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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO REGIONAL ESR DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

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Academic year: 2022

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO REGIONAL – ESR

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

LETÍCIA DEL RIO PEDROZO BRAGAIA DEGENARI

O NEGÓCIO DE TORCER: ANÁLISE DE UMA ORGANIZADA COM PERSPECTIVAS EMPRESARIAIS

(VERSÃO CORRIGIDA)

CAMPOS DOS GOYTACAZES

2020

(2)

LETÍCIA DEL RIO PEDROZO BRAGAIA DEGENARI

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal Fluminense, como parte das exigências para a obtenção do título de bacharel em Ciências Sociais.

Orientador:

Prof. Dr. Rodrigo de Araujo Monteiro

CAMPOS DOS GOYTACAZES

2020

(3)

Ficha catalográfica automática - SDC/BUCG Gerada com informações fornecidas pelo autor

Bibliotecário responsável: Sandra Lopes Coelho - CRB7/3389 D317n Degenari, Letícia Del Rio Pedrozo Bragaia

O NEGÓCIO DE TORCER : Análise de uma organizada com perspectivas empresariais / Letícia Del Rio Pedrozo Bragaia Degenari ; Rodrigo de Araujo Monteiro, orientador. Campos dos Goytacazes, 2020.

24 f. : il.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Ciências Sociais)-Universidade Federal Fluminense, Instituto de Ciências da Sociedade e Desenvolvimento Regional, Campos dos Goytacazes, 2020.

1. Torcida empresa. 2. Torcedor organizado. 3.

Empreendedorismo na torcida. 4. Produção intelectual. I.

Monteiro, Rodrigo de Araujo, orientador. II. Universidade Federal Fluminense. Instituto de Ciências da Sociedade e Desenvolvimento Regional. III. Título.

CDD -

(4)

lJFF- UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

ESR - INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO REGIONAL

coe -

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS DE CAMPOS

Ata da Sessão de Apresentação do Trabalho de Conclusão de Curso de Ciências Sociais da discente LETÍCIA DEL RIO PEDROZO BRAGAIA DEGENARI, como exigência para a obtenção do Grau de Bacharel em Ciências Sociais. Aos 25 dias do mês de agosto de dois mil e vinte, às 13h45, reuniu-se, no ambiente virtual google meet, por convocação do Departamento de Ciências Sociais do Instituto de Ciências da Sociedade e Desenvolvimento Regional da Universidade Federal Fluminense, a Banca encarregada de examinar o Trabalho de Conclusão de Curso intitulado: O NEGÓCIO DE TORCER ANÁLISE DE UMA ORGANIZADA COM PERSPECTIVAS EMPRESARIAIS, da discente LETÍCIA DEL RIO PEDROZO BRAGAIA DEGENARI, Matrícula UFF 216068094. A Banca Examinadora foi constitLúda pelas professoras Maria Gabriela Scotto e Gláucia Pontes Mouzinho, e Orient11;dor e Presidente da Banca, professor Rodrigo de Araujo Monteiro. Dando início aos trabalhos o Presidente (a) da Banca deu ciência a todos (as) das normas e procedimentos da apresentação. A seguir o (a) discente apresentou a síntese do TCC e, em seguida, foi arguido (a) pelos (as) Examinadores (as). Após as considerações finais da discente, a Banca Examinadora, de forma reservada, procedeu a avaliação e julgamento do TCC. A aluna foi considerada APROVADA, por unanimidade, pelos membros da Banca Examinadora. Nada mais havendo a tratar, o Presidente da Banca Exan1inadora deu por encerrados os trabalhos. E, para constar, foi lavrada a presente Ata que, lida e aprovada, vai assinada pela representante da Coordenação, por todos os membros da Banca Examinadora e pela discente.

Professor (a) Orientador (a) e Presidente {a):Rodrigo de Araujo Monteiro Prnf�abciela Scotto

�i

Coordenação

Discente: LETÍCIA DEL RIO PEDROZO BRAGAIA DEGENARI

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O NEGÓCIO DE TORCER: ANÁLISE DE UMA ORGANIZADA COM PERSPECTIVAS EMPRESARIAIS

1

THE BUSINESS OF CHEERING: ANALYSIS OF AN ORGANIZED WITH CORPORATE PERSPECTIVES

Letícia Del Rio Pedrozo Bragaia Degenari

2

Orientador: Rodrigo de Araujo Monteiro3

R E S U M O

O artigo pretende apresentar resultados de uma pesquisa realizada com torcedores que compõe uma organizada de um dos clubes centenários do município de Campos dos Goytacazes, localizado no estado do Rio de Janeiro, o Goytacaz Futebol Clube. O objetivo desse estudo é compreender aspectos e elementos empresariais inseridos na Torcida Organizada Jovem Goyta (TJG) que vão conduzir a forma como se organizam hierarquicamente e socialmente. Através da utilização dos métodos etnográficos como idas aos jogos e entrevistas semiestruturadas, foi obtido a estrutura da organizada em uma perspectiva empresarial e desenvolvidos conceitos que permitem identificar um novo estilo de torcedor organizado.

Palavras-chave: Torcida empresa. Torcedor organizado. Empreendedorismo na torcida.

A B S T R A C T

The article intends to present results of a research realized with fans that compose an organized of one of the centenary clubs of the municipality of Campos dos Goytacazes, localized at the state of Rio de Janeiro, the Goytacaz Futebol Clube. The objective of this study is understand aspects and business elements inserted in the Torcida Organizada Jovem Goyta (TJG) that’s are going to conduze the way how they be organized hierarchically and socially. Through the use of ethnographic methods as going to games and semi-structured interviews, was obtained the structure of the organizes from a business perspective and developed concepts which allow identify a new style of organized fans.

Keywords: Business crowd. Organized fans. Entrepreneurship in the crowd.

1 Este trabalho é parte da pesquisa em andamento acerca de recortes sobre torcidas organizadas do Goytacaz Futebol Clube, apresentados ao longo da graduação através das bolsas de iniciação científica PIBIC/CNPq e FAPERJ nos anos de 2017 a 2020.

2Graduanda em Ciências Sociais na Universidade Federal Fluminense (UFF-Campos). E-mail:

le.degenari@hotmail.com

3Professor adjunto do Departamento de Ciências Sociais na Universidade Federal Fluminense (UFF- Campos). E-mail: ramonteiro@id.uff.br

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3 Introdução

O presente artigo pretende explorar e estudar uma torcida organizada do Goytacaz, nos âmbitos estrutural e social. Essa organizada4 é considerada e reconhecida pelos próprios torcedores, organizados e não organizados, a maior de todas as existentes no clube, com atualmente 10 anos de fundação, completados em 05 de maio de 2020 e são apelidados em meio as torcidas menores como “Bonde dos 300”5 porque houve uma época (meados de 2012), que o Goytacaz estava conduzindo bem os campeonatos, com grande presença numérica de público, que a organizada conseguia reunir com frequência cerca de trezentos torcedores em seu grupo. A discussão a ser abordada tem como objetivo compreender aspectos e componentes empresariais de uma torcida organizada, explorando sua estrutura, distribuição e execução dos cargos, além de interpretar o marketing e alianças feitas com outras torcidas como um impulsionador de status e aumento de membros adeptos. O torcedor organizado e diretor geral dessa organizada, refere-se ao termo torcida empresa6.

É importante ressaltar que essa pesquisa foi feita através de levantamento bibliográfico de literaturas específicas sobre esporte, futebol e sociologia, além de observação participante (MALINOWSKI, 1978), com idas aos jogos no estádio, concentrações pré-jogos, em eventos (reuniões e confraternizações), em média seis entrevistas semiestruturadas e informais, e inserção em grupos nas redes sociais, além de outras como conversas no WhatsApp (inserção concedida pelos próprios torcedores em grupos nas redes sociais) sobretudo diante do cenário de pandemia vivido atualmente.

O estádio Ary de Oliveira e Souza, localizado na região central do município de Campos dos Goytacazes é o lugar onde o Goytacaz Futebol Clube recebe seus jogos.

4 “Organizada” é um termo nativo utilizado para se referir a uma associação de torcedores que, frequentemente, possuem evidente identificação por se diferenciar dos demais torcedores (torcedores organizados costumam referir-se aos demais torcedores que não são adeptos de uma organizada, como

“normais” ou “comuns”) pelo uso de uniformes (ou fardas, outro termo nativo) produzidos pelos pertencentes a este grupo, bem como o uso de adereços característicos (instrumentos de percussão, bandeiras etc.) que permitem uma distinção performática e demarcação de espaço.

5 Informação concedida por um Diretor de Distrito em entrevista no ano de 2018.

6 Buscando referências para compreender estudos baseados nesse tema, encontrei disponibilizado apenas uma dissertação de doutorado em sociologia da Josiane Ribeiro (2010), que utiliza o termo torcida- organizada-empresa. Nesse artigo, optei por tê-la como referência, mas por utilizar o termo do nativo aqui abordado: torcida empresa.

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4 Tem sua fachada nas cores azul e branco representando seu manto e capacidade para aproximadamente 15 mil pessoas, segundo o site oficial do clube7. Na entrada do clube é possível observar catracas antigas que nos dias de jogos é o local por onde a torcida geral entra no estádio, enquanto torcedores organizados acessam o estádio pelo portão ao lado, anterior a bilheteria, principalmente em jogos com o clube/time rival Americano Futebol Clube, afim de uma tentativa maior de organização e arranjamento de horário do início do jogo. Em seguida, há um portão de dimensão maior que se destina aos carros (ambulância, carros da polícia e da imprensa).

Durante o campo, foi possível observar que as entradas do estádio encontram-se sempre abertas, revelando uma ligação de pertencimento para com o torcedor, uma forma de convite para entrar e observar, uma sensação de segurança e proteção que o clube tem com o local em que está inserido e proximidade com a torcida. Também, nos arredores do estádio notam-se várias referências ao clube, a começar por uma padaria tradicional do bairro, a Padaria do Goytacaz, localizada exatamente na esquina da rua, que apesar do nome, não existe nenhuma ligação oficial com o clube. Também pode-se avistar a loja oficial do Goytacaz, que fica em um dos estabelecimentos congregados do estádio.

Como foco inicial, pretendo discutir a torcida organizada em sua semelhança com características que enquadram uma empresa (a torcida organizada) na esfera administrativa (estrutura da torcida) e seu desenvolvimento em relação a normas de seus funcionários (os torcedores adeptos) atrelado a ideia do neoliberalismo, o empresário de si (DARDOT; LAVAL, 2016) como atributos, individualidade e funções dessa torcida organizada, além de apresentar um elemento evidenciado como “ideologia de briga” que dispõe de uma característica presente na torcida estudada nesse artigo. Também pretendo destacar em um breve tópico, a minha experiência enquanto mulher e pesquisadora.

1. A estrutura da torcida organizada em uma perspectiva empresarial

7 Disponível em: http://www.goytacaz.com.br/ acesso em: 2016. Atualmente o site encontra-se fora do ar.

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5 Assim como em uma empresa, a organizada Torcida Jovem Goyta (TJG) possui uma estruturação muito bem deliberada. Nessa composição, a torcida obtém maneiras de manter a ordem, a evolução nos encargos, o status, o reconhecimento e legitimação, que os tornam conhecidos para além do estigma da violência. É observado torcedores organizados com perfil do chamado “empreendedor moderno”, aqueles que, se apresentam como compromissados para além do pressuposto financeiro, com preocupações voltadas a interesses que contribuem com a movimentação e crescimento da torcida, e, em especial, a uma concepção de “imagem” da torcida.

O torcedor organizado aqui estudado é homem, jovem, estudante secundarista ou universitário, morador das periferias de Campos dos Goytacazes, mas não apenas e com perfil étnico racial diversificado.

1.1 Distribuição “chefe e os componentes”8

Em entrevista com dois torcedores, sendo eles o vice-presidente e diretor geral, foi dito como é composta a estrutura hierárquica nos respectivos cargos, e para melhor visualização, posicionei esses dados em um organograma:

Figura 1: Organograma

8 “chefe e os componentes” foi uma frase utilizada, em entrevista, por um dos torcedores organizados para referir-se à composição da torcida no que se alude a estrutura da mesma.

Presidente/Chefe Vice Presidente

Diretor Geral

Diretor Financeiro

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6 Fonte: Dados da pesquisa, 2020.

À vista disso, tem-se o chefe, ou seja, aquele que está no cargo principal, superior a todos os outros componentes e que tem a potência de tomar decisões, que se insere no cargo aqui denominado de presidente da organizada, e os componentes são os demais cargos expostos no organograma: vice presidente, diretor geral e diretor financeiro (atualmente as duas pessoas correspondentes a essas funções se alternam simultaneamente, concedendo dessa forma maior diálogo e reforço para cada cargo), e posteriormente os diretores de distritos, sendo dois diretores para cada um dos sete distritos, com exceção do distrito feminino9. Sobre tais cargos o diretor geral e financeiro relata “A gente pode dizer assim, vamos supor...a Jovem Goyta é uma empresa e os distritos podem ser os franqueados, aí cada distrito tem seu responsável e todos unidos pela Jovem Goyta.” (Diretor geral e financeiro, em entrevista 2018).

Entender a forma como se alcança esses cargos foi essencial para explorar o âmbito hierárquico e normativo. Em entrevista, o diretor geral cita: “Ninguém chega e já entra num cargo.” (Torcedor Organizado da TJG, em entrevista 2018). Isso demonstra que é preciso seguir alguns padrões para aqueles que almejam estar em cargos, sejam aceitos. Em relação ao primeiro presidente da organizada, por exemplo, esse mesmo torcedor relata que “A escolha do presidente, depende, quando entrou o primeiro presidente ele entrou mais por nome, por ter assunto” (Torcedor Organizado da TJG, em entrevista 2018).

9 O distrito feminino, segundo os torcedores entrevistados, é visto mais como simbolismo. A presença da bandeira desse distrito nos jogos ocorre para as funções de primeiro, por reconhecimento e para chamar mais membros, mais interessados a se tornar um torcedor organizado da TJG, e segundo, para insinuar a imagem de “família” e menos preconceito. Atualmente, segundo o torcedor, esse distrito não tem muitas mulheres que o compõe e não há muito diálogo.

Diretor dos Distritos

1º Distrito Parque Aurora

2º Distrito Ururaí

3º Distrito Pelinca

Centro

4º Distrito Jockey

5º Distrito Goitacazes

6º Distrito Guarus

7º Distrito São João

da Barra

Distrito Feminino

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7 Consoante o que foi relatado pelos torcedores entrevistados, vice presidente e diretor geral, evidenciam-se as medidas que precisam ser destacadas para se tornar presidente da organizada, visto que há duas formas: por um lado, já ter vínculos de amizade com torcedores que possuem um cargo facilitam a distinção de outros membros que são apenas componentes havendo maior possibilidade de nomeação, e por outro, se torna preciso atitudes comportamentais, que evidenciarei no parágrafo a seguir, que se destacam dos demais para acometer a atenção dos integrantes administrativos.

Para alcançar essa função, a pessoa a ser nomeada presidente precisa ter perfil de liderança, “ter voz”, saber lidar com críticas e ter diálogo. Diante dessas características colocadas, tem-se a interpretação de que um líder máximo ou presidente ocupam o cargo que organiza, normatiza e rege a ordem e comportamento de seus membros, no entanto, analisando o papel de um líder, a pessoa que ocupa essa função também incentiva o crescimento de cada um dentro da organização, preserva a harmonia e bem estar, isto é, atributos que estão para além de um perfil padrão escolhido de primeiro momento.

Para compreender sobre essa transição de se chegar a algum cargo, nos foi dito que para o acesso, é preciso a pessoa demonstrar “dedicação” perante a organizada e ser de “confiança” para com aqueles que compõe o grupo e os que estão no topo dessa hierarquia, orientada por normas comportamentais de aceitação e dedicação para com um grupo e um clube. Tal cargo tem reconhecimento de maior relevância de superioridade e status. Também é tido destaque que o cargo inclui idas ao Batalhão da Polícia Militar em dois momentos, anterior ao dia do jogo, para evidenciar a rota10 que a organizada utilizará para se locomover do ponto de encontro de seus membros (os organizados definem como concentrações) até o estádio, e em dias de jogos, para identificação com foto do documento. Durante as partidas, caso haja necessidade, saber dialogar com policiais, esclarecer e contornar situações.

A anunciação do indivíduo a tomar posse do cargo de presidente é realizada geralmente em eventos festivos da torcida (festa de comemoração aos anos da torcida

10 Ao longo do "trajeto" (MAGNANI, 1992) para o estádio, os torcedores desta organizada fazem questão de demonstrar presença nas ruas da cidade, soltando bombas de tiros, correndo e cantando pelas ruas da cidade que 'é dia de jogo do Goyta'. Essas “passeatas” ou “procissões” costumam contar com a presença de policiais locais e do Grupamento de Policiamento em Estádios (GEPE), a fim de evitar futuros encontros com a torcida rival, traçando um mapeamento com horários definidos. No entanto não há precisão de que esse funcionamento organizacional conseguirá impedir atos considerados violentos.

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8 organizada ou momentos em que consegue reunir maior quantidade dos membros) e na página do Facebook, mas que, como declarado em entrevista, na maioria das vezes, os torcedores costumam perceber pelo posicionamento durante os encontros e jogos, com atitudes mais-performáticas e firmes que indicam ordem, poder e prestígio, em lideranças que oscilam entre lideranças carismáticas e tradicionais (WEBER, 1981), uma vez que, essa liderança comanda, orienta e incentiva o grupo com um objetivo comum.

1.2 Execução dos cargos “funcionários”

Os demais cargos que seguem a linhagem do organograma têm responsabilidades que irão assegurar o funcionamento organizacional da torcida e ambos vão exigir pessoas de confiança para aqueles que já estão em situação de superioridade. O Vice presidente é o que se pode chamar de “braço direito” do presidente. É ele quem pode substituí-lo e dar a palavra em situações de ausência. Para se alcançar esse cargo também é necessário ter tempo para se dedicar a torcida.

O Diretor Geral tem como responsabilidade, ainda que esta seja colocada de maneira informal, conseguir pelo menos um patrocínio para a organizada, além de auxiliar no que for preciso nos demais cargos. Em entrevista ele acentua “Eu levo muito mais pro marketing, mais pra divulgação do jogo” se referindo ao planejamento que uma torcida organizada precisa ter, e completa “eu me considero muito mais na estrutura da torcida...vou atrás de material, essas coisas” (Diretor Geral da TJG, em entrevista 2018).

O Diretor Financeiro verifica a rotatividade do caixa, que tem como principal lucro a venda de materiais como camisas, copos, bonés, entre outros, produzidos mediante arrecadação de dinheiro antecipadamente, e outras formas de ganho como venda de ingressos, patrocínios além de ter o compromisso de conseguir trazer novas pessoas para a torcida, ter mais convivência (rede de contatos) com o clube, e ter tempo para lidar com as questões da organizada.

Em relação aos distritos, há uma forma de organização que complementa a organizada em ramificações, o diretor geral cita “É como se a Jovem Goyta fosse mãe

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9 dos distritos” (Diretor geral da TJG, em entrevista 2018), como se essa parte fosse a engrenagem da organizada. Os Distritos são divididos por territórios- bairros- do município de Campos dos Goytacazes. Cada um possui ao menos duas pessoas que comandam, conforme dito anteriormente. Essa divisão geográfica também se faz importante na escolha de quem assumirá os cargos que estão na linhagem superior. Um relato sobre isso é que a indicação de uma pessoa para presidente que pertence ao segundo distrito, foi descartada pela distância em relação aos locais que ocorrem as reuniões com os demais torcedores, com a polícia e também do estádio, possuindo como justificativa a disponibilidade ou não, para estar presente nesses eventos, e havendo dessa forma uma exclusão sócio espacial diante dessa decisão. Entretanto, os diretores de distrito são escolhidos estrategicamente com um perfil já pré-delimitado, um deles tem de ser de “pista”11 e o outro tem que ter um perfil administrativo que vai conduzir o crescimento do distrito correspondente a seu encargo. Ambos precisam ter tempo em suas rotinas para poderem se dedicar e presenciar todos os jogos. Esse pensamento racional ou alta racionalidade sugere um aspecto já estudado por Weber (2004), que busca apreender a racionalização na pretensão de um fim específico, ou seja, há um cálculo e racionalidade, neste caso, empresarial, que se estrutura nesse pensamento e no ato da escolha desses diretores.

Para existir um distrito, é necessário alcançar o reconhecimento deste. Não se cria simplesmente um distrito por vontade própria. É feito uma análise pelos torcedores que dirá a aprovação ou não do surgimento desse novo distrito. Ocorre de maneira que, para um distrito ser reconhecido e ter destaque é preciso buscar patrocínios como os diretores dizem- atualmente estes são empresas, mas a organizada não se limita, se surgir empresários também são aceitos- além de ter uma determinada quantidade de torcedores não somente em um jogo, mas manter uma média de integrantes a cada partida e esse aspecto é considerado o principal.

Outros motivos para análise dentro da organizada é a decisão de quem assumirá um cargo e a necessidade de mudança do torcedor de um cargo. Sobre admitir uma pessoa a um cargo, é proposto nomes de quem, na visão deles, estão qualificados para

11 Na organizada há dois entendimentos diferentes para o torcedor de “pista”. Um primeiro significado é o torcedor que fica na “linha de frente” da organizada, aquele que em dias de jogos com possíveis confrontos, estará à frente da torcida preparado para brigar e defender os demais torcedores. Outro significado, este dito em uma fala do torcedor, se refere a aquele que é “ativo” na organizada, no sentido de ir a todos os jogos e estar sempre com a torcida.

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10 esta função em uma reunião, que estão presentes apenas os diretores ou os que estão em um cargo de atuação e então é discutido e decidido quem se habilitará para a vaga surgida, esse encontro para a discussão e decisão é nomeado pelos organizados de

“conselho”. A mudança da pessoa do cargo acontece quando esta não apresenta evolução na/e para a torcida, quando não há avanços em termos de produtividade e retorno que acrescentam no crescimento da organizada. Em entrevista, o próprio diretor de um distrito explicou quais as exigências para alcançar e exercer esse cargo: “O diretor é uma questão de confiança, atividade na torcida, colaboração, não em questão financeira mas de querer ajudar, querer melhoria, querer ajudar o distrito e participação.

Atividade é estar sempre presente, indo sempre aos jogos, chegando com opinião pra somar, ajudar” (Diretor de Distrito, em entrevista 2018).

Para a função de diretor de distrito, um aspecto apontado é a ocorrência de pessoas que se interessam em ocupar os cargos para garantir certo status. Foi mencionado que esse status pode facilitar o flerte com mulheres, por exemplo. Também foi observado pelo diretor geral um diretor de distrito que queria identificar seu cargo e dos outros na camisa para mostrar superioridade e repassou a ideia para os demais, mas que, esse recurso de identificação não foi adotado pelos demais. Ele não confeccionou a camisa e não permaneceu por muito tempo no cargo.

1.3 O marketing da organizada: a imagem e o status

Decorrente dos atrasos dos salários dos jogadores em 201912, os torcedores, de modo geral, se uniram para arrecadar uma quantia que sanasse parte das dívidas através da criação de duas campanhas nesse mesmo ano, que envolviam a produção de duas camisas inéditas para os jogos do campeonato, e a Torcida Jovem Goyta decidiu também apoiar.

12 No ano de 2019 o Goytacaz passou por uma grave crise econômica, que ocasionou salários, dos jogadores e dos demais integrantes da comissão técnica, atrasados em média de quase 4 meses. Houve protestos de jogadores revoltados por não receberem os salários de recusar entrar em campo em meio ao Campeonato que estava acontecendo na época e a decisão de não haver treino como forma de

manifestação aos atrasos dos salários que estavam apenas em promessas datais e pagamentos parciais em

“vales”.

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11 A primeira campanha intitulada “Entre em campo com o Goytacaz” tinha como características estampar o nome do torcedor ou organizada ou empresas patrocinadoras contribuintes nessa ação. A divisão de valores e locais de nomes ocorria da seguinte forma:

Na parte frontal da camisa:

• A contribuição corresponde a categoria padrão, com cota de apoio no valor de R$50,00 e meta de 500 nomes.

Na parte traseira da camisa tiveram duas categorias:

• A categoria total que designa o nome em tamanho grande, abaixo do número do jogador, com a cota de apoio no valor de R$750,00 respectivos aos jogadores titulares, escalados e confirmados para jogar logo no início do jogo, ou seja, com a certeza de que o nome daquele contribuinte entraria em campo, no sentido literal do termo, com meta de 11 torcedores e direito a 4 ingressos para o jogo.

• A categoria super, com as mesmas característica de nome em tamanho grande e abaixo do número e meta de 11 torcedores, porém com o diferencial de que os atletas que jogariam como reserva vestiriam essa camisa, com cota de apoio no valor de R$ 500,00, e com direito a 2 ingressos para o jogo.

Ambas categorias (total e super) concediam o direito de o torcedor entrar com a equipe em campo junto ao jogador que estivesse vestindo a camisa e ao final da partida, o torcedor que contribuiu poderia ficar com a camisa com o respectivo nome.

A torcida Jovem Goyta participou dessa campanha estampando o nome “Jovem Goyta” na categoria super (R$500,00) e anexando o nome parte da frente (R$50,00).

Para que esse investimento pudesse ocorrer, foi aberta uma lista via online no grupo dessa organizada e cada um dava a quantia que pudesse e quisesse (foi relatado que houve pessoas que contribuíram com R$10,00 e R$20,00 por exemplo), e caso não fosse alcançado o valor total, seria retirado o montante faltante do caixa da torcida, oriundo da venda de camisas para os distritos, ingressos vendidos a preços diferenciados, entre outros. Contudo, não foi necessário retirar nada do caixa, pois o valor que estava faltando, o diretor geral conseguiu com amigos que se disponibilizaram ajudar.

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12 O clube, pouco antes da decisão aceitar abrir essa campanha, havia disponibilizado a ideia de instalar placas (estas já existentes e algumas já estampadas) que ficam ao redor das arquibancadas com os patrocinadores na tentativa de fazer propaganda da sua marca, com o custo de R$500,00. A Jovem Goyta, à princípio cogitou a possibilidade de colocar a marca da organizada juntamente com a frase, ainda em construção e a ser decidida ou modificada, “Quem acredita, apoia”. É interessante que a inspiração de adquirir essa placa vem da torcida do Paraná, que já possui o costume de fazer o uso dessa estratégia, ao qual podemos assemelhar a um marketing empresarial, e nesse caso, o marketing da torcida empresa.

A ideia portanto, não vingou, e o motivo me foi explicado pelo diretor geral da TJG, que, com um pensamento estrategista- e nesse sentido digo, de ver a torcida organizada realmente como uma empresa- explicou que a ideia de investir nas camisas que estavam em campanha, promoveria uma certa imagem e status para a organizada em quesitos de expor e divulgar o nome da torcida, bem como atrair novos integrantes e que ainda assim, estaria ajudando o clube contribuindo para além do valor da placa, visto que estamparam frente e verso da camisa, totalizando um preço maior. Ele relata

“foi uma forma da gente ajudar o clube, expor nossa marca, porque teve um retorno maneiro, saiu em face, divulgou na página, gente elogiou nossa atitude” (Diretor geral da TJG, em entrevista, 2020), e completa explicando que a torcida como empresa visa não somente em ajudar o clube em campanhas e parecer útil, mas também como uma forma de mostrar a organizada, tornar conhecimento de todos que a TJG existe e é ativa, é como uma ação de marketing. Ao fim, a camisa ficou com esse diretor, visto que ele coleciona camisas do Goytacaz Futebol Clube.

O nome da TJG, por conseguinte, foi estampado na camisa de número 17 em virtude do jogador conhecido como Lukinha, ídolo dos torcedores do Goytacaz por ter feito o gol de acesso, ser campista e ter iniciado no clube na categoria de base. Naquele momento, a colocação dos nomes foi feita por sorteio, mas a organizada, por já possuir uma rede de contatos, conseguiu a vantagem de escolher.

A segunda campanha, “Entre em campo com o Goytacaz novamente” trazia a proposta de produzir as camisas com a foto dos torcedores, o rosto no tamanho 3x4 de cada um que contribuísse. Para tal ação, o torcedor ou empresa precisava investir R$100,00. Dessa vez, a Jovem Goyta não estampou seu símbolo, mas houve torcedores organizados que participaram dessa arrecadação de forma individual.

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13 Foi relatado nas entrevistas, diversas vezes e em diferentes maneiras, sobre a imagem da torcida. O que seria então a imagem da torcida para os torcedores entrevistados? São as ações produzidas e praticadas de forma estratégica, para expandir em rede de contatos e a demonstrar atividade, presença. Os materiais necessários, a organização de eventos e o fato de se aliar a organizadas de outros clubes como o América Futebol Clube, Madureira Esporte Clube e Nova Iguaçu Futebol Clube.

Uma estratégia dessa torcida organizada é a associação com torcidas de outros clubes que consideram amigos, ou sem grandes riscos de rivalidade, criando uma rede de aliados e adversários. A decisão de se ter aliança com outros clubes, como por exemplo o América, se deu a partir de alguns tópicos que são levados em conta para se aceitar esse vínculo: os presidentes das organizadas trocam mensagens manifestando o interesse em ter aliança/ser aliado, e a princípio, ambos analisam se aquela torcida em algum vínculo com torcidas ou times rivais. Um torcedor organizado relata “Os benefícios de se ter uma aliança é de torcer, de ir para lá e confraternizar. Os times também se acompanham e se protegem, é como um suporte” (torcedor organizado da TJG, em entrevista 2018). Dessa forma, também se pode afirmar através de relatos, que manter alianças é favorável para ambas as torcidas, principalmente em dias de jogos onde estes ocorrem fora da região de proximidade daquele clube, ou seja, quando a torcida não consegue se locomover em grandes números de membros e há rivalidade com possíveis confusões. Obter essa associação com outras torcidas também é tido para além do aspecto empresarial, estrito senso. Esse método de associar-se tem correlação a solidariedade, atitudes de proteção e trocas que fortalecem esse recurso. Essas alianças devotam-se de uma confiança e sociabilidade "aquela que evoca a esfera da reciprocidade, poder e prestígio, ou seja, uma dimensão política que se estabelece entre estes grupos” (TOLEDO, 1996 p.105).

Reconhecimento para a torcida organizada é tornar essa associação de torcedores conhecida em diversas esferas, como ser identificada como a maior do clube, ser popular para o clube, ou seja, ser conhecida entre os integrantes do clube e também em outros lugares através do trabalho que é exercido pelos torcedores que a compõe, como as ações promovidas que permitem a torcida tornar-se de certa forma “famosa” e prestigiada. O reconhecimento é buscado através de ser notada pela forma de se organizar em grupo e o anseio em ser a melhor torcida organizada. Esse reconhecimento também é muito discutido e busca-se a legitimação através de intervenções praticadas

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14 pelos torcedores, como o uso de atrativos, por exemplo, que descreverei adiante. É percebido que esse reconhecimento implica na imagem da torcida em diversos pontos, como por exemplo, por um lado a organizada ser vista como quem ajuda o clube financeiramente quando precisa e por outro, ser lembrada pelo envolvimento em brigas e confusões, que, não necessariamente se torna algo negativo para a torcida, visto que, a briga é parte constituinte da “fama”. Um torcedor relata “Acho que o principal da torcida é tá no estádio apoiando o time”, e conclui, “briga e rivalidade são consequências, mas não o principal” (Torcedor Organizado da TJG, em entrevista 2019). A partir disso, entende-se que a torcida organizada precisa lidar com uma dicotomia que afeta diretamente sua imagem, e que esta, pode acabar por influenciar a participação ou não de torcedores que ainda não fazem parte desse grupo.

Consequentemente, para uma torcida alcançar esse reconhecimento, na visão dos organizados, é preciso conseguir o maior número de adeptos. Para estar e ser considerado um torcedor organizado é necessário o compromisso de estar sempre presente, não somente no sentido de frequentar a torcida, mas colaborar em suas ações que promovem algum retorno para a torcida, seja econômico ou social, conforme foi abordado no tópico anterior. Uma das maneiras para conseguir mais pessoas para torcida, é utilizar meios de marketing, utilizar atrativos. Na TJG o atrativo para aqueles organizados é possuir boa bancada, ou seja, ter uma boa base de materiais como faixas e bandeiras nos jogos, além de, novamente usar uma característica da imagem da torcida:

a presença. Estar presente em todos os jogos sem exceção, fazendo barulho, utilizando as formas de torcer (HASHIGUTTI, 2008), mostrando que há um grupo de torcedores organizados existente, que há oficialmente uma torcida organizada naquele estádio e naquelas ruas da cidade.

Outro laço político que a organizada tem é um acordo informal realizado com o clube. Este acordo inclui o benefício de o torcedor organizado ter acesso a comprar o ingresso correspondente a meia entrada. São repassados ingressos para estes serem vendidos entre si com valores diferenciados e dessa forma o torcedor que se torna membro pode se incluir nessa vantagem.

2. O torcedor organizado na incorporação do “Macho empresarial”

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15 O clube do Goytacaz possui diversos elementos e explorarei alguns a seguir, que são realçados em dias de jogos e que se caracterizam ao chamado futebol raiz, como a utilização de um cooler de grandes dimensões no meio da arquibancada para vendas de bebidas (como cervejas e águas), o churrasquinho pouco após o local de entrada no estádio e os vendedores ambulantes de salgados diversos que transitam com frequência durante toda a partida. Muitos torcedores (organizados e não organizados) tem orgulho em dizer que o “Goyta faz parte do futebol raiz” e essa frase é dita pelo que caracteriza o ambiente do clube, como a estrutura do estádio e o perfil dos torcedores que se alude a um futebol mais antigo. O diretor de um distrito conta:

O que te leva a gostar de um futebol raiz é a emoção de acompanhar o clube aonde o clube não tem título, não tem expressão nacional, mas tem aquele componente que nenhum futebol da Europa vai ter que é torcida com pessoal enfeitado, alguns personagens diferentes, uns caras meio doido com as caras pintadas que a gente dá risada, esse tipo de coisa. (Diretor de Distrito, em entrevista 2018)

A estrutura do estádio do Goytacaz é composta por arquibancadas de cimento coloridas com as cores azul e branco, que dispõe o nome de Tonico Pereira em homenagem ao ator global que é campista, torcedor do Goytacaz e veste a camisa do clube ao conceder entrevistas na televisão. O início da arquibancada possui uma estrutura diferente, fica localizada acima do vestiário dos jogadores e é reservada pois corresponde a área conhecida pelos torcedores como “social”, onde geralmente ficam pessoas consideradas renomadas do clube como o presidente do Goytacaz, pessoas convidadas e torcedores antigos que obtinham o sócio torcedor, uma vez que, esse espaço composto por cadeiras é demarcado. O chão ao entrar pelo portão do clube ainda é gramado e uma parte somente de terra, onde não nasce mais grama pelo desgaste. E, os perfis de torcedores que frequentam, como alguns torcedores de mais idade, que fazem questão de levar o “radinho” para escutar a transmissão do jogo enquanto assiste ao vivo, na maioria das vezes em pé apoiado na grade, além de outros tipos de torcedores, casais, solteiros, famílias e a presença de uma charanga conhecida como

“bandinha” que tem o nome de Pisa Show, composta por torcedores tidos como antigos

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16 que tocam instrumentos musicais ao longo de toda a partida, pausando apenas no intervalo.

No entanto, diante do cenário observado na organizada em relação a empreender, reflete-se uma ambiguidade: o que é ser torcida empresa no futebol raiz?

Inicialmente, destaco os motivos que fizeram o diretor geral da TJG pensar a torcida organizada como uma empresa, como um empreendimento lucrativo nos âmbitos financeiros (patrocínios) e simbólicos (status) que, como no empreendedorismo buscam ideias de negócios (DORNELAS, 2005). Para este torcedor, uma das justificativas foi o caixa da torcida organizada, a rotatividade desse caixa movida a venda de ingressos, a venda de material, que se torna o principal meio de impulsionar o caixa, como as camisas (cada distrito possui seu modelo e a torcida em si possui um modelo geral, no entanto são no mínimo duas camisas que cada torcedor pode ter, havendo possíveis renovações, ou seja, novos modelos, conforme os anos de torcida), bermudas e copos personalizados, e adesão a receber patrocínios, que advém dos próprios membros da organizada que possuem uma empresa e demonstram interesse em estampar sua logomarca na camisa, normalmente quando tem eventos, sendo não formalizado em contratos ou acordos por terem a duração específica para aquele evento. Diante disso, para os organizados os patrocínios são vistos como uma “ajuda” de uma quantia em dinheiro flexibilizada de valores.

Pensar nessa lógica empresarial é também explorar o fato da gestão e da maioria dos cargos serem ocupados por homens. O distrito, como já citado anteriormente, é visto pelos torcedores da organizada como um simbolismo, uma estratégia de marketing e um cuidado com a imagem da torcida. Ao conversar com um diretor de um dos distritos, ele diz:

O distrito feminino hoje tá meio que desativado, porque o distrito feminino eu entendi como o seguinte: as pessoas que são ‘fundadores’ dos distritos masculinos, a namorada deles, as vezes uma irmã, uma prima, ou alguém assim, a formação do distrito feminino era essa.. só que hoje por alguns estarem afastados pelo fato de trabalho, pelo fato de questão familiar, tudo isso, as vezes um afasta o outro, as vezes ele para de ir aí a namorada dele já não tem por que ir, a irmã dele já não tem mais porque ir, entendeu? (Diretor de Distrito, em entrevista 2018)

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Essa fala demonstra que o pensamento desse torcedor sobre o distrito estar em

“atividade”, ativo ou não, é explicada pela presença de alguém, parente ou parceiro do sexo masculino, enquanto torcedor organizado, enquanto membro da organizada, ou seja, as mulheres torcedoras deixam de frequentar os jogos de futebol e a torcida organizada por não terem mais essa figura masculina que as acompanham na TJG. Esse mesmo torcedor menciona que o fato de ter um namoro ou envolvimento com alguém do sexo feminino pode motivar o desligamento da torcida, um exemplo que ele comentou foi que o antigo diretor do distrito ao qual ele obtém o cargo hoje, se afastou da torcida por ter iniciado um relacionamento e que isso cedeu uma “brecha” para que então ele viesse a assumir o posto de diretor de distrito.

Um outro tópico a ser ressaltado em relação ao distrito feminino é que, desde o início dessa pesquisa até o atual momento, e em respostas obtidas ao questionar sobre já ter tido ou não alguma torcedora com cargos elevados ou até mesmo presidente, foi constatado que não há presença feminina nas funções que compõe a hierarquia da torcida. Através do relato de um outro diretor, tem-se a explicação de que ainda não obtiveram nenhuma mulher torcedora com o nível de confiança atribuída e necessária, para com os demais cargos, e essa falta de credibilidade está atribuída a instabilidade de frequentar os eventos e jogos com a TJG. É possível denotar com esses relatos que todos esses movimentos que envolvem essa lógica empresarial são associados aos homens e que a ascensão e o prestígio se relacionam a um estilo de masculinidade, o empresarial.

A torcida organizada apresenta a expressão de uma ideologia, a ideologia da torcida. Em entrevista o diretor de distrito contatado anteriormente, explica:

A ideologia de uma torcida organizada é briga. Briga assim, corporal, é um confronto. Geralmente entre clubes rivais, mas tem algumas outras pessoas que as vezes se excedem, como aconteceu alguns anos atrás que uma pessoa foi morta aqui na cidade por um torcedor organizado mas ele foi morto por arma de fogo, então isso ai já foge um pouco da ideologia, porque a ideologia como eu disse é briga, se você tá no meio de uma briga e você pegar uma pedra ou uma vara, pegar um pedaço de pau no chão e bater num cara isso aí ainda é considerável, mas se você tá no meio de uma briga, todo mundo

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18 saindo na mão, o cara vai e saca uma arma, aí já desfavorece, fica meio fora da ideologia. Sai da ideologia, porque a ideologia é você brigar (...) (Diretor de Distrito, em entrevista 2018)

E em relação a presença de mulheres, completa:

(...) a mulher na hora da briga realmente atrapalha, porque a gente quer bater e ela defende, quer tirar a gente da briga, torcida organizada é ideologia a briga, se a gente não for no jogo pensando em brigar a gente vai no jogo pensando em que? Ou a gente vai sozinho ou a gente vai com a mulher e ela ajuda a gente a bater nos iguais. (Diretor de Distrito, em entrevista 2018)

Esse torcedor se demonstra disposto a participar de brigas entre torcidas, e identifica essas ações como ideologia. Alude ao dever de “ser macho”, de estar pronto para brigar, utilizar armas brancas e ressalta o papel da mulher em uma briga, que por um lado é vista como alguém que atrapalha a execução desse ato, e que por outro, só é bem aceita nessas situações se for para colaborar a bater no rival. De alguma maneira, esse torcedor fundamenta que a briga é um valor, porque ela estabelece o reconhecimento do outro como igual no sentido de conceitos como igualdade e exclusão, ainda que, na visão deles e com a presença de uma diferenciação hierárquica, reforçando a ideologia associada a briga. É por conta dessa ideologia, que o uniforme vestido pelos torcedores organizados é apelidado de “fardas” como explicou o torcedor,

“farda porque é como se fosse uma guerra e a gente tá fardado pra combate, que é a verdadeira ideologia da torcida organizada, que é briga, as vezes no estádio, as vezes fora” (Diretor de Distrito, em entrevista 2018). Em contrapartida, um segundo diretor de distrito se contrapôs a essa opinião de haver briga. Ele relata que apenas se envolve em brigas quando a situação se apresenta necessário envolvimento.

Desse modo, é possível perceber como se apresentam a imagem da torcida, conforme já explorada no tópico anterior em que num momento se apresenta como violenta mas com a necessidade de se incorporar como “homem macho” e que, num segundo momento, tenta converter essa situação perante as demais entidades como clube, polícia e torcedores não pertencentes a organizada, retratando a lógica de pensar na torcida organizada com as funcionalidades de um empresa (marketing, imagem,

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19 status, responsabilidade, adesão a uma funcionalidade, estratégias, entre outros), em relação a esse contraste da organizada em ideologia de briga e desempenho empresarial, remete ao que cita Ribeiro (2010) “ela precisa se posicionar, necessariamente num lugar fronteiriço: como torcida organizada- com todas as implicações do estigma- e como empresa-torcida” (RIBEIRO, 2010 p. 169).

3. Minha experiência enquanto mulher e pesquisadora

Fazer pesquisa é para além do que é escrito e publicado, é como diria a antropóloga brasileira Mirian Goldenberg (2008) que propõe de forma branda uma outra atmosfera acadêmica, são eventos que não estão divulgados no currículo Lattes e que são tão importantes quanto, para a vida de um (a) pesquisador (a), são atividades que perpassam o processo de desenvolver determinado tema ou assunto da forma como é exposta, é algo como os “bastidores” de uma observação.

Apesar de mudanças significativas nas relações de gênero na sociedade e, em particular no esporte, o papel reservado à mulher no futebol ainda é subalterno, e ser pesquisadora nesse meio é estar alerta, sobretudo como mulher e ser humano, que determinados episódios podem afetar psicologicamente, com sexualizações que são impostas, diversas limitações e falta de credibilidade por homens que tentarão deixar a mulher e pesquisadora em estado de fraqueza e incompetência, isto posto, tem-se que considerar os limites pessoais e profissionais com situações surgidas em campo.

Frequentar os jogos do Goytacaz- ou como os torcedores costumam se referir, Goyta- foi um campo de experiências múltiplas e grandes aprendizados, mas com a dicotomia de um ambiente com um certo estilo de masculinidade de homens jovens, muitas vezes periféricos, com formação apenas de ensino médio completo, de camadas populares, moradores de cidade do interior do estado do Rio, ou espaço masculino reservado (ELIAS; DUNNING, 1993), que promove situações constrangedoras e vivências que impactam diretamente a mulher pesquisadora.

Situações embaraçosas foram vivenciadas desde o ato da compra de ingressos na bilheteria do clube. Em um dia antecessor a um jogo, juntamente com uma colega de pesquisa naquele momento, deparamos com os jogadores, em sua maioria

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20 aparentemente jovens, entre vinte e trinta anos, entrando no ônibus que estava parado na calçada em frente ao portão principal, que fica ao lado da bilheteria, para disputar uma partida que ocorreria fora da cidade de Campos dos Goytacazes. Alguns deles demonstraram reação de surpresa e espanto com nossa presença. Eles ficaram parados, reagiram com viradas de pescoço, muitos olhares contínuos e ditando o famoso "psiu", seguimos a compra e afastamos rapidamente do local. Casos semelhantes também aconteceram partindo de torcedores durante os jogos e fora deles, além de a utilização de vocabulários como “linda” e “gostosa”. Outra situação, ocorreu poucos meses após a aproximação com uma torcida organizada que até o momento seria investido o estudo, quando tive meu nome citado na rádio no dia do meu aniversário como forma de

“presente” ou “homenagem” de um torcedor organizado pertencente ao grupo que foi cogitado pesquisar.

Também houve outras circunstâncias que promoveram reflexões e interpretações sobre como as mulheres torcedoras e mulheres pesquisadoras se inserem em um local onde a presença de mulheres são minorias numéricas e simbólicas, inclusive na parte administrativa do clube, que até então não havia presença feminina. Em relação ao distrito feminino da Torcida Jovem Goyta não foi possível avançar na pesquisa, por conta de uma restrição por parte do presidente em ceder entrevistas e possíveis entendimentos, sobre a organização onde surgem especulações de um espaço possivelmente de submissão buscando compreender a condição e posicionamento de mulheres que atuam como torcedoras organizadas, e outra dificuldade em conversar com essas torcedoras sucedeu ao contacta-las individualmente para agendar entrevistas mas que acabavam por desmarcar em cima da hora ou não respondiam mais. Também, um dado observado e que foi confirmado por um torcedor no tópico 2 desse artigo, muitas torcedoras eram, na verdade, namoradas de torcedores.

Outra restrição surgiu, dessa vez com a torcida organizada que seria estudada no início, quando foi imposto por torcedores a escolha de entrar para a organizada como membro e permanecer em seus grupos de WhatsApp com compartilhamento de informações ou escolher outra torcida organizada para investir a pesquisa. Foi semelhante a uma “cobrança” de ser e estar, e nesse caso não lhes foi aceito apenas a condição de pesquisadora naquele momento.

No entanto o fato de ser mulher, trouxe, ainda que de forma questionável, vantagens para a pesquisa e recolha de dados nesse ato desse campo da masculinidade,

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21 por parte de torcedores, jogadores e administração. O acesso a contatar torcedores e jogadores não ocorreu de forma dificultosa, sempre demonstraram estar dispostos a contribuir. Foi sugerido também o convite para assumir a direção do distrito feminino.

O clube, tardiamente, tem se esforçado em incluir mulheres em seu espaço, promovendo ações que “chamam”13 mais mulheres para assistir os jogos e consequentemente aumentam o público. Uma dessas ações presenciadas ao longo da pesquisa foi promover a gratuidade para a mulher que estivesse trajada com a camisa do Goytacaz, no jogo que aconteceria no dia da mulher e houve um outro momento dessa promoção em um jogo considerado importante, como a semifinal de um campeonato.

Portanto, diante das experiências vividas e presenciadas na pesquisa, é identificável a existência de uma dicotomia, por um lado a invisibilidade em momentos de exclusão e desconfiança em entender o meio futebolístico, e por outro lado, a visibilidade que pode se tornar tendenciosa em ser observada por torcedores enquanto função de pesquisadora e mulher.

4. Conclusão

Reconhecendo o futebol como o esporte mais popular do Brasil e de maior expressão identitária do nosso país (TOLEDO, 1999), as práticas a ele associadas são espaços que podem ser analisados de diversas maneiras de socialização que podem expressar e representar múltiplas dimensões da vida social como laços familiares, relações de amizade, relações de classes sociais, questões de gênero, entre outros. A torcida organizada, interrelacionada nesse meio, apresenta um campo de variáveis que podem vir a reproduzir e apresentar novas definições, como relações sociais orientadas por lógicas empresariais.

A organizada Torcida Jovem Goyta identifica-se em sua semelhança a uma empresa nos aspectos funcionais como a estrutura hierárquica, onde os cargos estipulados para que haja a ocupação dessas funções realizam-se um processo de escolhas de perfis (similar ao RH de uma empresa) com um seguimento de critérios

13 O termo “chamam” faz alusão aos próprios torcedores organizados que utilizam esse vocábulo algumas vezes, durante as entrevistas realizadas, para se referir ao modo como torcedoras mulheres se inserem/ se atraem na participação em frequentar os jogos e a torcida.

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22 como o “ser ativo” que possibilita ascender na escala, também há um olhar visionário de lucros através da venda de produtos, rede de contatos, bem como estratégias de marketing que ocasionam interesses em prol do crescimento da torcida e a mudança de representante, ou seja, o desligamento de um torcedor dos cargos ocorrem quando não se tem ou não se alcança a produtividade e rendimento previstas.

Entretanto, a torcida organizada não se resume a ser configurada como empresa por seus aspectos empresariais. Toda torcida organizada tem suas particularidades como o suporte entre as torcidas, ou seja, as alianças com organizadas de outros clubes que se tornam uma relação de proteção, de amparo, de poderio e de confiança, além do reconhecimento que uma torcida obtém ao acompanhar sempre o clube e o time em todos os momentos, disputas e campeonatos, que se destacam em inúmeras formas de torcer.

A experiência enquanto mulher e pesquisadora permitiram entender o campo em relação a gênero e refletir dicotomias que por um lado traz a visão do torcedor e por outro a vivência em sua individualidade. É um processo entre estar no ambiente do nativo e colocar em pauta as situações que podem vir a influenciar no trabalho do pesquisador.

A partir dos dados levantados e que são constitutivas das necessidades da pesquisa está uma lógica que apareceu nas entrevistas com os atuais dirigentes da organizada em questão de ver essa associação de torcedores como uma empresa. Dentro desta lógica, as noções de representação, participação e engajamento do torcedor, que orientou o discurso dos torcedores nos anos 1990 (MONTEIRO, 2003) teria cedido lugar ou estaria disputando à lógica de custos e benefícios e de um empreendimento financeiro, orientando para o lucro, onde os distritos seriam como que franquias. Ou seja, podemos estar prestes a fazer uma descoberta sociológica no sentido de pensarmos em “organizadas negócios” e os termos já utilizados por torcedores organizados: torcida empresa e torcida-organizada-empresa (RIBEIRO, 2010) mas que ainda não foram expansivamente registrados. Pensar a torcida organizada dessa forma, significa também refletir acerca da adesão a um estilo de identidade muito particular que se recoloca em discussão.

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23 5. Referências Bibliográficas

DORNELAS, José Carlos Assis. Empreendedorismo: transformando ideias em negócios. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. 293p.

ELIAS, Norbert; DUNNING, Eric. Quest for Excitement, Sport and Leisure in the Civilizing Process. Oxford: Paperback, 1993. 313p.

GOLDENBERG, Mirian. Noites de insônia: cartas de uma antropóloga a um jovem pesquisador. Rio de Janeiro: Record, 2008. 95p.

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LAVAL, Christian; DARDOT, Pierre. A nova razão do mundo: ensaios sobre a sociedade neoliberal. São Paulo: Boitempo, 2016. 416p.

MAGNANI, José Guilherme Cantor. Da Periferia ao Centro: pedaços & trajetos.

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MALINOWSKI, Bronislaw. Argonautas do Pacífico Ocidental. São Paulo: Abril Cultural, 1978. 436p.

MONTEIRO, Rodrigo. Torcer, lutar, ao inimigo massacrar: Raça Rubro Negra. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2003. 120p.

RIBEIRO, Josiane Maria de Castro. Conflitos, territórios e identificações: o encontro de experiências nas torcidas organizadas Cearamor e M.O.F.I. Orientação de: Irlys Alencar Firmo Barreira. 2010. 213 f. Tese (Doutorado em Sociologia) - Departamento de Sociologia, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2010. Disponível em:

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24 http://www.repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/1296/1/2010_tese_JMDECR.pdf. Acesso em: 08 jul. 2020.

TOLEDO, Luiz Henrique de. A invenção do torcedor de futebol: disputas simbólicas pelos significados do torcer. In: M. COSTA (org.), Futebol Espetáculo do Século. São Paulo, Musa , p. 146-149. 1999.

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WEBER, Max. Ensaios de Sociologia. Rio de Janeiro: Editora Guanabara:, 1981. 340p.

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2004. 2 v. Título original: Wirtschaft und Gesellschaft: Grundriss der verstehenden Soziologie.

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