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POPULAR E FENOMENOLOGIA HERMENÊUTICA JURÍDICA – FENOMENOLOGIA COMO MÉTODO PARA SE ALCANÇAR O FUNDAMENTO DAS DECISÕES JUDICIAIS Rosa Elena Krause Berger

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(1)

VII ENCONTRO INTERNACIONAL DO

CONPEDI/BRAGA - PORTUGAL

HERMENÊUTICA JURÍDICA

GRASIELE AUGUSTA FERREIRA NASCIMENTO

JOSÉ ALCEBIADES DE OLIVEIRA JUNIOR

(2)

Copyright © 2017 Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Direito Todos os direitos reservados e protegidos.

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H553

Hermenêutica Jurídica [Recurso eletrônico on-line] organização CONPEDI/ UMinho

Coordenadores: Grasiele Augusta Ferreira Nascimento; Joana Maria Madeira de Aguiar e Silva; José Alcebiades De Oliveira

Junior–Florianópolis: CONPEDI, 2017. Inclui bibliografia

ISBN: 978-85-5505-493-8

Modo de acesso: www.conpedi.org.br em publicações

Tema: Interconstitucionalidade: Democracia e Cidadania de Direitos na Sociedade Mundial - Atualização e Perspectivas

CDU: 34 ________________________________________________________________________________________________

Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Direito

Comunicação – Prof. Dr. Matheus Felipe de Castro – UNOESC

1.Direito – Estudo e ensino (Pós-graduação) – Encontros Internacionais. 2. Interpretação. 3. Normas jurídicas.

VII Encontro Internacional do CONPEDI (7. : 2017 : Braga, Portugual).

(3)

VII ENCONTRO INTERNACIONAL DO CONPEDI/BRAGA -

PORTUGAL

HERMENÊUTICA JURÍDICA

Apresentação

O Grupo de Trabalho “Hermenêutica Jurídica” contou com a apresentação de três trabalhos

no VII Encontro Internacional do CONPEDI, propiciando debates e discussões sobre a

temática proposta.

O Encontro, realizado nos dias 7 e 8 de setembro de 2017 na cidade de Braga, Portugal, foi

promovido pelo Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Direito (CONPEDI),

em parceria com a Universidade do Minho (UMinho), através do Centro de Estudos em

Direito da União Europeia (CEDU).

Esperamos que a presente obra propicie ao leitor importantes reflexões sobre os temas

abordados.

Boa leitura!

Profa. Dra. Grasiele Augusta Ferreira Nascimento - Centro Universitário Salesiano de São

Paulo (UNISAL)/Universidade Estadual Paulista (UNESP)

Prof. Dr. José Alcebiades De Oliveira Junio - Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Profa. Dra. Joana Maria Madeira de Aguiar e Silva- Escola de Direito da Universidade do

Minho

Nota Técnica: Os artigos que não constam nestes Anais foram selecionados para publicação

na Revista CONPEDI Law Review, conforme previsto no artigo 7.3 do edital do evento.

(4)

1 Doutoranda em Direitos e Garantias Fundamentais pela Faculdade de Direito de Vitória-ES (FDV). Mestre em

Sociologia Política pela Universidade de Vila Velha-ES (UVV-ES). Advogada e procuradora municipal.

1

CONSTITUCIONALISMO POPULAR E FENOMENOLOGIA HERMENÊUTICA JURÍDICA – FENOMENOLOGIA COMO MÉTODO PARA SE ALCANÇAR O

FUNDAMENTO DAS DECISÕES JUDICIAIS

POPULAR CONSTITUTIONALISM AND PHENOMENOLOGY LEGAL HERMENEUTICS - PHENOMENOLOGY AS A METHOD TO REACH THE

LEGAL DECISIONS FUNDAMENT

Rosa Elena Krause Berger 1

Resumo

O estudo propõe uma reflexão sobre a teoria do Constitucionalismo Popular de Larry

Kramer, Mark Tushned e Jeremy Waldron, buscando abordar seus argumentos quanto aos

questionamentos a quem é dada a palavra final quanto à interpretação da Constituição.

Também analisará sobre os efeitos da interpretação que é dada pelas Cortes e a não

participação do cidadão nesta tomada de decisão. Após abordará sobre a forma de

interpretação hermenêutica que pode fundamentar as decisões dos Tribunais nos princípios

democráticos e na efetivação dos direitos fundamentais sem retirar a autonomia de decisão do

Judiciário fazendo uso da fenomenologia.

Palavras-chave: Constitucionalismo, Popular, Fenomenologia, Hermenêutica, Direito

Abstract/Resumen/Résumé

This work proposes a reflection about the Popular Constitutionalism theory by Larry Kramer,

Mark Tushnet and Jeremy Waldron bringing up the questionings about who is given the final

word according to the Constitution interpretation. Is also going to assay the effects of the

interpretation of the Court and the lack of participation of the citizen and Law interpretation.

It is going to present about the hermeneutics interpretation that may justify the decisions of

the Courts on the democratic principles, and on the effectiveness of the fundamental rights

without taking of the decision autonomy of the Judiciary using the Phenomenology.

Keywords/Palabras-claves/Mots-clés: Constitutionalism, Popular, Phenomenology, Hermeneutics, Law

(5)

INTRODUÇÃO

Na passagem do século XX para o XXI aparecem os debates sobre o Constitucionalismo

Popular, principalmente nos Estados Unidos, e se fundamenta em torno da ideia de que o melhor

arranjo constitucional demanda interpretação política ou popular da Constituição e não jurídica

ou legal.

A apresentação dos debates busca conciliar a interpretação constitucional com o sistema

democrático de tomada de decisões e desafiam paradigmas tradicionais da teoria constitucional

estadunidense.

Mesmo havendo uma ideia dominante que o melhor intérprete são as pessoas com

conhecimento, especialistas, juristas, nasce naquele país a teoria do Constitucionalismo Popular

apresentadas por Larry Kramer, Mark Tushned e Jeremy Waldron.

Os autores possuem fundamentos diversos, desde historiográficos, até filosóficos, contudo, a

conclusão basicamente será a mesma: de modo mais ou menos radical, a revisão judicial será

tida como um elemento negativo no sistema de interpretação constitucional e algo a ser

combatido.

Para tanto, apresenta-se na primeira parte do trabalho, os estudos dos autores individualmente.

Inicialmente mostrar-se-á os argumentos históricos trazidos por Kramer mostrando que a

história dos Estados Unidos foi construída com base na participação popular. O autor não

formula qualquer teoria, mas critica o atual predomínio da supremacia da revisão judicial. Após,

veio o argumento de Tushned, o qual aflorará ainda mais o debate a favor do

Constitucionalismo Político e irá apresentar a extinção do judicial review. Tushned trabalhará

entre os dois modelos: democracia e judicial review. Por último, os estudos de Waldron que

sustenta as razões que fundamentam o modelo da revisão judicial e o modelo democrático de

tomada de decisões.

Em uma segunda parte do trabalho apresentar-se-á o método denominado fenomenologia de

Edmund Husserl, e analisar-se-á quanto à forma de interpretação que os Tribunais estão dando

(6)

questões complexas hoje presentes em uma sociedade plural e, se uso de uma nova metodologia

de interpretação pode fundamentar as decisões dos Tribunais sem que haja perca da autonomia

das decisões exaradas pelos Tribunais.

A pergunta que o presente estudo busca responder: de fato, devemos abolir o judicial review,

onde os juízes são tidos como os guardiões da Constituição? Isto seria possível? Seria, de fato,

o melhor caminho?

Para o desenvolvimento do presente trabalho foram utilizadas pesquisas doutrinárias e análise

do julgamento do Supremo Tribunal Federal HC 82424 que permitiram alcançar uma

compreensão melhor sobre o tema e a evidenciar o uso de novas formas de interpretação a

destacar o uso da fenomenologia.

1.

CONSTITUCIONALISMO POPULAR DE KRAMER

Os estudos de Kramer consistem em demonstrar que o constitucionalismo popular americano

predominou na experiência das colônias e prevaleceu na fundação do constitucionalismo.

A obra de The People Tremselves (2004)1, demonstra a sensibilidade antipopular no

pensamento contemporâneo, e por outro haveria uma experiência perdida na história onde o

povo foi titular da última palavra. Devido a isto, o constitucionalismo popular não implica

propriamente uma teoria, mas um fenômeno histórico, desconhecido da contemporaneidade.

Kramer debate o sentido tradicionalmente atribuído à fundação constitucional e ao federalismo

de Madison e de Hamilton (período estendido até a quarta década do século XIX), onde o

próprio povo teria interpretado o texto constitucional através de suas mobilizações, eleições e

inclusive, na participação nos júris, enquanto à interpretação judicial teria sido reservado a um

papel coadjuvante.

Por isso a história da gênese do judicial review está atrelada a uma disputa entre partidos, entre

federalistas e democratas-republicanos, após o advento da Revolução Francesa, do rompimento

(7)

de Madison com os federalistas e de sua aproximação a Thomas Jefferson (democrata e

defensor do radicalismo da Revolução).

Kramer conclui em sua obra que o poder popular poderá conviver com a interpretação

constitucional desenvolvida pelos demais poderes – desde que esses (poderes) não interfiram

em sua palavra final.

2.

CONSTITUCIONALISMO POPULAR DE TUSHNET

O argumento do autor é que a revisão judicial simplesmente não seria capaz de garantir os

direitos constitucionais eventualmente postos em perigo (Taking the Constitution Away from

the Courts– 1999).

O autor defende que apenas a mobilização política teria capacidade de resguardar o que

denomina Constituição fina (thin constitution), e este conceito desempenha uma função de

princípios e valores que devem nortear qualquer interpretação constitucional, e outro como

procedimento que se realiza através da democracia.

Por Constituição fina não se entende apenas os artigos, mas os valores mais arraigados da

cultura americana, como os princípios da igualdade, liberdade e liberdade de expressão,

contidos no preâmbulo e na Declaração de Independência.

Tushnet apresenta análises históricas que demonstram a fraqueza do judiciário em períodos de

assédio faccioso e, ainda, como os atores políticos podem protagonizar a interpretação

qualificada da constituição. Portanto, há parâmetros orientadores da interpretação política

firmados através de lutas e de conflitos ao longo da história americana que não podem ser

esquecidos, como a liderança e o legado deixado por Thomas Jefferson e de Abraham Lincoln.

Outro ponto que o autor traz nos seus estudos é que as cortes tenderiam a alinhar-se à colisão

política dominante, sendo raros os momentos em que sua interpretação escaparia ao pensamento

majoritário, e sua interpretação seria quase nula, não compensaria manter um modelo por

termos baseado em situações excepcionais. Portanto, o autor defende a abolição do judicial

(8)

Segundo o autor, a força das mudanças não residirá na interpretação jurídica especializada, mas

na organização do próprio povo, interligado através de compromissos e de alianças2.

Tushnet busca entrelaçar valores (princípios firmados) à ideia de autogoverno democrático

(autonomia de a cidadania editar suas próprias leis).

3.

CONSTITUCINALISMO POPULAR DE WALDRON

Waldron não apresenta em seu trabalho a qualidade da interpretação que possa ser dada a

Constituição, mas de um debate sobre os melhores fundamentos que venham a organizar a

estrutura do sistema de tomada de decisões3.

A base de seu argumento é construída no princípio majoritário aplicado ao processo decisório,

somente este, é capaz de tratar os participantes de forma equitativa.

Sustenta o autor que desde que respeitados os pressupostos como o compromisso sobre os

direitos, e o desacordo razoável sobre a justiça, será a assembleia representativa capaz de

absorver as divergências existentes no meio social, e o melhor espaço para a deliberação política

e estabelecimento da decisão final deve se dar nas assembleias representativas.

Waldron analisa a pressão política que pode ocorrer nesse espaço como positiva, sendo um

elemento favorável à garantia dos direitos, e não ao contrário. E da mesma forma, relativiza a

ideia de tirania das maiorias já que a percepção de tirania dependerá exclusivamente do ponto

de vista do participante e poderá ser praticada por qualquer órgão, tanto no legislativo como no

judiciário.

2TUSHNET. Mark. Democracy Versus Judicial Review Its it Time to Amend The Constitution? Dissent,

v. 52, n. 2, 2005.

(9)

4.

O USO DA HERMENEUTICA

FENOMENOLOGIA DE EDMUND

HUSSERL COMO MÉTODO PARA A FUNDAMENTAÇÃO DAS

DECISÕES DOS TRIBUNAIS

Como se vê, inicialmente foi apresentado os debates dos principais autores que tratam sobre o

Constitucionalismo Popular.

Os elementos apresentados pelos autores são fundamentais e representam questionamentos a

aspectos tradicionais da cultura norte-americana, mas também nos traz a reflexões da atual

realidade brasileira que é o retrato da realidade norte-americana, qual seja, busca-se no

Judiciário Brasileiro a última palavra e a solução de todos os problemas sociais.

Com base nos fundamentos dos discursos do Constitucionalismo Popular verifica-se o risco

que pode ocorrer quando é retirada a autonomia dos Tribunais quanto à interpretação e

autonomia das decisões, e da mesma forma pode-se ver que há riscos quando a população fica

inerte quando se refere as tomadas de decisões que produzirá efeitos na sociedade.

O Poder Judiciário desempenha, sem sombras de dúvidas, um papel importante nos processos

de concretização constitucional, e da mesma forma o povo deve participar e ter certo controle

na tomada de decisões. Mas, como fazer isto? Como equilibrar o poder dos tribunais e do povo?

Não há uma forma de melhor interpretação e aplicação do direito, através dos tribunais, para a

concretização dos direitos dos cidadãos?

Para responder a estas perguntas analisar-se-á a forma que os tribunais vêm decidindo, e qual

o método de interpretação que pode fundamentar as decisões dos tribunais para uma devida

aplicação do direito que os cidadãos tanto anseiam nas suas demandas.

O uso da fenomenologia é uma forma de interpretar e aplicar o direito de forma contrária que é

realizada hoje, na maioria das decisões. Objetiva-se apresentar novos caminhamos para a

construção de um novo direito quebrando paradigmas que foram até então criados.

A filosofia da consciência se mantem presente e engessa as modificações na metodologia

jurídica e, parece, que quanto mais aumenta a complexibilidade da sociedade, mais se aplica

(10)

Não temos a intenção de apresentar um método satisfatório a todas as demandas e nem a

intenção de generalizarmos a noção de hermenêutica, ou até mesmo de propor uma nova teoria

original. Pretende-se aqui suscitar o debate e demonstrar que as decisões dos Tribunais sejam

interpretadas e validadas na forma dos anseios da sociedade, e que a participação popular na

construção da norma já se torna suficiente para que as tomadas de decisões sejam democráticas,

desde que, o método de interpretação empregado seja suficiente para dar fundamento às

decisões judiciais.

Para tanto, no próximo tópico apresenta-se o uso da fenomenologia como interpretação da

norma (ordenamento jurídico) construída dentro dos preceitos democráticos, ou seja, toma-se a

norma construída dentro do Congresso aprovada e sancionada como legítima a produzir efeitos

no mundo jurídico, a qual produzirá um fenômeno a ser analisado através de um processo o

qual vai fundamentar a decisão.

5.

FENOMENOLOGIA COMO FORMA DE INTERPRETAÇÃO

FILOSOFIA DE EDMUND HUSSERL E A FENOMENOLOGIA NO

DIREITO

Os debates acerca da fenomenologia nasceram através da obra de Hegel “Fenomenologia do

Espírito” (1807)4, e partir deste marco, o termo “fenomenologia” entra, definitivamente, na

tradição filosófica, porém, não foi com a fenomenologia hegeliana que o pensamento que traz

o nome de fenomenologia iria se perpetuar no século XX.

O verdadeiro iniciador desse movimento foi Edmund Husserl apresentando um novo conteúdo

ao movimento e, de certa forma, podemos afirmar que o movimento fenomenológico consuma

o desgaste da metafísica platônica, esvaindo-se tanto em Hegel, em Kant e, também, com o

positivismo.

(11)

Husserl (1859-1938) dedicou seus estudos como uma crítica à psicologia como ciência que

tentava aplicar os métodos das ciências naturais às questões humanas5.

O método fenomenológico desenvolveu-se em um período marcado pela valorização das

concepções modernas do conhecimento, em um tempo de decadência das explicações religiosas

aos fenômenos visíveis. Aparece como crítica ao idealismo (ideia ou consciência como última

instancia de criação da realidade) e ao positivismo que afirmava que a origem do conhecimento

estava vinculada aos sentidos.

Este método fenomenológico vai se voltar ao homem e sua experiência, oriundo tanto de

aspectos racionais quanto irracionais. Seu foco está em avaliar a experiência humana do mundo

no âmbito das coisas como aparecem (fenômeno). Ele abre mão de afirmar uma realidade ou

coisa em si (kantiana) para voltar-se ao homem e sua experiência6.

A fenomenologia descreve o que se dá na consciência. Uma das principais ideias da

fenomenologia é que “toda consciência é consciência de alguma coisa”, como afirmara Husserl.

Objeto e consciência não podem se separar, há uma relação direta entre objeto e consciência.

A consciência funde-se com o objeto e toda consciência é consciência de algo (é da natureza

do ser humano estar com a consciência voltada para alguma coisa em si mesma)7.

Na fenomenologia o objeto é sempre objeto para a consciência, e há uma intensão de captar a

vivencia dos objetos como se apresentam à consciência (o homem empresta às coisas um

significado, que parte da sua própria reflexão, vontade e consciência – o significado que se

atribui às coisas não representa a realidade, mas o sentido que ela tem para o homem). É através

dessa intencionalidade que a mente é direcionada para o objeto a ser desvelado. Portanto,

somente aquele sujeito é que poderá dizer sobre si, o que dado fenômeno representa. É na

fenomenologia que se rompe com o clássico conceito sujeito/objeto8.

A partir das significações capitalizadas na mente exige-se, do cientista, que haja uma suspensão

do juízo, o que se chama de “atitude natural” (suspende-se as atitudes de crenças, valores,

5HUSSERL, E. (2006). Ideias para uma fenomenologia pura e para uma filosofia fenomenológica. São Paulo: Ideias & Letras (trabalho original publicado em 1903).

(12)

teorias, preconceitos e julgamentos por parte do cientista), para que haja o desocultamento do

objeto, abstraindo, assim, todos os juízos condicionados histórico-social-culturalmente para se

chegar ao fenômeno mesmo (eidos). Ou seja, o objeto, fica suspenso (como congelado) para a

análise científica, chamado de “epoche”9.

Seria, então o primeiro passo do método fenomenológico, a redução eidética, que consiste em

reduzir os fatos às suas essências. Essa redução eidética é a atitude que assumimos em primeiro

lugar, antes de uma atitude naturalizante das ciências positivas que reduzem os fatos a meros

objetos de cálculos e mensurações, tendo como resultado, em última análise, a idealização do

mundo10.

A partir daí e simultaneamente ocorrerá o que é chamado de redução transcendental que

consiste na reflexão sobre as essências ou sentidos dos objetos como referencias dos seus

próprios fundamentos. A essência é algo percebido a partir dos próprios objetos11.

Esta essência será sempre a essência do objeto tal qual se mostra à consciência intencional, e

não uma categoria para o controle da experiência. O objetivo da redução transcendental é

refletir sobre as conexões de essências que revelam os sentidos dos objetos e não sobre as leis

que o regem segundo afirmam as ciências positivas.

A fenomenologia não se interessa imediatamente pelos objetos ou pelos fatos, mas pelos

sentidos que neles são percebidos. Podemos afirmar que a fenomenologia descreve essas

verdades a partir da concepção das essências dos fatos, pois, é nelas que os sentidos se revelam

tais quais são, enquanto nas ciências positivas buscam essas verdades nos fatos.

No direito, é perfeitamente aplicável a fenomenologia, tanto é que o direito sendo um objeto

cultural (criado a partir de preceptivas do espirito), e enquanto objeto, ele representa uma

intencionalidade valorativa pautada na ordem jurídica. É no direito que se proclama todas as

9 HUSSERL, E. Investigações lógicas, sexta investigação (elementos de uma elucidação fenomenológica do conhecimento). Seleção e tradução de Zelijko Loparié e Andreia Maria Altino de Campos Loparié. Os pensadores. Vida e Obra de Husserl. São Paulo: Abril Cultural, 1980. P. 8-12

(13)

pretensões de justiça. Somente neste ponto já podemos ver uma concepção fenomenológica do

direito, que o vê como um objeto que se mostra na organização dos sistemas jurídicos12.

Portanto, o direito se mostra como fenômeno, e isto se dá na atividade de intencionalidade da

consciência que descreve o ser do direito como uma estrutura de essências ou sentidos que

caracterizam esse objeto.

A fenomenologia não vê o direito apenas como suporte normativo, ou seja, o direito não é

apenas fundamento. Os fundamentos do direito provem das suas essências, dos sentidos, do que

é percebido, que vão caracterizar os seus objetos que serão o resultado da atitude intuitiva da

consciência de sentidos do mundo. O objeto do direito é apenas a referência dos seus sentidos.

Se não dermos conta das essências dos direitos, da melhor interpretação e aplicação de um

método, muito pouco poderá aplicar nos chamados direitos fundamentais garantidos na

Constituição. Muito se falará e será comentado na doutrina, mas na pratica não haverá

efetividade, porque sua aplicação deverá ser vista na sua essência, nos seus sentidos e não como

os positivistas os interpretam. Por exemplo, o que é igualdade tratada na Constituição de 1988

se não tivermos a referência dos seus sentidos ou suas essências que constituem o seu ser, a

partir do qual podemos compreender e evidenciar o direito à igualdade. Se não vermos a sua

essência, apenas será um direito fundamental positivado no ordenamento jurídico, e será um

direito fundamental apenas porque o texto constitucional assim o edita. E assim acontecerá nas

mais diversas modalidades de objetos jurídicos, tanto no universo das garantias fundamentais

quanto no campo das regulações ordinárias.

Cada ordem jurídica, tida como objeto, enquanto um sistema de normas, somente poderá ser

conhecido verdadeiramente e originalmente a partir da percepção das suas essências que

revelam sua invariância. Cada objeto corresponde a essência ou sentido que garantirá o seu

conhecimento com validade necessária e universal. O que fundamenta o objeto é sua essência

e não o texto normativo em si mesmo.

(14)

Mesmo que a Constituição deixe de ser a base do ordenamento jurídico, a ideia, a essência, os

sentidos da Constituição, jamais desapareceriam enquanto sobrevivente à aspiração humana de

ordem e de justiça.

Partindo de uma releitura, suspendendo nosso juízo de valor sobre o seu caráter de validade, e

percepção do objeto tal qual (objeto) se manifesta em nossa consciência, como puro fenômeno,

(neste caso, o fenômeno jurídico) se apresentará desvestido de todas as categorias explicativas

sobre ele, voltar “a coisa mesma”– recomeçar tudo de novo – tal qual se manifesta o fenômeno

jurídico.

Desvelando-se o objeto (fenômeno jurídico) tal qual como se manifesta, a partir daí podemos

falar de verdade jurídica, porque essa verdade jurídica encontra-se no próprio objeto, naquilo

que é, e não nas teorias explicativas que idealizam seu ser nas várias (multiplicidades) de

interpretações13.

É este o objetivo do presente estudo. Aplicar a fenomenologia ao direito, buscando uma nova

explicação e interpretação ao fenômeno jurídico tal qual ele é (sua essência). Apresentar uma

nova forma de interpretar e explicar o direito e o processo.

6.

A NORMA JURIDICA COMO FENOMENO

Podemos afirmar que o fenômeno jurídico se manifesta pela norma porque os dispositivos

jurídicos são criados pelos representantes do povo, que aplicados à uma realidade (ligado a uma

conduta humana) gerará um fenômeno, que deverá ser compreendido e interpretado.

As normas ou qualquer texto passa a ser um fenômeno em si mesmos e necessitam da

compreensão do fenômeno textual que sempre nos remeterá a uma situação de vida real, ou

seja, quando lemos um livro, os seus personagens serão criados em nossa mente ao nosso modo

e, da mesma forma, acontece com os dispositivos legais. São vistos como um fenômeno em si

mesmos e compreendidos no seu todo. Melhor, quando se depara com um texto legal e o

(15)

interpreta, na verdade está se interpretando a própria conduta humana, e para isso é criado uma

imagem da conduta. Isso quer dizer, que ao ler um texto legal se está diante de um caso

concreto, tido como fato jurídico.

7. PROCESSO COMO FENÔMENO

A forma de compreensão ou a forma que poderá ser visualizado o fenômeno jurídico se dará

através do processo e tendo este, fenomenologicamente, uma dimensão instrumental.

O processo não pode ser visto apenas como uma dimensão instrumental do processo, haveria

uma redução a uma peça que pode mascarar uma realidade e reduzir a figura do juiz a um mero

instrumento ou operário que não adiciona nada a ordem substancial, e que apenas aplicará o

resultado do exercício do poder legislativo. Aplica-se a norma sem qualquer interpretação, sem

analisar a sua essência e os sentidos que serão produzidos o fato a ser analisado.

O processo não se reduz só a prova e aos fatos. O processo é atividade de criação do direito.

Não há como uma norma pronta e acabada ser aplicar ao caso concreto.

O processo é o local onde se construirá a norma de decisão (sentença), e ela será o processo

em si mesmo, visto e compreendido como fenômeno ao caso concreto. Esta compreensão do

caso concreto representa, na verdade, a compreensão do próprio processo. É no processo que o

juiz cria e que as partes têm a oportunidade desvelar essa norma.

Portanto, o juiz é o processo, e a norma de decisão é o processo, e se o processo é algo que deve

ser compreendido em si, o processo não pode ser apenas instrumento. Sendo a norma de decisão

a compreensão do fenômeno jurídico processual, é possível concluir que no processo se produz

direito, e que essa produção é a compreensão de um fenômeno, a que chamamos de direito.

O processo (autos) proporciona o desvelamento do ser direito, e esse novo direito que surge da

compreensão do processo representa uma norma de decisão que só será compreendida porque

um ente correspondente e também integrante dos autos é construído: a sentença. Assim, a

(16)

7.

CONCLUSÃO

Passado o jusnaturalismo e o fracasso político do positivismo foi aberto um caminho, ainda a

ser construído, sobre as reflexões acerca do direito, sua função social e sua interpretação.

Em meio a essa evolução do direito, e estando presente no momento político brasileiro surgem

autores que apresentam a teoria do Constitucionalismo Popular e colocam em evidencia o

judicial review pelas Cortes, ou seja, até que ponto as Cortes expressam aos anseios dos

cidadãos.

Os debates dos autores são importantes principalmente quanto ao questionamento da

participação popular nas decisões das Cortes. Mas pensar a Constituição fora das

Cortes/Tribunais não pode significar/sugerir que o papel do Judiciário nos processos de

concretização constitucional não sejam relevantes, mas as decisões devem ser acompanhadas

pelos anseios da sociedade e buscar acima de tudo a efetividade dos direitos constitucionais.

A princípio os tribunais são os autores mais importantes para o funcionamento do sistema

político constitucional. O que se exige é que esses autores tenham um novo olhar sobre o direito,

sua compreensão e sua aplicação não pode ser apenas para dar aplicação ao que foi

construído/editado no Legislativo. Há necessidade que as Cortes façam usos de novos métodos

de interpretação para aplicação do direito ao caso concreto.

A interpretação e aplicação do direito não pode ser feito com base em sujeito/objeto. O direito

se mostra como fenômeno e não pode ser visto apenas como suporte normativo para

fundamentar as decisões. O direito se torna a própria essência do objeto. Se não dermos conta

da essência dos direitos de nada valerá os chamados direitos fundamentais garantidos na

CRFB/88. Muito se falará dos direitos fundamentais, porém, não haverá efetividade por falta

da compreensão da essência dos mesmos.

O fenômeno jurídico manifesta-se pela norma e os dispositivos jurídicos são criados pelos

representantes do povo. Esta norma aplicada a uma realidade gerará um fenômeno que deverá

ser compreendido, interpretado e aplicado à realidade. Mas, de nada adiantará isso, se não

(17)

abrir-se a busca constante dos abrir-seus conhecimentos, e ao povo de exercer o abrir-seu principal papel de

cidadão, através do voto, colocando representantes que de fato estejam comprometidos com a

nação e, acima de tudo, o envolvimento do cidadão como participantes ativos de sua

comunidade.

Assim, o uso da fenomenologia torna-se essencial para essa nova postura hermenêutica. A

superação do método literal da interpretação do direito e a busca da essência do texto legal aos

fatos produzidos faz com que seja aplicada a justiça de acordo com os anseios dos cidadãos

aproximando ainda mais justiça e cidadãos com os direitos fundamentais.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Vozes, 1992.

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Campos Loparié. Os pensadores. Vida e Obra de Husserl. São Paulo: Abril Cultural, 1980. P. 8-12.

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HUSSERL, Edmundo. Meditações cartesianas. Trad. de Maria Gorete Lopes e Souza. Porto: Rés –

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Referências

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