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O imaginário de um grupo de avós idosos responsáveis por seus netos, alunos em vulnerabilidade, em uma escola : a relação com a escola e os reflexos em suas vidas

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Academic year: 2017

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Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em

Gerontologia

O IMAGINÁRIO DE UM GRUPO DE AVÓS IDOSOS

RESPONSÁVEIS POR SEUS NETOS, ALUNOS EM

VULNERABILIDADE, EM UMA ESCOLA: A

RELAÇÃO COM A ESCOLA E OS REFLEXOS EM

SUAS VIDAS

Autora: Lúcia Helena Bueno da Fonseca

Orientadora: Profa. Dra. Altair Macedo Lahud Loureiro

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LÚCIA HELENA BUENO DA FONSECA

O IMAGINÁRIO DE UM GRUPO DE AVÓS IDOSOS RESPONSÁVEIS POR SEUS NETOS, ALUNOS EM VULNERABILIDADE, EM UMA ESCOLA: A RELAÇÃO COM A ESCOLA E OS REFLEXOS EM SUAS VIDAS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Gerontologia da Universidade Católica de Brasília - UCB como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Gerontologia.

Orientadora: Profa. Dra. Altair Macedo Lahud Loureiro

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Dissertação de autoria de Lúcia Helena Bueno da Fonseca, intitulada “O imaginário de um grupo de avós idosos responsáveis por seus netos, alunos em vulnerabilidade, em uma escola: a relação com a escola e os reflexos em suas vidas”, apresentada como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Gerontologia da Universidade Católica de Brasília, em ____ de _____ de 2014, defendida e aprovada pela banca examinadora abaixo assinada:

____________________________________________________________

Profa. Dra. Altair Macedo Lahud Loureiro Orientadora

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, a Deus, por me manter forte mesmo nos momentos mais difíceis dessa trajetória.

Agradeço a todos os meus familiares que souberam entender minhas ausências, sacrificando o convívio familiar pela realização de um sonho.

Aos amigos, pela força e compreensão nas ausências e no acúmulo de trabalho que por diversas vezes foram relevados. Em especial, a minha amiga Prof.ª Mcs. Fabiana, companheira de bibliotecas, de angústias e cansaço.

Aos mestres do Programa Stricto Sensu em Gerontologia da Universidade Católica de Brasília.

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RESUMO

FONSECA, Lúcia Helena Bueno da. O imaginário de um grupo de avós idosos responsáveis por seus netos, alunos em vulnerabilidade, em uma escola: a relação com a escola e os reflexos em suas vidas. 2014. 85 f. Dissertação (Mestrado em Gerontologia) - Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2014.

Esta dissertação teve como objetivo levantar o imaginário de um grupo de avós de alunos em vulnerabilidade em uma escola. Foi levantado o imaginário de seis avós com 60 anos ou mais, responsáveis por netos em vulnerabilidade, por meio de entrevistas abertas. Foi levantado, também, o imaginário de um representante da direção da escola com o Arquétipo Teste dos Nove Elementos, o teste AT-9 de Y. Durand, e uma entrevista aberta. A pesquisa está integrada ao projeto “O imaginário de grupos de avós-idosos e a qualidade de vida -

avosidade”. A pesquisa se caracterizou como uma pesquisa qualitativa. As falas dos avós do

grupo foram analisadas sob o entendimento da Antropologia do Imaginário de G. Durand, teoria na qual se buscou saber como esses avós veem a vida, seus problemas, e os reflexos da postura da escola para com eles na sua qualidade de vida. Após a análise dos dados, o universo mítico foi desvelado como um imaginário com estrutura Sintética, deixando ver traços de desestrutura.

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ABSTRACT

FONSECA, Lúcia Helena Bueno da. The imaginary of a group of elderly grandparents responsible for their grandchildren, students in vulnerability, in a school: the relationship with the school and the reflections on their lives. 2014. F 86. Dissertation (Masters in Gerontology) - Universidade Católica de Brasília, Brasilia, 2014.

This dissertation aimed to raise the imaginary of a group of students’ grandparents in vulnerability at a school. The imaginary of six grandparents with 60 years old or more, responsible for grandchildren in vulnerability, through open interviews, was raised. It was also raised the imaginary of a representative from the school management with the Archetype Test of Nine Elements, the AT-9 Y. Durand test, and an open interview. The research is built into the project "The imaginary of groups of elderly grandparents and quality of life - grandparenty". The survey was conducted along the lines of qualitative research. The speeches of the grandparents in the group were analyzed with the understanding of the G. Durand Imaginary Anthropology, theory in which we attempted to know how these grandparents see life, face or not their problems, and the consequences from the school`s attitude regarding their quality of life. After analyzing the data, the mythical universe was unveiled as an imaginary with Synthetic structure, revealing traces of unstructured.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 9

2 JUSTIFICATIVA ... 12

3 OBJETIVOS ... 14

3.1 OBJETIVO GERAL ... 14

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ... 14

4 MÉTODO ... 15

4.1 NATUREZA DA PESQUISA ... 15

4.2 A POPULAÇÃO ... 15

4.3 PROCEDIMENTOS PARA A OBTENÇÃO DE DADOS ... 16

4.4 INSTRUMENTOS ... 16

4.5 LOCAL DO ESTUDO: CONTEXTUALIZAÇÃO ... 17

5 PILARES TEÓRICOS ... 19

5.1 TEORIA DO IMAGINÁRIO ... 19

5.2 O ARQUÉTIPO TESTE DOS NOVE ELEMENTOS ... 23

5.3 ANTROPOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES E HERMENÊUTICA ... 24

5.3.1 A escola como organização ... 24

5.4 HERMENÊUTICA ... 26

6 TEORIA GERONTOLÓGICA ... 29

6.1 A HISTÓRIA DA VELHICE ... 29

6.2 A VELHICE ... 29

6.3 AVOSIDADE ... 33

6.4 A INTERGERACIONALIDADE ... 36

7 ENTREVISTAS E ANÁLISES ... 40

7.1 ENTREVISTAS ... 40

7.1.1 Entrevista da avó Vega ... 40

7.1.1.1 Análise da fala da avó Vega ... 42

7.1.2 Entrevista da avó Adara ... 44

7.1.2.1 Análise da fala da avó Adara ... 47

7.1.3 Entrevista da avó Lyra ... 49

7.1.3.1 Análise da fala da avó Lyra ... 51

7.1.4 Entrevista do avô Sirius ... 53

7.1.4.1 Análise da fala do avô Sirius ... 54

(9)

7.1.5.1 Análise da fala da avó Carina ... 59

7.1.6 Entrevista da avó Antares ... 61

7.1.6.1 Análise da fala da avó Antares ... 62

7.1.7 Teste AT-9 realizado com Dalva ... 63

7.1.8 Entrevista com Dalva da EPC/PROEM-DF ... 66

8 INTERPRETAÇÃO GERAL DOS DADOS ... 71

8.1 Análise Estrutural: identificação durandiana dos microuniversos míticos ... 71

8.2 A escola e os avós ... 72

8.3 Os avós e seus netos ... 74

9 (IN)CONCLUSÃO ... 75

REFERÊNCIAS ... 79

APÊNDICE A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ... 83

ANEXO A - Parecer Consubstanciado do CEP... 84

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1 INTRODUÇÃO

A organização é entendida com várias dimensões que se completam com elementos diferentes que interagem de forma recíproca e complementar, que sofre alterações constantes com seus iguais e seus diferentes (LOUREIRO, 2004).

O fenômeno da velhice e o processo de envelhecimento acontecem de forma multidisciplinar e multidimensional.

Assim entendido, vêm sendo tratados nos aspectos biológico, psicológico, econômico e sociocultural, que se interligam formando uma grande teia de complexidade. Aqui, esses aspectos foram tratados à luz da Antropologia do Imaginário de Gilbert Durand (1989), que entende o ser humano na sua totalidade, procurando compreender como a pessoa humana interpreta o mundo, quer dizer: a visão de mundo de cada um e/ou dos grupos. Daí ter-se adotado tal teoria para conhecer a visão de mundo daquele grupo eleito na pesquisa com idosos, avós que se ligam à escola por meio dos seus netos diferenciados.

Nesta pesquisa, foi levantado o imaginário de um grupo de avós idosos - imaginário entendido como a dimensão simbólica, uma das dimensões a ser considerada na complexidade da organização de uma escola, responsáveis por seus netos, alunos em vulnerabilidade, na vida e em uma escola, neste caso na Escola do Parque da Cidade/Promoção Educativa de Menores do Distrito Federal - a EPC/PROEM-DF.

A EPC/PROEM-DF é uma escola destinada a atender alunos em estado de exclusão social e defasagem idade/série. Nessa escola, foram buscados esses idosos, avós que, apesar da idade e dos muitos filhos já criados, se apresentam como responsáveis por seus netos.

G. Durand (1989) cria a teoria do imaginário e trata do trajeto antropológico - entendido como a simbiose entre as pulsões subjetivas (interiores) somadas com as intimações (exteriores) do meio cósmico social. Nesse trajeto, identifica as imagens representacionais que formam as estruturas do imaginário, estruturas que evidenciam como a pessoa vê a vida e se porta frente aos problemas que se lhes apresentam.

Fica entendido, então, que a velhice é diferente para cada indivíduo que a vive de forma desigual, seja do ponto de vista familiar, financeiro, social, psicológico, econômico, dependendo também das suas aspirações e sonhos. A matriz de tempo e espaço interfere no

imaginário. “Convém, no entanto, lembrar que a velhice não é apenas uma categoria de idade

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A pesquisa relacionou com postura interdisciplinar a gerontologia, o imaginário e a avosidade. Foram prestigiadas as falas dos avós nos depoimentos espontâneos, para neles desvelar os microuniversos míticos, quando também foi levantado o imaginário de um representante da direção da escola, por meio do Arquétipo Teste dos Nove Elementos - AT-9.

Foram considerados, também, dados da pesquisa de Saito (2013), desenvolvida na mesma escola. Os dados obtidos com a participação dos sujeitos, avós idosos, foram analisados à luz da Antropologia do Imaginário de G. Durand (1989), prestigiando o holonômico1, o todo.

Considera-se que o imaginário é o conjunto relacional de imagens; que o imaginário subjaz a todo e qualquer pensamento, palavra ou ação. Paula Carvalho (1990) explicita que o imaginário deve ser considerado na organização, prestigiando, assim, a dimensão simbólica.

Segundo Chaves (2000, p. 17), “Na Antropologia das Organizações a escola é considerada um sistema sociocultural, um sistema simbólico, constituído por grupos com uma vivencia real e relacional de códigos e sistemas de ação”.

Paula Carvalho (1990) tratou das organizações de forma transdisciplinar em um triângulo indivíduo/sociedade/espécie. Essa forma busca a “organizacionalidade” - uma organização aberta sempre se fazendo e refazendo - de uma organização educacional. O autor

considera a dimensão simbólica pelas “práticas simbólicas e educativas articuladas como

imaginário sociocultural e organizacional” (PAULA CARVALHO, 1990, p. 17).

Esta dissertação oferece seus resultados para a possível inclusão, se aceita pela escola, ou respeito do imaginário como dimensão simbólica na organização da mesma, palco da investigação. O que se buscou com o desenvolvimento desta pesquisa – que faz parte de um

projeto maior intitulado: “O imaginário de grupos de avós-idosos e a qualidade de vida -

avosidade”2 - foi saber se e como a escola está percebendo a presença desses avós idosos em seu cenário escolar.

A presente dissertação está estruturada em três partes:

Na primeira parte, constam as questões de método e de temática, em que são apresentados os objetivos da investigação, o caminho metodológico da pesquisa, sua natureza, a população envolvida, os procedimentos para a obtenção dos dados e os instrumentos.

1Holon, palavra criada por Artur Koestler para designar subsistemas que são, simultaneamente, “todos” e “partes”, e enfatizou que cada “holon” tem duas tendências opostas: uma com tendência integrativa, que

funciona como parte do todo maior, e uma tendência autoafirmativa, que preserva a sua autonomia individual (PAULA CARVALHO, 1990, p. 213).

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A segunda parte contém os pilares teóricos que apoiam a análise dos dados: a Antropologia do Imaginário de Gilbert Durand, a Antropologia das Organizações e Educação e a Teoria Gerontológica, notadamente quando se refere à avosidade e à intergeracionalidade. A terceira parte traz as falas dos avós idosos, sujeitos da pesquisa, com suas respectivas análises, realizadas segundo a Antropologia do Imaginário de G. Durand (1989), a entrevista e o imaginário de um representante da direção da escola, levantado por meio do Arquétipo Teste dos Nove Elementos, AT-9, de Yves Durand, uma entrevista aberta.

As considerações finais se sustentam nos resultados obtidos das análises como sugestão a serem seguidas por essa escola para uma Organizacionalidade Antropolítica3, em que é considerado o imaginário de um grupo de idosos/avós que se responsabilizam por seus netos/alunos. Apresenta ainda uma (in)conclusão em resposta aos objetivos perseguidos.

A dissertação se completa com as referências bibliográficas, o apêndice e os anexos.

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2 JUSTIFICATIVA

[...] jamais se pode ter a pretensão de esgotar num sistema lógico a totalidade do real, mas tem a vontade de dialogar com o que resiste, com a complexidade ligada a contradições lógicas (MORIN, 2011, p.70).

Como enfermeira, agora voltada ao estudo da gerontologia, sempre houve dedicação no conhecimento da realidade o entendimento e a compreensão do fenômeno da velhice e do processo de envelhecimento, bem como o conhecimento das realidades das pessoas idosas em suas diferentes situações. A situação aqui abordada é a de pessoas idosas, seis avós de netos/alunos em vulnerabilidade de uma escola do DF.

Trata-se de uma ação complexa.

O interesse em abordar a realidade complexa de um grupo de idosos, avós que se encontram na escola por serem os responsáveis legais ou não de seus netos, alunos em vulnerabilidade, nasceu da vontade de conhecer o seu imaginário e saber como a escola considera, acolhe, saber como esses avós se sentem nesse papel, nem sempre escolhido por eles, mas assumido pelas circunstâncias da vida, e saber até que ponto essa situação interfere em sua qualidade de vida.

A Antropologia do Imaginário deu o tom para esta pesquisa, pois, conforme G. Durand (1989), ele, o imaginário, está presente sempre de forma anterior às atitudes e ações dos seres humanos. Buscou-se decodificar as mensagens simbólicas impressas nas palavras e por elas chegar ao imaginário destes avós com netos em situação de risco, matriculados na escola em pauta.

No trabalho de Enfermagem, cuidando de velhos, e na Tutoria de uma Escola de Enfermagem, participando na formação de novos enfermeiros, não mais satisfaziam os conhecimentos enraizados somente na razão, necessitando ir além dos processos bióticos. Assim, neste estudo, foi percebido um paralelo de realidades muito diferentes, mas que podem fazer um encontro nos conhecimentos: escola/avó/alunos-netos e hospital/velhos/doentes. Em ambas as situações, os velhos se encontram em organizações.

Esta dissertação buscou saber se a EPC/PROEM-DF está considerando, na sua organização, o imaginário dos avós de seus alunos.

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Compreende-se a velhice como um processo de transformações biopsíquicas e socioculturais que ocorrem ao longo dos anos, pleno de desejos e aspirações, que vão além do concreto da cultura patente, que interage com o meio cósmico.

Assim, buscou-se, no universo da escola e na realidade da avosidade, aqui expressa na relação avós/netos, aluno em vulnerabilidade, entender melhor o universo hospitalar, o universo diário do hospital e a realidade velho/doente e a consideração do imaginário nas organizações.

Portanto, escutar as vozes desse grupo de avós idosos, diferenciados em suas situações de vida, leva, por extensão, a entender como melhorar as organizações, considerando a presença do ser humano envelhecido nelas, respeitando a dimensão simbólica nas organizações.

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3 OBJETIVOS

3.1 OBJETIVO GERAL

Levantar o imaginário de um grupo de avós idosos de alunos em vulnerabilidade em uma escola.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 Colher as falas dos avós idosos componentes do grupo sujeito da pesquisa, identificando nelas (nas falas) a estrutura ou desestrutura do imaginário que caracteriza os microuniversos míticos de cada sujeito e o universo mítico do grupo dos avós considerados na pesquisa.

 Considerar a postura da escola quanto à presença do grupo de avós no seu cotidiano.

 Saber como a postura da escola é entendida pelos idosos do grupo de avós.

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4 MÉTODO

O tempo pode apagar lembranças de um corpo ou de um rosto, mas nunca a memória daquelas pessoas que souberam fazer de um pequeno instante, um grande momento. (Charles Chaplin)

Partindo do pressuposto durandiano e bachelardiano de que o imaginário é a constante troca entre as “pulsões subjetivas” e assimiladoras (interiores) e “as intimações” (exteriores)

advindas do meio “cósmico e social” (DURAND, G., 1989, p. 29); de que essa troca é

dinâmica e organizadora e que, dependendo de como se organizam suas representações de imagens, pode-se modificar o mundo, recriando-o cotidianamente (LOUREIRO, 2004; TEIXEIRA, 2010); de que as organizações, segundo Paula Carvalho (1990), organizam sua estrutura mediante informações consideradas das interações indivíduo/sociedade/espécie, os objetivos explicitados orientam a presente pesquisa.

4.1 NATUREZA DA PESQUISA

Esta é uma pesquisa de natureza qualitativa, com a preocupação de responder a questões muito particulares, com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Trabalhou-se com o universo dos significados, das crenças, dos valores e atitudes dos avós entrevistados e do representante da direção da escola.

Para Minayo (2007, p. 21), “Esse conjunto de fenômenos humanos é entendido aqui como parte da realidade social, pois o ser humano se distingue não só por agir, mas por pensar sobre o que faz e por interpretar suas ações dentro e a partir da realidade vivida e partilhar com seus semelhantes”.

4.2 A POPULAÇÃO

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participantes, como se segue: Vega, Adara, Lyra, Sirius, Carina, Antares e Dalva, nome fictício atribuído à representante da escola.

4.3 PROCEDIMENTOS PARA A OBTENÇÃO DE DADOS

Esta pesquisa está integrada a uma pesquisa maior, conforme já esclarecido. A participação dos avós se deu de forma aleatória, por consulta com os netos durante visitas realizadas à escola. Todos os avós tiveram a livre escolha de participar da pesquisa, depois de explicado o objetivo da mesma e terem assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Somente uma das avós contou com a ajuda do neto, maior de idade, para a leitura do Termo, pois não sabia ler, e posteriormente assinou o TCLE.

A entrevista e o AT-9 do representante da direção da escola foram realizados após o esclarecimento sobre a pesquisa e a leitura do TCLE. Também foi solicitada a permissão da direção da escola para efetuar a pesquisa (Anexo B).

4.4 INSTRUMENTOS

Para a obtenção dos dados da pesquisa, foi utilizada a entrevista não estruturada com os seis avós e com um representante da escola. Conforme Figueredo e Souza (2011), entrevista é uma conversa entre o informante e o pesquisador com o objetivo de colher informações significativas para o tema estudado. Gil (2010) afirma que é mais flexível e pode assumir diferentes formas, dentre elas a informal, quando se distingue da simples conversação, focalizada quando o tema tratado é específico. A opção por essa técnica deu-se pela necessidade de se obter informações que podem ser fornecidas por um grupo de pessoas e por apresentar maior flexibilidade.

Nas análises das entrevistas, foi considerada a Antropologia do Imaginário, os preceitos do teste AT-9 como uma hermenêutica (interpretação) para dar “sentido” às falas dos avós. Procurou-se fazer uma leitura entre o sentido literal e o sentido figurado, dando harmonias às falas e entendimento do leitor (PAULA CARVALHO, 1998). Todas as escutas foram gravadas com a permissão dos participantes, exceto da avô Antares, que se sentiu insegura para tal.

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do teste pelo sujeito-autor do mesmo, permitindo levantar e conhecer as representações de imagens e símbolos e desvendar as representações imagético-simbólicas.

4.5 LOCAL DO ESTUDO: CONTEXTUALIZAÇÃO

[...] aqui são muitos desafios [...] contamos com uma equipe pequena [...] que demandam um desgaste emocional e físico [...] aqui nós chamamos de escola de final de linha [...] a maioria das escolas já rejeitou, não tiveram sucesso [...] nossa escola é uma escola especial, então é um desafio mesmo.

A EPC/PROEM-DF surgiu no ano de 1981, preocupada com a formação de cidadãos criativos por meio de uma concepção freireana4, partindo de discussão entre educadores em um processo democrático. A escola está voltada para a educação integral dos jovens adolescentes, entre 11 e 18 anos, em vulnerabilidade social e pessoal, com uma proposta de diminuir a defasagem idade/série, na tentativa de reinserir esse jovem no seu meio social. Assim, a EPC/PROEM-DF encontra-se inserida em um projeto que mostra seu papel social e transformador de realidade (DISTRITO FEDERAL, 2010).

A EPC/PROEM-DF, que possui uma proposta de aprendizagem diferenciada, traz um currículo variado e uma estrutura flexível, que possibilita o aluno abreviar seu tempo escolar. As salas de aula possuem um número reduzido de alunos, que são considerados com um olhar mais humanizado e diferenciado, ocasionando um acompanhamento detalhado em todo o processo educativo. O avanço escolar acontece de forma particularizada. Com esse trabalho, a escola procura desenvolver, além do processo de aprendizagem, as potencialidades humanas.

O acompanhamento diário e individualizado do estudante oportuniza a escola observar a formação de atitudes e hábitos, com participação nas atividades diárias, desenvolvendo a autoestima, integração junto à escola (DISTRITO FEDERAL, 2010). Neste sentido, pôde-se observar, por exemplo, que os momentos das refeições são aproveitados como uma forma de criar hábitos saudáveis e de respeito às regras sociais.

Segundo Loureiro (2006), toda escola deve ser transformadora em suas ações, mudar as visões de mundo, atualizar-se, mas, principalmente, criar uma construção crítica diminuindo ou eliminando “os complexos de cultura” (BACHELARD apud LOUREIRO, 2006, p. 26).

4 Paulo Freire acreditava que o único caminho para humanizar a sociedade é pela educação. Contudo, não por

meio de uma pedagogia “bancária”, que apenas beneficiou as elites do país, mas por uma educação libertadora,

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A EPC/PROEM-DF se dedica à formação de atitudes éticas, morais e de cidadania, lutando em defesa da ressocialização e recuperação da defasagem escolar desses alunos. Os valores considerados pela escola na reabilitação e reinserção social dos alunos podem modificar o comportamento social e o convívio desses aluno/netos com seus avós.

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5 PILARES TEÓRICOS

5.1 TEORIA DO IMAGINÁRIO

O imaginário encontra-se subjacente ao modo de ser, sentir e agir dos indivíduos e da cultura (NOGUEIRA, 2005, p. 101).

Tratar do imaginário de seis avós idosos, ouvindo suas declarações sobre as suas próprias vidas, seus anseios, suas conquistas, seus fracassos e suas esperanças, fez com que se percebesse a necessidade que esses idosos têm de serem ouvidos e considerados. Todos eles contaram suas histórias, reviveram o passado, aceitando ou não seu presente, no qual mostraram a necessidade de continuar vivendo e cuidando de seus netos, depois de terem criado vários filhos.

Para tratar do imaginário, G. Durand (1989) fundamentou sua teoria em teóricos como Gaston Bachelard, Georges Dumézil, Sigmund Freud, Henri Bergson, Jean Piaget, dentre outros, descrevendo o imaginário como: “[...] o conjunto das imagens e das relações de imagens que constitui o capital pensado do homo sapiens [...]” (DURAND, G., 1989, p. 14).

Enfrentar o problema da temporalidade - a angústia do passar do tempo - e o medo da morte é a preocupação primeira de toda pessoa. Quer dizer: a curiosidade das origens, a certeza da morte, a realidade do tempo que se move, que passa, fazem com que o ser humano descubra, em si, o medo, a angústia e a necessidade alienada de se pensar imortal e de vencer o tempo (LOUREIRO, 2004, p.16).

G. Durand (1989) tratou o imaginário pela visão das ciências que estuda o ser humano, e buscou, por meio do “trajeto antropológico”, fazer a junção entre a Natureza e a Cultura, por meio do símbolo que atua como mediador entre os dois polos reversíveis.

O autor define o trajeto antropológico como: “a incessante troca que existe ao nível do imaginário entre as pulsões subjetivas e assimiladoras e as intimações objetivas que emanam do meio cósmico e social” (DURAND, G., 1989, p.29).

A certeza da morte e o conhecimento do tempo que passa faz com que o homem necessite dar sentido a sua existência. Assim, ele procura significados ligados a sua cultura e a seu ambiente, e estes formam o trajeto antropológico, simbiotizando com o seu interior.

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‘é essencialmente dinâmico’ e este dinamismo é organizador, expressando as interações múltiplas e díspares que formam os arquétipos” (LOUREIRO, 2004, p. 16).

G. Durand (1989) trata o equilíbrio antropológico como a constante reequilibração, com uma dinâmica de complexidade das produções simbólicas e imaginárias reelaboradas. A angústia original e a forma de enfrentamento do tempo que se esgota e que anuncia a morte faz o homem imaginar, e o imaginário recompõe o horizonte e a esperança do ser na sua perenidade; ele - o imaginário - é o meio de ver conscientemente a temporalidade e a morte.

Segundo Teixeira (2010, p. 86), “[...] o imaginário tece as redes simbólicas que

interferem na nossa leitura e organização do mundo e sustentam os comportamentos e as ações humanas em sociedade, dentre as quais a violência e as reações que ela provoca”.

O que se percebeu em relação aos avós desta pesquisa foi a necessidade de mudar a vida de seus netos, matriculando-os na EPC/PROEM-DF. Eles vivem em um mundo de violência, fome e drogas que os atingiu por meio de seus filhos, genros ou noras. Todos os avós almejam fazer com que seus netos não sejam atingidos por esse mundo de violência.

Strongoli (2005) descreve as possíveis organizações simbólicas que norteiam a interação do homem com o mundo, ou seja, a capacidade do homem, ou grupo social, perceber a cultura e a natureza e com elas interagir. O modo como ele interage é o imaginário. “[...] a imaginação é a faculdade, o imaginário é o processo dessa faculdade se atualizar: é ele que revela ou caracteriza um indivíduo ou grupo social e por extensão uma cultura ou uma época” (STRONGOLI, 2005, p. 147). A forma como se pensa e se age são as representações exteriores que podem ser percebidas pela dinâmica e a particularidade das manifestações, que estão presentes em diferentes momentos.

G. Durand (1989) identifica as estruturas antropológicas do imaginário com base em Betcherev com a noção dos gestos dominantes observados nos recém-nascidos. Betcherev reporta duas dominantes: a de posição (heroica), que ordena a posição do corpo na criança quando esta ergue o corpo; e a de nutrição (mística), no reflexo de sucção no recém-nascido e de orientação correspondente da cabeça. Mais tarde, Oufland cita a terceira dominante, a do movimento copulativo (sintética), de caráter cíclico, que G. Durand chama de disseminatória ou dramática. Essas três dominantes vão fundamentar as estruturas antropológicas do imaginário nos regimes diurno e noturno.

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[...] as estruturas são formadas de elementos em comaterialidade, ou seja, elementos constituídos de matéria mental conjugada à matéria concreta, visto que ambas estão em constante interação [...] (STONGOLI, 2005, p.153).

Y. Durand (1988) coloca que a função de cada estrutura da imaginação será a de facilitar o espaço de suas dimensões afetivas, cujas principais características são: a oposição entre a razão e a emoção, a queda e a profundeza íntima, um poder infinito de repetição. A função de cada estrutura da imaginação é ditar princípios em uma coerência na arte de falar bem, em particular, a de exagerar.

G. Durand (1989) coloca que o regime diurno é o regime dos contrários. Nele, as imagens originadas correspondem às atividades de ascender, separar ou enfrentar. A dicotomia e a dialética nesse regime se encontram.

A dominante postural, que fundamenta o regime diurno das imagens, aciona o ideário e a imaginaria da purificação, da luta, do combate, da guerra, da análise, despertando, assim, simbolismos heroicos (esquizomorfos), representados por armas, espadas, flecha, gládio (LOUREIRO, 2004, p. 17).

G. Durand (1989) coloca a necessidade de se diferenciar as estruturas esquizomorfas características do Regime Diurno da representação e tipologias esquizofrênicas ou esquizoides que, neste caso, estuda as correlações entre os tipos somáticos e doenças mentais. A angústia diante da visão esquizomorfa do universo quer o combate e a defesa. Esse conjunto de formas encontra-se como características nos elementos simbólicos e esquemáticos do Regime Diurno. G. Durand (1989) não descreve a personalidade esquizoide, mas simplesmente mostra o isomorfismo das constelações de imagens do Regime Diurno, em que se colocam em evidência as estruturas esquizomorfas das representações.

O racional é descrito, ainda segundo esse autor, como um efeito típico do Regime Diurno, pensa mais do que sente e compreende de maneira imediata; é frio, decidido e ocupa o mundo de forma privilegiada. É este racionalismo que mostra as estruturas esquizomorfas do Regime Diurno.

A estrutura esquizomorfa é o pensamento por antítese, que pode ser considerado o sentido do Regime Diurno; é o pensamento “contra” as trevas, contra o significado das trevas, da animalidade e da queda, ou seja, contra o passar do tempo, o tempo mortal.

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G. Durand (1989) afirma que os seres humanos se cansam de lutar, perdem a concentração e acabam em um vazio completo, tomando consciência de sua condição mortal. Então, o Regime Diurno, com a estrutura heroica da antítese, vai suceder o regime místico pleno de eufemismo, dos terrores brutais e mortais em temores eróticos e carnais.

No Regime Noturno, há uma inversão de valores em que chegam ao fim as aflições temporais. A morte pode passar a ser objeto de desejo libidinoso, de forma a dar uma cor tenebrosa ao próprio prazer.

Dessa forma, o Regime Noturno de imagem estará sob o signo da conversão, alterando ou modificando um sentido, e do eufemismo, amenizando a tragédia em algo melhor. Na conversão, os símbolos são constituídos por inversão do valor afetivo na questão temporal. A eufemização vai utilizar a inversão do sentido das imagens que, para Loureiro (2004, p. 18), firmada em G. Durand “[...] coloca-se no horror uma face de doçura, um sorriso na careta

mortal”. Portanto, no Regime Noturno das imagens, é fundamental a valorização e a inversão

do conteúdo das imagens, o espírito procura a luz e a noite é somente a promessa da aurora, a queda se eufemiza em descida e o abismo minimiza-se em taça (LOUREIRO, 2004).

O regime noturno é estudado na obra de G. Durand (1989) em duas partes:

Na primeira parte, a descida e a taça aparecem como símbolos principais - referindo-se aos símbolos de inversão, da intimidade e às estruturas místicas do imaginário (da quietude da descida e da intimidade que a taça simbolizava).

Estrutura mística - com ideias de acomodação, de aconchego de envolvimento, de côncavo, de recipiente (dominante digestiva) - refere-se à construção de uma harmonia, em que se evita a polêmica e há a procura da quietude e do gozo - recursos os símbolos de inversão e de intimidade. Refere-se a um imaginário de paz e tranquilidade que eufemiza o medo.

Na segunda parte, o autor trata do denário ao pau, destacando os símbolos cíclicos (denário e pau, cartas do tarô).

Estrutura sintética/disseminatória/dramática - que concilia a dualidade de intenções de luta e de aconchego; refere-se aos ritos utilizados para assegurar os ciclos da vida, atua harmonizando os contrários por meio de um caminhar histórico e progressista - recursos símbolos de caráter cíclico. Expressa a dualidade de intenção em diversos tempos.

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Quando as estruturas não estão organizadas ou não estão integradas, Y. Durand (1988) as considera como estrutura defeituosa; neste caso, nenhum elemento se liga a outro, as produções são totalmente heterogêneas. Duas são as estruturas defeituosas: as “não

estruturadas verdadeiras e as pseudodesestruturadas” (Y. Durand, 1988, p. 123). Nas não

estruturadas, os elementos são descritos individualmente pelas funções que exercem, não tendo nenhuma ligação. Nas pseudodesestruturadas, os elementos estão desconexos, porém têm uma descrição analítica que apresenta coerência mítica.

5.2 O ARQUÉTIPO TESTE DOS NOVE ELEMENTOS

A teoria do Imaginário foi validada por Y. Durand (1988) em um teste projetivo, o Arquétipo Teste dos Nove Elementos, que foi capaz de levantar/conhecer imagens individuais ou grupais, que permite levantar dados relacionados à interferência externa (LOUREIRO, 2004, p. 23). Também mostra uma estrutura capaz de restaurar a orientação simbólica das produções imaginativas.

Foi de início considerado, pelo autor, como um teste experimental com a finalidade de validar a Antropologia do Imaginário de G. Durand. Mas, ofereceu a possibilidade de ser

criada uma “ficção” e realizar uma “obra” imaginária, e construir um modelo para reproduzir

a Antropologia do Imaginário. Para a simulação, foram colocados elementos simbólicos que representassem o “problema” do tempo mortal. As visões do tempo ficaram retidas na queda, (elemento) para iniciar as imagens catamorfas, e o monstro devorante para sugerir as imagens terimórficas e nictomorfas. Os elementos permitiram escolher uma temática que se relacionasse com as orientações da Antropologia do Imaginário, as estruturas heroica, mística e sintética. Foram considerados os estímulos arquetípicos espada, refúgio e qualquer coisa cíclica, que roda, se reproduz ou que progride. Os elementos complementares são a água, o animal e o fogo. O elemento de dramatização, do qual se articula o universo mítico, é o personagem que depende da ação do entorno dos outros elementos pode ser classificado em categoria actancial positiva (adjuvante/ajudante) e/ou negativa (oponente) (DURAND, Y., 1988).

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fogo. Os nove elementos arquetípicos não foram escolhidos aleatoriamente por Y. Durand e sim, por seus significados universais (LOUREIRO, 2004).

5.3 ANTROPOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES E HERMENÊUTICA

5.3.1 A escola como organização

Paula Carvalho (1990) propõe o estudo das organizações pelo enfoque antropológico, em que a preocupação maior é com a dimensão simbólica do processo organizacional e sua problemática, apoiado nos projetos de Unidade das Ciências do Homem. O autor considera a Antropologia da Complexidade de Edgar Morin e a Antropologia do Imaginário de G. Durand, sustentando-se na função simbólica e na sutura epistemológica entre a Natureza e a Cultura. No enfoque antropológico, a preocupação maior é com a dimensão do homem nas organizações, em uma visão paradigmática5.

De acordo com Chaves (2000), “A proposta da Antropologia das Organizações de Paula Carvalho é regida pelo paradigma holonômico, opta por um modelo neguentrópico6 de organização e utiliza a culturanálise de grupos como instrumento adequado para o sociodiagnóstico de grupos”. O paradigma clássico é o paradigma da simplificação, que é fundamentado na razão fechada e regido pelos princípios da generalização, da redução e da disjunção, que transforma o homem em ser manipulável e explorado (CHAVES, 2000).

Um estudo antropológico do fenômeno organizacional pode ser realizado tanto pelo paradigma clássico, chamado de “paradigma da simplificação/redução/disjunção/exclusão” (MORIN apud PAULA CARVALHO, 1990, p. 21), quanto pelo paradigma holonômico, que apresenta traços que evidenciam “para uma razão aberta” e traços de “dialógica”, que Morin coloca “para uma razão aberta” (MORIN apud PAULA CARVALHO, 1990, p. 22).

Paula Carvalho (1990) levou em consideração os aspectos do rito e o mito do imaginário de G. Durand - o rito como exemplo de mediação simbólica e do mito como o movimento de organização do aparelho simbólico. Assim, o autor afirma que o imaginário “é

5“É no nível do paradigma que mudam a visão da realidade, a realidade da visão, o rosto da ação e que, em suma, mudam a realidade” (MORIN apud PAULA CARVALHO, 1990, p. 16).

6 Conceito desenvolvido por Paula Carvalho ao longo dos trabalhos de Antropologia das Organizações e

Educação - Um Ensaio Holonômico. “Entropia (do grego, ‘volta atrás’) significa ao mesmo tempo: degradação

da ordem e degradação da organização (desordem molecular, homogeneização macroscópica, equilíbrio

térmico, impossibilidade de transformação)” (MORIN, 2011, p. 35). À entropia nula segue-se a negentropia:

entropia negativa ou aumento do potencial energético a despeito do “ruído”, como nos sistemas biossociais, em

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o universo bio-antropo-social dos ritos e mitos que organizam a socialidade dos grupos” (PAULA CARVALHO, 1990, p. 46). A sutura epistemológica entre a Natureza e a Cultura representa o percurso do processo de evolução da espécie humana, e o centro desse processo é a constituição da consciência, lugar da mediação simbólica e do aparelho simbólico.

Mitos, ritos e valores, como “transdutores híbridos”- modo de pensar residuais, isto

é, “impuros”, porque imiscuídos um do outro (no sentir e no agir), formam a visão

de mundo que influencia regularmente produções discursivas do grupo, permutando uma melhor e mais profunda compreensão da realidade dos grupos (LOUREIRO, 2004, p. 21).

Paula Carvalho (1990) coloca evidente a função organizatória das mediações simbólicas, o imaginário social na sociedade:

[...] a mediação simbólica é função basal de constituição da ordem social porque a ordem social se constitui como formas culturais, ou formas simbólicas de relações sociais determinadas (PAULA CARVALHO, 1990, p. 73).

Chaves (2000) coloca que o homem aprende, com seus semelhantes, atividades próprias para se tornar humano, o que não poderia fazê-lo no isolamento. Esse aprendizado é possível porque o homem criou símbolos, que se transformaram em linguagem, forma de transmitir suas experiências vividas e transformá-la em cultura humana. É também pela linguagem que se formam novos grupos sociais de convivência - como a escola e a igreja -, assim, há uma continuidade de padrões de comportamento e permanente interpretação cultural. O que se pode afirmar que acontece com o grupo de avós presentes naquela escola é que eles esperam que seus netos façam parte de um contexto social com padrões de comportamento da boa convivência.

Paula Carvalho (1990) afirma que aspectos da Teoria Geral do Imaginário permitem uma conversão para o universo das organizações sociais, do indivíduo, do grupo, da cultura e da civilização que têm sua forma própria de organizar a práxis, conforme os processos simbólicos específicos de determinada estrutura do imaginário, e também uma função geral de reequilibração antropológica da angústia diante do tempo e da morte.

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diretamente aos processos educativos e formadores de mentalidade, que cumprem papel fundamental na formação, persistência e transformação dos esquemas ou construtos.

[...] na realidade a educação desempenha papel insubstituível na conservação ou na transformação da paisagem mental dos grupos, pois a cada prática simbólica corresponde uma visão de mundo, uma mentalidade diferente constituída de mitos pessoais e culturais que fazem aquele grupo único, quer dizer, sua maneira de

“pensar, sentir e agir” (LOUREIRO, 2004, p. 22).

Chaves (2000) diz que a função sociocultural da educação voltada para a socialização e de enculturação está comprometida pela visão autoritária da escola, pela visão de racionalidade positiva e por uma visão autoritária de educação, adotando uma perspectiva dominadora para a manutenção de uma “ordem” estabelecida. A função política da educação

se define pela “cidadania consciente”, que consiste em fornecer concepções críticas

mostrando a manipulação dos direitos do homem a serviço da entropização institucional. Considerando a afirmação da autora, a EPC/PROEM-DF tem exercido função política, pois se preocupa com a formação de cidadãos criativos por meio de uma escola diferenciada, partindo de discussão entre os membros dos segmentos escolares em um processo coletivo e democrático, apresentando um trabalho diferenciado com esses alunos em vulnerabilidade.

O que se propõe nesta dissertação é que a escola considere a dimensão simbólica com o pertencimento também, na sua organização, do imaginário do grupo de avós considerados.

5.4 HERMENÊUTICA

Paula Carvalho (1988) afirma ser importante a hermenêutica simbólica ou antropologia hermenêutica para se desenhar uma paisagem mental, os modos de pensar, sentir e agir - a visão do mundo. Dessa forma, considerou-se detectar a hermenêutica do sentido neste estudo.

Segundo o autor, a dificuldade está em tornar acessível o sentido de um texto, desvendando a intencionalidade de quem o escreve. Realizar uma leitura entre o sentido literal e o sentido figurado, dando harmonia na intenção do autor e no entendimento do leitor, é dessa composição que surge a hermenêutica antropológica, fundamentada na teoria do símbolo, em que o relato tem sentido figurado.

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sobre a letra, deve-se ir além dos quatro sentidos da Escritura (o significado literal, o alegórico, o sentido moral e o sentido analógico), mas todo o desapego que se faz do figurado desde o literal é o de se observar.

Dessa forma, hermenêutica aparece como modo fundamental da interpretação humana entender, interpretar e, em sua última intenção, possuir compreensão antropológica (o que significa o sentido) da realidade. O sentido se define como relação/relato (linguagem) de uma realidade e sua teia, o seu órgão de captação, é a imaginação simbólica arquetípica, capaz de intuir ou prever a sua implicação nos valores morais do ser (PAULA CARVALHO, 1998).

Após as questões da interpretação, Paula Carvalho (1998) passa para a interpretação

propriamente dita. “Hermeneuein” é verbo grego que significa exprimir, interpretar; assim,

mostra o espírito fazendo-se compreender, expressando-se ou interpretando-se em uma recondução. Então, tem-se uma mediação entre os pensamentos e os interlocutores, em que exprimir visa à exteriorização dos conteúdos internos, e interpretar é reconduzir ao sentido interno. Assim, é a função de transmitir um sentido de forma compreensível entre o literal e o figurado.

A tarefa de interpretar consiste em compreender-se diante do texto, não tentar somente compreender, mas expor-se ao texto e dele receber uma ideia mais vasta da subjetividade. O leitor necessita de estar com foco no subjetivo assim como o próprio texto está. “Leitor, não me encontro senão me perdendo” (PAULA CARVALHO, 1998, p. 67).

A imaginação é a dimensão da subjetividade que responde ao texto como poema. Dessa forma, uma poética da existência responde a uma poética do discurso. Na hermenêutica, parte-se do texto e da coisa do texto, que começa pela imaginação e liberdade a que se impõe, envolve as atitudes básicas com relação ao mundo do texto. Assim, a compreensão é simultaneamente desapropriação e apropriação, onde o sujeito se expõe ao poder mitológico do mundo do texto, essa exposição é uma abertura para o poder simbólico que fala com sentido interno do texto, como Inconsciente ou com Espírito (PAULA CARVALHO, 1998).

Dessa forma, o trajeto hermenêutico, está na consciência mediatizada, sendo que é na inconsciência que temos a polaridade hermenêutica, remetendo às manifestações do inconsciente e às manifestações do espírito sagrado.

Portanto a problemática do duplo sentido é a problemática de uma hermenêutica dos

símbolos desde que o sentido literal, primeiro patente é o “logos exterior”, a letra e o

manifesto, ao passo que o sentido simbólico, o segundo, latente é o “logos interior”,

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Paula Carvalho (1998) coloca, ainda, que não podemos pensar de forma imediata ou literal; precisamos pensar em termos de descentramento do sujeito e das estruturas, que atravessam esse descentramento. Isso pode ser considerado a descoberta do inconsciente.

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6 TEORIA GERONTOLÓGICA

6.1 A HISTÓRIA DA VELHICE

Gerontologia é o campo multi e interdisciplinar que visa à descrição e à explicação das mudanças típicas do processo do envelhecimento e de seus determinantes genético-biológicos, psicológicos e socioculturais (NERI, 2005).

A velhice é uma consequência do processo de envelhecimento e o interesse por parte desse processo vem acontecendo desde o início da civilização. O homem, ao longo do tempo, sempre se interessou pela juventude eterna, pelo prolongamento da vida e pela luta contra a morte. Mechnicoff, em 1903, e Nascher, em 1909, foram os pioneiros no estudo do envelhecimento, e ambos acreditaram na gerontologia e na geriatria. Mas, somente nas últimas décadas do século XX, com o aumento do número de idosos e os grandes avanços da ciência, pôde-se observar o aumento dos conhecimentos nesse campo (FERNÁNDEZ-BALLESTEROS, 2004; NETO, 2011).

O antigo testamento destacava as virtudes das pessoas mais velhas; os gregos e os egípcios falavam do respeito à sabedoria dos mais velhos. Platão apresentou a ideia de que se envelhece como se vivido e de como se prepara para a velhice na juventude. Dessa forma, nasce a primeira visão da prevenção e profilaxia da velhice. Aristóteles considerou a velhice como a etapa mais longa da vida e a fase da deterioração orgânica, considerando-a uma enfermidade natural (FERNÁNDEZ-BALLESTEROS, 2004).

Beauvoir (1990) coloca a dificuldade de se escrever uma história da velhice e afirma que o velho nunca interveio na história do mundo, porque, quando este perde suas capacidades, torna-se uma carga. Somente nas classes privilegiadas tinha-se a opção de uma

velhice com maior participação social. “[...] a aceitação ou a negação da velhice varia de

cultura para cultura e de uns para outros pensadores” (LOUREIRO, 2000, p. 25).

6.2 A VELHICE

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O tema da velhice vem sendo tratado pelas diferentes ciências e pelos diferentes cientistas, mas não se tem um consenso no conceito de velhice. Alguns autores, como Mercadante (2005), colocam que está ligado aos fenômenos biológicos, declínio irreversível do estado físico e mental. Para Chauí (apud BEAUVOIR, 1990), a velhice é uma luta constante para continuar a ser homem; para Beauvoir (1990), ela traz consequências psicológicas; e para Neri (2011), é uma fase do ciclo vital marcada por perdas e ganhos concorrentes.

Outro ponto do qual não se tem consenso é o início da velhice. Hipócrates comparou a velhice ao inverno, considerando o começo da velhice aos 56 anos. Para Aristóteles, a velhice inicia-se aos 50 anos. O tempo pode ser considerado pela ocorrência dos acontecimentos, assim, seria sempre jovem um homem aos 60 se considerado por outro aos 80, mas seria velho se considerado por outro de 30. “O momento em que começa a velhice é mal definido, varia de acordo com as épocas e lugares” (BEAUVOIR, 1990, p. 9). Afirma Monteiro (2005), o número traduz a organização, a ordem, a hierarquia, não a maneira como uma pessoa se sente. O ser humano não pode ser considerado por um sistema de ordem, medida ou regras estanques, pois ele tem seu próprio dinamismo.

Fonseca (2012) coloca que a velhice pode ser tratada como uma fase da vida com transformações variadas, que se inicia nos componentes biológicos e termina no componente social. A velhice vai sendo construída de forma individual nas trajetórias da existência, pelos impactos das transformações, de forma particular, a cada indivíduo. Nos dias atuais, cada vez mais pesquisas revelam que idosos podem continuar vivendo de forma positiva conforme os recursos que construíram ao longo da vida, em interação com os recursos sociais (NERI, 2011).

O homem não se prepara para a velhice de forma espontânea e natural, ele é mortal, mas um grande número vai ficar velho. “É difícil alguém se aperceber quando a velhice se instala em si mesmo” (LOUREIRO, 2000, p. 22). Beauvoir (1990) coloca que, para os jovens, a vida se interrompe aos 60 anos e que os adultos se comportam como se nunca fossem ficar velhos, mas a aposentadoria os assusta. Associa-se mais a velhice à morte, apesar de esta nos ameaçar em qualquer fase da vida.

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é um escândalo ou “um golpe do baú”, o ciúme é ridículo e a sexualidade repugnante (BEAUVOIR, 1990).

Os chavões criados cadenciam a ideia de velhice e levam os próprios velhos a se aceitarem no desvalor, a se conformarem (na condição de individuo diminuído) com sua situação e com seu destino, desculpando os mais jovens - os agressores da sua personalidade (LOUREIRO, 2000, p. 25).

Loureiro (2000) afirma que a sociedade não permite que o velho tenha um papel social de destaque por não considerá-lo produtivo. Os avós desta pesquisa deixam isso claro quando

a avó Carina coloca: “Eu acho que a escola podia ajudar os avós desses adolescentes

oferecendo um lugar para eles trabalharem, uma oficina para os homens ou trabalhos

manuais, costura ou cozinha para as mulheres [...]”. O velho está condenado a ser aceito pelo pouco que pode oferecer e ainda necessita ser aceito no local concedido, neste caso, a escola. Os anseios, os sonhos e os desejos dos velhos vêm sendo anulados por opressão social, reprimidos, entristecendo a pessoa idosa. As atitudes estigmatizadas e estereotipadas, convenientes, não consideram o real e contribuem para uma falsa verdade sobre o velho. As contribuições desses estímulos sociais induzem indivíduo e grupos a se comportarem de forma disciplinar e organizacional imposta - o já “instituído” (LOUREIRO, 2000).

Enfim, a sociedade destina ao velho seu lugar e seu papel levando em conta sua idiossincrasia individual: sua importância, sua experiência; reciprocamente, o individuo é condicionado pela atitude prática e ideológica da sociedade em relação a ele (BEAUVOIR, 1990, p. 16).

Afirma, ainda, Loureiro (2000) sobre a necessidade de buscar a completude e a esperança de felicidade, rompendo o ciclo e (re)valorizando o velho, se não for por humanidade, que seja pela necessidade de uma imagem de nação desenvolvida e respeitada. O velho não possui uma categoria social. Enquanto ele apresenta uma eficácia, está integrado à coletividade, mas é um homem velho quando perde sua capacidade e passa a não ser mais que um peso, não serve para nada. Os velhos não têm nenhuma arma para manter seu espaço social e familiar, e passam a ser um problema para os políticos e a sociedade, constituindo, então, uma minoria ineficaz (BEAUVOIR, 1990).

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natureza humana. Assim, tem-se a necessidade de romper com os arranjos coletivos e formular novos conceitos voltados para a qualidade de vida dos idosos, dando maior sentido a sua existência (LOUREIRO; FALEIROS, 2006; LOPES; GONÇALVES, 2012).

Os avós considerados nesta dissertação procuram, naquela escola, uma maior consideração, confiando seus netos àquela instituição, o que se pode confirmar pela fala do avô Sirius: “Eu acredito que aquela escola é muito boa para o meu neto [...] Eu acho muito

importante ir lá na escola, mas eu vou pouco. [...] Se eu fosse lá na escola eu ia me sentir

muito bem, porque a gente quando vai é muito bem tratado. Mas eu ia ficar melhor se eles me

convidassem, eu ia ficar mais à vontade”.

No Brasil, a novidade e a rapidez do envelhecimento respondem, em parte, pela maior visibilidade da velhice, maior participação dos idosos na população total, como vêm contribuindo para o incremento de pesquisas na área e o desenvolvimento de ações orientadas pelo princípio de conferir dignidade àqueles que envelhecem. Envelhecer significa defrontar-se com problemas bastante conhecidos, apodefrontar-sentadorias, pensões e outros benefícios, alimentação, transporte, acessibilidade e remédios (ALMEIDA, 2005).

Loureiro (2000) ressalta a importância dessa população como eleitores, consumidores, e as mudanças ocorridas ao longo dos tempos, por exemplo, no setor da construção civil, a difusão das faculdades da terceira idade, a especialização médica, as mudanças nos programas de lazer e políticas públicas, como a criação de secretarias de Estado encarregadas das pessoas idosas.

O Brasil precisa elaborar políticas públicas de alfabetização que inclua jovens e idosos. [...] amparo à velhice e a melhoria da qualidade de vida na velhice, evitando a senilidade (ARAÚJO, 2006, p. 17).

Lopes e Gonçalves (2012) registraram que as ações de modalidades organizacionais coletivas, capazes de gerar oportunidades de um envelhecimento com qualidade de vida, têm sido dispersas e avulsas, assim como as medidas legislativas e programas políticos de ação.

Voltando à pesquisa-base desta dissertação, a responsabilidade desses avós por seus netos demonstra que eles têm suas vidas alteradas, como afirma a avó Carina em sua fala: “Nessa idade que eu estou hoje eu vou falar, era para eu estar sossegada, eu já criei os meus filhos, [...] Eu mesmo queria meus netos só para ter a alegria, mas não me deixam muito alegre”.

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que o idoso não é apenas um consumidor de recursos familiares, já que atualmente tem participado ativamente do apoio econômico e relacional. Todos os idosos entrevistados confirmaram essa informação. Como coloca a avó Carina: “[...] trabalho de segunda a sexta numa firma terceirizada para o TRE [...]”. A avó Andara está aguardando a finalização do seu processo de aposentadoria: “A minha aposentadoria ainda não estou recebendo, eu já assinei um papel, agora falta assinar para receber, mas até agora não recebi”. A avó

Antares também coloca: “Eu gosto muito de ficar com meus netos. [...] eles são meninos que

precisam de atenção e às vezes ela deixa eles comigo enquanto trabalha”. Quase todos esses avós se colocam à disposição para colaborar na criação de seus netos, mesmo na dificuldade e na vulnerabilidade de seus netos.

6.3 AVOSIDADE

[...] ao desempenhar papéis multidimensionais, os idosos criam diferentes estilos de relacionamento com seus netos, coerentes com as circunstâncias pessoais e subjetivas (afinidade, idade e gênero) e situacionais (divórcio dos pais e questões socioeconômicas) vivenciadas (ARRAIS; BRASIL; PINTO, 2012, p. 173).

Moragas (1997) afirma que as relações sociais começam pela família; é nela que se manifestam as primeiras noções de sociabilidade humana, desenvolvendo a personalidade e a qualidade das relações, sendo mais intensa que em qualquer outra instituição. É a família que tem o papel principal na formação da identidade de seus membros. Como nos fala a avó Carina sobre sua neta: “Essa menina eu crio desde que a mãe dela me disse que estava grávida, com 16 anos, ela era muito novinha para dar conta de uma criança sozinha”.

Os avós tiveram seus tempos de insignificância social, mas as configurações atuais da família, o aumento da longevidade e a saída da mulher para o mercado de trabalho trouxeram destaque e demandaram novas exigências para o papel dos avós (VITALE, 2010). A avó

Adara comprova essa afirmação: “Eu trabalhava em casa de família, eu era babá, cozinheira,

limpava, lavava e passava. Aqui eu não trabalhei, eu ficava olhando os meninos”. Ela deixa de trabalhar para cuidar dos netos enquanto a filha trabalha.

A avosidade é função ligada à maternidade e paternidade, e tem papel determinante na estrutura psíquica da criança. Tem função estruturante, opera no psiquismo e na subjetividade, ocupando seu lugar na história daquela criança. O avô Sirius coloca orgulhoso como seu neto

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quem quis ficar aqui comigo”. É um aspecto privilegiado onde os conflitos familiares podem manifestar-se.

A função dos avós requer questionamentos do papel de filho. A avó Carina questiona o pai de sua neta: “ela não está em casa, tem quase um mês que ela foi para casa do pai, e ele não se importa muito em mandar ela embora pra ir pra escola”. Os conflitos de papéis estão presentes nas relações desses avós com os pais de seus netos.

Tornar-se avó requer uma nova reorganização psíquica necessária para demarcar os limites entre ser avó e pai. Avosidade traz a oportunidade de conceder aos filhos a oportunidade de transmitir as funções maternas e paternas (GOLDFARB; LOPES, 2006).

Suas funções podem se confundir quando os pais têm dificuldades de assumirem seus papéis parentais (ARRAIS; BRASIL; PINTO, 2012). A avó Carina coloca sua condição de enfrentamento com as dificuldades, mas também sua posição confusa de ser avó/mãe: “Eu só enfrento porque é como se fosse minha filha [...]”. Oliveira (2011) coloca que se tornar avó é um dos fatores que podem determinar o início da velhice, podendo acontecer por volta dos 30 anos, com os altos índices de gravidez na adolescência. Essa foi a realidade dos avós que, em grande parte, são avós desde muito cedo, como relata o representante da direção. A avó Lyra

coloca que foi avó ainda jovem com filhos ainda jovens: “Quando eu comecei a criar minhas

netas minha filha caçula tinha oito anos [...]”. A avó Antares coloca: “[...] sou avó desde os 38 anos”.

Na impossibilidade do pai ou da mãe desempenhar os seus papéis parentais, os avós tendem a exercer esse papel de pais substitutos, expandindo, assim, o seu papel de avó, podendo encontrar satisfação ou estresse físico e emocional. A avó Antares está criando sua

neta após a morte de seu filho: “Meu filho morreu e eu cuido da filha dele [...]”. Apesar dos

possíveis efeitos negativos em seu cotidiano, os avós não se recusam à tarefa de cuidar de seus netos, eles acreditam que seja um compromisso com sua descendência (ARRAIS; BRASIL; PINTO, 2012).

Vitale (2010) coloca que essa situação de convivência não está ausente de conflitos geracionais. O avô Sirius reclama de seu neto mostrando o descontentamento com suas

atitudes: “Eu acho que falta interesse para esse menino, porque a gente tem feito de tudo

para ele continuar os estudos, mas ele não tem muito interesse não”.

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“As figuras dos avós fazem parte do nosso imaginário. [...] Os legados geracionais, a herança simbólica, por eles transmitidos, compõem a nossa memória familiar” (VITALE, 2010, p. 93). Algumas crianças não têm contato com a figura dos avós, os quais conhecem somente por fotos e histórias contadas no legado familiar; outras têm um contato mais íntimo, sendo, por vezes, até mesmo reconhecidos como pais. Os avós dessa pesquisa têm contato direto com seus netos e participam diretamente de sua criação, inclusive respondendo por eles na escola. O avô Sirius coloca essa afirmação em sua fala: “Mas de vez em quando ele entra numa bagunça lá na escola e aí a gente tem que ir lá”.

São diversas as situações que envolvem os avós na vida de seus netos. Quando a convivência é intensa, podem ser parceiros dos pais na educação dos netos, na socialização ou ser apenas companheiros nas brincadeiras. Alguns são voluntários para cuidar de seus netos, outros só comparecem quando solicitados, mas alguns são obrigados, seja pela situação econômica, seja por outros motivos (VITALE, 2010). Os avós desta pesquisa são levados a cuidar de seus netos por situações de violência em que os envolvidos são os próprios filhos ou seus netos, que seguem os mesmos caminhos dos pais.

Assim, os avós desempenham outros papéis nas relações afetivas com os netos, conciliando ou sobrepondo as responsabilidades no exercício de suporte à família (VITALE, 2010). Alguns não conseguem separar e transformar a relação com o filho, agora pai, integrando o novo membro como neto.

Pesquisadores evidenciam que a avosidade estaria relacionada a uma preparação e elaboração de estágios anteriores para o exercício de ser avô (ARRAIS; BRASIL; PINTO, 2012).

Os avós podem interferir na relação parental e conjugal de seus filhos. Isso decorre da dificuldade no estabelecimento de fronteiras e distribuição de papéis. A avó Adara viveu essa realidade, como bem relata: “Quando a gente morava em Santa Maria, o meu genro, que também é do Maranhão, resolveu ir embora e deixou-a buchuda. Depois, ele começou a ligar

para ela ir embora para lá que ele ia cuidar bem dela”.

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netos. A avó Adara relata sua disposição em ajudar sua filha e seus netos: “Lá no Maranhão eu fiquei até quando minha filha veio e trouxe os meus netos. [...] Eu passei a viver só para os meus filhos”.

6.4 A INTERGERACIONALIDADE

Cuidar, educar ou ser responsável? Disciplinar, ser companheiro das brincadeiras, contar histórias, oferecer pequenos presentes, passeios guloseimas, conselhos, ouvir sentimentos [...] (VITALE, 2010, p. 95).

Nunes (2009) coloca a intergeracionalidade como sendo uma relação entre pessoas com idades diferentes, em diferentes fases da vida e em diferentes contextos. Traz como benefícios a comunicação entre as pessoas formadoras do grupo, que partilha de sentimentos e ideias e cooperação mútua.

As teorias sociais sobre o envelhecimento e as condições dos velhos tendem a considerar a intergeracionalidade na ajuda mútua no próprio núcleo familiar. Sendo assim, o que se espera dos filhos é o cuidado e amparo aos seus idosos. Esse debate se intensifica quando voltado para as políticas públicas que têm como alvo a família de parentescos e casamento. A constituição estabelece que os filhos maiores tenham o dever de amparar e ajudar os pais na velhice, e que os programas de apoio à velhice dão preferência para que esse apoio seja em seus domicílios (DEBERT; SIMÕES, 2011). O que se levantou com esta pesquisa foi que os filhos continuam contando com o suporte parental para criar os seus filhos. Os netos desta pesquisa são criados por seus avós que, inclusive, respondem legalmente por outros, que não estão matriculados na EPC/PROEM-DF.

A velhice nos tempos modernos assinala que a intergeracionalidade entre as famílias envolvem processos dinâmicos de construção de relação e afeição. Pesquisas realizadas no final dos anos de 1960 na Dinamarca, Inglaterra e Estados Unidos mostraram que os idosos têm uma diminuição do convívio social, mas as relações com seus filhos pouco mudaram, e que grande parte permanecia morando com seus filhos ou próximo a eles. Pesquisas recentes mostram que os idosos moram em suas casas, separados dos filhos (DEBERT; SIMÕES, 2011).

Esta pesquisa mostrou que apenas uma idosa, a avó Adara, mora na casa de sua filha; já com os outros idosos, são os filhos ou netos que moram em suas residências.

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papéis dos homens e mulheres na estrutura familiar multigeracional aumentam com o tempo, surgindo oportunidades para criar laços afetivos mais intensos. O tempo para compartilhar experiências entre os membros das diversas gerações e a existência de um número menor de membros na família podem facilitar maior convivência entre estes (BOZO-ROYO, 2004). Essa realidade pôde ser constatada na pesquisa com os avós Lyra, Vega e Sirius, todos com netos e bisnetos e laços afetivos intensos, como coloca a avó Vega: “Nos vivemos aqui, eu, uma filha, com três netos, dois deles estudam na EPC, e uma bisneta”.

No Brasil, a organização familiar mostra uma relação de parentesco e não parentesco gerado por casamentos, divórcios e novos casamentos. Predominantemente, as famílias brasileiras possuem arranjos nucleares biparentais, mas, devido à instabilidade das relações afetivas, cresce o número de mulheres solteiras com filhos vivendo em famílias monoparentais (DEBERT; SIMÕES, 2011). Apesar de não ser o objetivo desta pesquisa, as famílias envolvidas têm, na grande maioria, filhos de relações instáveis, que são criados pelos avós do grupo sujeito da investigação.

Lopes e Gonçalves (2012) colocam que a presença prolongada de idosos nas estruturas familiares vem proporcionando a intergeracionalidade e contribuições fundamentais para sustentar a rede familiar e a sustentação do núcleo familiar das gerações mais novas. O número de idosos saudáveis com disponibilidade de tempo e econômica vem crescendo, principalmente, como cuidadores de crianças e adolescentes, ampliando, assim, a importância dos idosos no apoio às gerações mais novas. Nesta pesquisa, pode-se perceber que todos os avós são responsáveis por seus netos e um grande número de pessoas no seu núcleo familiar, e que são os pilares da estrutura familiar. Também foi observado que eles têm muito mais disposição de tempo para cuidar de seus netos do que disponibilidade financeira, já que a grande maioria, exceto a avó Adara que aguarda sua aposentadoria, são aposentados ou pensionistas do INSS.

Em se tratando da literatura sobre avós, em geral, encontra-se que a importância dos avós no apoio familiar tem reconhecimento político em outros países, como Portugal. Os avós cuidadores que continuam no mercado de trabalhos têm o direito de faltar para assistir a seus netos menores, em substituição dos pais trabalhadores (LOPES; GONÇALVES, 2012). No Brasil, essa não é a realidade, pois nenhuma forma de apoio aos avós idosos, que cuidam dos netos, acontece.

Referências

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