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EMBARGOS DE TERCEIRO PENHORA CITAÇÃO CÔNJUGE

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Tribunal da Relação do Porto Processo nº 0457015

Relator: CUNHA BARBOSA Sessão: 21 Fevereiro 2005 Número: RP200502210457015 Votação: UNANIMIDADE

Meio Processual: APELAÇÃO.

Decisão: CONFIRMADA A SENTENÇA.

EMBARGOS DE TERCEIRO PENHORA CITAÇÃO CÔNJUGE

EXECUTADO OMISSÃO DE PRONÚNCIA PRESUNÇÃO

Sumário

I - A nulidade de sentença, por omissão de pronúncia não ocorre sempre que a apreciação da questão omitida esteja prejudicada pela solução dada a outra questão.

II - A invocação da presunção registral ('juris tantum'), com base em registo definitivo, dispensa o beneficiário de alegar e provar o facto dele constante, sem prejuízo de a parte a quem a mesma é oposta poder alegar e provar o contrário.

III - Os tribunais não podem conhecer por antecipação de questões que se poderão vir a colocar, designadamente quando se não verificam os

pressupostos materiais exigíveis ao seu conhecimento, sem prejuízo de

poderem ser usadas como fundamento para a resolução de outras questões de que devam conhecer.

Texto Integral

Acordam neste Tribunal da Relação do Porto:

1. Relatório:

No Tribunal Judicial de ..., .. Juízo Cível, sob o nº ....-B/2001, por apenso à execução de sentença, com processo sumário, que B..., Ldª, move contra C..., Ldª, e D..., veio E... deduzir embargos de terceiro, nos termos e com os fundamentos seguintes:

- a embargante é casada, no regime de comunhão de adquiridos, com o

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executado D..., sendo que a acção declarativa e executiva foram intentadas apenas contra o executado marido;

- é proprietária e legítima possuidora do imóvel penhorado nos autos de execução, registado na Conservatória do registo Predial de ... sob o nº 000644/961213 do Livro-B, propriedade essa que se encontra registada a seu favor através da ap. 17/970327;

- tal imóvel foi adquirido por doação efectuada por seus pais, em 28.2.97, por escritura celebrada no .. Cartório Notarial de ..., exarada a fls. 16-v a 18, do Livro 26-D, sendo que sobre o mesmo, por si e antepossuidores, vêm

praticando os mais diversos actos de posse, designadamente utilizando-o das mais diversas formas, há mais de 5, 10, 15, 20, 30 e mais anos, à vista e com conhecimento de toda a gente, sem interrupção e oposição de quem quer que seja, na convicção de que exerce um direito próprio, o de propriedade,

ignorando lesar qualquer interesse ou direito de terceiro;

- a exequente, no requerimento de nomeação do imóvel à penhora, não

requereu a notificação da, ora, embargante nos termos e ao abrigo do disposto no artº 825º do CPC.

Conclui pedindo que se declare que «...imóvel penhorado é propriedade exclusiva da embargante, por ser bem próprio da mesma e em consequência anulada a penhora e ordenada a imediata restituição do bem à embargante.».

*

Na sua contestação, a embargada alega, em essência e síntese, que nomeou à penhora o prédio sito à Rua ..., nº ..., ..., ..., descrito na respectiva Conservatória do Registo Predial sob o nº 644, prédio este que é a sede social da executada sociedade, sendo que a embargante apenas goza da presunção registral sobre uma parcela de terreno descrito sob o nº 644 da freguesia de ..., sobre a qual foi construído o prédio urbano que aglutinou o prédio rústico, devendo este ser considerado bem comum do casal, por adquirido na constância do casamento.

Mais alega que não ocorrem factos que permitam a aquisição por usucapião, porquanto, admitindo que a embargante é possuidora de boa-fé, a mesma apenas tem lugar decorridos dez anos da data do registo de aquisição, prazo esse que ainda não decorreu, dada a incorporação do prédio rústico no prédio urbano e atento o registo de tal facto jurídico.

Alega ainda que a falta de requerimento e citação da embargante nos termos do disposto no artº 825º do CPCivil, não tem a relevância pretendida, já que poderia nomear à penhora na mesma execução o mesmo bem, se a penhora viesse a ser anulada, requerendo a citação do cônjuge do executado nos termos daquele dispositivo legal.

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Conclui pela improcedência dos embargos quanto à invocada propriedade exclusiva do bem penhorado e procedente quanto à anulação da penhora por não haver sido requerida a citação nos temos do artº 825º do CPCivil.

*

Procedeu-se à elaboração de despacho saneador/sentença em que se proferiu a seguinte decisão:

“...

Pelo exposto julgo os presentes embargos provados e procedentes e, em consequência, determino o levantamento da penhora ordenada no processo principal quanto aos bens aqui em causa.

...”.

*

Não se conformando com tal decisão, dela a embargada interpôs recurso de apelação e, tendo alegado, formulou as seguintes conclusões:

1ª - A sentença proferida pelo Tribunal de 1ª instância julgou procedente a oposição à penhora mediante embargos de terceiro, deduzidos pelo cônjuge do 2º réu (nos autos principais), tendo por base que o bem penhorado é bem

próprio da embargante, e não bem comum do casal e, em consequência, determinou o levantamento da penhora efectuada;

2ª - Não se conformando com tal decisão, e perante a omissão de pronúncia do tribunal ‘a quo’ acerca de uma questão que lhe competia apreciar, a

embargada interpôs o presente recurso de apelação;

3ª - Em sede de execução de sentença, a ora recorrente nomeou à penhora o prédio sito à Rua ..., nº ..., na freguesia de ..., em ..., que

corresponde à casa de morada de família do 2º executado e da embargante e, simultaneamente, à sede social da 1ª executada;

4ª - Em sede de embargos de terceiro, veio a embargante alegar que é única proprietária do imóvel penhorado, uma vez que o adquiriu por escritura de doação, efectuada pelos seus pais, tendo tal aquisição sido, nesses termos, registada na Conservatória do Registo Predial de ... em 28 de Fevereiro de 1997;

5ª - Ora, de acordo com o que resulta da respectiva certidão, a embargante adquiriu em 1997, por doação, uma ‘parcela de terreno destinada a

construção’, porém, apesar do prédio penhorado estar descrito como rústico, em 27 de Fevereiro de 1998 foi efectuado o averbamento 01 correspondente ao prédio urbano aí construído, e que apenas para efeitos fiscais tem

autonomia do prédio rústico;

6ª - Se é certo que a embargante recebeu, por doação de seus pais, um prédio cuja aquisição nesses termos registou, certo é também que o objecto dessa doação foi uma ‘parcela de terreno’ destinado a construção urbana;

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7ª - Assim, o bem doado à embargante foi o prédio rústico, no qual construiu, juntamente com o seu marido – 2º réu nos autos principais e com quem era casada há 18 anos, no regime de comunhão de adquiridos – habitação que veio a ser a casa de morada de família e, simultaneamente, sede social da 1ª Ré;

8ª - Logo, porque adquirido na constância do matrimónio contraído entre

ambos, aquele prédio urbano não pode deixar de se considerar bem comum do casal, porquanto plenamente integrado na comunhão;

9ª - Mais resulta da certidão da Conservatória do Registo Predial que o prédio rústico tem o valor de Esc.800.000$00, e o prédio urbano tem o valor de

Esc.2.769.000$00, ou seja, o prédio rústico [adquirido pela embargante por doação] assume valor francamente inferior ao do prédio urbano [bem comum do casal edificado no rústico];

10ª - Pelo que, de acordo com o disposto no art. 1726º do Código Civil, o prédio urbano aglutinou o prédio rústico;

11ª - Nestes termos, resulta claro que o bem imóvel penhorado – constituído pelo prédio rústico e pelo prédio urbano nele edificado – é bem comum do casal, sendo, então, susceptível de penhora na acção executiva em que foi nomeado;

12ª - Mais defende o tribunal ‘a quo’ que, ainda que houvesse alcançado solução diversa relativamente à titularidade daquele imóvel, sempre o levantamento da penhora seria determinado, uma vez que, aquando da respectiva nomeação, a ora recorrente não pediu a citação da embargante para requerer a separação de bens comuns do casal, nos termos do artº 825º do C.P.Civil;

13ª - Cumpre, contudo, referir que, na sequência da eventual procedência do presente recurso, caso V. Exas. entendam que aquele bem imóvel como bem comum do casal, sempre poderá a ora recorrente, na mesma execução, vir nomear à penhora o mesmo bem, observando desta feita, a imposição legal constante do artº 825º do C.P.Civil, porquanto no que concerne a esta questão, não há lugar a caso julgado material;

14ª - Ainda em sede de embargos de terceiro, mais veio a embargante alegar factos constitutivos da aquisição por usucapião do imóvel penhorado através da junção da sua posse à dos ‘anteriores proprietários e possuidores’;

15ª - Sendo que a ora recorrente oportunamente contestou, por excepção, tal factualidade, tendo procedido à análise do respectivo regime legal aplicável – artº 1294º, al. a) C.Civil – e, concluindo pela inexistência de fundamento para a invocada aquisição por usucapião, cujo prazo – dez decorridos da data do registo da aquisição – está ainda longe de ser alcançado;

16ª - Pois que a construção do prédio urbano que, pelo seu valor, incorporou o prédio rústico, apenas foi averbada em 27 de Fevereiro de 1998, não podendo

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os antecessores da embargante ter possuído o prédio urbano que foi edificado no rústico, porquanto o mesmo não existia;

17ª - Aliás, isto mesmo resulta da própria certidão da Conservatória do Registo Predial junta aos autos, onde se pode verificar que a autorização de loteamento apenas foi inscrita em 13 de Dezembro de 1996, com base no alvará datado de 10 de Setembro do mesmo ano;

18ª - Porém. na Sentença proferida no âmbito dos presentes autos de

embargos, e da qual ora se recorre, o Tribunal a quo não se pronunciou acerca desta questão, sendo certo que a isto estava obrigado;

19ª - Pois, em sede de embargos de terceiro, veio a embargada suscitar três questões: a exclusividade da propriedade do bem imóvel penhorado; a

aquisição por usucapião daquele bem; e a falta de citação imposta pelo art.

825º do C.P.Civil, tendo a ora recorrente oferecido contestação, na qual se pronunciou acerca das três questões suscitadas;

20ª - Ora, na sentença recorrida, o Tribunal de 1ª Instância limitou-se a apreciar a primeira e a última das questões levantadas pela embargante, olvidando, contudo, a segunda daquelas questões, à qual não fez, sequer, qualquer referência;

21ª - Sendo certo que, apesar de não se ter pronunciado acerca da alegada aquisição por usucapião por parte da embargante, veio, a final, julgar os

“embargos provados e procedentes”;

22ª - O que indubitavelmente consubstancia omissão de pronúncia

relativamente a uma questão sobre a qual o Meritíssimo Juiz do Tribunal a quo estava obrigado a pronunciar-se e, nos termos do disposto no artº 668º, nº 1 alínea d) do C.P.Civil, determina a nulidade da sentença proferida;

23ª - De todo o exposto, resulta que a sentença ora recorrida viola o disposto no art. 659º do Código de Processo Civil, porquanto, ao não aplicar o

preceituado nos arts. 1724º al. b) e 1726º do Código Civil, padece de erro na determinação das normas jurídicas em que se subsumem os factos sub judice, sendo certo que mais padece da nulidade cominada no art. 668º, nº 1, al. d) do Código de Processo Civil.

*

A embargante apresentou contra-alegações, as quais não podem ser consideradas uma vez que, por despacho proferido a fls. 96, foi declarado perdido o direito de praticar o acto.

*

Foram colhidos os vistos legais.

Cumpre decidir.

Assim:

*

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2. Conhecendo do recurso (apelação):

2.1 – Dos factos assentes:

Mostram-se assentes, sendo que como tal foram considerados pela decisão do tribunal de 1ª instância, os seguintes factos:

a) – Aos 24 de Fevereiro de 2003 foi penhorada uma parcela de terreno

destinada a construção urbana, com a área de 300 m2, a confrontar do norte com F..., do sul com Estrada ..., do nascente com caminho e do poente com G..., omisso à matriz urbana e desanexado do nº 00122/140487 da freguesia de ..., ...;

b) – A embargante é casada no regime de comunhão de adquiridos com o executado D...;

c) – A parcela de terreno identificada em a) foi doada à embargante pelos seus pais, através de escritura de doação exarada em 28.2.97 no .. Cartório

Notarial de ...;

d) – A referida parcela de terreno, agora descrita na Conservatória do registo Predial sob o nº 00644/961213 e inscrita na matriz urbana da freguesia de ... sob o artigo 1040, encontra-se inscrita a favor da embargante pela inscrição G.2 desde 27.3.97.

2.2 – Dos fundamentos do recurso:

De acordo com as conclusões formuladas, as quais delimitam o objecto do recurso (cfr. arts. 684º, nº 3 do CPCivil), mau grado a sua extensão, temos que são três as questões a resolver no âmbito do presente recurso de apelação:

nulidade de sentença por omissão de pronúncia; natureza comum ou própria do bem penhorado; admissibilidade ou não de penhora do mesmo bem e na mesma execução, após anulação da primeira penhora por falta de

requerimento e citação do cônjuge do executado nos termos do artº 825º do CPCivil .

Vejamos cada uma delas.

a) – Da nulidade de sentença por omissão de pronúncia:

Pretende a apelante que o saneador/sentença proferido enferma de nulidade por omissão de pronúncia, nos termos do disposto na al. d) do nº 1 do artº 668º do CPCivil, porquanto não conheceu de questão suscitada,

designadamente da aquisição por usucapião do direito de propriedade sobre o imóvel penhorado, invocada pela apelada.

Não há dúvida que, de acordo com o disposto no artº 668º, nº 1, al. d) do CPCivil, a sentença é nula sempre que deixe de pronunciar-se sobre questões que devesse apreciar, aliás, em consonância com o disposto no artº 660º, nº 2 do mesmo diploma legal, segundo o qual o juiz deve resolver todas as questões que as partes tenham submetido à sua apreciação.

Mas será que ocorre, no caso concreto, o vício referido?

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Afigura-se-nos que, salvo melhor opinião, a resposta deverá ser negativa, como se procurará demonstrar.

É verdade que a apelada/embargante, na sua petição de embargos, invocou a aquisição por usucapião do direito de propriedade sobre o imóvel penhorado, alegando a factualidade pertinente; todavia, fê-lo após ter invocado existir a seu favor o registo de propriedade sobre o mesmo imóvel, beneficiando, por via disso, da presunção registral, pelo que a alegação da factualidade inerente à invocada aquisição por usucapião se haverá de conter, quando muito, numa medida de mera cautela e para a hipótese de poder vir a ser afastada a

presunção invocada.

Na realidade, de acordo com a matéria de facto assente, a embargante/

apelada dispõe de registo definitivo a seu favor do direito de propriedade sobre o imóvel penhorado, pelo que, nos termos do disposto no artº 7º do CRPredial, goza da invocada presunção, isto é, de que o direito existe e pertence ao titular inscrito.

Por isso, mau grado a referida presunção ser ‘juris tantum’ e,

consequentemente, ilidível mediante prova em contrário, a embargante/

apelada estava dispensada de provar o facto a que a mesma conduz, pendendo sobre a apelante/embargada o ónus de alegar e provar o contrário, como seja, de que o registo não corresponde à verdade material – cfr. arts. 350º e 344º, nº 1 do CCivil.

Daí que a alegação da aquisição por usucapião que veio a ser concretizada pela embargante/apelada, na sua petição de embargos, se haja de ter por prejudicada em função do invocado registo a seu favor, constituindo uma mera cautela ou impugnação por antecipação do que pudesse vir a ser alegado pela embargada/apelante, como lhe cumpria, no sentido de demonstrar o contrário, isto é, que o registo não correspondia à verdade material, ao que não bastava a mera impugnação que veio a ser concretizada pela embargada, pois, como já se deixou referido, era sobre ela que impendia o ónus de alegar e provar o contrário.

Ora, não tendo a embargante concretizado tal dever, subsistia a plena eficácia do registo definitivo invocado e a inerente presunção, o que de forma correcta veio a ser considerado no saneador/sentença sob recurso, prejudicada ficando a obrigação de pronúncia expressa sobre a mencionada questão, porquanto, nos termos do disposto no artº 660, nº 2 do CPCivil, o juiz não tem que

resolver questões cuja decisão esteja prejudicada pela solução dada a outras.

Assim, haver-se-á de concluir que não ocorre a invocada omissão de pronúncia e, por consequência, inexiste a pretendida nulidade de sentença,

improcedendo, desta forma, a apelação nesta parte.

b) – Da natureza comum ou própria do bem penhorado:

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Na decisão sob recurso, entendeu-se que o imóvel penhorado era bem próprio da embargante/apelada (cônjuge do executado), pretendendo a embargada/

apelante que o mesmo é bem comum já que, apesar de a embargante e executado terem casado um com o outro sob o regime de comunhão de

adquiridos, o mesmo foi adquirido ou construído por ambos na constância do casamento, porquanto por eles foi construído numa parcela, essa sim, bem próprio da embargante/apelada e por ela adquirida em função de doação de seus pais.

Afigura-se-nos que não assistirá razão à apelante/embargante.

Desde logo, porque a apelante/embargada labora em manifesto equívoco.

Na realidade, como resulta do auto de penhora (cfr. fls. 38 do processo de execução) e se encontra dado como assente, o imóvel efectivamente

penhorado tem a seguinte descrição: «Rústico – Rua ..., ... – Parcela de terreno, destinada a construção urbana, com a área de 300 m2 – lote nº . – Norte: F...; Sul: Estrada ...; Nascente: caminho; Poente: G... . Omisso à matriz urbana, mas participada. Valor: 800.000$00. (Desanexado do nº 00122/140487).».

Sucede que a apelante/embargada pretende, alegando com base em tal

pressuposto, que se encontra penhorado um edifício que terá sido implantado sobre a mencionada parcela e foi construído por ambos os cônjuges

(executado e embargante) na pendência do casamento.

Não há dúvida que, como resulta do requerimento apresentado pela apelante/

embargada, na execução e a fls. 11, esta requereu a penhora «...do prédio sito à Rua ..., nº ..., na freguesia de ..., em ..., descrito na respectiva Conservatória do Registo Predial sob o nº 644, a favor do 2º executado – D... e esposa, E...».

Porém, no seguimento de tal requerimento, tendo sido deprecada a requerida penhora à Comarca de ..., veio a ser lavrado um ‘auto de diligências para penhora’ em que consta que «...Relativamente ao número ... da Rua ...

nesta freguesia de ..., o mesmo corresponde à habitação do informante, de nome H... ...».

Notificada de tal ‘auto de diligências para penhora’, a apelante/embargada (exequente) insistiu na realização da penhora requerida – cfr. fls. 31 e 32 da execução, no seguimento do que veio a ser realizada a penhora supra

mencionada, isto é, na ‘parcela de terreno’, que já não em qualquer edificação como pretende a apelante.

Assim, penhorada que se encontra a referida parcela, a mesma é bem próprio da embargante/apelada, como, aliás, a própria apelante/embargada

reconhece, já que foi doada à embargante/apelada pelos seus pais, através de escritura de doação exarada em 28.2.97 no .. Cartório Notarial de ...,

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sendo que embargante e executado são casados um com o outro sob o regime de comunhão de adquiridos – cfr. artº 1722º, nº 1, al. b) do CCivil,

improcedendo, desta forma e quanto a este aspecto, a apelação.

c) – Da admissibilidade ou não de penhora do mesmo bem e na mesma execução, após anulação da primeira penhora por falta de requerimento e citação do cônjuge do executado nos termos do artº 825º do CPCivil:

A questão, assim, enunciada não foi objecto de qualquer decisão do tribunal de 1ª instância, designadamente da que é objecto do presente recurso

(saneador/sentença), pelo que, não constituindo a mesma questão de que esta Relação deva conhecer oficiosamente, dela se não poderá conhecer,

porquanto, como é sabido e é jurisprudência uniforme (cfr., por todos, Ac. do STJ de 9.3.93, BMJ 347, pág. 363), os recursos destinam-se a obter o reexame de questões já submetidas à apreciação dos tribunais inferiores e não para criar decisões sobre matéria nova, que não foi objecto, por não submetida, de decisão, no caso, do tribunal de 1ª instância.

Na realidade, como se pode ver da decisão recorrida, aí tão só se afirmou que, mesmo a entender-se que o bem penhorado era bem comum, sempre os

embargos haveriam de proceder, porquanto, ao nomeá-los à penhora, a

exequente não havia requerido a citação do cônjuge não executado nos termos e para os efeitos do disposto no artº 825º do CPCivil.

Tal entendimento é, aliás, sufragado pela própria apelante/embargada, pois na sua contestação de embargos conclui da seguinte forma:

“...

Termos em que deve a presente contestação ser julgada procedente por provada, determinando, em consequência, a procedência parcial dos embargos de terceiro deduzidos, ou seja:

...

Julgar procedente a anulação da penhora efectuada, porquanto a aqui embargante, cônjuge do executado D..., não foi citada da nomeação à penhora de bens comuns do casal na execução movida contra este último, nos termos e para os efeitos do disposto no nº 1 do art. 825º do Código de

Processo Civil.

...”

Daí que se possa até afirmar que a apelante/embargada, quanto a este aspecto carece de interesse ou legitimidade para recorrer, porquanto, a ser essa a decisão a prevalecer, sempre a mesma estaria de acordo com o propugnado por aquela.

Acresce que a questão enunciada carece, desde já, de qualquer relevância, tratando-se de questão meramente académica, porquanto ainda não foi

praticado qualquer acto que implique o seu conhecimento, quer pelo tribunal

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de 1ª instância quer por esta Relação, designadamente não foi requerida a penhora de novo sobre o mesmo bem, nem, óbvia e consequentemente, foi proferida qualquer decisão que a apreciasse, sendo sempre certo que à formulação de um tal requerimento se tornava necessário que houvesse decisão, com trânsito em julgado, que anulasse a penhora com o invocado fundamento, isto é, se tratasse de bem comum e não tivesse sido requerido, aquando da sua nomeação à penhora, a citação do cônjuge não executado nos termos e para os efeitos do disposto no artº 825º, nº 1 do CPCivil.

Por isso, admitindo-se, ainda que por mera necessidade de raciocínio, que seja possível nova penhora sobre bem comum anteriormente penhorado, penhora esta que veio a ser anulada e levantada por no requerimento de nomeação não se ter requerido a citação do cônjuge não executado ao abrigo do artº 825º, nº 1 do CPCivil, tal questão não tem que ser conhecida ou decidida desde já, porquanto não ocorrem os pressupostos que o determinem, ‘minime’ os pressupostos materiais que o determinariam, como seja, estarmos perante requerimento de nova penhora sobre o mesmo bem comum e na mesma execução, após anulação de anterior penhora sobre esse bem nos termos supra referidos.

Assim, a mencionada questão não foi nem podia ser colocada directamente nos presentes embargos, pelo que sobre ela não recaiu qualquer decisão, como não podia recair, e, bem assim, carece a mesma de qualquer relevância ao nível da decisão dos embargos, pelo que o seu conhecimento se encontra não só prejudicado, como até vedado.

Concluindo, temos que a apelação, também e quanto a esta parte, improcede.

*

Concluindo e resumindo:

- A nulidade de sentença, por omissão de pronúncia, não ocorre sempre que a apreciação da questão omitida esteja prejudicada pela solução dada a outra questão.

- A invocação da presunção registral (‘juris tantum’), com base em registo definitivo, dispensa o beneficiário de alegar e provar o facto dele constante, sem prejuízo de a parte a quem a mesma é oposta poder alegar e provar o contrário.

- Os tribunais não podem conhecer por antecipação de questões que se poderão vir a colocar, designadamente quando se não verificam os pressupostos materiais exigíveis ao seu conhecimento, sem prejuízo de

poderem ser usadas como fundamento para a resolução de outras questões de que devam conhecer.

*

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3. Decisão:

Nos termos supra expostos, acorda-se em:

a) - julgar improcedente a apelação, confirmando-se a sentença recorrida;

b) – condenar a apelante/embargada, nas custas do recurso.

*

Porto, 21 de Fevereiro de 2005 José da Cunha Barbosa

José Augusto Fernandes do Vale António Manuel Martins Lopes

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