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DIFERENTES RECURSOS PARA INCREMENTAR A EXPERIÊNCIA DE LEITURA EM LIVROS INFANTO-JUVENIS

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Academic year: 2018

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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA

DIRETORIA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA, PESQUISA E EXTENSÃO

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO PROJETOS EDITORIAIS IMPRESSOS E MULTIMÍDIA

DIFERENTES RECURSOS PARA INCREMENTAR A EXPERIÊNCIA

DE LEITURA EM LIVROS INFANTO-JUVENIS

ALUNO: Maria Claudia Müller PROFESSOR ORIENTADOR: Priscila Borges

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Diferentes recursos para incrementar a experiência de leitura em livrosInfanto-juvenis*

Maria Claudia Müller1

Resumo

Este artigo discorre sobre diferentes recursos utilizados por autores, ilustradores e designers de livro para incrementar a experiência de leitura em livros infanto-juvenis, deixando o ato da leitura mais interessante e dinâmico para o público jovem, assim como mostrar a importância e os benefícios da literatura infanto-juvenil. Contextualizando o livro impresso em meio à era da leitura digital a fim de demonstrar seus diferenciais, usa como exemplos principais os livros Jonathan Strange & Mr. Norrel, A Grande Viagem da Senhorita Prudência, e a série Griffin & Sabine. Os livros são analisados em seus aspectos gráficos e visuais, objetivando demonstrar os diferenciais que a tecnologia permitiu alcançar em livros impressos, e que não apenas os livros digitais podem ser interativos e interessantes para crianças e jovens.

Palavras-chave: Literatura Infanto-Juvenil. Recursos Editoriais. Importância da leitura.

*Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para o curso Projetos Editoriais Impressos e Multimídia.

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Introdução

Em um mundo cada vez mais digital, é imprescindível que se pense em novos formatos ou recursos para os livros infanto-juvenis. A televisão, os jogos eletrônicos e a Internet têm se tornado os principais meios de entretenimento para crianças e jovens. Porém, muitas vezes, um texto literário impresso longo e corrido pode se mostrar excessivamente estático, adequado para um público mais maduro ou com mais experiência de leitura, mas com baixa capacidade para atrair candidatos a novos leitores.

Dentre os diversos recursos que podem ser citados, destacam-se as ilustrações, recortes, diferentes materiais e texturas. Porém, não são apenas os recursos de impressão e de materiais aqueles responsáveis por ajudar a guiar uma leitura mais prazerosa ou até mesmo, mais ágil. A escolha da tipografia, uma diagramação compatível com a proposta do texto e usos de espaço em branco também têm sua importância e auxiliam o texto de forma a torná-lo mais atraente e legível para a leitura.

O livro e a escrita já sofreram mudanças tecnológicas no passado. A escrita passou por suportes como pedra, madeira, pele de animais entre outros até chegar ao códex – cadernos costurados e unidos por uma capa. Mas a nova era da literatura digital promete revolucionar a forma como conhecemos os livros, mudando até mesmo nossos hábitos de leitura.

O historiador norte-americano John Makinson, presente na FLIP de 2010, afirmou em entrevistaque “as novas tecnologias estão a levar a literatura para uma nova era, mas que não retiraram prestígio ao livro impresso.” Desta mesma forma, os diferentes tipos de mídia começam a convergir e sistemas híbridos começam a ser formados. (SANTAELLA, 2003, p.71) Audiobooks, livros-jogos para IPads, livros com extras que podem ser acessados na internet através de links, são apenas alguns exemplos desta união. “Da mesma forma que a televisão não matou o rádio, acredito que o livro digital e o livro impresso são complementares.” (MAKINSON, 2010)

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virando a opção de muitos leitores, seja pela praticidade de se carregar diversos títulos em um único, pequeno e leve aparelho, seja pela interatividade que muitos livros possuem ou ainda pelo preço.

A partir destes fatos, este artigo se propõe a discorrer sobre alguns dos recursos que autores e designers podem utilizar para incrementar a experiência de leitura, como interatividade, uso de recursos visuais gráficos, criativas notas de rodapé e ilustrações, estudando as características que possibilitam a sobrevivência do livro impresso mesmo com o crescimento dos dispositivos de leitura eletrônicos. Isto será feito através da análise de três livros. Cada um com um recurso diferente que visam: criatividade, interatividade e o aprofundamento de conteúdo.

1. O livro no cenário digital

Ainda existem poucas pesquisas para se calcular os benefícios e relações entre literatura impressa e digital, já que esta última ainda é muito nova. Mas é inegável que a leitura digital, com seus hipertextos, jogabilidade e interações exercem um grande poder de atração nas crianças. Outro ponto forte dos leitores digitais é a portabilidade que é de fato um dos fatores determinantes de sua expansão. Poder carregar diversos livros em um aparelho pequeno e leve é uma grande vantagem se comparado ao peso e ao volume dos livros de papel. Além disso, dispositivos como o IPad que possuem uma tela luminosa, permitem a leitura no escuro. Mas este ponto forte vem acompanhado de um porém: a tela luminosa pode causar fadiga visual. Uma recente pesquisa feita pela Universidade de Campinas afirma que dispositivos com telas luminosas, ao serem usados por jovens antes de dormir podem causar insônia. “As consequências, de maneira geral, vão desde irritação, dificuldades de concentração e estresse ao infarto.” (REIMÃO, 2011).

No entanto, no Brasil, o acesso aos dispositivos eletrônicos de leitura ainda é bastante restrito. Segundo dados de 2011 da CBL2 (Câmara Brasileira de Livros), apenas cerca de 3% dos brasileiros já tiveram contato com um livro digital contra a pesquisa americana, na qual 57% das crianças disseram preferir ler livros digitais. O preço de um leitor digital no Brasil ainda é

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caro para que esta mídia se torne popular. Além disso, poucas livrarias digitais brasileiras vendem livros infantis, principalmente os interativos (pesquisa FAPESP, 2011). A partir destas informações, pode-se afirmar que a literatura infantil em meios digitais ainda poderá levar alguns anos para se popularizar no Brasil.

Mas isto não impede escritores, editores e designers de livros de criar histórias e livros interativos para crianças e jovens. Muitos recursos já são utilizados para este fim no meio analógico. Inclusive, um dos livros considerados como o primeiro livro infantil sem intuitos religiosos, de 1744, do autor John Newbery, possuía certa interatividade. Os livros vinham com uma bola para os meninos e uma almofada de alfinetes para as meninas (The Norton Anthology of Children’s Literature, 2005, p 28).

1.1. O papel da literatura juvenil impressa

É quando somos crianças que temos nosso primeiro contato com a literatura. Seja ela em músicas de ninar, rimas, histórias na hora de dormir ou contos de fada. Ouvimos e criamos histórias e este contato com o fantástico na infância tem bastante influencia para nos tornar – ou não – leitores.

A literatura infanto-juvenil sempre teve grande importância na história, influenciando culturas. Com o propósito de ensinar moral, boas maneiras, virtudes, ou ser simplesmente um bom entretenimento para as crianças. Contar histórias é uma prática muito antiga e com caráter educativo.

Os contos de fada, por exemplo, sempre estiveram presentes mesmo antes de serem escritos e formatados em livros. Os contos de fadas fazem parte da tradição oral, foram se modificando ao longo dos anos e tinham a função de ensinar as crianças sobre o mundo. Apesar de muitos adultos se perguntam sobre a função dos contos de fada, com medo que elas mostrem o lado negativo da vida – pois muitas vezes as histórias têm personagens ou passagens cruéis – elas têm o papel fundamental de apresentar alguns elementos como coragem, virtudes, valores, além de mostrar às crianças que existe mal no mundo (informação verbal) 3.

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Como vemos, a literatura infantil sempre teve um aspecto educativo. Seja relacionado a boas maneiras ou com lições de moral. Ajuda a criança a se desenvolver intelectualmente e culturalmente além de acrescentar cargas de conhecimento. “Caso pretenda desenvolver a capacidade de formar opiniões críticas e chegar a avaliações pessoais, o ser humano precisará continuar a ler por iniciativa própria.” (BLOOM, 2001, p. 17).

Como citado por Bloom (2001) a leitura é importante para que o ser humano possa desenvolver sua capacidade crítica e buscar conhecimento. A introdução à leitura deve ser feita na infância para que esta habilidade seja ampliada, além de desenvolver uma boa concentração para leituras mais complexas e boa interpretação textual.

Em um mundo repleto de opções interessantes e digitais, os livros apenas serão uma boa opção de entretenimento para as crianças caso os pais tenham consciência da importância da leitura e introduzam seus filhos a ela. A literatura é a herança cultural deixada por nossos antepassados, um tesouro que pertence e está disponível para que todos possam se beneficiar dela e, para isso, a base de leitura na infância é fundamental tornando-se responsabilidade da família e da escola. Como afirmou Harold Bloom em sua entrevista para a revista Época4:

As crianças de hoje não são mais burras que as de antigamente. O problema está em vencer modismos e chamar a atenção para bons exemplos literários. Talvez a queda dos índices de leitura se deva aos maus exemplos que os pais estão dando a seus filhos. (BLOOM, 2001)

Na mesma entrevista, Bloom afirma algo que pode ser aplicado na atual discussão sobre a literatura juvenil e a forma como é recebida por seu público: “Não vejo diferença entre literatura adulta e infantil. Existe, sim, uma diferença essencial entre boa e má literatura.” A literatura é capaz de ampliar os horizontes de um jovem leitor, ao estar sozinho com os poemas, romances ou excertos de mitologia grega, o jovem leitor se torna ainda mais consciente de suas capacidades como criadora do texto que lê. De acordo com Lins (2004), o livro infantil tem o papel de estimular a criança a ser criança e a criar. As imagens enriquecem a história e junto com o texto dão ao leitor o poder de imaginar diferentes histórias. “Novos

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leitores criam textos novos, cujas significações dependem diretamente de suas novas formas.” (D. F. McKenzie apud Roger Chartier, 2002, p 14). Estas novas formas se referem às diferentes interpretações que um mesmo texto pode ter dependendo de quem o lê – suas referências, experiências pessoais e repertórios. Desta forma o leitor passa a ter grande importância para o texto – já que é ele que lhe dá significado no momento da leitura.

1.2. Interatividade e criatividade na literatura impressa.

Apesar da nova realidade das transformações que estão ocorrendo com o surgimento dos aparelhos de leitura digital, existem muitos recursos que podem ser usados em livros impressos. Desde diferentes materiais até recursos literários e ilustrações.

Atualmente encontramos livros de pano, de madeira, de metal e de plástico. Livros infláveis e impermeáveis para serem lidos na praia, na piscina ou durante o banho. Livros com som, com cheiro, com as mais variadas texturas e recursos táteis. Livros com apliques, envelopes e bolsos. Livros com

origami (dobradura de papel), com pop-ups, (encaixes e dobraduras de

papéis formando “esculturas” instantâneas ao virar a página). Livros jogos,

CD-livros e E-books. (LINS, 2004, p.21)

Além dos acima citados por Lins, designer e autor de livros infantis, notas de rodapé e interatividades com as histórias trazem resultados muito interessantes como vistos nos livros Jonathan Strange & Mr. Norrel, Griffin & Sabine, e A Grande Viagem da Senhorita Prudência que serão analisados a seguir.

2. Análise

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Antes de realizar as análises dos livros propostos, é importante que se entenda o que é a imagem e alguns aspectos da metodologia da análise. Primeiramente, esclarecendo sobre a intercomunicação entre imagem e texto, o uso, a função e os entrecruzamentos das linguagens visual e verbal.

Para esta análise, será utilizada a teoria da semiótica, que aborda a imagem sob o ponto de vista da significação. Procuraremos entender o significado simbólico das imagens, isto é, seu potencial de trazer significados à história através de sua relação com o contexto, histórico e cultural, na qual está inserida.

De acordo com Peirce, tudo pode ser imagem a partir do momento que se coloca a ela uma significação que depende da leitura e contexto do leitor. “Estar corado ou pálido podem ser sinais de doença ou de emoção; os sons da língua que ouço são signos de conceitos que aprendi a associar-lhes; o fumo que eu cheiro é sinal de fogo;” (Peirce, 1978, apud JOLY, 2007, p.35). De maneira geral, o símbolo, é um signo cuja relação entre objeto e significado depende das convenções sociais em que está inserido.

Joly (2007) ainda afirma que as imagens não apenas complementam uma página ou história, mas também participam dela, ajudando a contar a história e transmitindo também uma mensagem.

(...) a linguagem não só participa na construção da mensagem visual, mas transmite-a, completando-a mesmo, numa circularidade simultaneamente reflexiva e criadora. O estudo de uma página de um romance, consagrada à revelação de uma fotografia misteriosa, permitir-nos-á observar, através das palavras, a força criadora das imagens e mais particularmente da imagem fotográfica. (JOLY, 2007, p.11.)

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3. A Grande Viagem de Senhorita Prudência

A Grande Viagem de Senhorita Prudência, publicado pela Editora Ática, é um livro infantil da francesa Charlotte Gastaut. Ele conta a história de Prudência, uma menina que precisa arrumar o quarto e se vestir para sair, mas ela prefere sonhar com outros mundos, ignorando as ordens da mãe. No que se refere à linguagem verbal, percebemos que predominam falas da mãe da personagem. Os outros textos verbais se restringem a pequenas palavras proferidas pela personagem principal, Prudência, e o canto de um passarinho. O restante do livro é composto por detalhadas e coloridas ilustrações, com recortes de páginas e transparências representando a protagonista interagindo com sereias, animais, monstros gigantes e com os cenários ricamente ilustrados. A história segue uma estrutura muito simples: A mãe e Prudência lhe dá uma ordem, ela tapa os ouvidos e as páginas seguintes a representam viajando pelo mundo de sua imaginação em ricas ilustrações. Só teremos texto novamente no final da história.

Estas páginas permitem ao leitor criar sua própria versão da história, fazendo com que cada criança interaja e desenvolva sua própria criatividade. Observamos, portanto, que os recursos visuais gráficos têm o papel fundamental de possibilitar a construção de diferentes narrativas. A forma como as linguagens verbais e visuais se combinam convida o leitor a participar ativamente da história, pois parte dela depende da imaginação do leitor.

3.1. Aspectos gráficos

O livro tem 26 cm de largura por 35 cm quando fechado. A capa, muito chamativa, possui uma impressão com laminação fosca com detalhes em cores vibrantes recobertos por verniz localizado e impressão em hot stamping no título e nome da autora. Para completar, a encadernação em lombada quadrada possui um acabamento em tecido. Este tecido possui pequenos detalhes impressos criando continuidade com a ilustração da capa, em um perfeito encaixe na encadernação. A folha de guarda é ilustrada com a mesma textura do tecido criando unidade. Sua presença ajuda na preservação do livro e união da capa com miolo.

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especiais para que não rasguem. Várias folhas possuem facas-especiais5, que interagem com a história em ambas as faces do papel. Além das páginas com recortes, temos várias páginas impressas em papel vegetal transparente que produz um efeito de sobreposição de imagens. A quarta capa também contém verniz localizado. O nível de acabamento geral do livro é muito alto tornando-o extremamente atrativo para o público infantil.

Figura 1 - Capa de A Grande Viagem da Senhorita Prudência FONTE: Arquivo Pessoal

3.2. Aspectos visuais

Algo notável ao longo das páginas é a repetição do pássaro rosa. Ele aparece em todas as páginas e na capa acompanhado de Prudência, interagindo com ela ou com os ambientes gerando uma unidade. Não há referência ao pássaro no texto, mas muitas vezes, ele imita a postura de Prudência, como uma representação da liberdade da personagem. Como pode ser visto na Figura 2, a ave imita a postura e expressão de Prudência. Interessante notar que as expressões da ave são sempre feitas com seus olhos e postura. Pode-se reparar até quando ele sorri – com os olhos – junto da garota.

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Figura 2 - Pássaro imitando as ações da personagem FONTE: Arquivo Pessoal

O livro é ilustrado com cenários ricos em detalhes, enquanto que a protagonista é desenhada de forma simples com pintura chapada, fazendo referência ao estilo adotado em animações, histórias em quadrinhos e ao superflat – estilo japonês de arte contemporânea. Sombreamentos são usados de forma moderada nos cenários e há destaques nos joelhos, cotovelos e bochechas de Prudência. A forma simples como é desenhada é ideal para a rápida identificação da personagem em meio aos detalhes dos cenários,

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Figura 3 - Prudência aparecendo várias vezes em uma mesma página FONTE: Arquivo Pessoal

A leitura do livro remete a uma sensação de liberdade que pode ser facilmente identificável na leitura de uma criança. A personagem se diverte em seu mundo imaginário de forma despreocupada e alegre.

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FIGURA 4 - Páginas internas onde podemos observar os recursos de acabamento FONTE: Blog Maria Artesanato

Como vimos, este livro possui grande poder de identificação com o leitor com o uso da tecnologia bem aplicada ao material de forma totalmente analógica (desconsiderando que a tecnologia digital é utilizada na produção do livro). Aqui, o espaço para interpretações e criação de uma história própria não é apenas natural, mas também incentivado. Apesar de ser um livro infantil, adultos também podem folhear suas páginas e serem maravilhados por sua beleza e sensação de liberdade.

4. Griffin & Sabine

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correspondências, as páginas contam com envelopes reais colados a elas. As cartas de Griffin estão em papel couchê dobradas dentro dos envelopes, enquanto que os postais são impressos diretamente nas páginas em frente e verso.

4.1. Aspectos Gráficos

Os três livros da série Griffin & Sabine, de Nick Bantok, são em formato 19x19cm. Os livros são vendidos separadamente, mas existem edições importadas em Box. Foi publicado no Brasil pelo selo Marco Zero, da Editora Nobel. Posteriormente, uma continuação da série foi lançada.

O livro é em capa dura e vem com uma sobrecapa de papel. A encadernação é em lombada quadrada. A imagem da capa é um dos postais enviados à Griffin por Sabine, em quanto que as letras ao fundo representam a caligrafia de Griffin em uma de suas cartas.

Figura 5 - Capa de Griffin & Sabine FONTE: Felt and Wire

4.2. Aspectos Interativos

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vezes, obscuros. Outros temas usados pela personagem são relacionados à praia e botânica, já que ela vive em uma ilha. Os selos presentes nos postais também são desenhados por ela.

Figura 6 - Postais de Sabine FONTE: Felt and Wire

As cartas de Griffin também vêm em envelope e papel de carta ilustrados. Suas figuras representam serpentes, dragões, e outras figuras abstratas. Observe na Figura 7 uma das páginas de carta de Griffin.

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O mais notável neste livro, porém, é a sensação de leitura. O leitor deve literalmente tirar as cartas de seus envelopes – que vêm colados às páginas –, e desdobrá-las para lê-las. Isto causa uma interessante sensação de abrir a correspondência alheia. O uso da tipografia manuscrita, as ilustrações e a temática, a forma como as cartas são escritas com naturalidade, ajudam na construção desta dita sensação. É possível captar traços da personalidade dos personagens apenas com os desenhos e suas caligrafias. A leitura ocorre de forma ágil, rápida, imergindo o leitor na história.

Este livro consegue uma interação entre livro-suporte parecida com as pretendidas pelos gadgets de leitura como os IPads, porém, sem necessitar de uma segunda mídia para a leitura. Tudo é feito de forma analógica, e este contato com o físico é imprescindível para a sensação de invasão de privacidade causa pelo livro.

5. Jonathan Strange & Mr. Norrel

Jonathan Strange & Mr. Norrel, de Susanna Clarke, publicado pela Companhia das Letras, possui diversas notas de rodapé com o intuito de aprofundar e aumentar a veracidade da história, os personagens, o mundo onde é ambientada e seus planos de fundo6

. Além disso, conta com ilustrações em algumas passagens.

O livro, em suas 824 páginas, conta a história de um recluso mago chamado Mr. Norrel, que pretende utilizar a magia – há anos não praticada em Londres – para controlar o governo e a magia na Inglaterra. Um de seus discípulos, Jonathan Strange, se rebela contra seus métodos e tenta restaurar os poderes do lendário Rei Corvo.

5.1. Aspectos Gráficos

O livro está no formato tradicional de 16x23cme suas 824 páginas foram impressas em papel Pólen Soft de gramatura baixa. Devido ao tamanho do livro, o tipo de papel utilizado o

6 Plano de fundo, ou em inglês,

background, é o estofo de um personagem ou história, são as características que

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impede de ficar excessivamente pesado ou espesso. O papel pólen também é ideal para leitura, pois é opaco – ajuda a evitar a reflexão de luz e a transparência. Mesmo aumentando o contraste entre o papel e o tipo, ele não atrapalha na leitura e ainda evita a fadiga visual. (WILLBERG e FORSSMAN, 2007) As ilustrações são em tons de cinza feitas com carvão e toda a diagramação é simples e básica. A fonte do corpo de texto é a Electra, uma fonte serifada.

A capa é em papel cartão Supremo e vem em duas versões. Uma preta com elementos brancos e a outra, branca com os elementos em preto, que representam o contraste entre Jonathan Strange e Mr. Norrel, sendo o primeiro um mago vanguardista e o outro, um conservador. O corvo representa o Rei Corvo, personagem de alta importância na história.

Figura 8 - Capa do Livro Jonathan Strange & Mr. Norrel com em suas duas versões FONTE: Grape Bubblegum

5.2. Aprofundamento da narrativa

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texto se desdobre em múltiplas leituras, ferramenta similar àquelas usadas por David Foster Wallace em seu livro Infinite Jest. Importante também notar a forma como a autora parodia e mimetiza a escrita do século 18, em especial Jane Austen – fato admitido por ela mesma.

Figura 9 - Ilustração do livro Jonathan Strange & Mr. Norrel FONTE: Arquivo Pessoal

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Figura 10 - Nota de rodapé ocupando boa parte da página FONTE: Arquivo Pessoal

Diferente das notas de rodapé comuns, as notas presentes em Jonathan Strange & Mr. Norrel não se dignam a explicar fatos reais, detalhes de tradução ou referências. Estão aqui para aprofundamento da história. Observe na Figura 10 o tamanho de uma destas notas. Se o leitor quiser, elas podem ser ignoradas na leitura sem perda, mas para aqueles mais curiosos, poderão ter uma enciclopédia sobre o mundo, suas políticas e história em mãos. Sem necessitar de cliques ou links externos.

Considerações Finais

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Como vimos nos livros analisados aqui, vários dos recursos utilizados em livros digitais – hiperlinks, interatividade, decisão no rumo da história – podem ser alcançados em livros analógicos. Isto demonstra como as mídias podem convergir entre si e interagir, e também, que para termos livros altamente interessantes para crianças e jovens não é imprescindível usar uma mídia digital.

Ainda há muito para ser explorado na mídia impressa, assim como ainda há um grande caminho a percorrer para os dispositivos de leitura digital no Brasil. Mesmo com a Internet, televisão e jogos eletrônicos, a literatura continua sendo um importante aliado na educação e entretenimento de crianças e jovens e o surgimento de novas mídias vieram para acrescentar a estas experiências, sem tirar a importância ou visto dos livros impressos.

Referências Bibliográficas

AQUINO, Maria Clara. Um mapeamento histórico do hipertexto: Surgimento,

desenvolvimento e desvios da aplicação da escrita hipertextual. 2006. Dissertação – Iniciação Científica de Jornalismo, Universidade de Pelotas, 2006.

BANTOCK, Nick. Griffin e Sabine Volume I: Uma correspondência extraordinária. São Paulo: Editora Marco Zero, 1995.

BLOOM, Harold. Como e por que ler. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2000.

BLOOM, Harold. Elas não são idiotas. Revista Época. Disponível em: <

http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,6993,EPT479197-1666-1,00.html> Acessado em 23/mar/2012.

CHARTIER, Roger. A Ordem dos Livros. São Paulo: Editora UNESP, 2002

CLARKE, Suzanna. Jonathan Strange e Mr. Norrel. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

GASTAUT, Charlotte. A grande viagem da senhorita Prudência. São Paulo: Editora Ática, 2011.

HAAG, Carlos. O Livro Morreu? Viva o Livro! Pesquisa FAPESP, 2011.

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MAKINSON, Flip 2010: Darnton e Makinson afirmam: 'O livro não morreu e nem vai.'. O Globo, 2010. Disponível em: < http://oglobo.globo.com/blogs/prosa/posts/2010/08/06/flip-2010-darnton-makinson-afirmam-livro-nao-morreu-nem-vai-314152.asp> Acesso em: 25/mar/2012.

REIMÃO. Hora de desligar: gadgets podem causar insônia e outros males à saúde.

Revista Galileu. Disponível em:

http://www.meduniversitario.com.br/noticias/noticia.php?id=11760 Acesso em: 25/mar/2012.

SANTAELLA, Lucia. Culturas e artes do pós-humano. São Paulo: Paulus, 2003.

WILLBERG e FORSSMAN. Primeiros socorros em tipografia. São Paulo: Edições Rosari, 2007.

Imagem

Figura 1 - Capa de A Grande Viagem da Senhorita Prudência  FONTE: Arquivo Pessoal
Figura 2 - Pássaro imitando as ações da personagem  FONTE: Arquivo Pessoal
Figura 3 - Prudência aparecendo várias vezes em uma mesma página  FONTE: Arquivo Pessoal
FIGURA 4 - Páginas internas onde podemos observar os recursos de acabamento  FONTE: Blog Maria Artesanato
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