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Educação ambiental e literatura : uma proposta de diálogos a partir da poesia de Manoel de Barros

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Academic year: 2023

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EDUCAÇÃO AMBIENTAL E LITERATURA: UMA PROPOSTA DE DIÁLOGOS A PARTIR DA POESIA DE MANOEL DE BARROS

Leonardo Bis dos Santos1 Nelson Martinelli Filho2

RESUMO

A questão ambiental permeia material e simbolicamente a existência humana.

Dependemos da natureza para nossa sobrevivência. Estabelece uma conexão inexorável com nosso imaginário e sua exaltação marcou movimentos artísticos e culturais no Brasil e no mundo. Contudo, a apropriação crítica da natureza, a partir da finalidade de discussão de preceitos da educação ambiental, ainda é pouco discutida no contexto dos estudos sobre literatura. Assim, tendo por base uma revisão de literatura científica, propomos um debate acerca do ser humano na modernidade e as alternativas de uma educação ambiental a partir da literatura. A obra de Manoel de Barros emerge, nesse contexto, como uma possibilidade para a formação humana radical – qualidade daquilo que vai à raiz de uma questão - e integrada ao meio ambiente. A discussão, de cunho sociológico, é realizada com o suporte teórico de Joan Martínez Alier (2015), Enrique Leff (2001), Boaventura de Sousa Santos (1996 e 2007) e Carlos Frederico Bernardo Loureiro (2011 e 2014).

Ao final, esperamos ter apresentado contribuição para o debate de como a literatura pode ser um espaço de elaboração de temas fundamentais para a sociedade, como a educação ambiental, tendo por base uma construção linguística e uma estética própria.

PALAVRAS-CHAVE: Educação ambiental; literatura; poesia; Manoel de Barros.

1 INTRODUÇÃO

Parece ponto pacífico que a questão ambiental é vital para a existência material dos seres humanos – se paira alguma dúvida, basta nos lembramos que não sobrevivemos sem ar e água (elementos da natureza). Ademais, as separações entre eles e nós, meio ambiente e humanidade, são apenas artificialidades diametralmente opostas ao substrato da vida, afinal cerca de 70% do corpo humano é composto de água. As artes, por outro turno, permeiam a dimensão material e simbólica do ser humano – entendida a literatura como um campo fértil para

1 Graduado em Ciências Sociais (UFES, 2004), Graduado em Letras-Português (Ifes, 2022), Mestre em Políticas Sociais (UENF, 2007) e Doutor em História (UFES, 2016).

2 Graduado em Letras-Português (UFES, 2010), Mestre em Letras (UFES, 2012), Doutor em Letras (UFES, 2016) e Pós-Doutor em Letras (UFES, 2021). Atualmente é bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq Nível 2.

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formação integral do ser humano –, apontando para outras perspectivas de interpretação da vida. Sem estarem presas às amarras cindidas pela ciência, emergem com vigor único as contradições e as complexidades da existência e, não raro, se utilizam do meio ambiente como fonte de inspiração.

Partindo dessas constatações, lançamos neste ensaio a seguinte questão: como pode ser elaborada uma análise da relação sociedade/meio ambiente tendo a poesia como mediadora da interface entre ensino de literatura e educação ambiental, numa perspectiva radical3 e integradora?

Dessas inquietações definimos como recorte específico para esse debate a poesia

“29 escritos para conhecimento do chão através de S. Francisco de Assis”, de Manoel de Barros (BARROS, 2010, p. 131-133). Foi estabelecido como objetivo geral explorar as potencialidades da leitura desse poema de maneira a contribuir com a educação ambiental que busca a radicalidade das coisas e do ser, a partir da impossibilidade analítica – separação em partes para tornar o entendimento mais palatável –, tendo como ferramenta pedagógica a literatura. Como objetivos específicos temos: 1) efetuar um levantamento metódico de fontes para embasar a discussão; 2) interpretar a elaboração linguística e estética da questão ambiental no poema selecionado com base nos autores elencados; 3) discutir a possibilidade e as relações entre literatura e educação ambiental, à qual estamos caracterizando de radical e integradora.

Dessas inquietações definimos como recorte específico para esse debate a poesia

“29 escritos para conhecimento do chão através de S. Francisco de Assis”, de Manoel de Barros (BARROS, 2010, p. 131-133). Foi estabelecido como objetivo geral explorar as potencialidades da leitura desse poema de maneira a contribuir com a educação ambiental que busca a radicalidade das coisas e do ser, a partir da impossibilidade analítica – separação em partes para tornar o entendimento mais acessível –, tendo como ferramenta pedagógica a literatura. Como objetivos específicos temos: 1) efetuar um levantamento metódico de fontes para embasar a discussão; 2) interpretar a elaboração linguística e estética da questão ambiental no poema selecionado com base nos autores e teoria elencados; 3) discutir a

3 Ressaltamos aqui que a utilização da palavra radical e suas variações possui o sentido de buscar ir à raiz da questão. Se difere, por exemplo, de essência, que possui uma estrutura intrínseca imutável.

A raiz de alguma questão é o que de mais profundo há, contudo, não possui um único formato.

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possibilidade e as relações entre literatura e educação ambiental, à qual estamos caracterizando de radical e integradora.

Temos que essa temática é essencial para a manutenção material dos seres humanos – o meio ambiente – e a educação ambiental tem sido uma ferramenta potente para a formação integral e a sensibilização da sociedade. Avessa à sua relevância, essa relação entre educação ambiental e literatura ainda é pouco discutida. Uma busca na base Scielo não revelou qualquer artigo que remetesse à pesquisa pela associação entre os descritores "literatura” and “educação ambiental".

Na base Periódicos CAPES foram encontrados apenas cinco trabalhos a partir do mesmo comando de pesquisa4. Assim, nosso desafio é tratar de um tema relevante – a questão ambiental é um dos maiores desafios para a humanidade, alinhada à relação entre literatura e formação humana integral – a partir de poucos estudos específicos a respeito. Consideramos também que o meio ambiente, tanto em sua caracterização como espaço quanto como temática, tem presença constante e relevante na história da literatura brasileira, justificando-se, dessa maneira, o esforço de pesquisa aqui empreendido.

De qual educação ambiental estamos falando?

Não se discute que a existência material e simbólica dos seres humanos depende da natureza. O meio ambiente é parte dos seres humanos, ao conferir elementos essenciais para a vida, da mesma forma que são parte integral dele. Não por acaso, um ambiente equilibrado e saudável está intimamente ligado a padrões mais elevados de qualidade de vida. Dessa forma, é premente a abordagem da relação radical e integradora entre seres humanos e meio ambiente, sob diversas óticas. As linguagens exercem um papel vital na elaboração da referida relação, afinal existe inúmeras possibilidades culturais que emergem nesse contexto. Destacar a interpretação de conceitos como o de sustentabilidade e a sua aplicação nas operações discursivas possui potencial para elevar os níveis de capacidade reflexiva da sociedade. Tendo em vista os problemas ambientais que a humanidade vem enfrentando, mudar contextos estruturais danosos ao meio ambiente é algo amplamente desejado e urgente.

4 Pesquisa realizada em 16 de dezembro de 2021, conforme critérios apresentados. Da mesma maneira que a pesquisa realizada na base Scielo.

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Nesse sentido, emerge com vigor o termo “educação ambiental” como forma de inserir o debate em espaços formais (escolas) e não formais de educação (comunidades, por exemplo). No Brasil, segundo Santos (2017), o embrião do que viria a ser educação ambiental é observado no segundo Código Florestal Brasileiro – Lei 4.771/1965. No Artigo 42 dessa lei, temos a seguinte redação:

Art. 42. Dois anos depois da promulgação desta Lei, nenhuma autoridade poderá permitir a adoção de livros escolares de leitura que não contenham textos de educação florestal, previamente aprovados pelo Conselho Federal de Educação, ouvido o órgão florestal competente. (SANTOS, 2017, p. 152)

Vale ressaltar o detalhe “livros escolares de leitura”, que remete aos materiais didáticos de ensino de língua portuguesa. A educação florestal anos mais tarde daria lugar à educação ambiental – termo mais amplo e propício aos desafios da sociedade no trato com a natureza. Contudo, segundo Loureiro (2011), referir-se à educação ambiental, à natureza ou ao meio ambiente, importa uma condição política que não necessariamente é explícita. Torna-se premente que seja declarada a opção teórica e metodológica ao abordar a causa ambiental, de modo a desnudar se se trata de uma abordagem emancipatória ou conservadora/comportamentalista.

Quadro 1 – Diferenças entre visões que influenciam a educação ambiental

Eixos Visão emancipatória Visão conservadora ou comportamentalista Quanto à

condição de ser natureza

Certeza de que somos seres naturais e de que nos realizamos e redefinimos culturalmente o modo de existir na natureza pela própria dinâmica societária na história da natureza

Convicção de que houve um afastamento de nossa espécie de relações adequadas, idealmente concebidas como inerentes aos sistemas ditos naturais, sendo necessário o retorno a esta condição natural pela cópia das relações ecológicas

Quanto à condição existencial

Entendimento que somos constituídos por mediações múltiplas, impossível de ser pensado exclusivamente em termos racionais, genéticos ou espirituais – sujeito social cuja liberdade e individualidade se definem na existência coletiva

Sujeito definido numa individualidade abstrata, numa racionalidade livre de condicionantes sociais, suja capacidade de mudança se centra na dimensão

“interior”, minimizando ou excluindo a determinação histórica

Quanto ao entendimento do que é educar

Educação como práxis e processo dialógico, crítico, problematizador e transformador das condições objetivas e subjetivas que formam a

Educação como processo instrumental, comportamentalista, de adequação dos sujeitos a uma natureza vista como harmônica e como processo facilitador

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realidade da inserção funcional destes numa sociedade ou definida de modo atemporal e sem historicidade, visto como um sistema preestabelecido Quanto à

finalidade do processo educativo ambiental

Busca por transformação social, o que engloba indivíduos, grupos e classes sociais, culturas e estruturas, como base para a construção democrática de “sociedades sustentáveis” novos modos de se viver na natureza

Busca por mudança cultural e individual como suficiente para gerar desdobramentos sobre a sociedade e como forma de aprimorar as relações sociais, tendo como parâmetro as relações vistas como naturais, sem entrar no mérito a possibilidade histórica de construir outro sistema social, adotando geralmente uma abordagem funcionalista de sociedade e organicista de ser humano

Fonte: Loureiro, 2011, p. 111-2.

A definição do que seja uma educação ambiental conservadora ou comportamentalista, na perspectiva de Loureiro (2011), tem a ver, em grande medida, com o nível de radicalidade da transformação proposta. Se refere a propostas que buscam transformações individuais, atribuindo toda a responsabilidade pelos danos ambientais e toda a potência de ação ao indivíduo.

Desconsidera o peso das estruturas sociais vigentes na definição da ação humana – economia, religião, cultura. É aquela educação ambiental que declara que as pessoas devem acondicionar seus resíduos domésticos de forma adequada, sem promover uma reflexão aprofundada sobre os padrões de consumo que geram esses resíduos; sem questionar os interesses comerciais embutidos na propagação do plástico, como principal material de embalagem dos produtos consumidos e que está associado a uma matriz que é altamente dependente de insumos fósseis – não renováveis.

De outra forma, temos que a educação ambiental emancipadora é aquela que busca uma reflexão radical sobre o comportamento humano, levando em consideração o peso das estruturas sociais. Tradicionalmente essa corrente de pensamento ambiental se aproxima do materialismo histórico-dialético, contudo não se resume a ele. O próprio Loureiro apresenta outras possibilidades para a educação ambiental crítica a partir de outras matrizes conceituais, como o dialogismo freireano (LOUREIRO; FRANCO, 2014).

Essa nomenclatura – educação ambiental crítica –, entretanto, é adotada especificamente no Brasil. É um termo inaugurado pelo pesquisador Carlos

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Frederico Bernardo Loureiro, e por isso não é possível fazer qualquer paralelo com outro conceito encontrado na América Latina ou em outras partes do planeta. O que é possível de ser feito é o estabelecimento de um diálogo com outros autores que comungam de uma perspectiva teórica similar, como o ecologismo dos pobres de Joan Martínez Alier (2015), que também se ampara no materialismo histórico- dialético. Segundo esse autor a pobreza geralmente é associada à destruição da natureza, num movimento de criminalização da situação econômica dessas populações. Alier (2015) destaca a relevância de sair do senso comum, alimentado pela ideologia dominante, e buscar as causas estruturais dessa pobreza como forma de um entendimento sobre sua relação com as questões ambientais. Outro ponto de destaque na proposição do autor é que os pobres são os mais atingidos pelas transformações no meio ambiente. Além disso, “os pobres possuem melhores possibilidades de defender seus interesses no campo do não econômico” (ALIER, 2015, p. 16), justamente por estarem amplamente alijados dos jogos de consumo. A estrutura de produção de bens e serviços e a sua relação com o campo simbólico são essenciais para o entendimento da condição de pobreza dos indivíduos.

Esse campo conceitual tem a virtude de problematizar a ideia de pobreza, que comumente está associada unicamente a parâmetros econômicos. Refletir acerca de estruturas sociais organizadas a partir do modo de produção capitalista. Entender que o acesso aos bens essenciais à reprodução da humanidade passa, em grande medida, pela apropriação e concentração de riquezas transformadas em mercadorias. Nesse contexto, e buscando alternativas factíveis de transformação social, emerge a educação ambiental de base comunitária como proposta para a construção de uma sociedade que estabelece relações de existência com o meio ambiente, ao invés de o transformar em bens a serem apropriados.

Estabelecidos os diálogos possíveis, sem desmerecer os avanços conceituais do materialismo histórico-dialético, defende-se que sua capacidade descritiva e normativa apresentou falhas até aqui. Leituras decoloniais, que se apresentam com vigor na América Latina e África, apontam que “a análise marxista permanece necessária, mas não é suficiente – precisa ser complementada por perspectivas como as do feminismo e da ecologia, ao lado de outros imaginários que emanam do

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Sul global” (KOTHARI; SALLEH; ESCOBAR; DEMARIA; ACOSTA, 2021, p. 40)5. Para Boaventura de Sousa Santos (2007), “o materialismo histórico converteu o capitalismo em um fator de progresso da humanidade, e isso trouxe problemas pelo fato de essa ideia ter deixado de fora uma questão que, para nós, é fundamental: a questão colonial” (SANTOS, 2007, p. 51).

Desse encontro entre um pensamento ambiental radical e as críticas ao materialismo histórico-dialético temos uma perspectiva ambiental que torna impossível a separação entre seres humanos e natureza. Surge como horizonte uma ecologia de saberes para promoção da emancipação social (SANTOS, 2007), alcançada a partir do dialogismo (FREIRE, 2016). Acerca deste último, ressaltamos que o diálogo freiriano exige determinadas condições:

Como posso dialogar, se parto de que a pronúncia do mundo é tarefa de homens seletos e que a presença das massas na história é sinal de sua deterioração que devo evitar?

Como posso dialogar, se me fecho à contribuição dos outros, que jamais reconheço, e até me sinto ofendido com ela?

Como posso dialogar se temo a superação e se, só em pensar nela, sofro e definho? (FREIRE, 2016, p. 111-2)

Se não buscamos alterar as condições de existência para promover a superação da opressão, não estamos promovendo a postura dialógica freiriana. Assim, propomos a literatura e, especialmente, a poesia como ferramentas para ensejar uma educação ambiental radical e integradora.

Fundamentos de seres ambientalmente humanos

A Modernidade, fundada a partir dos marcos do Iluminismo, da Revolução Industrial e da Revolução Francesa, juntamente com a origem e consolidação do capitalismo, é marcada na contemporaneidade, por questionamentos em suas bases epistemológicas. Os avanços tecnológicos vivenciados, principalmente, a partir da segunda metade do século XX, proporcionaram mudanças que põem em questão as instituições sociais. A separação entre tempo e espaço, proposta pela modernidade e que viabilizou as configurações do capitalismo, é potencializada. O tempo é

5 Neste trabalho fazemos a opção de nomear todos os autores em detrimento da norma formal de atribuir a expressão latina et al para casos similares.

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acelerado e o espaço é comprimido dando origem a novos arranjos e a complexos sistemas, com impactos na construção de subjetividades.

A Ciência moderna passa a ter papel ontológico, ao operacionalizar a separação entre ser humano e natureza – afastamento esse que pode ser verificado no Cristianismo, expresso em Gênesis, onde se lê que o homem é criado para subjugar e dominar peixes, aves e sobre tudo o que tem vida sobre a terra. Na Ciência, temos o positivismo e seus preceitos de neutralidade científica como ápice do projeto de separação entre seres humanos e não humanos.

A leitura do tempo a partir da história nos mostra o que esse preceito trouxe, e está trazendo, de consequências para a humanidade. Assim, os críticos do cartesianismo e do mecanicismo científico buscam por alternativas de reconexão da humanidade com a sua ancestralidade ambiental, como forma de alcançar soluções para as crises atuais. Autores como Bruno Latour6 e Enrique Leff7 são signatários dessa proposta.

Mas como operar essa reconexão – integração – radical? A Ciência, tornada entidade, seria capaz per si de rever seus atos e reconduzir o ser humano ao encontro de sua essência ambiental? E se for possível, até que ponto teremos condições de conter o princípio da brutalidade selvagem do meio ambiente contido em nós? Afinal, romantizar a natureza de forma absoluta também não é um caminho possível.

Não podemos pretender que tudo que experienciamos nos últimos 200 anos de existência seja negativo. Das ambiguidades das promessas do tempo passado frente às experiências do presente emergem oportunidades de propor a reconexão integradora, sem renunciar aos avanços da humanidade. Para Kothari, Salleh, Escobar, Demaria e Acosta:

Uma parte crucial de nossos problemas está na concepção de

“modernidade” – sem querer sugerir que tudo o que é moderno seja destrutivo ou injusto, tampouco que toda tradição seja positiva. Na verdade, elementos modernos, como os direitos humanos e os

6 Cf. LATOUR, Bruno. Políticas da natureza: como fazer ciência na democracia. Bauru/SP: Edusc, 2004.

7 Cf. LEFF, Enrique. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder.

Petrópolis/RJ: Vozes, 2011.

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princípios feministas, estão se provando libertadores para muita gente. (KOTHARI; SALLEH; ESCOBAR; DEMARIA; ACOSTA, 2021, p. 37)

Nessa empreitada de religação sistêmica, a estética e a arte possuem um papel fundamental. Elas, livres das amarras metódicas propostas pela razão instrumental, possuem a potência narrativa que a Ciência não tem.

A literatura, historicamente, possui uma relação direta com reflexões ambientais. No Brasil, há grande destaque para os regionalismos, como o observado em Vidas Secas (1938), de Graciliano Ramos, e em Grande Sertão: Veredas (1956), de Guimarães Rosa, apenas para citar dois exemplos entre tantos outros possíveis. Em ambos os casos, a relação umbilical do sertanejo com a realidade ambiental à qual está exposto denota a sua própria constituição enquanto ser. A brutalidade da seca não pode ser pensada desconexa das personagens. Essa conexão com o ambiente é possível desde a existência das personagens que se confundem em vários momentos com o ambiente. Processa-se, desta forma, toda a potência da questão de que não basta a reconexão por si mesma, sob o risco de formação de seres ambientalmente humanos e humanamente brutalizados. Assim, requer manter os avanços da modernidade para além de uma solução simples de reconexão.

Ao abordar questões relativas a espaço e meio ambiente, a literatura faz a integração ou o desajuste entre homem e natureza. De certa forma, ao preocupar-se com problemas de preservação e sustentabilidade de nosso planeta, ela não deixa de equacionar em que medida cada um desses elementos se vê limitado ou potencializado pelo outro. SCARPELLI, 2007, p. 197)

Acerca dos componentes sociais na relação com o meio ambiente, ao debater a obra Grande Sertão: Veredas, Scarpelli (2007) destaca que “a denúncia à degradação ambiental do sertão [contida na obra] decorre, dentre vários fatores, da violenta e desumana exploração da mão-de-obra semi-escrava” (SCARPELLI, 2007, p. 202). A dimensão selvagem da reconexão ser humano-meio ambiente é ambivalente, dadas as condições climáticas, mas também, e principalmente, pelas relações de poder impostas por um modo de produção que revela toda sua violência.

Demonstra-se que a literatura nos oferece uma condição completamente distinta das narrativas científica ou filosófica, abrindo horizontes. Torna-se, assim, uma condição

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necessária para a constituição do ser humano em sua totalidade. A sua liberdade em relação aos limites morais permite, por exemplo, a narrativa do aproveitamento do papagaio como alimento, por parte da família da Fabiano em Vidas Secas (1938).

A humanidade ambiental radical se revela em sua plenitude diante da fome e das condições de existência. A literatura nos permite refletir sob o prisma da existência, da constituição integral da humanidade, na empreitada da reconexão do ser com sua ancestralidade ambiental.

O que dizem as pesquisas no campo da literatura?

Colocadas as condições teóricas em torno do ser ambientalmente humano, tendo por princípio a relação entre educação ambiental e literatura – especialmente poesia –, buscamos um diálogo com o que tem sido produzido no Brasil.

Quadro 2 – Resultado de buscas em bases científicas para a associação entre educação ambiental e literatura

Título Autor(es) Ano de

publicação

Palavras-chave

Contribuições da literatura popular do vale do Jequitinhonha para a educação ambiental e a educação em ciências de base comunitária

Daniel Renaud Camargo;

Celso Sánchez Pereira

2021 Educação de base comunitária;

Literatura popular;

Vale do Jequitinhonha

Revisão sistemática: a aplicação da literatura de cordel no ensino das disciplinas da área de educação ambiental

Marília Gabriela de Souza Fabri; Rodrigo de Sousa Poletto

2020 Educação ambiental;

Literatura de cordel;

Revisão sistemática A literatura como instrumento para

se trabalhar a educação ambiental na escola

Andréa Brito Macêdo 2020 Interdisciplinariedade;

Educação básica;

Meio ambiente;

Expressão cultural Estudo da relação homem natureza

na obra de Luiz Gonzaga: uma contribuição à educação ambiental

Rute Carolina da Cunha Benigno; Leão Xavier da Costa Neto; Magnus Kelly Moura da Cunha

2017 Educação ambiental;

Luiz Gonzaga;

Etnomusicologia;

Bakhtin Natureza, sensibilidade ambiental e

tendências antropocêntricas na literatura infantojuvenil brasileira (1934-1971)

Carlos Renato Carola;

Gladir da Silva Cabral

2014 Natureza; Literatura infantojuvenil;

Literatura antropocêntrica Literatura infantil & educación

ambiental: contribución em la construcción de la identidade del ser humano

Maria de Lourdes Alves Bedendi

2011 Literatura Infantil;

Educación ambiental;

Lectura;

Conocimiento

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O cordel como mídia alternativa em programas de Saúde e Educação Ambiental

Paulo Roxo Barja 2010 Cordel; Folheto; Meio ambiente; Saúde Ciência e poesia em diálogo: uma

contribuição à educação ambiental

Antonio Almeida da Silva 2009 Educação ambiental;

Ciência; Poesia;

Diálogo

Educação Ambiental e

Identidade(s) Latino Americana: um estudo através da obra literária de Octávio Paz

Valdo Barcelos 2004 Octávio Paz;

Literatura e ecologia;

Educação ambiental Fonte: Elaboração dos autores, com base em pesquisas nas bases Scielo e Periódicos CAPES (Cf.

nota de rodapé 4, página 3).

Ao analisar o material prospectado, a partir da pesquisa, chamou-nos a atenção o baixo número de artigos que versam sobre educação ambiental e literatura – e menos ainda quando especificamos a poesia como gênero. Surpreendeu-nos que um tema essencial para a existência material e simbólica fosse tão pouco abordado academicamente no campo da análise literária, ainda mais por ser elemento relevante para a elaboração estrutural da literatura – construção do tempo e espaço na narrativa, personagens, tradições e intertextos presentes nos textos.

Sabe-se, contudo, que a questão ambiental é um dos elementos mais centrais em nossa literatura, seja pela valorização dos elementos nacionais, em especial no século XIX e início do século XX, bem como a compreensão da realidade, que no Brasil, tradicionalmente, desemboca em tentativas analíticas e sociais da compreensão da realidade. Assim, Sérgio Buarque de Holanda destaca a singularidade da questão ambiental no Brasil, remontando o mito de criação europeia do território. Cita, para isso, a carta de Pero Vaz de Caminha como elemento material e simbólico do mito8. Essa construção simbólica é marcante de tal forma que o próprio nome de nosso país remete a um elemento da natureza – apropriado materialmente pelos portugueses a partir de seu valor de mercado. O nome de uma árvore, que significava uma mercadoria para os estrangeiros que por

8 “A atmosfera mágica de que se envolvem para o europeu, desde o começo, as novas terras descobertas parece assim rarefazer-se à medida que penetramos a América lusitana. E é quando muito à guisa de metáfora, que o enlevo ante a vegetação sempre verde, o colorido, variedade e estranheza da fauna, a bondade dos ares, a simplicidade e inocência das gentes – tal lhes parece, a alguns, essa inocência que, dissera-o já Pero Vaz de Caminha, “a de Adão não seria maior quanto à vergonha” – pode sugerir-lhes a imagem do Paraíso Terrestre.” (HOLANDA, Sérgio Buarque. Visão o Paraíso: os motivos edênicos no descobrimento e colonização do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 43).

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aqui aportavam seus navios, se sobrepôs a empreitadas religiosas como Terra de Vera Cruz ou Terra de Santa Cruz, no que foi, inclusive, sinal maldição9.

Dessa forma, é inerente que subjetividades criadas no Brasil, em torno de uma possível identidade nacional – tão questionada a partir do modernismo10 –, tenham elementos suficientes para alimentar estudos e pesquisas no campo da literatura, em contato com as recentes discussões ambientais, e especificamente a educação ambiental.

Uma segunda característica relevante para o debate é a distribuição dos artigos.

Iniciadas há menos de duas décadas, as produções específicas sobre a interface entre literatura em educação ambiental carecem de maior espaço entre as publicações especializadas – revistas científicas. Das 9 produções encontradas no levantamento, temos que 1/3 versam a respeito de literatura regionalista – música/poesia de Luiz Gonzaga, cordel e literatura popular no vale do Jequitinhonha. Uma buscou a realização de uma revisão de literatura científica, e outras 2 produções são de autores estrangeiros latino-americanos. Dentre as obras brasileiras, apenas uma se dedicou mais profundamente à poesia como gênero, no contexto da arte literária, para promover a educação ambiental.

Dentre os textos que abordam especificamente a poesia como ferramenta pedagógica para a educação ambiental, Barcelos (2004), ao investigar o ensaísta mexicano Octávio Paz (1914-1998), defende que nas ideias do autor há “uma contribuição importante tanto para o entendimento das possíveis origens dos

9 “O dia em que o capitão-mor Pedro Álvares Cabral levantou a cruz, que no capítulo atrás dissemos, era 3 de maio, quando se celebra a invenção da Santa Cruz, em que Cristo Nosso Redentor morreu por nós, e por esta causa pôs nome à terra, que havia descoberta, de Santa Cruz, e por este nome foi conhecida muitos anos: porém como o demônio com o sinal da cruz perdeu todo o domínio, que tinha sobre os homens, receando perder também o muito que tinha nos desta terra, trabalhou que se esquecesse o primeiro nome, e lhe ficasse o de Brasil, por causa de um pau assim chamado, de cor abrasada e vermelha, com que tingem panos, que o daquele divino pau que deu tinta e virtude a todos os sacramentos da igreja, e sobre que ela foi edificada, e ficou tão firme e bem fundada, como sabemos, e porventura por isto ainda que ao nome de Brasil ajuntaram o de estado, e lhe chamaram estado do Brasil, ficou ele tão pouco estável, que com não haver hoje 100 anos, quando isto escrevo, que se começou a povoar, já se hão despovoados alguns lugares, e sendo a terra tão grande, e fértil, como adiante veremos, nem por isso vai em aumento, antes em diminuição.” (SALVADOR, Frei Vicente do. História do Brasil. Frei Vicente do Salvador. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional [1627] 1889, pp. 3-4. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000138.pdf.

Acesso em 11 jun. 2022)

10 Macunaíma, publicada por Mário de Andrade em 1928, que ironiza a formação brasileira a partir de populações indígenas, negros escravizados e brancos europeus e seus descendentes, é um exemplo da crítica ao ideário de identidade nacional posto até então.

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dilemas contemporâneos quanto para a construção de alternativas ao modelo atual de sociedade herdado da modernidade ocidental” (BARCELOS, 2004, p. 241). A crise ambiental atrelada à modernidade, sobre a qual já nos alertou Kothari, Salleh, Escobar, Demaria e Acosta (2021) ou Santos (2007), é debatida a partir da ideia de desenvolvimento – premissa do positivismo presente inclusive em nossa bandeira:

“ordem e progresso”. O desafio para a criação de uma alternativa socialmente e ecologicamente justa na América Latina seria, entre outros, o de enfrentar poderes tradicionais e modelos de poder importados de fora. Para Barcelos (2004)

uma intrínseca relação entre a ideia de sociedade democrática para a América Latina, à construção livre e autônoma de suas identidades defendida no pensamento de Paz, e as possíveis alternativas de intervenção sobre os problemas ecológicos contemporâneos neste continente e no planeta. Mais ainda, vejo uma profunda relação entre a ideia de educação ambiental para a cidadania planetária e os conceitos de democracia, liberdade, tolerância, necessidade de criatividade, de valorização da cultura, dos saberes, costumes, crenças dos povos. Enfim, de uma aposta no diálogo entre os diferentes segmentos sociais como forma radical de respeito ao outro. (BARCELOS, 2004, p. 245-246).

Esta forma radical de diálogo, também proposta por Freire (2016) a partir do dialogismo, só pode ser alcançada por intermédio de variadas estratégias discursivas. Nesse sentido vale destacar que a dimensão estética dos textos literários possui como característica provocar “placer y conocimiento por su contenido, forma y organización, se puede afirmar que, por ser una expresión del hombre, es um buen medio de comunicación que explora todas las partes y alcances del linguaje” (BEDENTI, 2011, p. 59).

Ainda estabelecendo diálogos com Freire (2016), Carmargo e Pereira (2021) pesquisam elementos da educação popular na construção coletiva de debates ambientais. O recorte da pesquisa dos autores é o Vale do Jequitinhonha, com uma população com marcações culturais bastante características – fortalecendo assim o regionalismo na literatura. A proposta é tratar a educação ambiental a partir de poemas.

Apresentamos duas poesias de mestre Gilmar que refletem sobre as transformações vivenciadas pelas populações do sertão mineiro, destacando, em especial, as mudanças perceptíveis nas paisagens, no cotidiano e na cultura das comunidades locais. Tais poesias estão presentes nos últimos livros publicados pelo autor; a primeira obra selecionada, Sertão Moderno, apresentada a seguir, foi publicada no

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livro Entre a arte e a peleja (SOUZA, 2015). O poema apresenta uma descrição sobre a realidade desse território e agrega muitas das inquietudes e visões de mundo do povo do Vale do Jequitinhonha (CAMARGO; PEREIRA, 2021, pp. 9-10).

E continuam:

O poema Sertão Moderno resume a realidade das transformações vivenciadas pelos moradores do Vale, uma região que, por muito tempo, resistiu ao abandono por parte do poder público, mas, recentemente, viu-se diante de rápidas mudanças, que alteraram profundamente o modo de vida das populações locais. Sertão Moderno reflete sobre as modificações da vida, da paisagem e da cultura, bem como sobre a chegada das tecnologias e da modernidade ao sertão mineiro (CAMARGO; PEREIRA, 2021, p. 11).

Como já destacamos, a aproximação entre a temática ambiental e o regionalismo na literatura brasileira revela ser potente para promoção da educação ambiental. Com suas narrativas próprias, já destacamos aqui as obras Vidas Secas (1938) e Grande Sertão: Veredas (1956). Nesse sentido a discussão em relação ao cordel como veículo de informações sobre meio ambiente e saúde (BARJA, 2010) e a musicalidade de Luiz Gonzaga (BENIGNO; COSTA NETO; CUNHA, 2017) são bastante representativas e dialogam com Camargo e Pereira (2021).

Barja (2010) destaca que a eficácia de campanhas de educação ambiental e de saúde depende, em grande medida, da atratividade da apresentação e de uma linguagem direta e de fácil compreensão. O apelo literário do cordel, com uso de linguagem coloquial e, muitas vezes, de rima musicada, deveria ser explorado para alcance desses objetivos. Nesse caso específico, o autor abstém-se de discussões mais aprofundadas sobre o conteúdo do cordel.

Especificamente no tocante à poesia, na defesa de Benigno, Costa Neto e Cunha (2017), esta possui componente essencial para ressignificar a construção dos conhecimentos. Está intimamente ligada à dimensão subjetiva, que por sua vez é potente para promover alterações no modelo acadêmico-mecanicista de ensino.

Assim, os autores se propõem a “conhecer a dimensão subjetiva da interação homem-natureza, partindo da ideia de que esta também é construída intersubjetivamente e de que o seu reconhecimento é fundamental à educação ambiental” (BENIGNO; COSTA NETO; CUNHA, 2017, p. 345).

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De fato, ao reconhecer os processos de construção do conhecimento e de organização sociopolítica e econômica, que contribuem para as mazelas ambientais da humanidade, se torna premente valorizar formas alternativas de subjetividade, que reconectem os seres humanos à dimensão ambiental. Santos (2007) destaca que, “para modificar o panorama atual de degradação ambiental, necessitamos democratizar os objetivos ambientalmente éticos [...] e dotar os agentes de poder legitimador de seus discursos [...]” (SANTOS, 2007, p. 45). A poesia, nesse aspecto, possui elementos potentes, ao explorar a estética e a subjetividade, a partir do trabalho com a palavra. Dias (2018), considera:

o texto poético a porta de entrada para o prazer da leitura em sala de aula, pelo seu caráter lúdico, multissignificativo. O poema oferta ao aluno, leitor iniciante, elementos que o aproximam da música, pela melodia, pelo ritmo. Cabe ao professor, que se preocupa com os avanços de aprendizagem dos seus alunos, pode e deve elaborar projetos de leitura, cujo ponto de partida sejam poemas que despertem a ludicidade e a fantasia, num primeiro momento, para em seguida ser direcionado à reflexão crítica sobre o lido (DIAS, 2018, p.

471-2).

Ou seja, a poesia possui um lugar próprio, único, no despertar, no reforço e na ressignificação do interesse pela dimensão simbólica. A poesia é potente para elaborações complexas do ser humano, como é o caso dos conteúdos de educação ambiental. Contudo, como já expressamos, não nos satisfazem elaborações superficiais para debater a relação entre seres humanos e natureza. Interessa-nos o que temos chamado aqui de reflexões radicais e integradoras, em oposição ao pressuposto moderno da Ciência de separação entre humanos e não humanos, entre pessoas e natureza, entre sociedade e meio ambiente.

As reflexões ambientais radicais e integradoras, propostas a partir da escrita poética, que nos interessam para promover a educação ambiental, devem levar em conta: a forma como nos organizamos em sociedade para produção de bens e serviços; os elementos de valorização estética, principalmente no mundo urbano; os reflexos de problemas sociais na relação seres humanos e natureza (racismo ambiental e injustiça ambiental)11.

11 Ressaltamos que a poesia não deve ter, em si, uma função determinada. Isto simplesmente significaria tolher completamente a arte de sua particularidade. O que defendemos aqui é a apropriação poética para promover a educação ambiental, o que significa apenas uma dentre as variadas formas possíveis de apropriação.

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A poesia de Manoel de Barros, nesse contexto, se apresenta como possibilidade de aproximação entre a literatura e a educação ambiental. Nas palavras de Péres (2012):

A constante referência ao discurso religioso na poesia de Barros conduz à dedução de que sua poesia propõe uma ética baseada em certos princípios religiosos. Daí a citação de São Francisco de Assis [no poema “29 escritos para conhecimento do chão através de S.

Francisco de Assis”], metáfora máximo do poeta que ama a natureza, valorizando as coisas inúteis, segundo a ótica do sistema capitalista, e revalorizando os homens marginalizados.

No âmbito temático, as obsessões vocabulares revelam reiteradamente os mesmos seres, objetos, e paisagens. A humanização dos animais e a coisificação do humano assumem grande relevância em seus poemas. A coisificação não é a reificação, ela se apresenta como o estabelecimento de uma relação harmoniosa entre os homens e o meio ambiente. É uma forma de estabelecer a igualdade entre os seres, não o rebaixamento do homem (PÉRES, 2012, p. 113-114).

CAMINHO PROPOSTO: MANOEL DE BARROS, POESIA E MEIO AMBIENTE

Pensar a poesia enquanto elemento central em uma proposta de educação ambiental, apesar do diálogo com o aporte científico, significa incorporar uma linguagem própria das artes. Alçar sua relevância para formação humana por si só.

Como já nos alertou Candido, em seu célebre texto sobre o direito à literatura,

“ninguém pode passar vinte e quatro horas sem mergulhar no universo da ficção e da poesia, a literatura concebida no sentido amplo a que me referi parece corresponder a uma necessidade universal” (CANDIDO, 2011, p. 177).

Ademais, a literatura possui um duplo sentido na formação das subjetividades: pode ser expressão de um tempo e de comportamentos e, da mesma forma, influenciar comportamentos humanos a partir de sua difusão. A esse respeito o próprio Candido destaca que a literatura é ambivalente está ligada à complexidade humana

(1) ela [a literatura] é uma construção de objetivos autônomos como estrutura e significado; (2) ela é uma forma de expressão, isto é, manifesta emoções e a visão do mundo dos indivíduos e dos grupos;

(3) ela é uma forma de conhecimento, inclusive como incorporação difusa e inconsciente (CANDIDO, [1988] 2011, p. 178-179).

(17)

A respeito da relação entre subjetividade e arte, Benigno, Costa Neto e Cunha (2017) destacam que a música, entendida a partir de sua letra:

se apresenta como uma das manifestações culturais mais carregadas de subjetividade. Sendo assim, ela [a música] expressa e, ao mesmo tempo, molda, as concepções de mundo das pessoas, podendo influenciar nas diversas formas de relação que elas estabelecem com seu meio social e natural. Adotamos o pressuposto de que músicas cujas letras são ricas em elementos do meio natural veiculam significados sobre este, podendo ser tomadas como objeto de estudo quando se deseja compreender a subjetividade humana presente na relação homem-natureza e a produção de sentidos que esta relação exige (BENIGNO; COSTA NETO; CUNHA, 2017, p.

345).

Justamente por possuir uma narrativa própria, a literatura tem um alcance particular que a ciência não possui. Admite narrativas contraditórias específicas, inerentes à humanidade.

Nesse contexto destaca-se a obra de Manoel de Barros, nascido em 1916 na cidade de Cuiabá, atualmente Mato Grosso do Sul. Sua poesia é marcada, entre outros, pela vida pantaneira, pelo regionalismo próprio de seu contexto, pela fusão entre poesia e meio ambiente. Em seus textos propõe um ser humano também fundido à natureza a partir de uma subjetividade que combina humanidade no desumano – a natureza tornada ser humano – e a desumanização do ser humano – do que é capaz uma pessoa em termos de sobrevivência. Essa visão não fica restrita à literatura, e nas palavras de Silva (2009) as poesias de Manoel de Barros “nos direcionam a uma ciência mais próxima do ser, utilizando-se das inutilidades, das coisas insignificantes, dos andarilhos. Tudo que a sociedade ignora e despreza serve para poesia” de Manoel de Barros (SILVA, 2009, p. 4).

Voltando à dimensão literária, Segundo Péres (2012) a poesia de Barros

foi laureada com praticamente todos os prêmios literários nacionais e com alguns internacionais. Atualmente sua obra poética assumiu status de cânone, devido à popularidade adquirida ao longo dos anos e ao reconhecimento da crítica especializada, manifesto na grande quantidade de estudos acadêmico dedicados ao seu estudo (sic) (PÉRES, 2012, p. 18).

Para Santana (2016), a obra de Barros “está repleta de elementos que possibilitam ao leitor reflexões acerca das questões ambientais do Pantanal e, também, em torno da situação pela qual passa a natureza em outras partes do Brasil e do mundo”

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(n.p.). A elaboração poética de Barros se assemelha à constituição do próprio meio ambiente. Não é possível propor separações, comuns ao universo da ciência, entre arte e concepção de meio ambiente, o que privilegia sua obra enquanto veículo de promoção de uma educação ambiental radical e integradora.

Nesse sentido destacamos o poema “29 escritos para conhecimento do chão através de S. Francisco de Assis” no contexto da educação ambiental radical e integradora.

O chão reproduz do mar

o chão reproduz para o mar o chão reproduz

com o mar

O chão pare a árvore pare o passarinho pare a

rã — o chão pare com a rã o chão pare de rãs e de passarinhos o chão pare do mar

O chão viça do homem no olho

do pássaro, viça nas pernas do lagarto (1) e na pedra Na pedra

o homem empeça de colear

Colear

advém de lagarto

e não incorre em pássaro Colear induz

para rã e caracol (2)

(1) O LAGARTO – O lagarto / pode ser encontrado em lugares alagadiços / nas chapadas ressecas / nas sociedades por comandita / nos sambaquis:

ao lado das praias sem dono explorando / conchas mortas; / nas passeatas a favor da família e da pátria / e / segundo narra a história / um desses bichos foi apalpado pelo servo Jó / sobre montão de pedras / quando

este raspava com um caco de telha / a podridão que Deus lhe dera. / O

lagarto / é muito encontradiço também / nas regiões decadentes / arrastando-se por sobre paredes do mar como a ostra / e sua fruta orvalhada. /

Parece que a lagarta grávida se investe nas funções de uma pedra seca / passando setembro / e / sentindo precisão de escuros para seu desmusgo / se encosta em uma lapa úmida / e ali desova / — ninguém sabe. / Pode o lagarto ainda / ser visto pegando sol / nas praias / com seus olhinhos fixos / mastigando flor…

(19)

(2) O CARACOL – Que é um caracol? um caracol é: / a gente esmar /

com os bolsos cheios de barbante, correntes de latão / maçanetas, gramofones / etc. / Um caracol é a gente ser: / por intermédio de amar o

escorregadio / e dormir nas pedras. / É: / a gente conhecer o chão por intermédio de ter visto uma lesma / na parede / e acompanhá-la um dia inteiro arrastando / na pedra / seu rabinho úmido / e / mijado. / Outra de caracol: / é, dentro de casa, consumir livros cadernos e / ficar parado

diante de uma coisa / até sê-la. / Seria: / um homem depois de atravessado por ventos e rios turvos / pousar na areia para chorar seu vazio. /

Seria ainda: / compreender o andar liso das minhocas debaixo da terra / e escutar como os grilos / pelas pernas. / Pessoas que conhecem o chão

com a boca como processo de se procurarem / essas movem-se de caracóis! / Enfim, o caracol: / tem mãe de água / avô de fogo / e o passarinho nele sujará. / Arrastará uma fera para o seu quarto / usará chapéus

de salto alto / e há de ser esterco às suas próprias custas!

Colear

sofre de borboleta e prospera

para árvore Colear prospera para o homem O homem se arrasta de árvore

escorre de caracol nos vergéis

do poema

O homem se arrasta de ostra

nas paredes do mar O homem (3)

é recolhido como destroços de ostras, traços de pássaros surdos, comidos de mar O homem

se incrusta de árvore na pedra

do mar.

(3) O NOSSO HOMEM – … Como Akaki Akakievitch, que amava só o seu capote, / ele bate continência para pedra! / Ele conhece o canto do mar grosso de pássaros, / a febre / que arde na boca da ostra / e a marca do lagarto na areia. / Esse homem / é matéria de caramujo.

(BARROS, 2010, p. 131-3)

Vale ressaltar aqui a fusão entre homem e meio ambiente – “o homem se incrusta de árvore” – e as bases materiais da existência da vida na Terra – “o chão reproduz para o mar” e “o chão pare / do mar”; “o chão pare a árvore” e “o chão pare de rãs” – estão presentes em todo percurso lírico do poema. Trazendo para uma reflexão emancipadora, é possível estabelecer as conexões mais estruturais acerca do cenário ambiental atual, de maneira a considerar a reflexão sobre quem tem se

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apropriado da árvore que foi parida pelo (nasceu a partir do) chão. E quais as consequências do desmatamento – do fruto parido do chão – para o equilíbrio de um ecossistema? Se o chão pare e é parido pelo mar, pela rã, pelo passarinho, em um circuito de causa e efeito, o seu adoecimento significa a falta de saúde de todos – ou de grande parte da população do planeta (a parte mais pobre sofre mais os efeitos do desequilíbrio ambiental12).

Torna-se premente promover uma reflexão sobre as causas estruturais do contexto do qual estamos diante. Ressaltamos a apropriação capitalista de grande escala, monetarizando a vida e concentrando as riquezas para pequenos grupos. Segundo Leff (2001), o tempo da economia capitalista de mercado está completamente em descompasso com o tempo ambiental. O capitalismo busca acelerar o tempo ambiental, com uso de fertilizantes e demais recursos energéticos e químicos na ânsia de diminuir o tempo de crescimento de plantas e animais. Segundo o autor “a valorização dos recursos naturais está sujeita a temporalidades ecológicas de regeneração e produtividade que não correspondem aos ciclos econômicos” (LEFF, 2001, p. 65). Diante desse quadro, é possível pensar em uma reversão do desmatamento – derrubada de árvores, que são frutos do chão – sem discutir as condições estruturais que o sustenta?

Em outro trecho, em “O chão viça do homem / no olho / do pássaro, viça / nas pernas / do lagarto / e na pedra” temos a exposição da responsabilidade humana sobre “o chão”. A contradição aqui pode ser explorada a partir da relação que o poeta descreve em relação aos problemas ambientais de nosso tempo. A base material da existência do ser humano cresce, floresce com vigor, a partir do homem e dos animais, contudo temos experienciado tempestades, secas, epidemias e demais eventos naturais catastróficos como nunca na história da humanidade.

A partir da obra de Barros é possível demonstrar a relação umbilical entre meio ambiente e humanos ou entre humanos e não humanos – “O homem / se incrusta de árvore / na pedra / do mar”, de modo a apresentar que os malefícios da ação humana sobre a natureza, na essência é o mal do homem contra o próprio homem.

Nesse sentido convém debater: por que esse modelo de exploração é incentivado?

12 Ver matéria da BBC News, de outubro de 2021, com o seguinte título: “Por que pobres são os mais afetados pelas mudanças climáticas”. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral- 59017132. Acesso em: 02 dez 2021.

(21)

Quem ganha e quem perde com esse jogo? A responsabilidade pelos desequilíbrios ambientais é dos pobres? Quem se beneficia da extração de petróleo, da madeira retirada em enormes quantidades das florestas, da venda de sacolas plásticas e garrafas pet? Sabemos que quem mais sofre com secas, enchentes, desequilíbrios climáticos, plásticos espalhados entre outros, são as comunidades mais carentes – sejam elas tradicionais ou das periferias urbanas.

CAMINHANDO PARA A FINALIZAÇÃO: CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em trabalhos anteriores (SANTOS, 2021) apresentamos a ideia de que as interações múltiplas a partir conflitos ambientais podem ser ferramentas para potencializar a explicitação de contradições, de modo que possuem a potência de angariar apoio às mobilizações sociais e populares.

Quadro 4 – Níveis de conflitos sociais

Conflitos Descrição

Latentes Mecanismos sócio-políticos e culturais encobrem estes tipos de conflitos Manifestos e/ou

naturalizados

Conflitos visíveis, contudo, não possuem força política para compor a agenda política local, regional e/ou nacional. Quando naturalizados

sofrem processo de reificação

Explícitos Conflitos visíveis e possuem força política para entrar nos debates da agenda política local ou regional

Extremos Conflitos que atingem níveis desproporcionais, chegando a afetar a integridade física dos embatentes

Fonte: Santos (2021), p. 804.

Os conflitos sociais, além de ferramenta se traduzem em prática pedagógicas. Tal afirmação encontra eco nas palavras de Sousa Santos, que destaca

A conflitualidade do passado, enquanto campo de possibilidades e decisões humanas, é assumida no projeto educativo como conflitualidade de conhecimentos. Para este projeto educativo não há uma, mas muitas formas ou tipos de conhecimento. Todo o conhecimento é uma prática social de conhecimento, ou seja, só existe na medida em que é protagonizado e mobilizado por um grupo social, atuando num campo social em que atuam outros grupos rivais protagonistas ou titulares de formas rivais de conhecimento. O projeto educativo emancipatório é um projeto de aprendizagem de conhecimentos conflituantes com o objetivo de, através dele, produzir imagens radicais e desestabilizadoras dos conflitos sociais em que se traduziram no passado, imagens capazes de potenciar a indignação e a rebeldia. Educação, pois, para o inconformismo, para um tipo de subjetividade que submete a uma hermenêutica de suspeita a repetição do presente, que recusa a trivialização do sofrimento e da opressão e veja neles o resultado de indesculpáveis opções (SOUSA SANTOS, 1996, pp. 17-8)

(22)

Os conflitos sociais possuem, assim, o caráter de explicitar contradições do passado e do presente, para projetar futuros possíveis – desejados ou não, de acordo com a escolha e condições políticas. O que o sistema de opressão faz, baseado na monetarização da vida, é a busca pela homogeneização das relações sociais, camuflando ou intentando a eliminação das diversidades – culturais e ambientais.

Nas palavras de Freire (2016), seria o ato de não escutar o outro, em um movimento antidialógico, pelo simples de fato não considerar o outro como um indivíduo pleno.

Assim se assenta o sistema de opressão: fingem-se não ouvir as vozes das periferias urbanas, de povos tradicionais e de todos aqueles que não enquadram no processo de homogeneização social.

O desafio da academia e dos movimentos sociais e populares alinhados à premissa emancipatória é como promover o conflito social nos níveis ótimos – que nas palavras de Santos (2021) seriam os explícitos, com força para tensionar o campo da agenda política. Nesse sentido apresentam-se as artes, em especial para esta reflexão a literatura e a poesia. A linguagem artística possui muito mais capilaridade na sociedade que a narrativa científica. Daí sua potência como instrumento de debate. Além disso, a linguagem artística ocupa um espaço próprio nas elaborações humanas, uma vez que produz e reproduz aquilo que o texto científico não dá conta – daí a discussão de Candido (2011) sobre a literatura como um direito universal.

Neste ensaio apresentamos a poesia de Manoel de Barros – “29 escritos para conhecimento do chão através de São Francisco de Assis” – como possibilidade de elaboração de uma proposta de educação ambiental que busca a radicalidade, a formação humana integrada com o meio ambiente. A relação entre ser humano e natureza, a partir do lirismo deste poema, destaca, em última instância, o pensamento totalizante – não haverá humanidade saudável se o meio ambiente estiver adoecido. Partimos da premissa que os poetas possuem o poder de manipular/retratar/construir a realidade, a partir da linguagem, tornando o concreto a matéria de poesia, transformando-o em simbólico que retroalimenta a matéria.

Das interseções aqui apresentadas podemos derivar questionamentos adicionais sobre as condições estruturais que sustentam a degradação ambiental, bem como quem são os mais beneficiados e os mais afetados por esse contexto. A poesia pode abrandar ou endurecer nossas angústias – necessárias em nossa existência.

(23)

Entendemos que há vários outros gêneros capazes de promover o encontro, entre a educação ambiental e a literatura, mas defendemos com base nesse ensaio a potência da poesia para tal.

Esperamos trazer, com essa reflexão, uma contribuição para a busca de uma sociedade mais socialmente equânime e ambientalmente justa.

REFERÊNCIAS

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2022.

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