na herança ilíquida e indivisa por óbito de sua esposa E... ou F... ...

Por sua vez, C... e mulher D... declararam que permitem a G... usufruir os imóveis que compõem a herança.

6. Os AA estão emigrados nos Estados Unidos.

7. Em 24.05.2000 foi pedida e passada no Cartório Notarial de Celorico da Beira cópia autenticada da escritura pública lavrada a fls. 68, verso a 69 do livro 610-C.

8. A A. e a sua irmã tiveram conhecimento da venda referida em 5.

9. Os autores procederam, em 12/18/2000, ao depósito da importância de esc. 1.050.000$00, como correspondendo ao preço pago pelo R. por conta da compra que efectuou (esc. 1.000.000$00) e ao preço da outorga da respectiva escritura pública (facto este que, à luz do disposto nos artºs 659, nº 3, e 712, nº 1 al. b), do CPC, decidimos aditar aos factos assentes, já que tal resulta do documento junto, a fls. 12 dos autos - guia de depósito -, pelo AA. e que não foi objecto de qualquer impugnação por parte dos RR).

***

3. Quanto à 1ª questão.

Da caducidade, ou não, do direito dos AA.

Insurgem-se os RR contra a sentença recorrida na parte em que julgou improcedente a excepção peremptória por si aduzida quanto à caducidade do direito dos autores.

É que entendem os RR que, face aos factos dados como assentes e às regras do ónus de prova, a conclusão deveria, a tal propósito, ter sido contrária àquela que foi extraída pela srª juiz a quo. Ou seja, entendem aqueles que, perante tais factos, o direito que os AA. pretendem fazer valer nesta acção já caducou por não ter sido exercido em tempo oportuno.

Será mesmo assim?

É o que iremos ver.

Com a presente acção os autores pretendem preferir na compra da venda que o pai da autora fez ao réu- marido do direito e acção (e mais concretamente da sua meação e do seu quinhão hereditário) na referida herança deixada pela sua falecida mulher.

Ninguém discute o facto de estarmos perante uma acção de preferência (também conhecida de acção de prelação, de preempção ou de opção).

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Sem entrarmos, para já, na questão de fundo ou do mérito (que tem a ver com a 2ª questão acima elencada e que iremos deixar para mais adiante), a questão que, a esse propósito, tão somente se coloca tem particularmente a ver com o facto de saber se os autores instauram a presente acção dentro do prazo legal de 6 meses com vista ao exercício desse direito, já que é ponto assente (os RR sempre aceitaram tal) que o alienante (pai da autora) não comunicou previamente aos mesmos a intenção de proceder à aludida venda.

Nos termos do disposto no artº 1410, nº 1, do Código Civil - diploma esse ao qual nos referiremos sempre que doravante mencionarmos somente o normativo sem a indicação da sua origem - “o comproprietário a quem não se dê conhecimento da venda...tem o direito de haver para si a quota alienada contanto que o requeira dentro do prazo de seis meses, a contar da data em que teve conhecimento dos elementos essenciais da alienação, e deposite o preço devido nos 15 dias seguintes à propositura da acção”

(sublinhado nosso).

Como resulta desse mesmo normativo, têm os preferentes, a quem não se deu conhecimento da venda (nos termos do disposto no artº 416 ), o direito de haver para si a quota alienada, contanto que o requeiram no prazo de seis meses, a contar da data do conhecimento dos elementos essenciais da alienação.

Não há hoje dúvidas que o prazo de 6 meses estatuído no citado artº 1410, nº 1, é um prazo de caducidade (cfr. artº 298, nº 2, e, por todos, ainda os profs. Pires de Lima e Antunes Varela, in “Código Civil Anotado, 2ª ed., 3ª Vol., pág. 372”.

Como resulta do disposto das disposições conjugadas dos artºs 342, nº 2, e 343, nº 2, e tal como, aliás, vem constituindo entendimento hoje praticamente pacífico, neste tipo de acções é sobre o réus que impende o ónus de demonstrar que caducou o direito do autor (vidé ainda, por todos, Agostinho Cardoso Guedes, in “O Exercício do Direito de Preferência, Porto 2006, Publicações Universidade Católica, pág. 651”; Carlos Lacerda Barata, in “Da Obrigação de Preferência, Coimbra Editora, págs. 159/160”; Acs do STJ, de 14/01/2004 – nº convencional JSTJ000 -, de 03/04/2001 - nº convencional JSTJ00001867 – e de 18/04/91 - nº convencional JSTJ00015723 -, todos disponíveis em www.dgsi.pt/jstj; Ac. RC de 20/9/1988, in “BMJ 379 – 647” e Ac. RC de 16/2/1994, in “BMJ 434 – 693”).

Como igualmente resulta do citado artº 1410, nº 1, - ao contrário do que acontecia, no Código anterior – o prazo de caducidade dos seis meses ali referidos para o exercício do direito de preferência conta-se não a partir do momento em que o preferente teve conhecimento da venda mas antes a partir da data em que o mesmo teve conhecimento dos elementos essenciais da alienação, isto é, dessa venda. Não basta, portanto, que o preferente saiba que a venda se realizou, sendo também preciso que ele conheça dos elementos essenciais do contrato realizado. E percebe-se que assim seja, já que serão esses elementos, reais, que poderão influenciá-lo no sentido de o levar ou não aceitar realizar o negócio a preferir. Ou seja, só na posse desses elementos é que o preferente estará em condições de, conscientemente, poder formar a sua vontade, quer no sentido de aceitar realizar o negócio, quer no sentido de não preferir no mesmo. E constitui hoje também entendimento praticamente pacífico, na nossa doutrina e jurisprudência, que devem considerar-se elementos essenciais do negócio: o preço, as condições do seu pagamento e o conhecimento

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do adquirente, ou seja, da pessoa do comprador (vidé, por todos, os profs. Pires de Lima e Antunes Varela, in “Ob. cit., págs. 372/373”; Agostinho Cardoso Guedes, in “Ob. cit. págs. 639/640”;

Carlos Lacerda Barata, in “Ob. cit. pags. 159/160”, os acima citados “ Acs do STJ, de 14/01/2004 e de 03/04/2001; Ac. do STJ de 7/11/89, in “AJ, 3º/89, pág. 102”; Ac. RC de 29/10/85, in “BMJ 350 – 394”; Ac. do STJ de 7/11/89, in “AJ, 1º/3º - 10”; Ac. RC de 16/12/80, in “CJ, Ano VII, T5 – 203” e Ac. RP de 25/6/91, in “BMJ 408 -645”).

Posto isto, e perante a matéria factual dada como assente, facilmente se constata não assistir, quanto à referida questão, aos RR qualquer razão.

Na verdade, dessa matéria factual não só não resulta que o alienante (pai da autora) tivesse comunicado tal venda previamente aos AA, como muito menos resulta que lhes tivesse dado conhecimento dos elementos essenciais da mesma.

A tal propósito apenas ficou provado que a A. e a sua irmã tiveram conhecimento da aludida venda (cfr. nº 8 dos factos assentes). Porém, e como vimos, isso só não chega, já que, por um lado, era preciso que os RR lograssem fazer prova, como lhes competia, que esse conhecimento da venda incluiu os elementos essenciais da mesma a que supra aludimos e, por outro, que tal conhecimento decorreu antes dos últimos 6 meses que precederam a instauração da presente acção (ocorrida em 04/12/2000).

É certo que ficou provado que, a tal propósito, ficou ainda provado que em 24.05.2000 foi pedida e passada no Cartório Notarial de Celorico da Beira cópia autenticada da escritura pública lavrada a fls. 68, verso a 69 do livro 610-C - a qual corresponde à escritura de venda aqui em causa – (cfr. nº 7 da descrição dos factos assentes). Porém, e como bem referiu a srº juiz a quo, tal é manifestamente escasso já que não ficou apurado quem é que pediu a cópia da referida escritura (aliás, diga-se que, como resulta ainda dos autos, as diligências feitas oficiosamente nesse sentido, junto do respectivo Cartório Notarial, se mostraram infrutíferas).

Diga-se ainda que, tal como vem constituindo também opinião dominante, nem sequer recai sobre os preferentes qualquer dever de diligênciar no sentido de averiguarem as circunstâncias em que o negócio foi celebrado.

Face ao exposto, ter-se-á de concluir não ter ainda caducado o seu direito quando os autores instauraram a presente acção.

E, nessa medida, ter-se-á de confirmar a bem fundamentada decisão da 1ª instância ao julgar improcedente a excepção (peremptória) de caducidade que os réus haviam invocado.

***

4. Quanto à 2ª questão.

Importa, agora, resolver a questão de saber se os autores gozam, no caso presente, do direito legal de preferir na venda que o pai da autora fez ao Réu-marido., e em que medida.

Venda essa que teve por objecto o direito e acção (a sua meação e a mais quota hereditária, que corresponde a dois terços da mesma) que tinha na herança ilíquida e indivisa que foi aberta por óbito de sua esposa E...

É sabido que existem as preferências legais e as preferências convencionais (muito embora no caso em apreço apenas estejam em causa as primeiras).

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Grosso modo, pode-se dizer que subjacente ao regime das preferências legais (sendo na compropriedade que tem um dos seus mais eloquentes campos de afirmação – cfr. artºs 1403 e ss) encontram-se razões de interesse público, e que fundamentalmente têm a ver com o interesse em eliminar situações nocivas ao pleno aproveitamento dos bens, ou seja, visa-se com ele pôr termo a situações que não são ou podem não ser as mais consentâneas com a boa exploração económica dos bens e, desse modo, transformar a propriedade imperfeita em propriedade perfeita, eliminando, assim, a comunhão ou, pelo menos, reduzindo o fraccionamento da propriedade, muito embora ao mesmo também não sejam, de todo, alheias razões de índole social e cultural. (Vidé, por todos, Henrique Mesquita, in “Obrigações Reais e Ónus Reais, Almedina, nota 128, págs. 206 e 207, e Agostinho Cardoso Guedes, in “Ob. cit., pág. 159” – obra essa recentemente publicada, que constituiu a dissertação apresentada pelo autor no seu Doutoramento em Ciências Jurídico-Civilisticas e que, num estudo profundo, é, ao longo 694 páginas, dedicada, como o próprio nome indica, a tudo o que envolve o exercício do direito de preferência).

Face aos factos dados com o assentes, não se suscitam dúvidas sobre a qualidade de herdeiros (legitimários) da autora e do seu pai em relação à herança aberta por morte, respectivamente, de sua mãe e de sua mulher E..., falecida em 6 /1/1994 (cfr. artºs 2024, 2027, 2132, 2133, n.º 1, al. a), 2156, 2157 e 2159). Herança essa que à data da referida venda permanecia ilíquida e indivisa, já que não foi realizada partilha dos seus bens.

Dispõe o art.º 2130, nº 1, que “quando seja vendida ou dada em cumprimento a estranhos um quinhão hereditário, os co-herdeiros gozam do direito de preferência nos termos em que este direito assiste aos comproprietários”.

É sabido que as origens do direito de preferência ou prelação entre os co-herdeiros estão entre as primeiras manifestações do instituto da preferência, e que razões ou condicionalismos de ordem cultural, social e política lhe foram assegurando uma vida longa nas legislações de inspiração romanista, e entre as quais se encontra a nossa.

O específico direito de legal de preferência que tal normativo concede aos co-herdeiros, na venda ou dação em cumprimento a estranhos do quinhão hereditário, nasce (como escrevem os profs. Pires de Lima e Antunes Varela, in “Ob. cit., Vol. VI, Coimbra Editora 1998, pág. 211”) “do interesse que a lei tem de reunir nas mãos do menor número deles a titularidade dos diversos quinhões em que a sucessão fraccionou a unidade da herança”. No mesmo sentido vai o Conselheiro Jacinto Rodrigues Bastos (in,

“Notas ao Código Civil, Vol. VII, pág. 343”) ao afirmar que “ a concessão dessa preferência justifica-se pelo propósito de evitar, quanto possível, a dispersão dos bens que constituíram a herança”. Todavia, escreve-se ainda no Acordão do STJ de 21/10/2003 (in “CJ, Acs. do STJ, Ano IX, T3, pág. 106”) que

“há, porém, um outro escopo em vista: o de impedir que o património hereditário vá para outras pessoas que não os próprios herdeiros”.

Razões essas que, no fundo, vão todas elas (de uma forma ou de outra) embocar naquelas outras que acima já deixámos elencadas como estando subjacentes ao regime geral das preferências legais, havendo assim, pode dizer-se, como que uma identidade de função (e especialmente, e tendo em conta o caso sub júdice, no que concerne ao direito de preferência na venda e ou dação em cumprimento de quinhão hereditário a estranhos e o direito de preferência concedido, pelo artº 1409, ao comproprietário no caso de

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venda ou dação em cumprimento a estranhos da quota por qualquer um dos consortes, e para cujo regime o citado artº 2130 remete).

O termo “quinhão hereditário” empregue no citado artº 2130 abrange, quer toda a quota-parte a que um herdeiro seja chamado a suceder, quer apenas uma parte ou porção dessa quota (cfr. Rabindranath Capelo de Sousa, in “Direito das Sucessões, Vol. I; 4ª ed., Coimbra Editora, pág. 75 e nota 143”).

Muito embora venha sendo prevalecentemente entendido (no que concerne à sobredita específica preferência) que a qualidade de titular do direito de preferência deve ser aferida em relação ao momento em que esse direito seja exercido, todavia, outras duas correntes de opinião existem, sendo que enquanto uma delas defende que essa aferição deve ser feita em relação à data da alienação, já outra defende que é em relação ao momento em que o alienante decidiu vender ou dar em dação em cumprimento que essa aferição deve ser feita (vidé, a propósito e por todos, Ac. do STJ. de 16/7/1971, in “BMJ 209 – 160” e Agostinho Cardoso Guedes, in “Ob. cit., págs. 166, nota 135, e 352 e ss).

Constitui hoje entendimento largamente dominante, na nossa doutrina e jurisprudência, que o direito de preferência estatuído pelo citado artº 2130 é concedido aos próprios herdeiros e não à herança indivisa enquanto tal, do mesmo modo que, na previsão do artº 1409, é o comproprietário, e não à comunhão ou ao condomínio, que goza do direito de prelação, sendo certo ainda que esse direito, no caso de venda ou dação em cumprimento de um quinhão hereditário, não poderia, naturalmente, ter surgido em vida do autor da herança.

Posto isto, e fazendo uma primeira aproximação ao caso em apreço, verifica-se, desde logo, que a venda em causa foi feita pelo pai da autora a estranhos, pois nenhuma relação de parentesco, e sobretudo a nível do fenómeno sucessório e mais propriamente ainda quanto à qualidade de herdeiros, existia, independentemente dos momentos atrás referidos a que deva reportar tal qualidade, entre aquele e o réu- marido.

Logo, é inquestionável que, por força da aplicação directa do citado artº 2130, assiste à autora, e ao seu marido, o direito de preferir no quinhão hereditário que foi vendido pelo seu pai ao réu-marido (e que foi incluído, conjuntamente com a sua meação, na venda globalmente feita do chamado direito e à acção que tinha na herança ilíquida e indivisa que foi aberta por óbito de sua esposa E...). Direito esse que, aliás, na sentença recorrida também se reconheceu existir (pelo menos à priori).

A questão que se coloca, agora, é saber se esse direito de preferência é ou não também extensível ao direito à meação do próprio alienante, pai da autora? A questão não é de todo pacífica (como o demonstra, desde logo, o facto de a srª juz a quo, ter dado resposta negativa a essa vexata quaestio).

É sabido que o direito à meação não se confunde com o direito ao quinhão hereditário, sendo certo que o citado artº 2130 apenas a este se refere.

É também sabido que após a dissolução do vinculo conjugal, qualquer dos cônjuges ou os seus herdeiros (em caso de morte de um deles) pode passar a dispor dos seus bens (artº 1689, nº 1). Assim, dissolvido o casamento, por morte de um dos cônjuges, o cônjuge sobrevivo (ou meeiro) pode (como aconteceu no caso sub júdice) dispor, por força de tal normativo, do seu direito à meação nos bens que foram do casal, podendo inclusive ele, ou qualquer herdeiro interessado, não só dispor da sua quota ideal como pedir a

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divisão dessa massa (vulgo através da sua partilha) que se integra na chamada universitatis iuris. (Vidé, por todos, o prof. Manuel de Andrade, in “ Teoria Geral da Relação Jurídica, vol. I, pág. 225”).

Com a dissolução da sociedade conjugal, os bens que a integravam (independentemente da designação ou caracterização que se atribua quanto ao regime em que se encontravam, vg. propriedade colectiva, comunhão de mão comum, vulgarmente conhecida por Gemeinschaft zur gesamten hand, etc.), constitui hoje entendimento dominante que, enquanto não se procede à sua partilha, entram no domínio da chamada comunhão hereditária ou comunhão de direitos. (Vidé, por todos, Agostinho Cardoso Guedes, in “Ob. cit., pág. 159”).

Ora, sendo assim, cai-se na alçada ou previsão do artº 1404 que manda aplicar, com as devidas adaptações, à comunhão de quaisquer outros direitos as regras da compropriedade.

E entre essas regras encontra-se a prevista no artº 1409, onde se estipula, desde logo no seu nº 1, que “o comproprietário goza do direito de preferência e tem o seu primeiro lugar entre os preferentes legais no caso de venda, ou dação em cumprimento, a estranhos da quota dos seus consortes”.

É para nós, assim, inolvidável que também o direito à meação do cônjuge sobrevivo (e no caso concreto do pai da autora) se encontra sujeito ao direito de preferência dos co-herdeiros da herança que foi aberta (por morte daquele que foi seu cônjuge), mas que ainda se encontra no estado de ilíquida e indivisa. Ou seja, e por outras palavras, o direito de preferência dos co-herdeiros estende-se também à alienação que o cônjuge sobrevivo faça (a estranhos) do seu direito à meação.

Aliás, não se vislumbram motivos para que assim não seja, dado as razões acima aludidas que estão subjacentes à concessão das preferências legais, existindo mesma em ambas as situações uma identidade de função. No sentido, acabado de defender tem-se, aliás, pronunciado a doutrina e a jurisprudência que julgamos ser as mais autorizadas. Vidé, assim, entre outros, Agostinho Cardoso Guedes, in “Ob. cit., págs. 165/166”; Pires de Lima e Antunes Varela, in “Ob. cit., Vol. III, 2ª ed., pág. 350, notas 2 e 3”; Ac. do STJ de 16/7/1971, in “BMJ 209 – 160 e ss”, com anotação favorável de Vaz Serra, in “RLJ, Ano 105, págs. 159/160”; Ac. do STJ de 24/7/1984, in “BMJ 339 - 392 e ss”; Ac. RP de 5/5/83, in

“CJ, Ano VIII, T3, págs . 220/222” e Henriques da Graça, in “CJ, Ano IX, T1 - 27”.

Ter-se-á, assim, de concluir que aos autores assiste o direito de preferir na venda que o pai da autora efectuou ao réu-marido e que teve por objecto o seu direito e acção (englobando a sua meação e sua quota hereditária) referente à herança ilíquida e indivisa aberta por óbito de sua esposa E..., e que foi formalizada através da escritura pública identificada no nº 5 da descrição dos factos assentes, ali se substituindo àquele comprador.

Sendo certo que constituindo o depósito do preço a que se alude no artº 1410, nº 1, uma condição ou pressuposto do exercício da acção de preferência (cfr, por todos, Ac. do STJ de 17/6/1999, in “CJ, Acs, do STJ, Ano VII, T2- 150”), a mesma mostra-se também preenchida face ao depósito da importância que os autores efectuaram para o efeito (cfr. nº 9 dos factos assentes), o qual, aliás, os apelados nunca questionaram - o que nos leva a dispensarmo-nos de tecer outras considerações a tal propósito, e nomeadamente sobe o conceito legal ali estipulado de “preço devido”.

Termos, pois, em que, nessa medida, se revoga a sentença recorrida, com a procedência da apelação.

***

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III- Decisão

Assim, em face do exposto, acorda-se em julgar procedente o recurso de apelação interposto pelos autores e, nessa medida, revoga-se a sentença da 1ª instância, reconhecendo-se que aos mesmos assiste o direito de preferir na venda que o pai da autora, G..., efectuou ao réu-marido, C..., e que teve por objecto o seu direito e acção (englobando a sua meação e sua quota hereditária) referente à herança ilíquida e indivisa aberta por óbito daquela que foi sua esposa, E... ou F..., e que foi formalizada através da escritura pública lavrada, no dia 29 de Maio de 1998, a fls. 68, verso a 69 do livro 610-C, do Cartório Notarial de Celorico da Beira, ali se substituindo àquele comprador, e, assim, condenando os réus a reconhecê-lo.

Custas da acção e do recurso pelo Réus/Apelados.

Fonte: http://www.dgsi.pt

Referências

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